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COLECÇÃO

RECREIO
Um livro vai para além de um objecto. É um encontro entre duas pessoas através da palavra escrita. É esse en-
contro entre autores e leitores que a Chiado Editora procura todos os dias, trabalhando cada livro com a dedica-
ção de uma obra única e derradeira, seguindo a máxima pessoana “põe quanto és no mínimo que fazes”. Que- Luísa Condesso | Sara Tavares
remos que este livro seja um desafio para si. O nosso desafio é merecer que este livro faça parte da sua vida.

www.chiadoeditora.com

Portugal | Brasil | Angola | Cabo Verde França | Bélgica | Luxemburgo


Avenida da Liberdade, N.º 166, 1.º Andar 34 Avenue des Champs Elysées
1250-166 Lisboa, Portugal 75008 Paris

Bolha Rara
Conjunto Nacional, cj. 903, Avenida Paulista
2073, Edifício Horsa 1, CEP 01311-300 São
Paulo, Brasil

Espanha | América Latina Alemanha


Paseo de la Castellana, 95, planta 16 Kurfürstendamm 21
28046 Madrid 10719 Berlin
Passeig de Gràcia, 12, 1.ª planta
08007 Barcelona

U.K | U.S.A | Irlanda Chiado Editore


Kemp House 152 City Road Via Sistina 121 Ilustrações
London EC1CV 2NX 00187 Roma
Marco Martins
© 2015, Luísa Condesso, Sara Tavares e Chiado Editora
E-mail: geral@chiadoeditora.com

Título: Bolha Rara


Editor: Rita Costa
Composição gráfica: Marco Martins
Capa: Marco Martins
Ilustrações: Marco Martins
Revisão: A DEFINIR
Impressão e acabamento:
Chiado
P r i n t

1.ª edição: A DEFINIR, 2015


ISBN: A DEFINIR Portugal | Brasil | Angola | Cabo Verde
Depósito Legal n.º A DEFINIR
PREFÁCIO

Marcos de felicidade
São raros, excepcionais, diferentes, especiais....
Os nossos meninos! Não os sonhamos assim, seguramente, mas como imaginá-los doutra
forma?
Amamos, nos nossos filhos todas as particularidades que os tornam únicos e o nosso Amor
é incondicional! O resto... pouco importa!
Os meninos raros têm personalidades distintas! Bolhinhas que fazem com que,
independentemente da sua aparência, sejam seres lindos, que nos obrigam a aprender a
crescer, nos tornam pessoas mais profundas e capazes de produzir Amor em quantidades
industriais!
Apesar da individualidade de casa um destes meninos, todos eles têm em comum a bolha
rara do sonho e da alegria.... O olhar terno e brilhante e um coração gigante onde habita
toda a felicidade do mundo!
Sou, e serei sempre, a mãe do Marco, um menino raro que fez do seu sonho a realidade de
tantos meninos como ele.
Institucionalmente, sou presidente da Raríssimas, uma instituição que defende os direitos
de todos os portadores de doenças raras. Ainda assim, continuo a preferir pertencer a uma
bolhinha diferente.... Aquela em que flutuam todos os Marcos do nosso país e onde todos
eles me chamam, carinhosamente, mãe!

Dr.ª Paula Brito e Costa,

Presidente da Raríssimas – Associação Nacional de Deficiências Mentais e Raras


Bolha Rara

Pri-lim-pim-pim, Pri-lim-pim-pim,
A nossa história começa assim!!!
Com bolhinhas de pri-lim-pim-pim...

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Luísa Condesso | Sara Tavares Bolha Rara

Todos os dias quando ia passear o Canequinha, o meu cão, lanchar à


pastelaria do bairro ou quando estava no autocarro a caminho da escola, dava
por mim a reparar em alguém... Alguém que por alguma razão despertava a
minha atenção e me deixava a pensar sempre no mesmo: “será que aquela
pessoa vive dentro de uma bolha?” Mas seriam apenas questões mirabolantes da minha imaginação?
Depois desta pergunta, outras surgiam logo a seguir, passeando, de um lado A verdade é que sempre fui uma criança de ideias fixas, daquelas que custam
para o outro, na minha cabeça. Não conseguia encontrar respostas para elas e a sair, como se estivessem coladas com super cola e, como tal, não queria
começava a acreditar naquela célebre frase que os adultos repetem vezes sem desistir das perguntas que passeavam na minha cabeça! Precisava de encontrar
fim: “as crianças têm uma imaginação tãooo fértil!” respostas para elas e de perceber o porquê daquele meu pensamento...

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Luísa Condesso | Sara Tavares Bolha Rara

Cada vez que parava para pensar nessas respostas surgiam novas
perguntas: perguntas e mais perguntas, perguntas que não tinham
fim…
“Será que todas as pessoas vivem em “bolhas”?”…
“Será que as bolhas são todas iguais?”…
“Será que são todas do mesmo tamanho?”...
No meio de tantas perguntas, de uma coisa tinha certeza: se
houvesse mesmo bolhas, teriam que ser transparentes, pois ninguém
as via... Apenas eu!

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Luísa Condesso | Sara Tavares Bolha Rara

Certo dia, estava a soprar bolas de sabão no meu parque preferido, pois
tinha árvores gigantes que davam sombras enormes, escorregas em forma
de caracol e baloiços daqueles que, quando fechamos os olhos, pareciam
que nos faziam voar e tocar com os pés no cimo das copas mais altas das tais
árvores gigantes... Quando as ideias “super cola” voltaram!
Comecei a observar as crianças que ali brincavam: umas eram mais
enérgicas, outras mais tímidas, outras falavam imenso, como eu, enquanto
outras passavam mais tempo caladas... Se cada criança era diferente da
outra, então as bolhas também seriam todas diferentes, uma espécie de
capa invisível que refletia aquilo que cada um de nós era. Sendo assim, devia
haver uma imensidão de bolhas: bolhas tímidas, bolhas fala-barato, bolhas
traquinas, bolhas curiosas, bolhas aventureiras, bolhas carinhosas e até
bolhas pensadoras!

Pri-lim-pim-pim, Pri-lim-pim-pim,
A nossa história continua assim!!!
Com bolhinhas de pri-lim-pim-pim...

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Luísa Condesso | Sara Tavares Bolha Rara

Perante este filme produzido pela minha imaginação e realizado pela minha
criatividade, só faltava mesmo saber qual o meu papel, aliás, qual a minha
bolha!? Huuum... Para mim, penso que a bolha mega-curiosa era a que mais
se adequava, se bem que a bolha pensadora,
também não ficava nada atrás, pois o meu
lado filosófico também era muito
forte!
Tinha o problema das perguntas
resolvido! A partir daquele
momento, não teria mais questões Pri-lim-pim-pim, Pri-lim-pim-pim,
a passearem pela minha cabeça. Já Pensei que a nossa história acabava assim!!!
tinha descoberto que todas as pessoas
Com bolhinhas de pri-lim-pim-pim...
viviam em bolhas e que eram todas
diferentes umas das outras.

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Luísa Condesso | Sara Tavares Bolha Rara

Mas... - Olá, eu sou a Micas! E tu, como te chamas?


Reparei num menino. O menino não olhou para mim e muito menos me respondeu... Parecia
Na altura, lembro-me de pensar que era um menino especial! Talvez que eu nem estava ali! Estranhei a sua atitude, mas voltei a tentar:
por estar sentado numa cadeira, que não era uma cadeira qualquer, tinha - Oláaa! Costumas vir aqui ao parque da cidade?
rodinhas... Era maior do que um carrinho de bebé mas não tão grande como Mais uma vez... Nada! Ele continuou sem me dar atenção... Parecia mesmo
a cadeira de rodas da minha vizinha, que mora no fundo da rua. que estava dentro da sua bolha! Será que algumas bolhas não deixavam
Será que aquele menino especial tinha uma bolha especial?! passar o som?! Ao ver a minha cara de espanto, a sua mãe respondeu-me:
A minha curiosidade levou-me a aproximar dele e tentar conhecê-lo. - Olá! Eu sou a mãe do Kiko! Não fiques triste por ele não te responder. Ele
está a ver-te e, de certeza, que está a ouvir-te com toda a atenção, mas não
consegue retribuir-te o olá.

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Luísa Condesso | Sara Tavares Bolha Rara

Senti-me estranha e a minha cabeça parecia estar a crescer com a quantidade


de novas perguntas que estavam a passear por ela... Os meus pensamentos e E, assim, fiquei ali… Presa à explicação da mãe, que continuou:
teorias tinham dado um nó! - O Kiko é um menino especial, um menino raro.
- Raro? – Interrompi sem pensar. – Mas porquê?
- Sim! É difícil explicar. O Kiko é um menino raro, porque tem um bichinho
dentro dele... Um bichinho raro que não o deixa falar, andar e brincar com
outros meninos, como tu fazes, por exemplo! – Respondeu a mãe do Kiko.
- Um bichinho assim como o da varicela ou o da gripe?
- Mais ou menos... Mas existe uma grande diferença: o bichinho que o Kiko
tem não desaparece com xaropes nem com outros medicamentos, como
acontece com os da varicela e da gripe. Por isso é que é raro! – Explicou a mãe.
- Pois, na minha escola, já todos ficámos em casa com borbulhas, com febre
ou com dor de ouvidos… E isso não é raro, acontece muitas vezes, mas um
xarope e uns dias de descanso, resolvem. O bichinho raro do Kiko não tem
cura, não passa com o tempo. – Disse eu!
A mãe do Kiko sorriu (penso que ficou contente por eu ter percebido a
história do “bichinho”) e despediu-se de mim. Referiu, ainda, que todos os
dias iam até ao parque, pois aquele também era o parque preferido do Kiko!

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Luísa Condesso | Sara Tavares Bolha Rara

Estava uma verdadeira tarde de primavera mas, na minha cabeça, uma


tempestade de ideias… Tão forte que um raio de luz as iluminou: talvez aquele
bichinho, que a mãe do Kiko falou, não fosse mesmo um bichinho! Talvez ela
não soubesse da existência das bolhas! Talvez o Kiko não tivesse nenhum
Pri-lim-pim-pim, Pri-lim-pim-pim, bichinho e sim uma bolha... Uma bolha rara!!!
Conheci o Kiko assim!!! Sentada num banco do parque, entre o chilrear dos passarinhos, e os risos
das crianças a brincar, ouvi o girar das rodas de um carrinho. Olhei para trás
Com bolhinhas de pri-lim-pim-pim...
e o meu coração encheu-se de alegria... Era o Kiko! Voltei a aproximar-me
e comecei a contar coisas acerca de mim e dos meus gostos, como se já o
conhecesse há muito tempo.

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20 21
Luísa Condesso | Sara Tavares Bolha Rara

Falei, falei e, a meio da conversa, ouvi algo parecido com um sopro, como se
estivesse a encher um balão, FFFFFUUUMMM... Mas olhando para todo o
lado, não vi nada e fiquei sem perceber o que teria sido. Continuei a tagarelice
até que a mãe do Kiko disse que estava na hora de irem embora. Sem pensar
duas vezes, levantei-me, dei-lhe um beijinho e FFFFFUUUMMM... Voltei a
ouvir aquele barulho. Que estranho! Será que era o barulho da bolha do Kiko a
encher de felicidade?! Despedi-me dos dois e lá foram eles!
Sentei-me no relvado, precisava organizar as ideias: de certeza de que o Kiko
também vivia numa bolha, uma bolha rara e muito preciosa. De certeza que
aquele FFFFFUUUMMM era o barulho da bolha a alargar quando se sentia
feliz.
Naquele dia, tinha ganho um novo amigo, um amigo precioso que me tinha
levado para casa de coração cheio!

Pri-lim-pim-pim, Pri-lim-pim-pim,
Mais um dia terminou assim!!!
Com bolhinhas de pri-lim-pim-pim...

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Luísa Condesso | Sara Tavares Bolha Rara

Na tarde seguinte o girar das rodas do carrinho trouxe consigo aquele Continuei a falar e, quando acabei, pedi à mãe do Kiko que me contasse
FFFFFUUUMMM... Era o barulho da bolha a alargar, mas não era a do Kiko. coisas sobre ele.
Será que aquele barulho vinha de mim? Mas eu nem sequer estava a soprar - Do Kiko também há muito a contar. – disse a mãe. – Ele, tal e qual como
bolinhas de sabão... Talvez a minha bolha mega-curiosa também alargasse! tu, gosta de passear no parque e à beira-mar, gosta de sentir a areia nos pés,
Aproximei-me e sentei-me ao lado da cadeira do Kiko. Comecei a contar gosta de abracinhos bem aconchegados, de beijinhos repenicados que fazem
como tinha sido o meu dia: falei pelos cotovelos! A mãe do Kiko só se ria com barulho e cócegas e gosta muito de música!
tanta conversa e voltei a ouvir um FFFFFUUUMMM... De novo, a bolha do Afinal o Kiko, mesmo sendo um menino raro, tinha muitas parecenças
Kiko a alargar!? Ou seria a minha? Deviam ser as duas!!! Talvez ele percebesse comigo…
que eu sabia da existência da sua bolha e me quisesse dar um sinal. Talvez Com tanta conversa as horas acabaram por passar e despedi-me, dando um
quisesse mostrar-me que estava feliz por ser meu amigo e que gostava das beijinho barulhento, daqueles como ele gostava e, em troca, recebi um olhar
nossas conversas! Talvez... Uma coisa é certa: as nossas bolhas estavam agora meigo e feliz e, ainda, voltei a ouvir o FFFFFUUUMMM!
a alargar, mas lado a lado!

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Luísa Condesso | Sara Tavares Bolha Rara

Pri-lim-pim-pim, Pri-lim-pim-pim, Mais uma ida ao parque... Voltei a esperar no mesmo banco, mas o Kiko não
Um novo dia amanheceu assim!!! apareceu.
Com bolhinhas de pri-lim-pim-pim... - Micas! Micas! Está tudo bem? – Perguntou a mãe do Kiko.
- Olá! Estava distraída. – Respondi, olhando para todos os lados à procura do
Kiko. - O Kiko? Não veio? Onde está ele? Está tudo bem? – Questionei vezes
sem conta.
- Hoje foi a uma consulta com o médico do tal “bichinho raro” e está um
pouco cansado, por isso não vem. – Respondeu, colocando na minha mão um
cartão. - É o convite para o aniversário do Kiko e gostávamos muito que viesses
festejar connosco, que ajudasses a soprar as velas do bolo e que conhecesses
os outros amigos do Kiko. – Convidou a mãe.
- Obrigadaaa! – Agradeci com um enorme sorriso, daqueles de orelha a
orelha. Estava tão entusiasmada, que a minha bolha alargou mais um pouco...
FFFFFUUUMMM... – Até amanhã!

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Luísa Condesso | Sara Tavares Bolha Rara

Pri-lim-pim-pim, Pri-lim-pim-pim,
O dia “R” começa assim!!!
Com bolhinhas de pri-lim-pim-pim...
Era o dia “R”, um dia especial! Era o dia de anos do Kiko! Na minha mala,
já estavam guardadas a minha caixinha de bolas de sabão e uma outra que
tinha para dar de presente ao Kiko. De certeza que ele ia adorar... Afinal,
quem é que não gosta de brincar com bolas de sabão!? Chegando a sua casa,
corri para ele e dei-lhe aquele abracinho bem aconchegado.
- PARABÉEENSSS, KIKO!!! – Gritei! Esticando os braços para lhe entregar o
presente.
- Obrigada! – Agradeceu a mãe do Kiko. – Ajuda-o a abrir e mostra-lhe o
que trouxeste!
- Olha Kiko, é uma caixa de bolinhas de sabão igual à minha!!! É para te
alegrar nos momentos mais aborrecidos e para brincarmos juntos no parque!
Comecei logo a imaginar como seria... A mãe do Kiko soprava e fazia mil
bolhinhas de sabão e eu pegava na cadeira especial dele e corríamos, os dois,
atrás delas, até que desaparecessem no ar!

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Luísa Condesso | Sara Tavares Bolha Rara

- Sabes Kiko, desde que te conheci consegui responder a muitas perguntas No mesmo instante... FFFFFUUUMMM ... Voltei a ouvir o barulho
que andavam a passear, de um lado para o outro, no meu pensamento. E isso da bolha, aliás, das duas bolhas, a minha e a do Kiko! O meu coração
fez de ti o meu amigo mais especial! – Disse eu. transbordava de felicidade!
- O Kiko desde que te conheceu também se tem sentido muito mais especial,
Micas... Ganhou contigo uma amizade rara! – Garantiu a mãe.
- A partir de hoje, todos os dias, vou dizer-te “olá” e dar-te um beijinho
com direito a barulho e cócegas na bochecha... Vou contar-te tudo o que se
passa à nossa volta, partilhar contigo cheiros, sabores, ideias, pensamentos e
sorrisos... Vou levar-te a sentir comigo o formigueiro que a areia da praia faz
nos pés... Vou cantar para ti ou apenas levar o rádio para ouvirmos música,
enquanto estivermos deitados na relva a olhar os pássaros e a contar as
nuvens... Vou estar ao teu lado a fazer com que a tua bolha alargue sempre
mais um bocadinho... Juntamente com a minha!

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Luísa Condesso | Sara Tavares Bolha Rara

Entretanto os outros amigos do Kiko aproximaram-se, apresentaram-se e A caminho de casa, a fazer bolinhas de sabão sem fim, toquei com os pés
ficaram connosco, a partilhar risos, gargalhadas e olhares brilhantes, quando no cimo das copas das árvores mais altas! Naquele momento, percebi o
algo aconteceu: um FFFFFUUUMMM gigantesco apoderou-se dos meus verdadeiro sentido da expressão “amizade rara”, pois o que é raro é muito
ouvidos. Era um som tão forte que não poderia ser só meu e do Kiko. mais precioso!!!
Será que as bolhas dos outros amigos também alargavam? Claro!!!
Aquela era a melodia da verdadeira amizade, da amizade que vence
barreiras, que abraça as diferenças e que partilha a pastilha no final do
gelado!

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Luísa Condesso | Sara Tavares Bolha Rara

Pri-lim-pim-pim, Pri-lim-pim-pim,
A nossa história chegou ao fim!!!
Com bolhinhas raras de pri-lim-pim-pim...

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Impresso em Lisboa, Portugal, por:

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