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Império e preconceito:
a vilificação de muçulmanos na Grã-Bretanha
FELIPE FREITAS DE SOUZA*
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antissemitismo, trata-se da racialização como tais, não serão integrados à
de diferenças religiosas e culturais. comunidade, mas sim encarados
enquanto uma dupla ameaça: à
Em Muçulmanos bons e maus na Grã- integridade física e à identidade
Bretanha, investigam-se as narrativas cultural. Assim, a visibilidade islâmica
que apontam os muçulmanos enquanto a partir das indumentárias, por exemplo,
responsáveis tanto por ameaças é extremamente repudiada.
domésticas quanto internacionais.
Mesmo a coesão interna das Em Negações de racismo e a Liga de
comunidades trariam supostos Defesa Inglesa, investiga-se a
obstáculos à integração. Já as medidas islamofobia enquanto forma de racismo
de contraterrorismo alvejariam os analisando o discurso do grupo Liga de
muçulmanos indiscriminadamente, Defesa Inglesa. Apesar do grupo
reforçando a generalização. No pós 11 afirmar não ser contra os muçulmanos,
de Setembro, construiu-se a narrativa de mas somente contra o “extremismo
ameaça muçulmana à identidade islâmico”, na prática associa todos os
britânica: ao dividir os muçulmanos em muçulmanos aos extremistas,
bons, que poderiam ser integrados e propagando a “culpa por associação”
assimilados, e os maus, que representam tão comum dentre os islamofóbicos.
tudo aquilo que a nação não é, Como pano de fundo, a manutenção do
estigmatizou-se de maneira geral todos domínio étnico-cultural tradicional é o
os muçulmanos. A islamofobia se mote das elaborações de seus líderes e
apresentaria com roupagens de mera membros. Xenofobia, autoritarismo e
crítica ou repúdio a uma ideologia atitudes negativas frente à imigração e
alheia em seu papel de controle de uma grupos étnicos minoritários são peças
“comunidade suspeita”, estruturando o desse repertório abastecido pela fantasia
discurso da identidade nacional que do homem branco. Para a Liga, alguns
propaga o eurocentrismo internamente, grupos seriam merecedores de maior
com o estímulo da ansiedade contra repúdio do que outros: tal seria o caso
muçulmanos, e externamente, dos muçulmanos, compreendidos como
justificando a continuidade da barbárie problemáticos por natureza. A autora
imperialista britânica em pleno século desnuda um pensamento culturalmente
XXI. racista que não se assume enquanto
preconceito, transfigurado em
Já o capítulo Islamofobia em nível local racionalidade e livre expressão. De
é um exemplar estudo de caso no qual modo complementar, propagam o mito
são analisadas cartas recebidas pelo do vitimismo branco no qual os
jornal Dudley News, da cidade inglesa europeus seriam os verdadeiros
de Dudley, que manifestam as opiniões prejudicados, pois estaria havendo uma
da população sobre a construção de uma suposta colonização da Europa pelos
mesquita na cidade. Nesse caso, a muçulmanos. A Islamofobia seria então
islamofobia não se manifesta somente não somente identificar os muçulmanos
enquanto discurso, mas também como como problemáticos, mas também a
uma prática excludente. Pelo material negação de qualquer responsabilidade
colhido no jornal, predomina a narrativa pelas questões sociais e políticas
que culpa coletivamente os muçulmanos contemporâneas que envolvem as
pelos atos de alguns poucos. Pelas populações muçulmanas ao reduzir o
cartas, enquanto os muçulmanos não comportamento de todo muçulmano à
deixarem os traços que os identificam identidade religiosa que fantasiam.
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Em Islamofobia e a Identidade identificados enquanto não-europeus ao
Nacional na Europa, a autora considera papel de objetos disponíveis aos seus
como a identidade muçulmana vem gestores culturais. Assim, o domínio
sendo construída nos estados europeus, eurocêntrico visa obliterar todas as
retratando-os como Outros contra os identidades possíveis de pertencimento
quais se articulam as identidades no mesmo indivíduo muçulmano,
nacionais. Há a internalização da reduzindo-o a ser membro de uma
dicotomia civilizado / bárbaro tão cara religião – e nada mais. Após uma
ao pensamento eurocêntrico para a avaliação dos possíveis criticismos ao
perpetuação de tais identidades. material apresentado na obra, a autora
Analisando os casos da Suíça, finaliza por indicar que a islamofobia
Dinamarca, Países Baixos e França, o caracteriza certo modo de desperdício,
capítulo indica como esses discursos de sendo entendida como um
identidades nacionais são articulados comportamento contraproducente.
em oposição diametral aos valores e
identidades que se identifiquem com o
As representações sobre o Islam e os
Islã.
muçulmanos não são resultantes de um
Em Islamofobia Eurocêntrica, processo acumulativo de informações,
investiga-se porque o discurso mas resultam de processos históricos,
islamofóbico é aderente neste momento sendo transformadas ao longo do tempo.
histórico e como ele vem servindo Hoje, as políticas de incerteza e
àqueles que o empregam. “Seja ansiedade dramatizam um mundo
surgindo em nível local, nacional ou hipercomplexo em uma Grã-Bretanha
internacional, a islamofobia emerge de em que, para grupos de extrema direita,
uma ansiedade cultural gerada pela ser muçulmano implica em ser
noção de que espaços antes meramente responsável por procuração pelos
ocidentais estariam sendo minados pela problemas sociais mais diversos, ser
presença de muçulmanos.” (p.145) Os reprovado cotidianamente pelo
muçulmanos não seriam uma ameaça extremismo não praticado, ser suspeito
somente ao espaço geográfico do em qualquer lugar, ter seus direitos
Ocidente, mas também a um espaço humanos sacrificados em nome do bem
civilizacional imaginado: assim, não da nação. Eis na islamofobia um
poderiam ser considerados como outros produto funesto para a continuidade de
cidadãos quaisquer principalmente por todo um Império.
não reconhecerem a supremacia
europeia.
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