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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Referência: Autos de Inquérito Policial n° xxxx

PEDRO HENRIQUE LIMA, brasileiro, advogado, inscrito na OAB-PE sob n° 58.972,


com escritó rio profissional na Rua José Saramago, n°00, neste município, onde
recebe intimaçõ es, vem, com base no art.5°, LXVIII da Constituiçã o Federal e
artigos 647 e 648, ambos do Có digo de Processo Penal, impetrar:

HABEAS CORPUS LIBERATÓRIO COM PEDIDO DE CONCESSÃO DE LIMINAR

Em favor de GABRIELA DOS ANJOS, brasileira, natural da Serra, convivente, com


26 anos de idade, residente na Rua da Tristeza, n°25, Centro, Paraibuna-SP, pelos
fatos a seguir descritos.

I. FATOS

Trata-se de inquérito policial com a finalidade de apurar a morte do filho


recém-nascido (sem nome) da investigada, o qual, conforme consta no IP, teria
sido jogado no lixo na manhã do dia 26.01.2017. De acordo com os fatos descritos
nos autos do inquérito, a Sra. Gabriela dos Anjos teria dado à luz na noite do dia
25.01.2017, em sua residência, e teria, logo em seguida, ido ao Hospital Municipal
de Paraibuna onde foi atendida.

Consta nos autos que na noite do dia 25.01.2017, quando foi atendia, os
médicos e enfermeiros perceberam que a investigada teria passado por um parto,
conforme consta em ficha de atendimento médico-hospitalar (Pg. Xx do IP).
Conforme esse documento, a indiciada teria passado por uma gravidez, na qual
gestou uma criança por aproximadamente 37-40 semanas. Além do mais, afirmam
os funcioná rios do hospital que a Sra. Gabriela teria ligado para seu irmã o Bento
dos Santos para pedi-lo para jogar fora um saco de lixo com “lavagem”.

Nesta feita, foi espedida decisã o no dia 27 de janeiro do corrente ano


requisitando-se a prisã o preventiva da ora investigada, alegando-se os
pressupostos cautelares do fumus delicti e periculum libertatis. Assim como
alegou-se pelos indícios de autoria e materialidade do crime prevendo a
possibilidade aplicaçã o do art. 312, caput, do CPP, levando-se em conta o art.313, I
do CPP), pugnando-se, portanto, pela prisã o da Sra. Gabriela dos Anjos.

II. DO DIREITO
A. Do Cabimento de Habeas Corpus
Preleciona a constituiçã o federal de 1988 em seu art. 5° LXVIII que sempre
que alguém sofrer ou se achar na iminência de sofrer violaçã o de seu direito de
liberdade de locomoçã o caberá habeas corpus, a fim de sanar eventuais atos ilícitos
que venham a lesar os direitos constitucionais do cidadã o. Além do mais, de igual
modo dispõ e o Có digo de Processo Penal, em seus art. 647, que caberá esse
remédio constitucional quando o indivíduo estiver na iminência ou tiver
efetivamente seu direito de locomoçã o lesado. Nesse sentido, dispõ e o diploma
legal:

"Art. 647. Dar-se-á habeas corpus sempre que


alguém sofrer ou se achar na iminência de
sofrer violência ou coação ilegal na sua
liberdade de ir e vir, salvo nos casos de punição
disciplinar;"

Ademais, o art. 648 do CPP, em seu inciso I coloca que a coaçã o será ilegal
sempre que nã o houver justa causa que embase esse ato coercitivo. Conforme pode
ser observado a partir dos fatos narrados nos fatos, assim como pelas alegaçõ es
colocadas anteriormente, como a falta de fumus delicti e indícios de autoria e
materialidade do crime, de fato nã o há subsídios que possam alicerçar prisã o
preventiva, sendo esta, portanto, um ato ilegal e lesivo a pessoa de Gabriela dos
Anjos.
Outrossim, preleciona o Pacto de Sã o José da Costa Rica, recepcionada pelo
ordenamento jurídico pá trio, em seu artigo 7°, que todas as pessoas tem direito a
liberdade, nã o podendo nenhum ser humano submetido ao encarceramento sem
qualquer justa causa.

B. Da Ausência Pressupostos da Preventiva: fumus delicti e indícios de


autoria e materialidade do crime
Consta na decisã o em sede liminar que a indiciada teve a prisã o preventiva
decretada, levando em conta os dispostos no art. 312 do CPP, onde dispõ e o
legislador que a prisã o será decreta para garantir a ordem pú blica, bem como caso
haja indícios suficientes de autoria e perigo gerado pela liberdade da imputada.
Ocorre, no entanto, que se levando em conta apenas as provas anexas ao inquérito
policial, nã o é possível comprovar concretamente que a investigada praticou algum
tipo de crime.
Na fase atual, nã o é possível disser se houve ou nã o aborto ou algum outro
tipo penal e, portanto, chancelar com plena certeza que a Sra. Gabriela praticou
algum tipo de ato ilícito poderia levar uma vítima, haja vista haver a possibilidade
de se tratar de criança natimorta, a pagar com sua liberdade um crime nã o
praticado.
De maneira pragmá tica, para que posso haver a decretaçã o de prisã o
preventiva, devem estar presentes requisitos bá sicos, quais sejam: fumus comissi
delicti, periculum in libertatis e indícios de autoria e materialidade do crime.
Ocorre, no entanto, que no caso concreto, com base apenas nas provas havidas até
o presente momento, nã o há indícios suficientes de autoria que possam justificar o
cerceamento da liberdade da investigada. Além disso, nã o há efetiva comprovaçã o
de que a Sra. Gabriela, caso fique em liberdade, irá atrapalhar o normal curso do
processo (periculum in libertatis).
Nesse sentido, é importante mencionar que consta em certidã o anexa, que
a indiciada possui bons antecedentes, e mesmo tendo dois outros filhos menores,
nã o há qualquer relato de maus tratos ou violências praticadas em face destes. Em
adiçã o a isso, nã o há qualquer risco a ordem pú blica permanecendo a investigada
em liberdade, ponto que, para decretaçã o da preventiva, deve ser amplamente
preenchido, seguindo o disposto no caput do art.312 do CPP. Portanto, a imputada
além de nã o ser um perigo para ordem pú blica em liberdade, nã o pode ser
condenada à prisã o preventiva sem lastro probató rio suficientemente consistente.

C. Da não aplicação de medidas cautelares


Consta no art. 282, §6° do CPP que “a prisã o preventiva somente será
determinada quando nã o for cabível a sua substituiçã o por outra medida cautelar”.
O ponto é que, conforme verifica-se no caso prá tico, a prisã o preventiva foi
utilizada como primeira medida, antes mesmo de averiguar-se a utilizaçã o do
disposto no art. 319 do CPP. Nesse sentido, o legislador é claro em buscar
preservar, ao má ximo, o direito de ir e vir dos cidadã os, mesmo em caso de
possível delito cometido, no entanto, a despeito disso, a decisã o proferida nã o
aventa em nenhum momento a possibilidade de medidas alternativas e menos
agressivas aos direitos constitucionais. No caso, é clarificado a necessidade de
receber-se o presente habeas corpus com o intuito de sanar esse entendimento
contra legem.
D. Da violação do princípio do contraditório e ampla defesa
É cediço que no antigo sistema inquisitó rio algumas espécies de prova
eram consideradas mais importantes que outras, sendo um verdadeiro “xeque-
mate de açã o penal”. Na idade, por exemplo, a confissã o, considera a rainha das
provas, era suficiente para condenar alguém, mesmo que, além dela, nã o houvesse
qualquer outra prova.

Ocorre que com a evoluçã o do sistema processual, esse tipo postura


passou a ser rechaçada pelo ordenamento jurídico, tendo em vista que com o
surgimento de princípios como o contraditó rio e a ampla defesa, muito foi alterado
quanto aos procedimentos e provas. Dessa forma, conforme pode ser visto no caso
em questã o, a decisã o de decretar prisã o preventiva foi baseada, em grande parte,
pelas declaraçõ es das testemunhas arroladas que, como fica claro no IP, sequer
estavam presentes no momento dos fatos.

Ademais, nã o há considerar os testemunhos como verdades absolutas sem


que seja ouvida a investiga que, por questõ es médicas, nã o pô de ter seu
testemunho colhido, mas que, a despeito disso, teve sua liberdade tolhida de
maneira inquisitó ria e sem qualquer respeito a ampla defesa ou ao contraditó rio,
ferindo, pois, o art. 5°, inciso LV da carta magna.

E. Da Produção de Provas Ilícitas


Sabe-se que o processo deve gravitar em torno da sentença, provimento
final que finaliza todo o processo penal. Para que isso ocorra, as provas sã o
ferramentas essenciais para que essa decisã o posso ser proferida da madeira mais
coerente possível, no entanto, deve ser lembrado que essas ferramentas devem ser
legítimas e legais para que possam embasar uma decisã o com fundamento e
promover aa justiça.

O imbró glio, nesse caso, está assentado na ilegalidade das provas colhidas
até o momento. Como consta nos autos do inquérito policial, as declaraçõ es
tomadas das testemunhas acabam por serem excessivamente duvidosas levando
em conta, principalmente, que as testemunhas arroladas nã o presenciaram o
momento dos fatos aos quais se investiga. Conforme fica claro nas linhas do IP, elas
apenas atenderam a Sra. Gabriela no hospital, e afirmaram que ela estava grá vida,
mas nada se diz quanto aos fatos propriamente ditos.

Nesse sentido, nã o há como comprovar que a investigada praticou um


homicídio, como alegado, e portanto, os dados fornecidos pelas testemunhas,
quanto aos fatos, nada mais seriam que achismos e isto, em sede judicial, nã o pode
ser aceito. Preleciona o art. 212 do CPP:

“Art. 213. O juiz nã o permitirá que a


testemunha manifeste suas apreciaçõ es
pessoais, salvo quando insepará veis da
narrativa do fato.”

Como coloca o pró prio artigo, apreciaçõ es pessoais só serã o permitidas


quando indissociáveis para a narrativa dos fatos, algo que nã o ocorro neste caso.
Tendo isso por base, deve-se lembrar, ademais, da teoria da árvore dos frutos
envenenados. De acordo com essa tese, uma prova ilícita contamina todas as
outras dentro do processo/procedimento em andamento, e, no caso em questã o,
além da investigada nã o ter sido ouvida, por estar debilita, as testemunhas nã o
presenciaram os fatos pelos quais Gabriela é acusada.

III. DOS PEDIDOS

Diante do exposto, é incontroverso que a Sra. Gabriela dos Anjos sofreu


constrangimento ilegal por ato da autoridade coatora. Com isso em mente, requer-
se:
a) A concessã o de habeas corpus com base legal no art. 647 do
Có digo de Processo Penal, bem como do 5°, LXVIII da CF/88 com a
finalidade de cessar a coaçã o ilegal em face da liberdade de ir e vir
da investigada, revogando-se, pois, a prisã o preventiva;
b) A expediçã o de alvará de soltura, para que a Sra. Gabriela tenha
seu direito de liberdade assegurado, obedecendo ao diploma
constitucional;
c) A intimaçã o pessoal do Douto Advogado para a sustentaçã o oral, a
ser marcada em dia e hora por esta Câ mara;
d) A oitiva do Douta Procuradoria de Justiça na condiçã o de “custos
legis”, para que apresente parecer;
e) A requisiçã o de informaçõ es ao Meritíssimo Juiz da Vara Criminal
da Comarca de Paraibuna/SP, apontado como autoridade coatora.

Nesses termos,
Pede deferimento.
Paraibuna-SP, 28 de janeiro de 2017.
Pedro Henrique Freitas Silva Lima
OAB-PE 58.665

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