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Breve Biografia do Shaikh Alfa Hâshim (r.a.a.

Alfa Hâshim Muhammad al-Hâshimi ibn Ahmad ibn Sa'îd Tall (nascido c. 1865, m.
1931 ou 1932) foi um erudito célebre de origem ocidento-africana e líder da Tarîqa
Tijâniyya (fundada por Sîdî Shaikh Ahmad al-Tijâni (r.a.a.), 1737–1815). É um ótimo
exemplo de um líder religioso muçulmano cujo tempo de vida conecta dois períodos
históricos, o pré-moderno e o moderno, e cujo impacto foi sentido em várias partes do
mundo islâmico. De acordo com o seu biógrafo Muhammad al-Hâfidh ibn 'Abd al-Latîf, ele
nasceu em Segu Sicoro (no atual Mali) em 1280 A.H./1863–4 d.C. e morreu em 12 de
dulcada de 1349/1º de abril de 1931, em Medina; a nota biográfica por Majdhûb
Mudaththir al-Hajjâz menciona 1283 A.H./1866–7 d.C. como o ano do seu nascimento,
Diauara (no atual Senegal) como o seu local de nascimento e 11 de dulcada de 1350 (19 de
março de 1932) como a data da sua morte. Sîdi Alfa Hâshim (alfa é um honorífico
ocidento-africano indicando um alto nível de erudição islâmica) (r.a.a.) veio de uma
família renomada de sábios fulas. Tanto o seu pai, Ahmad ibn Sa'îd, quanto o seu tio
paterno, 'Umar ibn Sa'îd al-Fûti (m. 1280 A.H./1864 d.C.) (r.a.a.), foram líderes religiosos
amplamente respeitados, e esse último teve uma carreira espetacular como o Califa
(“procurador”) da Tijâniyya na África Ocidental e fundador de um império islâmico que
durou por quase meio século, onde hoje fica a República do Mali.
Sîdi Alfâ Hâshim (r.a.a.) cresceu no Império Tuculor, um estado islâmico
estabelecido em meados do século XIX por al-Hâjj 'Umar (1797–1864) (r.a.a.), entre os rios
do Alto Senegal e Níger (onde hoje fica a Alta Guiné, Senegal Oriental e Mali Ocidental e
Central), e que sobreviveu até os anos 1890 sob o seu filho mais velho, Ahmad al-Kabîr (m.
1898). Ele então recebeu o seu treinamento religioso em um ambiente no qual a tradição
ocidento-africana de aprendizado islâmico, com a sua ênfase em sufismo e jurisprudência
maliquita (a escola maliquita (mádhhab mâliki) baseada nos ensinamento do Imâm Mâlik
ibn Anas (m. 179 A.H./796 d.C), enfatizava a prática (sunna) local da comunidade
medinense, preferindo opiniões (ra'i) tradicionais e raciocínio analógico (qiyâs) a uma
confiança estrita nos ahâdîth como base para julgamento legal) estava ainda grandemente
intacta. Sîdi Alfa Hâshim (r.a.a.) possuía ijâzât (“permissões” concedidas por uma
autoridade maior para transmitir um certo assunto ou texto islâmico) na Tijâniyya
passadas pelo seu primo Ahmad al-Kabîr e pelo seu pai, que foi um muqaddam
(“representante”) do célebre líder tijâni Muhammad al-Hâfidh al-Shinqîti (1759–1830)
(r.a.a.), um discípulo direto do fundador da Tarîqa, o Shaikh Ahmad al-Tijâni (r.a.a.).
Durante o último período do governo do seu primo no estado umariano, Sîdi Alfa Hâshim
(r.a.a.) ocupou a posição de múfti, uma autoridade legal islâmica que dá uma opinião legal
formal (fatwa) em resposta a uma questão por um indivíduo particular ou juiz. No
alvorecer do governo colonial francês na região, logo seguido pela conquista da capital
umariana Segu em 1893, alguns dos seus primos e tios decidiram ficar e tentar alcançar um
modus vivendi com os governantes não muçulmanos emergentes. Sîdi Alfa Hâshim
(r.a.a.), por outro lado, fazia parte do grupo liderado por Ahmad al-Kabîr que buscou a
emigração, ou hijra (hégira, como a emigração em 622 d.C. do Profeta Muhammad
(s.a.w.s.) de Meca para Medina para escapar da perseguição) para a terra dos muçulmanos
com a única opção viável. Entretanto, o seu destino, Socoto, no atual norte da Nigéria, logo
se tornou também o alvo das ambições coloniais e se tornou uma colônia britânica depois
da Batalha de Burmi, em 1903, na qual Alfa Hâshim participara.
Sîdi Alfa Hâshim (r.a.a.) então embarcou em outra emigração, desta vez via Darfur e
o Sudão nilótico até o Hejaz [região da atual Arábia Saudita, onde ficam Meca e Medina].
Desde cerca de 1905 em diante residiu em Medina, onde dispendeu muito do seu tempo
na Mesquita do Profeta (s.a.w.s.) e atuou como um intermediário para os visitantes
ocidento-africanos, emergiu como o líder supremo da Tarîqa Tijâniyya no Hejaz e instruiu
muitos alunos em direito islâmico e emitiu opiniões legais. Até o dia presente, o nome de
Alfa Hâshim aparece não somente nas correntes de transmissão ocidento-africanas, mas
também no Sudão e no Sudeste Asiático, particularmente na Indonésia. Na última década
da sua vida, na década de 1920, testemunhara a conquista saudita do Hejaz e assumiu um
papel de liderança na defesa das crenças e práticas sûfis contra os eruditos aliados à
dinastia saudita, que ocasionalmente demonstrava atitudes antissûfis violentas. Apesar da
nova atmosfera opressiva, Sîdi Alfâ Hâshim (r.a.a.) continuou representando publicamente
a Tijâniyya no Hejaz, iniciando incontáveis novos discípulos e apontando outros a
patamares mais altos dentro da Tarîqa, tal como 'Umar de Quete Crátchi (Costa do Ouro,
atual Gana), Ahmad Dem (Senegal) e Majdhûb Mudaththir al-Hajjâz (Sudão).
Embora tenha deixado poucos vestígios escritos, Sîdi Alfa Hâshim (r.a.a.) foi um
erudito de alta patente, cujo conselho e pareceres legais eram altamente valorizados por
muitos dos seus contemporâneos. Os seus escritos cobriam muitos temas e gêneros
diversos, como a genealogia dos fulas, gramática árabe, poesia em elogio ao Profeta
Muhammad (s.a.w.s.) e ao Shaikh Ahmad al-Tijâni (r.a.a.), respostas aos críticos do
sufismo em geral e da Tijâniyya em particular, e a questão da renda em forma de papel-
moeda, se seria sujeita ao pagamento de zakât (a taxa anual obrigatória requerida dos
muçulmanos) (brevemente analisada in Hunwick, Islamic Financial [Instituições Financeiras Islâmicas],
92–3). Sîdi Alfa Hâshim (r.a.a.) também é creditado de ser o autor dum breve relato da
hijra de Massina para Socoto (discutido in Robinson, Umarian emigration), um texto que faz uma
forte conjectura de que a emigração é preferível a viver sob um governo não islâmico.
Ainda que cultivando a imagem de um proponente da hijra, parece que mais tarde
manteve boas relações com os administradores coloniais britânicos, especialmente no
Sudão. Habilmente explorando as oportunidades logísticas providas pela economia
colonial do início do século XX, Sîdi Alfa Hâshim (r.a.a.) se estabelecera como a figura
central de uma rede religiosa de larga escala que conectou sábios e alunos muçulmanos de
todo o mundo.

Bibliografia

John O. Hunwick, Islamic Financial Institutions: Theoretical Structures and Aspects of


Their Application in Sub-Saharan Africa [Instituições Financeiras Islâmicas: Estruturas
Teóricas e Aspectos da Sua Aplicação na África Subsaariana], in Endre Stiansen e Jane
Guyer (ed.), Credit, Currencies and Culture: African Financial Institutions in Historical
Perspective [Crédito, Moedas e Cultura: Instituições Financeiras Africanas em Perspectiva
Histórica] (Uppsala, 1999), 72–99;

John O. Hunwick et al., Arabic Literature of Africa [Literatura Árabe da África], vol. 4,
The writings of Western Sudanic Africa [Os Escritos da África Sudanesa Ocidental]
(Leida, 2003), 223–5;

Muhammad al-Hâfidh al-Tijâni, Tarjamat Maulâna al-Shaikh Muhammad al-


Hâshimi, Tarîq al-Haqq [Tradução de Maulâna al-Shaikh Muhammad al-Hâshimi, o
Caminho da Verdade], 31/3–4 (1981), 40–5;

Majdhûb Mudaththir al-Hajjâz, Nubdha Yasîra min Târîkh Shaikhina al-'Allâma


Muhammad al-Hâshimi ibn Ahmad ibn Sa'îd al-Fûti [Breve História do Nosso Shaikh
al-'Allâma Muhammad al-Hâshimi ibn Ahmad ibn Sa'îd al-Fûti], prefácio para Alfa
Hâshim al-Fûti, Imtâ' al-Ahdâq wa-l-Nufûs bi-Mutâla'at Ahkâm Aurâq al-Fulûs [O
Deleite dos Jardins e das Almas nas Disposições sobre o Papel-Moeda] (Cartum, 1351
A.H./1933 d.C.), 2–4;

David Robinson, The Umarian Emigration of the lLte Nineteenth Century [A


Emigração Umariana do Fim do Século XIX], in International Journal of African
Historical Studies [Jornal Internacional de Estudos Históricos Africanos] 20/2 (1987),
245–70;

David Robinson, Between Hashimi and Agibu: The Umarian Tijâniyya in the Early
Colonial Period [Entre Hashimi e Agibu: A Tijâniyya Umariana no Início do Período
Colonial], in La Tijâniyya: Une Confrârie Musulmane à la Conquête de l’Afrique [A
Tijâniyya: Uma Confraria Muçulmana na Conquista da África], ed. Jean-Louis Triaud e
David Robinson (Paris, 2000), 101–24.

Escrito originalmente em inglês por: Rüdiger Seesemann


Traduzido ao português por: Ya'qûb 'Abd al-Jabbâr Ghîmârâish (al-Brâzîli al-Tijâni)
Fonte: Encyclopedia of Islam, 3a ed. (2010)

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