Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Uma escrita estrangeira sobre história da literatura brasileira não é uma ideia
nova. Temos, já na primeira metade do século XIX, as obras dos europeus Ferdinand
Denis e Almeida Garrett, como exemplos de intelectuais engajados na tentativa de
historiar a literatura do Brasil (ZILBERMAN, 1999: 28). Junto a outros escritores
contemporâneos a estes citados, nossas primeiras histórias da literatura
acompanhavam a independência politica da jovem nação. O objetivo norteador seria
definir o que seria o nosso “nacional”. Quer dizer, se fazia mais que necessária a toda
nação, separada politicamente do colonizador, encontrar e traçar suas próprias linhas,
como forma de legitimar a “nação”.
A obra aqui em estudo é produzida mais de cem anos depois de resolvidas as
querelas políticas entre brasileiros e europeus. Logo, tal História estará
“despreocupada” em relação a uma proposta política de definição do que é uma obra
de arte brasileira. Com suporte em outras histórias da literatura brasileiras, LSP trará
para sua pesquisa o seu conceito de cânone, história, nacional, literatura, enfim, um
arcabouço de perspectivas para ilustrar nossa trajetória cultural de pouco mais de
quinhentos anos. Ainda na sua Introdução a autora afirma que “[...] muitos juízos
livremente formulados mediante a leitura direta das obras selecionadas: talvez ainda, e
apesar a contínua frequentação o Brasil, dos seus autores, dos seus livros e das suas
bibliotecas, com um olhar “de fora” da estrangeira que sou” (STEGAGNO PICCHIO,
2004: 12). Ou seja, não ter nascido em solo nacional não tira a legitimidade do
trabalho da professora italiana; não ser brasileira não tira o caráter rigoroso, dedicado
e amplo da escritora.
Mostrando-se atualizada às discussões contemporâneas, LSP argumenta que
o primeiro problema que se depara quem se dispõe a escrever a história de uma
literatura é, tradicionalmente, o da definição do objeto em estudo (STEGAGNO
PICCHIO, 2004: 17). E que antes de tudo deve-se entender que
Literatura brasileira como entidade cultural autônoma, sobre
duas vertentes: a que delimita a civilização brasileira das
civilizações americanas e latino-americanas, e a que isola uma
cultura brasileira no âmbito das culturas produzidas por povos
de expressão portuguesa. (STEGAGNO PICCHIO, 2004: 18)
REFERENCIAS
ACHUGAR, Hugo. Ensaio sobre a nação no início do século XXI. Breve introdução in
situ/ab situ. In:______. Planeta sem boca. Escritos efêmeros sobre arte, cultura e
literatura. Belo Horizonte: UFMG, 2006.
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 3 ed. São Paulo: Cultrix, 1985.
JAUSS, Hans Robert. A história da literatura como provocação à teoria literária. Trad.
de Sérgio Tellaroli. São Paulo: Ática, 1994.
VERÍSSIMO, José. História da literatura brasileira. 5 ed. Rio de Janeiro: José Olympio,
1969.
________. “História da literatura e identidade nacional”. In: Jobim, José Luís (org.).
Literatura e Identidades. Rio de Janeiro: Ed. da UERJ, 1999.