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UEMG - Universidade do Estado de Minas Gerais

Escola Guignard

Gabriel Lima dos Santos

Resenha crítica de documentário e artigo sobre Alberto da Veiga


Guignard

Belo Horizonte
2022
Introdução

O texto a seguir relaciona duas obras que abordam aspectos da biografia do


pintor fluminense Alberto da Veiga Guignard (1896-1962), são elas o
documentário “Guignard a educação do olhar” 1996 dirigido por Paulo Vilara e
o artigo “Guignard, o mestre” 1996 de Maria Helena Andrés.

Em tempos de empobrecimento dos valores estéticos deturpados pela


velocidade do mundo contemporaneo e pela lógica de progresso capitalista
que convida por meio do super-estímulo à atenção dividida, eliminando a
capacidade de extrair substância e produzir arte é importante relembrar
referências históricas que inspiram por meio de suas obras a reflexão sobre o
mundo e sobre a beleza do sublime, nesse sentido, é impossível não pensar
em Alberto da Veiga Guignard, artista brasileiro que deixou um legado
imprescindível as artes plásticas. O documentário “Guignard a educação do
olhar” dirigido por Paulo Vilara aborda uma das atribuições pelas quais o
artista ficou conhecido, a de professor, tratando desde a sua chegada a Belo
Horizonte a convite de Juscelino Kubitschek até seu falecimento em 1962 o
filme expõe de forma simples e acessível a trajetória de mestre de Guignard,
mas sem deixar de lado sua relação com a biografia geral do artista e sua
relação com o meio, onde é demonstrado como os valores carregados por ele
vieram a modificar o cenário da arte mineira na época de sua chegada em
Belo Horizonte, importando ideais de ensino da arte que desafiavam a norma
e modificaram o cenário academicista que pautava a arte até então. Fazendo
um salto no tempo logo no início do vídeo é introduzido ao espectador parte
do legado deixado por Guignard, dispondo imagens de uma exposição
ocorrida em 1996 na Galeria de Arte do BDMG cultural onde diversos de seus
alunos expuseram quadros que revelam a diversidade produzida pelo método
de ensino livre que viria a ser abordado posteriormente no documentário,
embora esse recorte possa a princípio aparentar uma precipitação por parte
do autor ela se mostra muito coerente dado a organização do vídeo e ao fato
que não se trata de uma biografia convencional e sim do extrato de um
determinado aspecto dessa biografia, dentro dessa temática o documentário
prossegue contando a história da escola de artes coordenada por Guignard e
suas transformações e influencias no meio relatadas por entrevistados como
o escultor austríaco Franz Weissmann, figura importante na história da escola
de artes, que conta como sua trajetória se cruzou com a de Guignard na
missão de prosseguir com um projeto de uma escola experimental no Parque
Municipal Américo Renné Giannetti onde o método de Guignard tomou forma
no contato com a paisagem e na produção com base na atenção
contemplativa. Tendo como essa temática o artigo “Guignard, o mestre” de
Maria Helena Andrés aprofunda ainda mais nas nuances do método que
produziu importantes alunos e proeminentes artistas como aqueles mostrados
brevemente no trecho do documentário onde são expostos algumas das
obras da exposição “A cidade e o artista dois centenários”, de fato o jeito
peculiar com o qual Guignard estabelecia a relação mestre e aprendiz
remonta ao passado, citando : “ Guignard reviveu de maneira quase única o
antigo mestre, figura desaparecida nos tempos modernos. Atualmente, o
ensino se distribui em diversas cátedras, com horários marcados e contato
reduzido do professor com os alunos. Anteriormente às academias de Belas
Artes, o mestre - fosse ele filósofo ou artesão - trabalhava lado a lado com
seus aprendizes e a eles se misturava, sem preocupação de superioridade,
desejando apenas transmitir experiências. Assim foi Guignard “. Tal
abordagem respeitava a individualidade do aluno e possibilitava a construção
da ponte entre o sujeito e a expressão artística sem atropelar a subjetividade
e padronizar a produção artística. Ao alternar entre comentários a respeito da
biografia, da história documental e da vivência da própria autora que foi aluna
de Guignard, o texto apresenta diversas perspectivas interessantes para uma
melhor compreensão de quem foi de fato Alberto da Veiga Guignard como
professor, suas atribuições e qualidades únicas, características como a
humildade demonstrada por ele na relação com os alunos expressa no
trecho:” Não via no aluno um futuro concorrente, mas um companheiro de
arte que despertava diante de seus olhos. Muitas vezes, ao criticar um
trabalho, seu entusiasmo chegava a ser comovente: "Você desenha melhor
do que eu", escutei-o dizer a um colega, "mas deixa estar que ainda chegarei
lá". Ao corrigir o trabalho de um aluno ele muitas vezes se entusiasmava e o
assinava.” Onde muito além de produzir simpatia para como o sujeito o leitor
é introduzido a uma outra esfera da vida do artista, mais íntimo e dificilmente
abordado em biografias mais comuns e de maior vinculação, mas de
inquestionável valor documental. Assim intercalando relatos, histórias o artigo
encerra citando alguns dos alunos de Guignard.

Tanto o documentário “Guignard a educação do olhar” quanto o artigo


“Guignard, o mestre” fornecem, dentro de suas propostas, um retrato
acessível de quem foi Alberto da Veiga Guignard como docente e suas
contribuições para o cenário da arte, para isso utilizam de fontes históricas,
relatos, entrevistas e outros recursos que compõem uma gama diversa e útil
para qualquer um que deseja conhecer essa importante personalidade.

Link do artigo:
https://www.scielo.br/j/ea/a/VxKzmjXYHPJG4MKD9Rzq3WQ/?lang=pt#

Link do documentário:
https://www.youtube.com/watch?v=_a9viAgux08

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