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Transcrição de registos radiofónicos 297

2. Contos manual p. 147

“Desta vez pai e filha são as personagens principais”


Recursos Uma questão de ADN – Mário de Carvalho e Ana Margarida de Carvalho,
02 min 50 s
Teresa Dias Mendes, TSF, 19 de novembro de 2015

[…]
Teresa Dias Mendes: Mário de Carvalho, como é que o pai se sente uma espécie de portador deste
património literário que passa para as duas filhas ou cada um faz o seu caminho?
Mário de Carvalho: Bem, se vamos a falar em património, é um património que vem de trás, já,
porque o meu pai era escritor também. O meu pai tem dois livros de contos publicados e livros
5 de poemas publicados também, portanto… e fazia parte da sociedade portuguesa de escritores.
Eu tenho lá a cédula dele… assinada pelo Aquilino Ribeiro, ainda. Portanto, há uma tradição de,
enfim, de família, que vem de trás e tem muito a ver com o facto de haver livros em casa. E não
só haver livros em casa, mas de se manusearem os livros e de os livros passarem de mão em
mão e ser um facto corrente e normal alguém estar a ler um livro ou ir consultar um livro a
10 propósito de qualquer coisa. De forma que este ambiente e esta tradição, não é?... que vem de
antes, tenho impressão que contribuíram para criar espaço para estes dois talentos que muito
me satisfazem, como é evidente. Como é evidente, eu fico muito orgulhoso, fico muito orgu-
lhoso quando vejo a Ana Margarida e a Rita, muito bem, a produzirem as suas obras…
Teresa Dias Mendes: Porque não se trata apenas de fazerem as suas obras…
15 Mário de Carvalho: E a ter sucesso com elas…
Teresa Dias Mendes: Exatamente. A fazerem as suas obras e a serem logo no imediato premiadas
com as sua obras.
Mário de Carvalho: E reconhecidas… muito bem. É isso mesmo.
[…]
Teresa Dias Mendes: Mas de alguma forma podemos falar aqui de algo de genético nesta passa-
20 gem de testemunho? Porque serão muitos os que têm uma experiência próxima dos livros e
com os livros e que cresceram entre livros… o que não lhes dá talento para a escrita, não é?
Mário de Carvalho: Eu não sei… eu aí era capaz de, em vez de recorrer à genética, recorrer à es-
tatística…
Teresa Dias Mendes: Então?...
25 Mário de Carvalho: Não sei pronunciar-me, não sei pronunciar-me sobre isso. Não sei se… se,
digamos… os filhos dos xadrezistas serão necessariamente bons xadrezistas. Não sei se os
filhos dos músicos terão de ser… Há famílias inteiras de músicos, como sabe e, às vezes, de
grandes músicos, não é? Há também…
Ana Margarida de Carvalho: Mas também havia famílias inteiras de sapateiros porque lhes convi-
30 nha, porque já tinham a sapataria, ou famílias inteiras de moleiros porque já tinham o moinho…
Mário de Carvalho: Porque havia um savoir-faire, portanto, instalado já, havia hábitos instituídos.
OEXP12 DP © Porto Editora

Há famílias de moleiros também, não é?


Ana Margarida de Carvalho: Mas se tivéssemos… se fôssemos dez irmãos, aí talvez se pudesse per-
ceber que os dez não seriam… podia haver uns matemáticos, haver outros cientistas e outros…
fotocopiável

35 Mário de Carvalho: Bem… vamos lá ver agora os meus netos, não é?...

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