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Revista Brasileira de História & Ciências Sociais - RBHCS

Vol. 7 Nº 14, Dezembro de 2015.


DOI: http://dx.doi.org/10.14295/rbhcs.v7i14.229

Nazismo, Socialismo e as políticas de direita e esquerda na


primeira metade do século XX.

Nazism, Socialism and the left and right policies in the first half of the
twentieth century

Bertone de Oliveira Sousa*

Resumo: Alguns trabalhos que discutem o tema do nazismo o situam como


ideologia e movimento político de esquerda. Argumentam que seu caráter
revolucionário, o uso do substantivo socialismo em sua sigla e o controle da economia
pelo Estado, entre outras questões, são elementos que reforçam essa definição. Neste
artigo, é feita uma problematização histórica dessas questões no sentido de mostrar
por que o nazismo era uma ideologia de direita e para isso também são traçados
alguns paralelos entre a Alemanha de Hitler e a União Soviética de Stalin, para
mostrar como alguns elementos que caracterizavam o nazi-fascismo não estavam
presentes com a mesma intensidade e os mesmos significados fora de seu arcabouço
ideológico e de ação.
Palavras-chave: Nazismo. Direita. Socialismo.

Abstract: Some papers and books discussing Nazism theme consider Nazism as an
ideology and political movement left. The authors of these papers and books argue
that its revolutionary character, the use of the noun socialism in its logo and control
of the economy by the state, among other things, are elements that reinforce this
definition. In this article, a historical questioning is made of these issues in order to
show why Nazism was an ideology of right and so are also drawn some parallels
between Hitler's Germany and Stalin's Soviet Union, to show how some elements that
characterized Nazi- fascism were not present with the same intensity and the same
meanings out of its ideological framework and action.

Keywords: Nazism. Right. Socialism.


*Doutor em História pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Professor Adjunto do curso de
História da Universidade Federal do Tocantins (UFT), campus de Araguaína. E-mail:
bertonesousa@hotmail.com

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Introdução

Uma característica de alguns trabalhos e perspectivas que discutem o tema do


nazismo no Brasil é sua caracterização como ideologia e movimento político de
esquerda. Partem dessa premissa, por exemplo, Flavio Quintela (2014) e o jornalista
Leandro Narloch (2013). Embora seus livros não tenham rigor acadêmico,
alcançaram notória popularidade por se dirigirem a um público politicamente
conservador através de uma linguagem acessível. Argumentam que o nazismo se
situava à esquerda do espectro político por ter sido um movimento de caráter
revolucionário, possuir o substantivo socialismo em sua sigla e ter promovido o
controle da economia pelo Estado, três características que o irmanava a ideologias de
esquerda; isso também se relaciona a uma tendência desses autores de identificar a
direita com o liberalismo econômico e a esquerda com o autoritarismo e estatismo
que marcaram os regimes totalitários do século passado1.
Por ser mais prolixo, Narloch será mais discutido neste artigo. Ele reconhece
que os nazistas consideravam os comunistas inimigos e os perseguiram quando
chegaram ao poder, mas também se opunham ao liberalismo, livre comércio e ao
Estado mínimo, que ele afirma serem bandeiras da direita em nossos dias
(NARLOCH, 2013, p. 178). Para ele, as semelhanças na estratégia de ação de nazistas
e comunistas tornavam as duas ideologias irmãs gêmeas, assim como a mentalidade
anticapitalista; destaca que o socialismo estava tão presente na Alemanha nazista de
Hitler quanto na União Soviética de Stalin. Narloch também se apoia em alguns
renomados autores, como Ian Kershaw, Pierre Chaunu e Alain Besançon. Deste
último, retoma a noção de que as duas ideologias no poder promoveram destruição
física, política e moral.
Portanto, esse texto tentará pontuar algumas questões que apontem quais as
convergências e diferenças entre socialismo e nacional-socialismo e demonstrar por
que as duas ideologias não se encontravam no mesmo campo político, a esquerda, e
1 Essa perspectiva remonta à obra de Hayek (2009), publicada originalmente em 1944, “O caminho
para a Servidão”. Nela, o autor inicia destacando que o abandono dos princípios do liberalismo e do
individualismo defendidos pelos clássicos dos séculos XVIII e XIX e âncoras das liberdades individuais
que vigoraram na Europa até o início do século XX, abriu o caminho para as ideologias coletivistas, o
Fascismo, o Nazismo e o Socialismo, baseadas no monopólio do Estado sobre a economia e
inexoravelmente autoritárias. No entanto, Hayek também assinalava que essas ideologias “diferem
entre si na natureza do objetivo para o qual pretendem dirigir os esforços da sociedade” (p. 86).
Contudo, como veremos no decorrer deste artigo, não era apenas neste aspecto que essas ideologias se
distinguiam.

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que não eram “gêmeos heterozigotos” ou “irmãos gêmeos que brigam” (NARLOCH,
2013, p. 183, 200). Também discutiremos as causas do pacto de não agressão
assinado pelas duas potências em 1939 e sua violação cerca de dois anos depois,
elemento importante para a compreensão da estratégia política dos dois ditadores.
Nesse passo, pretendemos destacar pontos que distinguiam os sistemas nazista e
soviético, como metas históricas das duas ideologias, questões econômicas,
nacionalismo e internacionalismo e uso de campos de concentração.

As duas ideologias no contexto do início do século

Começamos esclarecendo que a equiparação entre nazismo e comunismo não


subsiste a um aprofundamento da discussão histórica. Esse tipo de abordagem faz o
que o historiador inglês Richard Overy (2009, p. 17) chamou de “exercício fútil” para
tornar os dois regimes “mais semelhantes um ao outro, ou tentar descobrir por
avaliação estatística qual era o mais assassino”. Para Overy, “a suposição implícita –
de que os dois eram feitos do mesmo tecido ensanguentado – manchou qualquer
verdadeira distinção entre eles”, e chama a atenção para o fato de que o papel do
historiador é entender os processos históricos e estados de espírito que levaram essas
ditaduras a ascenderem ao poder. Convergindo com esse pensamento, Koenen (2009,
p. 247) assinala:

Consiste, no objetivo insano, utópico, de um expurgo e de


homogeneização da sociedade conforme critérios políticos, sociais ou
racistas, a singularidade tanto do stalinismo quando do nacional-
socialismo, que os destacou de todos os demais regimes e formações
sociais da história humana até então conhecidos.
Trata-se, no entanto, de um paralelismo e não de uma identidade. Ao
contrário: é justamente a comparação direta que clareia as diferenças
da situação inicial e da disposição dos respectivos projetos nacional e
social-revolucionários. Nalguns aspectos os dois sistemas
encontravam-se até em oposição diametral, isto é, representavam
dois extremos da história do século 20.
[…] Não foi o nacional-socialismo uma reação ao bolchevismo nem foi
o stalinismo uma reação ao nacional-socialismo. Foram simplesmente
duas possibilidades extremas de uma política de violência tanto
interna quanto externa, que se deram no mesmo espaço histórico,
porém sob condições completamente distintas.

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A partir dessa perspectiva, podemos verificar que um estudo comparado dos


dois sistemas e das duas ideologias evidenciará alguns paralelos entre eles, mas não
uma identidade. Ao contrário, para além das semelhanças, suas diferenças se
mostram muito mais altissonantes e inconciliáveis e Koenen não é o único historiador
a dizer isso. Quando falamos de comunismo e nazismo, imediatamente remetemos à
noção de totalitarismo para designar esses sistemas e que, segundo o autor, consiste
na “séria tentativa de registrar e remodelar, a partir de um único centro condutor,
Estado, economia e sociedade, cultura e educação e, finalmente, também a vida
individual dos cidadãos […], em síntese, o ‘totum’ de uma sociedade (KOENEN,
2009, p. 25)”. Ter clareza desse conceito nos ajuda a estabelecer paralelos e apontar
as aproximações e distanciamentos entre eles.
Os dois sistemas emergiram em decorrência da Primeira Guerra Mundial, isto
é, são rebentos da guerra total que resultou na decomposição da ordem social e
econômica liberal oriunda do século XIX e, ao mesmo tempo, trouxeram para o plano
da ação histórica outras ideologias também originadas naquele século: a da luta de
classes, luta racial e o nacionalismo. As ideologias que ganharam notoriedade depois
da Primeira Guerra na Europa (Nazismo, Fascismo e Comunismo) e que tinham em
comum o fato de serem antiliberais e antidemocráticas, já vinham ganhando terreno
desde o final do século XIX. Como doutrinas da violência que eram, estavam na
ordem do dia após o conflito: na postura de seus principais representantes, a retórica
e a violência se superpunham à razão e à ação.
Após a guerra o liberalismo ficou crescentemente desacreditado, cedendo lugar
a Estados centralistas. Com a crise de 1929, ficou patente para muitas pessoas que o
liberalismo era uma doutrina econômica incapaz de reerguer as economias em crise.
Enquanto o keynesianismo fornecia um modelo teórico às democracias e o socialismo
soviético se mostrava como exemplo de sucesso de planejamento econômico, Hitler e
seu partido nazista aglutinaram o apoio da burguesia e de conservadores temerosos.
A partir de 1934, a esquerda e a direita autoritárias se mostravam como os modelos
políticos a ditar o rumo da Europa. Ao falar sobre o impacto da Primeira Guerra para
a ascensão dos dois sistemas, Overy (2009, p. 20) observa:

Os dois Estados sofreram uma hiperinflação que destruiu


inteiramente a moeda e empobreceu qualquer um com riqueza
monetária. Na União Soviética, isso serviu aos propósitos

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revolucionários arruinando a burguesia; na Alemanha, arruinou toda


uma geração de poupadores cujos ressentimentos ajudaram a
alimentar a subida posterior do nacionalismo de tipo hitlerista. Os
dois Estados eram encarados como Estados párias pelo resto da
comunidade internacional, a União Soviética por ser comunista, a
Alemanha porque era responsabilizada pela eclosão da Guerra em
1914. Esse senso de isolamento empurrou-os para uma forma mais
extrema de política revolucionária e o eventual surgimento da
ditadura.

As duas ideologias tinham em comum o antiliberalismo e anti-humanismo, de


onde provinha seu desprezo pelo individualismo e sua ênfase no coletivismo. Mas
suas razões de existir e seus objetivos eram diferentes e até antagônicos: a utopia
soviética se via na vanguarda da emancipação da humanidade e da construção
ulterior da sociedade sem classes, estágio mais elevado do progresso humano, e o
nacional-socialismo era a ideologia de um povo, a legitimação de sua dominação
sobre os demais e seu objetivo maior era a construção de uma ordem social baseada
na hierarquia racial e na superioridade da raça germânica. As duas ideologias 2 se
sobressaíram nas primeiras décadas do século XX e se estabeleceram como doutrinas
nacionais e por motivos diferentes. O regime bolchevista, após a percepção de que a
revolução não ocorreria na Europa, voltou-se para a conquista de todo o território
russo e a construção e consolidação do socialismo, o que implicou a caça e
perseguição aos kulaks e “inimigos do povo”. Hitler pretendia expandir as fronteiras
da Alemanha e subjugar militarmente a Europa, fundando um Reich de mil anos.

As raízes conservadoras do nacional-socialismo

A ideologia soviética via a história pelo viés econômico da luta de classes e a


nazista pelo viés biológico da luta de raças. “A centralidade do pensamento racial –
bem como a ideia do assassinato maciço industrializado – constituiu a diferença
básica entre o império de Hitler e o de Stalin” (MAZOWER, 2001, p. 165). Portanto,
essas cosmovisões distinguem radicalmente os dois regimes.
Por outro lado, foi através do pensamento de Edmund Burke que o sentimento
racial aliou-se ao nacionalismo (ARENDT, 2011). Esse influxo remete às raízes

2 O termo ideologia é aqui usado no sentido que Hannah Arendt atribui em “Origens do
Totalitarismo”, que “se pretende detentora da chave da História, e em que julga poder apresentar a
solução dos ‘enigmas do universo’ e dominar o conhecimento íntimo das leis universais ‘ocultas’, que
supostamente regem a natureza e o homem” (ARENDT, 2011, p. 189).

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conservadoras do nazismo. Arendt pontua ainda que Burke exerceu forte influência
não apenas sobre o pensamento político inglês, mas também sobre o alemão.
Edmund Burke (1729-1797) foi um teórico político e estadista inglês que, ainda no
século XVIII, teceu fortes críticas ao pensamento social Iluminista que culminou com
a Revolução Francesa de 1789. Embora ele considerasse que essas ideologias levariam
a um reino de terror e ditadura, suas ideias nortearam o pensamento conservador
que se opôs ao Iluminismo e à Revolução e sedimentaram a ojeriza que algumas elites
conservadoras sentiam pelos ideais de liberdade e autonomia individual. Seu
pensamento contribuiu para a sedimentação de um pensamento racista de base
nacional na própria Inglaterra, no século XIX 3 (ARENDT, 2011, p. 206). Os
conservadores criticavam no Iluminismo a ruptura com a tradição e com as crenças
religiosas e morais, que eles julgavam ser “as únicas fontes legítimas de autoridade
política. Os Estados não eram constituídos; eram apenas uma expressão da
experiência moral, religiosa e histórica de uma nação” (PERRY, 2002, p. 384). Com
base nisso, eles atacavam os ideais de igualdade como abstrações perniciosas.
Os conceitos de direita e esquerda remontam aos lugares que representantes
das ordens sociais ocupavam na Assembleia Nacional francesa antes da Revolução de
1789. Clero e nobreza, que formavam o primeiro e o segundo estado e constituíam
apenas 2% da população no fim do século XVIII, num país com 26 milhões de
habitantes, ficavam à direita. O terceiro estado, formado pela burguesia, camponeses
e trabalhadores urbanos, ficava à esquerda (PERRY, 2002, p. 319).
Na segunda metade do século XIX, no contexto do avanço da Revolução
Industrial, esses conceitos ganharam outras tonalidades na medida em que a direita
passou a estar associada a ideias liberais e a esquerda a movimentos sociais
anarquistas ou socialistas. Esses movimentos contestavam principalmente a situação
de exploração dos trabalhadores nas fábricas. Aqueles que perderam seus privilégios
sociais com as agitações políticas passaram a se voltar de forma veemente contra os
ideais da Revolução Francesa. Os conservadores viam como perniciosa a ênfase na
liberdade e autonomia do indivíduo no pensamento iluminista e reafirmavam o

3 Para Hannah Arendt (2011, p. 211), o nacionalismo inglês e alemão tinha em comum o fato de ter
vicejado em uma classe média que não havia se emancipado “inteiramente da nobreza e que, portanto,
trazia em si o germe da ideologia racial”. No caso da Alemanha, a autora destaca (p. 195) que o
desenvolvimento da ideologia racista se desenvolveu apenas após a derrota do exército prussiano para
o de Napoleão em 1806 e nasceu relacionado ao esforço de união do povo contra a dominação
estrangeira.

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caráter naturalmente hierárquico da sociedade e a necessidade de os mais


qualificados governarem os menos capazes. Mas quando falavam em “mais
qualificados”, os conservadores se reportavam às elites do Antigo Regime, que viam
como portadoras de um direito natural de governança.
A Revolução Francesa também produziu a Declaração Universal dos Direitos
do Homem, cujos princípios se tornaram a bandeira dos movimentos socialistas. As
ideias de universalização da igualdade e de liberdades individuais oriundas da
Revolução Francesa causavam ojeriza a muitos conservadores que passaram a
defender, no lugar dos direitos universais, o nacionalismo, ou a universalização, sob a
forma de dominação política, dos valores de uma nação. Embora o nacionalismo não
tenha nascido com essas características, logo associou-se a ideias pseudo-científicas
da segunda metade do século XIX como o racismo, o antissemitismo e o sexismo
(HUNT, 2009).
“Entre 1789 e 1815, duas concepções diferentes de autoridade guerrearam
entre si: os direitos do homem de um lado e a sociedade hierárquica tradicional do
outro" (HUNT, 2009, p. 178). Enquanto a Declaração Universal dos Direitos do
Homem e do Cidadão alterava a condição dos súditos e reafirmava a primazia do
indivíduo sobre as instituições, o pensamento de Edmund Burke, com sua valorização
das tradições e da sociedade hierárquica, restringia a noção de liberdade e de direitos
ao governo fundado em práticas de longa data. No século XIX, como destacamos,
esse pensamento acomodou-se ao conservadorismo nacionalista.
Isso porque a Revolução Francesa não produziu apenas ideais de liberdade e
igualdade, mas também o princípio da soberania nacional. A revolução deu novo
status ao Estado moderno, ao romper com os privilégios de nascimento do Antigo
Regime4 e com a hegemonia da Igreja; isso pôs em evidência a importância do
Estado-nação e da autodeterminação dos povos. Como reação a isso, emergiu a
ideologia do nacionalismo, que desprezava as noções de igualdade e direitos
individuais e enfatizava o senso de comunidade e autossacrifício como prova do
orgulho de um povo por sua história e por suas tradições. O nacionalismo substituiu
os direitos do homem pelos direitos da nação e esta passou a ser frequentemente

4 A noção de Antigo Regime nasce com a própria Revolução Francesa e, no pensamento dos homens do
final do século XVIII e início do XIX, a revolução marca uma ruptura com uma ordem social
caracterizada pela estrutura estamental, com forte continuidade com o feudalismo e o “absolutismo”
monárquico como sistema de governo predominante (VOVELLE, 2012).

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evocada como entidade escolhida por Deus para cumprir um ideal elevado para o
qual fora destinada.
A ênfase do nacionalismo no apego à tradição, a Deus e ao passado (como a
glorificação da monarquia e da aristocracia hereditária) logo se tornou a força motriz
do pensamento conservador que via com desconfiança as ideias revolucionárias e os
valores burgueses do liberalismo. A Alemanha foi o principal cenário onde esse
pensamento se desenvolveu, encabeçado pelo movimento romântico com a evocação
de um passado místico e a negação do indivíduo, que só poderia ser pensado em sua
ligação com o povo, a pátria e a comunidade nacional. O pensamento nacionalista do
século XIX rejeitava os direitos do homem para afirmar a força da nação com foco na
etnicidade. “Os primeiros sinais de problemas futuros já podiam ser percebidos nas
visões expressas no início do século XIX pelo nacionalista alemão Friedrich Jahn:
‘Quanto mais puro um povo, melhor’, ele escreveu. As leis da natureza, sustentava,
operavam contra a mistura de raças e povos” (HUNT, 2009, p. 183).
Somado a isso, o desenvolvimento da Biologia foi um importante catalisador
das teorias do racismo e do antissemitismo que se difundiram na Europa a partir de
então. Os estudos voltados para qualidades biológicas inerentes em determinadas
raças levaram alguns povos a acreditar que apenas as melhores raças alcançariam a
civilização. Por outro lado, a aquisição de direitos por parte dos judeus e a abolição da
escravidão nas colônias britânicas e francesas levaram os teóricos do pensamento
racial a buscarem na ciência a legitimação para afirmar a inferioridades das duas
raças. Mas no final do século, a publicação na Alemanha do livro de um escritor inglês
chamado Houston Stewart Chamberlain influenciaria diretamente Hitler: ele dizia
que apenas dois povos ainda mantinham sua pureza racial e que por isso estavam
destinados a lutar até que um extinguisse o outro: eram os arianos e os judeus
(HUNT, 2009). Portanto, aliado ao nacionalismo, o pensamento racista se
desenvolveu de forma visceralmente avessa a toda noção de igualdade.
No século XX, o nacionalismo se tornou um projeto revolucionário de direita a
fazer frente ao socialismo marxista, enquanto projeto revolucionário de esquerda. O
fascismo e o nazismo emergiram plagiando as estratégias de difusão, propaganda,
mobilização das massas e centralismo político que as esquerdas europeias utilizavam
e o bolchevismo consolidou na Rússia soviética na década de 1920.

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As orientações socioeconômicas das duas ideologias no poder

Uma vez que o pensamento nazista se formou de uma matriz ideológica oposta
aos princípios da Revolução Francesa e os movimentos socialistas se originaram
daqueles princípios, podemos verificar que as semelhanças entre as duas ideologias
quando chegaram ao poder no século XX são bem menores do que suas diferenças.
Enquanto o nacionalismo se aliou a ideologias raciais com status de ciência no século
XIX e evoluiu para uma postura cada vez mais segregacionista, o socialismo buscava
ampliar a noção de direitos oriunda da Revolução Francesa no sentido de estendê-los
às classes desfavorecidas. Ao questionar a propriedade privada e a insuficiência dos
direitos políticos, o socialismo evoluiu para um pensamento revolucionário e
antiliberal.
Em 1843, Marx contestou a noção individualista da Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão que apenas levava à noção de “homem egoísta” em detrimento
da verdadeira emancipação humana que não poderia ser alcançada pela política,
segundo ele, mas pela ação revolucionária focada na abolição da propriedade e no
deslocamento da noção de homem abstrato, individual para a de homem genérico,
organizado em forças sociais (MARX, 2002). No século XX, essa teoria cimentou a
ausência de direitos individuais na sociedade soviética. Ainda em 1918 os
bolcheviques proclamaram uma Declaração dos Direitos do Povo Trabalhador e
Explorado, que pouco efeito teve na prática; por não assegurar direitos e liberdades
individuais, deixou a sociedade à mercê do terror estatal que marcou virtualmente
toda a história do país sob a ditadura do Partido Comunista (HUNT, 2009).
O nazismo, por outro lado, opunha-se tanto à direita liberal quanto às
esquerdas (a social-democrata e a comunista) e associava todas elas ao judaísmo que,
segundo Hitler, as controlava para subjugar o povo alemão. O nome “socialista” na
sigla do partido deveu-se a uma estratégia para se diferenciar de todas essas
ideologias e ganhar o apoio da sociedade alemã, especialmente os trabalhadores, a
quem pretendia cooptar e recrutar para reerguer a economia do país e fazer frente ao
crescimento dos partidos e movimentos de esquerda. O uso da cor vermelha na
bandeira também foi estrategicamente escolhido por sua vivacidade e facilidade de
atrair a atenção. Hitler explicou essa estratégia em “Mein Kampf”. Além disso, a

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adoção do nome “socialismo” era antes uma provocação, segundo ele mesmo
(HITLER, 2001, p. 265-266):

Neste mundo, porém, quem não se dispuser a ser odiado pelos


adversários não me parece ter muito valor como amigo. Por isso, a
simpatia desses indivíduos era por nós considerada não só inútil mas
prejudicial. Para irritá-los, adotamos, de começo, a denominação de
Partido para o nosso movimento, que tomou o nome de Partido
Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães […] A cor que
escolhemos foi a vermelha, não só porque chama mais atenção, como
porque, provavelmente, irritaria nossos adversários, e faria com que
eles se impressionassem conosco.

Os adversários a quem ele se referia eram os comunistas e Hitler plagiou suas


estratégias para cooptar o apoio dos trabalhadores a seu partido. Em “Minha Luta”,
ele detalha como foi influenciado pelas ideias socialistas sem, contudo, se unir
ideologicamente a elas; antes copia-lhes os métodos de organização, propaganda,
agitação e difusão para criar um partido que se lhes oponha frontalmente. Para ele, a
burguesia sozinha não podia derrotar o marxismo, porque era de seu meio que
brotavam os marxistas que pretendiam entregar o mundo aos judeus. Ele
contrapunha a isso o que chamava de “concepção racista”, que negava a igualdade das
raças e impunha a necessidade de os fortes subjugarem os fracos (HITLER, 2001, p.
291-293).
Em um capítulo intitulado “Hitler, um socialista”, Narloch (2013) cita Ian
Kershaw duas vezes; a primeira para falar das estratégias do partido nazista acima
expostas e, na segunda, transcreve um trecho de sua obra que fala sobre a
interferência do Estado na economia. No entanto, Narloch omite o fato de que na
mesma obra Kershaw afirma que “Hitler nunca foi um socialista” (KERSHAW, 2010,
p. 302). Este autor enfatiza que a sujeição da economia ao interesse nacional, isto é,
ao Estado, não implicava uma mudança de sistema econômico. Ao invés disso, o
capitalismo continuaria vigente, mas como “adjunto do Estado”5.
Kershaw também argumenta que a fusão de socialismo e nacionalismo
presentes na sigla do partido de Hitler não se baseava na moderna noção de

5Essa perspectiva converge com a abordagem de Bessel (2014, p. 58-59) segundo a qual, a despeito do
elevado grau de controle estatal sobre a economia, “a Alemanha nazista permaneceu um país
capitalista no qual os meios de produção ainda eram predominantemente de propriedade privada e no
qual se apuravam lucros enormes, principalmente quando a empresa conquistava contratos com o
governo”.

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socialismo, mas numa exacerbação do darwinismo social e do imperialismo do século


XIX, de onde provinha a noção de “comunidade nacional” (Volksgemeinschaft)
pensada não como um meio para promoção do bem-estar coletivo, mas como
preparação para uma luta cruenta para a conquista e pela força e para a destruição do
marxismo – e por marxismo Hitler chamava genericamente tudo o que era de
esquerda. Ele discute ainda a relação do nazismo com a direita radical, a aversão de
Hitler e de seus seguidores por todos os movimentos de esquerda, sua rejeição ao
socialismo, o que levou aqueles que ainda pensavam que seu movimento possuía
alguma identidade com o socialismo a abandonar o partido nazista. Depois de
mencionar que, após assegurar ao empresariado, “Hitler deixou claro que não queria
nem pensar em socialização ou controle pelos trabalhadores”, o autor pontua: “Em 4
de julho [de 1930], antecipando-se à expulsão, [Otto] Strasser e 25 companheiros
anunciaram publicamente que os socialistas estão deixando o NSDAP” (KERSHAW,
2010, p. 233).
Hitler ganhou o apoio de industriais alemães, mas não foi controlado por eles.
Seu regime garantiu a propriedade privada, estabilizou a moeda, construiu grandes
obras, reergueu a indústria, pavimentou estradas, estancou o desemprego e garantiu
qualidade de vida para a população alemã. Ele via seu partido como uma organização
revolucionária, embora tenha chegado ao poder por meio de eleições livres.
Do ponto de vista econômico, os nazistas não possuíam um corpo doutrinário
definido. Eles desprezavam na teoria marxista o princípio de socialização de todos os
meios de produção e defendiam a existência de empresas independentes. Como a
Alemanha foi arruinada pela crise de 1929, socialistas e nacional-socialistas, por
motivos diferentes, pretendiam superar a ordem social burguesa marcada por
conflitos de classes, egoísmo econômico e repetidas crises. Enquanto os socialistas
preconizavam a revolução e a coletivização para a derrubada dessa ordem e
construção da sociedade sem classes, o nazismo preconizava a conquista e o saque.
De acordo com Overy (2009, p. 410):

Sua concepção [de Hitler] tinha mais em comum com as tradições


mercantilistas dos primórdios da era moderna, quando território,
tesouro e recursos eram usurpados a ponta de espada sob a
interpretação errônea de que a riqueza do mundo era finita […].
Hitler tomou emprestado da geopolítica popular da década de 1920 a
ideia de que a questão primordial enfrentada por todas as nações era

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a limitação de espaço vital – a quantidade de terra e materiais


necessários para sustentar a vida de uma determinada nação ou raça.

Overy também explica que o termo “capitalismo de Estado” foi cunhado por
um cientista social alemão exilado nos Estados Unidos na época para designar o
modelo econômico do terceiro Reich, marcado por forte intervenção do Estado,
disciplinarização da mão-de-obra e proteção do lucro privado. Tanto a direita
antiliberal quanto a esquerda cultuavam o Estado e o viam como elemento
indispensável para a construção da utopia, uma sociedade de super-humanos, onde
racionalismo e grandeza moral se conjugariam na formação de um mundo melhor.
No caso da Alemanha, o regime nazista se manifestava como um Estado de Bem-estar
racial, com sua política eugênica, garantia do pleno emprego aos alemães e doutrina
da superioridade da raça ariana.
Tanto a economia soviética quanto a alemã eram economias de comando. E
nesse ponto as semelhanças também não ocorrem por acaso: os nazistas não
plagiaram apenas as cores, a organização coletivista e o nome socialismo de seus
rivais – os economistas alemães também observavam atentamente como era
conduzida a economia soviética e, como os planos quinquenais de Stalin, Hitler tinha
o plano quadrienal com objetivos similares – investimentos na indústria pesada,
substituição de importações e intercâmbio mínimo com o mercado mundial para
salvaguardar as prioridades internas do país. Seguindo uma perspectiva levemente
diferente da de Kershaw, para Overy (2009) nem a União Soviética era um socialismo
puro nem a Alemanha nazista era propriamente capitalista. Os dois impérios tinham
sistemas econômicos híbridos que se diferenciavam entre si mais pela forma como
interpretavam a história, seu papel no cenário mundial e pelos objetivos das duas
utopias do que pelo modo de produção predominante.
Desse modo, embora preservasse a existência da propriedade privada, o
nazismo não era apenas capitalista, mas uma mistura dos dois sistemas e também
não era de esquerda. Daí provém a designação, comumente usada em textos
históricos, de extrema direita: Hitler acreditava que o capitalismo liberal era fraco e
impotente para conter o avanço do bolchevismo sobre a Alemanha, condenava o
parlamentarismo burguês como um sistema dominado pelo judaísmo tanto quanto o
bolchevismo e fundou um partido que defendia um Estado forte e centralizado para
se opor a isso, um partido e um Estado nacionalistas e racistas, ele sempre enfatizava.

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Diferentemente do socialismo, sua interpretação da história não era social (luta de


classes), mas racial, nem pretendia estender os ideais de inclusão e igualdade social a
todos, apenas à raça germânica. Aos outros, caberia a extinção pela guerra.
Mesmo que o pensamento racial não fosse apanágio da direita, é preciso
entender os homens a partir do contexto em que estão inseridos e no contexto das
décadas de 1920 e 1930 a esquerda e a direita podiam compartilhar algumas ideias
gerais muito populares de sua época, sem se confundirem ideologicamente. Em uma
época de impérios e darwinismo social, as noções de uma hierarquia racial eram
onipresentes, e poucos europeus, da direita ou da esquerda, não acreditavam nas
ideias de superioridade racial ou não aceitavam sua relevância para a política
colonial. O chamado “racismo científico” era levado a sério e influenciava atitudes
públicas (MAZOWER, 2001, p. 109).
A derrota na Primeira Guerra, a humilhação do Tratado de Versalhes, a
inflação, o desemprego e a visibilidade dos judeus no pós-guerra forneceram a Hitler
o fermento para a exacerbação do sentimento racista e antissemita na Alemanha: “A
propaganda nazista transformou a suposição de uma conspiração mundial judaica de
assunto discutível que era, em principal elemento da realidade nazista; o fato é que os
nazistas agiam como se o mundo fosse dominado pelos judeus e precisasse de uma
constraconspiração para se defender” (ARENDT, 2011, p. 412).
Por outro lado, o medo do comunismo levou liberais e conservadores a apoiá-
lo: “Muitos conservadores também estavam insatisfeitos com a democracia do
entreguerras e ansiavam por uma volta a modos de governo mais elitistas,
aristocráticos e eventualmente monárquicos. Achavam que o problema da
democracia estava no poder que conferia às massas, em sua suposta
incompatibilidade com a autoridade” (MAZOWER, 2001, p. 38). Na Europa do
entreguerras, a extrema direita chegou ao poder em países com pouca tradição
democrática e apoiada por conservadores herdeiros do pensamento social anti-
iluminista e aristocrático que remonta a Edmund Burke.
Isso explica também o apoio da Igreja ao fascismo e ao nazismo. Os ideais da
Revolução Francesa a que o nacional-socialismo se opunha também não eram
benquistos pela Igreja, uma instituição que se opôs a variadas conquistas da
modernidade e teve seu poder muito reduzido com o avanço do secularismo na
Europa. A Igreja não era fascista, mas o direcionamento conservador que tomou a

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partir do Concílio Vaticano de 1870 veio a colocá-la como aliada de Estados


autoritários e corporativos que teve em países católicos seus primeiros experimentos,
cujos sistemas políticos também agiam com forte apelo à tradição católica. Segundo
Hobsbawm (1995, p. 118):

[…] com menos frequência observou-se a considerável ajuda dada


após a guerra por pessoas de dentro da Igreja, às vezes em posições
importantes, a fugitivos nazistas ou fascistas de vários tipos, inclusive
muitos acusados de horripilantes crimes de guerra. O que ligava a
Igreja não só a reacionários anacrônicos, mas aos fascistas, era um
ódio comum pelo Iluminismo do século XVIII, pela Revolução
Francesa e por tudo o que, na sua opinião, dela derivava: democracia,
liberalismo e, claro, mais marcadamente, o “comunismo ateu".

O nazismo não se manifestou como um movimento abertamente anti-cristão,


nem Hitler era ateu, como os dirigentes marxistas da União Soviética e essa era outra
importante diferença entre as duas ideologias. Enquanto em “Minha Luta”, Hitler
deplorava a perda da fé religiosa na Europa, particularmente na Alemanha, e
considerava a religião como um importante sustentáculo da vida moral numa
sociedade, o socialismo, enquanto movimento herdeiro das Luzes, via as religiões
como forças sociais a serviço das classes dominantes e legitimadoras da desigualdade
e da opressão, o que levou as lideranças soviéticas a emplacarem um amplo programa
de descristianização e desfiliação religiosa, sobretudo através da educação. O
nazismo, a despeito de seu programa revolucionário, era avesso aos princípios
revolucionários do bolchevismo. Por isso Hobsbawm (1995, p. 121) os chamou de
revolucionários da contrarrevolução.

Nacionalismo e internacionalismo

Uma característica da política soviética após a morte de Lênin foi a desistência


gradual da revolução mundial e a consolidação do novo regime na Rússia. Essa foi
uma preocupação de Stalin desde o início e uma de suas metas após assumir o poder.
Stalin agia motivado pela preservação da revolução, por sua ampliação e via a si
mesmo como o único líder bolchevique que possuía determinação suficiente para
dirigir o país. Enquanto o nazismo possuía uma meta definida de extinção de outras
raças, o comunismo não escolheu a priori suas vítimas, que foram sendo atropeladas

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à medida que o partido acreditava que poderiam interromper o caminho da


revolução. “As consequências dessa determinação [de Stalin] para a sociedade
soviética foram profundas e angustiantes, mas para ele devem ter sido justificadas
pelo único imperativo de construir o comunismo” (OVERY, 2009, p. 36).
Na União Soviética, o nacionalismo jamais se tornou parte da ideologia
governamental. Depois da invasão alemã em 1941, o partido apelou ao sentimento
patriótico da população, para combater os invasores, mas isso nem de longe se
aproximava de um direcionamento nacionalista. Mesmo a ideia de Stalin de
“construção do socialismo num só país” tinha um viés diferente do nacionalismo.
Sobre o assunto, novamente Richard Overy (2009, p. 562):

A ideia […] foi muitas vezes mal interpretada como uma expressão de
socialismo “nacional” – um deslocamento das aspirações
internacionalistas do verdadeiro marxismo inspirado pelo Stalin mais
“nacionalista”. Mas a ambição não era nacionalista em nenhum
sentido reconhecível. Quando Stalin afirmou, em 1924, que “podemos
construir o socialismo… por nossos próprios esforços”, expressava
uma ambição social, não nacional. O malogro da revolução fora das
fronteiras soviéticas obrigou a maioria dos bolcheviques a aceitar a
visão sensata de que o socialismo teria de ser construído sem a ajuda
de outros proletariados […]. Stalin nunca deu as costas à ideia de que
a União Soviética devia continuar a combater o capitalismo e
incentivar a revolução no estrangeiro; “o socialismo num só país” deu
à União Soviética um lugar especial na liderança da luta mundial, mas
não foi uma declaração de independência nacional. Se Stalin, na
década de 1930, esperou que os cidadãos soviéticos expressassem um
patriotismo soviético, foi por amor à única pátria socialista, não por
soberba nacional […]. Embora, a partir da década de 1930, a ditadura
começasse a identificar-se mais com um passado especificamente
russo, ele sempre manteve a distinção entre a União Soviética como
um Estado socialista de muitas nacionalidades e a nação como
expressão de uma cultura particular e sem igual.
.
Enquanto Stalin não fazia distinção entre nações, Hitler as concebia como
entidades inseparáveis da ideia de raça e as raças inferiores estavam destinadas a ser
conquistadas e ter seus territórios tomados pelas raças superiores, dotadas de uma
vontade maior de autopreservação e de uma capacidade extraordinária de produzir
cultura e ciência, e isso também embalava a diferença radical que os dois ditadores
tinham da noção de Estado: “O Estado de Stalin era uma realidade multinacional
sustentada por uma visão social e política distintamente não nacional; o conceito de
Estado de Hitler baseava-se apenas na ‘preservação e intensificação’ de uma nação

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única, a cujos fins todas as ambições políticas e sociais deviam ser implacavelmente
subordinadas” (OVERY, 2009, p. 563).
Afirmamos anteriormente que o nacional-socialismo se caracterizava como um
Estado de Bem-Estar racial, algo que inexistiu na União Soviética ou qualquer outro
sistema socialista. Esse plano de fundo colocava os dois sistemas em campos opostos,
quanto a seus objetivos finais. O Estado soviético tinha uma posição formal contra
todo tipo de discriminação racial aberta ou violenta, além de ser formado por
variados grupos étnicos que não foram perseguidos por motivos raciais. As
deportações em massa que ocorreram na União Soviética no final e após a Segunda
Guerra Mundial não tiveram um padrão pré-estabelecido de corte racial. Embora
grupos étnicos praticamente inteiros tenham sofrido deportação na URSS, as razões
para isso tinham fundo político, não étnico. No caso da Alemanha, ao contrário, a
“Solução Final”, a questão da eliminação dos judeus, ganhou contornos mais
dramáticos a partir de 1941 quando os alemães puseram em prática o assassinato em
massa de judeus que durou, segundo Richard Overy, até 1944. Hitler via sua guerra
contra outras raças, especialmente os judeus, em termos extremos de sobrevivência
ou extinção.

A União Soviética era uma federação de nacionalidades, cujas


identidades nacionais foram respeitadas na medida em que não
comprometeram as ambições políticas centrais do regime […].
Xenófoba e exclusiva, a Alemanha de Hitler viu-se em direta e
violenta competição com todas as outras nacionalidades, trancada
numa história perpétua de luta racial. As raças estrangeiras não
podiam ser assimiladas sob quaisquer circunstâncias (OVERY, 2009,
p. 598).

Por conseguinte, não é possível compreender adequadamente as diferenças


entre socialismo e nacional-socialismo se não se tiver clareza da importância e das
raízes dos conceitos de internacionalismo e nacionalismo que norteavam as duas
ideologias e as colocava em oposição tenaz.

Prisioneiros e países ocupados

Outra diferença entre os dois regimes está no uso que faziam do trabalho
escravo, ou dos campos de concentração. Havia homologias, mas mesmo nesse ponto
as diferenças também sobressaíam. No importante estudo que realizou sobre os

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campos de trabalho forçado na URSS, Anne Applebaum (2009) ressaltou logo no


início as diferenças que apresentavam com os campos nazistas: uma das mais
importantes era que o Gulag (como era chamado o complexo de campos soviéticos)
tinha função essencialmente econômica. Os “inimigos” que ali eram seviciados eram
escolhidos de forma mais aleatória e vaga em relação aos inimigos do nazismo,
sobretudo os judeus. Esperava-se, na União Soviética, tornar esses trabalhadores
“novos homens” reeducados pelo trabalho, por isso exigia-se que fossem produtivos.
Apesar do elevado número de vítimas que morreram nesses campos, o Gulag não foi
concebido como local de extermínio, ao contrário dos campos nazistas, onde os
terríveis experimentos com câmaras de gás foram responsáveis pela morte de
centenas de milhares de judeus.
Além disso, após a morte de Stalin, grande parte dos campos soviéticos foi
fechada e milhões de prisioneiros libertos, algo impensável no nazismo, quando no
fim da guerra a crueldade dispensada aos prisioneiros recrudesceu. É fato que a
propagação de campos no século XX nos regimes totalitários evidenciou a aterradora
capacidade desses Estados de produzir mortes em escala industrial, porém não houve
nos campos da União Soviética nada semelhante ao Holocausto, nem eles foram
organizados de forma proposital para produzir montanhas de cadáveres ou mesmo
para serem instrumentos de terror como ocorreu com os campos alemães. A
semelhança nas placas de entrada dos campos, com frases sobre o trabalho nos dois
países também não revelam a diferença na concepção de trabalho nos dois regimes,
mesmo para os prisioneiros:

Os campos alemães foram criados com a intenção da violência contra


inimigos da nação e o esforço de guerra. O trabalho era muitas vezes
um caminho deliberado para a destruição. O trabalho no Gulag podia
ser destrutivo, mas o objetivo era manter os prisioneiros bem vivos e
bem o suficiente para continuarem trabalhando em todos, menos nos
mais sinistros campos de punição (OVERY, 2009, p. 622).

Outras distinções também se manifestaram no final da guerra e após. Hitler


perdeu o apoio dos países que ocupou porque no transcorrer do conflito ficou claro
que o objetivo da Alemanha não era criar uma Europa unida com autonomia entre
seus países membros, mas escravizar suas populações e extinguir os grupos étnicos
considerados nocivos à pureza racial ariana. Ele poderia ter conseguido apoio até
mesmo entre povos que formavam a União Soviética não fosse sua crença de que “os

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eslavos eram uma raça de escravos subumanos" (HOBSBAWM, 1995, p. 171). No pós-
guerra, a ocupação soviética em Berlim oriental e no leste europeu apresentou
características bem distintas. Apesar do centralismo administrativo de Moscou,
muitos países do leste não foram anexados à URSS e sua classe governante “foi
menos elitista que qualquer outro governo da Europa oriental até então”
(MAZOWER, 2001, p. 275).
Além disso, na década de 1950, com a iniciativa de Kruschev de denunciar os
crimes de Stalin, os campos de trabalho escravo foram fechados e seus prisioneiros
libertos. O domínio soviético no leste europeu também pôs fim a décadas de
instabilidade e crises econômicas. Com a derrota do nazismo em 1945, a política do
nacionalismo racial foi substituída por um projeto de modernização econômica
abrangente e inclusiva, com expansão da industrialização, universalização do sistema
médico e consequente redução da mortalidade infantil a patamares ainda não
alcançados na região (MAZOWER, 2001).
Diferentemente dos alemães, que ocuparam a Europa oriental em função de
seus interesses, a União Soviética cooptou e controlou as elites locais, dissipando as
tendências nacionalistas e pondo em prática um programa de urbanização e
industrialização que provocou profundas mudanças sociais e projetou
economicamente a região sobre o restante do continente por algum tempo. Essas
melhorias, contudo, culminaram em uma estagnação econômica a partir dos anos
1970 em decorrência da baixa produção de bens de consumo e da insatisfação
popular com a ditadura e o centralismo administrativo de Moscou, elementos que
depois se somaram à busca por independência nacional quando o sistema como um
todo começou a desmoronar. Mas, para nossos propósitos, o importante a ressaltar é
que as diferenças de objetivos e de governabilidade entre o sistema soviético e o
alemão superam muito as semelhanças que apresentavam.

A cooperação entre Alemanha e União Soviética

Por fim, outro ponto controverso diz respeito à colaboração entre os dois
Estados com a assinatura do pacto de não agressão em 1939. Na verdade, o primeiro
acordo militar da Rússia soviética com a Alemanha foi feito mais de dez anos antes de
Hitler subir ao poder, quando o país era uma República democrática. A aliança com

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Berlim foi essencial para a Rússia Soviética modernizar suas forças armadas, que
sofriam de grande precariedade em decorrência da derrota para a Polônia e a Guerra
Civil (PIPES, 2013, p. 375).
Derrotada na Primeira Guerra, a Alemanha saiu do conflito com seu poderio
militar extremamente enfraquecido e ficou mais vulnerável ainda com as proibições
impostas pelo Tratado de Versalhes. O Tratado estabeleceu o fechamento das
academias militares alemãs, assim como quartéis, campos de aviação e depósitos, a
redução do exército a uma força policial de cem mil homens, a extinção da força
aérea, a quase extinção da Marinha, que teve sua frota reduzida a apenas seis navios
pequenos e trinta embarcações, o uso apenas de armas de defesa leves e veículos
pequenos e impôs ao país a fiscalização de inspetores de armas de países aliados
vencedores da Primeira Guerra (OVERY, 2009).
Uma alternativa que restou ao governo alemão foi tentar reconstruir seu poder
militar com o apoio dos russos. Em 1922, os dois países assinaram o tratado de
Rapallo e a partir de então passaram a ter intensa cooperação tecnológica e militar.
Dez anos depois, segundo Koenen (2009), quase a metade das importações soviéticas
em matérias de tecnologia era procedente da Alemanha. Quando em 1933 Hitler
tornou-se chanceler na Alemanha, isso não abalou as relações entre os dois países
nem foi um evento visto com maus olhos na União Soviética. Paradoxalmente, a
cúpula dirigente de Moscou desconfiava mais da social-democracia (que eles
chamavam de social-fascismo) do que do nacional-socialismo, porque

A social-democracia alemã representava, de maneira particular, uma


política de orientação ocidental; encarava a União Soviética com
extremo ceticismo e estava disposta a defender a república contra
quaisquer tentativas de golpe, fossem de direita ou de esquerda. […]
De resto, a imprensa do KPD [Partido Comunista da Alemanha]
titulava todos os partidos de “fascistas”. Além de social-fascistas havia
também clerical-fascistas (o Centro), nacional-fascistas (os
nacionalistas alemães) – e finalmente os fascistas nazistas ou de
Hitler (KOENEN, 2009, p. 177).

A ascensão de Hitler encerrou a cooperação militar entre Alemanha e URSS de


forma amistosa. Foi uma cooperação que durou pouco mais de dez anos, no decorrer
dos quais os exércitos alemães tinham permissão de fazer treinamentos em território
soviético, longe dos inspetores dos países aliados, além de poder “estabelecer centros
experimentais de pesquisas de tanques, armas químicas e de aviação na União

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Soviética” (OVERY, 2009, p. 458), e ainda testar armas no próprio território soviético
e a URSS importou tecnologia, aprendeu a desenvolver um sistema bélico moderno e
seus oficiais fizeram cursos na Alemanha. A cooperação transformou os dois países
nas primeiras superpotências militares do mundo.
Se o pacto de não agressão assinado entre os dois países em 23 de Agosto de
1939 desafiava a lógica das hostilidades entre fascismo e comunismo, os dois
ditadores sabiam que uma guerra entre eles aconteceria cedo ou tarde. Stalin
acreditava que os países capitalistas entrariam novamente em guerra e a URSS não
poderia ficar passiva e teria de entrar no jogo. O pacto foi um gesto estratégico de
Hitler, que “precisava da neutralidade soviética enquanto era obrigado a combater as
potências ocidentais” (OVERY, 2009, p. 497) e Stalin esperava que os países
capitalistas se dilacerassem no conflito; mas ele não esperava uma ofensiva de Hitler
ainda em 1941 enquanto a Alemanha ainda estava em guerra com a Grã-Bretanha e
subestimou o poderio do exército alemão (KERSHAW, 2010).
Os dois regimes viam a guerra como algo essencial, foram forjados numa
guerra e a utilizavam com propósitos políticos, uma vez que se viam cercados de
inimigos. “As duas ditaduras criaram metáforas de conflito permanente como um
meio de legitimar o regime. O resultado foi uma disseminada militarização da vida
política, em que as diferenças entre as esferas militar e civil se tornaram indistintas e
indeterminadas, em meio às linguagens da guerra” (OVERY, 2009, p. 468). Eram
dois sistemas políticos beligerantes, cujas divergências ideológicas cedo ou tarde os
colocariam em lados opostos no campo de batalha e seus dois dirigentes sabiam
disso.
Embora a URSS tenha modernizado seu poderio militar, o fato de Stalin ter
destruído a base agrária do país com a perseguição aos kulaks e ter eliminado
importantes chefes militares e cientistas nos expurgos da década de 1930, deixando
praticamente amadores na direção do Exército Vermelho, tornou a URSS bastante
vulnerável à invasão alemã em 1941. As rápidas vitórias alemãs no território soviético
evidenciaram o completo despreparo do Exército Vermelho diante dos nazistas. Em
apenas um mês, nove décimos da força de tanques soviética foi destruída e as
operações de cerco desbarataram a maior parte de sua linha de fronte. O treinamento
e o aparato militar alemães eram bem superiores aos soviéticos (OVERY, 2009, p.
506). Koenen (2009) confirma essa abordagem e acrescenta que a derrota fragorosa

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do Exército Vermelho em 1941 não possui precedentes na história bélica. Depois de


anos de conflito e heroicas resistências, a ajuda externa, especialmente britânica e
norte-americana, foi fundamental para a União Soviética reverter a situação e vencer
a guerra.

Conclusão

As noções de direita e esquerda não são conceitos estanques e devem ser


analisadas a partir das características do contexto em que estão inseridos. Como
vimos nesse artigo, a direita e a esquerda podiam partilhar ideias comuns no início do
século XX, como o racismo científico (mais absorvido pela direita do que pela
esquerda), um conjunto de princípios que, se hoje nos soam como absurdos, estavam
fortemente sedimentados no arcabouço científico daquelas primeiras décadas.
Por outro lado, a Primeira Guerra Mundial e o advento de novas tecnologias
como o rádio levou à formação do que compreendemos como a “era das massas”, que
deu à luz práticas discursivas e militâncias aclamadas tanto à direita quanto à
esquerda. Na primeira, temos o culto à tradição, ao passado heroico e mítico e à
figura de líderes redentores e que encontraram no fascismo e no nacional-socialismo
seus lugares-comuns. Na esquerda, a exacerbação do discurso Iluminista com a
promessa de futuro, do progresso pela via da revolução social, que o bolchevismo
trouxe para o plano da história. O socialismo se tornou vitrine no período entre
guerras e foi apropriado e reinventado pela direita, que manteve em comum com a
esquerda revolucionária o viés antiliberal e antidemocrático.
A direita se reinventou no período entre guerras e sob a sombra do ódio ao
parlamentarismo e do anticomunismo, ela própria se tornou revolucionária. A
propaganda, a organização de massas e a força do nacionalismo foram seus
ingredientes para isso. O fascismo e o nazismo não se limitaram apenas a reagir ao
comunismo, mas se tornaram eles próprios projetos de sociedade coletivistas da era
das massas e emergiram como ideologias de organização do trabalho numa época em
que a sociedade do trabalho estava em crise. Numa época de fortes tensões sociais e
de classes, cooptaram os trabalhadores, ganharam o apoio das classes médias e da
burguesia industrial, embora não tenham se subordinado a elas e concentraram seus
objetivos na propaganda, no culto ao líder e no esforço de guerra, a meta maior de

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Hitler para reaver os territórios perdidos em 1918 e pôr em prática seus princípios de
conquista do espaço vital e homicídio em massa com inspiração racial.

Referências

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VOVELLE, Michel. A Revolução Francesa: 1789-1799. São Paulo: Editora da


Unesp, 2012.

Recebido em Junho de 2015


Aprovado em Setembro de 2015

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