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A Longa Viagem...
A Longa Viagem...
ao ponto de partida
a longa viagem
ao ponto de partida
Salvador | 2008
Revisão
Baísa Nora
Ilustrações
Autora
Fotografia da autora
Liane Hoisel G. O. Menezes
CDD - 869.1
É permitida a reprodução de trechos e poemas desta obra, por quaisquer meios técnicos,
desde que seja citado o autor – dinah.hoisel@hotmail.com
| 5 | Em contato
103 Rumo à Plenitude | 7 | Testamento
104 Um dia eu volto 153 Piuííí
105 Sonho 154 Um testamento?
106 Órion 156 Quando eu me for
107 Encontro marcado 157 Herança
108 Mistério I
109 Sinal aberto
110 Alma divina | 8 | Poemetos
111 Mahalakshimi, mãe da beleza 161 II
113 Moto contínuo 162 III
115 Meditação 163 IV
117 Beleza, Verdade, Sabedoria 164 V
121 Hora dupla 165 VI
166 VII
167 VIII
| 6 | Quero-te próximo 168 IX
125 Último poema 169 X
127 A ti, que lês meus versos
128 Serena mente
| 9 | Última palavra
130 Vícios
131 Desabafo 173 Solução
133 Natal
Pronto.
Aí o berço em que a criança vai nascer.
E a alma brasileira vem
na madrugada se contar.
– é o momento das musas em ação.
Deixem-me cantar
enquanto posso.
Deixem-me levar pelas mãos
– criancinhas que não sabem como andar –
todas as vozes que
temem se expressar.
Cabe-me a tarefa
de ouvir, elucidar, digerir,
viver, divulgar e expandir
o que me foi confiado.
***
El corazón puro
es el mejor espejo
para que se refleje
la Verdad.
Afinal,
não tem portos nem remansos
o rio do Caminho Perfeito.
Porque, na verdade,
a importância do relato
não está na voz que fala
mas no ouvido de quem ouve.
É isso.
O emigrar do poeta
é poderoso.
É assumir o direito de falar
através do silêncio
. . . ou do poema.
A minha história
quem a vive sou eu
. . . e mais ninguém!
Impossível viver
só de verdades. . .
| 30 | Olhar nos olhos
exige fidelidade
(outra impossibilidade).
Verdade.
Coisa terrível
que sufoca
e faz estremecer. . .
Melhor “fazer de conta”,
é mais humano.
E fica a impressão:
Melhor teria sido
| 31 |
aceitar a ilusão,
aceitar o desafio da mentira.
Vestir também a fantasia
e deixar correr a vida.
Dentro do campo
os pontos de vista
se posicionam
| 32 | em paradoxal conflito.
Há um pé de feijão
querendo brotar, subir, | 33 |
fazer-se escada.
Somos todos Joãozinho
querendo enxergar além.
Cinco sentidos,
primeiro degrau da escada,
realidade em conflito.
Morta a ave dos ovos de ouro
o olhar adivinha o infinito.
| 34 |
Um horizonte largo,
consciência em expansão,
mais degraus, maior visão.
Energia harmonizada,
berço da percepção.
Introdução no sagrado,
a real evolução.
O verdadeiro saber
chega sem pedir licença,
na rapidez de um raio.
Temos visão estupenda
(houve um desvelamento)
de algo que não foi visto.
Vence a vida.
Vence o junco.
| 42 | Cada qual no seu querer.
Ela vence por dominar.
Ele, por não se deixar vencer.
Se há um prometido paraíso,
se dentro de mim encontro a sua pista,
se fora de mim o ímã poderoso,
se dentro de mim a resposta irrecusável
na teimosia incansável do alpinista,
por que não confiar?
Movimento de vareta
ou voejar da borboleta
tem infinita extensão. . .
Um arco-íris perfumado
contorna este pequeno mundo.
Pela janela vejo a íris
e suas folhas grávidas
parindo flores de todos os lilases.
E a lágrima-de-cristo
inundando a grade
em chuva de branco e vinho.
E Ela se expõe
quando a alma fica muda.
Um cuidadoso jardineiro,
bem grande e forte,
para vencer as pragas
e os riscos que correm as plantas.
Mar. . . maravilha,
entre sussurros lambe a terra.
Meigo, carinhoso, acaricia
com ternura a sua amada,
Um vazio. . .
Uma pena. . . | 63 |
Nada há que se fazer.
Agora,
na fluidez da lágrima que escorre,
um sonho se evapora.
Fugindo o sonho
envolve-me o vazio
tristonho, medonho.
| 65 |
Parada, à beira da estrada,
vejo no horizonte o nada.
O olhar mudo
diz apenas
– Adeus, tudo.
Corre, tempo,
corre em meu socorro.
Vem depressa destruir
essa imensa dor de amor
que vive a me consumir.
O pior
| 66 | é que ele não partiu para sempre
. . . sempre volta
para fazer doer mais,
sofrer mais,
mexer numa ferida aberta.
A cada tentativa,
a dor que se renova.
A grande vantagem
em tudo isto é que
Para fazer poesia com beleza
é preciso um bocado de tristeza
é preciso um bocado de tristeza
senão não se faz poesia não.
E aqui fico
destilando poesia
com tanta inspiração, tanta agonia,
que meu amor até me pede parceria.
Perfeito!
O café cheirando na chaleira.
O pão quentinho no forno.
Tudo pronto.
A rede se embalança
feliz, à brisa da manhã.
Com certeza espera alguém.
É longo. É criativo.
Parece durar uma eternidade.
Parece haver uma saudade eterna
que nunca é saciada.
É doído. É meio desesperado.
Tem gosto de para sempre,
tem gosto de nunca mais.
Parece que não vai mais nunca acontecer.
Tem gosto de despedida.
O tempo pára. O mundo some.
Somos Adão e Eva em paraíso.
Sós, puros, saciados.
Hemorragia incontida
faz sucumbir o alento.
Tudo vai ensombrecendo
na dor que o martiriza.
As forças se retirando
numa lenta agonia. . .
A desistência chegando
como um anjo que socorre,
trazendo alívio ao tormento.
A ave entende o momento.
Vê que é chegado o tempo,
se acalma. . . suspira. . . e morre.
Insiste em sucumbir,
sob sinistra solidão,
aquela sintonia que traz
confortante ressonância
a unir seres dessemelhantes
. . . que lástima!
Lembro-me bem.
Dormi cheia de esperanças
esperando o amanhecer
para fazer acontecer
as coisas mais importantes.
Tinha planos, sonhos, fantasias.
Tinha o gosto de viver.
Cravar as unhas
em penhasco escuso
para não despencar | 77 |
em poço sem fundo.
Abismo negro
sabotando esforços,
deixando a alma
esfolada e rude.
Tornar-se humano
em mundo desumano
– fragoroso empenho.
O corvo agourento
da infame desistência,
volteando atento,
disposto a atacar,
Desânimo, derrota,
fracasso, abatimento
é tudo que restou. . .
| 78 | E então o homem
já não é mais homem,
é só um verme
pronto a rastejar.
Em quanto tempo
nossa memória trôpega
| 83 |
apagará a consulta
do oráculo das águas?
Se for,
melhor acabar de vez
com a humanidade sobre a Terra!
Só no sombrio noturno
soem acontecer
choros abafados, gritos soturnos.
| 85 |
O sinistro não resiste à claridade,
à luz do dia.
A noite, por si, é do silêncio,
do descanso, do reconforto.
Talvez de cantos, preces e sonatas.
A noite é do amor
de onde os corpos saem renascidos.
É uma aberração
corpos estirados na calçada
iluminados pela luz da madrugada.
Sei,
é preciso amar
o que ainda não existe.
Um dia existirá?
Cuidado!
Cuidado!
Cuidado!
*Fernando Pessoa
| 88 |
Do amarelo brotavam
os zangados, os sem amor
ou os muito ambiciosos,
os que se achegavam à dor
. . . os que tinham desistido de sorrir.
Naquele instante
a iludida inocência juvenil
morreu definitivamente.
| 91 |
O coração sufoca
por não conseguir falar.
Como fantasma vagueio
. . . esqueci a razão de caminhar.
Emudeci. . .
Por Deus, emudeci!
Ninguém ouviu
o grito silencioso
rasgando a garganta muda. | 95 |
Ninguém viu. . .
Ninguém se viu
naquele dúplice olhar
misto de dor e complacência
por quem não sabe ver. . .
A lágrima secou
antes de escorrer na face.
E o gesto compassivo, se houve,
de nada adiantou.
O pequeno universo
mergulhado em dores permanece. . .
Espinho na garganta
dilacera a voz
solapando o riso.
E a alminha cansa
de tanto penar.
Sente que, se pode, briga. . .
Se não pode, emigra.
| 96 |
Gente. . . Gente. . .
Por toda parte, gente. . .
| 98 | E em cada um, um sonho diferente.
(Corpo reduzido a mãos – hipertrofia).
Universo atemporal,
não há noite, não há dia. . .
Templo do artificial.
Um dia,
por uma fresta qualquer
escapa-lhe a saúde. . .
Esfuma-se o amor. . . | 99 |
Esvai-se a primavera. . .
Derrete-se o sorvete. . .
Ausenta-se o amigo. . .
Foge-lhe o pássaro preto. . .
Roubam-lhe a rosa. . .
Turva-se a água da fonte. . .
Some da sua mente a mais bela canção. . .
Oculta-se o céu em espessas nuvens. . .
Apaga-se o sol.
Não vi.
Nem sequer sei como é
– e nem preciso saber –
Basta-me aquela certeza
de que vou me conhecer.
E os cristais de gelo
me confortam.
E miríades de cores
me transformam. . .
Concentração insinua
no seu eterno mirar.
| 106 | Soberbo arqueiro dos céus,
mestre Zen do não agir.
Há um ponto de atração
que o orienta em direção
à sua sina,
ao seu ponto de partida.
Alma Divina,
manifestação sublime,
Transcendência impetuosa,
investe como vulcão,
com tal força generosa
que a tudo consome. . . e redime.
É o parto eterno,
não há recuo. . . nem progresso.
Parir eternamente
. . . é quase um pesadelo.
As dores não aumentam. . .
Nem mesmo diminuem. . .
E a criança não nasce.
Calma. . .
Serenidade. . .
Nem sempre o que é visto
traz tranqüilidade.
Mas é sempre mais um passo
em direção à Verdade.
Contudo,
a Verdade não vem nua
nem se mostra plena
em sua majestade
– o ser humano não suportaria.
| 116 |
A Beleza,
feminina, envolvente,
| 118 | disseminando encanto
ao seu redor.
Nunca recusa ao devoto
suas bênçãos.
Responde generosa a um convite.
Está presente,
sempre pronta a se entregar
. . . no pequenino mal-me-quer do campo,
no beija-flor que surge a revoar.
Em frutos maduros
que recurvam os galhos.
Na criancinha,
que quase beija com o olhar.
Nos belos cabelos brancos da velhice.
Em cada jovem
que consegue se enxergar
Já a Verdade
é forte, avassaladora.
Costuma ser
constantemente recusada
– provoca muito medo a certa gente.
Não existe mais confiante construtora.
O que é firmado no alicerce da Verdade
não se corrompe
nem desaba em vendavais.
Ao pôr-do-sol
a magia do dia que termina.
Uma saudade dorida.
Há tanta mansidão naquela hora
como se o mar (ou os montes)
recolhesse em contrição
lágrimas sofridas
que a natureza chora.
E a poesia se finda
para que nasça o silêncio.
Fui premiada
com o amor materno,
misto de glória e ansiedade.
Provei do amor humano
em plenitude,
corpo e alma em harmonia,
mas que, aos poucos,
Inteiramente aberta
me ponho ao teu dispor.
Em meu falar
a palavra comum..
Em meu sentir
o senso comum.
Em meu viver
o rio comum que corre em descampado
servindo a qualquer um.
Como um,
que sou, tu és. . . pessoa comum.
Parecem nenúfares
boiando em manso lago
ou num quadro de Monet.
Lembram o rio
da minha infância.
Colado à terra,
em pertinente harmonia.
Tendo por céu
as grandes castanheiras.
Luz das estrelas
muitas vezes vista
por entre a espessa cabeleira
da floresta imensa.
Olhar felino
perscrutando a selva.
Ouvido atento
ao menor ruído.
Suave murmúrio
invadindo tudo. . .
O vento quente
deflorando a mata.
O corpo nu
tranqüilo, intimorato.
Vida vibrando
em rútilas cascatas. . .
| 132 |
Sinto saudade daquele bugre que já fui um dia.
Guardo comigo
toda essa vivência,
já mergulhado
em outra existência,
onde viceja doida hipocrisia.
Ou tudo isto
embrulhado pra presente
em bela caixa colorida,
com lindo laço dourado arrematando.
E rio muito
na montanha-russa
do teu pensamento
Como astronauta
em vôos siderais
me atiras longe
deste mundo-chão.
Sonho louco,
encobrindo uma realidade desfocada.
Um iguana de verdade
verde esmeralda-azul turquesa,
silencioso, imóvel em sua beleza,
olhando fixamente
(ali de dentro da folhagem)
a mulher envolta em dores,
parada sobre a cama,
hora após hora, dia após dia,
um colhendo do outro paciência,
Pés mergulhados
– inquietos, imitando peixes –
nas frias águas do rio Cachoeira
(não o esgoto, mas o rio)
| 138 |
O vento entre as folhagens
compunha canção japonesa.
Lembro-me bem. . .
Vinha ele pela estrada | 139 |
trazendo com muito cuidado,
a sua caixa encantada.
Na varanda da fazenda
o mascate ia, aos poucos,
criando clima de magia.
Não falava. . . nem sequer oferecia,
ia apenas abrindo, devagar,
sua mala de madeira.
Onde encontrar
aquele moço tão bonito
que me ensinou a dançar?
Como esquecê-lo, se ali
Naquele espaço
também fui evoluindo
Olhei nos olhos dos jovens alunos
carentes de compreensão e de ternura.
Ouvi queixas, alegrias e apelos,
e eu os amei. . .
Os entendi, nem sempre mansamente. | 143 |
Mas sempre pronta a não perdê-los.
No entanto, deles me perdi.
E na lembrança
a pequenina casa,
que resguardava amor intenso e dedicado.
Um dia, imprudente, descuidada,
deixou-se contaminar,
sem resistir aos preconceitos,
permitiu ao amor se evolar.
Mais uma perda que não pude evitar.
Por fim,
fazer transparecer
o oculto significado.
Chão de Aranjuez,
espesso tapete, acariciando
os pés do raro viajor.
Voaram, dançaram.
Viveram clima de festa em céu de outono.
Em pleno outono, a primavera, o verão.
É momento dolorido
ver o verso se afastar.
E a poesia – o suporte
de um viver harmonizado.
O meu trenzinho
está prestes
a chegar à estação.
Desde sempre,
artesã medieval,
não me apercebi
de assinar meus sonhos.
* Fernando Pessoa
Do jardim,
o amor à vida,
às cores, ao arco-íris,
o amor à bela forma,
ao vigor que a terra tem,
Da poesia,
aí se encontra o mais sutil.
É preciso compreender
o valor que a palavra tem.
Saber navegar na vida
em tudo que ela contém.
| 158 |
Saber ver, ouvir, sentir. . .
Cozinhar no coração,
numa tremenda alquimia,
simples acontecimentos
ou absurdos momentos
e deles tirar o sumo,
fazendo-os vibrar em luz,
tornando-os conhecimento
e, se possível, algo mais:
fazê-los sabedoria.
E em sereno recolhimento
transformá-los em poesia.
A sinfonia?
Que outros a componham.
A mim me restam
os sonhos dissonantes.
Pingos de chuva
inspiram melodia.
Tiragem 300