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CRIMINOLOGIA

– DANIELA PORT UGAL

AULA15 - T EORIA DO LABELLING APPROACH (CONCLUSÃO)

1. T EORIAS SOCIOLÓGICAS DO CONFLIT O SOCIAL

No bloco passado iniciam os o estudo sobre a crim inologia crítica, a teoria do

etiquetam ento, e a teoria do labelling approach. Nessa sequência irem os discorrer sobre

o pensam ento de Howard Becker.

OBSERVAÇÃO: Antes de iniciar o estudo, especificam ente, do pensam ento de

Bakhtin, a professora inform a a im portância de m apear sobre com o será introduzida e

de qual m aneira surge a ideia do sujeito outsider.

Em 1937, Herbert Blum er utilizou pela prim eira vez a expressão

int e r ac io nis mo s imbó lic o . Ele entendia que da m esm a form a que um sujeito

interage no com portam ento do outro, a sociedade (as relações sociais de um a m aneira

geral) vão repercutir interferindo tam bém na conduta desse sujeito, os

com portam entos num a sociedade são reciprocam ente influenciados.

Dessa m aneira, observa-se que um a determ inada pessoa não é intrinsecam ente

m á e a sua conduta estará relacionada a form a com o ela interage na sociedade.

1.1 INST IT UIÇÕES T OT AIS

A expressão int e r ac io nis mo s imbó lic o é resgatada por Golffm an ao introduzir

o conceito de instituições totais no seu trabalho sobre a noção da disciplina de

organização de um a determ inada sociedade. Ele irá diferenciar essas instituições totais

em cinco grupos:

• Sujeito s inca pa zes/ino fensivo s;


• Sujeito s inca pa zes/o fensivo s (nã o intencio na is);
• O fensivo s intencio na is (ca deia s, penitenciá ria s);
• Instrum enta is;
• Instituiçõ es de refúgio so cia l (religio sa s).

O pr ime ir o gr upo de ins t it uiç õ e s é a que cuida dos sujeitos

incapazes/inofensivos, por exem plo, as organizações que cuidam de pessoas com

deficiência e vão abrigar pessoas cegas que não tem aptidão para o convívio social

sem nenhum tipo de interferência do Estado, pois geraria um a situação de desordem .

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Desta form a, tem -se as instituições voltadas especificam ente para abrigar

sujeitos incapazes de gerenciar suas próprias vidas caso estejam desam parados, e que,

por outro lado, não apresentam para a sociedade com o um todo nenhum tipo de risco,

ou seja, são com pletam ente inofensivos.

O s e gundo gr upo de ins t it uiç õ e s abriga sujeitos que são capazes de

cuidarem de si sozinhos, m as são não intencionalm ente ofensivos. Golffm an vai tratar

de instituições voltadas especificam ente para internar sujeitos com doenças com o

tuberculose, lepra, entre outras que são contagiosas.

Estes sujeitos precisam de am paro do Estado e oferecem para a sociedade um

risco, todavia não há da parte deles a intenção de serem ofensivos para a com unidade.

O t e r c e ir o gr upo de ins t it uiç õ e s são aquelas que irão internar os sujeitos

que oferecem risco intencional para a sociedade. Logo, são intencionalm ente

ofensivos, nessa situação, terem os as cadeias, as penitenciárias, os presídios, as prisões

de m aneira geral com o espécie dessas instituições totais.

O quar t o gr upo de ins t it uiç õ e s são as que instrum entalizam determ inadas

atividades. São instituições que viabilizam o desem penho de determ inadas tarefas e

funções, por exem plo, algum as escolas que funcionam com o internatos ou quartéis

que viabilizarão o exercício de determ inadas atividades e geram um a utilidade

pública, m as essa atividade depende de um regim e de internam ento, desse m odo

seriam algum as instituições instrum entalizadas.

Por fim , tem os o quint o e últ imo gr upo de ins t it uiç õ e s , sendo as que

internariam para funcionar com o instituições de refúgio social. Golffm an m enciona

especificam ente instituições que tem algum a relação com a religião, que perm item

um refúgio da vida social com um com o: os m osteiros, os conventos, e os am bientes

que poderiam viabilizar essa separação da sociedade com um .

Logo, é im portante com preender da expressão instituições totais. Goffm an vai

analisar as instituições com o locais que visam prom over um a certa disciplina, ordem e

que trabalham a partir de regim es de internação, de retirada do convívio social

com um . Dentro desse m odelo para garantia de disciplina de ordenação social estariam

as prisões com o um im portante m arco representativo dessas instituições totais.

1.2 CRIMINALIZAÇÃO PRIMÁRIA E SECUNDÁRIA

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Além da obra de Golffm an analisarem os o trabalho de Lewert, que foi publicado

em 1950. Foi o prim eiro autor que trouxe a diferença entre crim inalização prim ária e

crim inalização secundária, esse tam bém é um conceito im portante, pois será

resgatado na crim inologia crítica e utilizado no âm bito da teoria da rotulação.

É im portante relem brar que na crim inalização prim ária existe a elaboração do

tipo incrim inador e, por conseguinte, a efetiva aplicação desse tipo incrim inador pelos

sujeitos que vão operar o nosso sistem a penal de controle. C om efeito, no m om ento

em que a polícia prende o sujeito que estava roubando ocorre um processo de

crim inalização secundária.

A crim inalização prim ária está na previsão abstrata do roubo com o delito em um

determ inado ordenam ento jurídico, e posteriorm ente, no m om ento em que o sujeito é

preso efetivam ente por roubar, quando os agentes do Estado entram em ação ocorre o

"aperfeiçoam ento" do processo de crim inalização com a ideia de crim inalização

secundária, que vai ser introduzida por Lewert.

Nessa lógica, ocorre em 1963 a publicação da obra Outsiders, por Becker. Out é

relativo a "fora" e side é referente a "lado", portanto essa obra trata dos sujeitos que

estão do lado de fora. Se faz necessário o seguinte questionam ento: de que m aneira

essa obra entra com o um paradigm a no tratam ento do pensam ento interacionista

sim bólico da década de 60?

Ao tratar da teoria da rotulação, teoria do etiquetam ento, do interacionism o

sim bólico esse pensam ento se tornará m arcante na década de 60, e é por isso que

antes de tratar especificam ente da obra Outsiders vislum bram os todo o panoram a

sobre a crim inalização.

1.3 OUT SIDERS

Para saber até onde podem os considerar o desvio social com o ato ou ação de

um indivíduo analisarem os o seguinte trecho da obra Outsiders:

Quando uma regra é imposta, a pessoa que presumivelmente a infringiu pode ser
vista como um tipo especial, alguém de quem não se espera viver de acordo com
regras estipuladas pelo grupo. Essa pessoa é encarada com um outsider. (p. 15)

Nesse viés, um outsider é alguém que já é visto com o um sujeito desviante, não

que esta pessoa intrinsecam ente seja um sujeito crim inoso, é apenas alguém visto

socialm ente com o tal. Acontece o interacionism o sim bólico a partir do m om ento que a

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sociedade enxerga alguém com o um sujeito que presum ivelm ente não irá se
com portar de acordo com as regras e ele de fato não se com porta, teria de algum a

m aneira a crim inalidade com o reflexo do próprio processo de rotulação.

Aqueles sujeitos são estigm atizados por um a sociedade com o crim inosos, por

isso vão tender efetivam ente a praticar delitos independentem ente da prática ou não

do crim e propriam ente dito, pois há um a tendência m aior que esses sujeitos se

com portem conform e o estigm a im posto pela sociedade.

Becker com plem enta o conceito trazendo o seguinte:

Os “outsiders” como ponto de vista - diferentes grupos com diferentes noções de


“desviar” “rotular” ou identificar uma ação ou ato como desvio social dependerá
do grupo social à que os atores sociais estão ligados: classe social, político,
cultural, religioso, entre outros.

EXEMPLO: um a pessoa que não é religiosa e vai assistir à m issa. Por não saber

com o responder a determ inados atos religiosos do padre, ficará perdida. Nesse

m om ento, a pessoa será um outsider.

Se partir desse ponto de vista, Outsider pode ser qualquer pessoa que esteja

inserida em um determ inado m eio que não exista um a verdadeira relação de

pertencim ento. O utro exem plo é um a pessoa que cresceu no m eio urbano e decide

residir em um a tribo indígena sobre a qual não possuía nenhum conhecim ento.

A ideia do sujeito Outsider é relativa, depende do ponto de referência, então

qualquer pessoa poderia ser vista com o um sujeito que será incapaz de se adaptar às

norm as de um determ inado grupo.

O s detentores de poder político e econôm ico são os criadores das regras,

im postas m uitas vezes às pessoas que não pertencem a aquele grupo e àquela lógica,

e que não concordam com tais norm as. Esse é o diferencial, m uito em bora,

abstratam ente falando qualquer pessoa possa ser um Outsider, basta que ela seja

lançada no m eio que irá enxergá-la com o alguém que, presum ivelm ente, não se

com portará de acordo com as regras.

Dessa m aneira, existe um poder dom inante que irá determ inar quais são as

norm as eleitas pelo Estado para poder com por a sociedade, com o o sistem a penal por

exem plo, e a partir dessas norm as terem os aqueles sujeitos que serão vistos

socialm ente com o delinquentes, com o sujeitos desviantes.

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Seguindo Becker, os grupos sociais criam os desvios ao fazerem as regras cuja


infração constitui o desvio e ao aplicarem tais regras a certas pessoas em
particular, qualificando-as como marginais. Os processos de desvios, assim,
podem ser considerados primários e secundários (CALHAU, 2009, p. 81)

O desvio primário corresponde à primeira ação delitiva do sujeito, que pode ter
como finalidade resolver alguma necessidade, por exemplo, econômica, ou
produz-se para acomodar sua conduta às expectativas de determinado grupo
subcultural. (CALHAU, 2009, p. 81)

O desvio prim ário refere-se sobre a necessidade m om entânea ou sobre o agir

conform e as expectativas sociais, sendo esta o foco do desvio prim ário. Um sujeito que

é visto pela sociedade com o delinquente tenderá a delinquir. É assim que funciona o

processo interacionista.

O desvio primário corresponde a primeira ação delitiva, já o desvio secundário:


"se refere à repetição dos atos delitivos, especialmente a partir da associação
forçada do indivíduo com outros sujeitos delinquentes."(CALHAU, 2009, p. 81)

Enquanto o desvio prim ário estaria relacionado a prim eira ação delitiva, o desvio

secundário estaria relacionado a própria reincidência, nessa perspectiva se investiga:

qual seria a causa da reincidência?

Esse sujeito passa a ser associado a outros sujeitos delinquentes, a vista disso

Michel Foucault tem o m esm o entendim ento de Becker que utiliza a expressão

cerim onias degradantes. Essa expressão dialoga m uito com o entendim ento de Michel

Foucault que trata sobre o apagam ento sim bólico de determ inados sujeitos na

sociedade.

As cerim ônias degradantes são rituais de estigm atização, ou seja, lançar o nom e

do sujeito no rol dos culpados, com práticas que os tipifiquem com o o raspar dos

cabelos, a autorização a im agem daquela pessoa condenada ou até m esm o seja

hiperexplorada pelos veículos m idiáticos. Então existe todo um ritual pelo qual passam

as pessoas que são processadas e condenadas por um determ inado crim e.

O desvio prim ário, isto é, o com etim ento de um crim e introduz de algum a

m aneira essas cerim ônias degradantes contra o sujeito que são acentuadas pelo

processo de estigm atização, e todos aqueles indivíduos passam a ser vistos com o um a

coisa só.

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A sociedade desconhece a subjetividade do indivíduo preso eles são tratados

com o um a m assa carcerária, um a população carcerária, com o se não tivessem

diversas pessoas diferentes que praticaram crim es por m otivos diferentes e possuem

sonhos de vida distintos. O sujeito perde aos poucos a própria condição de indivíduo e

vai sendo apagado da sociedade pelo processo de encarceram ento, que envolve um a

série de rituais de desum anização, de estigm atização.

O processo de m arginalização coisifica o indivíduo. No processo, ao usar a

term inologia réu que deriva de rés, que significa coisa. É essa a form a com o a

sociedade, de um a m aneira geral, olha para os presos, tão logo, o sujeito pesquisador

não irá identificar pessoas com sonhos, com frustrações, com am bições, com histórias

próprias de vida.

Na execução penal, apesar de ser um tem a pouco explorado, é discutido sobre

os núm eros, a estatística prisional da população carcerária. O sujeito acaba sendo

com pletam ente desum anizado e perde, de algum a m aneira, o seu status de indivíduo

na sociedade, por exem plo, um dos aspectos sim bólicos dessa m orte social está para a

perda do direito ao voto para os condenados definitivos, que não podem eleger nem

serem eleitos.

Ainda de acordo com o pensam ento de Becker, a tese central dessa corrente

pode ser definida, em term os m uito gerais, pela afirm ação de que cada um de nós se

torna aquilo que os outros veem em nós (isso é interacionism o sim bólico).

Q uestiona-se onde está a interação?

Está na form a com o a sociedade olha para esse indivíduo, que pode ser negro e

pobre, o tornando crim inoso só pelas suas características, exatam ente com o a

sociedade projetou. Por isso, essa interação estaria sim bolizada na relação que acaba

sendo construída e travada entre a sociedade e os indivíduos.

De acordo com essa mecânica, a prisão cumpre uma função reprodutora: a


pessoa rotulada como delinquente assume, finalmente, o papel que lhe é
consignado, comportando-se de acordo com o mesmo. Todo o aparato do sistema
penal está preparado para essa rotulação e para o reforço desses papéis (CALHAU,
2009, p. 81).

Nesse caso, está se tratando do processo de desvio prim ário e secundário. Logo,

Becker, por exem plo, vai observar que esse processo de rotulação tam bém será

cham ado de teoria do labelling approach ou teoria do etiquetam ento, que ocorre da

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seguinte form a: para rotular um a pessoa basta que crim inalizem práticas e condutas
que são com um ente desem penhadas por ela.

EXEMPLO: para prender um sujeito X deve crim inalizar algum a de suas

condutas, logo ele passará a ser visto, rotulado, com o um desviante.

O indivíduo será estigm atizado ainda que não venha a praticar essas condutas.

C om o exem plo histórico tem os a crim inalização da capoeira para estigm atizar com o

crim inosas as pessoas negras. O u seja, identificaram um a prática com um do grupo, e

consequentem ente, pessoas negras passaram a ser vistas com o crim inosas, ainda que

algum indivíduo não praticasse tal luta.

Nos dias atuais o C ódigo Penal dedica m uita atenção aos crim es contra o

patrim ônio pois o Estado tem com o intenção estigm atizar com o crim inosos os sujeitos

que são pobres. Ao tratar de crim inalização da pobreza ocorre um a rotulação prática,

um a vez que esses crim es serão com um ente praticados por pessoas que são

desprovidas de patrim ônio. Por isso, estas pessoas passam a ser vistas com o desviantes

e dentro desse processo, um a vez rotulado, com portar-se-ão de acordo com essa

projeção.

Surgida nos Estados Unidos por volta dos anos 70, o labelling approach privilegia,
na análise do comportamento desviado, o funcionamento das instâncias de
controle social (criminalização secundária), ou seja, a reação social aos
comportamentos assim etiquetados. Crime e reação social são, segundo esse
enfoque, manifestações de uma só realidade: a interação social. Não há como
compreender o crime senão em referência aos controles sociais (CALHAU, 2009,
p. 81)

Por isso que a teoria do etiquetam ento tam bém será cham ado de teoria da

reação social. São várias term inologias com o a teoria do labelling approach, a teoria do

interacionism o sim bólico, a teoria do etiquetam ento, a teoria da reação social, que

estão relacionadas a m esm a coisa.

O crim e existe justam ente devido aos m ecanism os de controle, e estes

dependem da existência do crim e. Sucessivam ente, existe um ciclo, isto é, um

processo de interação entre as duas coisas. Portanto, o crim e vai ocorrer a partir da

form a com o as instâncias de controle reagem contra determ inados sujeitos e as suas

práticas.

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