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Introdução
Após a leitura de todos os textos entregues e estudados no âmbito da cadeira de Arte
e Objecto de Arte I do 1º ano do curso superior de Artes Plásticas, acabei por me identificar
com o texto de Charles Baudelaire, sendo esse o escolhido para analisar segundo as regras que
a docente nos propôs.
Há na vida comum uma mudança contínua das coisas, um movimento rápido que exige
do artista idêntica velocidade de execução.
Esta ideia é percursora do Impressionismo, que surgiu um pouco mais tarde (O nome
do movimento é derivado da obra Impressão, nascer do sol (1872), de Claude Monet).
Para ajudar a identificar esta relação seguem algumas das principais características do
impressionismo:
a pintura deve mostrar as tonalidades que os objetos adquirem ao refletir a luz do sol
num determinado momento, pois as cores da natureza mudam constantemente,
dependendo da incidência da luz do sol;
é também, com isto, uma pintura instantânea (captação o momento), recorrendo,
inclusivamente, à fotografia;
O autor aqui refere Constantin Guys como exemplo de artista que não se identifica nas
suas obras e rejeita a fama como criador, constam nas suas obras uma alma resplandecente e
que desdenham a aristocracia, é um apaixonado pela multidão e pelo incógnito.
Quando começou a pintar, tardiamente, desenhava como um bárbaro, como uma
criança, irritando-se contra a sua falta de jeito e desobediência dos seus instrumentos,
segundo Baudelaire.
Guys era um artista autodidata pois descobriu sozinho os pequenos truques do seu
ofício, foi também apaixonado pelas viagens e cosmopolita (esteve em Espanha, Turquia e
Crimeia) onde se fartou de desenhar como correspondente para um jornal.
A ingenuidade, por vezes, dos seus traços facilita o registo e a perceção da impressão
e torna-se testemunho da verdade (sem falseados virtuosos dos artistas que procuram
embelezar as cenas).
Este “começou contemplando a vida e só muito tarde se esforçou para aprender os
meios para expressá-la. Disso resultou uma originalidade extraordinária”1.
"a curiosidade pode ser considerada como ponto de partida do seu génio2"
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Charles Baudelaire, O Pintor da Vida Moderna.
2
Charles Baudelaire, O Pintor da Vida Moderna.
São, segundo Baudelaire, brutos muito hábeis, simples artesãos, inteligências provincianas,
mentalidades de cidade pequena. A conversa do artista, forçosamente limitada a um círculo
muito pequeno, torna-se insuportável para o homem do mundo.
O Homem do Mundo - Homem que compreende o mundo e as razões misteriosas e
legítimas de todos os seus costumes. Quer saber, compreender, apreciar tudo o que o rodeia.
Vive em convalescença (a convalescença é como voltar à infância – tal como a criança, o
convalescente interessa-se muito mais intensamente pelas coisas, mesmo as mais banais), este
parágrafo faz-me recordar o caso de um amigo que teve um adenoma na Hipófise, que lhe
provocou um derrame cerebral, em que tudo o que via e ouvia, naquela altura pouco
promissora da sua vida, era como se fossem âncoras para se agarrar ao mundo para esquecer
a mortalidade.
A criança vê tudo como novidade, está sempre como se “bêbada” perante o
maravilhoso do mundo, pessoalmente identifico-me muito com esta forma de experimentar o
mundo, a novidade, as cores, o absorver de tudo o que me rodeia e deslumbrar-me com tanta
inspiração. Inspiração é equiparada à alegria com que a criança absorve a forma e a cor. A
inspiração provoca um estremecimento nervoso (como o friozinho no estômago) que vai até
ao cérebro. O homem de génio tem os nervos fortes, sabe filtrar e gerir a informação que
recolhe no dia a dia e depois transforma-a em objeto de Arte (a razão ajuda a controlar a
experiência) enquanto que a criança tem os nervos fracos, isto é, deixa-se apoderar pela
inspiração (é dominada pela sensibilidade). Este texto tocou-me para a noção da realidade que
por ventura me teria passado despercebida, consciencializou-me de que já não sou a tal
"criança inebriada", que evoluí com o tempo e esforço e que posso então denominar-me como
mulher do mundo porque aprendi a organizar a informação recolhida e a metamorfoseia-la. O
génio é a infância redescoberta sem limites, expressando-se com a capacidade analítica para
gerir os conteúdos assimilados.
Constantin Guys – eterno convalescente e um homem-criança, constantemente
dominado pelo génio da infância, sempre curioso diante de todos os detalhes do mundo. Para
Baudelaire o C.G. poderia ser um dândi, personalizava a essência mais pura do carácter
humano e uma compreensão de todo o mecanismo moral deste mundo, por outro lado
faltava-lhe a insensibilidade dos dândis, sendo consumido por uma paixão voraz pelo sentir e
pelo ver.
Aproveito para fazer aqui um parênteses e contextualizar o que é um dândi: (Dândi é
aquele homem de bom gosto e fantástico senso estético, mas que não necessariamente
pertencia à nobreza. O dândi é o cavalheiro perfeito, é um homem que escolhe viver a vida de
maneira leviana e superficial. Como uma máscara, ou um símbolo, é uma subespécie de
intelectual que não desprime o esteticismo e a beleza dos pormenores. É um pensador,
contudo diletante, ocupando o seu tempo com lazer, atividades lúdicas e ociosas. Tem uma
obsessão pela classe e é um dissidente do vulgar3).
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http://www.tumblr.com/tagged/1822?before=1302089661
posso cessar o coração e escrever apenas sobre a mente? Porque não tentar exprimir os dois
num só corpo? Este texto fez-me recordar quem realmente sou e como eu vejo a arte, a que
supostamente faço e a que supostamente aprecio.
A multidão é o seu universo, é o meu universo. Sua profissão é casar-se com a
multidão.
Para o perfeito flâneur (para o observador apaixonado, o deambulador) é uma alegria
imensa fixar-se no meio da multidão, no ondulante, no movimento, no fugidio, e no infinito.
Tal como eu.
"O observador é um príncipe que frui por toda a parte pelo facto de estar incógnito"4.
O amador da vida faz do mundo a sua família. Eu faço do mundo a minha família. Por
exemplo tenho desenvolvido alguns trabalhos sobre fotografia. Saio à rua com a minha
máquina analógica/digital com o intuito de imortalizar aquela flor, aquele desgaste de tinta
nas velhas paredes de uma casa abandonada, o sorriso de uma criança, um beijo em contraluz.
Saio a rua e sinto-me capaz de fazer tudo porque estou com a minha família.
Amor em Flor, Alexandra dos Santos, 2012 Jardim de Stª Bárbara em Braga.
4
Charles Baudelaire, O Pintor da Vida Moderna.
Quando saio a rua faço-me acompanhar sempre pelas minhas máquinas, tenho a
intenção de recordar aquele momento, aquele lugar, aquele olhar que pode ser único, a coisa
mais maravilhosa do mundo ou algo que possa parecer banal aos olhos de quem não vê o que
vejo. Tenho a intenção de levar comigo, para o meu ninho, um pedaço do mundo e da
multidão onde vivi, de eternizar todos os sabores e cheiros que as máquinas captam.
Tal como Constantin Guys, adoro viajar por mundos desconhecidos, experimentar
novas texturas, ler nos olhos das cidades a cultura que nelas pesa. Quando viajo, quando saio a
rua não sei para onde vou, onde vai dar aquela rua, chego a encontrar-me com becos sem
saída mas acho maravilhoso, conheço pessoas de etnias variadas, conheço-me mais a mim,
absorvo cada vez mais e mais inspiração que me faz querer fazer mais e mais objetos de arte.
Quando saio a rua não quero entrar mais em casa, quero ficar lá, no mundo que é a minha
família.
Constantin Guys quando acorda maravilha-se com o sol e com o dia, e tem remorsos
porque já perdeu muito tempo de luz, sai de casa e contempla o mundo, as paisagens
citadinas, as pessoas, como se vestem, as carruagens, até aos detalhes mais ínfimos. Chega a
noite, ao contrário dos homens comuns que regressam a casa depois de um longo e cansativo
dia de trabalho Guys aproveita ainda todas as centelhas de luz, poesia, de música e de vida nos
cabarés, nos bares, nas ruas. Quando os outros dormem ele está curvado sobre a sua mesa,
debatendo-se consigo próprio, desenhando freneticamente com medo que as
imagens/experiências que testemunhou lhe escapem.
IV - A modernidade
O que procura este homem? Não será apenas o ser um simples flâneur, apenas
testemunhar as circunstâncias do mundo. Procura algo, ao qual se pode chamar a
Modernidade.
Tirar da moda (aqui moda pode ser lido com um sentido mais universal, a moda é tudo
o que o rodeia, o presente) o que esta pode ter de poético no seu histórico. Extrair o eterno do
transitório (daquilo que acontece nos vários momentos do dia).
Baudelaire, como dândi volta a reflectir sobre o papel da moda/roupa nas obras dos
artistas que lhe eram contemporâneos denunciando a falsidade de se representarem cenas
contemporâneas com as personagens vestidas com roupa da idade média, renascimento ou
oriente. Chama-lhes preguiçosos – porque não se davam ao trabalho de procurar os detalhes e
pormenores de qualidade do vestuário actual, refugiando-se em receitas de vestuário
exploradas já no passado.
A Modernidade é o transitório, o efémero, o fugaz – isto é metade da obra de arte
(especificamente o que Baudelaire entende pelo corpo da obra de arte conforme referido no
capítulo I).
A outra metade é a sua capacidade de se tornar eterna e imutável (designadamente a
alma da obra).
Defende que houve uma modernidade nos pintores antigos, em que estes retratavam
as cenas e personagens, caracterizando os costumes daquela época. São obras harmoniosas: a
roupa, os penteados, os olhares, os gestos (cada época tem o seu porte, seu olhar e seu
sorriso) e continua a defender a ideia da evolução da arte associada aos costumes e modas ao
longo dos tempos com vários exemplos.
Por último, se o homem comum olha a natureza (o que o rodeia)
desinteressadamente apenas como um meio para os seus fins pessoais, já Constantin Guys
absorve-a continuamente, tendo a memória e os olhos cheios dos seus muitos pormenores.
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Charles Baudelaire, O Pintor da Vida Moderna.