Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Luciana Fogaça
CELSO ANTUNES
Adriane Imbroisi
SUAVE
MERGULHO
Suave
mergulho
Texto
Adriane Imbroisi
Celso Antunes
Luciana Fogaça
Coordenação editorial
Bruna Gundim
Edição
LIM – Laboratório de Inteligências Múltiplas, 2022
Apoio pedagógico
Paola M. Hanna
Ilustração
Jacqueline Lima
Diagramação e arte
Vitoria Fogaça
Revisão
Eliane Mara Alves Chaves
ISBN
978-85-93825-09-5
Para todos os educadores, assim como, as grandes
Jaqueline Ribeiro, Tiene Silva, Débora Vitta, Kelly
Caetano, Gabriela Camanho, Geórgia Barbosa, Elen
Tinó́s e Renata Machioni, que gentilmente
compartilharam as experiências vivenciadas nas
propostas do LIM – Laboratório de Inteligências
Múltiplas.
Pessoas da história
GU
STAV
MÃE
AVÓ
PAI
TO TIA
IRE
R
D
OFESSO
R
ALICE
R
P
SUMÁRIO
Eu? 10
Tatuagem 18
Banheiros 21
Bons conselhos 24
Profissão? 31
De 0 a 10 34
41
Quantas incertezas
45
É mãe e ponto!
Qualidade dos pensamentos 48
Alice 55
Pragmático? 72
11
Sou um adolescente e odeio quando me
chamam de “aborrescente”. Num dia, acho que
sou o mais legal, inteligente, educado e
bondoso do mundo; no outro, o mais medroso,
indeciso e, às vezes, mentiroso. Não sei nem
exatamente quem eu sou de verdade! Moro em
um apartamento na periferia de São Paulo,
quer dizer, nem isso sei direito, porque o meu
pai odeia falar que a região é de periferia.
Frescura! Afinal, que mal existe em chamar o
lugar de periferia?
12
Reflexão:
13
PADRÕES ETC. E
TAL!
Vou escrever, mas sem essa bobagem de “meu
querido diário”...
15
Já a minha mãe é um pouco incoerente no
que diz, fica pagando de “precisamos ter um
consumo consciente”, mas compra tudo o que
as propagandas dizem ser bom. Acho isso um
absurdo e vivo perguntando a ela, se é mesmo
necessário ou se ela compra por vaidade. Isso
parece uma piada, mas em casa, os papéis se
inverteram quando o assunto é consumo. Ela
também costuma dizer que, se cada um for
honesto e trabalhador, pode viver como
quiser. Em certo ponto, acho que ela até tem
razão, só não concordo quando ela diz que só
ganha dinheiro quem se mata dia e noite de
trabalhar, talvez essa seja uma crença
limitante.
16
É impossível acreditar que, em pleno século
XXI, ainda existam pessoas tão “cringes”,
como meu pai e minha mãe.
Reflexão:
17
TATUAGEM
Ontem, avisei meu pai que ia fazer uma
tatuagem no meu pescoço. Mal terminei de
falar, e o velho já foi gritando: ISSO EU NÃO
PERMITO! VOCÊ TÁ FICANDO LOUCO! Foi
tanta besteira que, sinceramente, odiei esse
cara que eu amo tanto.
19
Será que sou obrigado a ter a mesma cara
que todo mundo tem, a vestir a roupa que todo
mundo veste, a sorrir ou ter meu cabelo igual
a todo mundo? O pior é que eu amo esse cara
que eu odeio e, se eu não obedecer, já sei,
estou perdido.
Reflexão:
20
BANHEIROS
Ontem, na hora do intervalo, eu estava
conversando com meus amigos, quando, sei lá
por que, veio um assunto: que em alguns
países mais avançados, com respeito à
identidade sexual das pessoas, banheiros
públicos não são identificados. Conversamos
sobre não haver preconceito nesses lugares,
mas sim, respeito, e achamos que isso deveria
ser igual em todo mundo.
22
vocês...
Na hora, logo interrompi, falando para ele
não tirar conclusões precipitadas. Não
estávamos reivindicando em caráter pessoal,
mas pensando em outros, pensando em alunos
que ainda virão... Além disso, não interessa a
mais ninguém, senão a cada um, a questão da
própria sexualidade.
23
BONS CONSELHOS
Eu adoro a minha avó.
25
Se minha avó não existisse, era mais que
urgente inventá-la, porque não consigo
imaginar como seria a minha vida sem ela.
Ela é o tipo de pessoa agradável; dá vontade
de ficar o tempo todo perto dela. É sábia!
Mesmo quando se agita numa tempestade de
emoções, ela consegue se equilibrar.
Reflexão:
26
QUAL É A RAZÃO
DA MINHA
EXISTÊNCIA?
Ontem, quando passei na casa da minha vó,
ela me perguntou se eu acreditava em Deus.
28
Fiquei pensando que, para mim, Deus está na
beleza das flores, nos segredos das águas,
das florestas e das folhas, na incrível e
surpreendente diversidade da vida e em todos
os seres vivos.
29
dizer.
Reflexão:
30
PROFISSÃO?
Eu preciso deixar registrado nesse meu
caderno que virou um diário, que nada,
absolutamente nada, me deixa mais louco
de raiva do que a mania do meu pai em
insistir em saber sobre o que eu, afinal,
quero da vida, sobre qual profissão eu devo
escolher. Às vezes, penso que meu pai deve
ficar o dia inteiro pensando nisso...
32
em ser gestor de meio ambiente; também
poderia pensar em uma profissão que ainda
não foi inventada, uma profissão futurista,
como analista quântico?”
33
DE 0 A 10
Meu grupo da escola veio aqui em casa, era
para ser uma reunião para refletir sobre um
trabalho a respeito de “tradição”.
35
que existem alguns costumes e hábitos antigos
que mereçam ser preservados? A honestidade,
por exemplo? A bondade, a justiça... Enfim, os
valores da ética e da cidadania não são
tradições que se preservam no tempo, mas
também no espaço? Vocês conhecem, por
acaso, em alguns países ou mesmo entre tribos
ditas selvagens, algum grupo que ensina o
roubo, prega a violência, nega o valor do
respeito ao outro? Eu tenho muito respeito
pelos tempos que estamos vivendo, gosto de me
sentir morador desse tempo, creio que os
tempos mudam e devem mudar, pois, sem
mudança, não existe evolução, mas creio que se
deve olhar a tradição de forma parcial. Mudar
o que melhora a civilização e condenar o que a
envergonha...”
36
Reflexão:
37
NÃO LEVE ESSE
CAPÍTULO A SÉRIO
Não tenho certeza e pode ser até que eu
mude de ideia; aliás, a coisa que mais faço
nesta vida é mudar de ideia!
39
Estou escrevendo o que passa pela minha
cabeça e você que resolveu ler, me diga com
toda sinceridade: Você costuma ser a mesma
pessoa o tempo todo ou já percebeu que muda
de ideia mais rápido do que seu dedo passa
pelos vídeos do TikTok? Não se engane,
responda a partir da sua verdade, porque tudo
que estou escrevendo talvez não seja sério,
mas garanto ser sincero.
Reflexão:
40
QUANTAS
INCERTEZAS
Do que tenho mais raiva na vida? De duas
coisas: a primeira é quando metade do mundo
resolve responder “às vezes” e a segunda é
quando a outra metade responde “mais ou
menos”. Isso me dá uma raiva!
42
inimigos, que uma coisa que é mais, nunca
pode ser menos.
43
Reflexão:
44
É MÃE E PONTO!
Minha mãe é, e disso não tenho nenhuma
dúvida, a melhor mãe do mundo. É a única
mulher do mundo que torce para que eu seja
um cara bacana, com muitos amigos. Às vezes,
ela me irrita. Odeio quando ela resolve vestir o
manto da malévola e implicar porque não
guardo meu tênis no lugar, porque vivo
perdendo e achando o meu celular, porque me
esqueço da hora que prometi voltar quando
encontro com a minha turma.
46
Às vezes, eu tenho raiva da minha mãe,
sinto vontade de trocar a cor da tinta do seu
cabelo para roxo e, depois, quase morro de
arrependimento quando repenso essa atitude.
Reflexão:
47
QUALIDADE DOS
PENSAMENTOS
Essa história de cultivar pensamentos
positivos mexeu comigo, e fui conversar com a
minha avó sobre isso; se tem alguém que sabe
das coisas, é a minha avó.
49
E você, assim como eu, se interessa pela
qualidade de seus pensamentos? Não me
venha com ladainha de que esse assunto não
é importante; então, não pense muito, e
apenas siga as recomendações da minha avó.
Reflexão:
50
CARAMBA, DEIXEI
O VELHO EM
RECUPERAÇÃO
Tem dias em que tenho vontade de ter uma
conversa de filho para pai, como se eu fosse o
pai, e não o filho.
Primeira questão:
Você sente prazer sincero em ficar com seu
filho?
Segunda questão:
Você sempre combina com a sua esposa o que
vai falar ao seu filho, para os dois falarem a
52
mesma língua?
Terceira questão:
Você e sua esposa são firmes quando dizem
“não”? A sua firmeza é carregada de doçura
ou você diz “não, por que não”?
53
Reflexão:
54
ALICE
O time em que jogo não é um time oficial, não
disputa torneios e muito menos participa de
competições com outros times organizados.
Na verdade, o time é o da garotada da minha
rua e das ruas próximas; quando sobra um
tempinho, a gente se reúne para um bate-
bola, meio no estilo de futebol de salão, com
seis para cada lado, ou menos, se faltar
alguém.
56
Nem é perna de pau, nem craque, mas quem
eu, sinceramente, mais admiro nesse bate-
bola é a Alice. É a única mulher a topar o
futebol com os meninos e, é uma garota tão
linda que todos os garotos olham, quando ela
está vestida para festa.
57
IGUAL EM
TODO LUGAR
Esse negócio de que profissão tem gênero só
pode ser coisa de doido!
59
história falou o que era machismo
estrutural, que já era um lance cultural, que
essas coisas estão tão impregnadas na
sociedade que nem percebemos quando
estamos sendo, do mesmo jeito quando pensei
sobre a Alice.
60
E você, o que acha?
Reflexão:
61
DISPOSITIVO
TECNOLÓGICO OU
JOGO DE BOTÃO?
Noutro dia, talvez querendo tirar um sarro
da minha cara, meu pai perguntou do que eu
mais gostava: ficar pendurado o dia inteiro
no meu smartphone ou ficar lá na garagem,
jogando botão sozinho e irradiando meu jogo?
63
se meter na minha vida? Sinceramente, não
sei!
64
Reflexão:
65
MINHA FAMÍLIA E
TANTAS OUTRAS
Ando pensando... Minha classe é composta
por trinta e dois alunos. Pelo que sei,
pertencem a quatro tipos diferentes de
família. Porém, sinceramente, acho que
existem outras salas na escola, com menos
alunos, e ainda mais tipos de família.
67
Uma família, pelo menos na minha cabeça e,
na cabeça da maior parte dos meus colegas, é
uma pequena comunidade, que convive, unida
por três coisas: por quem educa e ensina
valores, por quem controla as más ações e
valoriza os bons sentimentos, por quem cuida
do bem-estar da família, seja com pais
biológicos ou não.
Reflexão:
68
MINHA TIA E A TAL
DA EMPATIA
Minha tia, irmã da minha mãe, é muito
legal. Sinto que ela gosta mesmo de mim; se,
por acaso, um dia imaginar que eu queira a
Lua, garanto que ela seria capaz de inventar
uma escada especial apenas para me dar de
presente.
70
Para dizer a verdade, eu sinto isso; sempre
que assisto a um filme no cinema ou na TV,
sinto o personagem em mim mesmo, sofro por
ele e fico revoltado quando vejo que ele sofre
alguma injustiça. Se isso que sinto não é essa
tal de empatia, então não sei o que é sentir o
outro em si mesmo, na vida real ou na
imaginária.
Reflexão:
71
PRAGMÁTICO?
Dias atrás, ouvi minha mãe dizer para uma
vizinha que detestava pessoas pragmáticas e
que ainda bem que meu pai era um “romântico
incurável”, palavras dela...
73
Acho legal ser de uma geração que sofre de
“sincericídio”, às vezes, sincera demais, mas,
por outro lado, direta, com a esperteza de
perceber que pode ser realista com a
possibilidade de fantasiar, até com
pitadinhas de romantismo. Eu acho que um
pragmático, sensível e inteligente, vale mais
do que dez românticos ingênuos. É isso o que
eu penso!
74
Reflexão:
75
O JAPA QUE
ABRIU MEUS
HORIZONTES
Eu até gostaria de cabular aula hoje, mas
meu pai resolveu tirar uma folga do trabalho
e para evitar a fadiga, fui correndo.
77
Acredita que ele me apresentou uma
ferramenta chamada Ikigai? Uma
combinação de iki (vida) e gai (valor), que
pode ser traduzida como “razão de ser”.
78
E se liga, depois que descobri o meu Ikigai,
estou muito, mas muito mais, focado e
determinado.
Reflexão:
79
PARA SEMPRE
ADOLESCENTE
Custei, pensei, avancei e recuei, imaginei e
apaguei da minha imaginação. No entanto,
dessa vez, não existe mais espaço para
recuar.
81
Viver a adolescência com toda a força
significa gostar de se divertir, de estudar, de
namorar, de levar foras, de cantar ou de
assobiar ao ter vontade, pouco importando
quem esteja por perto.
82
Ser adolescente é descobrir que o mundo está
repleto de maravilhas e que; quem consegue se
conectar com amorosidade, consigo mesmo e
com o todo; vive tranquilo e enfrenta os
desafios do dia a dia como uma possibilidade
de crescimento.
83
Luciana Fogaça
É paulista, natural da cidade de Carapicuíba, e mãe de duas adolescentes que
a inspiraram nessa obra. Sempre se interessou pelo processo de
autoconhecimento e desenvolvimento emocional e social. É psicanalista,
especialista em aprendizagem socioemocional e em Atenção Plena. É
apaixonada por projetos que promovem a saúde mental e o bem-estar de
crianças e jovens. É idealizadora do programa Ser Presente, o qual atende
inúmeras escolas de todo o Brasil, e uma das principais autoras do LIM
(Laboratório de Inteligências Múltiplas), contribuindo para ampliar o foco e o
desenvolvimento integral de educadores e educandos.
Adriane Imbroisi
Celso Antunes