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1. Crime de Stalking
a) Introdução
Destaca-se ter sido suprimido do tipo legal o termo “obsessiva”, para evitar a redução
de alcance do dispositivo. Vejamos o texto legal:
Perseguição
Artigo 147-A. Perseguir alguém, reiteradamente e por qualquer meio,
ameaçando-lhe a integridade física ou psicológica, restringido-lhe a
capacidade de locomoção ou, de qualquer forma, invadindo ou
perturbando sua esfera de liberdade ou privacidade.
Pena. reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
§1º. A Pena é aumentada de metade se o crime é cometido:
I. contra criança, adolescente ou idoso;
II. contra mulher por razões da condição de sexo feminino, nos termos
do §2-A do art. 121 desde Código;
III. mediante concurso de 2 (duas) ou mais pessoas ou com o emprego
de arma.
§2º. As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das
correspondentes à violência.
(2). O ato de molestar alguém ou lhe perturbar a tranquilidade, por acinte ou por
motivo reprovável, enquadrava-se no art. 65 da LCP.
(3). O art. 7º da LMP não é um tipo incriminador e nem é uma norma de extensão. Ora,
só se deve combinar o tipo incriminador com normas de extensão ou com agravantes,
causas de aumento ou de diminuição. Assim, tecnicamente, não é correto cumular o
delito do art. 147-A com o art. 7º da LMP, mesmo que o crime de perseguição
corresponda a uma violência doméstica (art. 7º, II).
c) Bem jurídico
Não sendo crime de menor potencial ofensivo, não se admite transação penal, mas
admite suspensão condicional do processo.
R. Em regra, sim. Salvo: (a) se praticado com violência ou grave ameaça (art. 28-A,
caput, CPP); (b) se praticado no ambiente doméstico e familiar – não importando se a
vítima é homem ou mulher -; (c) se praticado contra a mulher por razões da condição
de sexo feminino (art. 28-A, §2º, IV, CPP).
d) Crime bicomum
Destaca-se que, se a vítima for criança, adolescente, idoso ou mulher perseguida por
razões da condição do sexo feminino, a pena é aumentada de metade (§1º), retirando
do agente uma medida despenalizadora.
e) Conduta
O verbo perseguir não significa apenas sair no encalço de forma frenética, mas de
importunar, transtornar a vida da pessoa.
f) Estrutura do crime
O stalking não pode ser praticado com o agente privando a vítima da liberdade
de locomoção – nesse caso será de sequestro ou cárcere privado -. Uma coisa é
o agente privar a vítima, outra é a vítima se privar por causa do agente.
g) Cyberstalking
Trata-se de crime informático impróprio – stalking pode ou não ser praticado por
meios informáticos -.
Trata-se, ademais, de crime habitual, tendo em vista que o tipo penal é expresso sobre
a necessidade de a perseguição ser praticada reiteradamente. Apenas um ato
importuno, ainda que restrinja momentaneamente a capacidade de locomoção ou
invada a privacidade de alguém, não caracteriza este crime, embora seja possível que
a conduta se adeque a outro tipo penal, como a da ameaça, por exemplo.
i) Voluntariedade
O crime só pode ser cometido com dolo. Embora seja comum que os atos de
perseguição tenham o propósito de alterar o estado de ânimo da vítima, de lhe
provocar medo e de limitar sua liberdade, o tipo não pressupõe nenhuma finalidade
específica. Isso é importante para o MP, pois inexiste o dever de comprovar finalidade
específica, sob pena de atipicidade relativa ou absoluta.
j) Consumação e tentativa
Tem prevalecido que não admite flagrante. O professor entende que o crime de
perseguição fará a doutrina repensar essa posição: teremos tantos flagrantes que vai
gerar uma reviravolta.
l) Majorantes (§1º)
ii. Contra mulher por razões da condição de sexo feminino, nos termos do §2-A,
do art. 121 do CP
m) O §2º dispõe que as penas são aplicáveis sem prejuízo das correspondes à violência
Embora o caput do art. 147-A não contenha nenhuma menção à violência, nada impede
que o perseguidor lance mão desse meio para provocar uma intimidação mais intensa.
Nesse caso, devem ser aplicadas também as penas relativas à violência.
A maioria da doutrina quando se depara com dispositivos como esse leciona que o
concurso é material, mas com o devido respeito é um erro, já que não há duas condutas
gerando dois resultados. O que se tem aqui, em verdade, é uma conduta gerando dois
resultados. Trata-se de concurso formal impróprio – cúmulo material -.
n) Ação Penal
Nos termos do §3º do art. 147-A, a ação penal é pública condicionada à representação
do ofendido.
A regra se aplica inclusive nos casos em que incidem as disposições da Lei Maria da
Penha, pois o legislador, embora tenha majorado a pena do crime cometido segundo
a definição do art. 5º daquela lei, não impôs nenhuma exceção à regra da ação penal
no §3º.