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FICHA DE TRABALHO 8 – Fundamentação da moral – Teoria utilitarista – Stuart Mill

«Se me perguntarem o que entendo pela diferença qualitativa de prazeres, ou por aquilo que
torna um prazer mais valioso do que outro, simplesmente enquanto prazer e não por ser maior
em quantidade, só há uma resposta possível. De dois prazeres, se houver um ao qual todos ou
quase todos aqueles que tiveram a experiência de ambos derem uma preferência decidida,
independentemente de sentirem qualquer obrigação moral para o preferir, então será esse o
prazer mais desejável. [...]
Ora, é um facto inquestionável que aqueles que estão igualmente familiarizados com ambos,
e que são igualmente capazes de os apreciar e de se deleitar com ele, dão uma preferência
muitíssimo marcada ao modo de existência que emprega as suas faculdades superiores.
Poucas criaturas humanas consentiram ser transformadas em qualquer dos animais inferiores.
Perante a promessa da plena fruição dos prazeres de uma besta, nenhum ser humano
inteligente consentiria tornar-se tolo, nenhuma pessoa instruída se tornaria ignorante,
nenhuma pessoa de sentimento e consciência se tornaria egoísta e vil, mesmo que a
persuadissem de que o tolo, o asno e o velhaco estão mais satisfeitos com a sua sorte do que
ela sem a sua. Não abdicaria daquilo que possui a mais do que eles em troca da plena
satisfação de todos os desejos que tem em comum com eles. [...]
É melhor ser um ser humano insatisfeito do que um porco satisfeito; é melhor ser Sócrates
insatisfeito do que um tolo satisfeito. E se o tolo ou o porco têm uma opinião diferente é
porque só conhecem o seu próprio lado da questão. A outra parte da comparação conhece
ambos os lados.»

J. Stuart Mill, Utilitarismo, Gradiva, pp. 50-51 (adaptado).

1. Explique, a partir do texto acima transcrito, de que modo Stuart Mill argumenta
contra a ideia de que o utilitarismo só pode ser quantitativo.

2. Explique, a partir do texto acima, de que modo Stuart Mill argumenta contra a tese de
que todos os prazeres com a mesma intensidade têm o mesmo valor.

©PLÁTANO EDITORA 2020 |FILOSOFIA 10


SUGESTÃO DE RESPOSTA

1. No contexto da teoria ética utilitarista de Stuart Mill, o princípio da utilidade corresponde às seguintes
teses: a felicidade é o maior bem para o ser humano e é provavelmente a única coisa com valor
intrínseco (com um valor em si mesmo, isto é, que não depende do valor de outra coisa a que conduz);
a moralidade – o que é moralmente bom ou mau – tem como critério a utilidade, no sentido de que uma
ação é tanto melhor quanto mais felicidade tiver como consequência e quanto maior for o número de
pessoas beneficiadas com essa felicidade; a definição de felicidade como bem-estar ou prazer e
ausência de sofrimento ou dor. Esta conceção de felicidade é denominada hedonismo, com raízes em
Epicuro, nos Cirenaicos e em Bentham. Stuart Mill incorporou algumas dessas ideias deste último.
Todavia, Stuart Mill afasta-se desse ponto de vista puramente quantitativo de Bentham. É que, se tudo
fosse uma questão de quantidade de prazer experimentado, a qualidade ou o tipo desse prazer não teria
interesse. Nesse sentido, seria idêntico desenvolver capacidades estéticas e intelectuais, como aprender
Música ou Matemática, ou manter-se ao nível estrito da animalidade promovendo a maior quantidade
de prazer obtido através da bebida ou comida.

2. Stuart Mill defende que os prazeres de primeiro tipo, ou superiores, como os estéticos e intelectuais,
são superiores aos de segundo tipo, ou inferiores, como os obtidos através da bebida e da comida. De
acordo com o autor, o porco e o tolo podem experimentar os prazeres inferiores em enormes
quantidades, mas só os seres humanos têm a capacidade de comparar esses prazeres aos superiores.
Portanto, apenas os seres humanos têm a capacidade de avaliar qualitativamente ambos os tipos de
prazer.

©PLÁTANO EDITORA 2020 |FILOSOFIA 10

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