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PROJETO DIDÁTICO DE

GÊNERO EPISÓDIOS DE
PODCAST - DESMENTINDO
FAKE NEWS EM TEMPOS DE
PANDEMIA
Adriana Cristianetti1

RESUMO

Em tempos de pandemia, estudantes e professores foram desafiados a dar continuidade


aos estudos de forma remota. O afastamento da escola física fez com que perdêssemos
a interação entre colegas e professores. Assim, a construção de um Projeto Didático de
Gênero (PDG) desenvolvido a partir da necessidade de explorar campos da área das
linguagens, através do uso das tecnologias, em turmas de sextos e sétimos anos na
EMEF Machado de Assis, se fez necessário. A crescente de notícias falsas veiculadas
nas redes sociais - as fakes news - deixou clara a necessidade de abordar o assunto, e
agregar essa temática à tecnologia foi relevante para nossos estudantes e comunidade
escolar. Por ser uma temática ampla, permitiu as mais diversas interpretações e
percepções por parte dos estudantes e pode ser explorada em diversas áreas do
conhecimento, com diferentes focos de narrativas dentro do gênero escolhido: episódios
de podcast. O principal objetivo do PDG foi de desmentir fake news sobre os mais
diversos assuntos, possibilitando aos estudantes, através de oficinas, contato com a
pesquisa, a escrita e a oralidade, aprofundando habilidades e competências presentes
na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), além de aproximá-los de seus pares e de
seus professores, uma vez que o gênero possibilita a interatividade. Assim, este artigo
é um breve relato das atividades desenvolvidas e aplicadas, das dificuldades durante o
percurso, dos desafios enfrentados e das aprendizagens construídas.

Palavras-chave: cultura digital; podcast; Projeto Didático de Gênero.

1 Licenciada em Letras - Centro Universitário Uniasselvi; Pós-graduada em Administração Escolar, Supervisão e Orientação - Centro
Universitário Uniasselvi; Especialista em Alfabetização e Letramento e Psicopedagogia Institucional - Faculdade de Educação São
Luís. E-mail: acristianetti@edu.nh.rs.gov.br. Professora do Ensino Fundamental da Rede Municipal de Ensino. Novo Hamburgo, RS,
Brasil.

Saberes em Foco  Revista da SMED NH  v.4 n.1  out. 2021 9


Adriana Cristianetti

INTRODUÇÃO

O ano letivo de 2019 foi abruptamente interrompido. Com a chegada da Covid-19,


fomos retirados do ambiente escolar, acreditando que o retorno seria em breve. A última
aula do componente curricular Língua Portuguesa foi no dia 18 de março de 2019. Naquele
momento, havíamos começado a ler o livro O diário de Anne Frank, então, aproveitando
que estávamos entrando em quarenta, solicitei aos estudantes que escrevessem um
diário dos dias que ficaríamos afastados. Infelizmente, o isolamento durou muito mais
do que imaginávamos, e, em meados de junho, ainda não havia vislumbre de retorno
presencial. Em agosto de 2019, as atividades foram retomadas de forma remota, através
de redes sociais e, logo após via Google Classroom. A escrita do diário perdeu o sentido
para os estudantes, e foi necessário pensar em algo, algum gênero, que fosse agradável,
que agregasse conhecimento e que possibilitasse o desenvolvimento no contexto remoto.
Durante um planejamento coletivo, nossa coordenadora sugeriu que
trabalhássemos um tema geral, um grande tema para os anos finais, no qual pudéssemos
ter interação e interdisciplinaridade, pois no contexto do ensino remoto os estudantes
precisavam entender, mais do que nunca, que todas as disciplinas conversavam entre si.
Assim, as atividades precisavam ter um elo, e a sugestão foi a de abordar as fake news.
A temática veio ao encontro do que planejava para as aulas de Língua Portuguesa, pois
naquele momento já tinha em mente um gênero para o desenvolvimento de um Projeto
Didático de Gênero (PDG): episódios de podcast. Em tempos de ensino remoto, uma
prática inovadora, voltada para a interação através da oralidade e capaz de desenvolver
não só as habilidades de ler e escrever bem, mas focada na realidade do estudante e
passível de torná-lo crítico e ativo na sociedade, era mais do que necessária: era urgente.
Diante das avalanches de informações a que a comunidade escolar estava
sujeita, ficou visível a necessidade de saber selecionar conhecimentos, pois nem sempre
as notícias que chegavam às famílias, através das redes sociais, eram confiáveis. Além
disso, a crescente quantidade de informações falsas e distorcidas sobre os mais
diversos assuntos, incluindo a ciência, tornou a temática das fake news algo necessário
e possibilitou o diálogo entre vários componentes curriculares: Ciências, História,
Educação Física, Matemática e Artes, mas principalmente com Articulação dos Saberes.
A escola sempre foi um espaço de aquisição de saberes, de socialização e de
convivência com a diversidade, e nela começa a luta contra as informações falsas. Como
educadores, temos um compromisso com a verdade e com a busca de conhecimentos
amparados pela ciência, por meio de pesquisa e de problematizações em fontes
seguras. Para isso, buscamos formas de difundir verdades sobre diversos assuntos e
temos a tecnologia a nosso favor. Como não podíamos estar lado a lado, a escolha por
episódios de podcast, como gênero estruturante nas aulas de Língua Portuguesa, fazia
todo o sentido. Através de nossas vozes, além de nos mantermos próximos, levaríamos
informações sérias e reais sobre as fake news e como elas podem prejudicar nossas
vidas, a toda a comunidade escolar.
Muitos estudos foram e estão sendo feitos sobre o uso da mídia podcast na
educação, e Barcelos e Batista (2019) sugerem o uso do podcast no ensino híbrido, o
que potencializa a sala de aula invertida. Segundo Lenharo e Cristóvão (2016), podcast

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Projeto didático de gênero episódios de podcast - desmentindo fake news em tempos de pandemia

é um arquivo de áudio disponibilizado na internet para download gratuito por qualquer


usuário da rede e pode ter funções variadas, indo do entretenimento a fins educacionais e
divulgação das mais diversas informações. É muito semelhante a um programa de rádio,
porém, por não ser um programa transmitido ao vivo, pode ser editado e armazenado
para ser utilizado a qualquer momento. Por ser uma mídia e não um gênero, o podcast
possibilita a correspondência com diferentes gêneros textuais. Segundo Uchôa (2010),
denomina-se podcast uma série de arquivos que seguem a mesma temática, e um
episódio de podcast é um exemplar desta série. Assim, no projeto a ser desenvolvido
na turma, o gênero principal seria o episódio de podcast. Contudo, por necessitar de
uma preparação prévia, outros gêneros estariam envolvidos, como roteiro e notícia .
O podcast pode ser encontrado em diversas plataformas e tem uma diversidade de
conteúdo, agregada ao fato da facilidade e da liberdade para ouvir quando quiser, o que
torna o público, consumidor ou produtor, o mais diverso possível.
Para a produção de episódios de podcast, foi necessário que os estudantes
tivessem contato com características discursivas como o improviso, a entonação, a
pausa durante a fala, o uso de uma linguagem clara e objetiva, além de estratégias e
procedimentos de leitura de tabelas, infográficos e esquemas. Além disso, era necessário
o Letramento Digital, o contato com plataformas digitais e tecnologias que, até então, não
se sabia se os estudantes conheciam.
Nas páginas que seguem, será abordada a necessidade do estudo dos gêneros
nas aulas de Língua Portuguesa, bem como a programação das atividades e aulas
síncronas via meet, a interação com os estudantes e a explicação das oficinas durante
o PDG e como elas foram planejadas, aplicadas e revisadas. Também será apresentada
a grade de avaliação produzida com a participação dos estudantes, bem como o modelo
de roteiro escolhido e as publicações dos podcasts.

ANÁLISE E REFLEXÃO

O Projeto Didático de Gênero, a Base Nacional Comum Curricular e a Língua


Portuguesa
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) deixa claro que, dentro do
componente Língua Portuguesa, é necessário que os estudantes tenham contato com
diversos gêneros textuais, nos mais diversos campos de atuação e dentro de várias
disciplinas, sempre que possível partindo das vivências dos estudantes, dentro das
práticas de linguagens e nas mais diversas experiências. Segundo a BNCC,

Os conhecimentos sobre a língua, as demais semioses e a norma-padrão não devem


ser tomados como uma lista de conteúdos dissociados das práticas de linguagem, mas
como propiciadores de reflexão a respeito do funcionamento da língua no contexto dessas
práticas. A seleção de habilidades na BNCC está relacionada com aqueles conhecimentos
fundamentais para que o estudante possa apropriar-se do sistema linguístico que organiza
o português brasileiro. (BRASIL, 2019, p.139)

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O PDG vem ao encontro das prescrições da BNCC no que diz respeito às


possibilidades de partir da vivência do estudante, dentro de uma prática social relevante.
Conforme Guimarães e Kersch,

[...] o conceito de Projeto Didático de Gênero (PDG), que se caracteriza como um guarda
chuva que abriga, a partir de uma escolha temática, o trabalho com um ou mais gêneros
em um dado espaço (um bimestre por exemplo), sempre com a preocupação de relacionar
a proposta a uma dada prática social, verificando as esferas de circulação dos gêneros.
(2014, p. 24)

Os anos finais do ensino fundamental são um divisor de águas para os


adolescentes. O aumento do número de professores e componentes curriculares e a
maior participação na sociedade requer do estudante maior criticidade e autonomia. A
possibilidade de participar da construção de processos de avaliação e planejamentos de
atividades aumentou com o uso do PDG, tornando as aulas de Língua Portuguesa, no
modelo remoto, muito mais atrativas e cheias de significados para nossos estudantes.
Dentro do PDG, as oficinas foram pensadas de acordo com a necessidade dos
estudantes em cada etapa do projeto. A produção inicial foi realizada sem saber que
conhecimento eles tinham sobre o gênero episódios de podcast, diferente das produções
tradicionais, nas quais primeiro se apresenta um modelo e então se solicita uma produção
semelhante. Cabe salientar que as oficinas foram abordadas dentro do componente
curricular Língua Portuguesa, porém todas os outros componentes contribuíram para o
sucesso do PDG.
As aulas síncronas de Língua Portuguesa, via Google Meet, aconteciam a cada
15 dias, e duas vezes por semana eram postadas, no Google Classroom, atividades
relativas à oficina da aula síncrona anterior. Assim, os estudantes poderiam fixar
conteúdos de produção textual, leitura, oralidade e análise linguística/semiótica. Além
das atividades e aulas síncronas, os estudantes tinham um canal de contato direto com
a professora, através de um número de Whatsapp , o que possibilitou uma interação
diferente e nova para estudantes e professores.

SOBRE AS OFICINAS

A seguir são descritas as atividades que foram programadas para aplicação do


PDG. Cabe lembrar que as aulas síncronas eram feitas via Google Meet a cada 15 dias, e
toda semana duas postagens de atividades eram enviadas através do Google Classroom.
Oficina 1 - Produção Inicial
A produção inicial é feita sem apresentar o gênero. É feita com o conhecimento do
estudante, como ele acha que é. Essa produção inicial foi solicitada através da primeira
aula síncrona via Google Meet, em que foram apresentados os conceitos de fato ou fake;
um episódio de um quadro chamado Detetive Virtual, do programa Fantástico; alguns
conceitos sobre Tecnologias Digitais; plataformas para hospedar e editar podcast e o
contato com a professora, que aconteceu através de Whatsapp.

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Projeto didático de gênero episódios de podcast - desmentindo fake news em tempos de pandemia

Oficina 2 - Variedades Linguísticas


A oficina 2 apresentou as variedades linguísticas através de charges e vídeos.
Abordou também os tipos de discurso e a importância de conhecê-los e diferenciá-los
para produzir um bom podcast.
Oficina 3 - Letramento Digital
Na oficina 3, foram apresentados aplicativos de hospedagem e edição de podcast.
O aplicativo escolhido foi o Anchor, por ser gratuito e de fácil manuseio. Cada estudante
criou seu próprio usuário e explorou o aplicativo, conhecendo o funcionamento para
criação, edição e divulgação de episódios de podcast.
Oficina 4 - Tipos e formatos de podcast
Nessa oficina, fizemos a análise de alguns podcasts, identificando a variedade
linguística e o tipo de discurso utilizados na fala e os tipos, formatos e duração dos
podcasts, bem como a finalidade de cada um. Durante essa aula síncrona, utilizamos
diversos materiais que abordavam diferentes formatos e tipos de podcasts, juntamente
com suas finalidades. Foram 6 podcasts analisados, entre os tipos entretenimento,
educação, notícia/informação e funcional e entre os formatos: conversa com o ouvinte,
mesa de bar, programa de entrevista e storytelling. Segue abaixo exemplo de tabela
utilizada para análise:

Imagem 1 - Podcast

Podcast 1. Café Brasil


Episódio: Cafezinho 318 - Cara de Pau
Variedade linguística Informal
Discurso Direto
Tipo Entretenimento
Formato Conversa com ouvinte
Duração Curto
Finalidade Questionar e sensibilizar

Fonte: Autora (2020).


Oficina 5 - A importância da oralidade
Nessa oficina, os estudantes escutaram vários podcasts, de tipos, formatos
e durações diversas, para que sentissem a diferença entre emoção e sentimento
e a importância de expressar a emoção na oralidade, para que assim os ouvintes
compreendam o que eles estariam passando através dos episódios de podcast. Nessa
oficina, também definimos o formato dos nossos podcasts. Após uma enquete sobre o
que pretendíamos alcançar com nossos episódios de podcast, ficou claro que nosso foco
seria o formato conversa com o ouvinte, de duração curta e com a finalidade de informar.
A partir dessa oficina, o formato conversa com o ouvinte foi explorado com maior ênfase.

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Oficina 6 - Fontes seguras de pesquisa


Na oficina 6, foram apresentados diversos sites confiáveis de pesquisa e sites que
desmentem fake news. Como o foco dos episódios de podcast foi desmentir uma fake
news, exploramos sites que divulgam essas notícias falsas para depois buscar os sites
que as desmentiam. Durante essa oficina, muitos estudantes compartilharam histórias
vivenciadas por eles ou por familiares e amigos de momentos que, sem conhecimento,
repassaram mensagens com notícias falsas.
Oficina 7 - O roteiro do podcast
Nessa oficina, estudamos a importância de um roteiro antes da gravação do
podcast. Muitos estudantes questionaram o porquê de precisarem escrever um roteiro
antes de gravar, então foi proposto a gravação sem roteiro. Ao escutarem seus podcasts,
puderam perceber a necessidade de fazer um roteiro e de segui-lo durante a gravação
do áudio. Sendo assim, os próprios estudantes definiram o que era necessário no roteiro
para obter sucesso na gravação do áudio. Abaixo o segue o modelo definido para o
roteiro:

Imagem 2 - Roteiro
ROTEIRO DE PODCAST
Tema
Duração
Vinheta entrada
Início
Vinheta
Apresentação
Vinheta
Conteúdo
Vinheta
Encerramento
Vinheta encerramento

Fonte: Autora (2020).

Oficina 8 - Revisão dos roteiros e grade de avaliação


Na oficina 8, após a escrita de roteiros pelos estudantes e a análise da professora,
foi realizada a revisão e retomamos alguns itens de concordância verbal e nominal,
ortografia e pontuação, entre outros itens necessários para a escrita adequada dos
roteiros. Nesta mesma oficina, foi proposta a construção de uma grade de avaliação. A
grade de avaliação foi construída com a participação dos estudantes. A seguir apresenta-
se o modelo de grade utilizada:

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Imagem 3 - Grade de Avaliação

CRITÉRIOS A AP NA COMETÁRIOS
Apresenta saudação (oi, olá, bom dia,
boa tarde, ou outro tipo)?
Diz o nome do(s) estudante(s), escola,
turma?
Apresenta efeitos sonoros (vinhetas,
música de fundo)?
Explica o conteúdo de forma clara?
É sobre uma fake news?
Desmente uma fake news?
O tempo está de acordo com o
solicitado (curto)?
Encerra despedindo-se?

Fonte: Autora (2020).

Oficina 9 - Revendo as produções finais/possibilidade de reescrita


A oficina 9 foi marcada pela leitura dos roteiros e pela audição dos episódios
de podcast gravados, em busca de possíveis alterações, na escrita ou no áudio. Cada
estudante auxiliou na escuta e na leitura dos roteiros. Aqui se fez uso da grade de
avaliação para verificar a necessidade ou não de refazer a produção final. Os estudantes
verificaram se o áudio estava de acordo com o roteiro escrito e se havia necessidade de
uma nova gravação.
Oficina 10 - Seminário de avaliação e socialização das produções finais
Durante a oficina 10, fizemos a socialização das produções finais dos estudantes.
Escutamos as produções iniciais dos estudantes e cada um deles teve a oportunidade
de reavaliar o seu podcast através da grade construída por eles e de ouvir algumas das
produções produzidas pelos colegas.
Oficina 11 - Divulgação dos episódios de podcast
A oficina 11 foi realizada para marcar a postagem de todos os episódios produzidos
durante o PDG. Os estudantes puderam ouvir suas produções iniciais e finais e tirar suas
próprias conclusões sobre o crescimento de conteúdo e de suas produções. Nesta aula,
ficou evidente a satisfação de todos com suas produções.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O uso do PDG nas aulas de Língua Portuguesa fez com que os estudantes
se sentissem parte de um processo, no qual suas sugestões eram ouvidas e suas
decisões eram valorizadas e aceitas. Acredito que o modelo de ensino remoto
tenha auxiliado na construção deste PDG, que talvez, em sala de aula presencial,
não teria alcançado o mesmo resultado.
Mesmo estando vivendo um momento ímpar na educação, no qual professores
e estudantes foram desafiados a se reinventar, ficou evidente que somos capazes de
enfrentar as adversidades do ensino remoto, com qualidade de ensino, com interação e
com resultados satisfatórios.
A vivência do ensino remoto fez os estudantes se conectarem com as mídias
de maneira diferente. O que antes era só um lazer, um passatempo, se tornou uma
necessidade. Usar o celular para ter acesso a uma aula ou para se comunicar com
um professor foi uma novidade, um desafio. E para professores, acostumados a aulas
tradicionais, mostrou a capacidade de adaptabilidade, muitas vezes escondida entre
quadros e canetas.
Infelizmente, não alcançamos todos os estudantes, pois não conseguimos vencer
obstáculos como a desigualdade social, a falta de recursos tecnológicos e o descaso
com a educação, mas ficou a certeza de que aqueles que conseguiram participar dessa
experiência de criação dos episódios de podcast, no ensino remoto, saíram dela mais
autônomos, críticos e maduros no que tange a não propagação de notícias falsas e a
busca por fontes seguras e confiáveis. Acredito que o uso das tecnologias digitais por
esses nativos digitais não será mais vista da mesma forma.
Vale salientar que ainda não estamos de volta a nossa sala de aula presencial
como gostaríamos, e talvez a volta ao “normal” que conhecemos não seja possível, mas
temos a certeza de que o ensino remoto ou híbrido não nos assusta mais, pois somos
capazes de nos reinventar, de adquirir novos conhecimentos, através de habilidades
até então escondidas que nos mostram novas possibilidades e competências para uma
educação de sucesso.
Espero que esse relato possa incentivar colegas de profissão a manter a
esperança e a apostar, sempre, no potencial dos nossos estudantes. Eles são capazes
de tantas superações! E também a acreditar em nós, professores, educadores, pois
somos capazes de nos reinventar! Não desvalorizem os professores, não subestimem
os estudantes.

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REFERÊNCIAS

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Disponível em <https://www.seer.ufrgs.br/renote/article/view/96587/54187>. Acesso em:
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