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Para tentar contraba lancear a disputa dentro da ANTI, Pacheco chegou a

emplacar a indicação de um ex-assessor de seu gabinete, Arnaldo Sil va Júnior,


para uma das cinco vagas na diretoria da agência. Silva Junior já foi sabatinado e
sua nomeação agora depende da aprovação pelo plenári o. O presidente do
Senado não quis falar com Crusoé sobre a disputa com o grupo de Tarcísio. Já
Acir Gurgacz fez coro aos ataques ao ministro de Bolsona ro e ao própri o
presidente.

Gu rgacz criticou o que chama de "atitude estranha" e o "empenho pessoal" de


/

Tarcísio de Freitas e de Jair Bolsonaro em torno do tema: "E um trabalho pessoal


/ /

do Tarcísio. E ele que está conduzindo isso na Presidência. E uma questão


pessoal dele que ninguém entende'~ E co ntinua: "Ninguém entende ele (Tarcísio)
prejudicar um sistema de transporte que funciona bem. A norma (da ANTT)
prejudica todo sistema de transporte brasileiro. Não tem critério nenhum para
abrir novos mercados. E não existem novos (mercados). O que falta são estradas
novas, ferrovias. Abrir novas linhas, qual interesse?': afirma o senador, versado
em práticas heterodoxas - co ndenado por uso irregular de recursos obtidos em
um empréstimo j unto a um banco oficia l, até recentemente ele dava exped iente
no Senado dura nte o dia e t inha que passar a noite na prisão.

Divulgação

UNED
União de Ensin o .
Superior de Diamantino

O promotor também investigou a venda de uma faculdade da família de Gilmar ao


governo do estado

Tarcísio de Freitas, por seu turno, tem defendido que o setor é fechado, voltado a
dar lucro a poucas empresas e dominado por clãs pol íticos. Numa co nversa com
represe ntantes de empresas que operam por meio de aplicativo, em 2 de
dezembro do ano passado, o ministro pediu que o grupo "reconhecesse o
esforço do ministério" em favor do pla no de abrir o mercado. "Estamos na
mesma linha, que é promover a competição': disse. O grupo t inha sido receb ido
por Bolsonaro no Pa lácio da Alvorada. Empolgado com a presença dos
empresários, apoiadores do governo, o presidente sacou o ce lula r do bolso e fez
uma ligação por vídeo com Tarcísio. A al iança explícita do governo com os novos
interessados no mercado gerou reação imed iata. Duas semanas depois do
encontro com Bolsonaro, o Senado aprovou um projeto de lei que definia um
modelo mais restritivo para o setor de transportes, passando por cima do
decreto presidencial e enterrando na casa a polêmica norma da ANTI. Rodrigo
Pacheco atuou diretamente em favor da aprovação da proposta, na última
sessão de 2020. O texto ainda depende de aprovação da Câmara.

De parte a parte, o lobby segue forte. Enquanto o Congresso não bate o martelo,
um novo front foi aberto no Tri bunal de Contas da União, onde as companh ias
trad icionais obtiveram uma decisão monocrática do m inistro Raimundo Ca rneiro
contra a decisão da ANTT de f lexibilizar o mercado. O despacho também
suspendeu todas as novas autorizações co ncedidas pela agência a partir da
mudança na norma. O outro lado prontamente entrou em campo e, no plenário
da co rte, conseguiu derrubar a decisão de Carreiro. Também no TCU, o debate
foi aca lorado. "Poucas, pouquíssimas vezes, se é que uma vez houve, ao longo de
mais de 25 anos de exercício da jurisdição nesta corte de Contas, tive a
oportunidade de me defrontar com uma coleção de inverdades e falsidades
como as constantes da denúncia ora submetida à apreciação do plenário': reagiu
o m inistro Wa lton Alenca r ao proferir seu voto. "Nunca é demais lembrar que, a
partir de linhas de ônibus, monopolisticamente controladas, surgiram muitas das
principais empresas nacionais, que ostentam plúrimos representantes em todos
os setores do Congresso Nacional, muitas defendendo os interesses privados
que ora se examinam': emendou.

Em nota enviada a Crusoé, a ANTI se defende da acusação de que te nha atuado


para beneficiar algum segmento ou empresas específicas. Depois da derrota no
TCU, os políticos ligados ao setor de ônibus se prepa ram para uma nova
ofensiva, que pode envolver novos ped idos de investigação e uma ação no
Supremo Tri bunal Federa l. Nos bastidores, as acusações de que os adversários
se movem à base de d inheiro sujo se repetem de todos os lados. A guerra ainda
terá bata lhas ferrenhas pela f rente. a
O procurador de Justiça Luiz Alberto Esteves Sca loppe, que atua na Promotoria
Especializada em Defesa Ambiental e Ordem Urbanística de Mato Grosso,
também testemunhou no processo em defesa de Dan iel Balan Zappia. "Ouvi
comentários de que o ministro estaria um pouco chateado, achando que (o
promotor) estaria perseguindo sua família. Mas (Dan iel) estava cumprindo a
/

missão dele. E um dos melhores promotores do estado': afirmou. Um dos


questionamentos de Gilmar Mendes quanto à atuação do promotor foi o
aju izamento de cinco ações civis públicas re lativas à mesma propriedade rura l.
Para o m in istro, o excesso caracterizaria o "abuso processual" e a ''perseguição"
do promotor. Integrantes do MP afirmaram, no entanto, que é praxe na área
ambiental o aj uizamento de diferentes proced imentos para tratar de questões
distintas, como danos causados por agrotóxicos, por incêndios ou para definir
uma reserva legal, por exemplo.

"Há uma pergunta no ar: qual é o conteúdo dessas ações? São verdadeiras ou
não são? Eu acredito que são, e é isso que me interessa, como um integrante
com mais de 40 anos de Ministério Público'~ declarou Scaloppe em depoimento
ao CNMP. "Eu entendo o ministro Gilmar, as ações eram contra ele. Acho legítimo
que o ministro atue, sei que ele telefonou para o nosso corregedor, Flávio
Fachone, ele se movimentou conversando com pessoas, não sei se conversou
/

com o tribunal, as pessoas dizem, ele tem acesso. E legítimo ele fazer isso, mas
ele é um ministro, a pressão é muito maior. Eu mesmo tenho grande respeito
(por Gilmar Mendes), mas acho que isso foi a um nível que não precisava, de
emoções'~ prossegu iu o procurador.

Divulgação

IJNED
UniAo de Ensino .
Super ior de Diamantin o

O promotor também investigou a compra da faculdade da família do ministro p elo


governo do estado

Citado no depoimento, Flávio Fachone atuou na Corregedoria do Ministério


Público mato-grossense entre e 2015 e 2018. Ao CNMP, ele afirmou que Dan iel
Ba lan Zappia ''sempre foi muito respeitado porque é muito técnico'~ Fachone
re latou que recebeu uma ligação de Gilmar Mendes antes que o m in istro
forma lizasse a reclamação d isc iplinar contra Dan iel: "Ele (Gilmar) falou: 'o senhor
está com um louco de gaiola lá em Diamantino. Ele está usando meu nome,
dando entrevista, entrando com ações infundadas, quero que o senhor tome
providências contra ele"~ O procurador contou ainda que aguardou o envio de
um documento formal do ministro do STF, mas a reclamação oficia l nunca
chegou. "Não veio nenhum documento e eu não tomei nenhuma providência."

A rec lamação disciplinar apresentada por Gil mar Mendes contra Daniel Balan
Zappia inclu iu ainda outro questionamento: a tentativa do promotor de reabrir
investigações re lacionadas à compra, pe lo governo do estado de Mato Grosso, de
uma facu ldade de propriedade da fam íli a de Gilmar. A União de Ensino Superior
de Diamantino, a Uned, fo i comprada pe lo estado em 2013, durante a gestão do
governador Silva i Barbosa, por 7,7 m il hões de rea is. O MP queria apurar se o
m in istro teve benefícios f inanceiros com a transação. Em fevereiro deste ano, em
uma sessão sigil osa, o TJ de Mato Grosso suspendeu as apurações relac ionadas
ao caso.

Apesar de haver no processo testemunhos de dez integrantes do Ministério


Púb lico em favor de Daniel Ba lan Zappia, um aspecto preocupa a defesa do
promotor: o CNMP está com a composição desfa lcada e, hoje, quatro das 14
cade iras do conselho estão vagas. Três desses assentos são justamente os de
indicados pelos MPs estadua is, que poderiam se alinhar à defesa. "Sob a ótica da
defesa técnica, não esperamos outro resultado que não seja a absolvição e o
arquivamento do processo disciplinar. Acho que, ao fim do procedimento, ele
mereceria até uma nota de louvor pela coragem com que cumpriu seus deveres
funcionais'~ disse o advogado José Fábio Marques, que representa o promotor.

"Há três anos, ele está com essa espada apontada na cabeça': emenda.

Daniel Balan Zappia não qu is dar entrevista. Crusoé também procurou o


escritório que representou Gil mar Mendes nas ações e o próprio gabinete do
m inistro, mas não houve resposta. Se condenado pelo CNMP, o promotor que
despertou a ira de Gilmar poderá ser punido com pena de advertência, censura
ou suspensão de até 45 dias. Mas, no M inistério Público, os efeitos do processo
disciplinar preocupam tanto quanto o desfecho do caso: a investida de Gil mar é
vista como uma tentativa de intim idação capaz de minar outras apurações contra
poderosos. a
Bolsonaro com Vladimir Putin: ele quer uma vacina para chamar de sua

Combinando com os russos


O governo e o Congresso se movem para atropelar a Anvisa e abrir
cam inho para a utilização da vacina Sputni k V no país ant es mesmo de a
agência aval iar a segurança e a eficácia da fórmula

09.04.21

ANDRÉ SPIGARIOL

SALVAR

~ 0:00 / 5:10

Câmara aprovou nesta terça-fe ira, 6, um proj eto de lei que f lexibili za a
A compra de vac inas pela iniciativa privada. Se o texto for aprovado também
pelo Senado, sem mudanças, as empresas não precisarão mais esperar o f im da
imunização dos grupos prioritários pelo SUS para comprar e aplicar vacinas de
imediato em seus funcionários.

Por trás do proj eto, que passou com a bênção do presidente da Câmara, Arthur
Lira, há o interesse do Congresso em sagrar-se vitorioso numa queda de braço
que se arrasta desde o f ina l do ano passado com a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária, a Anvisa. O objetivo principal dos parlamentares sempre fo i o de
re laxar as exigências necessárias à aprovação do uso emergencial das vac inas, e,
com isso, abrir cam inho para a Sputnik V no Brasil . Só que o texto aprovado pela
Câmara, que va le exclusivamente para empresas privadas, é ainda mais
permissivo: assegura a compra e a utili zação dos imunizantes mesmo sem a
aprovação da Anvisa, responsável por avaliar a segurança e eficác ia das fórmu las.
Bastará, de acordo com o projeto, que a vacina tenha receb ido o aval
de ''autoridades sanitárias estrangeiras reconhecidas e certificadas pela
Organização Mundial da Saúde, a OMS'~

,
Ejustamente nesse trecho do texto que a Sputnik V se enquadra, já que foi
,
chance lada na Rússia e na Argentina. E evidente que, em um contexto de
vacinação lenta em todo o país e de fa lta de insumos suficientes para produção
de imunizantes contra o coronavírus em larga escala e sem interrupção, quanto
mais doses estiverem disponíveis para a popu lação, melhor. Mas não deixam de
chamar atenção as articulações polít icas em favor da vacina russa.

Luis Macedo/Câmara dos Deputados

Arthur Lira: movimento para permitir que empresas vacinem empregados sem
entrar na fila do SUS
Represe ntantes da Sputnik V exercem um fo rte lobby sobre o Congresso desde
meados de 2020. Nos últimos dias, o t ime que defende o imuniza nte ganhou um
reforço de peso. Na terça, o presidente Jair Bolsonaro conve rsou por te lefone
com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e tratou da compra e da produção da
Sputnik V no Brasil. Bolsonaro, até há pouco crítico das vacinas, tem se mostrado
obcecado pela ideia de ter uma vacina para chamar de sua, de preferência que
seja mais eficaz que "a vacina chinesa de joão Doria".

Testes preli minares fe itos com a vacina russa apontam números ani madores
acerca de sua eficác ia. Há, porém, mu itos questionamentos sobre a qua lidade e a
correção dessas pesquisas. A agência europeia de med icamentos, por exemplo,
deve abrir nos próximos dias uma apu ração para averigua r se houve desvios
éticos na condução do traba lho. A Sputnik não tem aval, até o momento, de
nenhum órgão regulado r de pri meira linha no Ocidente. E tudo indica que não
terá tão cedo. Nos Estados Unidos, por razões geopolíticas, a vacina sofre grande
resistência, juntamente com as vac inas ch inesas - as autori dades ameri canas
não se mostram interessadas em fazer concessões a fórmu las desenvolvidas por
pa íses que tentam fazer f rente ao poderio americano na cena globa l. Também
não precisam, uma vez que estão inu ndados pelas vac inas da Pfizer e da
Modern a, que financiaram com bilhões de dólares, além das m ilhões de doses do
imu nizante da Astra Zeneca.

Um lote experimenta l da Sputnik V produzido integra lmente em solo brasileiro


foi apresentado pela União Quím ica no último dia 30. Ocorre que a vac ina
também não tem autori zação para uso no Brasil porque o ped ido apresentado,
segundo a Anvisa, tem uma série de inconsistências - 18% dos documentos
necessários não foram entregues e 24º/o dos relatóri os apresentados carecem de
informações importa ntes para o andamento do processo de aprovação.

Dívutgação/Anvísa

A tv \/
I 4

A Anvisa vai inspecionar as linhas de produção da Sputnik na Rússia

Na disputa com o Congresso, mas pressionada agora por Bolsonaro, a agência


brasil eira enviará uma missão à Rússia nas próximas semanas a f im de realiza r
inspeções nas linhas de produção da vacina. Se o projeto de Arthur Lira fo r
aprovado também pelo Senado, a agência deixa de ser protagonista para virar
mera espectadora do processo. Era o que parlamentares queriam desde que a
/

disputa passou a ser t ravada nos bastidores. "E mais uma tentativa de aprovar
/

vacinas como a da Rússia e a da !ndia a qualquer custo. Estão passando por cima
da Anvisa novamente': queixa-se um especia lista da Anvisa, ouvido sob reserva.

Um grupo significativo de governadores também está alinhado em favor da


vacina russa. Ao todo, doze estados já tentam desde o ano passado viabili zar a
importação de 37 m ilhões de doses da Sputnik vindas diretamente da Rússia,
mas ainda não consegu iram apresentar à autori dade sanitária brasileira
documentos que atestem a segu rança e a eficácia do imunizante. Há, entre os
governadores, o temor de que o projeto de Lira, ao deixar a Anvisa de fora do
processo, abra cam inho para que as doses russas negociadas por eles acabem
sendo adquiridas pela iniciativa privada - esta ri a justamente aí, portanto, o pulo
do gato da proposta do presidente da Câmara. 0
Temos visto, semana após semana, mudanças no cronograma da Fiocruz para a
produção da vacina da AstraZeneca. O que isso significa?
Eles não conseguiram produzir na velocidade que foi planejada. E' um atraso de
origem técnica, a gente não sabe exatamente o que aconteceu. Com certeza,
perdemos de um mês e meio a dois meses do cronograma inicial. Até o final de
março já era para estarmos em velocidade de cruzeiro na produção nacional da
AstraZeneca. Agora vai demorar mais para chegarmos nesse patamar. Isso se
cumprirem o que estão dizendo. Esse atraso é péssimo para o país, que está no
auge da pandemia, e deveria contar com uma vacina que já se provou
extremamente eficiente para conseguir barrar a doença clínica e a própria
transmissão. A gente já tem dados muito robustos provando isso. Ou seja, a
nossa melhor vacina está atrasada. Uma vacina que consegue tirar o vacinado da
cadeia de transmissão da doença é extremamente efetiva para que consigamos
acabar com a pandemia.

Há um temor geral que o Brasil vire uma incubadora de variantes cada vez mais
perigosas. O que a ciência diz sobre isso?
O Brasil já se mostrou um dos celeiros principais de novas variantes, tanto que
essa cepa P1 é uma das piores que existem. Preocupa em termos de chance de
evasão da imunidade neutralizante, que é aquela que é muito dependente da
proteína S, a que os nossos anticorpos são relacionados. E' nesse local que
surgem as mutações capazes de fazer com que o vírus promova a evasão da
resposta imune. De todas as variantes conhecidas, a P1 é a segunda pior, só
perdendo para a variante sul-africana. E' importante lembrar que o Brasil testa
muito pouco. Só agora que o Butantan e a própria Fiocruz estão mais atentos
para a vigilância das variantes. A gente já sabia que existe por aqui uma variante
P2, que foi pouco discutida. Ela tem algumas mutações que promovem a evasão
da resposta imune e foi identificada em agosto no Rio de janeiro. Em novembro,
se tornou a variante mais frequente na região Sudeste. Então, os testes de
vacinas foram feitos aqui com um grande percentual da variante P2, que tem
uma mutação que sabidamente contribui para a evasão da resposta imune. Pode
ser, assim, que a baixa eficácia das vacinas testadas no Brasil é porque elas já
foram submetidas, na prática, contra essa variante também e outras tantas que
também circulam e não foram identificadas.

'-~ •• ,,111

- ....~
''A nossa melhor vacina está atrasada"

Quanto mais o país demora para vacinar, maior é a incerteza em relação à


eficácia das vacinas?
Exatamente. A evasão à resposta imune é um processo aleatório. E'
probabilístico. Ou seja: se eu tenho 100 tipos de vírus se transformando em 200,
haverá uma chance menor de aparecer uma variante que pode fugir da resposta
imune do que se houver mil vírus se transformando em 2 mil de uma hora para
outra. A carga virai em circulação no país - a quantidade de replicação virai no
momento no Brasil - é a mais alta do mundo, o que faz com que a chance de
aparecer uma nova variante que consiga escapar da resposta imune seja maior
do que em qualquer outro lugar. Controlando ao menos parcialmente a
transmissão do vírus, com menos pessoas doentes e mais pessoas imunes, é
possível ter um controle maior sobre a multiplicação virai e, com certeza,
diminuir a chance de surgirem novas variantes. O antídoto para novas variantes
é vacinar o mais rápido possível.

Há perspectiva de que o ritmo de vacinação no Brasil melhore? O que precisaria


ser feito para isso?
Se a Fiocruz cumprir o prometido, a partir de maio ela consegue produzir cerca
de 1 milhão de doses por dia. O Butantan já está na velocidade de cruzeiro dele.
E a partir de junho ou julho começam a chegar as novas vacinas. Eu não tenho
muita esperança de que até o final do primeiro semestre a gente consiga vacinar
a quantidade de pessoas que precisamos. Esse atraso da Fiocruz foi terrível,
porque a vacina da AstraZeneca só aplica a segunda dose em três meses. Se a
gente levar em conta que ela é uma vacina mais eficaz, o atraso da Fiocruz foi
péssimo para o controle da epidemia no Brasil. Eu não tenho esperança que nós
alcancemos a meta antes do final do primeiro semestre, torço para que sim, mas
mesmo que não tenhamos mais nem um dia de atraso, será difícil cumprir o
planejado.
O Brasil parece cada vez mais próximo de incorporar a Sputnik V ao plano de
imunização, apesar das queixas da Anvisa sobre a falta de documentos que
comprovem sua segurança e eficácia. Como confiar sem que a Rússia
disponibilize as informações necessárias?
Os estudos que foram publicados sobre essa vacina mostram que ela é uma
vacina muito boa. Ela tem uma estratégia um pouco diferente das outras, porque
usa duas doses, mas muda o vetor virai na segunda dose. Ela se mostrou uma
vacina com eficácia próxima de 90%. Os estudos variam um pouco, de acordo
com a região, mas indicam que ela pode atingir essa porcentagem. Só que não
temos ainda os dados de efetividade, que é quanto ela protege, na prática. Mas é
uma vacina muito boa, que se vier para cá vai ajudar muito. Se a gente conseguir
uma grande quantidade rapidamente, pode mudar nossa realidade. Na questão
ética, temos técnicos muito competentes na Anvisa, que já têm uma viagem
programada para a Rússia para visitar as instalações e tirar todas as dúvidas. Eu
não conseguiria responder melhor que a própria Anvisa sobre a segurança, a
qualidade e até as questões éticas envolvidas nos estudos.

O México, cuja agência é bem avaliada, aprovou nesta semana o uso emergencial
da Covaxin, a vacina indiana que não teve o certificado de boas práticas de
fabricação avalizado pela Anvisa. Há algum tipo de preciosismo da Anvisa na
avaliação de novas vacinas?
A Covaxin teve testes muito bons também, inclusive surpreendendo, porque ela
chegou perto da eficácia de vacinas de RNA (a fabricante anu ncio u que o
imu nizante atingiu eficác ia de 81º/o nos testes clínicos de fase 3), usando uma
tecnologia bem diferente, de nanocomponentes. Eu não sei se é preciosismo ou
se é mesmo uma condição sine qua non. Eu imagino que eles observam, nessas
inspeções, a capacidade de produção em larga escala da vacina, com a mesma
qualidade dos imunizantes usados nos testes. Se não houver essa capacidade,
corremos o risco de ter um produto que, embora tenha se mostrado eficaz nas
análises, não terá efetividade no mundo real. Eu não diria que é preciosismo,
porque se você não garantir esse controle de qualidade, você não vai receber o
produto que você comprou. Isso é tão sério que um erro na produção da vacina
da janssen levou à perda de 15 milhões de doses.

Existem outras vacinas promissoras no mercado para as quais o Brasil ainda não
está olhando?
Acho que estamos olhando todas que são promissoras. Eu entendo as críticas
que foram feitas ao governo por não ter comprado a vacina da Pfizer, mas à
época o conhecimento que a gente tinha é que era uma vacina que dependia de
uma escala de armazenamento a 70 graus negativos, e não teríamos condição de
armazenar e distribuir nessa temperatura aqui. Não era uma vacina apropriada
para a nossa realidade. Eu acho que a aposta na AstraZeneca foi uma aposta
/

muito boa, em termos de programa nacional. E claro que quanto mais vacina,
melhor. O ideal seria atacar em várias frentes, como o Canadá fez,
encomendando vacinas para quatro vezes a sua população. Essa estratégia seria
a mais adequada. Se fosse para escolher entre uma e outra, naquela época, no
meio do ano passado, seria a da AstraZeneca, até por uma questão de não
precisar dessa refrigeração a - 70~ que hoje a gente sabe que a Pfizer não
necessita, que a conta foi errada. Mas olhando lá atrás, se fosse para apostar
nossas fichas em apenas uma, a AstraZeneca tinha mais sentido lógico. A vacina
da Moderna é espetacular, assim como a da Pfizer, mas foi deixada um pouco de
lado pelo Brasil, creio eu que por questões mais comerciais, por disponibilidade
da própria vacina. Ela é a única vacina muito boa que a gente não está discutindo
no nosso dia a dia aqui no Brasil, mas mais pela questão de não haver
disponibilidade.

''A carga virai em circulação no país é a mais alta do mundo"


A Câmara aprovou nesta semana um projeto que abre caminho para a compra
de vacinas pelo setor privado, inclusive de opções que não tenham sido
aprovadas pela Anvisa, desde que tenham passado pelo crivo de agências
sanitárias reconhecidas pela OMS. Isso ajuda?
Eu sinceramente não sei. Para responder, a gente precisa pensar em dois
cenários. O primeiro deles é: existe vacina sobrando no mundo? Existe vacina
que o governo não consegue comprar? O que a iniciativa privada vai conseguir
fazer que o governo não poderia? Se eu pensar que o número de vacinas no
mundo é limitado, eu não consigo entender como essa medida ajudaria na
prática. Se, de repente, existirem vacinas sobrando, se forem em uma
quantidade além do que nosso governo é capaz de comprar por algum motivo
que eu não consigo entender, aí essa iniciativa da Câmara poderia fazer a
diferença para imunizar mais pessoas. Mas o primeiro cenário é mais real. Se o
número de vacinas é limitado, não sei qual o benefício de colocar a iniciativa
privada na jogada, a não ser que se use isso como uma maneira para se passar
por cima da avaliação da Anvisa ou atender interesses comerciais específicos.

O presidente Jair Bolsonaro tem insistido na tese do tratamento precoce e


defendido a volta ao trabalho de toda a população. O comportamento e as falas
do presidente se relacionam com os recordes de mortos e infectados que vemos
hoje?
Se a gente for analisar do ponto de vista estritamente científico e biológico,
quanto mais pessoas trabalhando, quanto mais pessoas na rua, quanto mais
pessoas acreditando que existe um tratamento precoce - que hoje a gente sabe
que não tem a menor comprovação científica -, isso é muito temerário, sim. Pode
levar as pessoas a pensar: "bom, eu vou sair de casa, vou fazer algo que eu não
faria, porque sei que, se pegar a doença, vou tomar um remédio e ficar curado". E
tem outra seara que é um pouco mais complicada. Eu, como médico, digo que, se
todo mundo ficar em casa, a pandemia acaba em três semanas. Isso é uma
questão de lógica elementar e pura, porque o vírus não vai viajar de uma casa
para outra, se não tiver uma pessoa próxima a outra. Eu faço um raciocínio bem
extremo para chegar à seguinte discussão: a sociedade conseguiria fazer isso? Há
alguma maneira pela qual a sociedade tope fazer isso? As pessoas podem ser
submetidas a isso? A discussão de um lockdown forçado vai para uma área que
não é apenas biológica, envolve filosofia, lei, costume, economia, uma série de
coisas. A resposta não é simples. E' claro que é diferente se você está em uma
situação em que não existe mais leito, como a que vivemos nas últimas semanas.
Em uma situação dessa, o lockdown é uma medida reativa a uma situação
extrema. Mas decretar lockdown como a Nova Zelândia fez, como alguns países
da Europa fizeram, com o dinheiro que eles têm, é uma discussão que no Brasil,
com a nossa cultura e com a nossa limitação financeira, não pode ser apenas
biológica.

O que é possível fazer para conter o contágio acelerado que estamos vendo?
Se a gente não vai fazer lockdown, com certeza podemos melhorar em outros
aspectos. Vou dar um exemplo: tivemos cinco dias de lockdown em Ribeirão
Preto, quando a mobilidade na cidade diminuiu 50%. A cidade estava bem mais
vazia. O que eu acredito que dá pra fazer é parar com aglomerações fúteis. Eu vi
muito jovem em bar. O jovem criou a ideia de que ele era imune. Foi criada a
ideia de que, abaixo de 60 anos, ninguém morre se ficar doente. Chegamos ao
ponto de termos uma variante que é transmitida com muito mais facilidade e o
jovem estava na praia, no carnaval. Houve carnaval praticamente normal em
muitas cidades. Podemos melhorar porque tem muita aglomeração inútil,
aglomeração fútil. Dá para melhorar. Se diminuirmos um pouco a transmissão,
podemos evitar milhares de mortos.

A AGU, que representa o governo, defendeu a suspensão de decretos que


determinam o fechamento de igrejas e a proibição de cultos presenciais. A nossa
atual curva epidemiológica comporta a abertura de igrejas?
Pensando do ponto de vista biológico, de forma alguma. E' claro que essa questão
envolve um aspecto também religioso. E' importante dizer o seguinte: se o
decreto é para a sociedade toda, ele tem que valer para todos. Se a minha filha
não pode ir para a escola, eu não acho certo haver aglomeração em igreja,
porque se um grupo for privilegiado nesse sentido, vai atrasar com certeza a
volta à normalidade de toda a sociedade. Não pode haver privilégios. Os locais
onde mais se pega Covid-19 são os locais fechados, com pessoas falando. Um
culto, onde as pessoas estão cantando em lugar fechado, por mais que se abra a
janela, por mais que se tenha ventilação, pode afetar muito a transmissão. Isso
está comprovado. Não é hora, de forma alguma, de abrir igrejas. Se todo mundo
tem que respeitar as restrições, o culto tem que estar sob esse guarda-chuva
também. Tanto do ponto de vista biológico quanto do da cidadania. 0
Não mexam com eles
09.04.21

SALVAR

.... 0:00 I 0:36

lgu ns dos m ili tares que deixa ram o Palácio do Planalto e agora se alinham
A no fro nt dos críticos de Ja ir Bolsonaro chegaram a alertá-lo, pessoa lmente,
sobre o risco que o protagonismo do trio Flávio, Carlos e Eduardo Bolsonaro
represe ntava para o governo. Os pri meiros alertas foram fe itos antes mesmo de
estourar o escâ nda lo do "rachid" no ant igo gabinete de Flávio, o 01, na Ale rj . O
presidente não só deu de ombros como os fa rdados que o alertaram caíram em
desgraça logo depois.

Rickr/jair Bolsonaro

Os três filhos: alerta foi ignorado por Bo/sonaro, e quem alertou caiu em desgraça
Lewandowski cansou
09.04.21

SALVAR

~ 0:00 I 0:45

ão faz muito tempo, Ricardo Lewandowski d isse a pessoas próximas que já


N estava cansado de suas tarefas no Supremo Tribunal Federa l. Ele ind icou
que poderia aposentar a toga antes da hora. Não se sabe, ainda, se o papel
crucia l do m inistro nos últ imos embates na corte o f izeram mudar de ideia - o
voto dele fo i fundamental para Lula na declaração de suspeição de Sergio Moro,
por exemplo. Lewandowski faz 75 anos, a idade-lim ite para segu ir no posto, em
maio de 2023. Se sa ir até o final de 2022, possibil itará a Bolsonaro fazer mais um
m inistro do STF.

Lewandowski: desejo de pendurar a toga


A guinada de Campbell
09.04.21

SALVAR

~ 0:00 I 0:59

mazonense, o ministro Mauro Campbell, do Superior Tribunal de Justiça, fo i


A co nsu ltado informalmente por co legas há alguns meses sobre a
necessidade de afastamento do governador do estado, Wilson Lima, no curso
das investigações das qua is ele é alvo por suspeita de desvio de verbas
destinadas ao combate à pa ndemia. De início, Campbell se mostrou simpático à
ideia. Depois, deu um cavalo de pau em sua posição. Cu ri osamente, foi após a
mudança que o investigado Wilson Lima decid iu nomear a irmã do ministro,
Van ia Marinho, como desembargadora no Tribu nal de Justiça do Amazo nas.
Como Crusoé mostrou, a posse dela, nesta semana, fo i prestigiada por 15
ministros do Supremo e do próprio STJ, onde corre a apuração contra o
governador. Sem qualquer constrangimento, Lima também partic ipou.

Dívu/gação/57}

Mauro Campbel/: apoio repentino ao governador


O novo Chapman
09.04.21

SALVAR

~ 0:00 I 0:51

á é visíve l a mudança de postura do embaixador americano em Brasíl ia, Todd


Chapman, em re lação a Jair Bolsonaro e a seu governo. Diplomatas de países
europeus que olhavam de maneira atravessada para a proximidade de Chapman
com Bolsonaro e seus f ilhos dizem que agora, sob Joe Biden, ele tem se
mostrado outra pessoa. Está muito mais interessado, por exemplo, em participar
de reun iões com os colegas sobre a atuação do governo brasileiro em setores
sensíveis, como o de meio ambiente. Em fevereiro aqui no Sexta, mostramos que
Chapman foi passar uma temporada em Washington após a posse de Biden e a
expectativa no meio diplomático em Brasíl ia era que ele retornasse mais
alinhado às ideias do novo chefe. Foi exatamente o que aconteceu.

Ricardo Botelho/Mlnfra

Chapman está mais preocupado com questões ambientais, por exemplo


A sala da Pandora
09.04.21

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~ 0:00 I 0:52

s conexões da m inistra Flávia Arruda com a Operação Caixa de Pandora,


A aquela que prendeu o marido dela, o ex-governador do Distrito Federal José
Roberto Arruda, vão além das questões de fam ília. Como presidente do diretório
do Partido Liberal em Brasília desde 2018 - um prestígio conced ido pelo cacique
naciona l da legenda, o mensaleiro Valdemar Costa Neto-, Flávia passou a alugar,
com dinheiro do fundo partidário, uma sala comerc ial cujo dono é o empresário
Renato Malcotti, um dos operadores do esquema de corrupção descoberto no
governo Arruda. O va lor mensal da locação é pequeno, 4 mil reais, mas o negócio
tem um grande simbolismo: mostra que o passado problemático do clã não f icou
comp letamente para trás.

Flávia é empossada: conexões do passado ainda vivas


Em causa própria
09.04.21

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.... 0:00 I 0:48

monumenta l orçamento do Ministério da Defesa para este ano, de mais de


O 11 O bilhões de rea is, embute privilégios para os militares que não existem
para outras categorias do serviço público. Entre as benesses estão programas
habitacionais próprios, com juros subsidiados inigua láveis no mercado. A Ca ixa
de Construções de Casas para o Pessoal da Marinha do Brasil, por exemplo,
permite aos marinheiros financ iar imóveis com juros a partir de 2,65% ao ano.
Deve receber dos cofres públicos neste ano pelo menos 174 mi lhões de rea is. A
Caixa de Financiamento Imobiliário da Aeronáutica também oferece condições
especia is para os militares da força.

Divulgação/Ministério da Defesa

A sede do Ministério da Defesa: orçamento de 110 bilhões de reais em 2021


DIOGO
MAINARDI
NA ILHA DO DESESPERO

Estupidamente
09.04.21

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~ 0:00 / 2:18

stupidamente, continuo à procura do Senhor Centro. Eu e metade dos


E eleitores. Senhor Centro, segundo Josias de Souza, foi o apelido dado por um
empresário que, na quarta-feira, participou de um jantar com Jair Bolsonaro. A
gente sabe como funcionam os empresários brasileiros. Para eles, Senhor Centro
pode ser Senhor Centro, mas pode ser também, com a mesma desenvoltura,
Senhor Direita ou Senhor Esquerda. Sei do que estou falando. Já cruzei com
alguns dos comensais de Jair Bolsonaro. Eles pensam igua l a Arthur Lira.

,
O Senhor Esquerda já está no segundo turno. E o que a imprensa repete sem
parar. Depois de chefiar a maior rapina de todos os tempos, de acordo com os
autos da Lava Jato, Lula se prepara para voltar à cena do crime. Se for eleito, o
Amigo da Odebrecht vai se tornar o Amigo do Centro, para a felicidade do
empresariado. É assim que ele está se apresentando: como alguém capaz de
reconstruir o Brasil, depois da terra arrasada bolsonarista. Ele pode reconstruir o
Brasil - com um contrato fraudado e direcionado para um cartel.

, , ,
Se Lula esta no segundo turno, so sobra uma vaga em 2022. E aquela que o
Senhor Centro terá de conquistar drenando votos de Jair Bolsonaro. No ano
passado, aqui na Crusoé, quando Lula ainda estava fora da disputa, comparei o
psicopata a Winston Churchill, e apostei que ele tomaria uma sova nas urnas
("sim, o presidente brasileiro é um mentecapto e um covarde - o exato contrário
de Winston Churchill. Mas há um ponto - só um - em comum entre eles: o
sentimento do eleitorado. Depois de uma guerra, as pessoas precisam renovar
tudo, inclusive o governo'1. Desde aquele dia, os crimes de Jair Bolsonaro na
guerra contra o vírus dobraram o número de mortes - e eu dobro a aposta em
sua derrota eleitoral. Com uma única ressa lva: o psicopata só vai ser empurrado
para o terceiro lugar se o Senhor Centro souber falar com seus eleitores. Isso
exclui qualquer tipo de acordo com o ex-presidiário, o candidato a ser derrotado
no segundo turno.

Ainda dá para reconstruir o Brasil. Eu acredito nisso. Estupidamente. 0


SERGIO
MORO

Manhattan Connection
09.04.21

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~ 0:00 / 3:58

os dias atuais, não tenho tido mu ito tempo para assistir a programas de
N televisão. Paradoxa lmente, a pandemia do coronavírus, ao impor o
trabalho em casa para os casos nos quais isso é viável, reduz iu o tempo de lazer
e aumentou o de traba lho. O home office transformou a casa em um ambiente
de traba lho permanente, sem horários definidos de dever e de lazer. No
passado, dizia-se que o desenvolvimento tecnológico aumentaria o tempo de
ócio e de lazer dos seres humanos, mas hoje já sabemos que fomos logrados
pois ocorre exatamente o co ntrário. O ritmo do traba lho só aumentou.

Um dos poucos programas a que tenho assistido é o Manhattan Connection. Ele


saiu da GloboNews, quando era transm itido no fina l do dom ingo, e fo i para a TV
Cultura, onde agora é exibido às quartas-feiras à noite. O ambiente descontraído,
a qualidade dos âncoras, a relevância e a heterogeneidade dos convidados têm
sido um atrativo. Em um deles, quase fo i lançada a cand idatura presidencia l do
Danilo Gentili - que, aliás, teria o meu voto.

Surpreendeu-me nesta semana notícia falsa divu lgada nas redes sociais por
grupo político de que o programa estaria agindo a soldo do governo de São
Paulo para critica r o governo fede ral. Atribu íram ao programa o nome "Mamata
Connection'~ De tabe la, a notícia falsa sugere que o site de notícias e opiniões O
Antagonista também seria beneficiado ind iretamente.

Não me cabe ri a a defesa do programa ou do site, mas a bem dos meus breves
momentos de lazer, tomo aqu i a liberdade de fazê-l o.

A notícia falsa não para em pé. O Manhattan Connection já era crítico ao governo
federa l e ao presidente Bolsonaro mu ito antes de sua transferênc ia para a grade
de programação da TV Cultura. Se os seus âncoras realizavam e realizam críticas
ao governo sem cobrar nada antes, por que alguém pagaria a eles para fazê-l o?

O Antagonista sempre teve uma postu ra crítica a todos os governos e


governantes desde seu nascimento. Atos dos ex-presidentes Dilma e Temer e do
atua l não foram poupados de aná lise crítica. O site não precisou receber dinheiro
para ser motivado. Também fo i esclarecido publicamente que a remu neração da
produtora do Manhattan Connection vem de patrocinadores privados, com
intermed iação da TV Cultura, e não dos cofres públicos
(https://www.oa ntago nista.com/brasil/ma mata-con nection/).

Todos os governos fo rnecem munição cons iderável à imprensa e aos j ornalistas


para críticas, por isso não faz sentido afirmar que elas decorrem de alguma
espécie de conspiração.

Tanto o programa como o site têm mostrado independência em sucessivos


governos. O que mudou fo ram os governantes, mas não a postura crítica desses
dois veículos. Isso é sina l de independência e de vitalidade jornalística.

,
E desagradável ve r aqueles que outrora criticavam a agressividade dos
governantes do momento em relação à imprensa assumindo, quando no poder,
a mesma postura. Não que a imprensa não possa ser criticada. Ela erra e nem
sempre os jorna listas estão bem-intencionados. Há uma tendência ainda de as
críticas, mesmo quando fu ndamentadas, serem exageradas no afã de superar a
concorrência ou de atrair a audiência. Ainda assim, a reação precisa ser
ponderada. Deve-se ensinar pelo exemplo, co rrigindo ou rebatendo, com
ponderação, as críticas cons ideradas inj ustas, bem ou mal-intenc ionadas.
Agressões, ofensas ou a utilização de notícias fa lsas para atacar a imprensa ou
. - -
quem quer que seja nao sao nunca ace1tave1s.
. / .

Da minha parte, co ntinuarei visitando o site O Antagonista e assistindo nas


'
quartas à noite ao Manhattan Connection. As vezes, os ataques, dependendo de
onde vêm, apenas reforçam a credibilidade dos jornalistas. E, em alguns casos,
notícias falsas d isseminadas em redes sociais são apenas tentativas de desviar o
foco das mamatas de ve rdade. O

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