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LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS

ARTE
Governador do Estado do Amazonas
Omar Aziz

Secretário de Estado de Educação e Qualidade do Ensino


Gedeão Timóteo Amorim

Secretária-Executiva
Sirlei Alves Ferreira Henrique

Secretária-Adjunta da Capital
Ana Maria da Silva Falcão

Secretária-Adjunta do Interior
Magaly Portela Régis

Diretor do Departamento de Políticas e


Programas Educacionais
EDSON SANTOS MELO

Gerente do Ensino Médio


VERA LÚCIA LIMA DA SILVA
PROPOSTA CURRICULAR DE
ARTE PARA O ENSINO MÉDIO

Secretaria de Estado de
Educação e Qualidade do Ensino
Copyright © SEDUC – Secretaria de Estado de Educação e Qualidade do Ensino, 2012

Editor
Isaac Maciel

Coordenação editorial
Tenório Telles

Capa e Projeto Gráfico


Heitor Costa

Diagramação
Bruno Raphael

Revisão
Núcleo de Editoração Valer

Normalização
Ycaro Verçosa

S729p Proposta Curricular de Arte para o Ensino Médio. –


Manaus: Seduc – Secretaria de Estado de Educação e Qualidade do Ensino, 2012.

64 p.­­

ISBN 978-85-87707-40-6

1. Arte – Proposta Curricular


2. Reforma Curricular – Ensino Médio I. Título.

CDD 372.89
22 Ed.

Resolução n.º 114/2011 – CEE/AM, aprovada em 4/11/2011

2012

Seduc – Secretaria de Estado de Educação e Qualidade do Ensino


Rua Waldomiro Lustoza, 250 – Japiim II
CEP – 69076-830 – Manaus/AM
Tel.: Seduc (92) 3614-2200
Gem: (92)3614-2275 / 3613-5481
www.seduc.am.gov.br
SUMÁRIO

Compromisso com a Educação 7

Carta ao Professor 9

Proposta Curricular de Arte para o Ensino Médio 11

Introdução 13

Proposta Curricular do Ensino Médio: Pressupostos teóricos 15

Currículo Escolar: Aproximação com o cotidiano 21

Um conhecimento Fundado Sobre Competências e Habilidades 23

Áreas de Conhecimento: A integração dos saberes 27

1. O Componente Curricular integrador da Matriz do Ensino Médio 29


1.1 A Arte no Ensino Médio 31
1.2 Quadro demonstrativo do Componente Curricular 35
1.3 Alternativas Metodológicas para o ensino de Arte 41
1.3.1 Sugestões de Atividades Didático-Pedagógicas 44
1.3.2 Sugestões para pesquisa 53

Avaliação: O culminar do processo educativo 55

Considerações Finais 59

Referências 61
ARTE 7

COMPROMISSO COM A EDUCAÇÃO

É inquestionável o valor da Educação na mento do mérito dos professores, do acesso


formação do ser humano e na construção de às novas tecnologias, da promoção de forma-
uma sociedade próspera e cidadã. Ao longo ções para melhor qualificar os mestres que
da História, as nações que conquistaram o estão na sala de aula, empenhados na pre-
reconhecimento e ajudaram no processo de paração dos jovens, sem descurar do cuida-
evolução do conhecimento foram aquelas do com a melhoria das condições de trabalho
que dedicaram atenção especial à formação dos profissionais que ajudam a construir uma
da juventude e valorizaram o saber como fa- realidade educacional mais promissora para o
tor de afirmação social e cultural. povo amazonense.
Consciente do significado social da apren- Fruto desse comprometimento que tenho
dizagem e do caráter substantivo do ensino com a Educação, é com satisfação que apre-
como fundamento da própria vida, elegi a sento aos professores e à sociedade em geral
Educação como pressuposto de governo – esta Proposta do Ensino Médio – nascida do
consciente da minha responsabilidade como debate dos educadores e técnicos que fazem
governador do Estado do Amazonas. Tenho parte da rede pública estadual de ensino. Esta
a convicção de que a construção do futuro reestruturação, coordenada pela Secretaria
é uma tarefa do presente – e que o conheci- de Estado da Educação e Qualidade do Ensi-
mento é o substrato do novo tempo que ha- no, objetiva a renovação e atualização do pro-
verá de nascer do trabalho dos professores e cesso da aprendizagem, considerando os Pa-
demais profissionais que se dedicam ao ofício râmetros Curriculares do Ensino Médio, bem
de educar em nossa terra. como as inovações ocorridas com a implan-
Essa é uma missão de todos: não só dos tação do Exame Nacional do Ensino Médio –
educadores, mas igualmente dos pais e dos Enem. Com o aprimoramento da aprendiza-
agentes públicos, bem como de todo aquele gem e com a promoção de uma nova sistemá-
que tem compromisso com o bem comum e a tica de ensino e avaliação, almejamos o avan-
cidadania. Tenho empreendido esforços para ço da Educação e a melhoria da qualidade da
promover a Educação no Amazonas, sobretu- prática educacional no Estado do Amazonas.
do por meio da valorização e do reconheci- Reitero, assim, o meu compromisso com a
Educação.

Omar Aziz
Governador do
Estado do Amazonas

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
ARTE 9

Carta ao professor

Renova-te.
Renasce em ti mesmo.
Multiplica os teus olhos, para verem mais.
Multiplica os teus braços para semeares tudo.
Destrói os olhos que tiverem visto.
Cria outros, para as visões novas.
Destrói os braços que tiverem semeado,
Para se esquecerem de colher.
Sê sempre o mesmo.
Sempre outro. Mas sempre alto.
Sempre longe.
E dentro de tudo.

Cecília Meireles

A mudança é o sentido e o fundamento da de Educação, por meio da ação de seus educa-


vida. A verdade é que não há vida sem trans- dores e técnicos, coordenou de forma eficaz os
formação e sem o aprimoramento permanen- trabalhos de discussão e elaboração das pro-
te de nosso modo de pensar e ser e, sobretu- postas curriculares de cada componente que
do, de agir. O poema da professora e escritora integra as quatro áreas de conhecimento do
Cecília Meireles traduz esse entendimento Ensino Médio – norteadoras da prática pedagó-
e essa verdade inquestionável. Por isso, esse gica dos professores no cotidiano escolar neste
tem sido o espírito de nossas ações à frente novo momento do ensino em nossa terra.
da Secretaria de Estado de Educação do Ama-
zonas: buscar novos caminhos para melhorar Acreditamos que os novos referenciais
a aprendizagem de nossas crianças e jovens metodológicos, enriquecidos com sugestões
– motivo pelo qual elegemos a formação dos de Competências, Habilidades e práticas faci-
professores como um dos fundamentos desse litadoras da aprendizagem, estabelecidos nas
propósito. propostas, contribuirão para dinamizar e en-
riquecer o trabalho pedagógico dos professo-
Fruto dessa iniciativa, empreendida com o res, melhorando a compreensão e formação
objetivo de construir um futuro promissor para intelectual e espiritual dos educandos. Vive-
a Educação no Amazonas, apresentamos os re- mos um momento de renovação da prática
sultados do trabalho de reestruturação da Pro- educacional no Amazonas, experiência que
posta Curricular do Ensino Médio. A Secretaria demanda, de todos os envolvidos nesse pro-

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DO ENSINO MÉDIO
10 LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS

cesso, novas respostas, novas atitudes e no- de e atenção com a formação educacional dos
vos procedimentos de ensino. Dessa forma, nossos educandos.
com compromisso, entusiasmo e consciência
de nosso papel como educadores, ajudare- Temos consciência do desafio que temos
mos a construir uma nova realidade educacio- pela frente e entendemos que este é o primeiro
nal em nosso Estado, fundada na certeza de passo de uma longa jornada, que dependerá da
que o conhecimento liberta, enriquece a vida participação construtiva, não só dos professo-
dos indivíduos e contribui para a construção res, corpo técnico e educandos, mas também
de uma consciência cidadã. dos pais, agentes públicos e da sociedade.

O chamamento de Cecília Meireles – “Re- Que todos aceitemos o desafio da renova-


nova-te / Renasce em ti mesmo” – é uma sín- ção e do comprometimento com a vida, com
tese do fundamento que orienta o nosso ca- a educação dos nossos jovens e com a busca
minho e norteia as nossas ações. O governa- de novas práticas pedagógicas – capazes de
dor Omar Aziz assumiu a responsabilidade de nos ajudar no forjamento de uma nova consci-
fazer do seu governo um ato de compromisso ência e na construção de uma sociedade fun-
com a educação das crianças e jovens do Ama- dada no conhecimento e na cidadania, ideais
zonas. Os frutos dessa ação, que resultou na que herdamos da cultura clássica e que têm
reestruturação da Proposta Curricular do En- na Paideia Grega (entendida como a verdadei-
sino Médio, são uma prova da sua sensibilida- ra educação) o seu referencial por excelência.

Gedeão Timóteo Amorim


Secretário de Estado de Educação

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
ARTE 11

PROPOSTA CURRICULAR DE
ARTE PARA O ENSINO MÉDIO

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
ARTE 13

INTRODUÇÃO

A Proposta que chega ao Ensino Médio sur- LDB (Lei nº 9.394/96), que requer um homem
giu das necessidades que se verificam não só cidadão, com capacidades para seguir os es-
no campo educacional, mas também nas de- tudos em um Nível Superior ou que seja capaz
mais áreas do saber e dos segmentos sociais. de inserir-se, com capacidades concretas, no
Dito por outras palavras, a vertiginosidade com mundo do trabalho.
que as mudanças ocorrem, inclusive situando- Mas para que esse homem-cidadão possa
-nos em um novo tempo, cognominado pelos ter o arcabouço teórico exigido, ele precisa
filósofos como pós-modernidade, é o que nos conhecer o seu entorno, ou seja, ele precisa
obriga a repensar os atuais paradigmas e a ins- ser e estar no mundo, daí, então, que ele par-
taurar-se, como se faz necessário, novos. tirá para a construção da sua identidade, da
A mudança, na qual somos agentes e pa- sua região, do seu local de origem. Somente
cientes, não só desestabiliza a permanência após a sua inserção na realidade, com suas
do homem no mundo como também requer emoções, afetos e sentimentos outros, é que
novas bases, o que implica novos exercícios ele poderá compreender o seu entorno em
do pensamento. Considerando que é na Esco- uma projeção, compreendendo as suas des-
la, desde a educação infantil, que também se continuidades mais ampliadas, ou seja: so-
estabelecem os princípios e valores que nor- mente assim ele poderá ser e estar no mundo.
tearão toda a vida, é a ela que, incisivamente, As situações referidas são as norteadoras
as novas preocupações se dirigem. desta Proposta, por isso ela reclama a Inter-
É nesse contexto que esta Proposta se ins- disciplinaridade, a Localização do sujeito no
creve. É em meio a essas inquietantes angús- seu mundo, a Formação, no que for possível,
tias e no encontro com inúmeros caminhos, os integral do indivíduo e a Construção da cida-
quais não possuem inscrições, afirmando ou dania. É, portanto, no contexto do novo, do
não o nível de segurança, que ela busca insti- necessário que ela se organizou, que ela mo-
tuir alguma estabilidade e, ainda, a certeza de bilizou a atenção e a preocupação de todos os
que o saber perdurará, de que o homem conti- que, nela, se envolveram.
nuará a produzir outros/novos conhecimentos. Para finalizar, é opinião comum dos cida-
As palavras acima se sustentam na ideia de dãos, que pensam sobre a realidade e fazem
que a Escola ultrapassa a Educação e a Instru- a sua leitura ou interpretação, que o momen-
ção, projetando-se para o campo da garantia, to é de transição. Essa afirmação é plena de
da permanência, da continuidade do conheci- significados e de exigências, inclusive corre-se
mento do homem e do mundo. o risco maior de não se compreender o que
Os caminhos indicadores para a redefini- é essencial. É assim que o passado se funde
ção das funções da Escola seguem, a nosso com o presente, o antigo se funde com o novo,
ver, a direção que é sugerida. É por isso que criando uma dialética essencial à progessão
a Escola e o produto por ela gerado – o Co- da História. A Proposta Curricular do Ensino
nhecimento – instituem um saber fundado Médio, de 2011, resguarda esse movimento e
em Competências e Habilidades, seguindo a o aceita como uma necessidade histórica.

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
ARTE 15

Proposta Curricular do Ensino Médio:


Pressupostos Teóricos

A educação brasileira, nos últimos anos, Ensino Médio desenvolveu ações educacio-
perpassa por transformações educacionais nais para fundamentar as discussões acerca
decorrentes das novas exigências sociais, do currículo vigente.
culturais, políticas e econômicas vigentes no Os professores da Rede Estadual de Ensino
país, resultantes do processo de globalização. Médio receberam orientações, por meio de
Considerando esta nova reconfiguração mun- palestras e de uma jornada pedagógica, que
dial e visando realizar a função formadora da proporcionaram aos professores reflexões so-
escola de explicar, justificar e de transformar bre: O fazer pedagógico, sobre os fundamen-
a realidade, a educação busca oferecer ao tos norteadores do currículo e principalmente
educando maior autonomia intelectual, uma sobre o que se deve ensinar. E o que os edu-
ampliação de conhecimento e de acesso a in- candos precisam apreender para aprender?
formações numa perspectiva integradora do Os trabalhos desenvolvidos tiveram, como
educando com o meio. subsídios, os documentos existentes na Secre-
No contexto educacional de mudanças re- taria de Educação, norteados pela Proposta
lativas à educação como um todo e ao Ensino Curricular do Ensino Médio/2005, pelos PCN,
Médio especificamente a reorganização curri- pelos PCN+ e pelos referenciais nacionais. As
cular, dessa etapa do ensino, faz-se necessária discussões versaram sobre os Componentes
em prol de oferecer novos procedimentos que Curriculares constantes na Matriz Curricular
promovam uma aprendizagem significativa e do Ensino Médio, bem como sobre as refle-
que estimulem a permanência do educando xões acerca da prática pedagógica e do papel
na escola, assegurando a redução da evasão intencional do planejamento e da execução
escolar, da distorção idade/série, como tam- das ações educativas.
bém a degradação social desse cidadão. Os resultados colhidos nessas discussões
A ação política educacional de Reestrutu- estimularam a equipe a elaborar uma versão
ração da Proposta Curricular do Ensino Médio atualizada e ampliada da Proposta Curricular
foi consubstanciada nos enfoques educacio- do Ensino Médio, contemplando em um só
nais que articulam o cenário mundial, bra- documento as orientações que servirão como
sileiro e local, no intuito de refletir sobre os referência para as ações educativas dos profis-
diversos caminhos curriculares percorridos na sionais das quatro Áreas do Conhecimento.
formação do educando da Rede Estadual de Foi a partir dessa premissa que se perce-
Ensino Médio. beu a necessidade de refletir acerca do Currí-
Dessa forma, a fim de assegurar a cons- culo, da organização curricular, dos espaços e
trução democrática e a participação dos pro- dos tempos para que, dessa maneira, fossem
fessores da Rede Estadual de Ensino Médio, privilegiados, como destaques:
na Reestruturação do Currículo, a Gerência de

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
16 LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS

• o foco no processo de ensino-aprendi- divíduos, do corpo social, da comunidade em


zagem; geral, levando em consideração os conceitos,
• os diferentes tipos de aprendizagem e as representações, os saberes oriundos das
de recursos; vivências dos educandos que concretamente
• o desenvolvimento de competências estão envolvidos, e nas experiências que vi-
cognitivas, operativas e afetivas; venciam no cotidiano.
• a autonomia intelectual; A proposta é que os educandos possam
• a reflexão antes, durante e após as posicionar-se de maneira crítica, ética, res-
ações. ponsável e construtiva nas diferentes situa­
ções sociais, utilizando o conhecimento como
É válido ressaltar que os caminhos defi- instrumento para mediar conflitos e tomar
nidos enquadram-se na perspectiva atual do decisões; e, assim, perceberem-se como
projeto filosófico educativo do país que re- agentes transformadores da realidade social
quer a interdisciplinaridade, a transdiscipli- e histórica do país, identificando as caracte-
naridade e a transversalidade, na qualidade rísticas estruturais e conjunturais da realida-
de meios de garantia de um ensino-aprendi- de social e as interações entre elas, a fim de
zagem bem-sucedido. Ou seja, os objetos pri- contribuírem ativamente para a melhoria da
vilegiados nos Componentes Curriculares do qualidade da vida social, institucional e indi-
Ensino Médio deverão ser focados em uma vidual; devem, ainda, conhecer e valorizar a
perspectiva abrangente, na qual eles serão diversidade que caracteriza a sociedade bra-
objetos de estudo do maior número possível sileira, posicionando-se contra quaisquer for-
de Componentes Curriculares. Dessa forma, mas de discriminação baseada em diferenças
entende-se que o educando poderá apreen- culturais, classe social, crença, gênero, orien-
dê-los em toda a sua complexidade. tação sexual, etnia e em outras característi-
É assim que temas como a diferença socio- cas individuais e sociais.
cultural de gênero, de orientação sexual, de Espera-se que esta Proposta seja uma fer-
etnia, de origem e de geração perpassam por ramenta de gestão educacional e pedagógica,
todos os componentes, visando trazer ao de- com ideias e sugestões que possam estimular
bate, nas salas de aula, os valores humanos o raciocínio estratégico-político e didático-
e as questões que estabelecem uma relação -educacional, necessário à reflexão e ao de-
dialógica entre os diversos campos do co- senvolvimento de ações educativas coerentes
nhecimento. Nesse sentido, foi pensado um com princípios estéticos, políticos e éticos,
Currículo amplo e flexível, que expressasse orientados por competências básicas que esti-
os princípios e as metas do projeto educati- mulem os princípios pedagógicos da identida-
vo, possibilitando a promoção de debates, a de, diversidade e autonomia, da interdiscipli-
partir da interação entre os sujeitos que com- naridade e da contextualização enquanto es-
põem o referido processo. truturadores do currículo (DCNEM, 2011,11),
Assim, os processos de desenvolvimento e que todo esse movimento chegue às salas
das ações didático-pedagógicas devem possi- de aula, transformando a ação pedagógica e
bilitar a reflexão crítica sobre as questões que contribuindo para a excelência da formação
emergem ou que resultem das práticas dos in- dos educandos.

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
ARTE 17

Para que se chegasse a essa fundamen- gerais, e colegial, com duração de três anos,
tação pedagógica, filosófica, sociológica da que oferecia os cursos Clássico e Científico.
educação, foram concebidas e aperfeiçoa­das O cenário político brasileiro de 1964,
Leis de Diretrizes e Bases da Educação Na- que culminou no golpe de Estado, determi-
cional. No contexto legislativo-educacional, nou novas orientações para a política edu-
destacam-se as Leis nº 4.024/61, 5.692/71 e cacional do país. Foram estabelecidos novos
9.394/96 que instituíram bases legais para a acordos entre o Brasil e os Estados Unidos da
educação brasileira como normas estrutura- América, dentre eles o MEC-Usaid. Constava,
doras da Educação Nacional. no referido acordo, que o Brasil receberia re-
Todavia, o quadro da educação brasileira cursos para implantar uma nova reforma que
nem sempre esteve consolidado, pois antes atendesse aos interesses políticos mundiais,
da formulação e da homologação das Leis objetivando vincular o sistema educacional
de Diretrizes e Bases, a educação não era o ao modelo econômico imposto pela política
foco das políticas públicas nacionais, visto norte-americana para a América Latina (ARA-
que não constava como uma das principais NHA, 2010). É no contexto de mudanças sig-
incumbências do Estado garantir escola pú- nificativas para o país, ocasionadas pela nova
blica aos cidadãos. conjuntura política mundial, que é promulga-
O acesso ao conhecimento sistemático, da a nova LDB nº 5.692/71. Essa Lei é gerada
oferecido em instituições educacionais, era no contexto de um regime totalitário, portan-
privilégio daqueles que podiam ingressar em to contrário às aspirações democráticas emer-
escolas particulares, tradicionalmente reli- gentes naquele período.
giosas de linha católica que, buscando seus Nas premissas dessa Lei, o ensino profis-
interesses, defendiam o conservadorismo sionalizante do 2.o grau torna-se obrigatório.
educacional, criticando a ideia do Estado em Dessa forma, ele é tecnicista, baseado no
estabelecer um ensino laico. modelo empresarial, o que leva a educação a
Somente com a Constituição de 1946, o adequar-se às exigências da sociedade indus-
Estado voltou a ser agente principal da ação trial e tecnológica. Foi assim que o Brasil se in-
educativa. A lei orgânica da Educação Primá- seriu no sistema do capitalismo internacional,
ria, do referido ano, legitimou a obrigação do ganhando, em contrapartida, a abertura para
Estado com a educação (Barbosa, 2008). Em o seu crescimento econômico. A implantação
meio a esse processo, e após inúmeras reivin- generalizada da habilitação profissional trou-
dicações dos pioneiros da Educação Nova e xe, entre seus efeitos, sobretudo para o ensino
dos intensos debates que tiveram como pano público, a perda da identidade que o 2.o grau
de fundo o anteprojeto da Lei de Diretrizes passará a ter, seja propedêutica para o Ensino
e Bases, é homologada a primeira LDB, nº Superior, seja a de terminalidade profissional
4.024/61, que levou treze anos para se con- (Parecer CEB 5/2011). A obrigatoriedade do
solidar, entrando em vigor já ultrapassada e ensino profissionalizante tornou-se faculta-
mantendo em sua estrutura a educação de tiva com a Lei nº 7.044/82 que modificou os
grau médio: ginasial, com duração de quatro dispositivos que tratam do referido ensino, no
anos, destinada a fundamentos educacionais 2.o grau.

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
18 LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS

Pode-se dizer que o avanço educacional do rização dos Profissionais da Educação – Fun-
país estabeleceu-se com a Lei de Diretrizes e deb, que oferece subsídios a todos os níveis
Bases da Educação nº 9.394/96, que alterou da educação, inclusive ao Ensino Médio.
a estrutura do sistema educacional brasileiro Na atual Lei de Diretrizes e Bases da Edu-
quando no Titulo II – Dos Princípios e Fins da cação, o Ensino Médio tem por finalidade pre-
Educação Nacional – Art. 2.o, declara: A edu- parar o educando para a continuidade dos es-
cação, dever da família e do Estado, inspira- tudos, para o trabalho e para o exercício da ci-
da nos princípios de liberdade e nos ideais de dadania, primando por uma educação escolar
solidariedade humana, tem por finalidade o fundamentada na ética e nos valores de liber-
pleno desenvolvimento do educando, seu pre- dade, justiça social, pluralidade, solidariedade
paro para o exercício da cidadania e sua qua- e sustentabilidade. As prerrogativas da Lei su-
lificação para o trabalho. pracitada acompanham as grandes mudanças
Essa Lei confere legalidade à condição do sociais, sendo, dessa forma, exigido da escola
Ensino Médio como parte integrante da Edu- uma postura educacional responsável, capaz
cação Básica, descrevendo, no artigo 35, os de forjar homens, não somente preparados
princípios norteadores desse nível de ensino: para integrar-se socialmente, como também
de promover o bem comum, concretizando a
O Ensino Médio, etapa final da educação afirmação do homem-cidadão.
básica, com duração mínima de três anos, Norteadas pela Lei de Diretrizes e Bases
terá como finalidades: I – a consolidação e da Educação, apresentam-se as Diretrizes
o aprofundamento dos conhecimentos ad- Curriculares Nacionais para o Ensino Médio
quiridos no Ensino Fundamental, possibili- (Parecer CEB 5/2011), que tem como pres-
tando o prosseguimento de estudos; II – a supostos e fundamentos: Trabalho, Ciência,
preparação básica para o trabalho e a cida- Tecnologia e Cultura.
dania do educando, para continuar apren- Quando se pensa em uma definição para
dendo, de modo a ser capaz de se adaptar o conceito Trabalho, não se pode deixar de
com flexibilidade a novas condições de ocu- abordar a sua condição ontológica, pois essa é
pação ou aperfeiçoamento posteriores; III – condição imprescindível para a humanização
o aprimoramento do educando como pes- do homem. É por meio dele que se instaura o
soa humana, incluindo a formação ética e o processo cultural, ou seja, é no momento em
desenvolvimento da autonomia intelectual que o homem age sobre a natureza, transfor-
e do pensamento crítico; IV – a compreen- mando-a, que ele se constitui como um ser
são dos fundamentos científico-tecnológi- cultural. Portanto, o Trabalho não pode ser
cos dos processos produtivos, relacionando desvinculado da Cultura, pois estes se com-
a teoria com a prática, no ensino de cada portam como faces da mesma moeda. Sinte-
disciplina. tizando, pode-se dizer que o homem produz
sua realidade, apropria-se dela e a transfor­
Com a incorporação do Ensino Médio à ma, somente porque o Trabalho é uma con-
Educação Básica, entra em vigor, a partir do dição humana/ontológica e a Cultura é o re-
ano de 2007, o Fundo de Manutenção e De- sultado da ação que possibilita ao homem ser
senvolvimento da Educação Básica e de Valo- homem.

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
ARTE 19

Trabalho, Ciência, Tecnologia e Cultura surgem como propiciadoras de um novo mun-


constituem um todo que não se pode disso- do, inclusive, determinando o nível de desen-
ciar, isso porque ao se pensar em Trabalho volvimento socioeconômico de um país.
não se pode deixar de trazer ao pensamento Seguindo as orientações das Diretrizes
o resultado que ele promove, ou seja, a pro- Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, a
dução. Imediatamente, compreende-se que a formação integral do educando deve promo-
Tecnologia não é possível sem um pensamen- ver reflexões críticas sobre modelos culturais
to elaborado, sistemático e cumulativo, daí, pertinentes à comunidade em que ele está
pensar-se em Ciência. Para se ter a ideia do inserido, bem como na sociedade como um
que é referido, pode-se recorrer aos primór- todo. Sob essa ótica, é de fundamental impor-
dios da humanidade, quando o homem trans- tância haver unicidade entre os quatro pres-
formou uma pedra em uma faca, a fim de se supostos educacionais: Trabalho, Ciência,
proteger das feras. Nos dias de hoje, quando a Tecnologia e Cultura que devem estar atrela-
Ciência tornou-se o núcleo fundante das nos- dos entre pensamento e ação e a busca inten-
sas vidas, retirando o homem do seu pedes- cional das convergências entre teoria e práti-
tal, pois foi com o seu triunfo que ele deixou ca na ação humana (Parecer CEB 5/2011).
de ser o centro do universo, as Tecnologias

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
ARTE 21

Currículo Escolar: Aproximação com o cotidiano

A discussão sobre o Currículo Básico é O excerto em destaque trata da vinculação


hoje um tema presente nos projetos políti- ou da dependência do Currículo ao contexto
co-pedagógicos das escolas, nas pesquisas, no qual ele está inserido. Nele, as várias re-
nas teorias pedagógicas, na formação inicial lações que se estabelecem socialmente estão
e continuada dos professores e gestores, e, incluídas, dado que se trata de uma represen-
ainda, nas propostas dos sistemas de ensino, tação social e, por isso, todas as sensações,
tendo no seu centro a especificidade do co- especulações, conhecimentos e sentimentos,
nhecimento escolar, priorizando o papel da para que ele contemple as necessidades dos
escola como instituição social voltada à tare- educandos, são abordadas. Por outro lado,
fa de garantir a todos o acesso aos saberes não se pode desprezar a produção cognitiva,
científicos e culturais. resultado do acúmulo de conhecimentos que
Segundo as Diretrizes Curriculares Nacio- garantem a permanência da humanidade.
nais para o Ensino Médio, em seu artigo 8.°: Conforme diversos autores citados por
Sabini (2007), esses fundamentados no texto
O Currículo é organizado em áreas de co- de Sacristán e de Seed (2003), o Currículo é
nhecimento, a saber: um conjunto de conhecimentos ou de maté-
rias a ser apreendido pelo educando dentro
I – Linguagens. de um ciclo-nível educativo ou modalidade
II – Matemática. de ensino; o Currículo é uma experiência re-
III – Ciências da Natureza. criada nos educandos, por meio da qual po-
IV – Ciências Humanas. dem desenvolver-se; o Currículo é uma tarefa
e habilidade a serem dominadas; o Currículo
§1.° – O currículo deve contemplar as qua- é um programa que proporciona conteúdos e
tro áreas do conhecimento, com tratamen- valores, para que os educandos melhorem a
to metodológico que evidencie a contextu- sociedade, podendo até mesmo reconstruí-la.
alização e a interdisciplinaridade ou outras Para Silva (2004), o Currículo é definido,
formas de interação e articulação entre portanto, como lugar, espaço, território, rela-
diferentes campos de saberes específicos. ção de poder. Como sabemos, ele também é
o retrato da nossa vida, tornando-se um do-
§2.° – A organização por área de conheci- cumento de identidade em termos de apren-
mento não dilui nem exclui Componentes dizagem e construção da subjetividade. Isso
Curriculares com especificidades e sabe- serve para mostrar a importância que o Currí-
res próprios construídos e sistematizados, culo pode tomar nas nossas vidas.
mas implica no fortalecimento das relações Considerando a história do Currículo es-
entre eles e a sua contextualização para colar, remetemo-nos ao momento em que se
apreensão e intervenção na realidade, re- iniciam as reflexões sobre o ensino ou quan-
querendo planejamento e execução conju- do ele é considerado como uma ferramenta
gados e cooperativos dos seus professores. pedagógica da sociedade industrial. Assim,

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
22 LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS

partindo do contexto social, o Currículo se faz teo­ria única, mas um conjunto de teorias e
presente em formas de organização da socie- saberes, ou seja, o Currículo, desatrelado do
dade. Dessa forma, podemos compreendê-lo aspecto de simples listagem de conteúdos,
como produto de um processo de conflitos passa a ser um processo constituído por um
culturais dos diferentes grupos de professores encontro cultural, de saberes, de conheci-
que o elaboram (LOPES, 2006). Lopes com- mentos escolares na prática da sala de aula,
preende, ainda, que é necessário conhecer local de interação professor e educando.
as várias formas de conceituação de Currículo Nesse sentido, cabe àqueles que condu-
que são elaboradas para nortear o trabalho zem os destinos do país, e, especificamente,
dos professores em sala de aula. Para Lopes aos que gerem os destinos da Educação no
(idem), o Currículo é elaborado em cada esco- Amazonas encontrar o melhor caminho para
la, com a presença intelectual, cultural, emo- o norteamento do que é necessário, conside-
cional, social e a memória de seus participan- rando a realidade local, a realidade regional
tes. É na cotidianidade, formada por múltiplas e a nacional. E, ainda, sem deixar de conside-
redes de subjetividade, que cada um de nós rar os professores, os gestores, os educandos,
forja nossas histórias de educandos e de pro- os pais e a comunidade em geral. Não basta,
fessores. apenas, a fundamentação teórica bem alicer-
Considerando a complexidade da história çada, mas o seu entendimento e a sua aplica-
do Currículo, não é possível conceber uma ção à realidade.

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
ARTE 23

Um conhecimento FUNDADO SOBRE Competências


e Habilidades

A Secretaria de Estado de Educação e Qua- conhecimentos adquiridos em sala de aula e


lidade do Ensino, com base nas Diretrizes Cur- fora dela, o que necessariamente implica um
riculares do Ensino Médio, reitera em sua Pro- trabalho interdisciplinar.
posta Curricular os seguintes pressupostos: Ao falarmos em Interdisciplinaridade no
formação integral dos educandos; o trabalho ensino, é preciso considerar a contribuição
e a pesquisa como princípio educativo e peda- dos PCN. Um olhar mais atento a esse docu-
gógico; a indissociabilidade entre educação e mento revela-nos a opção por uma concep-
prática social, considerando-se a historicidade ção instrumental de Interdisciplinaridade:
dos conhecimentos e dos sujeitos do processo
educativo, bem como entre teoria e prática no Na perspectiva escolar, a interdisciplinari-
processo de ensino-aprendizagem; a integra- dade não tem a pretensão de criar novas
ção de conhecimentos gerais e, quando for o disciplinas ou saberes, mas de utilizar os
caso, de conhecimentos técnico-profissionais. conhecimentos de várias disciplinas para
Os pressupostos garantidos implicam a resolver um problema concreto ou compre-
responsabilidade dos atores perante o pro- ender um fenômeno sob diferentes pontos
cesso educativo na busca constante dos me- de vista. Em suma, a Interdisciplinaridade
canismos que o transformem em ação efetiva. tem uma função instrumental. Trata-se de
Esses mecanismos dizem respeito ao porquê recorrer a um saber útil e utilizável para
e como trabalhar determinados conhecimen- responder às questões e aos problemas
tos de forma a atingir a formação integral do sociais contemporâneos (BRASIL, 2002, p.
cidadão, vivenciando, assim, a dimensão so- 34-36).
ciopolítica da educação, o que define o Cur-
rículo como ferramenta de construção social. Nos PCN+ (2002), o conceito de Interdis-
Nesse sentido, esta Proposta sugere o Ensino ciplinaridade fica mais claro. Neles é destaca-
fundado em Competências e a não fragmen- do que um trabalho interdisciplinar, antes de
tação dos conhecimentos em disciplinas iso- garantir associação temática entre diferentes
ladas, o que exige uma postura interdiscipli- disciplinas – ação possível, mas não impres-
nar do professor. Os Parâmetros Curriculares cindível – deve buscar unidade em termos de
Nacionais do Ensino Médio (PCN +) orientam prática docente, independentemente dos te-
a organização pedagógica da escola em tor- mas/assuntos tratados em cada disciplina iso-
no de três princípios orientadores, a saber: a ladamente. Essa prática docente comum está
Contextualização, a Interdisciplinaridade, as centrada no trabalho permanentemente vol-
Competências e Habilidades. tado para o desenvolvimento de Competên-
Para melhor compreender os pressupos- cias e de Habilidades, apoiado na associação
tos, apresenta-se a definição: contextualizar ensino-pesquisa e no trabalho expresso em
significa localizar um conhecimento determi- diferentes linguagens, que comportem diver-
nado no mundo, relacionando-o aos demais sidades de interpretação sobre os temas/as-

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
24 LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS

suntos abordados em sala de aula. Portanto, Os caminhos na busca da Interdisciplina-


são esses elementos que dão unidade ao de- ridade devem ser percorridos pela equipe
senvolvimento dos diferentes Componentes docente de cada unidade escolar. O ponto de
Curriculares, e não a associação dos mesmos partida é determinado pelos problemas esco-
em torno de temas supostamente comuns a lares compartilhados pelos professores e por
todos eles. sua experiência pedagógica. O destino é de-
Esta proposta é expressiva porque ela terminado pelos objetivos educacionais, ou
promove a mobilização da comunidade es- melhor, pelo projeto político pedagógico da
colar em torno de objetivos educacionais escola. A Interdisciplinaridade, nesse sentido,
mais amplos, que estão acima de quaisquer assume como elemento ou eixo de integração
conteúdos, porém sem descaracterizar os a prática docente comum voltada para o de-
Componentes Curriculares ou romper com senvolvimento de Competências e Habilida-
os mesmos. Sua prática na escola cria, acima des comuns nos educandos.
de tudo, a possibilidade do “encontro”, da No que diz respeito à Competência, cabe
“partilha”, da cooperação e do diálogo e, por dizer que numa sociedade em que o conhe-
isso, traz-se nesta proposta a perspectiva da cimento transformou-se no principal fator
Interdisciplinaridade como ação conjunta dos de produção, um dos conceitos que transita
professores. entre o universo da economia e da educação
Ivani Fazenda (1994, p. 82) fortalece essa é o termo “competência”. A ideia de compe-
ideia, quando fala das atitudes de um “profes- tência surge na economia como a capacidade
sor interdisciplinar”: de transformar uma tecnologia conhecida em
um produto atraente para os consumidores.
Entendemos por atitude interdisciplinar No contexto educacional, o conceito de com-
uma atitude diante de alternativas para petência é mais abrangente. No documento
conhecer mais e melhor; atitude de espera básico do Enem, as competências são associa-
ante os atos consumados, atitude de reci- das às modalidades estruturais da inteligên-
procidade que impele à troca, que impele cia ou às ações e às operações que utilizamos
ao diálogo – ao diálogo com pares idênti- para estabelecer relações com e entre obje-
cos, com pares anônimos ou consigo mes- tos, situações, fenômenos e pessoas.
mo – atitude de humildade diante da limi- Para entendermos o que se pretende, é
tação do próprio saber, atitude de perple- necessário dizer que o ensino fundado em
xidade ante a possibilidade de desvendar Competências tem as suas bases nos vários
novos saberes, atitude de desafio – desafio documentos elaborados, a partir das discus-
perante o novo, desafio em redimensio- sões mundiais e nacionais sobre educação,
nar o velho – atitude de envolvimento e dentre eles a Conferência Mundial de Edu-
comprometimento com os projetos e com cação Para Todos, realizada na Tailândia, em
as pessoas neles envolvidas, atitude, pois, 1990, os “Pilares da Educação para o Século
de compromisso em construir sempre, da XXI”1: aprender a conhecer, a fazer, a viver, a
melhor forma possível, atitude de respon-
sabilidade, mas, sobretudo, de alegria, de 1 Relatório para a Unesco da Comissão Internacional sobre
Educação para o Século XXI, coordenada por Jacques
revelação, de encontro, de vida. Delors. O Relatório está publicado em forma de livro no
Brasil, com o título Educação: Um Tesouro a Descobrir (São
Paulo: Cortez Editora, Unesco, MEC, 1999).

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
ARTE 25

ser; e nas Diretrizes Curriculares Nacionais – • Localizar, acessar e usar melhor a infor-
Parâmetros Curriculares Nacionais. Todos es- mação acumulada;
ses documentos enfatizam a necessidade de • Planejar, trabalhar e decidir em grupo.
centrar o ensino e a aprendizagem no desen-
volvimento de Competências e de Habilidades Concebe-se que uma pessoa é competen-
por parte do educando, em lugar de centrá-lo, te quando tem os recursos para realizar bem
apenas, no conteúdo conceitual. uma determinada tarefa, ou seja, para resol-
Como se pode comprovar, tanto o Ensino ver uma situação complexa. O sujeito está ca-
Fundamental quanto o Ensino Médio têm tra- pacitado para tal quando tem disponíveis os
dição conteudista. Na hora de falar de Com- recursos necessários para serem mobilizados,
petência mais ampla, carrega-se no conteúdo. com vistas a resolver os desafios na hora em
Não estamos conseguindo separar a ideia de que eles se apresentam. Nesse sentido, educar
Competência da ideia de Conteúdos, porque a para Competências é, então, ajudar o sujeito
escola traz para os educandos respostas para a adquirir as condições e/ou recursos que de-
perguntas que eles não fizeram: o resultado é verão ser mobilizados para resolver situações
o desinteresse. As perguntas são mais impor- complexas. Assim, educar alguém para ser um
tantes do que as respostas, por isso o enfo- pianista competente é criar as condições para
que das Diretrizes/Parâmetros nos conteúdos que ele adquira os conhecimentos, as habili-
conceituais, atitudinais e procedimentais, o dades, as linguagens, os valores culturais e os
que converge para a efetivação dos pilares da emocionais relacionados à atividade específica
Educação para o século XXI. Todavia, é hora de tocar piano muito bem (MORETTO, 2002).
de fazer e de construir perspectivas novas. As- Os termos Competências e Habilidades,
sim, todos nós somos chamados a refletir e a por vezes, se confundem; porém fica mais fá-
entender o que é um ensino que tem como cil compreendê-los se a Competência for vista
uma das suas bases as Competências e Habi- como constituída de várias Habilidades. Mas
lidades. uma Habilidade não “pertence” a determina-
O Ministério da Educação determina as da Competência, uma vez que a mesma Ha-
competências essenciais a serem desenvolvi- bilidade pode contribuir para Competências
das pelos educandos do Ensino Fundamental diferentes. É a prática de certas Habilidades
e Médio: que forma a Competência. A Competência é
algo construído e pressupõe a ação intencio-
• Dominar leitura/escrita e outras lingua- nal do professor.
gens; Para finalizar, convém dizer que esta Pro-
• Fazer cálculos e resolver problemas; posta caminha lado a lado com as necessida-
• Analisar, sintetizar e interpretar dados, des educacionais/sociais/econômicas/filosófi-
fatos, situações; cas e políticas do país, que não deixam de ser
• Compreender o seu entorno social e as do mundo global. Assim sendo, é interesse
atuar sobre ele; dos educadores preparar a juventude amazo-
• Receber criticamente os meios de co- nense para enfrentar os desafios que se apre-
municação; sentam no século XXI, daí ao conhecimento
fundado em Competências e Habilidades.

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
ARTE 27

Áreas do conhecimento: A integração dos saberes

A Proposta Curricular do Ensino Médio totalidade. Uma perspectiva, como se pode


compreende as quatro Áreas de Conhecimen- ver, dos novos tempos.
to, constantes da base nacional comum dos Em Matemática e suas Tecnologias abor-
currículos das escolas de Ensino Médio e es- daram-se conhecimentos que destacassem
tabelece, como fundamento pedagógico, con- aspectos do real, cabendo ao educando com-
teúdos os quais devem ser inclusos, fundados preender os princípios científicos nas tecno-
sobre competências, previamente analisados, logias, associando-os aos problemas que se
reagrupados e organizados em conformidade busca resolver de modo contextualizado. E,
com as necessidades dos envolvidos: educan- ainda, trazendo a Matemática para a concre-
dos, professores, gestores, todos os profissio- tude do educando. Com isso, quer-se dizer
nais do processo educativo. que a Matemática abandona o espaço abs-
A organização nas quatro Áreas de Conhe- trato, apenas atingível pelo pensamento, para
cimento tem por base compartilhar o objeto explicar a rea­lidade do educando, por meio
de estudo, considerando as condições para das situações-problema em que se situam o
que a prática escolar seja desenvolvida em homem concreto, real, em um universo ma-
uma perspectiva interdisciplinar, visando à terial, espiritual, emocional. Podendo-se até
transdisciplinaridade. mesmo dizer que a proposta de Matemática
Em Linguagens, Códigos e suas Tecnolo- é feita com as nossas emoções, com as nos-
gias, elencaram-se Competências e Habili- sas paixões, discutindo-se esse conhecimento
dades que permitam ao educando adquirir na sua região de saber, problematizando-se o
domínio das linguagens como instrumentos próprio império da razão.
de comunicação, em uma dinamicidade, e si­ Em Ciências da Natureza e suas Tecnolo-
tuada no espaço e no tempo, considerando as gias, consideraram-se conhecimentos que
relações com as práticas sociais e produtivas, contemplem a investigação científica e tecno-
no intuito de inserir o educando em um mun- lógica, como atividades institucionalizadas de
do letrado e simbólico. Como se sabe, a lin- produção de conhecimento. Mais uma vez,
guagem é instauradora do homem. Sem ela, entende-se que o conhecimento não pode
ele não existe, pois somente assim, quando se mais ser concebido de forma compartimen-
considera que o homem fala, é que se diz que tada, como se cada uma das suas esferas fos-
ele existe, pois é a linguagem que o distingue se de direito e de posse de cada um. Assim,
dos demais animais. Nesse sentido, a lingua- vislumbram-se, sobretudo, a interdisciplina-
gem é ampla, explicitada pela fala, pelo corpo, ridade e a transdisciplinaridade. O momento
pelo gesto, pelas línguas. Aqui, discute-se as em que se constrói um novo conhecimento
Áreas de Conhecimento, superando-se o com- é privilegiado, pois ele retorna a um estágio
partimento das disciplinas, porque somente inaugural, no qual o saber não se comparti-
agora o homem se compreendeu como um menta, mas busca a amplitude, visando com-
ser que poderá ser visto e reconhecido na sua preender o objeto de forma ampla, conside-

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
28 LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS

rando sua complexidade. Por isso, a Física, Para o Ensino Médio do Estado do Amazo-
por exemplo, pode ser expressa em forma de nas, pensou-se em organizar os Componentes
poema, e a Biologia, que trata da vida dos se- Curriculares fundamentados nas diretrizes nor-
res, pode ser expressa em forma de música. teadoras desse nível de ensino, sem desconsi-
Somente assim o homem poderá falar de um derar as questões de cunho filosófico, psicoló-
homem mais humano, em uma perspectiva gico, por exemplo, que as mesmas implicam,
total, integradora. expressas pelo Ministério da Educação, consi-
Em Ciências Humanas e suas Tecnologias, derando a autonomia das instituições escola-
em que se encontra também a Filosofia, con- res e a aprendizagem dos educandos de modo
templam-se consciências críticas e criativas, efetivo. Os conteúdos apresentam-se por meio
com condições de responder de modo ade- de temas, os quais comportam uma bagagem
quado a problemas atuais e a situações novas, de assuntos a serem trabalhados pelos profes-
destacando-se a extensão da cidadania, o uso sores, conforme as especificidades necessárias
e a produção histórica dos direitos e deveres para cada nível de ensino. As Competências e
do cidadão e, ainda, considerando o outro em Habilidades expressam o trabalho a ser pro-
cada decisão e atitude. O importante é que o posto pelo professor quanto ao que é funda-
educando compreenda a sociedade em que mental para a promoção de um educando mais
vive, como construção humana, entendida preparado para atuar na sociedade. E os pro-
como um processo contínuo. Não poderia dei- cedimentos metodológicos, como sugestões,
xar de ser mais problemática a área de Ciên- auxiliam o professor nas atividades a serem
cias Humanas, pois ela trata do homem. Ten- experienciadas pelos educandos, ressaltando-
do o homem como seu objeto, ela traz para -se que se trata de um encaminhamento que
si muitos problemas, pois pergunta-se: Quem norteará a elaboração de um Planejamento
é o homem? Quem é este ser tão complexo Estratégico Escolar.
e enigmático? Estas são questões propostas Ressalta-se, também, que foram acrescen-
pela própria Área de Conhecimento de Ciên- tadas alternativas metodológicas para o ensi-
cias Humanas. Todavia, ela existe porque o ho- no dos Componentes Curriculares constantes
mem existe e é por isso que ela exige a forma- do Ensino Médio, no intuito de concretizar
ção e a atenção de profissionais competentes. esta Proposta, além de propiciar ao profes-
Considerando-se toda a problemática que a sor ferramentas com as quais poderá contar
envolve é que a atenção sobre a mesma é re- como um recurso a mais no encaminhamento
dobrada e que os cuidados são mais exigidos. de seu trabalho em sala de aula.

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
1
O COMPONENTE CURRICULAR
INTEGRADOR DA MATRIZ DO
ENSINO MÉDIO
30 LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
ARTE 31

1.1 A Arte no Ensino Médio imprescindível à apreciação artística e à frui-


ção estética.
Chegar ao Ensino de Arte ideal talvez seja
Existem dois níveis na experiência artís- utópico. É preciso definitivamente, pelo me-
tica: o lúdico e a obra de arte. No primeiro, nos, encontrar alternativas para propiciar o
há o jogo, a atividade artística espontânea, reconhecimento do aspecto educativo da
despreo­cupada, onde não há uma relação atividade artística e, baseado nele, perceber
rigorosa, no sentido estético, entre o artista e difundir a dimensão sociocultural da arte,
e a obra, ou seja, não há um diálogo efetivo além de vê-la como manifestação sensitiva
entre obra e apreciador, porque, a rigor, eles e expressiva dos anseios do ser humano e
não existem. No segundo, a produção artísti- respeitá-la como forma de conhecimento do
ca, propriamente dita, configura-se na relação mundo. Nesse sentido, o papel da escola e o
entre o artista, a obra de arte e o apreciador, compromisso social do professor de arte é, de
dentro de um processo comunicativo e ex- fato, ensinar a ver como se ensina a ler, de en-
pressivo com códigos próprios de interação. sinar a sentir como se ensina a pensar, da mes-
Nos dois níveis da experiência artística há um ma forma que a educação será incompleta e
sentido educativo e uma construção de valo- inócua, caso não esteja pautada nos princípios
res estéticos que se traduzem tanto no pro- democráticos da liberdade de expressão.
cesso educativo informal quanto no formal.
Partindo desse pressuposto e, consideran-
do que o Ensino Fundamental deve contem- o papel da escola e o compromisso
plar as experiências artísticas lúdicas como social do educador de arte é, de
fator educativo nas diversas fases do desen- fato, ensinar a ver como se ensina
volvimento infantil, cabe ao Ensino Médio a ler, de ensinar a sentir como se
oportunizar as experiências voltadas para a ensina a pensar, da mesma forma
produção artística, visando ao reconhecimen-
que a educação será incompleta e
to da identidade cultural, ao aprimoramento
da percepção estética e ao desenvolvimento
inócua, caso não esteja pautada nos
da sensibilidade, por meio da pesquisa, da princípios democráticos da liberdade de
relação interdisciplinar e do aguçamento do expressão.
senso crítico.
A arte é constituída de quatro elementos
os quais podem ser considerados como sua A arte precisa ser entendida como um
matéria-prima: o movimento, a cor, o som e a componente curricular que visa contribuir
forma. Mas, neste caso, a matéria-prima pre- para a formação integral do educando, con-
cisa ser entendida como percepção sensorial siderando suas competências, os aspectos so-
primeira. Relaciona-se, principalmente, a três ciointerativos, o conhecimento, a ciência, os
sentidos básicos: visão, audição e tato (pare- fatores cognitivos e, principalmente, a educa-
ce um paradoxo afirmar que se pode produzir ção dos sentidos. Formar artistas, portanto,
ou perceber arte por meio do olfato e do pa- não deve ser a preocupação da escola em to-
ladar). Essa percepção sensorial é essencial e dos os níveis da Educação Básica. No caso do

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
32 LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS

5. A pesquisa como procedimento de cria-


Formar artistas, portanto, não deve ção artística e de acesso aos bens cultu-
ser a preocupação da escola em todos rais;
os níveis da Educação Básica. No caso 6. O mundo natural e o cultural como fon-
do Ensino Médio, a produção artística te de experiências sensíveis, cognitivas,
deve ser encarada como meio e não perceptivas e imaginativas;
7. As fontes de documentação, preserva-
como fim.
ção e difusão da arte;
8. A diversidade de manifestações artísti-
cas;
Ensino Médio, a produção artística deve ser 9. O valor da arte na sociedade, em dife-
encarada como meio e não como fim. rentes culturas e na vida dos indivíduos;
Assim, o professor de arte precisa, em 10. As interfaces da arte com os demais co-
primeiro lugar, ter consciência de sua impor- nhecimentos.
tância na condução de seu ofício e na teia
construtiva da educação nacional. Não raro,
percebe-se a subutilização do professor de arte é linguagem e, como tal, precisa
arte no ambiente escolar, denotando a forma ser compreendida como código em
secundária como o Ensino de Arte é tratado. E suas diversas representações. Nesse
em segundo lugar, mobilizar-se, ter ciência do
sentido, o educando precisa reconhecer
compromisso social e ter conhecimento dos
instrumentos de mudança e de transforma-
os códigos, o texto, o canal e o
ção. Esta proposta apresenta-se como um dos contexto.
instrumentos de busca de melhoria na quali-
dade do ensino.
Nesse sentido, os Parâmetros Curricula- As Orientações Curriculares para o Ensi-
res Nacionais para o Ensino Médio (2006) se no Médio (2006) partem da premissa de que
constituem num bom começo. É mister lem- arte é “um tipo particular de narrativa sobre
brar as diretrizes de conteúdo e de procedi- o mundo, diferente da narrativa científica,
mentos metodológicos sugeridos: da filosófica, da religiosa e dos usos cotidia-
nos da linguagem”. O documento enfatiza
1. A arte como expressão, comunicação e que arte é linguagem e, como tal, precisa ser
representação individual; compreendida como código em suas diversas
2. A compreensão e a utilização de técni- representações. Nesse sentido, o educando
cas, procedimentos e materiais artísti- precisa reconhecer os códigos, o texto, o ca-
cos; nal e o contexto.
3. Os elementos das linguagens da arte e É preciso lembrar ainda que, segundo os
suas dimensões: técnicas, formais, ma- Parâmetros Curriculares Nacionais para o En-
teriais e sensíveis; sino Médio, o Ensino de Arte está situado no
4. A apreciação na compreensão e na in- âmbito interno da área de Linguagens, Códi-
terpretação da arte; gos e suas Tecnologias. Pela natureza das dis-

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
ARTE 33

ciplinas que a compõem, a convergência das culturas, de diferentes épocas e locais – in-
competências gerais dá-se no eixo Represen- cluindo sempre a contemporaneidade, a
tação e Comunicação. Isso não quer dizer que arte brasileira, e apresentando, de forma
os eixos Investigação e Compreensão da área sistemática, produções artísticas de quali-
de Ciências da Natureza, Matemática e suas dade de cada um desses contextos.
Tecnologias e o eixo Contextualização Socio-
cultural, da área de Ciências Humanas e suas As Orientações Curriculares Nacionais
Tecnologias, não se comuniquem. (2006) apresentam ao professor de Arte:
O que se espera é que de forma interdis-
ciplinar haja interação de conteúdos, Compe- ...um conjunto geral de conteúdos, visando
tências e Habilidades, a fim de que se possa atender às diversas modalidades artísticas
alcançar o objetivo maior de formar o edu- – artes visuais, audiovisuais, dança, músi-
cando para o trabalho, para o exercício pleno ca, teatro. Fizemos a seleção com base nos
da cidadania, para o reconhecimento de sua critérios expostos, considerando a continui-
identidade cultural e para a crítica social. dade e aprofundamento dos conhecimen-
Esta proposta curricular, portanto, pautou- tos desenvolvidos no ensino fundamental,
a -se no trabalho de seleção e de organização e sua organização procura possibilitar a
de conteúdos constantes nas premissas apre- articulação de três instâncias: o fazer artís-
e sentadas nos PCNEM. Seguem-se os objetivos tico; a apreciação da arte; a reflexão sobre
que norteiam os conteúdos: o valor da arte na sociedade e na vida dos
ecer
indivíduos. Essa articulação deve incluir
• favoreçam o desenvolvimento e o exercício tanto o ponto de vista do aprendiz quanto
das Competências da área e a possibilidade a compreensão dessas instâncias no estudo
de continuar aprendendo mesmo depois e no desfrute da arte nas práticas sociais.
de completada a escolaridade básica;
• possam colaborar na produção de traba- Indiscutivelmente, firma-se, nas Orienta-
lhos de arte pelos estudantes, aproximan- ções Curriculares, o compromisso do profes-
do-os dos modos de produção e apreciação sor de arte em articular as três instâncias de
artística de distintas culturas e épocas e conteúdos no processo de escolha das Com-
familiarizando-os com esses modos;
• favoreçam a compreensão da produção so-
cial e histórica da arte, identificando o pro- Na reflexão sobre o valor da arte na
dutor e o receptor de produtos artísticos sociedade e na vida dos indivíduos,
como partícipes de ações socioculturais; ele constrói junto com o educando
• possibilitem aos alunos a produção e a todas as possibilidades possíveis de
apreciação de trabalhos de arte, reconhe- conhecer, de representar e de ter uma
cendo-se como protagonistas sensíveis,
visão crítica do mundo, aumentando a
críticos, reflexivos e imaginativos nessas
ações;
bagagem cultural, tanto do educando
• representem e valorizem as manifestações quanto do professor.
artísticas e estéticas de distintos povos e

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
34 LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS

em orientar os professores para um plane-


jamento pedagógico eficiente e eficaz. Cabe
ao professor selecionar os conteúdos de sua
Todo o conjunto de informações disciplina, definir as Competências e as Habili-
sugeridas nesta proposta curricular dades que se espera despertar em cada etapa
precisa ser entendido como base de do desenvolvimento do educando, além de
orientação para a reflexão, para o encontrar os meios e as formas necessárias
planejamento e para a execução das para o alcance dos objetivos educacionais
ações pedagógicas do professor e da propostos no processo ensino/aprendizagem.
escola. Todo o conjunto de informações sugeridas
nesta proposta curricular precisa ser entendi-
do como base de orientação para a reflexão,
para o planejamento e para a execução das
ações pedagógicas do professor e da escola.
petências e das Habilidades que se pretende A atitude do professor de arte diante desses
atingir no Componente Ensino de Arte. No desafios será fundamental para a melhoria
fazer artístico, ele possibilita a experiência e da qualidade do ensino e para a superação
o enriquecimento do repertório do educando paulatina das dificuldades apresentadas. O
na produção artística. Na apreciação da arte, currículo é uma ferramenta, não uma lista de
ele favorece a formação do gosto e o entendi- procedimentos pragmáticos. O educador é
mento da arte como linguagem. Na reflexão um articulador/mediador, não um reprodutor
sobre o valor da arte na sociedade e na vida de conhecimentos estanques e cristalizados.
dos indivíduos, ele constrói junto com o edu- A escola é o ambiente da ciência, da produção
cando todas as possibilidades possíveis de co- e da práxis do conhecimento, não um cartório
nhecer, de representar e de ter uma visão crí- de expedição de títulos.
tica do mundo, aumentando a bagagem cul-
tural, tanto do educando quanto do educador.
Nessa direção, as Orientações Curriculares Objetivo geral do componente curricular
para o Ensino Médio (2006) destacam que
essa discussão possibilita um entendimen- Favorecer a interpretação e a represen-
to mais acurado das relações transversais e tação do mundo, fortalecendo processos de
interdisciplinares que a arte estabelece com identidade e de cidadania, por meio das lin-
outros campos do conhecimento e com a rea- guagens artísticas visuais, musicais, coreo-
lidade, ao mesmo tempo em que também res- gráficas, cênicas e literárias, possibilitando a
gata sua identidade como forma específica de relação interdisciplinar entre as diversas áreas
conhecimento, de mediação e de construção do conhecimento, visando atender às Compe-
de sentido. tências e às Habilidades de representação e
Como se pode perceber, a preocupação do comunicação; de investigação e compreen-
Ministério de Educação (MEC) se concentra são; e de contextualização sociocultural.

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
ARTE 35

1.2 Quadro demonstrativo do Componente Curricular

1ª Série

Objetivos específicos:

• Conhecer as premissas e os pressupostos inerentes ao conceito de arte, favorecendo


a compreensão da arte como cultura, comunicação, expressão e experiência estética,
visando ao entendimento de sua função social e sua relação com a identidade cultural;
• Refletir sobre o folclore, a cultura popular e sobre a preservação do patrimônio histó-
rico e cultural, material e imaterial;
• Refletir sobre o fenômeno artístico nas diversas culturas, em especial, na cultura bra-
sileira, na africana e na indígena;
• Refletir sobre a importância das novas tecnologias para a produção e para a aprecia-
ção da arte.

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
36
Eixo Temático: A Arte e o Homem: expressão e comunicação
COMPETÊNCIAS HABILIDADES CONTEÚDOS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

• Compreender a arte como • Reconhecer diferentes funções da A concepção de arte • Realizando leitura e discussão, em grupo,
saber cultural e estético, arte, do trabalho da produção dos • A arte como linguagem apresentando de forma escrita o conceito de arte;
gerador de significação e artistas em seus meios culturais; • Refletindo sobre os processos que envolvem a
integrador da organização • Arte como expressão simbólica
• Distinguir a linguagem artística de percepção da beleza nas artes visuais;
do mundo e da própria outras formas de comunicação; • Arte e experiência estética
• Realizando leitura textual e apreciando obra de

DO ENSINO MÉDIO
identidade; • A arte como forma de
• Reconhecer a representação arte;
• Entender a relação entre da realidade no processo de conhecimento

PROPOSTA CURRICULAR
• Confeccionando objetos de arte nas diversas
arte, comunicação, construção do objeto artístico; • Arte, cultura e sociedade linguagens artísticas, buscando representar a
estética, conhecimento
• Relacionar as experiências • As principais linguagens artísticas identidade cultural;
e cultura, reconhecendo
artísticas e estéticas, analisando a (Artes Visuais, Música, Dança, • Apreciando tipos de obra de arte e discutindo, em
a sua função social e
concepção de beleza; Teatro e Artes Literárias) grupo, os diversos sentidos de beleza;
as diversas formas de
linguagem; • Reconhecer a arte como condição • As artes visuais como forma de • Pesquisando os artistas locais e o papel dos
de identidade cultural e como linguagem mesmos na consolidação da identidade cultural;
• Compreender o objeto de
arte como parte integrante meio de transformação social; • A história das Artes Visuais • Realizando leitura de textos e elaborando painéis
do imaginário e da • Diferençar as diversas linguagens (Pré-história, Antiga, Medieval, sobre cada linguagem artística;
transcendência inerente ao artísticas, analisando o processo Moderna e Contemporânea)
criativo da obra, o papel do artista • Utilizando desenho como forma de comunicação
ser humano. • Artes Visuais – artes plásticas
e a forma de apreciação; entre grupos;
(desenho, pintura, escultura,
• Distinguir signos visuais, gravura, cerâmica, grafite, • Realizando leitura e interpretação de textos
audiovisuais e de mídias instalações contemporâneas etc.) históricos;
eletrônicas, percebendo o • Artes Visuais – fotografia, cinema • Pesquisando a vida e a obra de artistas;

1º BIMESTRE
potencial comunicativo das artes e audiovisuais • Utilizando as diversas técnicas em artes plásticas,
LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS

visuais; com materiais variados e expondo os resultados;


• Artes Visuais – arte, computador e
• Utilizar os diversos tipos de multimídia • Analisando fotos, filmes e escrevendo sobre a
artes plásticas como forma de importância dessas mídias para o mundo atual;
• A forma nas artes visuais (a
expressão;
imagem, o olho e o olhar) • Pesquisando os artistas produtores de arte no
• Associar as técnicas de fotografia computador;
• A concepção estética das artes
com as do cinema;
visuais • Percebendo imagens com mensagens
• Compreender a evolução histórica subliminares, por meio de jogos;
das artes visuais, os signos
• Utilizando o computador como nova ferramenta
representativos e os diversos tipos
para a produção artística;
de artes plásticas;
• Analisando as configurações do processo de
• Compreender a importância
captação da imagem pelo olho e pelo olhar do
da fotografia, do cinema e dos
apreciador;
diversos recursos artísticos
audiovisuais para o contexto da • Contextualizando o processo histórico das
sociedade atual, incluindo as novas artes visuais, considerando sua importância
formas de arte advindas da era do sociocultural;
computador; • Realizando leitura sobre as técnicas de cinema e de
• Distinguir as experiências estéticas fotografia;
advindas da apreciação dos • Determinando, em grupo, o belo e o feio, na obra
diversos tipos de artes visuais. de arte visual, por meio de jogos sobre o juízo
estético.
estético.

COMPETÊNCIAS HABILIDADES CONTEÚDOS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

• Compreender a evolução • Distinguir signos sonoros e o A música como forma de • Utilizando a música popular brasileira como forma de
histórica, os signos potencial comunicativo dos sons linguagem comunicação entre grupos;
representativos, os e da música; • A história da música • Contextualizando o processo histórico da música e da
processos que envolvem • Reconhecer a diferença entre o dança, considerando sua importância sociocultural;
a percepção da beleza na • Música – o som e a música
som e a música; • Identificando os elementos componentes da expressão
música, e a importância • Música – os elementos da
do som como fonte de • Distinguir as experiências música musical;
produção musical; estéticas advindas da apreciação • Percebendo as configurações do processo de captação
dos vários tipos de gêneros • A forma na música (os sons, os
• Compreender os signos gêneros e os estilos) do som pela audição e pela sensibilidade musical do
musicais; apreciador;
representativos, a evolução • A concepção estética da música
histórica e a importância do • Distinguir signos gestuais e • Refletindo sobre os processos que envolvem a
o potencial comunicativo do • A dança como forma de percepção da beleza na música e na dança;
corpo e do movimento para
movimento e da dança; linguagem
a produção coreográfica. • Analisando, como apreciador, o processo de
• Relacionar a música ao • A história da dança reconhecimento da forma na dança e na música;
movimento; • Dança – o corpo e o • Utilizando os elementos da música como forma de
• Utilizar os elementos da dança movimento expressão;
como forma de expressão; • Dança – os elementos da dança • Realizando leitura, interpretação de textos históricos e
• Perceber as configurações do • A forma na dança (o corpo, o pesquisando sobre vida e obra de artistas;
processo de captação da música movimento e o ritmo)
e do movimento pela visão e • Pesquisando a sonoridade de ruídos e sons musicais,
• A concepção estética da dança pretendendo transformá-los em música;
pela sensibilidade gestual e
coreográfica do apreciador; • A dança no Brasil • Experimentando as diversas técnicas de música, com

2º BIMESTRE
• Distinguir as experiências • A música brasileira (folclórica, materiais variados e expondo os resultados;
estéticas advindas da apreciação popular e erudita) • Trabalhando jogos de percepção sonora por meio de
dos diversos tipos e gêneros de instrumentos musicais;
dança; • Determinando, em grupo, o belo e o feio, na obra de
• Reconhecer, na música e na arte musical, por meio de jogos sobre o juízo estético;
dança brasileira, as dimensões • Cantando músicas folclóricas, populares e eruditas;
folclórica, popular e erudita.
• Utilizando a expressão corporal como forma de
comunicação entre grupos;
• Expressando-se por meio da dança de forma livre e de
forma coreográfica;
• Experimentando as várias técnicas de dança, com
materiais variados e expondo os resultados;
• Trabalhando jogos de percepção do som e do
movimento, por meio da livre expressão do corpo;
• Determinando, em grupo, o belo e o feio, na expressão
da dança, por meio de jogos sobre o juízo estético;
• Expressando-se por meio de danças folclóricas,
ARTE

populares e eruditas.

DO ENSINO MÉDIO
PROPOSTA CURRICULAR
37
38

COMPETÊNCIAS HABILIDADES CONTEÚDOS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

DO ENSINO MÉDIO
• Compreender a evolução • Relacionar o corpo ao processo de O teatro como forma de linguagem • Utilizando jogos dramáticos como forma de

PROPOSTA CURRICULAR
histórica, os signos composição cênica da personagem; universal comunicação entre grupos;
representativos do teatro, e • Distinguir as experiências estéticas • A história do teatro • Realizando leitura e interpretação de textos
a importância da expressão advindas da apreciação dos diversos históricos e pesquisando sobre vida e obra de
corporal para a produção • Teatro: o corpo e a expressão, os
tipos e gêneros de peças teatrais; elementos do teatro artistas;
de peças, reconhecendo
os elementos que • Conhecer o teatro produzido no • A forma no teatro (o corpo, a palavra • Compondo personagens que utilizem apenas
distinguem a expressão e o Brasil, valorizando-o; e o palco) os gestos como recurso;
potencial comunicativo da • Reconhecer, no teatro brasileiro, • A concepção estética do teatro • Experimentando as técnicas de teatro, com
dramaturgia e do teatro. as dimensões folclórica, popular e materiais diversos e expondo os resultados;
erudita; • O teatro no Brasil
• Trabalhando jogos de percepção do corpo e
• Reconhecer, no teatro brasileiro, da palavra, por meio de técnicas teatrais;
seu engajamento nas questões • Analisando, enquanto apreciador, o processo
sociais. de reconhecimento da forma no teatro;
• Percebendo as configurações do processo de

3º BIMESTRE
captação da expressão corporal, da voz e da
cenografia pela sensibilidade visual e gestual
LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS

do apreciador;
• Utilizando os elementos do teatro como
forma de expressão;
• Contextualizando o processo histórico
do teatro, considerando sua importância
sociocultural;
• Refletindo sobre os processos que envolvem
a percepção de beleza no teatro;
• Determinando, em grupo, o belo e o feio, na
expressão teatral, por meio de jogos sobre o
juízo estético;
• Produzindo pequenas peças teatrais sobre
temas sociais.
COMPETÊNCIAS HABILIDADES CONTEÚDOS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

• Compreender os signos • Distinguir signos verbais e o A literatura como linguagem artística • Contextualizando o processo histórico das
representativos e a potencial comunicativo da • A história da literatura artes literárias, considerando sua importância
evolução histórica das artes construção poética nas artes sociocultural;
literárias, associando-os literárias; • As artes literárias (poesia, poema,
conto, romance, novela, dramaturgia • Relacionando o conceito de folclore e de
aos movimentos artístico- • Compreender os conceitos de cultura popular ao objeto artístico;
literários ocorridos no Brasil; etc.)
folclore e de cultura popular; • Utilizando a poesia como forma de
• Identificar as expressões • Os movimentos artístico-literários
• Identificar os vários tipos de arte no Brasil comunicação entre grupos;
artísticas advindas da literária;
cultura africana e indígena, • Arte, folclore e cultura popular • Realizando leitura e interpretação de textos
considerando a influência • Distinguir os principais movimentos históricos e pesquisando sobre vida e obra de
literários ocorridos no Brasil; • Arte e cultura brasileira artistas e de escritores brasileiros;
dessas na consolidação da

4º BIMESTRE
• Identificar a origem e as • Arte e cultura africana • Experimentando as diversas técnicas de
cultura brasileira;
características da cultura brasileira; • Arte e cultura indígena produção literária e expondo os resultados;
• Compreender a contribuição
das novas tecnologias para • Reconhecer a identidade e a • Arte, novas tecnologias e • Pesquisando as manifestações folclóricas que
a difusão, a apreciação diversidade cultural africana e cibercultura envolvam as expressões artísticas;
e a produção artística, indígena no Brasil; • Realizando audição de música brasileira e
considerando o contexto da • Identificar as características recitando textos de poetas brasileiros;
cibercultura. da cibercultura e as formas de • Apreciando vídeos da internet, do cinema, de
inserção da arte no mundo virtual. documentários e de telejornais;
• Produzindo arte por meio do computador.
ARTE

DO ENSINO MÉDIO
PROPOSTA CURRICULAR
39
O
so
or
his
ide
ao
no
ARTE 41

1.3 Alternativas metodológicas para o


ensino de Arte o professor de arte precisa ser alertado
de que a atividade artística é um dos
Propostas e pressupostos de Ação: meios mais eficazes de promoção
As atividades interdisciplinares por meio da de um trabalho interdisciplinar
arte envolvendo todas as áreas de
conhecimento, por meio de métodos
Não há como negar que qualquer proposta
de educação que vise à qualidade pressupõe e de planejamentos integrados, onde
uma ação pedagógica interdisciplinar. Infeliz- todas as disciplinas podem dispor deste
mente, ainda persiste o entendimento de que recurso didático privilegiado que é a
cada educador é dono de um determinado arte.
ramo do saber e que a educação do indivíduo
deve ser construída em partes separadas. Da
mesma forma, ainda persiste a ideia de que o recurso didático privilegiado que é a arte. O
professor de arte é um ser “sobrenatural” que movimento, a forma, o gesto, o som, as cores,
domina todas as expressões artísticas, poden- a poesia, o rabisco o reconhecimento do pa-
do ser, ao mesmo tempo, dançarino, poeta, trimônio histórico e artístico e a própria iden-
pintor, músico, ator e até crítico de arte. No tidade cultural do educando são, ao mesmo
sistema educacional, o professor de arte é vis- tempo, conteúdo e recurso no processo ensi-
to como um profissional polivalente, quando no/aprendizagem.
na verdade seu ofício exige que ele seja um Os Parâmetros Curriculares Nacionais para
profissional interdisciplinar. Como a escola o Ensino Médio enfatizam a necessidade do
continua promovendo uma prática educacio- trânsito interdisciplinar entre as áreas de
nal setorial e pragmática, o professor de arte conhecimento: Linguagens, Códigos e suas
precisa ser alertado de que a atividade artísti- Tecnologias, Ciências da Natureza e suas
ca é um dos meios mais eficazes de promoção Tecnologias, Ciências da Matemática e suas
de um trabalho interdisciplinar, envolvendo Tecnologias e Ciências Humanas e suas Tec-
todas as áreas de conhecimento, por meio nologias, visando atender às competências
de métodos e de planejamentos integrados, contidas nos eixos gerais: Representação e
onde todas as disciplinas podem dispor desse Comunicação, Investigação e Compreensão e
Contextualização Sociocultural.
Sendo a arte parte integrante dos pro-
O movimento, a forma, o gesto, o
cessos simbólicos inerentes ao ser humano,
som, as cores, a poesia, o rabisco, ela precisa ser vista como meio e fim, assim
o reconhecimento do patrimônio como precisa ser apreendida e compreendida
histórico e artístico e a própria de forma contextualizada. O trabalho inter-
identidade cultural do educando, são, disciplinar, por meio da arte, precisa ser ca-
ao mesmo tempo, conteúdo e recurso paz de orientar o educando a contextualizar
no processo ensino/aprendizagem. o mundo à sua volta, considerando toda a sua
construção histórica. Isso porque, segundo os

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
42 LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS

PCNEM, o objetivo último e fundamental da • estimulador do olhar crítico dos alunos


Os p
educação – e da presença da arte nos currí- com relação às formas produzidas por eles,
culos como uma forma particular de conheci- pelos colegas e pelos artistas e temas es-
sele
mento – é capacitar o educando a interpretar tudados, bem como as formas da natureza enq
e a representar o mundo à sua volta, fortale- e das que estão produzidas pelas culturais; conh
cendo processos de identidade e cidadania. • formulador de um destino para os traba- edu
lhos dos alunos (pastas de trabalhos, expo-
A importância da pesquisa nas atividades ar- sições, apresentações etc.);
tísticas • descobridor de propostas de trabalho que
visam sugerir procedimentos e atividades
A tradição pedagógica brasileira vem de- que os alunos podem concretizar para de-
monstrando que o professor tem se limitado senvolver seu processo de criação, de refle-
a repassar conteúdos programáticos e a ava- xão ou de apreciação de obras de arte;
liar de forma pragmática se houve aprendi- • analisador dos trabalhos produzidos pelos
zagem ou não. Esse perfil “conteudista” do alunos junto com eles, para que a aprendi-
professor não é apenas culpa dele. O próprio zagem também possa ocorrer a partir des-
sistema educacional nem sempre oportuniza sa análise, na apreciação que cada aluno
tempo para a pesquisa e, consequentemen- faz por si do seu trabalho com relação aos
te, o professor tem dificuldade de preparar demais.
o educando-pesquisador. Nesse sentido, o
professor precisa ter um comportamento de Esse papel pedagógico jamais poderá ser
pesquisador, estimulando os educandos a vivenciado sem que o educador pesquise.
buscar novas respostas a cada situação que É preciso encontrar tempo, procedimentos
lhes aparecerem, para que de forma crítica e metodológicos e motivação para o desenvol-
vimento de pesquisa no ambiente escolar. O
principal objetivo da pesquisa como forma
o professor precisa ter um didática é despertar no educando o espírito
comportamento de pesquisador, científico: a curiosidade. O conhecimento é
estimulando os educandos a sempre consequência dessa atitude.
buscar novas respostas a cada situação
que lhes aparecerem, para que de A pedagogia de projetos no Ensino de Arte
forma crítica e contextualizada, possam
O professor de arte precisa ter em suas
posicionar-se diante da realidade mãos o maior número possível de estratégias
sociocultural. didáticas para possibilitar a aprendizagem.
Dentre esses instrumentos, o projeto (conhe-
cido no contexto didático como projeto cul-
contextualizada possam posicionar-se diante tural, projeto de ação, projeto de trabalho ou
da realidade sociocultural. pedagogia de projetos) cada vez mais se torna
Segundo os Parâmetros Curriculares Na- indispensável. Saber lidar com projetos edu-
cionais de Arte (1997), o professor de arte é: cacionais, tanto no nível de criação quanto no

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
ARTE 43

transversais também são favoráveis para o


Os projetos devem buscar nexos na
trabalho com projetos em Arte.
seleção dos conteúdos por série, Assim como no Ensino Fundamental, o En-
enquanto as relações entre os distintos sino Médio permite que as áreas se incorpo-
conhecimentos são realizados pelo rem umas às outras e o educando possa ser o
educando. principal agente das relações entre as diversas
disciplinas. Os projetos devem buscar nexos
na seleção dos conteúdos por série, enquanto
nível técnico, científico e de execução é o ca- as relações entre os distintos conhecimentos
minho do crescimento didático/pedagógico e, são realizados pelo educando. Cabe à escola
ainda, uma alternativa eficaz na condução dos lhe proporcionar oportunidade de liberdade e
conteúdos e nas práticas interdisciplinares. de autonomia cognitiva.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais de
Arte (1997) sugerem aos professores que pla- A formação de grupos de produção artística
nejem situações de aprendizagem para o gru-
po, seguindo alguns critérios: É muito propícia, no Ensino Médio, a cria-
ção de grupos de produção artística. A própria
• eleição de projetos em conjunto com os maturidade cronológica, afetiva e cognitiva
alunos; do educando desse nível favorece o desen-
• participação ativa dos educandos em pes- volvimento das atividades artísticas de inte-
quisas e produções de referenciais ao longo gração e de interação. Grupos de teatro, de
do projeto em formas de registro que todos música, de dança, de artes visuais e de litera-
possam compartilhar; tura devem ser incentivados como produção
• práticas de simulação de ações em sala educativa, visando ao desenvolvimento da
de aula que criam correspondência com capacidade criadora, de socialização, de auto-
situações sociais de aplicação dos temas conhecimento e da percepção estética, além
abordados, por exemplo, dar um seminá- de propiciar o reconhecimento da identidade
rio como se fosse um crítico de arte, opinar cultural. É evidente que alguns cuidados de-
sobre uma peça apresentada como se esti- vem ser tomados para não transformar esse
vesse falando para uma emissora de TV em recurso didático em compromisso profissional
programa de notícias culturais; ou em comprometimento que não seja edu-
• eleição de projetos relacionados aos conte- cacional. A exposição dos resultados da pro-
údos trabalhados, com o objetivo de estru- dução artística deve obedecer aos limites dos
turar um produto concreto, como um livro
de arte, um filme, a apresentação de um
grupo de música. A formação artística oferecida pela
escola visa à formação integral do
Na prática, os projetos podem envolver educando, por meio do aguçamento de
ações entre disciplinas, como, por exemplo, Competências e de Habilidades voltadas
Língua Portuguesa e Arte, Matemática e Arte à representação e à comunicação.
e, assim, por diante. Os conteúdos dos temas

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
44 LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS

objetivos de aprendizagem e não aos capri- As atividades interdisciplinares, exempli-


chos e vaidades de gestores, professores ou ficadas nas sugestões de atividades abaixo,
educandos. É muito perigoso o entendimento poderão ser realizadas plenamente na sala de
de que arte na escola obedece a requintes, a arte da escola.
procedimentos e a critérios de produção ar-
tística profissional. A formação artística ofe-
recida pela escola, como dito anteriormente, 1.3.1 Sugestões de atividades didático-peda-
visa à formação integral do educando, por gógicas
meio do aguçamento de Competências e de
Habilidades voltadas à representação e à co- Atividade 1
municação.
Exemplo de atividade
A criação da sala de arte na escola interdisciplinar

Para que se possa pôr em prática um tra- Objetivo: Possibilitar alternativas didáticas
balho interdisciplinar efetivo por meio da ati- interdisciplinares no Ensino Médio, visando
vidade artística, a escola precisa criar um am- relacionar os conteúdos da área de Arte aos
biente adequado e equipado com as condi- demais Componentes do Currículo.
ções necessárias para que o professor de arte Competência: Compreender a importân-
possa potencializar suas atividades. Trata-se cia da relação entre os conteúdos do ensino
de um espaço amplo, equipado com recursos de arte e os conhecimentos gerais necessá-
audiovisuais, instrumentos musicais, pia, ban- rios à formação para o trabalho e para a ci-
cadas e carteiras apropriadas para as artes dadania.
visuais e espaço cênico. Propõe-se o projeto Habilidade: Perceber o valor das ativida-
“sala de arte”, onde, ao invés do professor des interdisciplinares como meio didático de
de arte se dirigir à sala, os educandos seriam interação entre os diversos conteúdos do en-
deslocados para ela, a partir de um planeja- sino de arte.
mento multidisciplinar e interdisciplinar. Den- Tema: Meio ambiente e sustentabilidade
tro de uma programação planejada, a ida dos Linguagem artística: Teatro
educandos à sala de arte seria acompanha- Componentes envolvidos: Língua Portu-
da pelos professores das outras disciplinas e guesa, História e Biologia
juntos participariam das atividades artísticas Atividade: A representação do meio am-
de interesse de cada área de conhecimento. biente e seus problemas pela linguagem teatral.
Nesse espaço, além das aulas e experimenta- Descrição da atividade: a linguagem tea­
ções do próprio componente de arte, haveria tral auxilia no processo de sensibilidade do
a possibilidade da troca de experiências e do corpo e como elemento de grande dinamiza-
compartilhamento de temas e de conteúdos. ção das aulas e das tarefas escolares. Nesta
Para isso, faz-se necessário investimento em atividade, o teatro proporcionará a reflexão
equipamentos e em recursos humanos, além sobre os problemas relacionados ao meio am-
de uma equilibrada adequação das propostas biente e servirá como suporte para o entendi-
curriculares. mento das técnicas de produção de texto, do

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
ARTE 45

contexto sociocultural que envolve a questão tar uma história, valorizando, assim, os
ambiental e de seus contornos bioéticos. seus elementos e a sua forma escrita;
• Leve o educando a entender o contexto
Atividades: da história criada. Por fim, leve o edu-
cando a discutir sobre o contexto ético
a) Escreva uma história sobre qualquer inerente à reflexão sobre o meio am-
tema, envolvendo o meio ambiente. biente;
Destaque três personagens, cada um • Lembre-se: não se trata de uma ativi-
bem diferente do outro. Por exemplo, dade exclusiva de uma aula. É preciso
um velho, um menino, uma mulher. Pri- determinar no planejamento o tempo,
meiro, leia em voz alta a sua história. a metodologia, os recursos e a forma de
Segundo, divida a turma para que cada avaliação. Os professores das disciplinas
grupo represente a mesma história, que envolvidas devem participar de todo o
poderá ser selecionada por todos da processo de criação, de exposição e de
turma (a melhor história, na opinião da reflexão. Esta atividade também poderá
turma, será a escolhida para ser ence- ser desenvolvida em forma de projeto
nada). Cada grupo representará à sua didático extraclasse, onde a turma terá
maneira a história, sendo que, na pri- a oportunidade de visitar um parque
meira vez, será encenada sem o uso de ambiental da cidade.
palavras, só com gestos e, depois, com a
utilização de palavras, de acordo com o Fonte: adaptado do Livro Arte na Educação
texto escolhido; Infantil, Capítulo: "Teatro e Educação", de Jorge
Bandeira (p. 150)
b) Peça aos grupos que realizem a cena em
três velocidades diferentes: com movi-
mentos normais, bem lentos e muito rá- Atividade 2
pidos. Observe a reação dos educandos
e comente sobre espaço e tempo; Exemplo de atividade
c) Ao final, peça para os educandos reco- de pesquisa em arte
lherem antigas histórias sobre a relação
entre o homem e a natureza (do tempo Objetivo: Possibilitar o exercício da pes-
da vovó!) e criarem representações tea- quisa por meio de atividades práticas e pro-
trais simples, com poucos personagens gramadas, favorecendo a reflexão sobre os
sobre a degradação e a preservação dos conteúdos de arte, a partir do reconhecimen-
bens naturais; to do meio.
d) Discuta e reflita sobre os conteúdos re- Competência: Compreender a dimensão
lacionados ao tema. da pesquisa como recurso didático no ensino
de arte.
Procedimentos: Habilidade: Perceber as possibilidades
que a pesquisa oferece na condução prática
• Leve o educando a observar, agora, de conteúdos teóricos no contexto das artes.
como é importante a maneira de con-

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
46 LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS

Título: A poesia da natureza: subsídios busque os parâmetros práticos e visíveis de


para o entendimento da relação entre a expe- compreensão.
riência estética e a experiência artística. Diante desse contexto, este projeto preten-
Objetivos de propiciar além da vivência, a construção de
Geral: Propiciar a compreensão do concei- parâmetros lógicos que respeitem as referên-
to de estética por meio da percepção sensível cias socioculturais do educando. Busca-se per-
da natureza, visando identificar na flora, na mitir a visibilidade do discurso filosófico sobre
fauna e nos demais elementos naturais subsí- estética na práxis da experiência estética, como
dios para relacionar arte à experiência estéti- forma de compreender sua relação com a arte.
ca por meio do poema. Por meio dos sentidos, a percepção da na-
Específicos: tureza será o grande laboratório de aprendi-
• Conhecer o conceito de beleza, por meio zagem e o principal filtro da discussão sobre
dos diversos elementos naturais; beleza, sobre fruição e gosto. As experiências
• Refletir, por vivência, sobre a relatividade adquiridas servirão como fonte e subsídio
entre o conceito de beleza e de fealdade; para a reflexão sobre a produção artística na
• Exercitar os sentidos, identificando formas, linguagem poética.
cores, texturas, simetria e assimetria, som, Esse laboratório permitirá a autonomia de
cheiro, sabor etc.; aprendizagem e o fomento criativo necessário
• Identificar subsídios e elementos da natu- à compreensão filosófica do belo e de seus
reza que possam ser aplicados à produção desdobramentos no contexto do produto ar-
artística literária; tístico, considerando a percepção da fauna, da
• Traduzir a expressão de beleza da natureza flora, dos elementos naturais como a água, o
na linguagem poética. sol, a chuva, os minerais, a natureza morta e a
influência do homem em seu meio ambiente.
Justificativa:
O estudo sobre estética é eminentemen- Conteúdos:
te filosófico, denso e de apelo racional. Isso • Os elementos da natureza como subsídios
exige do educando uma forte dose de dedi- para os produtos culturais;
cação às leituras e de muito exercício reflexi- • A beleza e a fealdade: uma questão relativa;
vo para que tenha êxito na aquisição do co- • A experiência estética advinda da natureza;
nhecimento necessário à autonomia em suas • A natureza e o estético no objeto de arte;
formulações. • A linguagem poética.
Percebe-se que o excesso teórico do con-
teúdo sobre estética nas aulas de arte vem Metodologia:
causando certo desconforto e até a fadiga O projeto está dividido em duas etapas
dos educandos, especialmente quando estes que se complementam no processo de orga-
buscam as referências práticas dos conteúdos nização e de aprendizagem:
contidos no discurso do professor. Não basta
ilustração, exemplos e comparações. É nor- 1. Atividade prática: visita, de um dia, ao
mal que, em conteúdos teóricos, o educando sítio Portal da Esperança, na estrada do Pa-
ricatuba, km 21, no município de Iranduba,

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
ARTE 47

ou a outro lugar que se destaque pela bele- • Aula expositiva e dialogada sobre o proces-
za natural, onde serão realizadas as seguin- so criativo de elaboração da obra de arte;
tes atividades: • Preparação da exposição artística, resulta-
do final da pesquisa;
• Passeio nas trilhas da propriedade, vi- • Seminário de avaliação dos resultados da
sando à observação da natureza em exposição artística e reflexão sobre os con-
toda a sua plenitude; teúdos propostos na atividade.
• Identificação dos elementos naturais
que agradam e desagradam (o bonito e Avaliação:
o feio e sua relatividade); A avaliação e o acompanhamento da ati-
• Exercícios de percepção pelos cinco sen- vidade de pesquisa serão feitos obedecendo
tidos (identificação de formas, cores, aos seguintes critérios:
texturas, simetria e assimetria, som,
cheiro, sabor etc.); • participação em todas as etapas do traba-
• Registro audiovisual das percepções sig- lho, considerando a frequência e o engaja-
nificativas durante o passeio; mento individual e coletivo;
• Reunião de todo o grupo para refletir • qualidade do relato de experiências vividas
sobre o que fora percebido no passeio; durante a atividade prática;
• Reunião de pequenos grupos para ela- • impressões sobre a pesquisa no seminário
boração de um poema sobre a expres- de avaliação da mesma;
são de beleza percebida no contato com • qualidade da compreensão dos conteúdos
a natureza; da pesquisa e da exposição artística, por
• Confraternização com um almoço; meio de avaliação escrita.
• Hora do lazer (sem perder de vista as
percepções sensíveis e a fruição desse Atividade 3
momento de encontro com a natureza);
• Elaboração de um pequeno relato de Exemplo de projeto didático em Arte
experiências vividas, durante a atividade
prática. Objetivo: Possibilitar o planejamento de
atividades programadas dentro do contexto
2. Atividade teórica: em sala de aula – ela- da pedagogia de projetos, visando enriquecer
boração de um produto artístico, a partir as aulas de arte.
das informações, imagens, percepções Competência: Compreender a excelência
sensíveis e do poema composto pelos gru- do projeto didático como forma e como meio
pos, tendo nos produtos da natureza os de desenvolver atividades artísticas na escola.
parâmetros estéticos concebidos e vividos Habilidade: Perceber que as respostas às
durante a atividade prática. reflexões propostas nos conteúdos artísticos
estão no universo da vivência e da experiência.
Atividades complementares:
• Aula expositiva e dialogada sobre a estrutu- Título: “Música e movimento: os alicerces
ra do projeto de construção artística; da dança”

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
48 LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS

Aprendizes: Educandos da 1ª série do En- c) O educando será incentivado a traduzir


sino Médio da Escola Estadual (definir) os ritmos em forma de movimentos co-
Educador: Professor (definir) reografados;
Justificativa: descrever sobre a relevância d) Ao final da atividade prática e expressiva,
do projeto, dando um diagnóstico da realida- o grupo será reunido para conversar so-
de da turma, pontuando as vantagens didáti- bre as experiências vividas pelos educan-
cas e as aprendizagens do conteúdo específi- dos, individualmente. Serão estimulados
co. Observe o exemplo anterior. a refletir sobre as seguintes questões:

Objetivos • Qual o ambiente musical que nos rodeia?


Geral: Identificar a música e o movimento • Qual a relação entre música e movimento
como os meios básicos para a dança, criando na expressão humana?
um ambiente propício para a expressão es- • Como a música contribui para a expressão
pontânea do corpo e do gesto. corporal e gestual?
Específicos: • Qual o significado da expressão da dança?
• Perceber o ritmo musical e sua divisão fra- • A dança precisa da coreografia?
cionária de tempo; • De que forma a dança nos permite expres-
• Perceber o movimento corporal por meio sar nossa visão de mundo?
da livre expressão; • Como entender a linguagem da dança?
• Distinguir os movimentos coreográficos da
dança, a partir dos ritmos musicais. Ao final da atividade, os educandos farão
um relatório das tarefas, destacando sua per-
Conteúdos: cepção particular sobre o universo da dança.
a) Percepção do corpo; A avaliação da atividade se dará pela parti-
b) Percepção do ritmo musical e suas divi- cipação e pela qualidade das ideias expostas.
sões; O projeto didático poderá ser utilizado, es-
c) A expressão da dança; pecialmente nas atividades extraclasses, uma
d) As técnicas coreográficas relacionadas vez que seu objetivo é proporcionar a novida-
ao ritmo musical. de, novas possibilidades. O professor precisa
fugir da rotina didática. Na medida do possí-
Relato da situação de Aprendizagem (Me- vel, é preciso propor novos caminhos, partin-
todologia): do do anseio dos educandos.
a) A partir da audição de música popular,
em seus diversos ritmos, o educando Fonte: adaptado do Livro Didática do
buscará dar sentido corporal a essas ex- Ensino de Arte: a Língua do Mundo – Po-
periências; etizar, Fruir e Conhecer Arte de Mirian
b) O educando será incentivado a traduzir Celeste Martins e Outros (p. 179-180).
os ritmos em forma de movimentos es-
pontâneos;

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
ARTE 49

Atividade 4 • Promover a socialização dos educandos


pelo aguçamento da apreciação musical.
Exemplo de atividade de formação de grupos
de produção artística Beneficiários
Educandos da 1ª série do Ensino Médio da
Objetivo: Possibilitar as técnicas e os pro- Escola Estadual (a definir) e membros da co-
cedimentos necessários para a formação de munidade do bairro (a definir).
grupos de produção artística na escola.
Justificativa
Competência: Compreender a dimensão A música sempre esteve presente na vida
do fomento à criação artística por meio da dos indivíduos e de certa forma está associa-
formação de grupos de produção. da às tradições e às culturas de cada época.
Habilidade: Perceber que o processo de Atualmente, o desenvolvimento tecnológico
socialização na escola pode ser incentivado aplicado às comunicações vem modificando
por meio da arte e da formação artística. consideravelmente as referências musicais
concebidas pela sociedade por meio da es-
Formato: Projeto cultural de formação cuta simultânea de vários elementos da pro-
Atividade: Criação do grupo de canto coral dução musical como o CD, o DVD, o rádio, a
e de prática de conjunto musical da escola. televisão, o computador etc.
No que diz respeito ao aprendizado de mú-
Objetivos sica na escola e ao ensino de instrumentos
Geral: Desenvolver a educação musical musicais, são notórios os benefícios encontra-
por meio do canto coral, bem como da prá- dos tanto na melhoria do desempenho esco-
tica instrumental, visando criar um ambiente lar quanto na realização pessoal de cada edu-
favorável à percepção musical e ao gosto es- cando. Cabe à escola, portanto, propiciar uma
tético pela música. reflexão sobre a importância da música na
Específicos: formação cultural de jovens, oferecendo-lhes
• Conhecer, por meio de instrumentos musi- toda a possibilidade de contato com a riqueza
cais (violão, flauta-doce e teclado), os ele- e com a profusão que tal estudo oferece.
mentos que compõem a música (melodia, Por isso, considerando a carência de estu-
harmonia e ritmo), utilizando a leitura mu- dos da produção musical no meio escolar e,
sical e a prática de conjunto como elemen- principalmente, as experiências musicais dos
tos de percepção musical; indivíduos no cotidiano, é que se faz necessá-
• Criar, no ambiente escolar, o espaço para rio o projeto “Música na Escola”, no sentido
apresentação de grupos musicais, tais de conduzir os educandos a desenvolverem a
como: duetos, trios, quartetos; percepção musical, o gosto estético e, primor-
• Incentivar o gosto pelo canto, propiciando dialmente, levando-os a perceber a importân-
a formação de grupos de canto coral; cia da música na sociedade e no meio no qual
• Reconhecer, por meio da música instru- estão inseridos.
mental e do canto coral, a identidade cul- É importante lembrar que na aprendiza-
tural nacional e regional; gem da música, a escola pode contribuir para

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
50 LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS

que os educandos se tornem ouvintes sensí- Conteúdos da formação:


veis, amadores talentosos ou músicos profis- a) Leitura rítmica, Escala de valores rítmi-
sionais, proporcionando condições para uma cos, Compasso e Células rítmicas;
apreciação rica e ampla, onde o indivíduo b) Harmonia funcional, Estudo de Escalas,
aprenda a valorizar os momentos em que a Campo harmônico, Função harmônica,
música se inscreve no tempo e na história. Cifras, Progressão harmônica e Reper-
tório;
Metodologia: explicar como será feita cada c) Prática instrumental;
etapa, usando o mesmo padrão de escrita e de d) Técnica vocal;
organização de tópicos e de subtópicos. e) Exercícios de canto.

Etapas:
• Divulgação e inscrição; Cronograma
• Seleção;
• Formação;
Dez

X
• Apresentações;
• Avaliação de rendimento:
Nov

X
1. As turmas de violão deverão ser com-
Out

postas por 12 educandos;

X
2. Os educandos serão selecionados por
Set

níveis;

X
3. Os educandos deverão, em princípio,
Ago

X
ter o seu instrumento;
4. A permanência do educando no projeto
Jul

estará sujeita à/ao: X


Jun

• Rendimento escolar;
X

• Comportamento;
Mai

• Rendimento nas aulas de seu instru-


mento;
Abr

• Frequência no projeto (será uma


aula semanal).
Mar

5. A turma de teclado será composta por 6


educandos;
Fev
X

6. A turma de flauta será composta por 15


Jan

educandos;
7. Os educandos deverão estar cientes da
Apresentações

encerramento
Divulgação do

prática de conjunto e estar disponíveis,


Inscrição dos

Aplicação do

Avaliação do
Processo de
Ações

educandos

Formação

Evento de

se necessário, para apresentações em


Início do

projeto:
seleção

Ensaios
projeto

projeto
Projeto

eventos dentro e/ou fora da escola.

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
ARTE 51

Orçamento Anexos e Apêndices (caso haja).


Recursos materiais: resolver o que é preciso
de material, inclusive de consumo. Definir preço. Fonte: adaptado do Projeto “Musicalizando” da
Recursos humanos: Os profissionais neces- Escola Estadual Brigadeiro João Camarão, de
criação e responsabilidade do Professor Izaías
sários para a execução do projeto poderão tra-
Farias.
balhar no mesmo, por meio de convênio com
outras instituições. A demanda será a seguinte: Obs: Você, professor, poderá desenvolver outros pro-
• Dois professores de música; jetos, inclusive adaptando instrumentos existentes
• Dois estagiários; na sua localidade e cultura.
• Dois educandos colaboradores.

Gerenciamento Atividade 5
A equipe de trabalho responsável pelo
projeto será constituída pelas seguintes fun- Exemplo de atividade extraclasse na área de
ções e pessoas (todos deverão ser definidos educação patrimonial e identidade cultural
no projeto):
Objetivo: Possibilitar as técnicas e os pro-
• Coordenador Geral; cedimentos necessários ao desenvolvimento
• Coordenador Pedagógico; de atividades extraclasse na área de arte.
• Coordenação Artística; Competência: Compreender a cultura e o
• Professor de música; patrimônio como partes integrantes dos con-
• Professor de prática instrumental; teúdos de arte.
• Professor de canto coral; Habilidade: Perceber os processos didáti-
• Estagiário de curso superior de prática ins- cos de reconhecimento da identidade cultural
trumental; por meio de visitas, passeios e viagens.
• Estagiário de curso superior de canto coral;
• Educandos colaboradores: a definir (edu- Atividade:
candos da escola que contribuirão na exe- Visita ao Museu de Arqueologia do Centro
cução do projeto). Cultural “Palacete Provincial” da Secretaria de
Cultura do Amazonas, ou a qualquer outro pa-
Acompanhamento trimônio cultural da sua cidade.
O projeto será avaliado, durante sua exe- Nesta atividade poderá ser escolhido ou-
cução, por meio dos seguintes instrumentos tro ambiente, conforme as condições da sua
de acompanhamento: localidade.
• Reuniões semanais com equipe de trabalho;
• Seminário trimestral com educandos, pais Objetivos
e equipe do projeto; Geral:
• Relatórios parciais mensais; Oportunizar aos educandos da 1ª série do
• Relatório final. Ensino Médio, da disciplina Ensino de Arte da
Escola Estadual (definir), a percepção empíri-
Referências: citar referências de autores ca da dimensão e do valor da cultura material
mencionados no texto do projeto. como objeto de investigação antropológica,

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
52 LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS

especialmente referente à preservação da objetos artísticos ou arqueológicos poderão


identidade cultural amazônica, visando re- ser uma nova descoberta para os educandos.
fletir sobre a contribuição e a influência das
artes visuais, no processo de registro desses Situação e Expectativa de Aprendizagem:
contornos históricos e arqueológicos. • Espera-se que o educando seja capaz de
identificar e reconhecer a Praça da Polícia
Específicos: como um referencial de informações sobre
• Identificar a cultura material dos povos da a história da cidade de Manaus e do Estado
Amazônia; do Amazonas, por meio de seus monumen-
• Relacionar os conteúdos da disciplina Ensi- tos históricos e artísticos, inclusive, obser-
no de Arte aos objetos e artefatos encon- vando o próprio “Palacete Provincial” que
trados; abriga o Museu de Arqueologia;
• Reconhecer a importância da arqueologia, • Espera-se que o educando seja capaz de
da linguística e da etnologia como ciências identificar e reconhecer os objetos e arte-
auxiliares da reflexão antropológica, estéti- fatos, seu tempo e sua história. Pretende-
ca e artística nas artes visuais; -se permitir que as peças arqueológicas
• Refletir sobre a importância da antropolo- nos expliquem o tipo de ser humano que
gia para os conteúdos das artes visuais no as projetou e a evolução cultural e tecno-
Ensino de Arte. lógica que fazem parte da construção an-
tropológica presente nessa linha do tempo;
Metodologia: • Espera-se que o educando seja capaz de
A atividade será realizada às (definir) ho- compreender a importância das artes vi-
ras, do dia (definir) e será desenvolvida em suais na construção da cultura material, na
quatro etapas: diversidade cultural e no compromisso do
• Reunião com o grupo na Praça da Polícia, artista com a identidade cultural e com as
onde serão expostos os objetivos e os pas- transformações sociais.
sos da atividade;
• Passeio na Praça da Polícia, para observar Avaliação:
os monumentos históricos e artísticos; A atividade será avaliada pela observação
• Visita ao Museu de Arqueologia, para ob- do envolvimento dos indivíduos do grupo,
servar os objetos e os artefatos, ouvindo o pela qualidade das ideias expostas no grupo
contexto explicativo dos guias do museu; e pelo estímulo à autoavaliação. Esta ativida-
• Reunião final com o grupo, visando à re- de compõe o leque de situações de aprendi-
flexão sobre o que fora observado e re- zagem propostas no decorrer da disciplina e
lacionando todas as experiências vividas que se enquadram no critério avaliativo de
aos conteúdos pertinentes à educação pa- participação acadêmica do educando.
trimonial e cultural, de interesse às artes
visuais.
A atividade poderá ser desenvolvida em
outros ambientes, conforme a localidade. E os

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
ARTE 53

1.3.2 Sugestões para pesquisa DUARTE JUNIOR, João-Francisco. Fundamen-


tos Estéticos da Educação. São Paulo: Cortez,
Pesquisas bibliográficas 1981.
FERRAZ, Maria Heloísa; FUSARI, Maria F. R.
ARANTES, Antonio Augusto. O que é cultura Metodologia do ensino da arte. São Paulo:
popular. São Paulo: Editora Brasliense S/A. 3. Cortez, 1993.
ed., 1998. FISCHER, Ernest. A Necessidade da Arte. Rio
BARBOSA, Ana Mae. Inquietações no ensino de Janeiro: Ed. Zahar, 1967.
da Arte. São Paulo: Cortez, 2002. PANOFSKY, Erwin. O Significado das Artes Vi-
BARBOSA, Ana Mae Tavares Bastos. Teoria e suais. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1978.
Prática da Educação Artística. São Paulo: Cul- PORCHER, Louis (Organizador). Educação Ar-
trix, 1988. tística: Luxo ou Necessidade? 3 ed. São Paulo:
BARBOSA, Ana Mae Tavares Bastos. Arte no Summus, 1982.
Brasil: Das Origens ao Modernismo. São Pau- READ, Herbert. A Redenção do Robô: Meu
lo: Perspectiva, 1978. Encontro com a Educação Através da Arte.
BARRETT, Maurice. Educação em Arte. Lisboa: São Paulo: Summus, 1986.
Editorial Presença Ltd., 1979.
BOSI, Alfredo. Reflexões Sobre a Arte. 2 ed. Pesquisas em sites
São Paulo: Ática, 1986.
CARAMELLA, Elaine. História da Arte. Fun- http://www.sitedasartes.hpg.com.br
damentos Semióticos. Florianópolis: Editora http://www.mundosites.net/artesplasticas
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COLI, Jorge. O que é Arte. 3 ed. São Paulo: html
Brasiliense, 1983. http://www.siteseartes.com/modules/mas-
CROSS, Jack. O Ensino de Arte nas Escolas. top_publish
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DOS SANTOS, Maria das Graças Vieira Proen- http://www.arteducacao.pro.br
ça. História da Arte. São Paulo: Editora Ática, http://www.artesbr.hpg.ig.com.br/Educa-
2005. cao/11/index_hpg.html
DUARTE JÚNIOR, João-Francisco. O que é Be- http://www.spiner.com.br
leza. 2 ed. São Paulo: Brasiliense, 1987. http://www.portalartes.com.br/
DUARTE JÚNIOR, João-Francisco. Por que Ar- http://www.suapesquisa.com/artesliteratu-
te-educação? Campinas: Papirus, 1983. ra/artemoderna
http://www.dominiopublico.gov.br
http://www.tvescola.mec.gov.br
http://www.louvre.fr/llv/commun/home.jsp

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
ARTE 55

Avaliação: O culminar do processo educativo

A avaliação é a parte culminante do pro- aprendizagem. As avaliações a que o professor


cesso que envolve o ensino e a aprendizagem. procede enquadram-se em três grandes tipos:
Benvenutti (2002) afirma que avaliar é mediar avaliação diagnóstica, formativa e somativa.
o processo ensino-aprendizagem, é oferecer Em se tratando da função diagnóstica, de
recuperação imediata, é promover cada ser acordo com Miras e Solé (1996, p. 381), esta
humano, é vibrar junto a cada educando em é a que proporciona informações acerca das
seus lentos ou rápidos progressos. capacidades do educando antes de iniciar um
E pensando assim, acredita-se que o gran- processo de ensino-aprendizagem, ou ainda,
de desafio para construir novos caminhos, segundo Bloom, Hastings e Madaus (1975),
inclusive, no contexto educacional brasileiro, busca a determinação da presença ou ausên-
está em verificar cada lugar nas suas especi- cia de habilidades e pré-requisitos, bem como
ficidades e nas suas necessidades. Segundo a identificação das causas de repetidas dificul-
Ramos (2001), uma avaliação com critérios de dades na aprendizagem.
entendimento reflexivo, conectado, compar- Em termos gerais, a avaliação diagnóstica
tilhado e autonomizador no processo ensino- pretende averiguar a posição do educando
-aprendizagem é o que se exigiria. Somente em face das novas aprendizagens que lhe vão
assim serão formados cidadãos conscientes, ser propostas e as aprendizagens anteriores
críticos, criativos, solidários e autônomos. que servem de base àquelas, no sentido de
Com isso, a avaliação ganha novo caráter, evidenciar as dificuldades futuras e, em cer-
devendo ser a expressão dos conhecimentos, tos casos, de resolver situações presentes.
das atitudes ou das aptidões que os educan- No que se refere à função formativa, esta,
dos adquiriram, ou seja, que objetivos do en- conforme Haydt (1995, p. 17), permite cons-
sino já atingiram em um determinado ponto tatar se os educandos estão, de fato, atin-
de percurso e que dificuldades estão a revelar gindo os objetivos pretendidos, verificando
relativamente a outros. a compatibilidade entre tais objetivos e os
Essa informação é necessária ao professor resultados, efetivamente alcançados durante
para procurar meios e estratégias que auxi- o desenvolvimento das atividades propostas.
liem os educandos a resolver essas dificulda- Representa o principal meio pelo qual o edu-
des, bem como é necessária aos educandos cando passa a conhecer seus erros e acertos,
para se aperceberem delas (não podem os propiciando, assim, maior estímulo para um
educandos identificar claramente as suas di- estudo sistemático dos conteúdos. Um outro
ficuldades em um campo que desconhecem), aspecto a destacar é o da orientação forneci-
e, assim, tentarem ultrapassá-las com a aju- da por esse tipo de avaliação, tanto ao estudo
da do professor e com o próprio esforço. Por do educando quanto ao trabalho do profes-
isso, a avaliação tem uma intenção formativa. sor, principalmente por meio de mecanismos
A avaliação proporciona também o apoio de feedback. Esses mecanismos permitem
a um processo que é contínuo, contribuindo que o professor detecte e identifique defici-
para a obtenção de resultados positivos na ências na forma de ensinar, possibilitando re-

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
56 LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS

formulações no seu trabalho didático, visando cador e mediador do processo, na execução


aperfeiçoá-lo. Para Bloom, Hastings e Madaus dos processos pedagógicos da escola e, ainda,
(1975), a avaliação formativa visa informar o professores que compreendam o processo de
professor e o educando sobre o rendimento sua disciplina na superação dos obstáculos
da aprendizagem no decorrer das atividades epistemológicos da aprendizagem.
escolares e à localização das deficiências na A abordagem para o processo avaliativo
organização do ensino para possibilitar corre- se dá por meio de tópicos específicos que en-
ção e recuperação. volvem aspectos relacionados à busca do re-
Em suma, a avaliação formativa pretende sultado de trabalho: que educandos devem
determinar a posição do educando ao lon- ser aprovados; como planejar suas provas,
go de uma unidade de ensino, no sentido de bem como qual será a reação dos educandos
identificar dificuldades e de lhes dar solução. e como está o ensino em diferentes áreas do
E quanto à função somativa, esta tem conhecimento que envolvem o Ensino Médio
como objetivo, segundo Miras e Solé (1996, (Krasilchik, 2008).
p. 378), determinar o grau de domínio do Assim, a avaliação ocupa papel central em
educando em uma área de aprendizagem, o todo processo escolar, sendo necessário, des-
que permite outorgar uma qualificação que, sa forma, um planejamento adequado. Para
por sua vez, pode ser utilizada como um sinal isso, vários parâmetros são sugeridos como
de credibilidade da aprendizagem realizada. ponto de partida:
Pode ser chamada também de função credi-
tativa. Também tem o propósito de classifi- • Servem para classificar os educandos
car os educandos ao final de um período de “bons” ou “maus”, para decidir se vão
aprendizagem, de acordo com os níveis de ou não passar;
aproveitamento. • Informam os educandos do que o pro-
Essa avaliação pretende ajuizar o progres- fessor realmente considera importante;
so realizado pelo educando, no final de uma • Informam o professor sobre o resultado
unidade de aprendizagem, no sentido de afe- do seu trabalho;
rir resultados já colhidos por avaliações do • Informam os pais sobre o conceito que
tipo formativa e obter indicadores que permi- a escola tem do trabalho de seus filhos;
tem aperfeiçoar o processo de ensino. • Estimulam o educando a estudar.
Diante do que foi visto, entende-se que
é necessário compreender que as diferentes Essas reflexões, remetem-nos a uma maior
áreas do conhecimento precisam se articular responsabilidade e cautela, para decidir sobre
de modo a construir uma unidade com vistas o processo avaliativo a respeito da construção
à superação da dicotomia entre as disciplinas e aplicação dos instrumentos de verificação
das diferentes ciências. Essa superação se dá do aprendizado e sobre a análise dos seus re-
com o intuito de partilhar linguagens, pro- sultados. Devemos tomar cuidado, ainda, em
cedimentos e contextos de modo que possa relação aos instrumentos avaliativos escolhi-
convergir para o trabalho educativo na escola. dos, para que esses estejam coerentes com
Para isso, é necessária a participação do os objetivos propostos pelo professor em seu
professor, consciente do seu papel de edu- planejamento curricular (Krasilchik, idem).

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
ARTE 57

A avaliação, dessa forma, assume impor- quais teorias nos embasamos para chegar a
tância fundamental, a partir dos seus instru- uma avaliação mais próxima da realidade.
mentos e o professor, por sua vez, precisa estar Além do postulado pedagógico referido,
atento aos objetivos propostos para que a ava- é necessário debruçarmo-nos sobre as novas
liação não destoe daquilo que ele pretende. avaliações que se apresentam, quais os seus
Assim sendo, a avaliação não é neutra no fundamentos, qual a sua forma e quais as
contexto educacional, pois está centrada em suas exigências. É nesse contexto que o Enem
um alicerce político educacional que envol- (Exame Nacional do Ensino Médio), criado em
ve a escola. Assim, para Caldeira (2000 apud 1988, e que tem por objetivo avaliar o desem-
Chueiri, 2008): penho do educando ao término da escolarida-
de básica, apresenta-se como uma proposta
A avaliação escolar é um meio e não um de avaliação digna de ser analisada e assimila-
fim em si mesmo; está delimitada por uma da em seus fundamentos.
determinada teoria e por uma determina- O Enem tomou um formato de “avaliação
da prática pedagógica. Ela não ocorre num nacional”. Isso significa dizer que ele tornou-
vazio conceitual, mas está dimensionada -se o modelo que vem sendo adotado no
por um modelo teórico de sociedade, de país, de norte a sul. Nesse sentido, a ques-
homem, de educação e, consequentemen- tão é saber o motivo pelo qual ele assumiu
te, de ensino e de aprendizagem, expresso o lugar que ocupa. Para compreendê-lo, um
na teoria e na prática pedagógica (p. 122). meio interessante é conhecer a sua “engre-
nagem” e pressupostos. Assim, é necessário
Para contemplar a visão de Caldeira, o pro- decompô-lo nas suas partes, saber o que cada
fessor necessita estar atento aos processos de uma significa, qual a sua relevância e em que
transformação da sociedade, pois estes aca- o todo muda a realidade avaliativa nacional,
bam por influenciar também o espaço da esco- pois ele apresenta-se como algo para além de
la como um todo. Essa constatação é evidente, um mero aferidor de aprendizagens.
quando percebemos o total descompasso da Esse exame constitui-se em quatro pro-
escola com as atuais tecnologias e que, ao que vas objetivas, contendo cada uma quarenta
tudo indica, não estão sendo usadas na sua de- e cinco questões de múltipla escolha e uma
vida dimensão. Por outro lado, quando o pro- proposta para a redação. As quatro provas
fessor não acompanha as transformações re- objetivas avaliam as seguintes áreas de co-
feridas, a avaliação corre o risco, muitas vezes, nhecimento do Ensino Médio e respectivos
de cair em um vazio conceitual. Infelizmente, Componentes Curriculares: Prova I – lingua-
é o que vem ocorrendo em grande parte das gens, Códigos e suas Tecnologias e Redação:
escolas brasileiras. É nesse sentido que cabe a Língua Portuguesa, Língua Estrangeira (Inglês
todos nós repensarmos nossa prática, apren- ou Espanhol), Arte e Educação Física; Prova
dizado e aspirações em termos pedagógicos e, II – Matemática e suas Tecnologias: Mate-
sobretudo, como sujeitos em construção. mática; Prova III – Ciências Humanas e suas
Diante disso, precisamos ter claro o que Tecnologias: História, Geografia, Filosofia e
significa avaliar no atual contexto, que edu- Sociologia; Prova IV – Ciências da Natureza e
candos queremos, baseados em qual ou em suas Tecnologias: Química, Física e Biologia.

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
58 LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS

É por meio da avaliação das Áreas de Co- mos, a sua formulação e o modo como um
nhecimento que se tem o nível dos educan- item é transformado em um aval para o pros-
dos brasileiros e que lhes é permitido ingres- seguimento dos estudos. E não só isso deve
sar no ensino de Nível Superior. Nesse sen- ser levado em consideração, pois alcançar
tido, o Enem não deve ser desprezado; ao um nível de aprovação exige uma formação
contrário, é obrigatório que os professores que inicia desde que uma criança ingressa na
do Ensino Médio conheçam os seus mecanis- Educação Infantil.

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
ARTE 59

Considerações Finais

Após um trabalho intenso, que mobilizou a nossa ação pedagógica. Por isso, os seus
especialistas na área, professores e técnicos, elaboradores foram preparados, por meio de
vê-se concluída a Proposta Curricular para seminários, oficinas e de discussões nos gru-
o Ensino Médio. Esta Proposta justifica um pos que se organizaram, para concretizar os
anseio da comunidade educacional, da qual objetivos definidos.
se espera uma boa receptividade. Inclusive, A Proposta consta de treze Componentes
espera-se que ela exponha com clareza as Curriculares. Todos eles são vistos de forma
ideias, a filosofia que moveu os seus autores. que os professores tenham em suas mãos os
Ela propõe-se a seguir as novas orienta- objetos de conhecimento, assim como uma
ções, a nova filosofia, pedagogia, psicologia forma de trabalhá-los em sala de aula, reali-
da Educação brasileira, daí que ela tem no seu zando a interdisciplinaridade, a transversalida-
cerne o educando, ao mesmo tempo em que de, contextualizando os conhecimentos e os
visa envolver a comunidade, dotando de sig- referenciais sociais e culturais.
nificado tudo o que a envolve. Essa nova pers- E, ainda, ela pretendeu dar respostas às
pectiva da Educação brasileira, que evidencia determinações da LDB que requer um ho-
a quebra ou a mudança de paradigmas, exigiu mem-cidadão, capaz de uma vida plena em
que as leis, as propostas em curso para a Edu- sociedade. Ao se discutir sobre essa Lei e a
cação brasileira fossem reconsideradas. tentativa, via Proposta Curricular do Ensino
Durante o período da sua elaboração, mui- Médio, de concretizá-la, a Proposta sustenta-
tas coisas se modificaram, muitos congressos -se na aquisição e no desenvolvimento de
e debates foram realizados e todos mostra- Competências e Habilidades.
ram que, nesse momento, nada é seguro, É assim que esta Proposta chega ao Ensino
que, quando se trata de Educação, o campo Médio, como resultado de um grande esforço,
é sempre complexo, inconstante, o que nos da atenção e do respeito ao país, aos profes-
estimula a procurar um caminho que nos per- sores do Ensino Médio, aos pais dos educan-
mita realizar de forma consequente e segura dos e à comunidade em geral.

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
ARTE 61

REFERÊNCIAS

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BARBOSA, Walmir de Albuquerque (coord.). suas tecnologias / Secretaria de Educação Bá-
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Troquel, 1975. BRASIL. Diretrizes Curriculares do Ensino Mé-
dio. Parecer CNE/CEB Nº: 5, de 04 de maio de
BRASIL, MEC. PCN + Ensino médio: orien- 2011.
tações educacionais complementares aos
Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: BRASIL, MEC. Parâmetros Curriculares Nacio-
Secretaria de Educação Média e Tecnológica, nais: linguagens, códigos e suas tecnologias
2002. – arte. Brasília: Secretaria de Educação Média
e Tecnológica, 2002.
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais:
ensino médio. Ministério da Educação. Secre- BRASIL, MEC. Parâmetros Curriculares Nacio-
taria de Educação Média e Tecnológica – Brasí- nais (Ensino Médio). Brasília, 2000.
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Educacionais Complementares aos Parâme- 1997.

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
62 LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS

BRASIL, MEC. Linguagens, códigos e suas tec- MARTINS, Míriam; PICOSQUI, Gisa; GUERRA,
nologias / Secretaria de Educação Básica. Maria. Didática do ensino da arte: a língua do
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PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
PROPOSTA CURRICULAR DO ENSINO MÉDIO PARA A REDE
PÚBLICA DO ESTADO DO AMAZONAS

Gerência do Ensino Médio


Vera Lúcia Lima da Silva
 
Coordenação Geral
Tenório Telles

Coordenação Pedagógica
Lafranckia Saraiva Paz
Neiza Teixeira

Consultoria Pedagógica
Evandro Ghedin
HELOISA DA SILVA BORGES

Assessoria Pedagógica
Maria Goreth Gadelha de Aragão

Coordenação da Área de Linguagem, Códigos e suas Tecnologias   


José Almerindo A. da Rosa
Karol Regina Soares Benfica
 
Coordenação da Área de Ciências Humanas e suas Tecnologias
Sheyla Regina Jafra Cordeiro
 
Coordenação da Área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias
João Marcelo Silva Lima
 
Coordenação da Área de Matemáticas e suas Tecnologias
José de Alcântara
 
Organização do Componente Curricular
ELIAS SOUZA FARIAS

Equipe do Ensino Médio


Ana Lúcia Mendes dos Santos
Antônio José Braga de Menezes
Cileda Nogueira de Oliveira
Dayson José Jardim Lima
João Marcelo Silva Lima
Jeordane Oliveira de Andrade
Kátia Cilene dos Santos Menezes
Karol Regina Soares Benfica
Lafranckia Saraiva Paz
Manuel Arruda da Silva
Nancy Pinto do Vale
Rita Mara Garcia Avelino
Sheyla Regina Jafra Cordeiro

PROFESSORES COLABORADORES

Ana Claudia Gama de Queiroz


Ana Cleide da Cruz Marques Carvalho
Danielly Siqueira Cavalcante
Elani Maria de Negreiros Góes
Elienildes Rocha de Souza
Gaspar Vieira Neto
Greice da Costa Moreira
Janete Viana Castro
Juliana de R. Luperdiga Saad
Maria do Socorro Souza da Silva
Neusa da Conceição Neves da Costa
Raimunda Auxiliadora T Arrais
Vanderly Fidelis Lopes

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