O documento é uma recensão crítica do livro "O Pintor da Vida Moderna" de Charles Baudelaire. Nele, o autor analisa como Baudelaire defende o artista da vida moderna capaz de representar a sociedade do século XIX em Paris. Baudelaire destaca o ilustrador Constantin Guys como o pintor por excelência da vida moderna, interessado em retratar as pessoas e costumes da época de forma poética.
O documento é uma recensão crítica do livro "O Pintor da Vida Moderna" de Charles Baudelaire. Nele, o autor analisa como Baudelaire defende o artista da vida moderna capaz de representar a sociedade do século XIX em Paris. Baudelaire destaca o ilustrador Constantin Guys como o pintor por excelência da vida moderna, interessado em retratar as pessoas e costumes da época de forma poética.
O documento é uma recensão crítica do livro "O Pintor da Vida Moderna" de Charles Baudelaire. Nele, o autor analisa como Baudelaire defende o artista da vida moderna capaz de representar a sociedade do século XIX em Paris. Baudelaire destaca o ilustrador Constantin Guys como o pintor por excelência da vida moderna, interessado em retratar as pessoas e costumes da época de forma poética.
Em
O
Pintor
da
Vida
Moderna,
Baudelaire
faz
uma
abordagem
ao
conceito
de
beleza
do
passado
artístico
transmitido
pelos
grandes
mestres
da
pintura,
como
um
marco
interessante
pelo
seu
valor
histórico,
mas
também
como
uma
ruptura
dos
padrões
da
antiguidade
clássica.
Referindo-‐se
ao
belo
moderno
presente
na
sociedade
parisiense
do
séc.
XIX,
Baudelaire
traduz
este
“novo
estar”
como
um
tempo
que
se
consome
a
si
próprio.
É
precisamente
nesse
ponto
que
ele
defende
o
artista
da
vida
moderna
como
aquele
que
consegue
reinventar
esse
novo
paradigma
do
modernismo
através
da
auto-‐consciência
desse
presente.
É
justamente
nesse
presente,
onde
Baudelaire
se
movimenta,
que
lhe
interessa
especular
e,
como
ele
próprio
refere,
retirar
o
prazer
da
representação
do
presente,
o
qual
não
advém
somente
da
beleza
aparente,
ou
do
que
os
olhos
vêem,
mas
também
da
qualidade
essencial
que
caracteriza
esse
presente.
É
essa
estética
do
tempo
que
ele
nos
fala
e
na
qual
se
manifesta
a
experiência
da
modernidade
no
espírito
parisiense.
Baudelaire
transporta-‐nos
através
do
seu
olhar
atento
e
cosmopolita
à
ideia
do
belo
ligado
às
modas
e
ao
espírito
de
felicidade,
cruzando
o
passado
com
o
presente
dentro
de
uma
natureza
moral
e
espiritual
do
homem,
como
um
palco
de
usos
e
costumes.
Para
o
autor
o
belo
é
construído
por
dois
elementos.
O
primeiro
tem
a
sua
existência
em
algo
que
não
é
transmutável
e
eterno,
difícil
de
determinar;
o
segundo
está
ligado
a
uma
mutação
ou
a
circunstâncias
da
própria
modernidade.
Esta
dualidade
é
sugerida
por
Baudelaire
aplicando-‐se
também
ao
autor
e
à
obra
de
arte
e
também
ao
homem
em
particular
como
uma
consequência
fatal
da
sua
existência
–
por
um
lado
a
arte
como
alma
imutável
da
beleza
visual
e,
por
outro
lado,
a
efemeridade
física
da
condição
humana.
Neste
contexto
o
autor
é
obrigado,
com
algum
esforço
em
assumir
uma
concordância
com
Stendhal,
ao
afirmar
que
o
Belo
não
é
senão
a
promessa
da
felicidade,
facto
esse
que
transmutaria
para
uma
espécie
de
leveza
espiritual
a
representação
da
vida
burguesa
no
séc.
XIX.
Ao
integrar
o
artista
neste
mundo
acelerado
pela
moda
e
pelos
costumes
da
época,
Baudelaire
assume-‐o
como
um
criador
integrado
nesses
tempos
modernos
de
forma
a
metamorfosear
a
sua
arte
em
processos
de
produção
efémera
tais
como
a
litografia,
tão
frívola
de
aparência,
mas
abrangendo
as
temáticas
humanas
que,
segundo
o
autor,
saíam
fora
da
arte
mais
durável
dos
grandes
pintores
das
coisas
eternas
e
glorificantes
do
passado.
A
esta
forma
modernista
de
olhar
o
mundo,
já
desenvolvida
pela
literatura
de
Balzac
através
da
Comédia
Humana,
surgiram
artistas
como
Daumier
e
Gavarni,
que
de
uma
forma
poética
e
humana
se
aproximavam
das
coisas
insignificantes
mas
verdadeiras
da
vida.
Segundo
esta
consciência
do
artista
cosmopolita
que
abandona
a
pretensão
ao
estrelato
dos
grandes
pintores
e
se
entrega
ao
espírito
romântico
da
época
relatando
e
vivenciando
a
natureza
humana,
Baudelaire
dá-‐nos
a
conhecer
aquele
que
ele
verdadeiramente
considera
o
pintor
da
vida
moderna,
Constantin
Guys
(1805
–
1892)
-‐
amante
da
multidão
e
do
incógnito.
Baudelaire
fala-‐nos
deste
homem
pintor/ilustrador,
que
fazia
questão
em
passar
despercebido,
como
um
autor
de
natureza
misteriosa
cujo
trabalho
poético
era
fruto
de
imagens
que
lhe
enchiam
o
cérebro.
Defensor
destes
artistas
que
vivendo
na
obscuridade
mas
nem
por
isso
deixavam
de
ser
grandes
mestres
da
representação
da
vida
e
da
sociedade
humana,
Baudelaire
refere
que
conheceu
primeiro
a
obra
de
Constantin
Guys
–
o
Sr.
G.
-‐
através
das
gravuras
publicadas
num
jornal
e
passados
dez
anos
finalmente
conheceu
o
seu
autor,
que
não
era
um
artista
isolado
no
seu
atelier
e
do
resto
do
mundo,
atribuindo-‐lhe
rapidamente
o
estatuto
de
homem
do
mundo.
Aquele
que
se
interessa,
vive
e
se
preocupa
verdadeiramente
com
as
coisas
que
se
passam
à
sua
volta
socialmente,
com
uma
espécie
de
curiosidade
permanente
e
analéptica.
Baudelaire
assemelha
Guys
a
uma
criança
insaciável
pelo
conhecimento
que,
como
ele
refere,
é
possuidor
do
génio
da
infância.
Naturalmente
que,
para
a
época,
poder-‐se-‐ia
considerar
Guys
um
dandy,
aquele
que
na
sua
essência
tem
um
carácter
e
uma
inteligência
subtil.
Por
outro
lado
Baudelaire
considera
que
qualquer
dandy
aspira
à
insensibilidade
e
isso
torna-‐o
blasé,
termo
que,
para
o
autor,
claramente
não
se
aplica
a
Constantin
Guys
afastando-‐o
rapidamente
do
dandismo
tornando-‐o
“um
homem
na
multidão”
tal
como
o
conto
de
Edgar
Alan
Põe
-‐
aquele
que
deambula
pela
cidade,
o
flâneur,
um
fugitivo
contemplador,
observador
acordado
do
mundo
enquanto
os
outros
dormem
nesse
mesmo
mundo.
A
este
espírito
inquieto
e
viajante
dos
mais
elevados
objectivos,
Baudelaire
considera-‐o
um
escavador
da
modernidade
latente
no
presente
e
que
provavelmente
só
alguns
terão
o
privilégio
de
a
entender,
ou
conseguir
retirar
das
tendências
artísticas
da
época
o
sentido
consciente
e
poético
do
mundo.
Segundo
Baudelaire
as
exposições
de
pintura
da
modernidade
serviam
assim
para
mascarar
os
clássicos
vestindo-‐os
com
uma
nova
roupagem,
uma
moda
que
transformava
todo
o
mistério
eterno
e
imutável
da
obra
de
arte
clássica
numa
arte
transitória
e
de
mudanças,
trazendo
uma
nova
vitalidade
aos
paradigmas
da
própria
época.
Os
valores
pictóricos
dos
temas
gregos,
as
deusas
e
as
ninfas
são
moralmente
semelhantes
às
figuras
pintadas
no
modernismo.
Baudelaire
considera
que
para
se
compreender
o
carácter
da
beleza
actual
da
época,
não
se
pode
imitar
os
panejamentos
e
as
pregas
do
vestuário
do
passado
pois
a
fisionomia
da
mulheres
antigas
não
se
aplica
ao
espírito
da
moda
da
mulher
moderna.
Ao
deixar-‐se
mergulhar
no
antigo
o
homem
moderno
abdica
e
perde
a
memória
dos
valores
do
presente.
Acrescentando
que
a
originalidade
do
pensamento
de
cada
época
vem
da
marca
que
o
tempo
imprime
no
homem
inscrito
dentro
da
sua
actualidade.
Enquanto
alguns
artista
executam
as
sua
obras
sob
variados
esquemas
ou
fórmulas
visuais
de
representação,
Baudelaire
refere
a
memória
prodigiosa
de
alguns
artistas
que
através
da
procura
do
traço
e
do
esboço
no
papel,
representavam
com
excelência
tudo
o
que
o
olhar
captava.
O
caso
do
Sr.
G.,
Baudelaire
menciona-‐o
como
aquele
que
melhor
soube
transportar
o
seu
imaginário
para
o
ambiente
da
guerra
da
Crimeia
através
da
imprevisível
perícia
do
seu
traço,
esboçando
inquietações
e
acontecimentos
que
ficariam
impressas
em
folhas
de
jornal.
O
Sr.
G.
é
referido
como
um
visionário
que
desenha
dia
após
dia,
delicada
e
inteligentemente
na
superfície
do
papel,
os
acontecimentos
mais
admiráveis
e
as
ocupações
mais
triviais
da
vida.
As
sua
representações
são
transversais
a
todos
os
temas
da
sociedade
burguesa
da
época.
O
seu
olhar
é
enriquecido
com
todas
as
camadas
sociais:
militares,
homens,
mulheres
e
dandy’s.
Tanto
as
personagens
triviais
como
as
que
se
destacam
em
“pompa”
da
“vida
elegante”
e
“galante”,
o
Sr.
G.
consegue
extrair
dessa
banalidade
uma
poética
artística
que
só
é
visível
naquele
que
da
modernidade
se
ocupa.
Este
pintor
da
vida
moderna
torna-‐se
para
Baudelaire
o
principal
representante
da
representação
visual
da
modernidade
e
principal
testemunha
da
expressão
mnemónica
da
sociedade
efémera
do
séc.
XIX.
Esta
posição
de
Baudelaire
em
relação
ao
génio
artístico
-‐
o
pintor
que
ilustra
e
dá
a
conhecer
os
acontecimentos
do
mundo
através
do
sua
olhar
inteligente
e
sensível
-‐
expressa
claramente
a
sua
opinião
crítica
relativamente
à
ameaça
do
surgimento
da
fotografia,
que
ele
próprio
definia
como
a
invenção
que
tinha
como
função
ser
“serva
das
artes”.
Baudelaire
reúne
nestes
textos
algumas
personagens
que
ele
considera
carismáticas
da
modernidade
os
quais
o
Sr.
G.
-‐
pintor
da
vida
moderna
-‐
se
apodera
delas
extraindo-‐lhes
a
sua
essência,
retratando-‐as
no
papel
com
a
inteligência
de
quem
dilacera
a
própria
vida
humana.
Baudelaire
vive
no
seu
presente
e
neste
contexto
tem
a
noção
perfeita
da
arte
feita
nessa
época
e
das
capacidades
de
representação
do
verdadeiro
pintor.
Ele
trata
neste
livro
de
uma
dupla
autoridade
da
modernidade
ao
lançar
o
seu
olhar
crítico
e
literário
às
personalidades
da
moda,
cruzando
o
seu
olhar
com
a
visualidade
delicada
do
Sr.
G.
para
nos
dar
a
entender
a
forma
e
o
corpo
de
poderosas
figuras
como
o
dandy,
a
mulher
moderna
e
maquilhada
ou
as
raparigas
da
moda,
cujas
características
incitam-‐nos
desta
forma
a
uma
vertiginosa
deambulação
pelos
labirintos
da
beleza
daquele
presente.