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A Conjuntura e a Crise

Como tem acontecido nos últimos dois anos, mais uma vez se repete em 2021,
que no final do mês de março e início de abril, o atual governo federal tenta
acirrar os ânimos, em especial com a questão militar, mobilizando fantasmas
que deveriam estar há muito apenas na história do país, mas como zumbis
insistem em nos atormentar. O desfecho do desembarque dos ministros
militares não foi acompanhado dos militares que ocupam cargos no governo
federal.
O Governo Bolsonaro há muito se caracteriza pelo estado recessivo da
economia. Esse processo, que já vinha dos dois últimos anos do Governo
Temer, seguiu no primeiro ano do novo governo, e se transformou em recessão
com a pandemia. O pífio crescimento anual do Produto Interno Bruto – PIB
brasileiro passou de 1,3% em 2017, para 1,8% em 2018, 1,4% em 2019 e
-4,1% em 2020, com perspectivas pouco alvissareiras para 2021.
Mais grave, ao se recusar a levar adiante uma política anticíclica, com aumento
dos gastos públicos, especialmente os gastos sociais para os duramente
atingidos pela pandemia, condena o país a avançar no pântano da recessão.
Além disso, sua política liberal desvairada nos conduz à disparada do dólar e
seus efeitos inflacionários. Na área de combustíveis, isso é ainda mais gritante,
posto que o Brasil nos últimos anos passou a exportador de petróleo e a
Petrobrás teria condições de ampliar rapidamente a capacidade produtiva de
suas refinarias, evitando a disparada dos preços de gás de cozinha, diesel e
gasolina, e seus efeitos internos. Mais do que isso, o governo tenta entregar as
refinarias a produtores internacionais, que vão preferir importar derivados com
preços internacionais a ampliar a capacidade de refino, principalmente entregar
o controle do fornecimento de insumos ao Pólo Petroquimico, ao vender a
Refinaria Landulfo Alves na Bahia ao Capital Privado. Em um quadro social
desesperador pelos efeitos da pandemia, essa política econômica se mostra
absurdamente cruel com os mais pobres.
Refletindo o drástico desempenho do governo federal, segundo a recentes
estatísticas divulgadas pelo IBGE através da Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios – PNAD Contínua, no trimestre encerrado em janeiro de 2021, a
Taxa de Desocupação da população brasileira manteve-se em um patamar
elevadíssimo de 14,2% resultante de 14,2 milhões de pessoas desocupadas.
Esse número é superior em 211 mil pessoas desocupadas em relação ao
trimestre anterior e 2,4 milhões de pessoas em relação ao mesmo trimestre do
ano anterior. Além disso, se somam cerca de 5,9 milhões de pessoas na
condição de desalentadas.
Na área da pandemia, outra tragédia. O governo protelou a compra de vacinas
e os investimentos necessários na área de saúde, seja no atendimento direto à
população, seja nos insumos necessários, remédios e equipamentos, além da
contratação de pessoal, na área. O resultado é a situação de crise sanitária
que o país vive hoje, sendo avaliado internacionalmente como um “covidário”
pela geração de novas variantes da doença, com recordes de contaminados e
mortos por Covid.
E à crise econômica e sanitária, se somam os ataques à democracia, os
últimos deles com a tentativa de enquadramento das forças armadas do país
como instrumento de um projeto golpista do atual governo, além de projetos
legislativos de dar ao Presidente poderes concentrados sobre o Legislativo, os
Estados e Municípios, tentando legalizar a ruptura institucional que aparece
como objetivo final desse projeto.
A ABED, criada para garantir a democracia e o desenvolvimento econômico
sustentável e inclusivo, se manifesta duramente contra essa situação de
desatino econômico, sanitário e político, e reafirma sua posição intransigente
de defesa da democracia, base institucional para o desenvolvimento e imediata
adoção de um programa de reformas inclusivas que possa alterar essa triste
situação social e sanitária que o país vive.

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