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QUALIDADE DE ENERGIA
Coimbra 2004
GESTÃO DE ENERGIA ELÉCTRICA
Un iversidade de Coimbra
F ac uld ad e de Ci ên c i as e T e cno log ia
Departamento de Engenharia Electrotécnica e de Computadores
QUALIDADE DE ENERGIA
G. E. E.
Trabalho Realizado no Âmbito da disciplina de Gestão
de Energia Eléctrica pelos alunos:
Índice
1. INTRODUÇÃO ………………………………………………………………………….. 6
2. QUALIDADE DE SERVIÇO …………………………………………………………. 7
3. CONCEITO DE QUALIDADE DE ENERGIA ……………………………………. 9
4. NORMALIZAÇÃO ……………………………………………………………………… 10
4.1. O QUE SÃO AS NORMAS …………………………………………………………….. 10
4.2. IMPORTÂNCIA DA NORMALIZAÇÃO …………………………………………………. 10
4.3. NORMALIZAÇÃO NO ÂMBITO DA QUALIDADE DE ENERGIA ……………………. 10
4.4. NORMALIZAÇÃO EM PORTUGAL ……………………………………………………. 11
4.4.1. Regulamento da Qualidade de Serviço ………………………………………….. 11
4.4.2. Norma NP EN 50 160 ………………………………………………………………... 12
4.4.3. Normas IEC 61000 …………………………………………………………………… 13
5. ORIGEM DAS PERTURBAÇÕES DA QUALIDADE DA ENERGIA ………. 14
5.1. NOS CENTROS DE PRODUÇÃO ……………………………………………………… 14
5.2. NOS SISTEMAS DE TRANSPORTE …………………………………………………... 14
5.3. NOS SISTEMAS DE DISTRIBUIÇÃO ………………………………………………….. 15
5.4. NAS CARGAS …………………………………………………………………………... 16
6. PERTURBAÇÕES DA QUALIDADE DA ENERGIA ………………………….. 18
6.1. CAVAS DE TENSÃO …………………………………………………………………… 18
6.1.1. Origem das Cavas de Tensão …………………………………………………….. 18
6.1.2. Consequências das Cavas de Tensão …………………………………………... 20
6.1.3. Formas de Mitigação das Cavas de Tensão ……………………………………. 21
6.2. INTERRUPÇÕES BREVES E LONGAS (CONTINUIDADE DE SERVIÇO) …………. 22
6.2.1. Indicadores da Continuidade de Serviço ……………………………………….. 22
6.2.2. Origem das Interrupções …………………………………………………………... 24
6.2.3. Consequências das Interrupções ………………………………………………… 25
6.2.4. Formas de Mitigação das Interrupções …………………………………………. 25
6.3. SOBRETENSÕES ……………………………………………………………………….. 25
6.3.1. Origem das Sobretensões …………………………………………………………. 26
6.3.2. Consequências das Sobretensões ………………………………………………. 26
6.3.3. Formas de Mitigação das Sobretensões ………………………………………... 27
6.4. FLUTUAÇÕES DE TENSÃO …………………………………………………………… 27
6.4.1. Origem das Sobretensões …………………………………………………………. 29
6.4.2. Consequências das Sobretensões ………………………………………………. 30
6.4.3. Formas de Mitigação das Sobretensões ………………………………………... 30
6.5. OSCILAÇÕES DE FREQUÊNCIA ……………………………………………………… 30
6.5.1. Origem das Oscilações de Frequência ………………………………………….. 30
6.5.2. Consequências das Oscilações de Frequência ……………………………….. 30
6.5.3. Formas de Mitigação das Oscilações de Frequência ………………………… 31
6.6. DESEQUILÍBRIO DE FASES …………………………………………………………… 31
6.6.1. Origem do Desequilíbrio de Fases ……………………………………………….. 32
6.6.2. Consequências do Desequilíbrio de Fases …………………………………….. 32
Lista de Abreviaturas
AC Alternating Current (Corrente Alternada)
AT Alta Tensão
BT Baixa Tensão
CBEMA Computer and Business Equipment Manufacturers Association
CEI Comissão Electrotécnica Internacional
CEM Compatibilidade Electromagnética
CENELEC Comité Europeu de Normalização Electrotécnica (Comité Européen de Normalisation Electrotechnique)
DC Direct Current (Corrente Contínua)
DGE Direcção Geral de Energia
DVR Dynamic Voltage Restorer
EN European Norm (Norma Europeia)
ERSE Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos
EUA Estados Unidos da América
FAC Fontes de Alimentação Comutadas
FP Factor de Potência
IEC International Electrotechnical Commission
IEEE Institute of Electrical and Electronic Engineers
IGBT Insulated Gate Bipolar Transistor (Transistor Bipolar com Porta Isolada)
IPQ Instituto Português da Qualidade
ITIC Information Technology Industry Council
JIT Just In Time
MAT Muito Alta Tensão
MT Média Tensão
NP Norma Portuguesa
PQ Power Quality (Qualidade da Energia)
PRE Produção em Regime Especial
PT Posto de Transformação
QE Qualidade da Energia
QEE Qualidade da Energia Eléctrica
QS Qualidade de Serviço
RDP Rede de Distribuição Pública
REN Rede Eléctrica Nacional
RMS Root Mean Square (Valor Eficaz)
RNT Rede Nacional de Transporte
RQS Regulamento da Qualidade de Serviço
SEI Serviço Eléctrico Independente
SEP Sistema Eléctrico de Serviço Público
THD Taxa de Distorção Harmónica ou Distorção Harmónica Total (Total Harmonic Distortion)
UCTE Union Pour la Coordenation du Transport de l’Electricité
UIE União Internacional para as aplicações Eléctricas (Union Internationale d’Electrothermie)
UPS Uninterruptible Power Supply (Fonte de Alimentação Ininterruptível)
VEV Variador Electrónico de Velocidade
1. INTRODUÇÃO
Possivelmente a EE é a mais importante das matérias-primas usadas e comercializadas
dos tempos de hoje. Mas, a sua natureza obriga a que a produção e o consumo se efectuem ao
mesmo tempo, uma vez que os sistemas de armazenagem não são suficientemente eficientes e
baratos para que a desagregação temporal entre os momentos de produção e de consumo seja
rentável. Este é um caso onde a filosofia JIT é de aplicação obrigatória.
Tal como em qualquer outra aplicação dos métodos da filosofia JIT, os sectores da
produção, transporte e distribuição de EE devem conter sistemas de controlo muito eficientes, ter
um alto nível de confiança, para que os presumíveis clientes confiem nas entidades que
compõem o sector eléctrico como capazes de produzir e fornecer EE às suas cargas,
obedecendo a todas as especificações do produto em causa e, devem ainda conhecer na
perfeição o modo como os clientes se comportam e a relação entre o comportamento da procura
e a capacidade de produção.
Para complicar ainda mais a dinâmica da produção e transporte e distribuição de EE, o
local onde se produz pode situar-se muito distante do ponto de toma do consumidor. Se todas as
infra-estruturas e equipamentos que produzem e distribuem EE estivessem sob dependência
absoluta de apenas uma só entidade, o processo poderia parecer mais fácil mas a realidade é
que o destino dos monopólios nunca é muito risonho e a liberalização do sector eléctrico vem
como que a acudir o sector contra a falta de competição, mesmo que o processo se torne ainda
mais complexo.
O panorama da liberalização do sector eléctrico traz ainda mais complicações à gestão
da totalidade do processo em causa:
• As redes de distribuição, que constituem monopólios naturais locais podem estar a cargo
de diferentes empresas responsáveis pela rede local em diferentes zonas;
• Todos os produtores reclamam melhores níveis de eficiência para poderem subir na
pirâmide do despacho à produção;
• Surge uma nova entidade: os comercializadores de EE;
• Os inúmeros equipamentos estão espalhados ao longo de todo o país, à
responsabilidade de diferentes entidades (estatais ou privadas).
exigências no que respeita às utilizações de EE, existem muitos outros para os quais a QE
constitui um elemento crucial.
O sector eléctrico tem que estar preparado para fornecer EE com qualidade diferenciada
a todos os que estiverem na disposição de investir para a obter. Hoje em dia já existe quem
disponibilize pacotes de soluções que incluem o fornecimento de:
• EE com alta fiabilidade;
• energia na forma de calor ou frio;
• serviços de assistência permanente;
• garantia dos serviços acordados com indemnizações ao cliente caso exista
incumprimento.
2. QUALIDADE DE SERVIÇO
A qualidade de serviço (QS) de fornecimento de EE estabelece os padrões mínimos de
qualidade de natureza técnica e comercial a que deve obedecer o serviço prestado pelas
entidades do SEP.
A EE normalmente é gerada em locais distantes dos pontos de entrega sendo o
percurso desde o ponto em que é gerada até ao ponto em que é consumida um trilho sinuoso
por entre um elevado número de geradores, transformadores, cabos aéreos, subterrâneos,
ligações, disjunções, ramais, etc. A qualidade da EE no ponto de produção tem níveis muito
elevados e uniformes. Já as redes de distribuição, de onde é originária a maioria das
perturbações verificadas nos pontos de entrega, contribuem de forma nociva degradando a QS.
Mesmo sem referir as causas de força maior, são inúmeros os acontecimentos que
provocam perturbações da QS (ver Figura 1): descargas atmosféricas, árvores, vento excessivo,
humidade relativa do ar muito alta, acidentes de automóveis, animais, obras de construção, etc.
Toda a conjuntura associada à progressiva liberalização do sector eléctrico vem
aumentar a divisão de propriedades e de responsabilidades das estruturas que compõem o
sistema eléctrico, tornando difícil a tarefa de garantir a QS de fornecimento de EE, tanto a nível
técnico como a nível comercial.
Estas dimensões podem ser divididas por parâmetros de natureza comercial (qualidade
comercial) e parâmetros de natureza técnica (continuidade de serviço e qualidade da onda).
A título de conclusão, poderá dizer-se que a QS de fornecimento de EE é tanto melhor
quanto menor for a diferença entre as características do fornecimento de EE e os parâmetros e
aspectos que caracterizam a EE perfeita.
os desvios toleráveis dependem do tipo de carga em questão. Diferentes tipos de carga têm
níveis de tolerância diferentes para os diferentes tipos de defeito da alimentação de EE.
4. NORMALIZAÇÃO
4.1. O QUE SÃO AS NORMAS
As normas são acordos documentados contendo especificações técnicas, ou outro tipo
de critérios exactos, que servem para serem utilizados como regras, orientações ou definições
de características que assegurem que materiais, produtos ou processos servem os fins para que
foram concebidos.
A definição de normas é sempre feita por consenso, recolhendo o contributo de todas as
partes interessadas - fabricantes, técnicos e especialistas, organismos reguladores e clientes.
MAT AT MT BT
Zona A 8 12
Zona B 3 8 18 23
Zona C 30 36
Tabela 2 – Número limite de interrupções longas por ano, definidas pelo RQS para cada cliente. [1]
MAT AT MT BT
Zona A 4 6
Zona B 0,75 4 8 10
Zona C 16 20
Tabela 3 – Número limite de duração total das interrupções longas por ano, definidas pelo RQS para cada cliente
(em horas). [1]
Ainda dentro deste mesmo ponto, esclarece os limites da própria norma quanto à sua
utilização:
• não estabelece níveis de CEM;
• não impõe limites à emissão de perturbações pelos clientes para a RDP;
• não se destina à utilização em especificações de requisitos em normas de produtos;
• não é substituível em parte nem por todo por nenhum termo de contracto entre o cliente
e o fornecedor.
encontrar espalhada por toda a parte faz com que seja a fonte de maior parte das perturbações
de QEE. A rede de distribuição atravessa inúmeras zonas com imensos potenciais agressores
físicos: gruas em zonas de obras, árvores em zonas rurais, automóveis em zonas de estrada,
animais, incêndios, agentes catalizadores dos processos de oxidação em estações de
tratamento de resíduos, minas ou salinas etc.
Mesmo no que respeita a factores de cariz ambiental e meteorológico este tipo de redes
é mais preocupante. Tome-se o exemplo mais óbvio das descargas atmosféricas. As redes de
transporte são protegidas com cabos de guarda (ver Figura 2) que escoam a EE das descargas
atmosféricas à terra sem que se dê lugar a perturbações de maior calibre. Mesmo que a
descarga se efectue em parte, ou por todo, nos cabos da rede de transporte, as repercussões a
nível da integridade da linha ou mesmo da aparelhagem por onde se propagará a perturbação,
não será tão crítica como no caso das redes de distribuição, devido à atenuação ao longo da
própria rede, ao escorvamento pelos isoladores que se encontram nos postes da rede de
transporte, à difusão da sobretensão por várias linha adjacentes ou mesmo às impedâncias
existentes ao longo de toda a rede.
As descargas nas redes de distribuição são muito mais problemáticas. Por um lado é
uma rede mais sensível a descargas atmosféricas e porque não tem cabos de guarda, por outro
lado porque está próxima das cargas dos clientes. Normalmente, uma descarga atmosférica num
ponto da rede de distribuição tem sempre efeitos nefastos tanto nos equipamentos do lado da
rede como nos equipamentos do lado do consumidor.
Um exemplo que descreve de forma
concreta este facto foi o que sucedeu numa
tempestade tropical no verão de 1978 numa
zona industrial Brasileira. Uma primeira
descarga atmosférica causou a fusão
instantânea dos materiais constituintes dos
equipamentos de protecção do PT de uma
pequena indústria de cerâmica e uma
segunda descarga danificou equipamentos
com valor estimado em 730 mil contos.
Assim, conclui-se que quanto mais
longe do gerador nos situarmos, maior é o
número de perturbações por unidade de
tempo e piores são as consequências
dessas mesmas perturbações.
Figura 2 – Cabos de Guarda
Na altura em que se efectuaram os projectos dos equipamentos deste tipo, houve muito
descuido na prevenção contra a poluição da rede. A forma de onda das correntes absorvidas por
este tipo de equipamentos é rica em harmónicos de alta-frequência e rapidamente começaram a
aparecer na rede os efeitos desta falta de linearidade.
A progressiva substituição das fontes de alimentação lineares pelas FAC foi o principal
factor responsável pelo grande aumento do impacto nocivo na QEE. A alteração da natureza das
cargas é o factor que mais tem promovido o aparecimento dos problemas relacionados à QEE.
Nos dias de hoje a maioria das cargas eléctricas têm FAC’s, que utilizam na sua composição
electrónica de potência. As FAC’s apresentem inúmeras vantagens (alta eficiência, controlo mais
preciso de processos, baixo consumo, peso e tamanho reduzido, etc.) mas não são lineares, isto
é, a corrente que absorvem não é sinusoidal. Este factor faz com que, ao mesmo tempo que
causam perturbações nas ondas de corrente e de tensão, são também as maiores vítimas da
falta de QEE, pois são muitos sensíveis a essas perturbações.
Actualmente a grande maioria dos problemas de qualidade de energia que afectam um
dado edifício/instalação têm como origem esse mesmo edifício/instalação.
Na Figura 3 são apresentadas algumas características de cargas não lineares. O efeito
introduzido por este tipo de cargas vai propagar-se, contribuindo para a degradação da tensão
da rede eléctrica, conforme ilustra a Figura 4.
Figura 4 – Degradação da tensão da rede causada pelas cargas não lineares [12]
• Defeitos na rede: Quando ocorre um defeito numa linha (curto-circuito), as correntes são
elevadíssimas o que provoca um abaixamento de tensão nas linhas mais próximas (a
linha com defeito é desligada pelos aparelhos de protecção) dando-se assim origem a
uma cava de tensão nos locais mais próximos do defeito com uma maior profundidade,
diminuindo quando se caminha para linhas mais distantes do defeito. Estas cavas de
tensão têm uma duração típica de algumas centenas de milissegundos.
Ptotal
Unidade Minutos
6.3. SOBRETENSÕES
As sobretensões, como o próprio nome indica, são aumentos da tensão que podem
atingir valores varias vezes superiores à tensão nominal, durante pequenos intervalos de tempo,
para frequências superiores à frequência nominal do sistema, ou podem ser de valor pouco
maior do que o valor nominal e durar mais tempo, de segundos a horas.
As sobretensões com duração até alguns milissegundos, com frequência superior à
fundamental, são definidas como sobretensões transitórias. As sobretensões à frequência
fundamental, com duração entre alguns milissegundos a alguns segundos, são definidas como
sobretensões temporárias (“swells”).
rotativas podem ter a vida útil reduzida. Um aumento de curta duração na tensão em alguns
relés pode resultar numa má operação, enquanto outros podem não ser afectados. Um "swell"
num banco de condensadores pode, frequentemente, causar danos no equipamento. As
variações rápidas da tensão associadas Às sobretensões também podem causar interferências e
erros no equipamento de processamento de dados.
f h = h × 50 ( Hz ) .
∑U h
2
THD =
h=2
Em cargas não lineares a corrente que circula não é sinusoidal (Figura 18).
que podem danificar por completo os condensadores e criar tensões harmónicas de amplitude
também elevada. Esta perturbação ganha ainda mais relevância, porque juntamente ao
aparecimento de cargas poluidoras aparecem cargas cada vez mais sensíveis à distorção
harmónica. Em muitos dos casos, as cargas que por um lado produzem distorção harmónica são
também as mais susceptíveis a danos causados por este tipo de perturbação de QE.
Dos equipamentos que geram harmónicos destacam-se: FAC’s, balastros electrónicos
para lâmpadas fluorescentes, UPS, accionamentos de velocidade variável, etc.
Por outro lado, a monitorização permite também estabelecer uma ponte de ligação entre
as exigências dos consumidores e o cumprimento ou não da normalização vigente por parte dos
produtores/distribuidores, funcionando como uma “arma” de defesa e de ataque para ambas as
partes. A informação sobre a qualidade da energia, dada pela monitorização, reveste-se ainda
de uma importância estratégica para as companhias eléctricas na procura de uma melhor
posição de mercado, onde a lei da competitividade exige níveis elevados de qualidade.
• Flexibilidade: esta é também uma característica importante, pois quanto maior for o
número de tarefas que o mesmo instrumento conseguir integrar, menor será o número
de aparelhos necessários;
• Custo: constatou-se que o preço destes equipamentos é bastante elevado, não
acessível à grande parte dos consumidores. Isto leva a que, muitas vezes, quando se
necessita de um instrumento de monitorização, o problema já aconteceu. Uma solução
será possuir vários equipamentos de preço mais baixo acoplados à instalação,
monitorizando os processos produtivos vitais, tendo um controlo mais apertado sobre a
ocorrência de perturbações.
Aquando da escolha dum equipamento desta natureza, para além destas características
mais gerais, devemos também procurar satisfazer os seguintes requisitos específicos:
• Capacidade de medir correntes;
• Número de entradas de tensão e de corrente;
• Isolamento entre inputs;
• Gama de tensão suportada;
• Especificações de temperatura suportada;
• Especificações das suas dimensões;
• Software de análise respectivo;
• Documentação adequada.
De notar que estes estudos apresentam valores distintos para os custos, tendo no
entanto algo em comum: os custos devidos à não Qualidade da Energia são bastante elevados.
Deste modo, surge a seguinte questão: Quanto dinheiro deve ser investido em prevenção para
compensar o risco de falhas? A resposta a esta questão depende da natureza dos negócios. O
primeiro passo é entender a natureza dos problemas e avaliar como cada um deles afecta a
actividade empresarial e que perdas poderão daí resultar.
9. PANORAMA EM PORTUGAL
9.1. ORIGEM DOS INCIDENTES (PERTURBAÇÕES) EM 2000
Em 2000 ocorreram 369 incidentes cujos efeitos se fizeram sentir na RNT.
Dos 369 incidentes com repercussões na RNT, 346 tiveram origem interna à RNT (+
6.8% em relação ao ano anterior), tanto no sistema primário (301 incidentes) como nos sistemas
auxiliares (45 incidentes) e 23 tiveram origem em sistemas exteriores à RNT, correspondendo a
cerca de 6,2% do total.
Dos 369 incidentes com repercussões na RNT, 346 tiveram origem interna à RNT (+
6.8% em relação ao ano anterior), tanto no sistema primário (301 incidentes) como nos sistemas
auxiliares (45 incidentes) e 23 tiveram origem em sistemas exteriores à RNT, correspondendo a
cerca de 6,2% do total (Fig. 22).
Tabela 6 – Níveis de harmónicos em percentagem da tensão nominal, em pontos de medida a 400kV [2]
Tabela 7 – Níveis de flutuações de tensão em pontos de Tabela 8 – Níveis de flutuações de tensão em pontos de
medida a 150kV. [2] medida a 400kV. [2]
Tabela 11 – Desvios máximos de frequência nos pontos de medida a 400, 220 e 150 kV. [2]
10. CONCLUSÃO
A qualidade de energia tem sofrido uma autêntica revolução um pouco por todo o
mundo, respondendo às rápidas mudanças políticas, regulatórias e às crescentes inovações
tecnológicas. Actualmente, muitos dos novos contratos de fornecimento de energia eléctrica
prevêem já a garantia de um fornecimento fiável de energia de alta qualidade. Para trás ficaram
tempos onde os grandes monopólios do sector eléctrico forneciam energia eléctrica sem
quaisquer preocupações de qualidade. Da mesma forma, as companhias de
distribuição/comercialização, já não estão totalmente ilibadas de eventuais problemas desta
natureza que possam afectar o sistema produtivo dos seus clientes, prevendo-se mesmo que
num futuro próximo as disputas entre fornecedores e clientes venham a terminar em litígios
judiciais. Outro reflexo das novas realidades do mercado é a crescente agitação na indústria de
serviços de qualidade de energia. Empresas especializadas na monitorização e diagnóstico, e
fabricantes de equipamentos capazes de mitigar estes problemas têm vindo a proliferar e a
exercerem pressão no sentido de demonstrarem a elevada performance económica na opção
pelos seus serviços e produtos.
Como conclusões finais refere-se que, para assegurar uma boa qualidade de energia é
necessário conjugar os mais variados factores, começando pela existência de uma forte
regulamentação, passando pela necessidade de um projecto global consistente, pela
contribuição essencial dos produtores e distribuidores, pelas frequentes acções de monitorização
e de manutenção, pela participação activa e positiva dos fabricantes de equipamentos e
finalmente pela não menos importante acção dos consumidores.
Emissão (electromagnética) – processo pelo qual uma fonte fornece energia electromagnética
ao exterior.
Energia não fornecida (ENF) – valor estimado da energia não fornecida nos pontos de entrega,
devido a interrupções de fornecimento.
Equipamento de Protecção (vulgo protecção) - equipamento que incorpora, entre outras, uma
ou mais funções de protecção.
Exploração – conjunto das actividades necessárias ao funcionamento de uma instalação
eléctrica, incluindo as manobras, o comando, o controlo, a manutenção, bem como os trabalhos
eléctricos e os não eléctricos.
Flutuação de tensão – série de variações da tensão ou variação cíclica da envolvente de uma
tensão.
Fornecimento de energia eléctrica - venda de energia eléctrica a qualquer entidade que é
cliente do distribuidor e concessionária da RNT.
Frequência da tensão de alimentação (f) – taxa de repetição da onda fundamental da tensão
de alimentação, medida durante um dado intervalo de tempo (em regra 1 segundo).
Frequência média de interrupções do sistema (SAIFI – System Average Interruption
Frequency Index) – quociente do número total de interrupções nos pontos de entrega, durante
determinado período, pelo número total dos pontos de entrega, nesse mesmo período.
Imunidade (a uma perturbação) – aptidão dum dispositivo, dum aparelho ou dum sistema para
funcionar sem degradação na presença duma perturbação electromagnética.
Incidente - qualquer anomalia na rede eléctrica, com origem no sistema de potência ou não, que
requeira ou cause a abertura automática de disjuntores.
Indisponibilidade – situação em que um determinado elemento, como um grupo, uma linha, um
transformador, um painel, um barramento ou um aparelho, não se encontra apto a responder em
exploração às solicitações de acordo com as suas características técnicas e parâmetros
considerados válidos.
Instalação (eléctrica) – conjunto dos equipamentos eléctricos utilizados na Produção, no
Transporte, na Conversão, na Distribuição e na Utilização da energia eléctrica, incluindo as
fontes de energia, como as baterias, os condensadores e todas as outras fontes de
armazenamento de energia eléctrica.
Interrupção acidental - interrupção do fornecimento ou da entrega de energia eléctrica
provocada por defeitos permanentes ou transitórios, na maior parte das vezes ligados a
acontecimentos externos, a avarias ou a interferências.
Interrupção breve – interrupção acidental com um tempo igual ou inferior a 3 minutos.
Interrupção do fornecimento ou da entrega – situação em que o valor eficaz da tensão de
alimentação no ponto de entrega é inferior a 1% da tensão declarada Uc, em pelo menos uma
das fases, dando origem, a cortes de consumo nos clientes.
Interrupção forçada – saída de serviço não planeada de um circuito, correspondente à remoção
automática ou de emergência de um circuito (abertura de disjuntor).
Interrupção longa - interrupção acidental com um tempo superior a 3 min.
Interrupção permanecente – interrupção de tempo superior ou igual a um minuto.
Interrupção prevista - interrupção do fornecimento ou da entrega que ocorre quando os clientes
são informados com antecedência, para permitir a execução de trabalhos programados na rede.
Rede Nacional de Transporte (RNT) - Compreende a rede de muito alta tensão, rede de
interligação, instalações do Gestor do Sistema e os bens e direitos conexos.
Severidade da tremulação - intensidade do desconforto provocado pela tremulação definida
pelo método de medição UIE-CEI da tremulação e avaliada segundo os seguintes valores:
• severidade de curta duração (Pst) medida num período de 10 min;
• severidade de longa duração (Plt) calculada sobre uma sequência de 12 valores de
Pst relativos a um intervalo de duas horas, segundo a expressão:
Sobretensão temporária à frequência industrial - Sobretensão ocorrendo num dado local com
uma duração relativamente longa.
Sobretensão transitória - Sobretensão, oscilatória ou não, de curta duração, em geral
fortemente amortecida e com uma duração máxima de alguns milisegundos.
Subestação – posto destinado a algum dos seguintes fins:
• Transformação da corrente eléctrica por um ou mais transformadores estáticos, cujo
secundário é de alta tensão;
• Compensação do factor de potência por compensadores síncronos ou condensadores,
em alta tensão.
Tempo de interrupção equivalente (TIE) - quociente entre a energia não fornecida (ENF) num
dado período e a potência média do diagrama de cargas nesse período, calculada a partir da
energia total fornecida e não fornecida no mesmo período.
Tempo médio das interrupções do sistema (SAIDI – System Average Interruption Duration
Index) – quociente da soma dos tempos das interrupções nos pontos de entrega, durante
determinado período, pelo número total dos pontos de entrega, nesse mesmo período.
Tensão de alimentação - valor eficaz da tensão entre fases presente num dado momento no
ponto de entrega, medido num dado intervalo de tempo.
Tensão de alimentação declarada (Uc) - tensão nominal Un entre fases da rede, salvo se, por
acordo entre o fornecedor e o cliente, a tensão de alimentação aplicada no ponto de entrega
diferir da tensão nominal, caso em que essa tensão é a tensão de alimentação declarada.
Tensão harmónica - tensão sinusoidal cuja frequência é um múltiplo inteiro da frequência
fundamental da tensão de alimentação. As tensões harmónicas podem ser avaliadas:
• individualmente, segundo a sua amplitude relativa (Uh) em relação à fundamental (U1),
em que “h” representa a ordem da harmónica;
• globalmente, ou seja, pelo valor da distorção harmónica total (THD) calculado pela
expressão seguinte:
12. BIBLIOGRAFIA
[1] RQS – Regulamento da Qualidade de Serviço; Direcção-Geral da Energia; 2003.
[2] “Caracterização da Rede Nacional de Transporte para Efeitos de Aceso à Rede em 31 de
Dezembro de 2002 ”, REN Março 2003.
[3] Martins, António Gomes; Jorge, Humberto; “Introdução à Utilização Racional de Energia
Eléctrica”, 1993
[4] Couto, Daniel; Vaz, Luís; Pinto, Paulo; “IMPRE – Instrumentação para Monitorização de
Perturbações na Rede Eléctrica”, 2002.
[5] Ferreira, Nuno; Vilar, Nuno; “GD – Geração Distribuída”, 2003.
[6] www.cda.org.uk, 2004, Cooper Development Association.
[7] www.edp.pt, 2004 EDP.
[8] www.mge.com.br, 2004, Medição e Gerenciamento de Energia Eléctrica.
[9] www.dge.pt, 2004, DGE – Direcção Geral de Energia.
[10] www.erse.pt, 2004, Entidade Reguladora dos Serviços Eléctricos.
[11] www.iec.ch, 2004, International Electrotechnical Commission.
[12] www.schneider-electric.com, “Cahier technique n° 199- La qualité de l’énergie électrique”,
2004, Schneider-Electric.
[13] www.lpqi.com, “Guia de Aplicação de Qualidade de Energia”, LPQI, Leonardo Power Quality
Initiative, 2004.
[14] www.saskpower.com, 2004.
[15] www.ada.eng.br, ADA Engenharia, 2004.
[16] www.engecomp.com.br, Engecomp Tecnologia em Automação e Controle, Ltda, “Qualidade
de Energia – Causas, Efeitos e Soluções”, Edgard Franco, 2004.
[17] “Qualidade de Serviço – Relatório Síntese 2000”, REN 2000.