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Universidade de Brasília

Instituto de Artes
Departamento de Teoria, Crítica e História da Arte
Disciplina: Laboratório de Crítica, Teoria e História da Arte 2
Profª Drª: Maria do Carmo Couto da Silva
Discente: Ritichely de Jesus _ matrícula: 180054864

LAB 2_ COMENTÁRIO CRÍTICO BAUDELAIRE, O PINTOR DA VIDA MODERNA

Em "O pintor da vida moderna" (1863) Charles Baudelaire questiona o que seria
esse homem moderno e essa noção de modernidade que permeia o XIX, com as
questões que se espraiam à partir dessa modernidade, pensando nesse indivíduo
que habita nesse espaço caótico e fugaz da urbis, que se vê diante das constantes
modificações sofridas nas cidades advindas da industrialização e das novas
tecnologias, e por conseguinte, como isso altera seu modo de vida, que resvalam
nos seus costumes e até mesmo na gosto da moda da época.

Para tanto, Baudelaire parte do pressuposto de que o pintor moderno precisaria


olhar mais para seu momento presente e menos para o passado como um modelo a
ser seguido ou um referencial a ser alcançado. Para Baudelaire, o pintor moderno
precisaria portanto, não só ter um arcabouço histórico e técnico a fim de imitar
modelos do passado, mas que pudesse olhar com avidez para o momento presente
e as questões ele apresentava, que demandava do artista uma atitude de
apreensão daquele tempo, acompanhando todas essas mudanças que ocorriam,
não se retendo a apenas conhecer e imitar os grandes mestres, pois isso faria com
que ele se fechasse a todos esses novos meandros da história que se apresentam.
Assim, tudo que fazia parte daquele mundo contemporâneo deveria ser de interesse
de investigação do artista.

Baudelaire compreende assim, que a modernidade é transitória, fugidia e efêmera.


Não por isso, ele tenta, de certo modo, elevar a vida cotidiana e comum como algo
digno, que tem um valor artístico e simbólico de ser representado, pois segundo ele
"a modernidade nos dá a lama e a transforma em ouro. A arte transforma aquilo que
não seria um tema de belas artes em Belo."

Baudelaire reconhece que o belo é constituído por um elemento eterno invariável


e de um elemento relativo, circunstancial. Ele abandona assim as exigências da
rigidez do belo clássico, considerando também como belo o pictoresco, a procura do
novo, da diferença, da individualidade, como também o belo que está na moda,
onde a vestimenta de cor preta seria um dos símbolos dessa modernidade, bem
como o uso da maquiagem, que traz questões socioculturais, onde as pessoas
usavam desse artifício a fim de fugir ou disfarçar o natural, que se justificava pelo
sucesso em alcançar seu efeito em apresentar sua melhor versão ao outro, num
momento em que se considerava a higiene do corpo e da mente como algo
extremamente relevante para manter a "moral e os bons costumes" da época.
Desse modo, segundo Baudelaire,

para o croqui de costumes, a representação da vida burguesa e os espetáculos da


moda, o meio mais expedito e menos custoso é evidentemente o melhor [...] há na
vida ordinária, na metamorfose cotidiana das coisas exteriores, um movimento
rápido que exige do artista igual velocidade de execução. (Baudelaire, C. 1863. p.
853. Grifo nosso)

Esse costume, esse modus de vida do XIX irão resvalar na arte, nos motivos e 
temas que serão elencados pelos artistas, onde o tema principal da obra não mais
será a pintura de corte ou a pintura religiosa, abrindo espaço a outras figuras antes
esquecidas ou coadjuvantes aparecerem, como a figura do camponês, do
trabalhador, do cidadão comum em sua vida cotidiana, a vida noturna das cidades,
nos bares e tabernas, o momento presente em si sendo registrado pelas pinceladas
rápidas, as novas invenções que modificam a paisagem das cidades, como as
estações de trens e ferrovias, que irão modificar também a concepção da
transposição do tempo em função dessa necessidade de ordenamento da
temporalidade que passa a ser uniforme.  

Baudelaire também coloca as mulheres, atrizes, dançarinas como vizinhas dos


poetas, dando ênfase a pintura de gênero, que não estarão associadas somente a
uma idealização mitológica, mas seu protagonismo se mostrará representado nas
mais diversas e ordinárias situações, como a Folies Bergére (1882) ou a Olympia
(1865) de Manet ou a série de bailarinas de Degas por exemplo.

Por fim, é interessante perceber o papel da crítica naquele momento, capaz de


instaurar um artista, como Baudelaire assim o faz elencando C.G., Diderot, Poussin,
bem como uma tentativa de apreender o espírito de uma época num texto de crítica,
que olha para o presente, sem renegar o passado, pois segundo ele "também houve
uma modernidade para cada pintor antigo ".

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