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O Periscópio Ano LXIX - N° 69 - 2018

INCIDENTE SAR CURSO DE COMANDANTE "8TH ANNUAL


SSE 004-20017 DE SUBMARINOS SUBMARINE AND
NUCLEARES NA FRANÇA SUBMERSIBLE
(COURCO/2017) OPERATION SUMMIT
(LONDRES) – 2017"
CARTA DO EDITOR

Caro leitor, é com grande satisfação que - O trabalho deverá ser original;
divulgamos mais um ano de atividades do - O autor deverá encaminhar o trabalho
Comando da Força de Submarinos e, de com o seu nome, posto, graduação, OM em
antemão, convido a todos a participarem das que serve e contatos de e-mail e telefônicos;
futuras edições deste renomado periódico - Os trabalhos deverão ser enviados
deste Comando. eletronicamente, utilizando processador de texto
Mantendo a tradição desde a sua primeira “WORD”, configurados em folha tipo A-4,
edição em 1962, a revista “O Periscópio” é em espaçamento simples, fonte “Times New
editada anualmente pelo Centro de Instrução Roman”, tamanho 12, e com o máximo de seis
e Adestramento Almirante Áttila Monteiro (6) páginas de texto (contadas ainda sem figuras);
Aché (CIAMA) e traz, além de uma - Os artigos deverão ter imagens que
retrospectiva dos acontecimentos ocorridos ilustrem e enriqueçam os assuntos, anexadas
nos últimos 12 meses, os artigos de interesse à ou inseridas no próprio texto. Contudo, é
nossa Força. Trata-se de uma publicação com importante ressaltar que as fotos deverão vir
registro da Biblioteca Nacional, sob o número em arquivos separados na resolução abaixo
ISSN 1806-5643, contendo em média uma indicada, isto evita problemas de utilização das
tiragem de 1000 exemplares e periodicidade mesmas durante a diagramação;
anual e gratuita. A versão digital encontra-se - As fotos, gráficos ou ilustrações deverão
disponibilizada na página do CIAMA, assim ter a resolução mínima de 300 dpi nos
como, as revistas dos anos anteriores. formatos “JPG”, “TIFF” ou “BMP”, a fim de
Apesar das dificuldades encontradas e permitirem a sua publicação;
enfrentadas, gostaria de agradecer especialmente - A inclusão do trabalho na revista implica
aos colaboradores que tanto se empenharam na cessão ao CIAMA e, consequentemente
para que este periódico se tornasse realidade. à Marinha do Brasil, de todos os direitos de
Esperamos contar com a honra de vossas utilização dos textos e imagens enviados,
colaborações nos próximos anos. para divulgação das atividades da instituição,
Gostou do que leu e quer divulgar inclusive em sítios da Internet;
uma experiência ou uma descoberta sobre - Poderão enviar artigos, os militares da
as Atividades de Submarino, Mergulho, MB e das outras Forças (da ativa e da reserva),
Mergulho de Combate, Medicina Hiperbárica, oficiais de Marinhas amigas e de Forças
Psicologia de Submarino ou outro tema de Armadas estrangeiras, além de funcionários
caráter científico-militar? civis da MB e leitores da sociedade civil.
Participe da próxima Revista “O Periscópio” e
nos envie simplesmente um texto com fotografias Contato no expediente da revista:
que versem sobre nossas atividades, podendo ter ciama.operiscopio@marinha.mil.br
seu artigo aprovado pelo Conselho Editorial e
publicado na próxima edição da revista. USQUE AD SUB ACQUAM NAUTA SUM!
O regulamento do concurso é divulgado em
BOLETIM DE ORDENS E NOTÍCIAS Emilson João D. Gonçalves
– ESPECIAL da DIRETORIA DE Primeiro-Tenente (AA)
COMUNICAÇÕES E TECNOLOGIA
DA INFORMAÇÃO DA MARINHA, Adriana Carvalho dos Santos
normalmente no segundo semestre do ano Segundo-Tenente (RM2-T)
anterior a edição, e consiste basicamente no Editores-chefes
seguinte:

2 Periscópio
EDITORIAL

Prezado Leitor,

É com grande satisfação que divulgo a edi-


ção de nº 69 da revista “O Periscópio”, contemplan-
do além dos diversos artigos técnico-científicos,
mais um ano de atividades da nossa secular Força
de Submarinos. De antemão, expresso o grande
prazer de estar à frente deste renomado periódi-
co, que desde a sua 1ª edição, em 1962, abrilhanta
anualmente a nossa Força.
Nesta edição, em especial, convido nossos
leitores à uma viagem pelos mais diversificados
assuntos possíveis relacionados à Força de Subma-
rinos e espero que as experiências aqui relatadas
auxiliem em futuras decisões para os assuntos re-
lacionados às nossas Atividades Especiais.
Digitais como fruto dos novos equipamentos pro-
Com o anseio das novas demandas prove- venientes da MODSUB; o Curso de Comandante
nientes das classes de Submarinos S-BR e SN-BR, de Submarinos (CCOS 2016) realizado no Chile e,
este periódico é dirigido não somente aos mari- por fim, a participação da Marinha Brasileira no
nheiros até debaixo d’água, mas também, à recém “8th Annual Submarine and Submersible Opera-
embarcada atividade em nossa Força, os Psicólo- tion Summit”.
gos de Submarino, cuja função específica relacio-
na-se ao treinamento, apoio à seleção, estudos e Desde já, agradeço pelo empenho e a dedi-
pesquisas, prevenção de acidentes e acompanha- cação dos colaboradores deste periódico e à toda a
mento psicológico de submarinistas. minha tripulação do Comando da Força de Sub-
marinos, pelo comprometimento que permitiu
Atualmente, a revista divide-se em 4 partes que esta edição se tornasse uma realidade agradá-
distintas e de acordo com a natureza dos artigos vel e enriquecedora.
apresentados, sendo eles: Operativo, Ciência e
Tecnologia, Histórico e outros assuntos diversos Aproveito ainda para, convidar todos os in-
que relacionam-se direta ou indiretamente à For- teressados em nossas atividades a participarem da
ça. Destaco o relato do Incidente SAR SSE 004- próxima edição da revista “O Periscópio”, envian-
2017, onde, com êxito, foi realizada a flutuação do seus artigos técnicos, experiências vividas ou
da aeronave modelo KING AIR C90, onde se en- mesmo sugestões relacionadas à área de atividades
contrava o Ministro do Supremo Tribunal Federal especiais de Submarino, Mergulho, Mergulho de
Teori Zavaski. Temos ainda, os estudos acerca da Combate, Medicina Hiperbárica e Psicologia de
Renovação da Atmosfera de Submarinos quanto à Submarinos, ou seja, tudo que proporcione a evo-
geração de O2 e absorção de CO2; o emprego de lução profissional dos militares que aqui servem.
materiais absorvedores de micro-onda, em parti-
cular os materiais absorvedores de radar (RAM -
Muito obrigado e boa leitura.
Radar Absorbing Material) usados como técnica
de invisibilidade; o emprego de Cartas Náuticas Nosso orgulho mergulha fundo!
O Periscópio Ano LXIX - N° 69 - 2018 ISSN 1806-5643 - 2017

O PERISCÓPIO Alan Guimarães Azevedo REVISÃO


Revista anual da Força de Submarinos, Contra-Almirante Comandante da
editada pelo Centro de Instrução e Força de Submarinos Antonia Clécia Teixeira da Silva Reis
Adestramento Almirante Áttila Monteiro Primeiro-Tenente(RM2-T)
Ache (CIAMA)
Oscar Moreira da Silva Filho
CORRESPONDÊNCIA Contra-Almirante Comandante da COLABORAÇÃO
Centro de Instrução e Adestramento Força de Submarinos
Almirante Áttila Monteiro Ache - CIAMA 13/08/2015 a 17/04/2017 José de Andrade e Silva Neto
Ilha de Mocanguê Grande, s/n - Niterói Capitão de Mar e Guerra
RJ - CEP 20.040-400 Hélio Moreira Branco Júnior
Ciama.operiscopio@marinha.mil.br Capitão de Mar e Guerra Wladimir dos Santos Lourenço
Comandante do CIAMA Capitão de Fragata
VERSÃO ELETRÔNICA
http://www.ciama.mb/sites/default/files/
Humberto da Cunha Lima Renata da Rocha Pereira
periscopio/ano2017/index.html
http://www.mar.mil.br/Revistas_Navais/ Capitão de Mar e Guerra Capitão-Tenente
revistas.html Comandante do CIAMA
26/02/2016 a 26/01/2018 Thiago Andrade Costa
As opiniões e fatos descritos nos artigos Capitão-Tenente
são de inteira responsabilidade de seus COORDENAÇÃO
autores e podem não coincidir com a Carla Barboza Vieira
opinião dos editores desta revista e da Felipe Bittencourt Alves Capitão-Tenente(QC-IM)
Marinha do Brasil. Capitão de Corveta
Encarregado da Escola de Submarinos Gean Felipe Alves de Oliveira
Primeiro-Tenente(RM2-T)
Gustavo Condurú de Oliveira Malta
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA Capitão-Tenente Luis Fernando do Nascimento Vieira
Capa: Encarregado da Seção de Ensino Primeiro-Tenente(IM)
de Motores, Máquinas Auxiliares e
O Periscópio Ano LXIX - N° 69 - 2018
Instalações Elétricas Warley Fagundes dos Santos
Suboficial PL
Emilson João D. Gonçalves
Primeiro-Tenente(AA) Diego Santos Ferreira
Segundo-Sargento PL-SB
Adriana Carvalho dos Santos
Segundo-Tenente (RM2-T) Christian Ryhosin da Cunha
Editores-Chefes Nakandakare
Cabo DA

INCIDENTE SAR
SSE 004-20017
CURSO DE COMANDANTE
DE SUBMARINOS
"8TH ANNUAL
SUBMARINE AND Diagramação
M&W Comunicação Integrada Ltda
NUCLEARES NA FRANÇA SUBMERSIBLE
(COURCO/2017) OPERATION SUMMIT
(LONDRES) – 2017"

Impressão
Impressoart Editora Gráfica Ltda
SUMÁRIO

OPERATIVO
O emprego de cartas náuticas digitais na MB 07
A Utilização de Minissubmarinos nas Operações Especiais (OpEsp) 13
Sistema de Posicionamento Dinâmico 17
Curso de Comandante de Submarinos Nucleares na França “Courco/2017” 21
8º Annual Submarine and Submersible Operation Summit (Londres) – 2017 25
Incidente SAR SSE 004-2017 38
CIÊNCIA E TECNOLOGIA
Instituto de Pesquisa da Marinha, Pioneiro Nacional na Técnica da Invisibilidade 40
O futuro dos submarinos diesel-elétricos: o Japonês classe Soryu e as baterias de íon-lítio 44
A Influência da Hidroacústica no Projeto de Propulsores de Submarinos 48
Renovação da Atmosfera de Submarinos 54
Submarino Nuclear: um salto tecnológico da MB para garantir a soberania Nacional 60
HISTÓRICO
Do “TYPE XXI” ao “IKL-206” – A origem do “IKL-209” 73
Modernização de submarinos em proveito do desenvolvimento tecnológico e científico 79
Breve história da campanha dos U-BOATS no atlântico, durante a 1ª grande guerra 83
ARTIGOS DIVERSOS
Aula Inaugural do Cameco e C-ESP-MEC 2016 93
PROSUB: defesa e soberania 99
Documentos de defesa e a força de Submarinos 103
Psicologia de Submarino: da prevenção á atuação pós-acidente, um percurso teórico 107
PERISCOPADAS
Comemoração do 103º aniversário de criação da força de submarinos 113

Periscópio 5
O EMPREGO DE CARTAS NÁUTICAS
DIGITAIS NA MB

Capitão-Tenente Harlisson Fabrício de Assis Pereira

Com o passar dos anos, diversos (“bacalhaus”) ou sua total substituição por
equipamentos de auxílio à navegação foram uma mais atual. No Brasil, a produção dessas
desenvolvidos com a finalidade de prestar maior cartas é de responsabilidade da Diretoria de
segurança aos meios marítimos, sobretudo Hidrografia e Navegação (DHN).
aqueles que empregam Cartas Náuticas
Digitais. De acordo com os requisitos de 2 CARTAS NÁUTICAS OFICIAIS
dotação de equipamentos e sistemas de bordo, DIGITAIS
estabelecidos na Regra 19 do Capítulo V da
Convenção Internacional para Salvaguarda Dependendo do formato utilizado podem
da Vida Humana no Mar (SOLAS, 1974), as ser dos tipos apresentados a seguir.
cartas náuticas eletrônicas são apoiadas por
modernos sistemas eletrônicos de exibição 2.1 Carta Náutica Eletrônica ou Eletronic
e sua presença garante ao navegante uma Navigational Chart (ENC)
redundância de informações de grande É o arquivo vetorial que apresenta
importância no que tange à segurança no informações cartográficas náuticas a partir
mar. As definições e os conceitos sobre Cartas de um banco de dados, produzida por um
Náuticas Oficiais, Digitais e seus Sistemas Estado, ou por um serviço Hidrográfico por
serão apresentados a seguir. ele autorizado, de acordo com os padrões da
OHI, com dados criptografados, para garantir
1 CARTAS NÁUTICAS OFICIAIS sua incorruptibilidade; e

São as cartas impressas em papel, 2.2 Carta Náutica Raster ou Raster Naviga-
produzidas por um Estado, ou por um serviço tional Chart (RNC)
hidrográfico por ele autorizado, de acordo É a imagem digitalizada georreferenciada
com os padrões internacionais estabelecidos de uma carta náutica em papel. Em outras
pela Organização Hidrográfica Internacional palavras, são imagens formadas por uma
(OHI). Sua atualização se dá por meio de matriz de pontos (bitmap), onde cada pixel
Avisos aos Navegantes, envolvendo corte é associado a uma posição geográfica, nos
e colagem de trechos a serem alterados mesmos padrões de aceitação das ENC.

Periscópio 7
OPERATIVO

Atualmente, o desenvolvimento da base navegação mais precisa, o que é de grande


de dados cartográficos no Brasil se dá através importância em Submarinos por ocasião da
do Centro de Hidrografia da Marinha realização de suas Tarefas Operativas.
(CHM), que após a obtenção do certificado Tal sistema possui diversas possibilidades
ISO 9001/2008, possibilitou a produção de de emprego, que vão desde a criação de Áreas
ENC nacionais, sendo então distribuídas Móveis de Exercício (AMX), criação de Pool
pela Base de Hidrografia da Marinha em de Erros (método utilizado em Submarinos
Niterói (BHMN), para utilização nos sistemas de forma a gerar uma área de incerteza da
eletrônicos de exibição. sua posição), até uma forma secundária de
obtenção de soluções para contatos, através
3 SISTEMAS ELETRÔNICOS DE EXI- de Análises de Movimento do Alvo de forma
BIÇÃO simples e rápida.
A navegação através do ECPINS-W Sub
São os seguintes tipos de sistemas pode ser realizada tanto em ENC ou RNC.
empregados para navegação marítima e fluvial. Contudo, por serem as ENC organizadas em
camadas e apresentar elementos de forma
3.1 Sistema Eletrônico de Exibição de personalizada ou automática, permitem uma
Cartas Náuticas ou Eletronic Chart Display maior interação com o navio. Além disso,
and Information (ECDIS) por serem baseadas em bancos de dados, sua
É um sistema utilizado para integrar as capacidade de incorporar informações de
informações necessárias à navegação, onde diversas fontes é ilimitada, diferentemente
armazena em seu banco de dados as ENC, das RNC que não apresentam tantos recursos
suas atualizações e outras informações; e devido ao seu formato.
Devido as ENC estrangeiras serem de
3.2 Sistema de Cartas Eletrônicas ou exclusividade dos Centros de Coordenação
Eletronic Chart System (ECS) Regional, como o International Centre for
É um sistema mais genérico que não ENC (IC-ENC), operado pelo Serviço
cumpre as especificações pela IMO, porém Hidrográfico do Reino Unido e, PRIMAR,
ajuda a acompanhar a trajetória da embarcação, operado pelo Sistema Hidrográfico Norueguês,
auxiliando assim sua navegação. sua aquisição se dá por meio de empresas
Por intermédio das modernizações autorizadas, como a OCEANTRACK,
ocorridas nos Submarinos da Classe TUPI localizada no Brasil. Em contrapartida, as
e TIKUNA, passou-se a empregar o modelo ENC nacionais são disponibilizadas de forma
ECPINS-W Sub (Eletronic Chart Precise gratuita para os Navios da MB.
Integrated Navigation System), sendo outro Em janeiro de 2017, o Submarino Tupi, ao
modelo de ECDIS, também, aprovado pela realizar a operação ASPIRANTEX 2017, que
IMO e fabricada pela empresa OSI Maritime teve dentre seus portos visitados a cidade de
Systems Ltd, que, devido à sua capacidade de Mar Del Plata, no centro-leste da Argentina,
integrar os principais dados provenientes realizou a aquisição de três cartas vetoriais
de outros sensores, permite realizar uma que contemplavam a área marítima de acesso

8 Periscópio
e atracação no porto, a fim de prover uma de auxílio à decisão, já que tal porto apresenta
maior segurança à sua navegação. A aquisição inúmeros bancos de areia, que mesmo sendo
desse recurso de navegação, em conjunto com constantemente dragados, oferecem um risco
o Sistema de Exibição ECPINS-W Sub, considerável aos seus visitantes.
propiciou ao Comandante mais um elemento

Figura 1 - Sistema de Exibição ECPINS.

Periscópio 9
OPERATIVO

Figura 2 - Sistema de Exibição ECPINS-W Sub.

Figura 3 - Carta Náutica Eletrônica.


10 Periscópio
4 CONCLUSÃO O Sistema de apresentação ECPINS-W
Sub permitiu ao Submarino Tupi, por ocasião
Apesar de as ENC não estarem autorizadas de sua navegação em águas internacionais
a substituir ou dispensar a única base oficial (Aspirantex 2017), estar dotado do estado
de navegação na MB, a carta em papel, da arte, não somente em recursos de auxílio
empregadas pelos navios e embarcações, à navegação, mas também de compilação de
o emprego de cartas vetoriais garante ao quadro tático de navios operando com AIS
navegante uma ótima ferramenta para que, (Automatic Identification System), contribuindo
em conjunto com a doutrina em vigor, resulte para o cumprimento, com sucesso, da missão
numa navegação eficaz e mais segura às vidas recebida.
humanas que a empregam.

ANUNCIO_MELHOR_11.pdf 1 01/08/2017 10:21:27

A Amazul – Amazônia Azul Tecnologias de Defesa S.A. promove, desenvolve,


transfere e mantém tecnologias sensíveis às atividades do Programa Nuclear da Marinha,
do Programa de Desenvolvimento de Submarinos e do Programa Nuclear Brasileiro.
A empresa participa de projetos importantes, como o do Reator Multipropósito
Brasileiro (RMB), voltado à pesquisa e à produção de radioisótopos para a fabricação de
fármacos usados no diagnóstico e tratamento de doenças como câncer.
Outro projeto estratégico da Amazul é a gestão de conhecimento na área nuclear.

Tecnologia nacional em benefício da sociedade

www.amazul.gov.br

Periscópio 11
OPERATIVO

12 Periscópio
A UTILIZAÇÃO DE MINISSUBMARINOS NAS
OPERAÇÕES ESPECIAIS (OPESP)

Capitão-Tenente Felipe Fonseca Mesquita Spranger

navio-tanque britânicos, no total de 80 mil


toneladas. A história é famosa entre as OpEsp
e analisada em detalhes no livro Spec Ops
(Operações Especiais, em tradução livre), do
Almirante estadunidense William McRaven.

2 PLATAFORMAS MARÍTIMAS

As plataformas de apoio às Operações


Especiais (OpEsp) ganharam uma importância
Figura 1 - Utilização de DIVER significativa nos últimos anos decorrente da
PROPULSION DEVICE (DPD) necessidade de proteção das riquezas e dos
recursos naturais, do combate ao narcotráfico,
1 BREVE HISTÓRICO da pirataria, de assaltos à mão armada contra
navios no mar territorial e bacias hidrográficas.
Em dezembro de 1941, em plena 2ª A variedade de meios vai desde lanchas rápidas
Guerra Mundial, seis mergulhadores de de pequeno porte e navios de combate litorâneo
combate da Marinha italiana, equipados multi-emprego a casulos acoplados a submarinos
com garrafa de ar comprimido que tinham para o lançamento de mergulhadores (DDS
autonomia de até 6 horas debaixo da água, - Dry Deck Shelters) e veículos submarinos
saíram de um submarino próximo do porto de transporte de mergulhadores de combate
de Alexandria (Alexandria, Egito) e entraram (SDV- Swimmer Delivery Vehicles ou DPD –
em minissubmarinos adaptados de torpedos. Diver Propulsion Device).
A pequena embarcação de 1,5 tonelada e 6,7 No Grupamento de Mergulhadores
metros tinha velocidade de 2 nós (3,7 km/h) de Combate (GRUMEC), as principais
e comportava dois militares, sentados, um à plataformas são seus botes infláveis de combate
frente do outro. tipo Zodiac, as Hurricanes, os caiaques
Eles penetraram no porto sem serem Klepper e os DPD.
detectados e plantaram explosivos que Os DDS e os SDV são recursos utilizados
neutralizaram dois navios de guerra e um pelos SEAL norte-americanos desde a década de

Periscópio 13
OPERATIVO

80. Cinco submarinos nucleares de ataque (SNA) km/h), contam com carta eletrônica, navegação
da classe Los Angeles, classe SeaWolf e outros submersa, agulha magnética (bússola),
da classe Virgínia possuem adaptações no seu profundímetro, computador de bordo, entre
convés, à ré de sua vela e, sofreram modificações outras ferramentas de tecnologia. A Bateria
nas suas redes de ar comprimido, possibilitando de íon-lítio proporciona um desempenho
o acoplamento do dispositivo conhecido por sem precedentes, com mais de 2,5 horas de
DDS que nada mais é que um casulo resistente autonomia a velocidades superiores a 3 nós,
que, após a entrada dos mergulhadores, é alagado proporcionando até 6 milhas náuticas de
e permite o lançamento enquanto o submarino alcance. O DPD permite que mergulhadores
permanece submerso, sem a necessidade de de combate, com equipamentos, movam-
exposição do mesmo na superfície, aumentando se por longas distâncias tanto na superfície
a discrição. Dependendo da missão, o DDS pode ou submersos, minimizando a fadiga e
ser utilizado para lançar as equipes com seus aumentando o tempo disponível no objetivo.
equipamentos individuais, botes infláveis ou SDV. Além deste modelo da Stidd Systems, o
Os SDV, que são pequenos submersíveis GRUMEC também já testou e operou outro
pilotáveis, são utilizados por elementos de DPD, o Blackshadow 730, da alemã Rotinor e
OpEsp para o deslocamento até um ponto com o design assinado pela BMW. A Rotinor
próximo ao objetivo como, por exemplo, atua neste mercado desde 2009 e já vendeu o
uma plataforma de petróleo ou mesmo uma equipamento, que custa US$ 95 mil a unidade,
área próxima à costa, onde os mergulhadores para as Forças Armadas da China, do Japão, da
saem do veículo e realizam suas infiltrações Itália e da Espanha.
mergulhados. O equipamento alemão é capaz de
Quase nenhuma outra fase de uma OpEsp transportar quatro mergulhadores, tem
possui mais riscos que a inserção/infiltração. Nela, mecanismos modernos e mapas de navegação
ocorre a colocação de pequenos contingentes de avançados. O motor de oito cavalos de potência
militares e equipamentos nas proximidades de permite que se mova mais rapidamente que o
objetivos de valor estratégico onde há a presença modelo estadunidense.
de uma oposição inimiga em superioridade
numérica. Somente a extração de uma equipe,
sob fogo inimigo, pode ser mais arriscada, e a
plataforma utilizada nesta última, normalmente,
é a mesma da inserção/infiltração.

3 DIVER PROPULSION DEVICE (DPD)

O GRUMEC está capacitado a fazer


esse tipo de operação especial e possui os
modernos minissubmarinos americanos da Figura 2 - Militares do GRUMEC
Stidd Systems. utilizando um DPD durante intercâmbio
Os equipamentos navegam a 3,2 nós (6 com o SEAL Team 2.

14 Periscópio
Figura 3 - DPD Blackshadow 730.

4 SWIMMERS DELIVERY VEHICLE (SDV)

SDV é um submersível tripulado ‘‘molhado’’,


usado principalmente para missões secretas
ou clandestinas em áreas de acesso negado,
dominadas por forças hostis e empregado para
missões de operações especiais.
O SDV é inundado e os mergulhadores
ficam expostos à água, respirando o ar
comprimido de abastecimento do veículo ou
usando seu próprio equipamento de mergulho.
Sua bateria de íon-lítio, sendo equipado
com propulsão, navegação, comunicação e
equipamentos de suporte à vida.
Capacidades e características do SDV:
- transportar secretamente uma seção de
seis mergulhadores de combate, com um raio
operacional de 40 MN, a uma profundidade
operacional de 6 a 10 metros, velocidade de
cruzeiro de 5 nós e velocidade máxima de 7 nós;
- 8m de comprimento máximo;
- 300 kg de carga útil de equipamentos
adicionais;
- profundidade máxima de operação 30 m
(trânsito) e 100 m (não tripulados);
- navegação com agulha magnética e GPS,
odômetro, sensores de indicação de nível da
bateria e nível de indicação de ar, sistema que
informa a temperatura da água de 10ºC a
32°C, sistema de navegação “Doppler”, sonar
de prevenção de colisão, comunicação interna, Figura 4 - Interior alagado de um DDS
VHF e luzes indicadoras.

Periscópio 15
OPERATIVO

do Grupamento com relação a este método


de infiltração. É sobremodo imperativo que
o GRUMEC, por meio de intercâmbios,
possa se manter atualizado e capacitado para
utilizar novos equipamentos no estado da arte
e aperfeiçoar sempre os métodos de operação,
valendo-se dos equipamentos mais modernos
na atualidade. O GRUMEC deve buscar no
mercado ou ainda, criar normas padrão de
operações para que os DPD também possam
Figura 5 - SDV sendo lançado de um ser transportados e lançados por aeronaves,
submarino classe Los Angeles (momento lanchas rápidas ou navios de superfície.
anterior ao lançamento, ainda no interior do
submarino). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS  

Advanced SEAL Delivery System. In  :


WIKIPEDIA Encyclopedia. Disponível em:
<https://en.wikipedia.org/wiki/Advanced_
SEAL_Delivery_System>. Acesso em  : 18
fev.2017.

Blackshadow DPD. Disponível em: http://


Figura 6 - SDV sendo lançado de um www.rotinor.com/blackshadow-730/further-
submarino classe Los Angeles (momento -information. Acesso em 18 fev.2017.
após ao lançamento).
Blackshadow DPD. Disponível em: http://
5 CONCLUSÃO www.landauuk.com/products/latest-pro-
ducts/rotinor-black-shadow-730/. Acesso em
Os DPD são excelentes plataformas de apoio 18 fev.2017.
às operações do GRUMEC, atuando como
grandiosos defensores da Amazônia Azul. Stidd System DPD. Disponível em: https://
Com o avanço da tecnologia e suas inovações, stiddmil.com/diver-propulsion-device-dpd/.
torna-se importante o aprimoramento interno Acesso em 18 fev.2017.

16 Periscópio
SISTEMA DE POSICIONAMENTO DINÂMICO

Segundo-Tenente Marco Vinícius Alves Gobatti

1 RESUMO modelo matemático, que tem como variáveis


os sensores de referência de posição (DGPS
O artigo tem como propósito descrever, de e GPS), sensores de vento (Anemômetros),
maneira sucinta, o funcionamento do Sistema sensores de movimento e giroscópios, é o
de Posicionamento Dinâmico, mostrar responsável pelas correções de posição e
algumas atividades que dependem do sistema e interface com o operador. O sistema é capaz
listar algumas conclusões acerca das vantagens de conhecer a posição do navio, bem como a
e desvantagens do mesmo. magnitude e direção das forças ambientais que
afetam sua posição e, com isso, calcular como
2 INTRODUÇÃO os propulsores, thrusters e leme deverão atuar
para manter a posição do navio.
O Sistema de Posicionamento Dinâmico
controla, automaticamente, a posição do
navio e o “aproamento” de uma embarcação,
seu desenvolvimento foi impulsionado pelas
grandes empresas de exploração de petróleo
em águas profundas na década de 60. Embora
esse sistema tenha sido criado para plataformas
de perfuração, outras áreas se desenvolveram
com a criação desse sistema.

3 FUNCIONAMENTO DO POSICIO-
NAMENTO DINÂMICO Figura 1 - Distribuição de forças em um
navio com SPD
Como citado acima, o Sistema de
Posicionamento Dinâmico (SPD) é um O SDP pode ser absoluto, onde é utilizado
sistema que controla, automaticamente, um ponto fixo como referência, a exemplo
a posição e a proa de uma embarcação, se da posição DGPS, ou pode ser relativo, onde
utilizando de propulsores, thrusters e leme. se utiliza como referência outro objeto em
Um computador central, utilizando um movimento, por exemplo, outro navio.

Periscópio 17
OPERATIVO

3.1 INTERFACES COM O OPERADOR variação de posição e de proa do navio. Caso


sejam ultrapassados esses limites o sistema
Abaixo, as figuras 2 e 3 mostram dois alarma, fornecendo uma maior segurança na
exemplos de interface. Podemos observar que utilização do SDP.
o sistema apresenta ao Operador todas as Essas informações são de grande relevância
variáveis recebidas, a posição GPS e DGPS, porque fazem com que, quem esteja operando
o vento, a corrente, qual a velocidade (lateral e com o SDP, tenha uma real noção do que
frontal) do navio naquele instante e se o sistema está acontecendo com o navio e como as
está conseguindo receber essas informações forças ambientais estão afetando o seu
ou não. O Operador também tem o controle posicionamento. De posse dessas informações,
de qual a porcentagem dos propulsores, dos o Operador poderá escolher realizar ou não
thrusters e o ângulo de leme que o sistema está algum trabalho marinheiro, ou até mesmo
usando. É possível selecionar os limites de interromper algum que já esteja ocorrendo.


Figura 2 - Tela de apresentação do SPD.

18 Periscópio
Figura 3 - Tela de apresentação do SPD.

4 ATIVIDADES DESEMPENHADAS 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS


POR NAVIOS EQUIPADOS COM
POSICIONAMENTO DINÂMICO O SDP traz uma grande versatilidade,
operacionalidade e segurança para as fainas
As principais atividades exercidas por marinheiras, a capacidade de manter o navio
navios que possuem o SDP são: SARSUB, flutuando na vizinhança de um ponto de
Suporte nas Operações de Mergulho, Suporte referência foi uma grande evolução para os off-
nas Operações com Veículos Remotamente shore, principalmente da indústria de petróleo.
operados, Suprimento de Plataforma, Apesar de todas as vantagens do SDP, ele
Manuseio de Âncoras, Perfuração e Produção possui algumas desvantagens: alto consumo de
de Petróleo. combustível e custo relativamente alto.

Periscópio 19
OPERATIVO

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Sistema de Posicionamento Dinâmico, <ht-


tps://pt.wikipedia.org/wiki/Sistema_de_po-
MARQUES, Felipe. Entenda de maneira sicionamento_din%C3%A2mico>. Acessado
simples como funciona um Sistema de Posi- em: 02/06/2017.
cionamento Dinâmico.<https://www.portal-
maritimo.com/2017/02/17/entenda-de-ma- Sistema de Posicionamento Dinâmico,<ht-
neira-simples-como-funciona-um-sistema- tp://www.bst-tsb.gc.ca/eng/rapports-reports/
-de-posicionamento-dinamico/>, Acessado marine/2011/m11n0047/m11n0047.asp>,
em : 02/06/2017. Acessado em: 02/06/2017.

Sistema de Posicionamento Dinâmico,<ht- TANNURI, Eduardo. Sistema de Posiciona-


tps://en.wikipedia.org/wiki/Dynamic_posi- mento Dinâmico: Projeto, Análise e Novos
tioning>, Acessado em: 02/06/2017. Desenvolvimentos. São Paulo, 2009.

20 Periscópio
CURSO DE COMANDANTE DE SUBMARINOS
NUCLEARES NA FRANÇA
“COURCO/2017”

Capitão de Fragata Fernando De Luca Marques de Oliveira

Após uma abstinência de 10 anos, desde o fundamental da plataforma; e


último Curso de Comandantes de Submarinos - Uma preparação de três semanas na
(CCOS-Chile/2007), fui apresentado, Esquadrilha de Submarinos Nucleares de
tempestivamente, a um novo desafio. Um Ataque (ESNA), em Toulon, onde tive a
curso de comandantes inédito para um Oficial oportunidade de embarcar no SNA RUBIS,
“não-OTAN”, cuja “Escola Doutrinária” era me familiarizar com o idioma e a fraseologia
desconhecida, dentro de uma plataforma associada, e de realizar alguns adestramentos
nuclear de ataque, a ser realizado no idioma nos simuladores franceses.
francês e cujo índice reprobatório é de 20% Durante o curso, um ponto me chamou
(probabilidade que acabou se confirmando). a atenção. Como cada SNA possui duas
Toda essa atmosfera de incerteza duelava tripulações (ROUGE e BLUE), percebi que
com o fato de eu já ter sido nomeado o futuro cada Comandante guarda identidade com a
Comandante do Submarino Tupi e que, um sua tripulação, e não com o navio. Explico:
malogro no curso, poderia ter consequências Pareceu-me que o sentimento comum era
indesejáveis. de que os SNA pertenciam a ESNA e as
A preparação para o “Cours Commandement tripulações a seus Comandantes.
de Sous-Marins Nucleaires d’Attaque” No dia 22 de maio deu-se início ao
(COURCO) foi dividida em duas fases, a saber: COURCO.
- Uma preparação de duas semanas em A partir de então, cinco oficiais franceses
sala de aula/Treinador de Ataque (TA) do e eu, cuja média de idade era de 10 anos
CIAMA, onde destaco os fundamentais inferior à minha, seríamos colocados à prova
empenhos do CC Câmara, que havia realizado em termos de atitude, agressividade e postura,
o que seria o CASO francês, e do 1ºSG diante de cenários táticos complexos e meios
(MNF) Sébastien Bugli que, com especial navais no Estado da Arte. O COURCO se
dedicação, procuraram reproduzir no TA, dividiu em duas fases:
um Compartimento de Comando de um 1ª fase – em terra. Onde foram utilizados
Submarino Nuclear de Ataque (SNA) francês, os simuladores (Plataformes Saturne), a fim de
bem como me iniciaram no conhecimento realizar os seguintes adestramentos:

Periscópio 21
OPERATIVO

• Retorno à cota periscópica (CP) da impressionou a capacidade de trabalho


maneira mais expedita possível, em e de gerenciamento de informações no
face de uma situação “taticamente Compartimento de Comando dos SNA,
carregada”, com o intuito de verificar que tive a oportunidade de tripular (RUBIS,
se o Oficial-Aluno (OA) gerenciaria os EMERAUD e SAPHIR). A sinergia e o
elementos fundamentais relacionados comprometimento das equipes nas associações
com a segurança desse procedimento; lógicas, em termos de acústica submarina e na
• Engajamento de uma Força Tarefa solução de problemas de tiro, são ininterruptas
à CP, a fim de verificar como o OA e variam desde um simples retorno à CP, até
organiza o trinômio segurança X o engajamento de uma Força-Tarefa em um
agressividade X discrição, na presença ambiente tático de alta complexidade.
de unidades aéreas e de superfície de Na verdade, um submarino Convencional
alto valor militar; e (SSK) realiza as mesmas tarefas que um SNA! O
• Estudos de caso relacionados com diferencial está na diversidade e na discrição com
acidentes, incidentes e o emprego de que um SNA pode realizar essas mesmas tarefas.
submarinos. Como por exemplo, a utilização de ferramentas
de baixa frequência sonar (LOFAR) associada a
2ª fase – no mar. Dividida em DUAS uma mobilidade que pode atingir 22 nós, eleva
etapas: o nível da guerra submarina, possibilitando a
1ª etapa – Tarefas Principais (Lutte solução e o engajamento inimigo a distâncias
Anti-Sous-Marine(LASM) e Lutte Anti- superiores a 50Kyds.
Navire(LAN)): durante duas semanas, ao Com o incremento do intercâmbio entre
largo da costa atlântica de Brest, foram as Marinhas Francesa e Inglesa, a Marinha
realizados exercícios do tipo CASEX, a bordo Nacional da França (MNF) agregou,
do SNA EMERAUD, com a oposição de formalmente, a partir de 2016, à sua doutrina,
uma Fragata do tipo FREMM, uma Fragata as técnicas “EYES ONLY”. Contudo, sua
tipo F70, um SNA (SNA SAPHIR), uma utilização ainda é pouco difundida, e sua
aeronave de patrulha marítima (MPA) tipo versão é adaptada à realidade francesa, onde
ATLANTIQUE e helicópteros do tipo NH- se privilegia a segurança em detrimento da
90 e LYNX; e indiscrição.
2ª etapa – Tarefas Secundárias (OPSCOT): Suspendemos de BREST na manhã de 9 de
durante uma semana a bordo do SNA junho, numa sexta-feira fria e chuvosa, a bordo
SAPHIR, ao largo de toda a extensão oeste do SNA EMERAUD, para a realização de uma
da costa Corsa, foram conduzidas operações série de CASEX SIERRA. A primeira fase
de vigilância, reconhecimento, fotografia e constou de exercícios clássicos do tipo SUB X
lançamento de agentes, com a oposição de SUB com uma “fase de crise” onde o objetivo
Fragatas do tipo F70 e FDA, helicópteros, era o acompanhamento e a vigilância acústica
MPA e radares de vigilância de terra da Legião entre os SNA SAPHIR e SNA EMERAUD,
Estrangeira. passando para uma “fase de guerra”, onde
Durante o COURCO, muito me eram autorizados engajamentos com torpedos

22 Periscópio
de exercício F17. Nessa fase foram lançados de valor militar extremamente performantes,
dois torpedos F17 de exercício. Após, ainda em termos de material e aprestamento
dentro dos CASEX do tipo SIERRA, das equipes de COC. Com a oposição de
realizamos exercícios de acompanhamento campos de sonoboias, a presença constante
coordenado de um SNA inimigo (SNA das MPA, “DIPs” de helicópteros “saltadores”
SAPHIR) com o auxílio de uma aeronave MPA e coberturas AS patrocinadas pelo sonar
ATLANTIQUE, sem lançamento de armas. CAPTAS 40 (FREMM) de alto desempenho,
Esses CASEX (S6/S7) duraram 5 dias. Foi foram momentos operativamente ricos e que
uma empolgante experiência operativa poder culminaram com o lançamento de 3 torpedos
operar coordenado com uma MPA, além de F17 de exercício.
permanecer, por dias, acompanhado por um De volta a Toulon, embarcamos no
submarino nuclear de ataque, como se dentro de SNA SAPHIR para a derradeira e mais
um cenário cinematográfico da “Guerra Fria”! demandante semana de minha vida operativa
Após 120 horas ininterruptas de SUB X SUB, como submarinista! Ao largo da costa
fomos introduzidos à guerra Antissuperfície. Corsa, realizamos 139 horas de Operações
Momento em que se apresentaram para Secundárias entre lançamento de agentes e
o serviço uma Fragata do tipo FREMM, Operações de Reconhecimento e Vigilância
uma Fragata do tipo F70 e uma Unidade de sob a onipresença de Fragatas FREMM e
Alto Valor (HVU). Fizemos uma manhã de F70. Onde pudemos aplicar toda a experiência
exercícios de segurança do tipo GODEX e vivida até ali, nos aproximando, na CP, a 3000
partimos para a “Luta Anti-Navio” (LAN). metros de costa e, por vezes, a 1000 metros de
Foram 198 horas de embate contra unidades um agressivo escolta.

Figura 1 - Fragatas FREMM.

Após 318 horas de Tarefas Principais e 5,5 dias de Tarefas Secundárias na Costa
traduzidos em CASEX do tipo S6, S7, A6, Corsa, chegou ao fim o COURCO 2017. E,
A7, E4 e C4, face a cenários táticos complexos felizmente, de maneira exitosa.
e uma FT de performante valor militar, cinco Sem a tentativa de mistificar, ou
lançamentos de torpedos de exercício (F17) mesmo supervalorizar, foram dias intensos,

Periscópio 23
OPERATIVO

demandantes e cansativos, mas que se de ser o primeiro Oficial Brasileiro a realizar


revelaram em uma bela experiência, com a um Curso de Comandantes a bordo de um
leveza da sensação do dever cumprido. Submarino Nuclear de Ataque. Un Gross
Atitude combativa, dedicação, seriedade Remercie!
e comprometimento são alguns dos
muitos atributos que eu vivenciei junto “CF DE LUCA, OFFICIER-STAGIAIRE
ao COURCO/2017. Acima de tudo, me EN CHARGE, JE PRENDS LA
considero um privilegiado por ter tido a honra MANOEUVRE!”

Figura 2 - Convés do Submarino Emeraud.

24 Periscópio
8º Annual Submarine and Submersible
Operation Summit
(LONDRES) – 2017

Capitão de Corveta Eduardo Fagundes Costa

1 O CONGRESSO única Organização Patrocinadora a, então,


empresa DCNS, hoje Naval Group. Em virtude
O evento nº 198-I do Programa de de uma alteração da agenda divulgada no site
Conclaves Não Governamentais no Exterior oficial do evento, o congresso foi reduzido para
para 2017 (PCNGE-2017) - 8th Annual apenas dois dias (26 e 27 de abril de 2017) e os
Submarine and Submersible Operation Summit, workshops programados para o dia 25 de abril
foi realizado em duas salas de conferência do foram transferidos para o dia 27, logo após as
Novotel West London (Figura 1) e teve como apresentações (Figuras 2 e 3).

Figura 1 - Local de realização do evento.

Periscópio 25
OPERATIVO

O propósito da representação foi Armadas da China;


participar somente como observador e coletar - Os investimentos tecnológicos que estão
informações relativas às principais atividades, em desenvolvimento pelos Governos e as
capacidades e aquisições das Marinhas de indústrias atuantes na área de Defesa, para
outros países, no que diz respeito às Operações que sejam mantidas as vantagens estratégicas e
de Submarinos, a fim de contribuir para o táticas do emprego de submarinos dentro deste
aperfeiçoamento de cursos e da doutrina cenário, como também as novas possibilidades
adotada pela Marinha do Brasil (MB) e para a que estes investimentos poderão trazer para os
decisão de futuros contratos e compromissos. submarinos e o futuro da guerra abaixo d’água;
Participaram do congresso, representantes e
militares e governamentais da Alemanha, - A forma ostensiva com que eles
Bélgica, Reino Unido, Noruega, Estados consideram a Rússia, tratando este país como
Unidos, Espanha, França, Grécia, Malásia uma ameaça aos componentes da Organização
e Brasil. Também se fizeram presentes, do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), além
as seguintes entidades: NATO Centre of da pressão direta dos seus membros europeus
Excellence for Confined/Shallow Waters, sobre os Almirantes da US Navy presentes
Combined Joint Operations from the Sea Centre no congresso, exigindo a necessidade de uma
of Excellence, European Unmanned Maritime maior interação e o aumento das operações
Systems, International Institute for Strategic navais combinadas no Atlântico Norte.
Studies e NATO Maritime Research Centre Ainda no primeiro dia, ocorreu a
e, as empresas: DSO National Laboratories, apresentação do CMG Razib (Royal Malasian
SYSTEMGIE, DCNS, IHS Janes, Calzoni, Navy - RMN), onde foi feita uma breve
Thales Underwater Systems, Lockheed Martin, explanação sobre a experiência obtida na
ThyssenKrupp Marine Systems, MacTaggart aquisição de dois submarinos Scorpène e na
Scott, Elettronica, Zoll, EGUERMIN e TNO. criação da primeira Força de Submarinos
de seu país, há cerca de 10 anos. Após as
2 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS apresentações, pude conversar com o CMG
Razib e obter informações mais detalhadas
O congresso foi bem definido quanto ao desse processo de aquisição, haja vista que são
tema principal abordado em cada um dos seus submarinos semelhantes aos que a MB está
dois dias, nos quais se destacaram os seguintes adquirindo em parceria com o Governo da
aspectos: França. O detalhamento dos principais pontos
No primeiro dia, foram salientadas e desta conversa será abordado mais adiante.
discutidas as dificuldades enfrentadas e a No segundo dia, todas as apresentações
necessidade de aprestamento das Forças tiveram como tema principal os Unmanned
Navais atuantes no Atlântico Norte mediante Maritime Vehicles (UMV). Dentre os assuntos
as “novas” e antigas ameaças, principalmente abordados, pode-se ressaltar:
na guerra abaixo d’água. Deste modo, foram - As novas tecnologias em desenvolvimento
ressaltados os pontos a seguir: e as formas que estas plataformas não tripuladas
- O ressurgimento da Rússia no cenário poderão ser empregadas na Guerra Naval,
bélico e o investimento maciço das Forças para melhorar as capacidades dos navios e dos

26 Periscópio
submarinos; os avanços na área da robótica, através de
- O desenvolvimento de protótipos para projetos de robôs com inteligência artificial
serem utilizados abaixo da água (Unmanned para serem utilizados como mergulhadores; e o
Underwater Vehicles - UUV) e que poderão, desenvolvimento de simuladores com realidade
dentre outros aspectos, aumentar as aumentada, tornando os adestramentos muito
capacidades de Intelligence, Surveillance and próximos da realidade a bordo do submarino.
Reconnaissance (ISR); e Em seguida, comentou sobre os
- A “mesa redonda” a respeito do futuro dos desafios e as dificuldades de integração de todas
UMV nas Marinhas, onde foram levantadas essas inovações em uma única plataforma.
algumas questões, dentre elas, se esses veículos Deste modo, a US Navy, em virtude de ainda
serão capazes de substituir as plataformas não haver ameaças que contraponham os
tripuladas ou se apenas serão uma extensão submarinos da classe Viginia e que, assim,
delas. Também foram apresentados, para justifiquem o projeto de uma nova classe de
reflexão de todos, os aspectos jurídicos advindos submarinos, decidiu adotar a implementação
desta nova tecnologia, pois as regras de em blocos, ou seja, cada bloco contempla um
segurança marítima internacional, regidas pela determinado tipo de inovação e que atende a
International Maritime Organization (IMO), um propósito específico. Com isso, é possível
não legislam sobre este tipo de plataforma e realizar alterações pontuais em cada submarino
também não abordam as implicações jurídicas da classe para que eles possam realizar um
no caso de um acidente envolvendo este tipo tipo de tarefa peculiar a essa modificação. O
de veículo. bloco cinco, dado como exemplo, prevê uma
modificação nos submarinos classe Virginia
3 CONHECIMENTOS OBTIDOS para que eles possam realizar o lançamento e
controle de UUV, permitindo o incremento
3.1 Objetivos e avanços tecnológicos nas ações de ISR.
Finalmente, destacou a forma como
O Contra Almirante Moises Del Toro estas inovações vêm ocorrendo atualmente,
III, Comandante Adjunto para a Guerra pois, antigamente, as tecnologias surgiam
Submarina (US Navy), apresentou algumas das para atender demandas militares e, somente
principais tecnologias em desenvolvimento, depois, eram expandidas para o uso comercial.
aplicadas a submarinos, dentre as quais, Contudo, presentemente observa-se a inversão
destaca-se o uso maciço de sensores submarinos desta ordem, em que tecnologias já aplicadas
passivos e ativos, de baixa frequência, para o no meio civil são adaptadas e utilizadas
incremento das ações de ISR; as dificuldades na indústria de defesa (como exemplo, foi
em se manter as comunicações com esses noticiado o uso de PlayStation portáteis para
sensores, principalmente a longas distâncias, o treinamento de militares da Royal Navy).
que levou ao estudo para o desenvolvimento Desta forma, ressaltou a importância da
de comunicações submarinas através de constante proximidade entre a Marinha e a
ondas espirais; o estudo de materiais para indústria nacional, para que esta possa saber
construção de cascos com tecnologia stealth os anseios e necessidades da Força Naval e,
para se contrapor a evolução destes sensores; assim, desenvolver projetos e tecnologias que

Periscópio 27
OPERATIVO

lhes atendam, mutuamente. realizou uma apresentação mostrando as


atividades em que seu comando e meios
Complementando este tema, em outra subordinados estão envolvidos e as atuais
apresentação, o Sr. Xavier Mesnet (DCNS) e dificuldades que enfrentam.
o Sr. Olivier Rabourdin (Thales) apontaram O ComSubNATO tem sob seu
as constantes evoluções das capacidades dos comando 42 militares em seu staff e 19
submarinos, ressaltando os recentes avanços submarinos de 13 países membros da OTAN
em sua mobilidade, através da redução do (Figura 4), atuando principalmente no
consumo de energia elétrica e o aumento em Atlântico Norte e no Mar Mediterrâneo, em
sua capacidade de armazenagem; a ampliação uma região com um intenso tráfego de todos os
do armazenamento de armamentos a bordo; tipos de navios (cerca de 30 Marinhas possuem
e o incremento constante na capacidade dos submarinos operando na área) e com conflitos
sensores e da conectividade entre eles. iminentes. Além do planejamento e execução
Desta forma, vem ocorrendo das comissões atribuídas aos submarinos
um aumento do número de submarinos subordinados (Figura 5), também tem
convencionais com propulsão independente de participação ativa na International Submarine
ar (AIP), permitindo uma maior permanência Escape and Rescue Liaison Office (ISMERLO)
em cotas abaixo da periscópica, reduzindo o e na Sea Guardian, que é uma operação recém-
número de “snorkels” e, consequentemente, criada pela OTAN em meados de 2016, com
aumentando a sua discrição durante as missões o objetivo de realizar tarefas de segurança
realizadas. Dentre outros aspectos, este avanço marítima (Figura 6). No final de 2016, por
fez com que ocorresse a necessidade de altos exemplo, a Sea Guardian atuou no Mar
investimentos em sonares capazes de detectar Mediterrâneo prestando apoio para aumentar
estes submarinos.Por fim,para que se tenha uma a conscientização da situação marítima,
ideia das cifras envolvidas, foram divulgados ajudando na luta contra o terrorismo no mar e
os investimentos dos Estados Unidos (EUA), contribuindo para o reforço da capacidade de
França, Reino Unido, Alemanha, Austrália e segurança marítima.
Japão para aumentar as capacidades de seus Dentre as preocupações e as dificuldades
sonares, os quais somam valores da ordem de relacionadas à guerra antissubmarino no Teatro
4,7 bilhões de Euros e com previsão de mais de Operações da OTAN no Atlântico Norte,
5,3 bilhões de Euros para os próximos 20 anos, destaca-se a intensificação das operações
isto somente com a empresa Thales. Apenas os navais russas na área, com o emprego de seis
EUA, recentemente, adquiriram 250 sonares submarinos no Mar Báltico e mais três a
para equiparem seus helicópteros ASW. caminho, configurando a sua maior atuação
desde a Guerra Fria. Em seguida, ressaltou a
3.2 Avaliação do papel dos submarinos sob o importância do restabelecimento de antigas
ponto de vista da NATO (2017) alianças; a intensificação do planejamento e
treinamento conjunto com os países membros
O C. Alte Matthew A. Zinkle, Comandante da OTAN, focando principalmente nas
da Força de Submarinos da NATO Allied operações no Mar Mediterrâneo e no Atlântico
Maritime Command (ComSubNATO), Norte; a necessidade de revisão das publicações

28 Periscópio
Figura 2 - Os países que integram o ComSubNATO.

Figura 3 - Informações básicas do ComSubNATO.

Periscópio 29
OPERATIVO

Figura 4 - Operação Sea Guardian.

da OTAN; o uso da tecnologia como um fator principalmente, os países membros da OTAN,


multiplicador de força; e o incremento da o que levou este tema a ocupar boa parte da
segurança nas comunicações entre os países agenda do primeiro dia de congresso.
aliados (voz, network e o compartilhamento da Os debates tiveram como enfoque a região
rede VLF americana com os países aliados). do Atlântico Norte e o ressurgimento da
Rússia, destacando-se os seguintes aspectos:
3.3 O futuro da Guerra Antissubmarino – - O crescimento dos investimentos
Desafios e Soluções no cenário atual da Marinha da Rússia em treinamento,
construção e modernização de sua Força de
“A Rússia envia o seu maior submarino Submarinos, com a adoção de uma postura
nuclear balístico (SSBN) para o Báltico”, de redução de meios, mas com a melhoria das
“Coreia do Norte apresentou, pela capacidades e aumento das operações em áreas
primeira vez, um míssil balístico lançado de interesse. Dentro deste contexto, foram
de submarino” e “China constrói estaleiro feitos questionamentos a respeito da qualidade
com capacidade de construir quatro SSBN, desses novos investimentos, já que muitas das
simultaneamente”. Recentemente, manchetes vezes, a Rússia divulga informações, mas não
como as apresentadas acima vem preocupando, as demonstra. O C. Alte Matthew A. Zinkle

30 Periscópio
relembrou que muitas destas informações EUA e na Europa). Adicionalmente, em
são reservadas, mas que apenas o fato dos 2002, um submarino desta mesma classe foi
submarinos russos serem capazes de lançar modificado para se tornar um navio-mãe de
mísseis nucleares balísticos, aliado a postura UUV e ser empregado em tarefas de ISR;
militar russa na região, já é suficiente para que - A Rússia não segue normas e acordos
ela se enquadre como uma ameaça; internacionais. Algumas atividades
- Os submarinos da classe Delta IV, por são identificadas, sem que se conheça
exemplo, receberam dois refits recentes em positivamente o autor, como exemplo, as
seus mísseis balísticos (Sineva R-29RMU2.1), supostas violações ao mar territorial sueco, as
sendo capazes de lançar 16 mísseis sobre um investidas desconhecidas nas proximidades
mesmo alvo, com o submarino mergulhado e das bases dos SSBN britânicos e o lançamento
em movimento, à uma distância de até 8.300km de cabos submarinos no Mar Báltico por
(o suficiente para atingir alvos na China, nos submarinos russos;

Figura 5 - O conceito das Zonas de Bloqueio estabelecidas pela Rússia.

- A Rússia vem testando as linhas de acesso segurança que poderão determinar diferentes
ao Atlântico Norte e estabelecendo círculos de zonas de bloqueio, preparando o complexo

Periscópio 31
OPERATIVO

ambiente submarino para dar-lhes vantagem Unido, foi questionado se ele achava as linhas
em conflitos futuros (Figura 7); de defesa europeias fracas. O oficial norueguês
- Não seria correto dizer que se trata disse que não, mas exaltou a necessidade de
de uma 2ª Guerra Fria, pois existem cooperação entre os países membros da OTAN,
outros atores envolvidos, novas tecnologias principalmente dos EUA, para que esta
empregadas e outra ideologia. Contudo, em Aliança possa se contrapor as investidas russas
declaração recente do V. Alte James Foggo na região. Para tal, destacou a necessidade de
III, Comandante da 6ª Frota, foi dito que as revisão da estrutura e da estratégia ASW da
relações entre a Rússia e os EUA no âmbito da OTAN, além da intensificação dos exercícios
Guerra Submarina podem ser interpretadas ASW no Atlântico Norte (respeitando os
como a “4ª Batalha do Atlântico”, comparando limites territoriais da Rússia) para que se
a atual postura submarina russa com aquela conheçam melhor as características da região
adotada nas Duas Grandes Guerras e na (as águas rasas do Báltico, por exemplo, são um
Guerra Fria; fator dificultador, devido às suas peculiaridades
- O palestrante Coronel John Andreas quanto ao comportamento do som); e
Olsen, Adido de Defesa da Noruega no Reino - Dentre as dificuldades existentes na

Figura 6 - Algumas matérias recentes a respeito do desenvolvimento de UUV.

32 Periscópio
realização destas operações conjuntas entre os assunto ainda é recente e demanda investimentos
países membros da OTAN, foram citadas as e estudos para que se possam mensurar as reais
divergências entre as leis em vigor, a política de capacidades e possibilidades desse novo recurso
inteligência adotada e a falta de integração dos e, assim, realizar as adaptações necessárias para a
sistemas utilizados pelos meios de cada país. sua operação.
O corrente avanço no desenvolvimento
3.4 As perspectivas e desafios no emprego de de UMV possibilitou que o seu uso viesse a
veículos marítimos não tripulados (UMV) complementar as tarefas realizadas pelos meios
navais (Figura 9), sendo este fato atribuído ao:
Atualmente,as principais Marinhas do mundo - incremento na arquitetura e capacidade
vêm envidando esforços para desenvolverem e de processamento de dados;
implementarem o uso de UMV em suas Forças - avanço na capacidade de geração de
Navais (Figura 8). Mesmo nessas Marinhas, o energia;

Figura 7 - A evolução da tecnologia.

- aumento da confiabilidade das mais leves, de baixo consumo, com maior


comunicações; e alcance e precisão.
- desenvolvimento de sensores menores, No que diz respeito ao emprego dos UMV,

Periscópio 33
OPERATIVO

dando ênfase ao uso de veículos submarinos entre as Marinhas e as indústrias de defesa,


não tripulados (UUV), destacam-se o apoio de modo a definir as reais demandas,
às Operações Antissubmarino, as operações estabelecendo parâmetros e limitações para o
de ISR e a desativação de minas (Figura 10). desenvolvimento dos UMV;
Dentre as possibilidades provenientes do seu - os entraves para o emprego desta
emprego, ressalta-se: tecnologia em operações conjuntas entre os
- a capacidade de esclarecimento de uma países membros da OTAN, tendo em vista que
determinada área, sem colocar em risco o cada Estado (o governo, suas universidades e
seu navio-mãe (conforme foi dito no item indústrias) tem os seus interesses econômicos
anterior, a Rússia está à frente das outras e estratégicos, não podendo compartilhar
nações neste aspecto, tendo em vista que já determinadas informações e, em outras
possui um submarino classe Delta IV com essa situações, evitando que elas sejam “hackeadas”
capacidade); ou roubadas (Figura 11);
- a expansão da cobertura de uma área de - a inexistência de uma definição legal
patrulha, podendo patrulhar simultaneamente para um UMV. Adicionalmente, as legislações
com o navio-mãe e os UUV, os quais podem nacionais também não têm uniformidade em
ser dotados de sonares de baixa frequência; e suas regras quanto ao ingresso de um UMV em
- a maior agilidade e menor risco seu Mar Territorial (Figura 12). Em virtude
nas operações de detecção, classificação, de lacunas como estas, a IMO se reuniu,
identificação, plotagem, neutralização e em junho de 2017, para discutir a respeito
destruição de minas. Estima-se que a “limpeza” da regulamentação de UMV, pressionados
de uma área minada, realizada em 15 dias principalmente pelos interesses da Rolls-Royce,
por navios varredores, possa ser concluída que tem investido nesta tecnologia e está
em cerca de 16 horas por UUV, ainda com a disposta a comercializá-la; e
vantagem de não oferecer risco de acidentes. - a preocupação, em um futuro próximo,
Em junho deste ano, aconteceu um evento de como será realizado o controle desse
onde as indústrias do setor puderam mostrar intenso tráfego submarino não tripulado, além
as capacidades de seus UUV, tendo estes que do aumento da ensonificação do ambiente
desarmar uma área com 20 minas implantadas, subaquático.
em uma região de águas rasas e com forte Finalmente, foram levantadas algumas
efeito de corrente. questões para reflexão, motivadas pelo fato
Também foram apontadas as principais de que ainda não se pode prever o caminho
dificuldades e desafios para a implementação e do desenvolvimento e posterior emprego
emprego de UMV, dentre os quais se destaca: destes UMV irá: “No futuro, eles poderão
- a combinação e integração de plataformas substituir os navios antissubmarino ou apenas
complexas (submarinos) com diversas serão uma extensão deles? Com o aumento
plataformas pequenas e de menor valor; da capacidade de processamento e de
- a padronização dos elementos de comunicações, estes veículos poderão forçar
Comando e Controle; a redução do número de pessoas a bordo?”.
- a necessidade de um maior diálogo Fazendo analogia aos Veículos Aéreos Não-

34 Periscópio
Figura 8 - O emprego dos UMV.

Figura 9 - Legislações costeiras nacionais

Periscópio 35
OPERATIVO

Tripulados (VANT), que já estão em estágio (antigos submarinos convencionais franceses)


avançado de desenvolvimento e emprego, para que fosse utilizado na formação inicial
pode-se observar que o seu uso em operações das tripulações.
aumentou exponencialmente (estima-se que A diferença temporal entre a capacitação
o EUA tenham cerca de oito mil VANT), das duas tripulações acompanhou a entrega (9
mas o número de caças não reduziu, ou meses), ou seja, enquanto a primeira tripulação
seja, este recurso está sendo utilizado para já realizava o estágio a bordo do submarino
complementar e aumentar as capacidades das classe Agosta¸ a segunda iniciava a fase teórica
Forças Armadas, aumentando os seus custos, em sala de aula (equivalente ao CASO e ao
sem que haja a substituição de meios. C-SubEspc-SB). A duração desta capacitação
preliminar foi de aproximadamente dois anos
3.5 Experiências da RMN com os submarinos e meio.
Scorpène Após esse período, a primeira tripulação foi
para a França iniciar a capacitação contratual a
Ao longo dos dois dias de congresso, pude bordo do primeiro submarino entregue e, nove
conversar com o CMG Razib, Comandante meses depois, a segunda tripulação foi para a
do Centro de Treinamento de Submarinos da Espanha receber a mesma capacitação a bordo
RMN, o qual passou algumas informações a do outro submarino (por conta da parceria
respeito da Marinha de seu país e o processo franco-espanhola, cada Scorpène foi construído
de aquisição dos submarinos Scorpène. em um país). Esta fase da qualificação durou
A Malásia é um país situado no Sudeste 18 meses, foi realizada por duas equipes
Asiático, banhado pelo Mar da China. de países diferentes e, parte dela, ocorreu
Cerca de 50% da frota de navios mercantes simultaneamente nos dois meios.
do mundo trafegam pela região e o fluxo de Segundo o CMG Razib, a capacitação
navios-tanque é três vezes maior do que no realizada pela DCNS é feita por oficiais, em
Canal de Suez. Diante disso, se faz necessária a sua maioria da reserva, que já possuem um
manutenção de uma Marinha adestrada e bem vasto conhecimento da classe e experiência
equipada, capaz de contribuir para a garantia como instrutor, pois as mesmas equipes foram
da salvaguarda dos seus interesses nacionais. responsáveis pela qualificação das tripulações
Deste modo, a RMN criou a sua Força dos Scorpènes adquiridos pelo Chile e pela
de Submarinos há cerca de 10 anos, fruto de Índia. Assim, ele destacou a importância de
um contrato de aquisição de dois submarinos que os futuros instrutores brasileiros sejam
Scorpène, assinado em meados de 2002, em estimulados a obter o máximo de aprendizado
uma parceria entre a DCNS (França) e a nesta fase, de modo a mitigar as possíveis
Navantia (Espanha). O intervalo entre a perdas na transmissão de conhecimento e na
entrega destes dois submarinos foi de apenas qualificação das tripulações seguintes (S-BR
nove meses e, como a RMN não possuía 2/3/4).
nenhuma “expertise” na operação destes meios Por fim, dentre as dificuldades apontadas
navais, também foi incluído no contrato a pelo CMG Razib na fase de capacitação
revitalização de um submarino da classe Agosta até os dias de hoje, destacou que o fato dos

36 Periscópio
Simuladores terem sido entregues somente deste congresso um evento de alto nível
em 2012, dois anos após a incorporação dentro do contexto das principais Marinhas
dos dois submarinos (2009 e 2010), do mundo.
prejudicou a capacitação contratual, pois Assuntos sensíveis, como o ressurgimento
não permitiu que eles passassem por este da Rússia no Atlântico Norte, foram debatidos
estágio de qualificação antes de efetivamente e ampliados de modo que pudessem ser
embarcarem nos submarinos. Atualmente, expostas as mudanças de cunho tecnológico e
apontou a dificuldade na aquisição de alguns as ações militares necessárias para se contrapor
sobressalentes e na prestação de serviços, fato à essa ameaça. Nesse contexto, foi dedicado um
este corroborado pelo Sr. Xavier Mesnet, o dia de apresentações e debates para mostrar as
qual comentou que estes problemas ocorrem capacidades já existentes e as possibilidades
principalmente com os equipamentos de emprego dos UMV na Guerra Naval.
fornecidos por outras empresas. O fabricante Finalmente, também foi possível aprender um
dos periscópios, por exemplo, só produzem pouco sobre as experiências da RMN com a
(em média) dois periscópios por ano, fazendo criação de sua Força de Submarinos, dando
com que a empresa mantenha uma equipe ênfase às questões relacionadas à aquisição e
reduzida, gerando atrasos na prontificação de à operação de seus dois submarinos Scorpène.
manutenções corretivas. A despeito de alguns assuntos tratados no
congresso não estarem diretamente relacionados
4 CONCLUSÕES com o cenário atuante da MB, a apresentação
de novas tecnologias aplicadas às Forças Navais
Tendo como base esta análise, considero condizem com o atual momento em que o país
que a relevância dos assuntos tratados, as e a MB vivenciam, através do Programa de
participações de autoridades navais, de Desenvolvimento de Submarinos (PROSUB),
representantes governamentais e de indústrias o qual resultará na construção do primeiro
de defesa de renome internacional fizeram submarino de propulsão nuclear brasileiro.

Periscópio 37
OPERATIVO

INCIDENTE SAR SSE 004-2017

Capitão-Tenente (QC-CA) Jamil de Figueiredo Meron

No dia 19 de janeiro de 2017 ocorreu um dia 20/01, os mergulhadores já se encontravam


incidente com uma aeronave bimotor, modelo na área do sinistro, portando todo o aparato
KING AIR C90, indicativo PR-SOM, na necessário para o cumprimento da tarefa
Baía de Paraty, próximo a Ilha Rasa, que imposta, a saber: “reflutuar a aeronave e
vitimou cinco pessoas. possíveis fragmentos desprendidos, num raio
Dentre essas vítimas, estava o Ministro do de 150 metros, visto esta se encontrar bastante
Supremo Tribunal Federal Teori Zavascky. danificada”. Essa conduta assumida pela equipe
Para atender o referido SAR, a Marinha se insere no lema estampado no Departamento
imediatamente mobilizou o AviPa Anequim, de Mergulho da BACS: “HONRA,
a Agência da Capitania dos Portos em Paraty DISCIPLINA E COMPETÊNCIA”.
e o NaPaOc Amazonas. No Amazonas No primeiro mergulho realizado pela
embarcou uma equipe de mergulhadores da equipe foi possível encontrar o gravador de voz,
Base Almirante Castro e Silva, subordinada equipamento de fundamental importância no
ao Comando da Força de Submarinos, auxilio às investigações posteriores e, constatar
composta pelo CT-EK MERON, SO- que a aeronave se encontrava com seu “bico” e asa
MG GIVALDO, 2°SG-MG PEIXOTO, de boreste totalmente enterrados numa densa
2ºSG-MG CLEMENTE, CB-MG camada de lama de aproximadamente um metro.
BRENNO, CB-MG MOISINHO, 2°SG- A tarefa seguinte foi a reflutuação da
MG AMORIM e o CB-MG SOARES, aeronave, que ocorreu por volta das 12h do dia
esses dois últimos servindo no Comando do 21/01. Após detalhado estudo e planejamento,
Grupamento de Patrulha Naval do Sudeste a tarefa logrou êxito, tendo em vista que o
(ComGptPatNavSE). dispositivo planejado fez com que a aeronave
Às 20h30 do dia 19/01, o NaPaOc viesse à superfície.
Amazonas, prontamente, suspendeu rumo Restava então, localizar e reflutuar os dois
a Baía de Paraty, chegando ao seu destino motores (que haviam se desprendido com
na madrugada do dia seguinte. Portanto, o impacto) a cauda e parte da asa de boreste
entre o alarme SAR e a chegada do navio que foram julgadas, pela equipe do Centro
ao local do incidente decorreram doze horas, de Investigações e Prevenções de Acidentes
demonstrando o alto grau de prontificação dos (CENIPA), como de suma importância para
meios envolvidos na faina. Ao amanhecer do perícia futura.

38 Periscópio
Figura 1: Reflutuação da aeronave.

Cabe ressaltar, ainda, a eficácia com que as encontravam-se os dois motores da aeronave,
equipes das lanchas da Agência da Capitania parte da asa de boreste e a cauda que foram
dos Portos em Paraty conduziram a restrição reflutuados em seguida.
do tráfego marítimo nas adjacências do No dia 23/01 estava concluída a faina
ocorrido, fato que mitigou as adversidades com sucesso, demonstrando assim, que a
impostas à faina subaquática. Marinha está sempre pronta para atender
É importante ressaltar que a tripulação às necessidades da sociedade brasileira.
do NaPaOc Amazonas, liderada pelo seu Salienta-se também que ficou demonstrado
Comandante, proveu todo o suporte para o o elevado grau de prontificação e
cumprimento da tarefa. Destaca-se também, profissionalismo da equipe de mergulho da
o apoio da equipe da Base de Hidrografia Base Almirante Castro e Silva e do Comando
da Marinha, que ao empregar o Side Scan do Grupamento de Patrulha Naval do
Sonar permitiram a identificação dos objetos Sudeste, corroborando, fortemente, com a
metálicos submersos. Dentre esses objetos, essência do lema supracitado.

Periscópio 39
CIÊNCIA
E TECNOLOGIA

INSTITUTO DE PESQUISAS DA MARINHA PIONEIRO


NACIONAL NA TÉCNICA DA INVISIBILIDADE

Roberto da Costa Lima1


Capitão de Fragata (EN) Ana Paula Santiago de Falco

1 INTRODUÇÃO O grande número de sistemas eletrônicos


incorporados a veículos (aeronaves,
A pesquisa de materiais com propriedades navios, tanques etc.) que resultou em um
magnéticas e dielétricas,adequadas ao uso como correspondente aumento de interferências
absorvedores de radiação eletromagnética, é eletromagnéticas. Alguns desses problemas
de grande importância para a área de Defesa incluem imagens falsas, aumento de desordem
Nacional. em radares e queda de desempenho por
O emprego de materiais absorvedores causa do acoplamento entre os diferentes
de micro-onda, em particular os materiais sistemas, que podem causar danos de
absorvedores de radar (RAM - Radar navegação e inabilidade ocasional para o uso
Absorbing Material), também conhecido de equipamento radar. Materiais absorvedores
como Material Absorvedor de Radiação de micro-ondas podem ser utilizados,
Eletromagnética (MARE) tornou-se um dos com bastante eficácia, para eliminação ou
campos mais fascinantes da engenharia de minimização desses problemas. No meio civil,
materiais, embora ainda represente um grande os RAM podem ser efetivamente usados para
desafio. eliminar ruídos que prejudicam a recepção
Um RAM é constituído por compostos, de sinais de telecomunicação em edifícios de
com elevada perda de energia, que absorvem a grandes cidades, através do revestimento de
radiação incidente em frequências sintonizadas suas paredes externas, assim como em fornos
e dissipam a energia absorvida sob a forma de de micro-ondas e na telefonia celular.
calor, inibindo a energia necessária para o sinal No âmbito da defesa, os materiais
de eco de detecção por radar. absorvedores de radar vêm sendo também
Absorvedores radar são materiais cujas empregados para redução da seção reta radar
propriedades elétricas e magnéticas foram (RCS - Radar Cross Section) de plataformas
alteradas de forma a permitir absorção de navais. A medida da seção reta radar, também
micro-ondas em frequências discretas ou em conhecida como assinatura radar, define o
amplo espectro de frequência. tamanho e a configuração de um alvo para
A crescente necessidade de RAM surgiu a tela de um radar. Esta medida varia com a
por dois motivos: direção segundo a qual o feixe radar “ilumina”

40 Periscópio
o alvo, podendo ser muito diferente da área fatores na redução da RCS.
física do mesmo (RICH; JANOS, 1994). Nas Figuras 1, 2, 3 e 4 encontram-se
Os RAM executam um papel-chave na ilustrados alguns exemplos de utilização de
tecnologia de invisibilidade ao radar (stealth materiais absorvedores de micro-ondas.
technology) e o seu emprego é um dos principais

Figura 1: Corveta Israelense stealth da classe Eilat com superestrutura recoberta com RA.

Torna-se importante ressaltar que além


do recobrimento absorvedor, as embarcações
militares mais modernas são construídas com
formas geométricas específicas, que reduzem
a probabilidade do feixe radar ser refletido
na direção da antena, que o emitiu (RICH;
JANOS, 1994).

Figura 2: Avião F-117 revestido com RAM.

Periscópio 41
CIÊNCIA
E TECNOLOGIA

de reflexões múltiplas, que dificultam seus


funcionamentos.
Para evitar interferências eletromagnéticas
preservando sua integridade, o marca-passo
deve ser revestido com materiais absorvedores
de micro-ondas.
A câmara anecoica, dispositivo utilizado
para medidas de absorção em Rádio
Frequência (RF), utiliza espumas piramidais
de poliuretano impregnadas com negro de
fumo para minimizar as reflexões em seu
interior.

2 HISTÓRICO

Figura 3 – Antena-radar revestida com RAM. O Grupo de Tecnologia de Materiais


(GTM) do Instituto de Pesquisas da Marinha
(IPqM) vem atuando na área de P&D de
Materiais Avançados, provendo soluções
tecnológicas de ponta para a Defesa Nacional.
Uma das nossas principais linhas de pesquisa
que tem sido desenvolvida, desde o início da
década de 90, é a dos MARE. Neste contexto,
o IPqM, em parceria com a AVIBRAS,
desenvolveu uma tinta antirradar que tem por
finalidade absorver a radiação eletromagnética
na faixa de micro-ondas, dificultando a
detecção dos meios navais por radares. A
AVIBRAS ficou responsável pelo ajuste e
homologação da tinta absorvedora de micro-
ondas. Este trabalho foi realizado em conjunto
com a Diretoria de Engenharia Naval. O
desenvolvimento da primeira versão desta
Figura 4 - Câmara anecoica empregada em tinta, conhecida como TAM X foi concluído
medidas de absorção em rádio freqüência. em 2003, com absorção de micro-ondas de
99,97 % da onda eletromagnética incidente
Partes estratégicas de radares e das em aproximadamente 9,0 GHz.
superestruturas de algumas plataformas As técnicas de caracterização quanto a
navais são revestidas com material absorvedor refletividade da tinta absorvedora de micro-
de micro-ondas para minimizar o efeito ondas utilizadas foram: Espaço aberto por

42 Periscópio
intermédio de antenas, no interior de câmara sendo que em aproximadamente 9 GHz a
anecoica e por guia de ondas utilizando-se o absorção chega a 99,97%. Para o restante da
Método de Transmissão/Reflexão (T/R). faixa de frequência estudada, o valor de absorção
Constatou-se que ao longo de toda a banda mínimo é de 68%. A TAM X mostrou-se um
X a absorção mínima da onda eletromagnética excelente Material para emprego da redução
incidente foi de 90% chegando a 99,97% em da seção reta radar de plataformas militares e
aproximadamente 9 GHz. eliminação de interferências eletromagnéticas.
Além das técnicas de caracterização do Atualmente, o IPqM, desenvolve projetos,
material absorvedor utilizadas em laboratório, utilizando-se de materiais nanoparticulados,
o IPqM realizou um teste operativo para aprimorando cada vez mais a arte da técnica
comprovação de sua eficácia. O teste envolveu da invisibilidade.
um Submarino da Classe Tupi (Tapajó) e uma
aeronave Super-Lynx configurada com um REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
radar Sea-spray 3000. A avaliação baseou-se
na comparação das distâncias de 1a detecção B-2 Spirit stealth bomber at the Edwards Air Force
dos 2 mastros de periscópio (um revestido- Base Airshow. Disponível em: <https://www.
observação e o outro não-revestido-ataque). pinterest.com/pin/163396292709770974/>.
Para o Mastro não-revestido a detecção radar Acesso em: 29 mai. 2017.
variou entre 4 a 7 milhas náuticas. O radar
não conseguiu detectar o Mastro revestido. CIARS Center for Intelligent Antenna and
O Mastro foi detectado apenas visualmente a Radio Systems. Disponível em: <http://ciars.
aproximadamente 400 jardas. uwaterloo.ca/wp-content/uploads/2012/02/
Ciars9.png>. Acesso em: 29 mai. 2017.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
News, views and contacts from the global Na-
Observou-se, por intermédio dos testes val industry. Disponível em: <http://www.
realizados em laboratório, que foi corroborado naval-technology.com/projects/saar5/saar55.
pelo teste operativo, que a tinta absorvedora html>. Acesso em: 29 mai. 2017.
de micro-ondas possui um poder de absorção
superior a 90% da onda eletromagnética RICH, B.R.; JANOS, L. Skunk works, Lon-
incidente em toda a banda X (8,2 a 12,4 GHz) don, Warner books, pp. 404. 1995. c 1994.

Periscópio 43
CIÊNCIA
E TECNOLOGIA

O FUTURO DOS SUBMARINOS DIESEL-ELÉTRICOS:


O JAPONÊS CLASSE SORYU E AS BATERIAS DE
ÍON-LÍTIO

Capitão-Tenente Leonardo de Oliveira Siqueira

Durante quase um século, os submarinos de células de combustível para alimentar o


diesel-elétricos tem dependido do constante submarino enquanto estiver submerso por
carregamento das tradicionais baterias longos períodos de tempo. Cada qual com
chumbo-ácido, partindo seus motores diesel suas vantagens e desvantagens, com custo e
próximo à superfície, durante um esnórquel, complexidade distintos.
ou até mesmo na própria superfície. Porém, O sistema francês MESMA, por exemplo,
este modelo de propulsão, além de representar consiste em uma turbina convencional
uma vulnerabilidade, principalmente durante alimentada pelo vapor gerado pela combustão
o funcionamento dos motores e o trânsito de etanol e oxigênio armazenado sob pressão,
do submarino próximo à superfície, também enquanto o Stirling utiliza o calor de uma
não o possibilita permanecer longos períodos fonte exterior, que é transferido a um fluido
imerso. específico (geralmente um gás inerte) e
Ao longo das últimas décadas, a tecnologia submetido a uma série de transformações
AIP (Air Independent Propulsion), que significa termodinâmicas. A expansão do gás resultante
um arranjo de propulsão independente do ar, empurra um pistão e este o reenvia a uma nova
tem representado uma revolução na categoria, compressão, a qual, finalmente, pode gerar
devido principalmente, ao fato de possibilitar eletricidade.
aos submarinos se manterem furtivos durante Esses modernos sistemas representam
um período maior de tempo, juntamente com avanços importantes que levam os submarinos
o custo mais baixo, se comparado com os diesel-elétricos a superarem sua maior
grandes e caros submarinos nucleares. fragilidade: sua capacidade limitada de manter-
A sigla AIP representa muito mais do que se submerso, resultando assim, em uma maior
apenas uma configuração estrita de propulsão indiscrição, que na guerra submarina é o fator
submarina. O mesmo conceito geral pode chave para manter o poder combativo da arma
ser alcançado através de diferentes métodos. mais letal dos mares.
As versões mais modernas deste inovador Após todo esse desenvolvimento voltado
sistema variam desde o uso de motores para os sistemas AIP, os submarinos diesel-
Stirling até o sistema de turbina a vapor elétricos de alta tecnologia podem começar
de ciclo fechado (MESMA) e ainda, o uso a retornar às suas raizes mais simples, uma

44 Periscópio
vez que o Japão está se apresentando como mais energia que a bateria convencional.
pioneiro no desenvolvimento de submarinos Em detrimento de seu alto desempenho,
equipados com as modernas baterias de Íon- as mesmas são extremamente sensíveis a
Lítio. São eles os submarinos de ataque diesel- temperaturas altas, uma vez que saindo
elétricos classe Soryu, com previsão de ser da fábrica, estas baterias começam a se
lançado ao mar no ano de 2020. decompor, mesmo não sendo utilizadas e a
Mas o que precisamos entender sobre as exposição ao calor, faz com que esse processo
baterias de Íon-Lítio? O que estas trazem de decomposição se acelere rapidamente.
de inovação em comparação com as antigas Além da própria possibilidade de a bateria
baterias de chumbo-ácido? queimar e produzir um calor muito elevado,
podem ainda liberar vapores tóxicos e poeira
1 BATERIAS DE ÍON-LÍTIO: CARAC- condutora que são difíceis de extinguir
TERÍSTICAS PRINCIPAIS usando meios tradicionais. Faz-se necessário o
desenvolvimento de novos métodos de redução
As baterias de Íon-Lítio são muito do risco de incêndio e de seus resultados
mais leves pelo fato de que os eletrodos são potencialmente catastróficos.
constituídos por lítio e carbono leve. Além
disso, o lítio também é um elemento altamente
reativo, o que significa que é possível armazenar
quantidades superiores de energia, resultando
em uma densidade de energia muito alta para
essas baterias.
Um estudo comparativo feito pela empresa
norte-americana Ultralife mostrou que uma
bateria de Íon-Lítio pode armazenar 150
watts-hora de eletricidade em 1kg de bateria,
enquanto uma bateria de chumbo ácido tem
a capacidade de armazenar apenas 25 watts- Figura 1: Baterias de Íon-Lítio.
hora por quilo. Isso significa que usando a
tecnologia chumbo-ácido, são necessários 6 2 OS SUBMARINOS CLASSE SORYU
kg para armazenar a mesma quantidade de
energia que uma bateria de Íon-Lítio de 1kg. Com previsão de ser comissionado em
As baterias de Íon-Lítio conseguem suportar março de 2020, o “Super Soryu” é o décimo
centenas de ciclos carga/descarga. Estas baterias primeiro de sua classe, porém será o primeiro
possuem uma vida de aproximadamente 400- equipado com as baterias de Íon-Lítio,
500 ciclos (de 0% a 100%). elevando assim, o Japão ao título de primeira
Dessa forma estas baterias, juntamente nação a lançar um submarino diesel-elétrico
com um poderoso motor diesel e geradores, com esta tecnologia.
têm a capacidade excepcionalmente rápida de Esses novos submarinos possuem capacidade
serem carregadas e podem armazenar muito similar aos sistemas AIP combinados com

Periscópio 45
CIÊNCIA
E TECNOLOGIA

as baterias de chumbo-ácido nas baixas de exaustão e admissão maiores e alterações nos


velocidades, mas a grande diferença está em circuitos elétricos (especialmente disjuntores).
seu melhor desempenho em desenvolver altas Todas essas mudanças geram custos pela
velocidades devido à maior capacidade dessas quantidade de adaptações em sua estrutura
super baterias. E além disso, esses submarinos original para comportar essas poderosas
são muito mais discretos, devido ao fato de baterias. Além de as baterias Íon-Lítio serem
essas baterias permitirem alta corrente de carga, mais leves do que as baterias de chumbo-ácido,
ou seja, levam muito menos tempo para serem a plataforma Soryu teve que ser ligeiramente
carregadas durante um esnórquel. redesenhada para manter o peso e equilíbrio.
Sua maior desvantagem é a monetária. O Certamente, essa classe ainda nos trará
primeiro submarino de classe Soryu, movido muitas surpresas, pois o maior desafio do
a íons de lítio, custará US$ 566 milhões em Japão é provar que estas novas baterias são
oposição a US$ 454 milhões para o submarino seguras para a utilização dentro do ambiente
anterior da classe. Grande parte dessa diferença confinado de um submarino. Pois quando se
de US$ 112 milhões é devido às baterias e aos fala de desempenho, não há dúvidas de que
circuitos elétricos. estas baterias são o que há de mais vantajoso
Existem três requisitos para explorar operativamente, devido às suas vantagens
plenamente as baterias de íons de lítio em quando comparado com as baterias chumbo-
qualquer submarino. Eles requerem motores ácido, utilizada atualmente nos submarinos
diesel e geradores de alta potência, tubulações diesel-elétricos em todo o mundo.

Figura 2: Submarino da Classe Soryu.

46 Periscópio
Figura 3: Submarino da Classe Soryu.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Kosuke, Takahashi, IHS JANE’S DEFENCE


WEEKLY, JAPAN TO EQUIP FUTURE
BATERIA DE ÍONS DE LÍTIO, Dispo- SORYU-CLASS SUBMARINES WITH
nível em: <http://baterias-ionslitio.blogspot. LITHIUM-ION BATTERIES, Disponível
com.br/p/vantagens.html>, Acesso em: 06 jul em: <http://www.janes.com/article/68275/
2017. japan-to-equip-future-soryu-class-submari-
nes-with-lithium-ion-batteries>, Acesso em
Gordon, Arthur, JAPAN LEADS WAY WITH 06 jul 2017.
LI-ION SUBMARINES, Disponível em: <ht-
tps://www.shephardmedia.com/news/defence- SORYU-CLASS SUBMARINE, WIKIPE-
-notes/japan-leads-way-li-ion-submarines/>, DIA, Disponível em: <https://en.wikipedia.
Acesso em: 06 jul 2017. org/wiki/S%C5%8Dry%C5%AB-class_sub-
marine>, Acesso em: 06 jul 2017.

Periscópio 47
CIÊNCIA
E TECNOLOGIA

A INFLUÊNCIA DA HIDROACÚSTICA NO PROJETO


DE PROPULSORES DE SUBMARINOS

Primeiro-Tenente Marcos Roberto Superbi Albergaria

1 INTRODUÇÃO 2 PROPÓSITO DO PROJETO

O desenvolvimento de propulsores para O submarino é uma arma de guerra complexa,


submarinos difere, em alguns aspectos, do e de acordo com Poul Andersen1, construída
desenvolvimento de propulsores para navios de para atender múltiplos requisitos conflitantes.
superfície. A diferença mais importante é a baixa Considerando exclusivamente o sistema de
assinatura acústica exigida por um propulsor propulsão, ou seja, deixando de lado a tripulação
de submarino, a qual tem prioridade sobre a e o armamento, alguns dos objetivos a serem
eficiência e exige que os propulsores sejam alcançados pelo submarino são:
otimizados acusticamente em detrimento de
alguma eficiência. Em virtude da capacidade • baixa assinatura acústica, óptica,
dos submarinos operarem tanto na superfície eletromagnética, térmica e
quanto submersos, as condições de resistência comunicativa;
hidrodinâmica são bem diferentes, considerando • larga janela operacional no que diz
a mesma rotação no(s) eixo(s). Dessa forma, não respeito à resistência, velocidade e
é possível projetar um hélice ideal para operar profundidade;
em ambas as condições de navegação. • boa manobrabilidade na superfície e,
Em meio aos parâmetros, que podem ser principalmente, enquanto submerso;
variados durante a fase de projeto, o diâmetro • melhor arranjo possível de casco e
do propulsor de um submarino apresenta superfícies de controle para que possa
poucas restrições quando comparado com alcançar baixa resistência hidrodinâmica
o propulsor de um navio de superfície. e uma esteira mais uniforme;
Um aumento de diâmetro resulta em uma • propulsor com baixo nível de excitação
diminuição na tração específica (tração por de ruídos e vibrações;
unidade de área) do propulsor. Quanto ao • propulsor livre de cavitação em uma
ruído, devem ser considerados: o ruído devido faixa adequada de velocidade;
à geração de tração, o ruído gerado no bordo • propulsor altamente eficiente.
de ataque e de fuga das pás, o ruído devido à
turbulência e o ruído estrutural do propulsor. ¹ Poul Andersen, autor do livro Aspects of Propeller Developments
for a Submarine.

48 Periscópio
Estes os objetivos citados acima estão,
diretamente ou indiretamente, relacionados
com o propulsor, o que evidencia sua
importância. O diâmetro do propulsor de um
submarino está sujeito a algumas restrições. As
pontas das pás do hélice precisam ficar a uma
determinada distância da superfície, devido
ao perigo de aeração (cavitação) durante a
navegação em mar agitado. Além disso, as
pontas devem estar situadas a uma distância
suficiente acima da quilha que permita ao
submarino pousar no fundo.
A eficiência propulsiva que se pode obter
de um submarino navegando na superfície é
da mesma ordem de grandeza de um navio Figura 1: Esteira na região do propulsor de
de superfície. Entretanto, no caso de um um submarino.
submarino submerso, o carregamento do
hélice será constante em todas as velocidades
devido à relação quadrática entre a resistência
à propulsão e a velocidade. Experimentos
mostram que a esteira de um submarino
é muito diferente da esteira da maioria
dos navios de superfície de um hélice, não
apresentando uma região de baixa velocidade
somente na parte superior do disco do
hélice, ficando o mesmo em uma zona de
esteira concêntrica. Esse fato permite que
grande parte da energia gasta para vencer
a resistência do casco possa ser recuperada,
aumentando a influência das superfícies de
controle situadas por ante a vante do hélice,
sobre a zona de esteira. Esta recuperação de Figura 2: Esteira na região do propulsor de
energia em submarinos de um hélice é uma um navio de superfície de um eixo.
das principais vantagens sobre os submarinos
de dois hélices. Os resultados apresentados 3 CONSIDERAÇÕES DO PROJETO
por esses experimentos, combinados
com a necessidade de se adequar a uma 3.1 Margem de cavitação
margem de velocidade livre de cavitação
e os requerimentos quanto a ruídos, são os Em sua grande maioria, os navios de
principais desafios dos engenheiros navais. superfície apresentam cavitação em condições

Periscópio 49
CIÊNCIA
E TECNOLOGIA

normais de operação. Todo esforço de projeto circulação menor do que a ideal para uma
está voltado para se evitar a cavitação nociva boa eficiência do propulsor. Ao se aplicar os
em forma de erosão e para que se alcancem resultados obtidos com modelos a um hélice
níveis aceitáveis de ruído e vibração. de tamanho real, a cavitação da ponta das pás
Já para os submarinos submersos, a cavitação deve ser corrigida devido ao efeito de escala.
deve ser completamente evitada para que se A formação do vórtice de cavitação parece
garanta a menor assinatura acústica possível. ser muito dependente da geometria da ponta,
Na navegação submersa, a operação na faixa o que requer que a ponta da pá seja menos
mais baixa de ruídos processa-se a menores carregada, resultando em uma menor eficiência
velocidades. A velocidade a partir da qual os do propulsor.
hélices começam a apresentar cavitação deve A cavitação do vórtice do cubo consiste da
ser a mais alta possível e é preciso conciliar os combinação dos vórtices das raízes das pás.
requisitos da hidrodinâmica e da hidroacústica. De forma semelhante ao vórtice das pontas,
Por esse motivo, para um submarino submerso, o vórtice do cubo depende do gradiente de
a margem de cavitação que determina o regime circulação da parte mais interna das pás.
operacional não cavitante é muito importante. A intensidade da cavitação do vórtice do
Segundo Poul Andersen, de uma maneira cubo pode ser atenuada diminuindo-se o
geral, as margens de cavitação são definidas carregamento das pás em direção à raiz. Da
pela incidência de: mesma forma, essa solução também resulta em
uma diminuição da eficiência do propulsor.
• cavitação do lado de baixa pressão da pá Meios alternativos de supressão da cavitação
do hélice (extradorso); do vórtice do cubo podem ser utilizados por
• cavitação do lado de alta pressão da pá meio da aplicação de um revestimento com
do hélice (intradorso); e pequenas superfícies de sustentação na ponta
• cavitação do vórtice do cubo do hélice. do cubo, o que diminui a rotação do vórtice
do cubo, ou por meio de um revestimento que
A cavitação do extradorso e do intradorso gere uma turbulência suficiente para que se
são normalmente evitadas pela construção de evite a cavitação.
hélices com pás de maior espessura do que as A forma mais intuitiva e prática de
de navios de superfície. Esse é um dos motivos se apresentar as margens de cavitação do
pelos quais os hélices dos submarinos são mais propulsor para o operador é por meio de ábacos
grossos. ou gráficos em função das cotas e velocidades
O vórtice de ponta depende do gradiente operacionais, o que pode contribuir para a
de circulação da parte mais externa da pá. rápida e segura tomada de decisão durante o
Isso leva a uma distribuição do gradiente de combate.

50 Periscópio
devido às forças instáveis.
Vale ressaltar que, em grande parte, as
pás do hélice devem ser mais espessas à
medida que sua corda diminui em relação
à envergadura, pois as pás se tornam menos
largas e compridas, o que requer um maior
reforço estrutural da mesma.

4 ACÚSTICA DOS PROPULSORES

No que diz respeito à sua eficácia, um


submarino é altamente dependente da sua
assinatura acústica, devido à sua tarefa especial
de arma que opera na maior parte do tempo de
forma passiva. O ruído do fluxo hidrodinâmico
domina, em particular, a performance
do sistema sonar. Os ruídos próprios do
submarino se correlacionam com a faixa de
detecção, no que diz respeito a detectar outros
Figura 3: Cavitação do vórtice do cubo e das navios ou ser detectado. São identificados três
pontas das pás do propulsor. tipos de ruídos:

3.2 Redução das forças induzidas pela esteira • ruídos de tração, que dominam o nível
nas baixas frequências (< 100 Hz);
Roy Burcher2 considera como o fator mais • ruídos do bordo de ataque das pás (200-
importante, no que diz respeito às forças 1000 Hz); e
induzidas pelo propulsor, a esteira produzida • ruídos de banda larga (100-1000 Hz).
pelo casco, seja em navios de superfície ou em
submarinos. Contudo, para uma dada região A detecção de um submarino é efetivamente
de esteira, o número de pás de um propulsor realizada por meios acústicos. Outros meios
pode ser considerado o fator mais importante. como radares e câmeras que operam em baixa
Aumentando-se o número de pás de um luminosidade também são utilizados,porém são
propulsor, são reduzidas as forças instáveis cada vez menos eficazes, tendo em vista que os
em cada pá, mas não necessariamente a força modernos submarinos nucleares raramente vão
instável total. Assim sendo, pode-se concluir à superfície, onde poderiam ser detectados por
que as pás mais grossas do hélice de um esses tipos de dispositivos. Outros detectores,
submarino não se devem somente à cavitação como sensores infravermelho e o detector de
do extradorso, do intradorso e do vórtice do anomalias magnéticas também são utilizados,
cubo, como visto anteriormente, mas também mas podem apresentar baixa resolução e curto
alcance de detecção. Isso mostra a importância
2
Roy Burcher, autor do livro Concepts in Sumarine Design.

Periscópio 51
CIÊNCIA
E TECNOLOGIA

da baixa assinatura acústica de um submarino, reduz pela metade a faixa de detecção de um


em particular do seu propulsor, para que submarino. A ordem acústica é proporcional à
diminua a probabilidade de ser detectado ordem harmônica, ao número de pás, à razão
por um sistema acústico passivo. A principal de giro e à força de flutuação harmônica.
característica para o desenvolvimento de Consequentemente, o diâmetro, a torção
um propulsor acusticamente otimizado é a e o número de pás do propulsor devem
frequente verificação de suas propriedades ser escolhidos com cuidado. Testes com
acústicas. propulsores apresentaram uma grande redução
no ruído devido à flutuação de tração após ser
5 FLUTUAÇÃO DA TRAÇÃO aumentado o número de pás dos propulsores
de 4 para 7 ou 8 pás, tendo o segundo
A oscilação da tração é, provavelmente, a apresentado uma redução maior, com cerca de
fonte acústica dominante. Por outro lado, as 10 dB de diferença.
flutuações da tração não são as únicas fontes Embora a flutuação de tração possa ser
quando levamos em consideração o ruído. reduzida com um propulsor bem projetado, é
Testes com navios reais indicam diferenças importante enfatizar que a otimização da esteira
entre os valores medidos e os valores calculados. deve ser levada em consideração nas fases iniciais
De uma maneira geral, uma redução de 50% do projeto, pois uma esteira com perturbações
na flutuação de tração, resulta em uma redução excessivas não é uma boa referência no processo
de 6 dB no nível de ruído, o que, teoricamente, de minimização de ruídos.

Figura 4: Redução de ruído por um propulsor de 8 pás.


6 CONCLUSÃO

52 Periscópio
A principal consideração na fabricação de
um propulsor de submarino é a baixa assinatura
acústica e uma das diversas maneiras de obtê-
la é utilizando-se propulsores de 7 ou 8 pás
para que se diminua a flutuação da tração e,
consequentemente, o ruído. Os submarinos
de um hélice apresentarão uma alta eficiência
propulsiva se for possível combinar baixas
rotações, baixo carregamento do hélice
e aproveitamento da esteira em favor da
propulsão. Tal eficiência poderá ser maior do
que a de qualquer outro navio movido a hélice.
Tento em vista tais peculiaridades,
as Marinhas não permitem que sejam
fotografados os hélices de seus navios no
dique, principalmente os dos submarinos. A
informação do número de pás e do formato
de um hélice pode facilitar a obtenção de
dados da sua curva de cavitação por meio
de algorítimos específicos. O conhecimento
da assinatura acústica de um propulsor pode
auxiliar na identificação do submarino quando
este for detectado.
Nos contratos de compra de submarinos, o Figura 5: Propulsor de 8 pás.
hélice é tratado de forma especial. A empresa
que constrói o submarino oferece modelos de REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
vários tipos de hélices ou instala um modelo
de outro fabricante escolhido pelo cliente. ANDERSEN, Poul. et al. Aspects of
É especificado no contrato que o fabricante Propeller Developments for a Submarine.
não poderá vender o mesmo tipo de hélice First International Symposium on Marine
para outro comprador. Ulrich Gabler afirma Propulsors. Trondheim: 2009. p. 8.
que, na maioria das vezes, os hélices usados
no lançamento de um submarino não são os BURCHER, Roy; RYDILL, Louis.
definitivos, sendo substituídos logo após as Concepts in Submarine Design. Melbourne:
provas de mar. Cambridge University Press, 1994.

GABLER, Ulrick. Submarine Design. 4 ed.


Munich: Bernard & Graefe Verlag, 2000.

Periscópio 53
CIÊNCIA
E TECNOLOGIA

RENOVAÇÃO DA ATMOSFERA DE SUBMARINOS

Capitão de Fragata (EN) Ana Paula Santiago De Falco


Primeiro-Tenente (EN) Felipe Brandão de Souza Mendes
Primeiro-Tenente (EN) Priscila Richa Ribeiro Ferreira

1 INTRODUÇÃO segurança, o limite máximo de O2 é restrito


a 22% para que não haja risco de incêndio,
Importantes na dissuasão naval, os enquanto o limite de H2 deve ser mantido
submarinos são uma arma de guerra cuja menor que 1% para evitar explosões.
característica principal é a ocultação. Para A dinâmica de degradação da atmosfera
tirar proveito dessa vantagem operativa, os é a mesma para submarinos convencionais
submarinos devem ser silenciosos e permanecer e nucleares, porém o tipo de propulsão
o máximo de tempo possível submersos. Por delimita a rotina de regeneração da atmosfera.
isso, um dos maiores desafios tecnológicos é Como os submarinos convencionais utilizam
a renovação da sua atmosfera, que se degrada uma planta de propulsão diesel elétrica, é
principalmente devido à tripulação. A necessário que eles recarreguem a bateria de
respiração humana consome oxigênio (O2) e tempos em tempos. Para isso, o submarino
gera dióxido de carbono (CO2), portanto, em tem que realizar snorkel para admitir
um ambiente fechado onde não há renovação oxigênio e realizar combustão nos motores
natural da atmosfera, a quantidade de O2 de combustão principal (MCP). Por outro
diminui e a quantidade de CO2 aumenta com lado, os submarinos nucleares não necessitam
o tempo. de oxigênio para gerar energia devido à
Os seres humanos necessitam de valores característica do processo de fissão.
mínimos de O2 para conseguir respirar, Os submarinos convencionais também
além disso, altos níveis de CO2 são tóxicos. utilizam o snorkel para renovar sua atmosfera,
A composição da atmosfera a bordo de um quando o ar contaminado no seu interior
submarino deve levar em consideração esses é forçado para o exterior, à medida que o ar
limites fisiológicos, além dos limites para a puro do exterior é aspirado para o seu interior.
segurança operacional. Algumas referências Para realizar essa manobra, é necessário que
limitam o nível máximo de CO2 a bordo como o submarino permaneça na cota periscópica,
1% e o nível mínimo de O2 em 17% para ficando vulnerável à detecção inimiga, o
garantir a saúde da tripulação. Em termos de que diminui sua capacidade de ocultação.

54 Periscópio
Entre as manobras de snorkel, os submarinos limitantes à duração de comissões são a
convencionais precisam remover CO2 da sua capacidade de renovação da sua atmosfera,
atmosfera e, para isso, utilizam cal sodada. a capacidade de armazenamento de gêneros
Os submarinos nucleares devem realizar alimentícios, além da capacidade física e
o mínimo de manobras de snorkel possível de psicológica da tripulação (Figura 1). Portanto,
forma a explorar ao máximo sua capacidade para que a renovação da atmosfera não seja um
de ocultação. Nesse sentido, os três fatores limitador, é necessário que haja a bordo uma
tecnologia regenerativa.

Figura 1 - Fatores limitantes na autonomia do submarino nuclear.

2 PROCESSOS DE PRODUÇÃO DE O2 é quebrada pela aplicação de uma corrente


elétrica, produzindo oxigênio e hidrogênio
O processo de produção de O2 mais (H2) (Figura 2). Trata-se de uma tecnologia
utilizado atualmente em submarinos é a consolidada em que as inovações atuais se
eletrólise da água, na qual a molécula de água concentram para melhorias do processo.

Periscópio 55
CIÊNCIA
E TECNOLOGIA

Figura 2 - Eletrólise da água.

3 PROCESSOS DE REMOÇÃO DE CO2 carbonato de sódio (NaCO3). Nesse processo,


a cal sodada é consumida, sendo necessário
Em submarinos convencionais, utiliza-se cal o armazenamento de grandes quantidades
sodada para remoção de CO2 da sua atmosfera. de canisters a bordo, assim como a troca
Trata-se de um processo não regenerativo, ou constante dos canisters sempre que saturados.
seja, a cal sodada não pode ser regenerada após Nos submarinos convencionais, a cal sodada
ser consumida. Por outro lado, os submarinos é utilizada para retardar a degradação das
nucleares requerem processos regenerativos atmosferas entre as manobras de snorkel. Nos
para purificação de suas atmosferas para submarinos nucleares, a cal sodada é utilizada
prover a autonomia demandada em longas em caso de avarias no sistema de remoção
comissões. Os processos regenerativos regenerativo.
permitem que sejam realizados diversos ciclos
de purificação da atmosfera, sem a necessidade 3.2 Coluna de Absorção
de armazenamento de insumos. Atualmente,
as tecnologias mais utilizadas para remoção de A absorção química é um processo no
CO2 em submarinos nucleares são a absorção qual há transferência de um componente de
utilizando aminas líquidas e a adsorção por uma fase para outra devido à solubilidade e à
meio de peneira molecular. diferença de concentração entre as fases. Mais
especificamente, no caso da absorção gasosa,
3.1 Cal Sodada há transferência de um componente de uma
corrente gasosa para uma corrente líquida.
A absorção de CO2 utilizando cal sodada, Nos submarinos nucleares, uma corrente de
mistura de sólidos contendo óxido de cálcio e ar contaminado, com CO2, é passada em uma
hidróxido de sódio, ocorre por meio da reação coluna de absorção com uma corrente líquida
química entre o gás e o sólido, formando de monoetanolamina (MEA) (Figura 3).
principalmente carbonato de cálcio (CaCO3) e Então, o CO2 é transferido de uma corrente

56 Periscópio
para a outra e são obtidas uma corrente de ar no submarino. Esta tecnologia apresenta
puro, que é recirculada no submarino, e uma como desvantagens o elevado investimento
corrente de MEA contaminada, com CO2, inicial e o elevado grau de complexidade do
que é regenerada. A regeneração da MEA controle do processo. Além disso, outro fator
contaminada permite que ela seja separada limitante do processo é a necessidade de
do CO2 por aquecimento, assim a MEA utilizar elevadas pressões, em torno de 200 bar,
pura é reutilizada na coluna de absorção. para que a adsorção ocorra a contento. Para
Essa tecnologia apresenta como principais alcançar elevadas pressões é necessário utilizar
limitações o alto consumo energético na etapa compressores que consomem muita energia e
de regeneração da MEA, além do potencial geram ruídos que prejudicam a ocultação do
risco de vazamento de vapores tóxicos de submarino.
MEA na atmosfera do submarino.

Figura 4 - Coluna de Adsorção com


Figura 3 - Coluna de Absorção com Peneira Molecular.
monoetanolamina (MEA).
3.4 Membranas
3.3 Coluna de Adsorção
Como alternativa tecnológica aos processos
A adsorção é o fenômeno de adesão convencionais apresentados acima, o Instituto
de moléculas de um componente a uma de Pesquisas da Marinha (IPqM) vem
superfície sólida. Nos submarinos nucleares, estudando a utilização de membranas para
uma corrente de ar contaminado, com CO2, é intensificar a remoção de contaminantes
passada em uma coluna de adsorção composta gasosos. Membranas são barreiras que
de peneiras moleculares (Figura 4). Então, o separam duas fases e que restringem total
CO2 fica retido na peneira molecular e obtém- ou parcialmente o transporte de uma ou
se uma corrente de ar puro, que é recirculada várias espécies químicas presentes nas fases.

Periscópio 57
CIÊNCIA
E TECNOLOGIA

O corpo humano é composto por diversas contactores, a membrana utilizada é porosa e


membranas que realizam funções vitais, tais o líquido absorvedor deve ter afinidade pelo
como as membranas do pulmão e do rim, CO2, para que ocorra sua migração pelos
as membranas plasmáticas, entre outros. A poros da membrana e este seja removido da
elevada razão área/volume alcançada quando corrente de ar contaminado. Na permeação, a
se utiliza membranas é a principal vantagem membrana é densa e deve ter afinidade pelo
dessa tecnologia. CO2, para que ele se dissolva na membrana e
Os processos para purificação de gases passe para o outro lado quando pressurizado,
utilizando membranas são a permeação gasosa sendo removido da corrente de ar contaminado
e o contactor com membranas (Figura 5). Nos e eliminado do submarino.

Figura 5 - Processos de separação por membrana: (a) contactores com membrana e (b)
permeação gasosa.

4 CONCLUSÃO respiração da tripulação. De modo a garantir a


habitabilidade dos submarinos, sem prejuízo
A atmosfera dos submarinos, por ser um a sua capacidade de ocultação, é necessário
espaço fechado e habitado, sofre constante que haja a renovação forçada do ar no seu
deterioração devido,principalmente,à produção interior. As tecnologias mais utilizadas para
de CO2 e ao consumo de O2 em decorrência da purificação do ar em submarinos nucleares

58 Periscópio
são a absorção por aminas e a adsorção MINISTRY OF DEFENCE.  DBR 1326:
por peneiras moleculares. Esses processos Regulations for Atmosphere Control in Subma-
apresentam diversas limitações operacionais rines. Londres: Ministry Of Defence, 2006.
e de segurança, por isso, novas alternativas
tecnológicas devem ser encontradas. O IPqM NOXERIOR. Pressure Swing Adsorption. Di-
vem estudando contactores e permeação sponível em: http://www.noxerior.com/tech-
gasosa com membranas como substitutos aos nology/pressure-swing-adsorption-psa.html.
processos convencionais para renovação da Acesso em: 16 mai. 2017.
atmosfera de submarinos devido à elevada
razão área/volume dos equipamentos, que PADILHA, Luiz.  Submarino Nuclear Bra-
ocupam menos espaço a bordo. sileiro “Álvaro Alberto” SN-10. 2012. Dispo-
nível em: <http://www.defesaaereanaval.com.
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Periscópio 59
CIÊNCIA
E TECNOLOGIA

SUBMARINO NUCLEAR: UM SALTO TECNOLÓGICO


DA MB PARA GARANTIR A SOBERANIA NACIONAL

Segundo-Tenente Felipe Mattozinho Ferreira


Segundo-Tenente Rafael Thainan Barros de Souza

1 INTRODUÇÃO termo criado em 2004 pelo Almirante de


Esquadra Roberto de Guimarães Carvalho
O Brasil é uma nação grandiosa que possui que era Comandante da Marinha. Num
uma imensidão territorial e nela uma quantidade artigo publicado na época, ele lembrava que
incalculável de recursos. Dentre estas áreas além da “Amazônia Verde”, o Brasil contava
onde se concentram tais recursos, existe uma também com “uma outra Amazônia, cuja
que vem ganhando grande relevância agora no existência é, ainda, tão ignorada por boa parte
século XXI, a Amazônia Azul. dos brasileiros quanto o foi aquela por muitos
A Amazônia Azul (figura 1) foi um séculos” (CARVALHO, 2004).

Figura 1: Mapa da Amazônia Azul.

60 Periscópio
A Amazônia Azul é o somatório das áreas meios que possam garantir o cumprimento da
da Zona Econômica Exclusiva (ZEE) e a missão da MB.
Plataforma Continental (PC). A primeira área Dentre as medidas realizadas pela MB
é conceituada como todos os recursos e bens para prover novos meios que possam ir ao
econômicos existentes na coluna da massa encontro da Estratégia Nacional de Defesa
líquida, sobre seu leito do mar e seu subsolo (END) e seus interesses, temos o Programa de
marinho, ao longo do contorno do nosso litoral Desenvolvimento de Submarinos (PROSUB),
se estendendo até 200 milhas náuticas da costa, efetivado pela parceria estratégica entre o
segundo está estabelecido na Convenção das Brasil e a França, visando à construção de
Nações Unidas sobre o Direito do Mar em 1982. submarinos convencionais e nucleares, além
A segunda é produto de estudo de diversos da criação do estaleiro em que os submarinos
órgãos nacionais, após o Levantamento da serão fabricados e da base naval que irá abrigá-
Plataforma Continental (LEPLAC) a qual los, futuramente.
se estende em mais de 900.000 km² de área Mas, por que um submarino com propulsão
marítima. No total, a Amazônia Azul totaliza nuclear? Este trabalho visa a apresentar
uma área de aproximadamente 4,5 milhões de os principais pontos do PROSUB, e as
km², a qual possui grandes reservas de petróleo características dos submarinos deste projeto,
nas camadas do Pré-sal, grande biodiversidade dando foco ao submarino nuclear e ao salto
marinha, imenso potencial pesqueiro, que tecnológico que a MB está vivenciando e que
ainda não é muito aproveitado, além de deve conservar para acompanhar o projeto e
diversos outros recursos vivos e não-vivos. manter-se alinhada com os objetivos da END.
Vale ressaltar a importância político- O desenvolvimento do trabalho está dividido
econômica do litoral brasileiro para o em cinco partes: a primeira parte abordará
transporte marítimo que é responsável por sobre um breve histórico de uso de submarinos
aproximadamente 95% do comércio exterior, nucleares no passado; a parte seguinte versa
além de possuir intenso fluxo de embarcações sobre o Programa Nuclear Brasileiro (PNB);
na região do Atlântico Sul. Além disso, a a terceira apresenta o desenvolvimento do
exploração de petróleo e gás natural nas Programa Nuclear da Marinha (PNM), a
camadas do Pré-sal, como nas bacias de Santos quarta parte apresenta o PROSUB e a parceria
e Campos, vem se tornando produto de cobiça Brasil-França e a logística envolvida no
internacional, podendo afetar a soberania do projeto e, a quinta parte refere-se à preparação
nosso país. e à qualificação de pessoal e aborda, de forma
Nesse contexto da Amazônia Azul, o papel sucinta, outros projetos de reaparelhamento
de proteção e manutenção da soberania do dos meios operativos da MB.
Brasil, perante a esse grande patrimônio,
é desempenhado pela Marinha do Brasil 2 A MARINHA E O SUBMARINO NU-
(MB), que aplica o Poder Naval, garantindo CLEAR
os interesses do Estado no mar. Para realizar
tal missão, a MB se empenha numa busca A Marinha do Brasil quer colocar o
incessante de aquisição e fabricação de novos Brasil num novo patamar militar, científico

Periscópio 61
CIÊNCIA
E TECNOLOGIA

e tecnológico, lançando mão do submarino Redoutable (S611) pela França e o Changzheng


nuclear brasileiro. 1 (401) pela China em 1970.
Em 1960, o submarino americano SSN
2.1 Breve Histórico Triton (11.000 toneladas e 140 metros de
comprimento) que fora lançado em 1959
Em 1955, a Marinha Americana lançava completou a primeira circum-navegação
e comissionava o USS Nautilus, o primeiro submersa. Navegando a uma velocidade média
submarino nuclear, com 3.500 toneladas e de 18 nós, o SSN Triton percorreu um total de
98 metros de comprimento. Após idealizar o 26.723 MN em dois meses.
projeto, o Almirante Hyman George Rickover Em 1961, a Marinha Americana
da Marinha Americana liderou o projeto da comissionava o SSN Ethan Allen (7.000
construção do USS Nautilus. Em 1960, já se toneladas e 125 metros de comprimento) que
comprovava o desempenho do Nautilus com era o primeiro submarino nuclear construído
a marca de 175.000 milhas náuticas (MN) com a finalidade de receber e lançar, estando
navegadas e, mais tarde em 1966, alcançava a submerso, mísseis balísticos, os mísseis
marca de 300.000 MN. SLBM1 Polaris. Pouco tempo depois, a
URSS também alcançaria a tecnologia dos
O primeiro submarino nuclear do submarinos nucleares com mísseis balísticos,
mundo, “USS Nautilus”, lançado em deixando ambos os países em uma situação
1955, representou a transição entre de instabilidade político estratégica por causa
os submarinos lentos e os capazes do poder destrutivo que ambas as nações
de manter velocidades de 20 a 25 possuíam durante a Guerra Fria.
nós por semanas, amplificando
exponencialmente a sua discrição e O armamento nuclear embarcado
gerando, desta forma, uma grande em submarinos dava a possibilidade
mudança na doutrina de emprego de de um ataque nuclear surpresa, pela
submarinos, assim como mudanças característica da ocultação da arma
radicais nos procedimentos de guerra submarina. Os submarinos de ambos
antissubmarino. A grande discrição os partidos viviam num constante
dos “Nucleares” amplificou de forma jogo de gato e rato, procurando
exponencial a principal característica detectar e acompanhar, quase sempre
de um submarino, a ocultação. muito de perto, uns aos outros. Afora
(MARTINS, 2012. p. 34) a postura de atacar a qualquer indício
de atitude hostil, a proximidade
Além dos EUA, outras nações começaram física dos submarinos possivelmente
a desenvolver submarinos com propulsão gerou choques. Todos os incidentes
nuclear durante a Guerra Fria, como a URSS sugeridos por um partido foram
que lançou o K-3 Leminski Komsomol da classe
November em 1958, o HMS Dreadnought
1 A sigla SLBM significa mísseis balísticos lançados de
(S101) pelo Reino Unido em 1960, o submarino (em inglês: Submarine-Launched Ballistic
Missile)

62 Periscópio
negados categoricamente pelo rival. reator elaborado pelo Laboratório Nacional de
A Guerra Fria, para os submarinistas, Argonne, nos EUA.
sem dúvida, foi muito quente. Vale destacar que foi proposto pelos
(LOBO, 2014, 101) EUA o programa “Átomos para a Paz” e
alinhados com o programa, Brasil e Alemanha
Em meio ao grande desenvolvimento das assinaram o Acordo de Cooperação para o
grandes nações durante a Guerra Fria, o Brasil Desenvolvimento da Energia Atômica com
sabia que o submarino nuclear era um excelente Finalidades Pacíficas em 1955. Este acordo
meio para a segurança de nossas águas, mas previa a compra de reatores de pesquisas
para isso acontecer, o Brasil sabia que deveria baseados na utilização do urânio enriquecido.
dominar a tecnologia nuclear primeiro. Por um lado, havia aqueles que defendiam a
importação da tecnologia americana, mas do
2.2 Programa Nuclear Brasileiro (PNB) outro lado, existiam aqueles que almejavam
o desenvolvimento da tecnologia nacional,
Em 1947, o Almirante Álvaro Alberto da utilizando urânio natural ou tório. Com este
Mota e Silva escreveu a primeira política a ser desenvolvimento, achava-se que era a única
aprovada pelo Conselho de Segurança Nacional forma para o desenvolvimento de uma política
(CSN), sendo indicado para a presidência do científica propriamente nacional.
Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq), Durante o governo dos militares, iniciado
com o início da implementação do seu plano em 1964, foi estabelecida uma política nuclear
em 1951. Durante a presidência do Almirante tendo como base obtenção de usinas nucleares,
Álvaro Alberto, um dos objetivos do CNPq para a geração de energia elétrica e a criação
era estimular pesquisas sobre recursos minerais de complexos industriais nucleares autônomos
relevantes e expandir a industrialização da brasileiros. De acordo com a política, o Brasil
energia nuclear. iria adquirir todas as tecnologias necessárias
Durante o final da década de 50, para o domínio do ciclo do combustível
alguns entraves com acordos nacionais e nuclear num longo prazo. Em 1968, o governo
internacionais, orçamentos limitados e criou o “Conceito Estratégico Nacional”,
instabilidades políticas causavam atrasos nas utilizando como argumento que o meio para
pesquisas. Por causa disso, foi criada a Comissão a superação da posição periférica do Brasil em
Nacional de Energia Nuclear (CNEN) no relação ao cenário internacional seria através
início do governo de Juscelino Kubitschek, da tecnologia nuclear.
sob supervisão presidencial, mas em estreita Em 1973 tivemos a crise do petróleo e a
colaboração com a política norte-americana. expansão do mercado internacional de reatores
Em 1962, terminava a construção do primeiro e, em 1974, a decisão dos EUA em suspender
reator de pesquisa feito no país chamado de o fornecimento de urânio enriquecido para
Argonauta, localizado no Instituto de Energia as novas usinas. Em 1978, o Brasil procurava
Nuclear (IEN), na cidade do Rio de Janeiro; outro parceiro para obter a tecnologia nuclear.
porém, só entrou em funcionamento em 1965. Neste período, o presidente Geisel visitava a
O reator Argonauta foi uma adaptação de um Alemanha para acertar o acordo que previa

Periscópio 63
CIÊNCIA
E TECNOLOGIA

a construção de centrais nucleares no país, as o início, em 1979, uma grande


quais seriam responsáveis no desenvolvimento capacidade de mobilização e
das etapas do ciclo de produção de energia estímulo dos setores de Ciência
elétrica. Por causa do Acordo Nuclear e Tecnologia. São inúmeras
Brasil-Alemanha, o Brasil se comprometeu as parcerias estabelecidas com
a desenvolver um programa de construção universidades, centros de pesquisa
de oito grandes reatores nucleares para a e desenvolvimento, indústrias e
geração de eletricidade, implantação de uma empresas projetistas de engenharia.
indústria teuto-brasileira para a fabricação de (LEME; SILVA, 2010, 28)
componentes e de combustível por 15 anos. O
acordo ainda contaria com a empresa alemã O Centro Tecnológico da Marinha em
Kraftwerk Union (KWU). São Paulo (CTMSP), dentro do complexo
Das oito centrais previstas no acordo, apenas da Universidade de São Paulo (USP), agrupa
duas foram construídas. A partir dos fatos e importantes centros de pesquisas e projetos.
resultados, os militares brasileiros iniciaram o Além disso, o CTMSP possui também as
desenvolvimento de um programa nuclear de instalações do Centro Experimental Aramar
tecnologia nacional para enriquecimento de (CEA), na cidade de Iperó.
urânio. Este novo programa iniciou-se em 1979. O Programa Nuclear da Marinha está
decomposto em dois segmentos para o seu
2.3 Programa Nuclear da Marinha (PNM) desenvolvimento: a plena capacidade de
dominação do ciclo do combustível nuclear,
O Programa Nuclear da Marinha teve e o desenvolvimento e a construção do
início no ano de 1979. Este programa tem Laboratório de Geração de Energia Núcleo-
como objetivo o desenvolvimento da propulsão Elétrica (LABGENE), que inclui a construção
do submarino nuclear e o domínio do ciclo do reator nuclear.
combustível nuclear. O PNM é apoiado pelo A Marinha do Brasil já domina todo o ciclo
Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares para a produção do combustível de reatores
(IPEN) e pela CNEN de São Paulo. O objetivo de pesquisas de pequeno porte. O início dos
do programa é assegurar ao país o domínio estudos para o domínio de tal tecnologia já
total do ciclo do combustível nuclear, através ocorria nos anos 70; tal domínio é considerado
do uso de tecnologias nacionais. O PNM faz o principal desafio tecnológico. Os avanços
parte do Programa Nuclear Paralelo que foi nesta área foram gradativos e a MB contribui
desenvolvido pela Marinha do Brasil (MB), para proporcionar a produção do combustível
pelo Exército Brasileiro (EB) e pela Força nuclear utilizado pelas usinas de Angra I e
Aérea Brasileira (FAB); porém, somente a II pelas Indústrias Nucleares do Brasil S.A..
MB teve condições de realizar atividades em Houve ainda, a inauguração do primeiro
escala industrial. módulo da Unidade Piloto de Hexafluoreto de
Urânio (USEXA), utilizado para a produção
O Programa Nuclear da Marinha de combustível em escala de demonstração
(PNM) vem demonstrando, desde industrial.

64 Periscópio
O ciclo do combustível possui um longo enriquecimento de urânio brasileiro é realizado
trajeto até chegar ao reator. Primeiro ocorre o a partir do processo de ultracentrífugas
processo de prospecção, no qual se extrai da magnéticas, as quais separam o U235 do U238 que
natureza os minérios que possuem o urânio. estão na forma de hexafluoreto de urânio. Este
Após isso, o urânio é separado pelo processo mecanismo é realizado por diversas vezes e
de lixiviação, na forma de minério de é chamado de processo cascata. Através deste
concentrado de urânio (U3O8) ou Yellow Cake, processo, o nível de U235 passa de 0,7 % para
como normalmente é conhecido. A próxima valores superiores a 4% de enriquecimento.
etapa é a transformação do minério, na forma Os órgãos internacionais realizam inspeções
sólida, em hexafluoreto de urânio (UF6) na quanto ao nível de enriquecimento para saber
forma gasosa. A próxima etapa do processo é qual é o fim destinado àquela massa de urânio.
onde está a atenção dos órgãos internacionais Lembrando que o enriquecimento a uma taxa
reguladores de tecnologia nuclear. superior a 93% serve para a produção de
Para o entendimento deste processo, alguns artefatos bélicos explosivos.
pontos devem ser colocados. O primeiro Após o enriquecimento, este produto passa
ponto são os isótopos do urânio encontrados por diversas técnicas industriais até chegar
na natureza. Eles podem ser encontrados na às pastilhas de urânio que são utilizadas nos
forma de U234, numa taxa desprezível para reatores. A pastilha é de forma cilíndrica e o
efeitos práticos, o U235 (0,7 % na natureza) e tamanho das pastilhas é, aproximadamente, de
U238 (99,3 % na natureza). O urânio utilizado um centímetro de raio por um de altura. Mesmo
como combustível de reator nuclear é o U235 sendo pequena, a pastilha pode produzir uma
e, por conta disto, se realiza o processo de grande quantidade de energia. Pode ser vista a
enriquecimento de urânio. O processo de comparação das energias na Figura 2.

Figura 2: Comparação da energia nuclear com outras fontes de energia.

Periscópio 65
CIÊNCIA
E TECNOLOGIA

O outro segmento do PNM é o brasileiro. Além disso, ele produz tecnologias


LABGENE. Este laboratório tem a finalidade que possam ser empregadas em outros meios
de alcançar a capacidade técnica de projetar, navais. Todos os sistemas que se operam
operar, e manter reatores do tipo Reatores em um submarino estão sendo estudados e
de Água Pressurizada (do inglês Pressurized analisados no CEA para que se alcance o novo
Water Reactor – PWR). Tais reatores serão patamar na MB: o submarino nuclear.
empregados nos submarinos de propulsão
nuclear brasileiro (SN-BR). O prédio do 2.4 O Programa de Desenvolvimento do Sub-
LABGENE, que ainda está em construção, marino Nuclear (PROSUB)
será um complexo de 11 prédios principais,
entre eles o Prédio do Reator e o Prédio das O domínio da tecnologia de construção
Turbinas que serão empregadas na propulsão de submarinos veio através do conhecimento
do SN-BR. Pode-se destacar que a tecnologia obtido com a construção dos submarinos
gerada no LABGENE poderá ser utilizada projetados a partir do modelo alemão IKL-
também pra geração de eletricidade após o 209. Com este modelo, foram construídos
domínio total da tecnologia. quatro submarinos (Tamoio, Timbira, Tapajó
O CTMSP possui muitos laboratórios e Tikuna) no Arsenal de Marinha do Rio de
que desenvolvem projetos em diversas áreas Janeiro. Este conhecimento deixa o Brasil em
para a aplicação da indústria naval, como um nível mais elevado, visto que poucas nações
o desenvolvimento de bombas a vácuo, conseguem construir um submarino.
conversores estáticos, giroscópios, sistemas de Mesmo com o know-how e a competência
controles de máquinas navais, entre outros. O para construir um submarino, a construção da
centro conta também com uma quantidade planta nuclear de um submarino ainda seria
grande de engenheiros das diversas áreas e de um grande salto no conhecimento do país.
apoio mútuo com a USP. Por isso, o Brasil buscou parceria com outras
nações para alcançar essa meta.
A tecnologia nuclear é tratada entre
os países como um assunto sensível Na atualidade, somente Rússia e
e muito restrito, e, portanto, o França desenvolvem e produzem,
conhecimento não é compartilhado. simultaneamente, ambos os tipos
O domínio dessa tecnologia permite de submarinos, (...). Esses países
ao Brasil dispor de uma alternativa detêm comprovada capacidade
energética, profissional e técnica, de desenvolver submarinos de
atender ao consumo interno ou para propulsão nuclear e dispõem, cada
relacionamento internacional, bem um, de projeto de um submarino
como expandir o relacionamento convencional com potencial para a
com as Nações que dominam essa indispensável transição a ser feita
tecnologia. (ÁREA, 2014,13) entre os projetos de submarinos
convencionais e nucleares, do lado
O Centro Tecnológico desenvolve toda russo, o Amur 1650 e do lado, francês
a parte da propulsão do submarino nuclear o Scorpène. (HECHT, 2012, p.14)

66 Periscópio
A MB buscava um projeto de submarino No final de 2008, os presidentes do
que pudesse adaptar ao reator nuclear que já Brasil e da França estabeleceram a parceria
estava em desenvolvimento no CTMSP. Mas, estratégica, envolvendo acordos políticos,
também buscava algum projeto que dispusesse técnicos e comerciais. O PROSUB faz parte
da aquisição do conhecimento tecnológico do destes acordos técnico-comerciais. Dentre os
projeto, e não só a construção em si. Como já consórcios estabelecidos, destaca-se a então
colocado acima, a Rússia e a França possuíam empresa francesa Direction des Constructions
projetos que atendiam aos objetivos brasileiros, Navales Services (DCNS), hoje Naval Group.
mas a Rússia não se dispôs a transferir a A Naval Group criou a Escola de Projeto de
tecnologia dos seus submarinos. Além disso, Submarinos (École de conception des sousmarins),
não havia nenhum país que fosse cliente em Lorient, na França, que foi inaugurada em
da Rússia ou que estivesse em negociação. 2010. Ela possui como objetivo a transferência
Diferentemente, a França possui metodologias de tecnologia em projeto de submarinos.
mais usuais e de melhor compreensão de A construção do SN-BR (Figura 3) teve seu
técnicos e engenheiros, e já exportou o seu início em 2016 em Itaguaí, com prognóstico de
produto para Chile, Índia e Malásia. término para 2025. A construção da propulsão
A partir do momento que tinha sido é de responsabilidade do CTMSP que tem
definida a parceria com a França, foi criada como meta finalizá-la em 2018, ocorrendo
a Coordenadoria-Geral do Programa de após isso a instalação e a integração aos
Desenvolvimento de Submarino com Propulsão sistemas dos submarinos. Já a parte do casco
Nuclear (COGESN) subordinada à Diretoria- do submarino ficou a cargo da Nuclebrás
Geral de Material da Marinha (DGMM). A Equipamentos Pesados (NUCLEP), empresa
COGESN é responsável pelo gerenciamento que participou da elaboração dos cascos dos
do projeto e da construção da Base Naval em submarinos da classe Tupi, no passado. Para
Itaguaí com a finalidade de fazer a manutenção isso, foi criada a Unidade de Fabricação de
e de construir os submarinos - por meio da Estruturas Metálicas (UFEM) em 2013. Na
Gerência de Empreendimento Modular 18 UFEM, ocorrerá a fabricação das chapas
(EM-18), pela administração do projeto e da metálicas e das seções que irão compor o
fabricação do SN-BR - por meio da Gerência SN-BR, além da produção e instalação dos
de Empreendimento Modular 19 (EM-19). conveses, tubulações e anteparas.

Periscópio 67
CIÊNCIA
E TECNOLOGIA

Figura 3: Submarino Nuclear Brasileiro.


O projeto do reator nuclear do SN-BR diretamente para o eixo. Este trabalho será
utilizará o tipo Reator de Água Pressurizada utilizado para acionar o gerador elétrico que
(PWR), por ser o mesmo modelo utilizado alimentará o motor elétrico da propulsão e
na maioria das plantas nucleares pelo mundo, carregará as baterias auxiliares. Este motor
inclusive nas usinas de Angra I e II. O sistema elétrico principal (MEP) será responsável pela
da propulsão tem o mesmo princípio de uma propulsão propriamente dita.
propulsão a vapor e o reator nuclear, por Vale lembrar que o Submarino Nuclear
analogia, faria a mesma função da caldeira. A Brasileiro será um submarino nuclear de
planta do submarino nuclear terá dois circuitos ataque, e não um submarino com mísseis
de vapor (Figura 4). O primeiro, onde ficará o balísticos de ogivas nucleares, pois o Brasil
reator nuclear, será a fonte térmica para aquecer assinou o Acordo de Cooperação para o
a água que passará pelo gerador de vapor. O calor Desenvolvimento da Energia Atômica com
da água do circuito primário que passa pelo Finalidades Pacíficas em 1955.
gerador de vapor aquecerá a água do circuito Além dos submarinos nucleares, a Marinha
secundário. A água do circuito secundário será do Brasil construirá, primeiramente, quatro
a utilizada na propulsão a vapor propriamente submarinos convencionais do tipo diesel-
dita, passando pela turbina onde será obtido elétrico para dominar a tecnologia da classe
o trabalho, depois pelo condensador e pela Scorpène. Os submarinos convencionais do
bomba alimentadora como em uma instalação PROSUB não são abordados, com detalhes,
a vapor. O trabalho obtido na turbina não irá neste trabalho.

68 Periscópio
Figura 4: Planta da propulsão do SN-BR.

Os submarinos em si, já desenvolvem físsil (combustível do reator) a cada


velocidades um pouco maiores do que navios 30 anos, assim como em alguns
de superfície visto que as resistências aplicadas submarinos americanos da classe “Los
são menores. Na teoria da Mecânica do Navio, Angeles”. (MARTINS, 2012, p.34)
disciplina ministrada na Escola Naval, os
submarinos não geram resistência de formação Os submarinos nucleares, que são
de ondas, somente resistência de atrito e forma. abastecidos com a troca das varetas do reator a
Mas, e se compararmos o submarino cada 30 anos, podem navegar com velocidades
convencional com o nuclear? A melhor resposta entre 20 a 30 nós, podendo chegar a percorrer
que se pode obter para esta comparação 5.256.000 MN. Uma distância desta equivale
é: autonomia. A autonomia do submarino ao mesmo que percorrer o litoral brasileiro
nuclear é muito maior do que o convencional. 1.278 vezes. Outra comparação que pode
A grande autonomia do submarino nuclear ser feita, seria definir quanto tempo que um
acentua a discrição do submarino, pois ele submarino levaria para percorrer toda a costa
pode permanecer grandes períodos submersos. brasileira. Segundo Martins (2012, p.35),
enquanto que um submarino convencional
Algumas classes de submarinos, levaria, aproximadamente, 28 dias para navegar
como os da classe “Rubis” da França, do Oiapoque ao Chuí, um submarino nuclear
são equipados com reatores que atravessaria essa distância em sete dias, sem
necessitam da substituição do material precisar vir à cota periscópica.

Periscópio 69
CIÊNCIA
E TECNOLOGIA

2.5 Preparação e Qualificação de Pessoal projeto do submarino nuclear terá uma demanda
de aproximadamente 500 profissionais, entre
A MB tem se empenhado para preparar e engenheiros, técnicos e administradores. Com
qualificar seu pessoal com a chegada dessa nova isso, o PROSUB mobilizará a estrutura da
tecnologia. A necessidade de conhecimento COGESN com apoio do CTMSP.
que um submarino de propulsão nuclear exigirá
de sua tripulação é algo que tem caminhado a 2.6 Outros Programas Estratégicos da Marinha
passos largos, assim como o projeto em si.
Estes submarinos, convencionais e nucleares,
É importante projetar um integrarão os meios navais que serão construídos
equipamento que nunca vai falhar, e com o Projeto Estratégico “Construção do
é igualmente impossível desenvolver Núcleo do Poder Naval”, que envolve mais cinco
procedimentos que cobrirão todas projetos além do PROSUB, que são: Programa
as contingências. O mais lógico é de Construção de Corvetas Classe “Barroso”,
treinar o operador para que ele tenha Programa de Obtenção de Navios-Patrulha de
um entendimento da planta e de suas 500 toneladas, Programa de Obtenção de Meios
capacidades. (RICKOVER2 Apud de Superfície (PROSUPER), Programa de
LIMA, 2012, p.113) Obtenção de Navios-Aeródromos (PRONAe)
e Programa de Obtenção de Navios-Anfíbios
Na parceria entre Brasil e França, foi criado (PRONAnf ).
em Paris o Escritório Técnico do PROSUB
(ET-PROSUB), nas instalações da Marinha A condução do Projeto permitirá
Nacional da França, que administra as a geração de milhares de empregos
atividades desenvolvidas pelo projeto, bem diretos e indiretos; a capacitação
como presta apoio a todo o pessoal envolvido, e o aprimoramento de mão de
entre civis, militares, engenheiros e técnicos. obra nacional; fomentando a Base
A transferência de tecnologia dos Sistemas de Industrial de Defesa, num esforço,
Combate e Sonar está ocorrendo nas cidades sem precedentes, na história do
de Toulon e Sophia Antipolis. Além disso, Brasil. Tais iniciativas contribuirão
engenheiros e técnicos também trabalham na para o aumento do poder de dissuasão
transferência de tecnologia para construção do e para a proteção e preservação
submarino nuclear na cidade de Cherbourg. dos interesses nacionais nas Águas
Nas instalações da NUCLEP em Itaguaí, Jurisdicionais Brasileiras (AJB).
engenheiros e técnicos fazem parte do processo (CONSTRUIR, 2014, p.19)
que transfere a tecnologia de construção de
submarinos. Estes projetos, em conjunto com o
De acordo com dados da Naval Group, o PROSUB, servirão para garantir a soberania
nacional no mar e a salvaguarda de nossas riquezas.
A necessidade de reaparelhamento de nossos
2 DUNCAN, Francis. Rickover and the Nuclear Navy: The
Discipline of Technology. Naval Institute Press. Annapolis, meios sempre será uma necessidade da MB.
Maryland: 1990.

70 Periscópio
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS CORRÊA, Fernanda das Graças. Projeto
do submarino nuclear brasileiro: ciência,
Um submarino nuclear tem um grande tecnologia, cerceamento e soberania nacional.
poder de dissuasão pelo seu alto grau de Revista Marítima Brasileira, Rio de Janeiro, v.
discrição e autonomia. A autonomia da energia 132, n. 07/09, p. 11-15, jul/set 2012.
nuclear permite que o submarino patrulhe
grandes extensões oceânicas. CORRÊA,Fernanda das Graças.O Submarino
O PROSUB é um marco dentro da Marinha de propulsão nuclear e a estratégia nacional.
do Brasil. Tal projeto arrasta consigo um grande Disponível em <http://www.unicamp.br/nee/
acúmulo de conhecimento e de técnicas de epremissas/pdfs/3/submarino.pdf>. Acesso
grande valia para a MB, como o domínio do em: 27 jul 2015.
ciclo do urânio e o LABGENE. Estas duas
últimas citadas são as que dão credibilidade para COSTA, Célia Maria Leite Costa. Acordo
a MB, e em um futuro próximo, essa tecnologia Nuclear Brasil-Alemanha. Disponível em
refletirá em todo Brasil. <https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/
Desde muito tempo atrás, pessoas como FatosImagens/AcordoNuclear> . Acesso em:
o Almirante Álvaro Alberto e Almirante 23 ago 2015.
Rickover sabiam que o progresso e o
crescimento só viriam com o conhecimento. ENTREVISTA: Amazônia Azul. Grupo
As pesquisas já foram realizadas e, até aqui, Editorial Record. Disponível em <http://
têm demonstrado o quanto a MB é uma www.record.com.br/autor_entrevista.asp?id_
instituição que se preocupa em se modernizar autor=4714&id_entrevista=145>. Acesso em
e em trazer progresso para o país. : 28 jul 2015.
Com a chegada do submarino nuclear, a
Marinha do Brasil alcançará um novo patamar FRAGELLI, José Alberto Accioly. O primeiro
para garantir os interesses do Brasil no mar, submarino de propulsão nuclear brasileiro.
tornando o Brasil uma nação cada vez mais Revista Marítima Brasileira, Rio de Janeiro, v.
soberana e preparada. 132, n. 07/09, p. 17-18, jul/set 2012.

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Periscópio 71
CIÊNCIA
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72 Periscópio
DO “TYPE XXI” AO “IKL-206” –
A ORIGEM DO “IKL-209”

Primeiro-Tenente Diego de Oliveira Bizarro


Primeiro-Tenente Alan da Costa Franqueira

1 INTRODUÇÃO de influência: República Federal da


Alemanha (influência ocidental) e República
As soluções de engenharia empregadas nos Democrática Alemã (influência da ex-URSS).
submarinos IKL-209, operados pela Marinha Em 9 de maio de 1955, a República
do Brasil atualmente, remontam os idos da 2ª Federal da Alemanha se tornou o décimo
Guerra Mundial, particularmente os últimos quinto membro da Organização do Tratado
e mais avançados modelos utilizados pela do Atlântico Norte, iniciando a corrida
Marinha Alemã. A evolução tecnológica foi armamentista com seus aliados do Oeste. Face
notável, mesmo com as dificuldades inerentes a isto viu-se a necessidade de uma recriação e
ao cenário de destruição do pós-guerra. reformulação de suas Forças Armadas.
Os Type XXI e XXIII, após reflutuados Durante o início da ocupação, as Forças
do fundo do Mar Báltico na década de 50, Armadas britânicas e americanas demoliram
deram início ao projeto da Classe 201, que fábricas, guindastes, bases e grande parte do
foi aprimorado no decorrer do tempo com a que restou da infraestrutura militar alemã.
introdução de novas tecnologias e correções de Tendo em vista as restrições impostas à
erros, chegando à bem-sucedida Classe 206 – Alemanha após o fim da 2ª Guerra Mundial,
o “DNA” do Classe 209. este país só poderia ter uma Marinha restrita
à sua defesa. O Governo Federal Alemão
2 FIM DA 2ª GUERRA MUNDIAL então concordou que seus novos submarinos
não ultrapassariam 350ton de deslocamento,
Passadas três semanas da assinatura da tamanho este julgado adequado para atender
rendição alemã, o governo remanescente à segurança de sua costa.
foi preso pelo exército britânico. O país foi Com isso, a Marinha Alemã consultou seus
divido em quatro zonas militares de ocupação, registros antigos e constatou embarcações
controladas por Estados Unidos, Inglaterra, naufragadas em águas rasas do pós-guerra.
Rússia e França. Era então a Guerra Fria, que Foram procuradas aquelas que estivessem em
dividiu a Alemanha em duas áreas geográficas condições mais razoáveis e de fácil acesso.

Periscópio 73
HISTÓRICO

Então, foi decidido o resgate de dois submarinos geração de U-Boats ocorreu em 1955. Os
pequenos, Type XXIII e um maior, Type XXI. engenheiros Ulrich Gabler e Christoph
Esta última embarcação possuía entre de Aschmoneit, remanescentes dos projetos de
1621 e 2100ton e não estava de acordo com a desenvolvimento de submarinos anteriores à
tonelagem limitada de 350ton. Este problema guerra, foram convidados para colaborar na
foi resolvido usando o Type XXI apenas para construção da classe 201. Eles conduziram o
abrigar a tripulação e somente com propósitos desenvolvimento desta nova classe que entrou
experimentais ou de pesquisa. A preferência em produção em 1959, produzindo-se três
pelo maior se devia ao fato de que os pequenos unidades, sendo a primeira comissionada em
Type XXIII, dificilmente, acomodavam uma 1962.
tripulação e, adicionalmente, uma equipe O principal propósito desses submarinos
técnica para comissões no mar. era de esclarecimento e de defesa nas áreas
Os 3 submarinos foram levados para Kiel de atuação no Mar do Norte, tendo como
(Alemanha) para serem remontados pela então prioridade alvos de superfície em detrimento
Howaldtswerke (precursora da HDW). O a alvos submarinos. Já o propósito secundário
primeiro,U-Hai (U-Tubarão),foi comissionado era ser capaz de carregar minas e operar em
em 15 de agosto de 1957. O segundo, U-Hecht águas rasas.
(U-Lança), em 1º de outubro. Já o terceiro e Esses submarinos, por serem pequenos, não
maior, U-Wal (U-Baleia), tornou-se operativo tinham capacidade de transportar torpedos
em 1º de setembro de 1960 (Showell, 2006). em seu interior. Os 8 tubos deveriam ser
Posteriormente, este último foi rebatizado de carregados por fora. Além disso, possuíam
Wilhelm Bauer, em homenagem ao primeiro um casco não magnético, um novo projeto
submarino alemão, criado em 1850. de hélice e sofisticados equipamentos ópticos
O fim do ciclo operativo do U-Hecht deu- e eletrônicos. Inovaram também com um
se em 1968, sendo decidido pela sua reciclagem sistema em que era possível conduzir as
via empresas especializadas. O U-Hai encerrou informações de rumo pelo passadiço, com
sua vida operativa em 14 de setembro de abrigo de uma antepara de vidro. Tinham
1966 de forma trágica, naufragando durante capacidade de atingir 17 nós mergulhado e
exercícios no Mar do Norte. Dos 20 tripulantes, 12 nós na superfície. De acordo com Showell
apenas um suboficial sobreviveu. Essas 19 (2006, p. 111) “Este pequeno submarino,
mortes foram as únicas de submarinistas porém, altamente manobrável e de difícil
alemães pós 2ª Guerra Mundial (Richter, detecção, provou ser eficaz o suficiente contra
2005). Desses três submarinos, somente o um inimigo que surgisse ao alcance de seus
Wilhelm Bauer permaneceu íntegro e, hoje torpedos”.
encontra-se preservado no Museu Marítimo Uma das falhas do projeto era a escassez de
em Bremerhaven. recursos de navegação no passadiço quando
transitando na superfície. A vela era muito
3 CLASSE 201 pequena, deixando o passadiço muito próximo
à linha d’água, o que mantinha o Oficial de
O primeiro passo para a criação da nova Quarto exposto às intempéries do ambiente e

74 Periscópio
tornava-o inadequado para operar em mares regiões de mares calmos. Era um submarino
agitados. O principal canal de comunicação tão compacto que sua tripulação se resumia
entre o Passadiço e o Oficial de Periscópio era a 7 homens, apenas. O ar em seu interior era
por voz, abrindo-se a escotilha. A atracação ou escasso e suas baterias não proporcionavam uma
o suspender do porto com apenas um hélice autonomia significativa. Consequentemente,
limitava a manobrabilidade, o que tornava não era possível realizar operações próximas
essencial o apoio de rebocadores. Em 1962 à costa sem esnorquear. Essa classe também
descobriu-se alguns problemas no U1 e U2 apresentou sérios problemas de corrosão em
através de inspeções de rotina, onde seus cascos seu casco antes do previsto.
não magnéticos apresentavam corrosões antes A Marinha ainda manteve dois contratos
do previsto. adicionais de desenvolvimento, mas as classes
Após a construção do U3, a OTAN 203 e 204 não foram adiante.
mudou as regras de medição de deslocamento
ao incluir o lastro no somatório total de 5 CLASSE 205/207
tonelagem, fazendo com que estes três novos
submarinos não estivessem conforme o acordo Estes submarinos foram uma evolução
internacional vigente. direta da Classe 201, sendo os dois primeiros,
Porém em 1962 ocorreu a Crise dos Mísseis U1 e U2, feitos a partir dos Classe 201
de Cuba, acirrando a disputa armamentista modernizados, com 1,80m a mais de
entre EUA e ex-URSS. Tal fato contribuiu comprimento para satisfazer a demanda
para a Marinha Alemã pudesse elevar o dos novos equipamentos. Ao todo foram
limite de tonelagem de seus submarinos construídas treze unidades, sendo duas para
para 450ton durante a construção dos 201, a Marinha Real Dinamarquesa. A Marinha
o que posteriormente serviu de base para a Norueguesa também adquiriu mais quinze
construção da Classe 205. unidades customizadas, denominadas Classe
O U3, em sua fase operativa chegou a ser Kobben ou 207 (Karr, 2014).
emprestado para a Marinha Real Norueguesa, Diferentemente dos anteriores, os 205
sendo devolvido em 1966 (Karr, 2014). possuíam o casco em formato de gota, o que
o tornava ideal para operações em águas rasas
4 CLASSE 202 no Mar Báltico. Foram equipados com novos
sensores e com motores mais modernos. O
A classe 202 surgiu com o propósito de grande avanço destes novos submarinos foi a
corrigir os erros da antecedente. Ela seria uma utilização do aço ST-52 na construção de seu
versão menor do antigo Type XXIII e chegaram casco, o que evitava os problemas de corrosão
a cogitar a construção de 40 unidades, porém dos cascos não magnéticos dos 201. A vela e
só 2, foram construídas (Richter, 2005). o passadiço também foram redimensionados,
Alguns problemas não foram corrigidos, pois esperava-se que, assim, pudessem retirar
como por exemplo a pequena dimensão da a restrição de mar que seus antecessores
vela, que obrigava a embarcação a operar em possuíam.

Periscópio 75
HISTÓRICO

6 CLASSE 206 – A SEGUNDA GERAÇÃO tinha 25 homens e era possível ter autonomia
DE SUBMARINOS de semanas no mar, necessitando de um
“snorquel” de 3 horas por dia. Segundo Showell
As pesquisas geradas com as novas (2006, p. 117): “Caso necessário, sua propulsão
embarcações, combinadas com o rápido poderia funcionar em modo econômico de
desenvolvimento de novas tecnologias, energia, permitindo ao submarino permanecer
especialmente no campo da eletrônica, mais de uma semana sem carregar as baterias”.
proporcionaram à engenharia submarina novas Adicionalmente, estes submarinos foram
oportunidades, criando uma nova geração equipados com torpedos inteligentes guiados
de U-Boats. Essa geração foi um marco no por fio, sendo possível a realimentação de
desenvolvimento de projetos e construção de informações após o disparo. Isso permitia, por
submarinos, pois incluiu o sistema de controle exemplo, o direcionamento a um determinado
de armas. alvo dentro de um grupo de navios. Outra
A classe 206 tinha o formato diferente de possibilidade era de se lançar cordões de minas
todos os modelos antes construídos. E pela em determinada área, via sistema de controle
primeira vez, o estaleiro da Howaldtswerke- interno do submarino.
Deutsche Werft (HDW), em Kiel, assumiu Posteriormente, houve modernizações
todo o processo de construção de um em doze unidades, sendo rebatizadas de
submarino, desde a concepção e projeto, aos Classe 206A; as outras seis unidades foram
testes finais de mar. descomissionadas. As modernizações incluíam:
O U13 – o primeiro, de uma série de a instalação do novo sonar STN Atlas DBQS-
dezoito da classe 206 - foi comissionado 21D juntamente a novos periscópios e a um
em 14 de abril de 1973. Seu projeto inicial novo sistema de controle de armas (LEWA); o
foi baseado nos últimos modelos do 205. sistema MAGE foi substituído e foi instalado
Nestes submarinos, os compartimentos não um sistema de navegação GPS; foram
eram mais estanques, sendo implementada a armados com os novos Torpedos DM2A1
antepara acústica entre o compartimento de “Seal”; o sistema de propulsão foi restaurado
máquinas e o de manobra. Não havia mais a inteiramente e melhorias foram feitas nos
necessidade de militares operarem os motores alojamentos da tripulação.
localmente, pois foi desenvolvido um moderno Mais tarde houve o projeto de nove
sistema de controle remoto dos motores, de unidades da Classe 208, com Propulsão
forma que o operador não ficasse mais exposto Independente de Ar (AIP), baseado no 206.
ao barulho do compartimento de máquinas. Devido a restrições tecnológicas e financeiras,
O casco voltou a ser não magnético, porém aliadas à grande eficácia dos 206 no Mar
agora era de aço inoxidável austenítico, que Báltico, a Classe 208 foi adiada para entrega
proporcionava maior resistência à corrosão e em 2000, o que nunca ocorreu (Zulu, 2013).
elasticidade perante as pressões do mar. A Colômbia, recentemente, comprou
Estas embarcações foram, à época, o menor quatro unidades descomissionadas do 206A
submarino a operar confortavelmente em para o combate costeiro ao narcotráfico. Dois
profundidades de 20 metros. Sua tripulação submarinos, chamados Intrépido (ex-U-23)

76 Periscópio
e Indomable (ex-U24), foram encomendados Richter, A. (2005). Hintergrund: Die U-Boote
para a Marinha da Colômbia em 28 de agosto der Marine seit 1955 (em alemão). Acesso
de 2012 e os outros dois (ex-U16 e ex-U18) em 19 de maio de 2017, disponível em
foram adquiridos para servirem como peças de Spiegel Onlin: http://www.spiegel.de/sptv/
reposição (United Press International, 2012). nachtclub/a-360731.html
Em 5 de dezembro de 2015, Intrépido e
Indomable entraram em serviço ativo após Showell, J. M. (2006). The U-Boat Century:
um longo reparo na Alemanha (Sistema German Submarine Warfare 1906-2006.
Informativo del Gobierno, 2015). Londres: Ghatham Publishing.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS Sistema Informativo del Gobierno. (2015).


Presidente Santos activó dos submarinos de la
A evolução dos submarinos de origem Armada Nacional. Acesso em 19 de maio de
alemã depois da 2ª Guerra Mundial é um 2017, disponível em http://wp.presidencia.
caso de notável sucesso técnico, especialmente g o v. c o / N o t i c i a s / 2 0 1 5 / D i c i e m b r e /
considerando as perdas significativas de Paginas/20151205_05-Presidente-Santos-
infraestrutura decorrentes do conflito. activo-dos-submarinos-de-la-Armada-
Do reaproveitamento de submarinos Type Nacional.aspx
XXI e XXIII ao desenvolvimento da classe
206, o aprendizado adquirido com essas United Press International. (2012). Colombia
classes, em conjunto com o desenvolvimento buys submarines in anti-drug war. Acesso
de novos equipamentos e tecnologias, aliados em 19 de maio de 2017, disponível em:
a demanda de outros países para atuação em h t t p : / / w w w. u p i . c om / B u s i n e s s _ Ne w s /
suas costas, culminou com o uso de várias Security-Industry/2012/02/27/Colombia-
soluções do 206 no projeto dos Submarinos buys-submarines-in-anti-drug-war/UPI-
da Classe IKL-209. 31111330375956/

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Zulu. (2013). Type 208. Acesso em 19 de


maio de 2017, disponível em Global Security:
Karr, H. (2014). Deutsche Uboote seit 1956 http://www.globalsecurity.org/militar y/
(em alemão). Stuttgart: Motorbuch. Fonte: world/europe/type-208.html
Wikipédia.

Periscópio 77
www.ezute.org.br
MODERNIZAÇÃO DE SUBMARINOS EM PROVEITO
DO DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO E
CIENTÍFICO

Capitão-Tenente Antônio Marcos Tallon dos Santos


Capitão-Tenente Tcharlie Geormesio Aud Gomes

1 INTRODUÇÃO utilidade militar. Ao observarmos a história do


desenvolvimento destas furtivas plataformas,
Os submarinos modernos são plataformas após a Segunda Guerra Mundial, é possível
de armas que podem se manter por longos constatar que a evolução do armamento e dos
períodos em operação com um mínimo de sensores aconteceu de maneira mais rápida do
apoio logístico. Sua operação, diferentemente que a evolução dos submarinos propriamente
dos navios de superfície, é menos dependente ditos. Para dar conta de tal descompasso,
das condições climáticas. Os submarinos a modernização tem se apresentado como
continuam sendo unidades de difícil detecção, alternativa atraente e eficaz no melhor
apesar da evolução tecnológica dos sensores aproveitamento das classes existentes, assim
e das táticas antissubmarino (ASW). Ao como para o desenvolvimento e teste de novas
contrário das forças de superfície, eles são tecnologias para os que se inserem no seleto
praticamente imunes à detecção por satélite. grupo de países capazes de projetar e construir
A despeito da grande variedade de armas submarinos.
e sensores normalmente utilizados nos Há variados casos de utilização de um
submarinos, sejam eles convencionais ou de submarino existente em sua meia vida ou
propulsão nuclear, é possível observar que no fim de seu ciclo de operação como uma
o torpedo, as minas e o periscópio sempre plataforma a ser modernizada e empregada
ocuparam papel de destaque. com uma nova tecnologia. Podemos citar três
Na atualidade, submarinos contam com projetos importantes de modernização que
sensores acústicos e eletromagnéticos de contribuíram para a adequação de submarinos,
longo alcance e também podem lançar mísseis, à demanda de desenvolvimento tecnológico:
tanto táticos quanto estratégicos - sistemas o Programa GUPPY, o projeto do submarino
que juntos ampliaram imensamente a sua William Bauer que surgiu da modernização

Periscópio 79
HISTÓRICO

de um Submarino Tipo XXI e o projeto de GUPPY IB, e GUPPY III (FRIEDMAN,


modernização dos Submarinos classe Balao, 1994). Alguns outros submarinos que passaram
convertidos como plataforma de lançamento pela fase inicial foram novamente atualizados
do míssil Regulus. em uma fase posterior.
Outro exemplo de especial interesse, neste Dentre os dois primeiros submarinos
caso visando o emprego dual, é o caso de escolhidos para conversão estava o USS Odax
um submarino russo da Classe OSCAR II (classe Tench), que depois veio para o Brasil
convertido em navio de pesquisa científica, como S 13 Rio de Janeiro. A Marinha do Brasil
esclarecimento e operações especiais. também teve dois submarinos do tipo “Guppy
III”, o Goiás (S15) e o Amazonas (S16).
2 PROJETO GUPPY Sucessivos programas foram criados (GUPPY
I, GUPPY IA, GUPPY II, GUPPY IIA,
O Projeto GUPPY (Greater Underwater GUPPY III), originando diferenças entre eles,
Propulsion Power Program) foi iniciado pela tanto externas como internas (FRIEDMAN,
Marinha americana após a Segunda Guerra 1994).
Mundial com a intenção de aumentar a Diversos GUPPY foram exportados para a
velocidade do submarino mergulhado, sua América Latina, sua transferência foi liberada
manobrabilidade e estrutura. no início da década de 1970. Sendo assim o
Partindo dos testes realizados por meio continente foi “inundado” por GUPPY. A
de engenharia reversa tendo por base os Argentina recebeu dois (sendo que um deles
submarinos alemães capturados, tipo XXI: foi afundado na Guerra das Malvinas), o Peru,
U-2513 e U-3008, o projeto desenvolveu-se três; Venezuela, dois e, Brasil sete unidades.
em quatro principais aspectos: construção de Mas, de longe, o maior usuário fora dos EUA
baterias com maior capacidade, modernização foi a Marinha da Turquia com 12 exemplares
dos sistemas de combate, melhorias no (FRIEDMAN, 1994).
perfil hidrodinâmico e adição do sistema de Turquia e Taiwan foram os últimos países
esnórquel. que operaram submarinos GUPPY. A
Em paralelo, a Marinha norte-americana Turquia deu baixa do seu último GUPPY em
focou na criação de uma nova classe. Contudo, 2002 e o mesmo voltou para os EUA, onde foi
o Escritório de Navios acreditou que a flotilha transformado em um museu. Já Taiwan insiste
de submarinos da Classe Gato, Balao e em manter seus dois GUPPY. Adquiridos em
Tench existentes poderia ser modificada para 1973, foram fornecidos somente como navios
incorporar as melhorias desejadas, criando para treinamento em guerra antissubmarino
assim, em junho de 1946, o projeto GUPPY. e, por este motivo, com os tubos de torpedos
O projeto foi implementado pelo Estaleiro soldados. Porém, sabe-se que estes foram
Naval de Portsmouth e, eventualmente, cresceu novamente ativados em 1976. Em 1999 Taiwan
em vários programas de conversão sucessivos. solicitou novos eixos para os submarinos e até
Essas atualizações levaram a sete variantes, o ano passado os dois estavam em atividade
na seguinte ordem: GUPPY I, GUPPY II, na Base Naval de Kaohsiung (FRIEDMAN,
GUPPY IA, Fleet Snorkel, GUPPY IIA, 1994).

80 Periscópio
3 U-2540 WILHELM BAUER Museum. Atualmente encontra-se atracado
em Bremerhaven, na Alemanha, na condição
O projeto do submarino Tipo XXI de navio museu, aberto à visitação pública.
é considerado de suma importância no Outro caso interessante sobre um submarino
desenvolvimento de tecnologias de submarinos que passou por modificações tecnológicas é
militares, podendo ser considerado um o USS Cusk (SS / SSG / AGSS-348), um
protótipo do submarino convencional submarino americano da classe Balao. Foi
moderno. Após terem sofrido grandes lançado em 28 de julho de 1945 pela Electric
perdas durante o primeiro semestre de 1942, Boat, Groton, Connecticut; co-patrocinado
as autoridades alemãs concluíram que os pela Sra. CS Gillette, e pela Sra. WG Reed
submarinos mais antigos Tipos VII, IXC e e comissionado em 5 fevereiro de 1946. Após
IXD, não eram compatíveis com os desafios realizar diversas missões no Mar do Caribe
impostos pela guerra. O projeto do tipo XXI e no Atlântico Norte passou por um projeto
foi a resposta à deterioração da situação e pioneiro no campo de mísseis, tendo sido
os primeiros submarinos foram lançados na equipado com um hangar de mísseis e rampa
primavera de 1944 apenas nove meses após de lançamento logo atrás de sua vela, em
a apresentação inicial dos desenhos (Busch, 1947. Sendo assim, em 20 de janeiro de 1948,
1999). Estes navios notáveis incorporaram tornou-se o primeiro submarino capaz de
um bom número de inovações, incluindo o lançar um míssil guiado de seu próprio convés.
esnórquel, que lhe permitiu operar submerso
empregando os motores diesel na cota 4 PROJETO 09852 BELGOROD
periscópica. O tipo XXI era uma arma nova
e ameaçadora que poderia ter alterado o curso Outro caso importantíssimo a ser citado é
da guerra se tivesse sido introduzida mais cedo. o projeto do Submarino Nuclear Belgorod,
Em 1957, o submarino U-2540 (Tipo XXI) outrora conhecido como “assassino de
que foi destruído no final da Segunda Guerra porta-aviões”, que foi convertido em um
Mundial, nunca tendo ido em patrulha, foi submersível científico, a ser entregue à
trazido novamente à superfície passando por uma Marinha da Rússia em 2018. O submarino
reforma estrutural e posterior modernização de inacabado despertou o interesse dos militares.
maneira a ser colocado novamente em operação. Foi decidido reconstruir o navio e convertê-lo
Mas, desta vez, com um novo propósito, ele foi em um navio-mãe para veículos subaquáticos
equipado para ser empregado como navio de tripulados e não tripulados.
pesquisa, agora com o nome de Wilhelm Bauer. O submarino inicialmente projetado para
Foi operado por equipes militares e civis para lançar misseis de cruzeiro, foi reequipado para
fins de pesquisa até 1982, servindo como base lançamento de mergulhadores, veículos não
de teste para as inovações técnicas da classe 206 tripulados e batiscafos, transportando equipes
(GRÖNER, 1991). científicas especiais. Não há caso similar ao do
Este submarino foi colocado à venda Belgorod no mundo, sendo o único exemplo de
pelo Ministério da Defesa e adquirido pelo submarino nuclear empregado em tarefas não
conselho de curadores da German Maritime militares. Segundo o chefe do projeto digital
Museum Association e o German Maritime Rússia Militar, Dmitry Kornev, o Belgorod

Periscópio 81
HISTÓRICO

pode ser utilizado para fins tanto militares FRIEDMAN, Norman. U.S. Submarines
como civis, sendo capaz de instalar cabos Since 1945: An Illustrated Design History.
submarinos ou sistemas de monitoramento London, 1994.
hidroacústico como o Garmonia. O navio
estará equipado com um sistema geofísico que GRÖNER, Erich; JUNG, Dieter; MAASS,
permite levar a cabo trabalhos de exploração Martin. German Warships 1815–1945:
na plataforma do Ártico. O sistema reduzirá U-boats and Mine Warfare Vessels. Revised
4 vezes os custos de investigação em espaços Edition. London: Conway Maritime Press,
aquáticos de difícil acesso, independentemente 1991.
das condições meteorológicas e do gelo.
Ademais, o Belgorod será capaz de construir NILSEN, Thomas. Now, Russia builds a
e de realizar manutenção de infraestrutura submarine even bigger than the Typhoon,
submarina. Disponível em: <https://thebarentsobserver.
com/en/security/2017/05/russias-new-
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS military-research-submarine-arctic-waters-
will-be-worlds-largest> Acessado em:
Conforme observado neste artigo, a 19/05/2017.
prática de utilizar meios existentes para
desenvolvimento de novas tecnologias vem POLMAR, Norman. Cold War Submarines
sendo utilizada desde o final da Segunda Guerra – The Design and Construction of U.S. and
Mundial, viabilizando avanços tanto nas Soviet Submarines. 1º Edição.Washington,
doutrinas de operação quanto nas tecnologias D.C.: Potomac Books, INC, 2004.
empregadas nos submarinos. As vantagens
evidentes que se apresentam são a redução dos SHOWELL, Jak Mallmann. The U-Boat
riscos e custos de desenvolvimento de novas Century – German Submarine Warfare 1906-
tecnologias pela utilização de plataformas 2006.
já existentes e consolidados, assim como a
ampliação da vida útil e do valor militar do SUTTON. Spy Subs – Project 09852 Belgorod.
inventário atual das forças. Disponível em: <http://www.hisutton.com/
Spy%20Subs%20-Project%2009852%20
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Belgorod.html> Acessado em: 19/05/2017.

BUSCH, Rainer; RÖLL, Hans-Joachim.


German U-boat commanders of World War
II : a biographical dictionary. Greenhill
Books, Naval Institute Press, 1999.

82 Periscópio
BREVE HISTÓRIA DA CAMPANHA DOS U-BOATS NO
ATLÂNTICO, DURANTE A 1ª GRANDE GUERRA

Primeiro-Tenente Bruce Engle Fróes

Também conhecida como “Primeira Batalha Os sucessos e os fracassos táticos da


do Atlântico” (em referência à campanha da Campanha Submarina do Atlântico seriam
Segunda Guerra Mundial de mesmo nome) usados, mais tarde, como um conjunto de táticas
foi um prolongado conflito naval entre as disponíveis na Segunda Guerra Mundial, em
Marinhas Aliadas e os submarinos alemães uma guerra submarina semelhante contra o
em águas do Atlântico — os mares ao redor Império Britânico.
das Ilhas Britânicas, mar do Norte e a costa
da França. 1 PRIMEIRAS PATRULHAS
Inicialmente, a campanha dos U-boats
foi dirigida contra a chamada Grande Frota Em 6 de agosto de 1914, dois dias depois
Britânica. Posteriormente, a ação da frota de da Grã-Bretanha declarar guerra à Alemanha,
U-boats foi estendida para incluir a ação contra os U-boats alemães U-5, U-7, U-8, U-9, U-13,
as rotas comerciais das potências aliadas. Esta U-14, U-15, U-16, U-17 e U-18 zarparam de
campanha foi altamente destrutiva, e resultou sua base em Helgoland para atacar navios de
na perda de quase metade da frota de Marinha guerra da Marinha Real Britânica no mar do
Mercante da Grã-Bretanha, durante o curso da Norte, nas primeiras patrulhas submarinas de
guerra. Para combater os submarinos alemães, guerra na história.
os aliados passaram a empregar Destroyers em Os U-Boats navegaram ao norte, na
comboios; bloqueios, tais como a barragem de esperança de encontrar esquadrões da
Dover; campos minados foram estabelecidos Marinha Real Britânica entre Shetland e
e aviões patrulhas monitoravam as bases de Bergen. Em 8 de agosto, um dos motores do
submarinos. U-9 quebrou e este foi forçado a retornar à
A campanha do submarino não foi capaz base. No mesmo dia, fora da Ilha de Fair, o
de cortar suprimentos antes que os EUA U-15 avistou os navios de guerra britânicos
entrassem na guerra em 1917 e, no final HMS Ajax, HMS Monarch e HMS Orion em
de 1918, as bases de submarinos foram manobras e disparou um torpedo no Monarch.
abandonadas, face ao avanço dos Aliados. O torpedo errou e conseguiu apenas colocar

Periscópio 83
HISTÓRICO

os navios de guerra em alerta. Ao amanhecer, retornaram a Helgoland; o U-13 estava


do dia seguinte, o Primeiro Esquadrão de desaparecido, e acreditava-se que tinha sido
Cruzeiros Leves, que foi em busca dos minado. Apesar de a operação ter sido um
Encouraçados, entrou em contato com os fracasso, causou a Marinha Real algum mal-
U-boats, com o HMS Birmingham avistando estar, refutando as estimativas anteriores sobre
o U-15, que estava na superfície. Não havia o raio de ação dos U-boats e deixando em
sinal de qualquer vigia no submarino e sons aberto a questão da desprotegida segurança
de percussão podiam ser ouvidos, como se do porto da Grande Frota, em Scapa Flow.
a tripulação estivesse realizando reparos. O Por outro lado, a facilidade com que o U-15
HMS Birmingham, imediatamente, alterou o havia sido destruído pelo HMS Birmingham
curso e abalroou U-15 logo atrás de sua vela. incentivou a falsa crença de que os submarinos
O submarino foi cortado em dois e afundou. não ofereciam um grande perigo na superfície
Em 12 de agosto, sete submarinos para os navios de guerra.

Figura 1: Mar do Norte.

84 Periscópio
2 OS PRIMEIROS SUCESSOS não veio a tempo para os navios. Weddigen
disparou um torpedo em Aboukir. Os capitães
Em 5 de setembro de 1914, o U-21, do HMS Hogue e do HMS Cressy assumiram
comandado pelo Tenente Otto Hersing fez que Aboukir tinha atingido uma mina e foram
história quando ele torpedeou o cruzador da para ajudar. O U-9 lançou dois torpedos no
Marinha Real Britânica HMS Pathfinder. HMS Hogue e depois atingiu o HMS Cressy
A munição do Cruzador explodiu e o navio com mais dois torpedos, quando o cruzador
afundou em quatro minutos, levando 259 tentava fugir. Os três cruzadores afundaram
tripulantes com ele. Foi a primeira vitória de em menos de uma hora, matando 1.460
combate do submarino moderno. marinheiros britânicos.
Os U-boats alemães obtiveram ainda Três semanas depois, em 15 de outubro,
mais sorte em 22 de setembro. Nas primeiras Weddigen também afundou o velho cruzador
horas da manhã deste dia, um vigia sobre o HMS Hawke, e os tripulantes do U-9 tornaram-
passadiço do U-9, comandado pelo Tenente se heróis nacionais. Cada um recebeu a Cruz
Otto Weddigen, avistou um navio no de Ferro de 2ª Classe, exceto o Comandante
horizonte. Weddigen ordenou o submarino Weddigen, que recebeu a Cruz de Ferro de 1ª
para mergulhar imediatamente, e o submarino Classe. Os naufrágios causaram alarde dentro
foi adiante para investigar. Aproximando-se, do Almirantado Britânico, que estava cada vez
Weddigen descobriu três velhos cruzadores mais nervoso sobre a segurança do porto de
blindados da Marinha Real, o HMS Aboukir, Scapa Flow, e a frota foi enviada aos portos
o HMS Cressy e o HMS Hogue. Esses três na Irlanda e à costa oeste da Escócia até que
navios não eram meramente antiquados, defesas adequadas fossem instaladas em Scapa
mas eram compostos principalmente por Flow. Isto, de certa forma, foi uma vitória mais
reservistas e eram, tão claramente vulneráveis, significativa do que afundar alguns velhos
que a decisão de retirada deles já havia subido cruzadores. A frota mais poderosa do mundo
pela burocracia do Almirantado. A ordem tinha sido forçada a abandonar sua base.

Figura 2: Submarino U-9.

Periscópio 85
HISTÓRICO

3 FIM DA PRIMEIRA CAMPANHA mercante britânico a ser afundado por um


submarino alemão na Primeira Guerra. Glitra,
Estas preocupações foram bem navegando de Grangemouth a Stavanger,
fundamentadas. Em 23 de novembro, o U-18 Noruega, foi parado e “inspecionado” pelo
penetrou Scapa Flow através de Hoxa Sound, U-17, sob o comando do Kapitänleutnant
seguindo um navio e adentrando o porto com Johannes Feldkirchener. A operação foi
pouca dificuldade. No entanto, a frota estava executada, em geral, em conformidade com
ausente, estando dispersa em ancoradouros na as “regras de cruzador” (a tripulação foi
costa oeste da Escócia e da Irlanda. Quando ordenada para os salva-vidas antes de o navio
o U-18 regressava para o mar aberto, seu ser afundado ao ter suas válvulas abertas). Foi
periscópio foi avistado por um barco da guarda. a primeira vez, na história, que um submarino
A traineira Dorothy Gray alterou o curso e afundou um navio mercante.
bateu no periscópio, tornando-o imprestável. Menos de uma semana depois, em 26 de
O U-18, em seguida, sofreu uma falha na outubro, o U-24 tornou-se o primeiro submarino
máquina e o submarino tornou-se incapaz a atacar um navio mercante desarmado sem
de manter a sua cota, sob risco de bater no aviso, quando este torpedeou o navio a vapor
fundo. Logo, seu Comandante foi forçado vir Almirante Ganteaume, com 2.500 refugiados
à superfície e afundou o seu comando. Exceto belgas a bordo. Embora o navio não tenha
por um tripulante, todos foram resgatados por afundado e tenha sido rebocado até Bolonha,
barcos britânicos. 40 vidas foram perdidas, principalmente
O último sucesso dos U-boats, naquele devido ao pânico. O Comandante do U-boat,
ano, ocorreu em 31 de dezembro. O U-24 Rudolf Schneider, alegou ter confundido o
avistou o encouraçado britânico HMS navio com um Transporte de Tropas.
Formidable em manobras no canal e o Em 30 de janeiro de 1915, o U-20,
torpedeou. O HMS Formidable afundou, comandado pelo Kapitänleutnant Otto
levando os 547 integrantes de sua tripulação. Dröscher, torpedeou e afundou os navios a
O Almirante Lewis Bayly foi criticado por vapor SS Ikaria, SS Tokomaru e SS Oriole,
não ter tomado as devidas precauções durante sem aviso prévio. Em seguida, em 1º de
os exercícios, mas foi inocentado da acusação fevereiro, disparou, porém errou, um torpedo
de negligência. Bayly, mais tarde, serviu com no Navio-Hospital Astúrias; apesar de ser
distinção como comandante das forças de claramente identificável como um Navio-
guerra antissubmarino em Queenstown. Hospital por sua pintura branca com faixas
verdes e cruzes vermelhas.
4 1915: INICIANDO-SE A GUERRA
4.2 Guerra submarina irrestrita
4.1 Primeiros ataques a navios mercantes
Os britânicos acreditavam, antes da guerra,
Os primeiros ataques a navios mercantes que o Reino Unido morreria de fome sem a
começaram em outubro de 1914. Em 20 de comida norte-americana. W. T. Stead escreveu,
outubro, SS Glitra tornou-se o primeiro navio em 1901, que, sem ela, “Devemos ficar cara a

86 Periscópio
cara com a fome”. Em 4 de fevereiro de 1915, mercantes por U-boat foi derrotada desta
começou a primeira campanha irrestrita contra forma. No entanto, esta resposta deu abertura
o comércio Aliado. O submarino tinha várias para o submarino atacar sem aviso. Em março
deficiências para um “corsário” de comércio; de 1915, essa tática foi usada pelo SS Bruxelas
sua baixa velocidade, mesmo na superfície, era para escapar de um ataque pelo U-33. Por isso,
escassamente mais rápida que muitos navios seu Capitão Charles Fryatt, foi executado,
mercantes, enquanto seu leve armamento era após ser capturado pelos alemães, em Junho
inadequado contra navios maiores. Usar a arma de 1916, provocando, assim, a condenação
principal do U-boat, o ataque sem aviso, usando internacional.
torpedos, significaria abandonar o cuidado Outra opção era armar navios para a
necessário para evitar prejudicar neutros. autodefesa, que, de acordo com os alemães,
No primeiro mês, 29 embarcações colocava-os fora da proteção das “Regras de
foram afundadas, totalizando 89.517 GRT Cruzador”.
(ou TAB, Tonelagem Bruta), um ritmo de Outra alternativa também, era para armar
destruição que foi mantido durante todo o e tripular “navios-armadilha”, com armas
verão. Com o aumento dos afundamentos, escondidas, os chamados Q-Ships. Uma
também aumentou o número de incidentes, variante dessa ideia foi equipar pequenas
politicamente, danosos. Em 19 de fevereiro, o embarcações com uma escolta de submarino.
U-8 torpedeou Belridge, um petroleiro neutro Em 1915, três U-Boats foram afundados por
que viajava entre dois portos neutros. Em Q-Ships e outros dois, pelos submarinos que
março, U-boats afundaram Hanna e Medeia, acompanhavam as traineiras. Ainda em Junho,
um cargueiro sueco e um cargueiro holandês; o U-40 foi afundado pelo HMS C24, enquanto
em Abril, duas embarcações gregas. atacava Taranaki, e, em Julho, o U-23 foi
Ainda em março, Falaba foi afundado, com afundado pelo C-27, enquanto engajava o
a perda de uma vida americana, e, em Abril, Princesa Louise. O U-36 foi afundado pelo
Harpalyce, um navio de socorro belga. Em Q-Ship Príncipe Charles, e, em Agosto e
7 de maio, o U-20 afundou RMS Lusitania, Setembro, U-27 e U-41 foram afundados por
causando 1.198 mortes, entre elas, 128 de Baralong, no notório incidente Baralong.
cidadãos americanos. Não havia, no entanto, meios para detectar
Estes incidentes causaram indignação entre os U-boats submersos e, ataques sobre eles
os neutros, e o escopo da campanha irrestrita limitavam-se aos esforços para danificar seus
foi diminuído, em Setembro de 1915, para periscópios com batidas e soltar bombas de
diminuir o risco dessas nações entrarem em algodão-pólvora (Nitrocelulose).
guerra contra a Alemanha.
Contramedidas britânicas foram, em 5 1916: APOIO À FROTA DE ALTO-MAR
grande parte, ineficazes. A medida defensiva
mais eficaz talvez tenha sido aconselhar Em 1916, a Marinha Alemã voltou-se
mercantes a guinar em direção ao submarino para uma estratégia de usar os submarinos
e tentar abalroá-lo, forçando-o a mergulhar. para corroer a superioridade numérica da
Mais da metade dos ataques contra navios Grande Frota Britânica, encenando uma série

Periscópio 87
HISTÓRICO

de ações destinadas a atrair a Grande Frota no entanto, foi o ponto máximo.


em uma armadilha de U-boats. Devido à Em maio, os primeiros comboios foram
baixa velocidade dos U-boats, em relação aos introduzidos e, imediatamente, bem-
meios da Grande Frota Britânica, o meio seria sucedidos. Em geral, as perdas começaram a
implementar zonas de patrulha de submarinos cair; o total de perdas de navios em comboio
e atrair a Grande Frota utilizando a Frota de caiu, drasticamente. Nos três meses após
Alto-Mar Alemã. sua introdução, sobre as rotas do Atlântico,
Várias dessas operações foram encenadas, mar do Norte e Escandinávia, de 8.894 navios
em Março e Abril de 1916, mas sem sucesso. em comboios, apenas 27 foram perdidos para
Ironicamente, a maior batalha ocorrida, a submarinos. Em comparação, 356 foram
batalha da Jutlândia, em Maio de 1916, não perdidos navegando escoteiro.
teve nenhum envolvimento dos submarinos. Como as perdas de transporte caíram,
As frotas se encontraram e engajaram, em perdas de submarino subiram. Durante o
grande parte, por acaso, e não havia patrulhas período de maio a julho de 1917, 15 submarinos
de submarino perto da zona de batalha. Uma foram destruídos nas águas ao redor da Grã-
nova série de operações, em Agosto e Outubro Bretanha, em comparação com 9, no trimestre
de 1916, foram, da mesma forma, infrutíferas, anterior e, 4 no trimestre antes da campanha
e a estratégia foi abandonada, em favor de ser renovada.
continuar a guerra de corso. Ao passo que a campanha foi tornando-se
mais intensa, também foi tornando-se mais
6 1917: A RENOVADA GUERRA “IRRES- brutal. O ano de 1917 viu uma série de ataques
TRITA” contra Navios Hospitais, que navegavam, em
geral, totalmente iluminados, para mostrar
Em 1917, a Alemanha decidiu retomar a seu status de não combatentes. Em janeiro,
plena guerra submarina irrestrita. Era de se o HMHS Rewa foi afundado pelo U-55; em
esperar que isso levaria a América à guerra, mas Março, o HMHS Gloucester Castle, pelo
os alemães apostaram que era possível derrotar U-32; e em Junho, HMHS Llandovery Castle
a Grã-Bretanha dessa forma, antes que os pelo U-86.
EUA pudessem se mobilizar. Os planejadores À medida que os U-boats tornaram-se
alemães estimaram que, se a tonelagem mais cautelosos, os encontros com Q-Ships se
afundada fosse superior a 600.000 toneladas tornaram mais intensos. Em fevereiro de 1917,
por mês, a Grã-Bretanha seria forçada a pedir o U-83 foi afundado pelo HMS Farnborough,
a paz depois de cinco ou seis meses. mas só depois de Gordon Campbell, o
Em fevereiro de 1917, submarinos Comandante do Farnborough, permitir ser
afundaram mais de 414.000 GRT, em zona torpedeado a fim de se aproximar o suficiente
de guerra, em torno da Grã-Bretanha, 80% do para engajar. Em março, Privet afundou o
total do mês; em Março eles afundaram mais U-85 em uma batalha de 40 minutos, mas
de 500.000 (90%), em Abril, mais de 600.000 afundou antes de chegar ao porto. Em Abril,
de 860.000 toneladas de arqueação bruta, o Heather foi atacado pelo U-52 e foi seriamente
mais alto total de naufrágios da guerra. Isso, danificado; o submarino escapou ileso. E,

88 Periscópio
alguns dias depois, Tulip foi afundado pelo fracassos. Os barcos de Flandres foram capazes
U-62, cujo capitão suspeitou de sua aparência. de manter o acesso ao longo do período.
Maio de 1918 viu a única tentativa dos
7 1918: O ÚLTIMO ANO alemães de reunir um grupo de ataque para
combater os comboios Aliados, o precursor da
O sistema de comboios foi eficaz em Rudeltaktik (Alcateia).
reduzir as perdas de navios Aliados, enquanto Ainda em Maio, 6 U-boats navegaram, sob
que, melhores armamentos e táticas fizeram os o Comando do Kapitänleutnant Rucker, no
escoltas serem melhor sucedidos em interceptar U-103. Em 11 de Maio, o U-86 afundou um
e atacar os U-boats. Perdas de meios nas águas dos dois navios destacados de um comboio
do Atlântico eram de 98 navios (pouco mais no Canal, mas, no dia seguinte, o Navio de
de 170.000 GRT), em janeiro. Depois de Transporte de Tropas RMS Olympic levou
um aumento, em fevereiro, as perdas caíram à destruição o U-103, enquanto o UB-72 foi
novamente, e não subiram mais que isso até o afundado pelo submarino britânico HMS D4.
fim da guerra. Mais outros dois navios em comboios foram
Em janeiro, 6 U-boats foram destruídos afundados, na semana seguinte, e três escoteiros,
nesse Teatro; esta se tornou, também, a média porém, mais de 100 navios atravessaram seguros
de perdas neste último ano da guerra. os grupos de patrulha na área.
Os Aliados continuaram tentando bloquear
o acesso através do Estreito de Dover, com a
barragem de Dover. Até novembro de 1917,
foi ineficaz; até então, só 2 submarinos haviam
sido destruídos pela força da barragem, e a
barragem em si tinha sido um ímã para os
ataques de superfície. Após a grande melhoria
no inverno de 1917, tornou-se mais eficaz; no
período de quatro meses depois de meados de
dezembro, sete submarinos foram destruídos
tentando transitar pela área, e, em fevereiro, os
navios da Frota de Alto-Mar abandonaram a
rota, em favor de navegar pelo norte, em volta
da Escócia, com uma consequente perda de
eficácia. Os barcos de Flandres ainda tentaram
usar a rota, mas continuaram a sofrer perdas
e, depois de março, mudaram suas operações
para a costa leste da Grã-Bretanha.
Outras medidas, particularmente contra
a flotilha de Flandres, foram ataques em
Zeebrugge e Ostend, uma tentativa de
bloquear o acesso ao mar. Estes foram grandes Figura 3: Capitão de Fragata Rucker.

Periscópio 89
HISTÓRICO

Durante o verão, a extensão do sistema de foram afundados por esta medida.


comboio e a eficácia dos escoltas tornaram a Em julho de 1918, o SM U-156 navegou
costa leste da Grã-Bretanha tão perigosa para para Massachusetts e participou no ataque
os submarinos quanto o Canal havia se tornado. em Orleans por cerca de uma hora. Esta foi a
Neste período, a flotilha de Flandres perdeu um primeira vez que o solo americano foi atacado
terço de seus barcos, e, no Outono, as perdas pela artilharia de uma potência estrangeira desde
foram de 40%. Em outubro, com o exército o Cerco do Fort Texas, em 1846. Foi este um dos
alemão em retirada, a flotilha de Flandres foi dois lugares na América do Norte a sofrer ataque
forçada a abandonar sua base em Bruges, antes dos Impérios Centrais. O outro lugar foi na
que esta fosse invadida. Muitos barcos foram batalha de Ambos Nogales, que, alegadamente,
afundados lá, enquanto o restante, apenas 10 foi liderada por dois espiões alemães.
barcos, retornaram à base na Alemanha. Em 11 de novembro de 1918, a 1ª Guerra
Ainda no verão, foram tomadas medidas Mundial terminou. A última tarefa do braço
para reduzir a eficácia das Flotilhas de Alto- dos U-Boats foi ajudar a sufocar o motim de
Mar. Em 1918, os aliados, especialmente os Wilhelmshaven, que estourou quando a Frota
americanos, comprometeram-se a criar uma de Alto-Mar foi ordenada para o mar para um
barragem através do mar norueguês, para ataque final, condenado. Depois do armistício,
impedir o acesso de U-boats a abordagens os U-boats restantes se juntaram à Frota de
ocidentais, pela rota do norte. Esta Alto-Mar em sinal de rendição.
imensa tarefa envolveu estabelecimento e Das 12 milhões e meia de toneladas de navios
manutenção de campos minados e patrulhas Aliados destruídos, durante a Primeira Guerra
em águas profundas ao longo de 300 milhas Mundial, mais de 8 milhões de toneladas, dois
náuticas. A barragem de minas do Mar do terços do total, foram afundadas nas águas da
Norte sofreu a colocação de mais de 70.000 zona de guerra do Atlântico. Dos 178 U-boats
minas, principalmente pela Marinha dos destruídos durante a guerra, 153 tinham sido das
Estados Unidos, durante o verão de 1918. forças do Atlântico, 77 da, muito maior, Frota de
De setembro a novembro de 1918, 6 U-boats Alto-Mar e 76 da, muito menor, força de Flandres.

Navios
Navios U-boats U-boats
Afundados
Ano Tonelagem Afundados Tonelagem Destruídos Destruídos
(Frota de
(Flandres) (FAM) (Flandres)
Alto-Mar)
1914 3 2,950 N/A N/A 5 N/A

1915 390 700,782 131 90,295 11 2

1916 350 508,745 512 604,151 7 12


Não Não
1917 2,895,983 1,607,389 29 31
resgistrado registrado
1918 435 1,044,822 327 558,760 25 31

90 Periscópio
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS McKee, Fraser M. “An Explosive Story: The
Rise and Fall of the Depth Charge”, in The
Grey, Edwyn (1972).The Killing Time: The Northern Mariner(III, #1, January 1993),
U-boat war, 1914–18. London: Seeley.ISBN0- pp.45–58.
85422-070-4.
Messimer, Dwight (2001).Find and Destroy:
Halpern, Paul (1995).A Naval History of Antisubmarine Warfare in World War I.
World War I. New York: Routledge.ISBN1- Annapolis: Naval Institute.ISBN1-55750-
85728-498-4. 447-4.

Holwitt, Joel I.”Execute Against Japan”, PhD Prendergast, Maurice; R.H. Gibson (2002).
dissertation, Ohio State University, 2005. The German Submarine War, 1914–1918.
Penzance: Periscope Publishing.ISBN1-
Kemp, Paul (1997).U-Boats Destroyed. 904381-08-1.
London: Arms and Armour.ISBN1-85409-
515-3. Tarrant, V.E. (1989).The U-Boat Offensive
1914–1945. London: Arms and Armour.
ISBN0-85368-928-8.

Periscópio 91
92 Periscópio
AULA INAUGURAL DO CAMECO
E C-ESP-MEC 2016

Contra-Almirante Carlos Eduardo Horta Arentz

Figura 1: Palestrante: Contra-Almirante Arentz.

Bom dia a todos! um comentário feito, há pouco tempo,


pelo Almirante Oscar: “Os Mergulhadores
Inicialmente, gostaria de dizer que é uma de Combate não são super-homens”.
grata satisfação e um grande privilégio ter essa Particularmente, eu me considero uma prova
oportunidade de realizar a aula inaugural do real disso. Os senhores podem perceber que
Curso de Aperfeiçoamento de Mergulhador não tenho nenhum perfil avantajado. Na época
de Combate para Oficiais e do Curso Especial do curso também não possuía nenhum preparo
de Mergulhador de Combate. físico excepcional. Mesmo assim, consegui ser
Eu vou iniciar essa apresentação destacando bem sucedido no curso.

Periscópio 93
ARTIGOS DIVERSOS

Os mergulhadores de combate, de fato, não como componentes de uma das unidades das
são seres sobrenaturais; são apenas, diferentes. Operações Especiais da nossa Marinha.
Nossa força de vontade nos direciona a Nesse sentido, destaco três aspectos do
sermos exitosos em nossas missões. O nosso conceito de Operações Especiais preconizados
maior inimigo está dentro de nós mesmos. Se na Doutrina Básica da Marinha. O primeiro
soubermos combater esse inimigo, lograremos deles é que seus componentes refletem pessoas
sucesso, não só no curso, como também em especialmente selecionadas e adestradas, tanto
outras dificuldades com as quais sejamos física quanto psicologicamente. Seleção é o
defrontados. processo que os senhores estão passando agora;
Feita esta breve introdução, quero destacar na verdade, iniciou-se há alguns meses, com
um conceito básico relacionado à questão da os exames de saúde e os testes psicológicos e
importância do mar para o nosso país. Todos físicos. Chegando ao GRUMEC, os senhores
sabemos que o Brasil comercializa com todos perceberão a ênfase dada ao adestramento.
os continentes e que o comércio marítimo é a A necessidade dessa preparação é decorrente
principal atividade que temos nas nossas relações dos ambientes e situações de risco elevado
internacionais. Cerca de 95% do comércio que também caracterizam as Operações
exterior brasileiro é conduzido por via marítima. Especiais. Um terceiro aspecto conceitual
Este aspecto denota a importância do mar e, reflete o emprego de ações e métodos não
principalmente, da relevante contribuição que convencionais que, da mesma forma, exigem
a Marinha provê nesse contexto. Outra questão preparação apropriada dos elementos de
de grande impacto estratégico está relacionada operações especiais.
ao grande quantitativo de petróleo extraído Essas características não surgiram
na área das águas jurisdicionais brasileiras – recentemente. Além de alguns registros na
praticamente 90%. antiguidade, há ações bem relevantes nas duas
Estes aspectos ressaltam a importância guerras mundiais. Mas foi, particularmente, na
que o conceito da Amazônia Azul ganhou II Guerra Mundial que ocorreram os maiores
no ambiente acadêmico e na consciência de exemplos do emprego de mergulhadores
nossa sociedade, refletindo a preocupação com de combate. Naquele conflito, foram
a necessidade de proteção das nossas riquezas identificadas, basicamente, duas vertentes
e o papel da Marinha, com seus diversos diferentes: a italiana, que priorizava as ações
meios, incluindo a contribuição relevante submersas, e a vertente norte-americana, que
do GRUMEC, sobretudo nas situações de enfatizava as operações anfíbias. Talvez o
retomada e resgate de plataformas de petróleo, ponto mais marcante dos italianos foi o ataque
eventualmente sob a ação de sequestro e, ainda, feito pelos seus mergulhadores de combate aos
compondo os destacamentos de abordagem, navios fundeados no porto de Alexandria, em
para os casos de não cooperação em ações 1941, combinando o lançamento por meio
de proteção marítima ou nas operações de de submarinos e o emprego de equipamentos
interdição marítima (MIO). de mergulho de circuito fechado. Alemães,
Os senhores estarão sendo preparados ingleses e japoneses seguiram o exemplo da
para desempenharem missões como estas, vertente italiana.

94 Periscópio
Os Estados Unidos privilegiaram o ensinamentos adquiridos, nasceu, em 1970,
apoio às operações anfíbias, realizando o a Divisão de Mergulhadores de Combate,
reconhecimento hidrográfico das praias de considerada a semente do atual Grupamento
desembarque e na destruição dos obstáculos de Mergulhadores de Combate. Poucos anos
naturais ou artificiais, ações que contribuíram depois da criação da Divisão MEC, outros
para reduzir bastante o índice de baixas nas militares foram enviados à França para cursar
operações naquela guerra. o Nageur de Combat. Adaptando o modelo
Na história recente, tivemos alguns norte-americano e o francês, foi criado o
exemplos marcantes do emprego de curso de Mergulhador de Combate na nossa
mergulhadores de combate norte-americanos, Marinha, em 1974. A evolução e importância
ingleses, argentinos e franceses nos conflitos da atividade fez com que, em 1996, o então
do Vietnã, das Malvinas, da Bósnia, do Iraque Ministro da Marinha decidisse transformar
e do Afeganistão, além de ações no Panamá, na em Aperfeiçoamento o curso de Mergulho
Nicarágua, na Nova Zelândia, dentre outros. de Combate para oficiais, tendo a primeira
Nas proximidades da Somália, por exemplo, turma se formado em 1998, ano em que o
o caso mais famoso foi o resgate do Capitão Grupamento de Mergulhadores de Combate
Philips, comandante do navio mercante foi ativado como uma organização militar.
Maersk Alabama, que fora sequestrado por Comentando especificamente um pouco
piratas marítimos somalis. Outro evento do curso e suas perspectivas, devo ressaltar que
famoso recente que envolveu os mergulhadores os senhores passarão por muitos desgastes e
de combate norte-americanos foi a captura do provações nos próximos meses. Os senhores
então líder da Al-Qaeda, Osama Bin Laden. aprenderão a lidar com os elementos mais
No Brasil, a atividade de mergulho foi internos de suas personalidades e valorizarão
iniciada em 1964, quando alguns militares da muito o trabalho em equipe. Vocês serão
MB foram enviados aos EUA e realizaram o versados em várias técnicas especiais,
curso Underwater Demolition Teams (UDT), necessárias para que componham as equipes
hoje denominado BUD-SEAL. Com os operativas do GRUMEC.

Periscópio 95
ARTIGOS DIVERSOS

Figura 2: Diver Propulsion Device (DPD).

Aqueles que obtiverem sucesso no curso vem trazendo um componente muito positivo
se dedicarão a um programa de qualificação no que diz respeito à representatividade da
operativa complementar, quais sejam: Marinha perante a sociedade, refletido por meio
paraquedismo básico, mestre de salto, salto de diversas reportagens e artigos em revistas
livre, precursor paraquedista, operações na especializadas nacionais e internacionais.
selva, montanhismo, desativação de artefatos Voltando um pouco à questão do curso,
explosivos, atirador de precisão, dentre outras ressalto que os senhores passarão por várias
técnicas. angústias e desafios durante o curso, as quais
Os adestramentos no GRUMEC também lhes trarão desconforto, dores, desânimo.
são complementados por meio de intercâmbios Muitas vezes, os senhores se depararão com
com mergulhadores de combate de outros dúvidas de suas reais capacidades para nossa
países: EUA, Espanha, França, Chile, Polônia atividade. Mas saibam que cada passo dado
e Uruguai. O GRUMEC também possui e cada dia que se passa os levam para mais
participação em operações de paz, como a perto da conclusão do curso. Ao vencer essas
Força Tarefa Marítima da UNIFIL, no Líbano. dificuldades, os senhores perceberão um dos
Outro ponto a ser destacado é que, sentimentos mais gratificantes do ser humano:
particularmente, nos últimos anos o GRUMEC acreditar na nossa capacidade de superação e

96 Periscópio
engrandecimento pessoal. essa opção de se tornarem Mergulhadores de
Portanto, dediquem-se; resistam à vontade Combate. Depende tão somente dos senhores
de pedirem pra sair. Perseverança é uma das suplantarem o inimigo interno de cada um.
chaves para o sucesso no curso e na atividade.
Desse modo, enaltecendo o lema dos Muito obrigado!
Mergulhadores de Combate, desejo que a sorte
acompanhe os audazes. Audazes os senhores já FORTUNA AUDACES SEQUITUR!
são, porque deram o primeiro passo e fizeram

Figura 3: GRUMEC

Periscópio 97
C
riada em 16 de dezembro de 1975, a NUCLEP tem como visão Com foco na área de defesa, o submarino nuclear tem como
ser empresa de referência na fabricação de equipamentos e diferencial o tempo de submersão e a velocidade que pode alcançar,
componentes pesados para atender as demandas normalmente superior aos modelos convencionais. Nesse propósito, a
estratégicas da nação, habilitada a absorver e desenvolver, NUCLEP enviou mais de 60 prossionais de inúmeros setores à França
continuamente, novas tecnologias. para entender as expertises de fabricação da Marinha francesa e
garantir mais essa excelência na construção naval brasileira.
A diversicação de sua carteira de obras permite que a
empresa atenda, não apenas ao setor nuclear, como também as áreas BENEFÍCIOS
naval, offshore e outras. Tudo isso ocupando um terreno com mais de 1 A parceria garante ao Brasil uma maior independência no
milhão de metros quadrados e, aproximadamente, 90 mil metros patrulhamento da Amazônia Azul, hoje com uma área de 4,5 milhões de
quadrados de área construída no bairro Brisamar, em Itaguaí – RJ. km², quase três vezes a área do estado do Amazonas. Através da costa
brasileira, é retirado 90% do petróleo nacional, bem como realizado 95%
Já desenvolvemos diversos projetos, como a construção dos do comércio exterior do Brasil.
cascos das Plataformas P-51 e P-56 da Petrobras; geradores de vapor
para a Usina Nuclear de Angra 1, em substituição aos inicialmente A previsão de conclusão das obras de fabricação do casco
fabricados; componentes para as Usinas Angra 2 e Angra 3 e cascos resistente do SBR-3 é setembro de 2017, totalizando um tempo de 2 anos
resistentes de submarinos para a Marinha do Brasil. e 7 meses. O trabalho demonstra o alto grau de maturidade da NUCLEP
no domínio das técnicas de construção adquiridas na transferência de
SUBMARINOS tecnologia envolvida no PROSUB.
Atualmente, a NUCLEP constrói os cascos das cincos unidades do
Programa de Desenvolvimento de Submarinos, o PROSUB, resultado de O impacto social da fabricação também é positivo, pois estima-
um acordo de colaboração e entrega de tecnologia entre Brasil e França, se que 144 mil itens, construídos por mais de 100 empresas brasileiras,
aprovado em 2008. Serão quatro submarinos convencionais diesel- farão parte dos quatros submarinos convencionais.
elétrico, dos quais já entregamos as Seções do SBR-1, SBR-2 e a
penúltima parte do SBR-3, além da fabricação do SN-BR, o primeiro
submarino brasileiro de propulsão nuclear.
PROSUB: DEFESA E SOBERANIA

Capitão de Mar e Guerra Ricardo Lindgreen de Carvalho

Para contribuir com a defesa e a soberania Construído em uma área de 750 mil
sobre as Águas Jurisdicionais Brasileiras, quilômetros quadrados, o Complexo Naval
a Marinha do Brasil tem concentrado de Itaguaí abriga a Infraestrutura Industrial
esforços no Programa de Desenvolvimento e de Apoio, composta de uma Unidade de
de Submarinos (PROSUB), que ampliará a Fabricação de Estruturas Metálicas (UFEM),
capacidade operacional da Força para proteger dois estaleiros, um de construção e outro
e preservar a nossa Amazônia Azul. de manutenção e uma base naval (EBN),
Criado em 2008, o PROSUB prevê o um complexo radiológico, duas docas secas,
projeto e a construção de uma Infraestrutura oficinas, áreas administrativas, 13 cais e um
Industrial e de Apoio à operação de elevador de navios (shiplift) — com capacidade
submarinos, a construção de quatro submarinos para suportar 8 mil toneladas, além de um
convencionais e o projeto e construção do Centro de Instrução e Adestramento para as
primeiro submarino com propulsão nuclear tripulações dos submarinos.
brasileiro.

Figura 1: Vista aérea da Área Sul da Base Naval.

Periscópio 99
ARTIGOS DIVERSOS

Figura 2: O shiplift será empregado no lançamento dos submarinos ao mar e no


recolhimento para manuntenção. Instalada em área marítima, a plataforma elevatória possui
110 m de comprimento por 20 m de largura e tem a capacidade de 8.000 t.

CONTAGEM REGRESSIVA Os quatro Submarinos Convencionais


Brasileiros (S-BR) já começaram a ser
A primeira instalação do Complexo construídos e estarão prontos até o final de
Naval de Itaguaí foi a UFEM, localizada 2022. O primeiro deles será o Riachuelo (S-
estrategicamente ao lado da NUCLEP — 40) com previsão de lançamento ao mar no
empresa estatal responsável pela produção das segundo semestre de 2018, depois virão o
seções dos cascos resistentes dos submarinos. É Humaitá (S-41) em 2020, o Tonelero (S-
na oficina principal de montagem da UFEM que 42) em 2021 e o Angostura (S-43) em 2022.
são instaladas as estruturas internas, tubulações, Por fim, a Marinha deverá lançar ao mar, em
equipamentos e sistemas no interior das seções, 2029, o primeiro Submarino com Propulsão
para posterior envio ao Estaleiro de Construção Nuclear Brasileiro (SN-BR), que será batizado
(ESC), onde os submarinos ganharão forma, de “Álvaro Alberto”, uma homenagem ao
com a união das seções, integração dos sistemas Almirante que foi o pioneiro no uso da
e lançamento ao mar. tecnologia nuclear no País.

100 Periscópio
Figura 3: Construção dos S-BR na UFEM.

Atualmente, dois submarinos se encontram e Estudos de Exequibilidade), teve início em


em processo de instalação de equipamentos e julho de 2012 e foi encerrada em julho de
sistemas na UFEM, o S-BR1 (Riachuelo) e 2013. A segunda, chamada de Fase B, Projeto
o S-BR2 (Humaitá). Com produção a todo Preliminar, teve início em agosto de 2013 e foi
vapor e cronograma em contagem regressiva, encerrada, com sucesso, em janeiro de 2017 e
o submarino Riachuelo já está em fase final. homologada pela DCNS. A conclusão desta
A programação é que no segundo semestre Fase permitirá a elaboração dos contratos
de 2017, todas as seções do S-BR1 sigam definitivos de aquisição do pacote de materiais
para o ESC. e da construção do SN-BR.
A fabricação das seções dos S-BR3 e
S-BR4 estão em andamento na NUCLEP em GANHO EM TECNOLOGIA NACIO-
diferentes estágios. O corte da primeira chapa NAL E GERAÇÃO DE EMPREGO
do S-BR3 ocorreu em janeiro de 2015 e do
S-BR4 em fevereiro de 2016, com previsão de Sustentado por três pilares: transferência
conclusão do casco resistente no final de 2017 de tecnologia, exceto na área nuclear,
e meados de 2018, respectivamente. nacionalização de equipamentos e sistemas
A primeira etapa do Processo de Projeto do e capacitação de pessoal, o Programa está
SN-BR, denominada de Fase A (Concepção viabilizando o primeiro complexo industrial

Periscópio 101
ARTIGOS DIVERSOS

e de apoio logístico dedicado a meios navais tecnologia, que garantirá ao Brasil a capacidade
com propulsão nuclear, no hemisfério sul. de projetar, construir, operar e manter seus
Um dos aspectos mais notáveis do PROSUB próprios submarinos convencionais e com
diz respeito ao arrasto tecnológico a ser vivido propulsão nuclear.
pelo País, em função da transferência de

Figura 4: Fabricação das seções do S-BR

A concretização do Programa fortalecerá, eletromecânica, química e da Indústria Naval


ainda, diversos setores da indústria nacional de Brasileira.
importância estratégica para o desenvolvimento A participação das universidades, dos
econômico do País. Priorizando a aquisição institutos de pesquisas e da indústria
de componentes fabricados no Brasil, o nacional nas atividades do Programa
PROSUB fomenta o desenvolvimento da assegura a disseminação e a multiplicação do
Base Industrial de Defesa, que engloba os conhecimento e estimula o potencial científico,
setores de eletrônica, mecânica (fina e pesada), tecnológico e intelectual do País.

102 Periscópio
DOCUMENTOS DE DEFESA E A FORÇA
DE SUBMARINOS

Capitão de Corveta Carlos Augusto de Lima

1 INTRODUÇÃO avançadas.
O Livro Branco de Defesa Nacional, de
Política Nacional de Defesa (PND), dezembro de 2010, considerado referência em
Estratégia Nacional de Defesa (END), Livro transparência no trato de assuntos de Defesa,
Branco de Defesa Nacional e Plano Brasil é um livro para os cidadãos brasileiros, com
2022. Todos estes são marcos legais que visam foco nas ações em andamento e nos desafios
a transmitir, em especial, à sociedade em vislumbrados para a Defesa do País.
geral, à Academia e aos setores empresariais, No Plano Brasil 2022, de dezembro de
a política de Estado do país no que tange à 2010, que podemos considerar um Plano de
pauta Defesa. Metas a ser atingido até o ano do bicentenário
A PND, elaborada em 2005 e revista da Independência, uma das metas é assim
em 2012, é o documento de mais alto nível descrita, com todas as letras: “lançar ao mar o
do planejamento de Defesa. Está voltada, submarino a propulsão nuclear”. É com essa
prioritariamente, contra ameaças externas e “emissão” na marcação da Marinha do Brasil
estabelece objetivos e diretrizes para o preparo (MB) que vamos tratar do “aspecto” da Força
e o emprego da capacitação nacional, em todas de Submarinos (ForSub).
as esferas do Poder Nacional, seja militar ou
civil. 2 DESENVOLVIMENTO
A END, elaborada em 2008 e revista
também em 2012, estabelece diretrizes para Após compilar o quadro tático de todos os
a adequada preparação e capacitação das documentos acima descritos e filtrar ruídos
Forças Armadas (FFAA), de forma a garantir espúrios, a solução política adotada foi o
a segurança do país em tempos de paz e em Programa de Desenvolvimento de Submarinos
situações de crise. A END trouxe para o (PROSUB), a fim de proteger o patrimônio
debate público a necessidade de equipamentos natural da Amazônia Azul e garantir a
das FFAA e de reorganização da indústria de soberania do Brasil no mar, através da expansão
defesa e o domínio nacional de tecnologias da Força Naval e do desenvolvimento da

Periscópio 103
ARTIGOS DIVERSOS

indústria de defesa, em consonância com os pedagogos, e muito mais, projetos integrados


objetivos do Estado Nacional. Ainda em 2008, a diversos outros ministérios (transporte de
era firmado um acordo com a França, para a órgãos, por exemplo), ações cívico-sociais
transferência de tecnologia, abrangendo um (ACISO), assistência médico-hospitalar em
programa de construção de quatro submarinos áreas de difícil acesso, ações de defesa civil e
convencionais (S-BR) e do primeiro submarino até mesmo, de garantia da lei e da ordem.
de propulsão nuclear (SN-BR). Apesar de a conjuntura político-econômica
Além dos cinco submarinos, o PROSUB do país causar impacto nos orçamentos
contempla a construção de um complexo de de diversas pastas, em especial na pasta do
infraestrutura industrial e de apoio à operação Ministério da Defesa, e contribuir para
dos submarinos, que engloba os Estaleiros, a necessidade de um novo planejamento
a Base Naval e a Unidade de Fabricação de de recebimento de meios, em especial
Estruturas Metálicas (UFEM), no município na reprogramação de datas de entrega e
de Itaguaí, estado do Rio de Janeiro. incorporação dos mesmos, afetando as metas
A visão de futuro da Força de Submarinos traçadas para a formação e emprego efetivo
que poderia ser assumida, em resumo, é estar de pessoal qualificado, a ForSub tem abraçado
capacitada a operar, com segurança e excelência, este desafio, com a tradicional competência
os meios do PROSUB, os quatro submarinos desta Força centenária.
Classe “Tupi” e o Submarino “Tikuna”. A atualização de datas do planejamento
No entanto, os Projetos de Defesa do Poder inicial é uma oportunidade para revisar
Nacional são diretamente dependentes do os processos em andamento e ajustar,
poder econômico do país e da necessidade de principalmente, o gerenciamento de formação
atender às diversas demandas da sociedade. de pessoal (em especial de Praças) e a
O Orçamento de Defesa será sempre capacidade de manutenção dos meios a serem
parcela correspondente do Produto Interno incorporados.
Bruto e da vontade política de comprometer Além disso, é oportunidade para reforçar e
porcentagem deste com a Defesa do país. extrair, ao máximo, o programa bilateral com a
Os documentos de Defesa dialogam com França, através de intercâmbios de Oficiais e
a sociedade e com a opinião pública, Praças, seja no processo de condução de meios
apresentando que Defesa é Pesquisa e ou de formação de pessoal, enviando militares
Desenvolvimento em diversas áreas do para aquele país ou convidando militares
conhecimento, tecnologia dual, ensino nos para participarem de nossos processos
diversos níveis de formação, programas como observadores, com a transferência de
de qualificação profissional e apoio ao conhecimento de procedimentos operativos e
esporte, especialização em diversas áreas de formação de pessoal.
do conhecimento necessárias para a gestão Os submarinistas conhecem os fatores de
do “universo militar”, segurança nos mais força da arma submarina: o fator surpresa, seu
amplos aspectos, empregabilidade de uma poder de ocultação, a necessidade de seu pré
gama de profissionais – médicos, dentistas, posicionamento tático e sua capacidade de
engenheiros, psicólogos, bibliotecários, não contribuir para a escalada de uma crise.

104 Periscópio
Recentemente, a imprensa mundial noticiou e cooperação internacionais, participação civil,
o deslocamento de navios de superfície da responsabilidade ao proteger (não criar mais
Marinha dos Estados Unidos da América em instabilidade do que aquela que está tentando
direção ao Sudeste Asiático e ao Mar da China, evitar ou limitar), confiança e respeito mútuo
gerando grande apreensão sobre um possível e liderança civil são as linhas de atuação do
conflito entre EUA e Coreia do Norte. Mas, Poder Nacional. Está claro que o objetivo é
pergunta-se: quantos submarinos já estavam contribuir para a paz mundial e não conquistar,
operando na região, sem alarde, sem percepção subjugar ou explorar.
popular mundial de crise? O Brasil decidiu por adotar uma política
Uma Força de Submarinos adestrada e estratégica dissuasória e uma estratégia
profissional, independente da conjuntura marítima de defesa de negar o uso do mar ao
de um país em desenvolvimento, tende a inimigo, deixando o oponente com o arbítrio
disponibilizar recursos de forma extremamente de lidar com Forças de Defesa de envergadura
cíclica, restritiva e não-prioritária para a compatível com as necessidades de proteção
área de defesa, face ao desempenho dos do patrimônio nacional e preservação dos
índices econômicos e à necessidade de recursos para que as futuras gerações de
atender outras demandas da sociedade. Este brasileiros possam buscar seu desenvolvimento
fator traz, inclusive, desafios diferenciados econômico-social.
para a composição permanente de uma O PROSUB contribui para além
Base Industrial de Defesa e consequente dessa capacidade. Contribui para o
autonomia, desenvolvimento e independência desenvolvimento econômico, na medida em
tecnológicos. que estimula a indústria de defesa e capacita
o parque industrial e o capital humano do
3 CONCLUSÃO país. Esta capacidade também colabora para
que o país enfrente menos resistência para
A leitura dos documentos de introdução seu desenvolvimento e progresso, em especial
deste texto confere à Defesa do Brasil uma boa o científico-tecnológico, tão sujeito a atitudes
visibilidade e céu claro perante seus cidadãos e de “não-proliferação” por parte das Grandes
a comunidade internacional. Termos do Setor Potências, fruto da política permanente de
de Defesa (e não Setor Militar) como paz, intimidação, mal simulada, como o próprio
solução pacífica de conflitos, dissuasão, diálogo Plano Brasil 2022 relata.

Periscópio 105
ARTIGOS DIVERSOS

Figura 1: Visita do Ministro da Defesa Raul Jungmann ao Submarino Tupi.

Figura 2: Visita do Ministro da Defesa Raul Jungmann ao Submarino Tupi.

106 Periscópio
PSICOLOGIA DE SUBMARINO: DA PREVENÇÃO
À ATUAÇÃO PÓS-ACIDENTE, UM PERCURSO
TEÓRICO

Capitão-Tenente (T) Kelly Cristina Martins Fernandes

1 INTRODUÇÃO do submarino e do mergulho no âmbito


da prevenção, investigação e atuação pós-
Uma das questões mais importantes em acidentes.
segurança operacional dos submarinos é qual O termo Psicologia, conceito que pode
seria o papel do psicólogo e a importância ser definido de forma simples como “a ciência
de sua atuação, visto ser a Psicologia uma que trata dos estados e processos mentais, do
ciência humana inserida em um contexto, até comportamento do ser humano e de suas interações
então, liderado pelas ciências exatas. Quais com um ambiente físico e social”1, pode trazer
contribuições se esperam desse campo de contribuições, uma vez que estuda e pode
atuação? intervir sobre o comportamento humano
O trabalho do psicólogo em segurança individualmente ou em interação com os
operacional, seja ele no contexto da aviação outros e com o seu meio.
ou de submarino, está relacionado ao estudo O ser humano é biopsicossocial, ou
do ser humano num contexto de trabalho seja, sua existência é perpassada por fatores
específico, com grandes exigências fisiológicas, biológicos, psicológicos e sociais. E é esse ser
psicológicas e sociais. O caso do submarino e do biopsicossocial em atividade, em interação
mergulho, por se tratar de uma atuação recente com seu ambiente de trabalho, que será objeto
para a Ciência Psicológica, corresponde a um de estudo da Psicologia Organizacional.
desafio a mais na nossa reflexão. Encontramos Os conhecimentos da Psicologia
alguns estudos significativos na área da Organizacional, quando aplicados ao trabalho
Psicologia da Aviação e, faremos uso deles em submarino ou no mergulho e direcionados
para incrementar nosso raciocínio. para a segurança dessas atividades, recebe
Diante deste cenário, este artigo se o nome de Psicologia de Submarino ou do
propõe a apresentar um breve panorama do Mergulho. Essa ciência adaptada para essas
que já vem sendo realizado na Psicologia da áreas, especificamente, tem o auge da sua
Aviação, ao mesmo tempo em que mostra
algumas possibilidades de transposição do 1 Disponível em <https://www.significados.com.br/
conhecimento fator humano para o contexto psicologia/> Acesso em 07/04/2017.

Periscópio 107
ARTIGOS DIVERSOS

contribuição no auxílio à otimização do fazer e modela o comportamento, gerando,


humano, considerando também a forma quando intensamente compartilhada,
como esse fazer ocorre contribuindo para a previsibilidade, ordem e consistência.
geração de defesas e segurança nas rotinas (Robbins, 2005, p.368).
das atividades. No escopo dessa atuação
estão: auxílio na criação de uma mentalidade A cultura, por suas características já
de segurança, fortalecimento da cultura de citadas, pode ser um instrumento adequado
segurança, desenvolvimento da comunicação, para se modelar e prever o comportamento
aperfeiçoamento da tomada de decisão, dos membros da organização em relação à
interação social no trabalho, entre outros. Segurança nas atividades.
Para compreendermos melhor essa
interface, podemos refletir sobre a seguinte 2 PREVENÇÃO DE ACIDENTES
situação figurada: o fato de se ter uma estrada
muito bem construída, sem desgastes físicos As pesquisas em Psicologia da Aviação
e um carro de última geração com diversos demonstram que um dos maiores desafios da
recursos tecnológicos pode garantir que se área de segurança tem sido evitar o erro humano
obtenha a segurança desejada na direção? e controlar sua incidência (Molinari, 2007).
O que, de fato, definirá os resultados será a A despeito dos elevados investimentos em
interação do humano com esse equipamento, recursos tecnológicos destinados à segurança,
que demonstrará se será uma atuação segura ainda assim os acidentes ainda ocorrem.
ou não. A educação sobre as regras de Estudos na área do Fator Humano
segurança e sobre as consequências de uma apontam que o envolvimento estimado do
direção insegura, a cultura local, o significado erro humano nos colapsos ocorridos em
da velocidade para aquele grupo, o desafio sistemas tecnológicos que apresentam risco
às normas, entre outros, são elementos em sua operação - aviação, sala de controle e
importantes para considerarmos aquela usinas nucleares - aumentou quatro vezes no
atividade segura ou não. período compreendido entre os anos 60 e 90
Nesse contexto, é muito importante, (Reason apud Molinari, 2007). Tripulações
uma reflexão sobre o conceito de Cultura técnicas são citadas com mais frequência que
Organizacional, definido em Robbins: falhas materiais. Pesquisas demonstram que
70 a 80% dos acidentes aeronáuticos podem
como um sistema de valores ser atribuídos, pelo menos em parte, ao erro
compartilhado pelos membros de humano.
uma organização que a diferencia Algumas teorias buscam elucidar a interação
das demais. Esse sistema é em última do ser humano com seu meio, os outros e
análise, um conjunto de características- com a máquina. Dessa interação decorre
chave que a organização valoriza. tanto a produtividade no trabalho quanto as
A cultura organizacional representa condições que interferem na probabilidade
uma percepção comum mantida pelos de um acidente. Alguns modelos conceituais
membros da organização. Ela orienta procuram elucidar essa interação e sua relação

108 Periscópio
com a ocorrência de acidentes. Dentre os
principais, estão o modelo Heinrich ou teoria O psicólogo pode ter uma participação
dos Dominós, o Reason e o Shell. A partir importante como integrante de uma
da elaboração desses modelos conceituais, o comissão de investigação de acidentes. Com
enfoque sobre o erro humano, passou de uma uma atuação fundamentada e com bases
perspectiva mais individual para uma noção metodológicas definidas, o psicólogo pode
sistêmica, considerando as falhas latentes na fornecer contribuições muito importantes no
organização, que funcionam como precursores que concerne aos fatores humanos envolvidos
dos acidentes (Moreira, 2001). Em resumo, o em um acidente. Os modelos conceituais
desempenho humano resulta da interação de citados acima serão de grande valia no que
diferentes variáveis, abrangendo: diz respeito à metodologia utilizada em
investigação, a partir da análise dos fatores
• as individuais (aptidões, atitudes e individuais, psicossociais e organizacionais
valores); que interferem no trabalho e condicionam as
• as psicossociais, com diferentes papéis tarefas executadas (Molinari, 2007). Em outras
e relações interpessoais assumidos pelo palavras, o psicólogo busca identificar que
indivíduo; fatores estiveram influenciando o desempenho
• as ambientais, englobando temperatura, do homem - individuais, psicossociais e
ruído, luminosidade, visibilidade e organizacionais - em interação com os outros,
condições atmosféricas e, com seu espaço de trabalho, com o sistema
• as organizacionais que envolvem de apoio disponível e com o ambiente em
a cultura, a filosofia, as normas, os si, aqui compreendidos o ambiente físico e o
regulamentos, entre outras. organizacional (Moreira, 2001).
Com base no Modelo Reason, o psicólogo
Daí, percebemos a importância do analisa a interação entre os elementos de um
homem, uma vez que “a total eliminação do sistema sociotécnico, apresentados a seguir:
erro humano é uma meta irreal. Na verdade,
devemos trabalhar na sua detecção, correção e • Gerência Superior: representada por
no seu gerenciamento e, continuar a investir aqueles a quem compete a tomada de
no treinamento técnico, porém, sempre decisões e que são os responsáveis pelo
acompanhado de uma especial atenção estabelecimento dos objetivos e manejo
ao homem, aos seus aspectos e às suas dos recursos para atingir metas distintas
necessidades”(Moreira, 2001, p.38). (Moreira, 2001);
Para o incremento do trabalho do psicólogo • Gerência Executiva: são aqueles
em prevenção de acidentes nas atividades responsáveis pela execução das decisões
subaquáticas é necessário investimento tomadas pela Gerência Superior.
em pesquisa sobre a influência do aspecto
psicológico na ocorrência de acidentes. O terceiro elemento é representado pelas
condições prévias, a saber: a equipe de trabalho,
3 INVESTIGAÇÃO DE ACIDENTES a capacitação dos trabalhadores, o acesso ao

Periscópio 109
ARTIGOS DIVERSOS

conhecimento, a motivação e a segurança significativo desequilíbrio no sistema. (Franco,


e adequação das condições ambientais. O 2005).
elemento final são as defesas do sistema, que As atividades especializadas como
existem para prevenir danos ou interrupções. o submarino e o mergulho, exigem do
A partir da análise dos fatos ocorridos, profissional alto grau de preparo técnico,
é elaborado um diagnóstico da situação, minúcia no desempenho das atividades e foco
que busca clarificar como se deu a “rede” de em segurança, com o objetivo de diminuir os
múltiplos arranjos entre os condicionantes riscos operacionais.
individuais, psicossociais e organizacionais em As reações a um desastre podem ser muito
constante interação, que ao longo do tempo variáveis, não sendo possível prever o tempo
fragilizaram as defesas do sistema formando o necessário para a recuperação. Alguns fatores
cenário propício para a ocorrência do acidente podem contribuir ou prejudicar a recuperação,
(Molinari, 2007). O sentido da investigação como a existência de redes de apoio dentro
de acidentes, mais do que analisar acidentes e fora da comunidade, o que ressalta a
e sugerir ações administrativas visando sua importância de apoio psicológico dirigido a
prevenção, faz parte de um conjunto de estas necessidades.
estratégias organizacionais cuja missão é A outra vertente para a compreensão da
contribuir para a consolidação de uma cultura vivência da pessoa envolvida em um desastre
de segurança nas organizações (Rohm, 2001). é o luto, aqui entendido como reação normal
Cultura de segurança pode ser considerada “a e esperada para o rompimento de vínculo.
construção de um sistema de significados que O luto tem uma função, que é proporcionar
levam as pessoas ou grupos a compreenderem a reconstrução de recursos e viabilizar um
os riscos do mundo.” (Pidgeon APUD Rohm, processo de adaptação às mudanças ocorridas
2001, p.75). em consequência de perdas.
É um processo determinado por fatores,
4 ATUAÇÃO PÓS-ACIDENTE tanto internos, como modo de funcionamento
psicológico, tipo de vínculo, perdas ocorridas e
A proposta de atuação do psicólogo após histórico de perdas anteriores; quanto externos,
uma crise, seja ela de que natureza for, tem por circunstâncias da perda, crenças culturais e
objetivo oferecer atendimento especializado religiosas e apoio recebido.
para diversas situações, como emergência e Após uma crise, é necessário o retorno ao
luto, nos diferentes âmbitos de necessidade, e funcionamento anterior, no entanto, a resposta
também busca prevenir o desenvolvimento de à situação de estresse agudo pode levar um
intercorrências como o estresse pós-traumático tempo para se dissipar, sendo muito importante
e o luto traumático, sem desconsiderar as aqui, a forma como tal fato é reconhecido pelo
necessidades psicológicas dos profissionais grupo.
envolvidos na sua promoção (Franco, 2005). Isso significa dizer que a cultura do
Entende-se crise como a interrupção de um grupo onde ocorre a perda também pode ser
estado previamente conhecido e contínuo de decisiva tanto na disponibilização quanto na
funcionamento, que resulta em instabilidade e aceitação do apoio necessário. É importante

110 Periscópio
que uma reação aguda ao estresse seja bem humano é biopsicossocial, podemos ter uma
compreendida como algo esperado dentro de ideia da importância do papel do psicólogo
um contexto de perda, e que um tempo será e das contribuições de uma ciência humana
necessário até que a pessoa ou o grupo possa em sistemas até então influenciados pela
voltar ao seu funcionamento conhecido e engenharia e ciências exatas.
estável. Além disso, nesse retorno há que se Percebemos também que uma análise de
respeitar as características individuais, ou fator humano, precisa considerar de forma
seja, a cada um seja dado o tempo dentro sistêmica, o contexto em que um evento tenha
de suas possibilidades, características e ocorrido, para que seja possível conhecer os
recursos psicológicos. O reconhecimento elementos influentes. Destaque para aqueles
dessas características é de suma importância relacionados à cultura, que mostra o que é
no auxílio à recuperação após uma situação aceitável ou inaceitável dentro de determinada
de crise. organização, precisando muitas vezes ser ela
É recomendado que a intervenção em mesma modificada.
crise seja focal, ou seja, que seja considerado Sobre a investigação de acidentes, é
principalmente o problema da perda, sem importante que a instituição a perceba como
negligenciar questões concomitantes. O uma ação que visa unicamente evitar que
objetivo não é a modificação do padrão de determinados fatores em interação, possam
personalidade, mas sim perceber a situação da repetidamente se coadunar para então
crise levando em consideração as condições desencadear um acidente.
individuais da pessoa. Além disso, a intervenção No que se refere ao pós-acidente, a reflexão
psicológica em emergência procura reduzir contribui no sentido de que as possíveis reações
o estresse agudo causado pelo impacto do sejam aceitas e percebidas como naturais e
trauma através de ações como: restaurar a esperadas dentro de um contexto específico,
dominância da razão sobre a emoção, facilitar a bem como as ações de apoio sejam facilitadas
restauração do funcionamento das instituições e possam ser aceitas pelo grupo.
e da comunidade e o reconhecimento Outro aspecto muito importante é o fato
racional do que aconteceu. Essas iniciativas de que os problemas psicossociais possuem
também ajudam a restaurar ou aumentar influência no desempenho profissional,
as capacidades adaptativas por meio do consequentemente sobre a ocorrência ou
oferecimento de oportunidades para que se não de um acidente. Por isso, deve ser dado
possa avaliar e utilizar o apoio familiar ou da destaque às ações de prevenção de problemas
comunidade, de educação sobre expectativas psicossociais, tanto as que já existem como
futuras e oportunidade para os sobreviventes outras que ainda serão implementadas.
organizarem e interpretarem, racionalmente, o Para tal, é preciso promover a confiança nos
evento traumático. Núcleos de Assistência através da facilitação
da divulgação das ações de prevenção
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS psicossocial, do incentivo ao engajamento
em ações educativas, da participação em
A partir de uma noção sistêmica da projetos e, quando necessário, a utilização dos
organização e considerando que o elemento atendimentos disponíveis. Esses fatores de

Periscópio 111
ARTIGOS DIVERSOS

proteção aos riscos sociais, serão de grande MOLINARI, Márcia et al. Investigação de
importância na promoção da qualidade de acidentes aeronáuticos: atuação dos psicólogos
vida no trabalho de nossos militares, e isso no Brasil, In: BORGES, Janete. Coletânea
gera um impacto positivo quando o assunto é de Artigos Científicos, Rio de Janeiro, IPA;
a prevenção de acidentes. Sumaúma Ed. e Gráfica, 2007.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ROBBINS, Stephen, Comportamento


Organizacional. Tradução técnica: Reynaldo
FRANCO, Maria Helena. Atendimento Marcondes, 11ed. São Paulo: Pearson Prentice
psicológico para emergências em aviação: a teoria Hall, 2005.
revista na prática, in: Estudos de Psicologia,
São Paulo, 2005. ROHM, Ricardo, Análise de acidentes
aeronáuticos: um modelo ergonômico
MOREIRA, Silvia. Fatores Humanos e Modelos alternativo, In: RIBEIRO, Selma. Voos da
Conceituais, In: RIBEIRO, Selma. Voos da Psicologia no Brasil: estudos e práticas na
Psicologia no Brasil: estudos e práticas na aviação. Organizado por Maria da Conceição
aviação. Organizado por Maria da Conceição Pereira e Selma Leal de Oliveira Ribeiro-
Pereira e Selma Leal de Oliveira Ribeiro-Rio Rio de Janeiro: DAC: NulCAF, 2001. Sites
de Janeiro: DAC: NulCAF, 2001. consultados: <https://www.significados.com.
br/psicologia/> Acesso em 07/04/2017.

112 Periscópio
COMEMORAÇÃO DO 103º ANIVERSÁRIO DE
CRIAÇÃO DA FORÇA DE SUBMARINOS

14 DE JULHO DE 2017 – 17 DE JULHO DE 2017 –


SAUDANDO A RESERVA CENTRO CERIMÔNIA MILITAR ALUSIVA AOS
DE CONVÍVIO DA BACS 103º ANIVERSÁRIO DE CRIAÇÃO DA
FORÇA DE SUBMARINOS

Da direita para esquerda:


Da direita para a esquerda: Contra-Almirante Alan Guimarães Aze-
Contra-Almirante Alan Guimarães Aze- vedo, Comandante da Força de Submarinos;
vedo, Comandante da Força de Submarinos; Vice-Almirante (FN) Alexandre Jose Bar-
Almirante de Esquadra Alfredo Karam, reto de Mattos, Comandante da Força de Fu-
Ex-Ministro da Marinha; zileiros da Esquadra;
Vice-Almirante Celso Luiz Nazareth, Co- Almirante de Esquadra Liseo Zampronio,
mandante em Chefe da Esquadra; Secretário-Geral da Marinha;
Almirante de Esquadra Bento Costa Lima Almirante de Esquadra Sergio Roberto
Leite de Albuquerque Junior, Secretario de Fernandes dos Santos, Comandante de Ope-
Ciência, Tecnologia e Inovação da Marinha; e rações Navais;
Almirante de Esquadra Roberto de Guima- Almirante de Esquadra Alfredo Karam,
rães Carvalho, Ex-Comandante da Marinha; Ex-Ministro da Marinha;
Almirante de Esquadra Mauro César Ro-
drigues Pereira;
Almirante de Esquadra Paulo Cezar de
Quadros Kuster, Diretor-Geral de Navegação;
Almirante de Esquadra Bento Costa Lima
Leite de Albuquerque Junior; Secretario de
Ciência, Tecnologia e Inovação da Marinha; e
Vice-Almirante Celso Luiz Nazareth, Co-
mandante em Chefe da Esquadra.

Periscópio 113
PERISCOPADAS

Supervisor da Seção de Desenvolvimento e


Avaliação do ComForS;
Almirante de Esquadra Alfredo Karam,
Ex-Ministro da Marinha;
Almirante de Esquadra Roberto de Gui-
marães Carvalho, Ex-Comandante da Mari-
nha; e Vice-Almirante Celso Luiz Nazareth,
Comandante em Chefe da Esquadra.

22 DE JULHO DE 2017 –
Contra-Almirante Alan Guimarães Azeve- MISSA DE AÇÃO DE GRAÇAS AOS
do, Comandante da Força de Submarinos, fa- 103 ANOS DE CRIAÇÃO DA FORÇA
zendo a leitura da Ordem do Dia alusiva ao ani- DE SUBMARINOS PRAÇA ALMIRAN-
versário do Comando da Força de Submarinos. TE JÚLIO HESS NA BACS

22 DE JULHO DE 2017 –
CONFRATERNIZAÇÃO ALUSIVA AO
103º ANIVERSÁRIO DO COMANDO
DA FORÇA DE SUBMARINOS

Da esquerda para direita:


Almirante de Esquadra Eduardo Bacellar
Leal Ferreira, Comandante da Marinha;
Almirante de Esquadra Roberto de Gui-
marães Carvalho, Ex -Comandante da Mari-
nha;
Contra-Almirante Alan Guimarães Aze- Celebração da Missa dos 103 anos de
vedo, Comandante da Força de Submarinos; Criação da Força de Submarinos pelo Arce-
SO-OS-SB Anderson Gomes Antonio, bispo Militar Dom Fernando José Monteiro
Guimarães.

114 Periscópio
PASSAGENS DE COMANDO 2017

22 de fevereiro de 2017
Submarino Timbira
26 de janeiro de 2017 Passa o Comando: Capitão de Fragata Al-
Submarino Tikuna varo Valentim Lemos
Passa o Comando: Capitão de Mar e Guerra Assume o Comando: Capitão de Fragata
Marcelo Henrique Carrara Leonardo Braga Martins
Assume o Comando: Capitão de Fragata
Luis Antonio de Menezes Cerutti

17 de abril de 2017
27 de janeiro de 2017 Comandante da Força de Submarinos
Base de Submarinos Almirante Castro e Passa o Comando: Contra-Almirante Oscar
Silva Passa o Comando: Capitão de Mar e Moreira da Silva Filho
Guerra André Martins de Carvalho Assume o Comando: Contra-Almirante
Assume o Comando: Capitão de Mar e Alan Guimarães Azevedo
Guerra Luiz Cláudio de Almeida Baracho

Periscópio 115
PERISCOPADAS

PASSAGEM DE CHEFE DO ESTADO-


-MAIOR DO COMFORS

25 de setembro de 2017
Chefe do Estado-Maior do Comando da
12 de janeiro de 2017 Força de Submarinos
Chefe do Estado-Maior do Comando da Passa o Cargo: Capitão de Fragata Wladi-
Força de Submarinos mir dos Santos Lourenço
Passa o Cargo: Capitão de Mar e Guerra Assume o Cargo: Capitão de Fragata Helio
Alexandre Fontoura de Oliveira Moreira Branco Junior
Assume o Cargo: Capitão de Mar e Guerra
Jose de Andrade e Silva Neto

03 de agosto de 2017 11 de agosto de 2017


Chefe do Estado-Maior do Comando da Submarino Tupi
Força de Submarinos Passa o Comando: Capitão de Fragata He-
Passa o Cargo: Capitão de Mar e Guerra lio Moreira Branco Junior
Guerra Jose de Andrade e Silva Neto Assume o Comando: Capitão de Fragata
Assume o Cargo: Capitão de Fragata Wla- Fernando de Luca Marques de Oliveira
dimir dos Santos Lourenço

116 Periscópio
RELAÇÃO DO PESSOAL AGRACIA- PRAÇAS DA ATIVA
DO COM O DIPLOMA DE SUBMA- SO-ES Gyovanne Plácido Lima
RINISTA HONORÁRIO DE 2017 SO-BA Daniel Gonçalves
SO-ET Erinaldo Sousa dos Santos
SO-ES Alexandre Dias de Andrade
SO-CA Salvador Mauricio Barreto da Silva
SO-CA Rosemberg Gonçalves de Souza
1ºSG-MO Francisco Ronaldo Ferreira da Costa
2ºSG-MG Washington Luiz da Silva
2ºSG-MG Jairo Aguiar Rafael
3ºSG-ES José Renato da Silva.
3ºSG-MO Fabiano Barros Correia Lima
2ºSG-ES Rafael Goiabeira Cavalcanti
2ºSG-ES Robson Goulart Milato
OFICIAIS DA ATIVA 3ºSG-ET Joel Madeira Nunes Júnior
C. Alte Paulo Cesar Colmenero Lopes CB-ES Leandro da Silva Bastoni
C. Alte Luiz Roberto Cavalcanti Valicente
C. Alte (EN) Humberto Moraes Ruivo CIVIS
CMG (IM) Alexandre Augusto Lopes Villela Sr. Carlos Alberto Aragão de Carvalho Filho
de Moraes Sr. Renato Machado Cotta
CF (IM) Luiz Galhardo Pessoa Sr. Pierre Legros
CC (IM) Thiago Fernandes Lima Sr. José Antônio de Souza Batista
CC (IM) Luiz Antonio Girianelli Félix Sr. Orson Antonio Féres Moraes Rêgo
CC (IM) Márcio Luis Mota Pereira Sra. Denise Maria Mendes Correa
CC Bueno Otéro Nery Sr. Tim Taylor
1ºTen (RM2-S) Andresa Fogel Jales Soares Sra. Christine Dannison
1ºTen (RM2-T) Amanda Moraes Silva Chaves Sr. Osmar De Souza Cárdia Junior
1ºTen (RM2-T) Edna Batista da Silva Sr. Alvanir Silveira De Oliveira
1ºTen (QC-IM) Felipe Rangel Kopanakis Sr. Jardel Mesquita Da Cruz Silva
1ºTen (RM2-T) Gean Felipe Alves de Oliveira Sr. Luiz Carlos Pereira Da Cunha
1ºTen (RM2-EN) Celso Andrade Capute Júnior

MILITARES DE OUTRAS
INSTITUIÇÕES
Capitão de Fragata, (Commander), Richard
Harrison
(Homenagem Póstuma)
Coronel (EB) Will Mazon
Ten.Coronel (EB) Frederico Otávio Sawaf
Batouli

Periscópio 117
PERISCOPADAS

RELAÇÃO DOS MILITARES AGRA- ATIVIDADE DE MERGULHO DE


CIADOS COM DIPLOMA DE HORAS COMBATE
DE IMERSÃO, HORAS DE MERGU-
LHO E ATIVIDADE DE MERGULHO 12 anos de Atividades
DE COMBATE EM 2017
CF Charles Alan da Silva
SO-MR-MEC Jorge E. Albuquerque de Moura

Horas de Imersão
20.000 horas

SO-MA-SB Francisco Elmo Vieira

Horas de Mergulho
1.000 horas

SO-MG Jonas Barros de Castro

118 Periscópio
Naval Group - Photo credit: ©Naval Group - Design: Seenk
NOVA MARCA
MESMA MISSÃO
DCNS agora é Naval Group
Ao longo de 400 anos de inovação aqui na DCNS, nunca fomos de descansar sobre nossos louros. É por isso
que entendemos ser hora de uma mudança de nome, para uma nova identidade que irá garantir a exposição
e a credibilidade em mercados internacionais buscados por nossa ambição. Um novo nome, mas o mesmo
compromisso de sempre. Como líder global em defesa naval e energia marinha renovável,
estamos comprometidos em trabalhar, dia após dia, salvaguardando os interesses da segurança,
entregando aos nossos clientes valor e desempenho no estado da arte, e pavimentando o caminho rumo
a uma energia futura mais limpa e mais verde para a sociedade do amanhã.
Construindo um mundo mais estável e sustentável.

Periscópio 119
Para maiores informações, acesse naval-group.com
HISTÓRICO

120 Periscópio
Periscópio 121
Usque Ad Sub Acquam Nauta Sum

Marinheiros até debaixo d’água

122

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