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23/03/2021 LGPD como insumo: do compliance ao aproveitamento de créditos de PIS e COFINS | JOTA Info

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REGULAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS

LGPD como insumo: do compliance ao aproveitamento


de créditos de PIS e COFINS
Os gastos com adequação à LGPD podem gerar créditos de PIS e COFINS?

LUIZA LEITE
GUILHERME CHAMBARELLI

23/03/2021 07:10

Crédito: Pixabay

Desde a sua entrada em vigor, em setembro de 2020, a Lei Geral de Proteção de


Dados (LGPD) vem impondo uma série de requisitos às empresas, o que demanda
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trouxe consigo o dever de segurança, ética e responsabilidade, quando se trata de


dados pessoais, vem provocando a necessidade de adequação não apenas do setor
jurídico ou do “TI”, mas da empresa como um todo, uma vez que toda a estrutura da
instituição deve seguir as regras e princípios de proteção de dados.

Ocorre que, a LGPD, que no primeiro momento estava sendo encarada apenas como
uma obrigação regulatória, foi além disso. Tornando-se essencial nas rotinas
operacionais das empresas, tanto do ponto de vista estratégico como do comercial.

Isso pois, considerando que a LGPD estabeleceu a possibilidade de


responsabilização solidária (art. 42 a 45) entre operador e controlador, as
corporações que já estão adequadas à normativa – ou que estão caminhando para
isso – buscam parceiros comerciais com o mesmo nível de maturidade em
proteção de dados. Com isso, o processo de compliance torna-se um diferencial
competitivo na indústria e a LGPD estabelece um efeito cascata, em que empresas
non-compliant serão marginalizadas e perderão espaço para aquelas que já se
adiantaram no processo de adequação.

Essa conformidade também permite às empresas adentrarem na concorrência


global e em mercados internacionais mais exigentes com questões relativas à
privacidade e proteção de dados, como o europeu[1].

Além disso, existe o potencial passivo com proteção de dados nas empresas,
advindo das responsabilizações administrativas (arts. 52 a 54) e cíveis (arts. 42 a
45). Estas decorrentes da não adequação com a LGPD. Neste ponto, há de se citar,
por exemplo, a multa de até R$ 50 milhões, a suspensão do direto de tratar dados e
as indenizações por danos morais e materiais. Fatores estes que demonstram ainda
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Contudo, embora existam diversas razões para que as instituições estabeleçam


seus programas de adequação, os custos para isso são elevados. No Brasil, estes
podem alcançar uma média de R$ 700 mil ao ano, em empresas de médio porte,
considerando-se o salário do DPO ( gura encarregada pelo tratamento de dados na
empresa), a assinatura de softwares e time de privacidade. [2] Nas empresas de
menor porte, o investimento anual pode atingir cerca de R$ 300 mil, considerando o
salário de um DPO ou a contratação de uma empresa terceirizada que cumprirá com
as obrigações estabelecidas na lei.[3]

Sem dúvidas, são gastos relevantes e que podem impactar diretamente a saúde
nanceira das empresas. Por outro lado, analisando esses custos de maneira
mais estratégica, é possível identi car alguns efeitos colaterais que podem gerar
oportunidades positivas para as empresas.

Isso porque as premissas acima apresentadas nos levam à re exão acerca da


essencialidade e relevância dos gastos com tratamento de dados pessoais e com
compliance à LGPD. Ou mais do que isso, se esses gastos são, na verdade, uma
imposição do legislador, sem os quais as empresas podem sofrer sanções
administrativas, de modo que estariam dentro dos critérios de insumos para ns de
creditamento do PIS e da COFINS, na sistemática de apuração não cumulativa
dessas contribuições.

Para entender essa discussão, é necessário voltar um pouco no tempo. No


julgamento do REsp n° 1.221.170, o Superior Tribunal de Justiça – STJ reconheceu a
ilegalidade das Instruções Normativas nºs 247/2002 e 404/2004 da Receita Federal
do Brasil – RFB, que anteriormente de niam que os insumos de PIS/COFINS
deveriam ser reconhecidos nos mesmos moldes da legislação do IPI, portanto, um
critério muito restritivo.

Nesse contexto, o STJ de niu que o conceito de insumo deve ser aferido à luz dos
critérios de essencialidade ou relevância, ou seja, considerando-se a
imprescindibilidade ou a importância de determinado item – bem ou serviço – para
o desenvolvimento da atividade econômica desempenhada pelo contribuinte.

Com base na tese adotada pelo STJ, a Receita Federal publicou o Parecer Normativo
COSIT nº 5/2018, onde buscou trazer sua interpretação sobre o julgado e expôs,
entre outros pontos, que critério da relevância é identi cável no item cuja nalidade,
embora não indispensável à elaboração do próprio produto ou à prestação do
serviço, integre o processo de produção, seja pelas singularidades de cada cadeia
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Há diversos casos em que a própria Receita Federal


já reconheceu a possibilidade de créditos de PIS e
COFINS com gastos decorrentes de imposição
legislativa.

O exemplo mais conhecido talvez seja em relação aos gastos com equipamentos de
proteção individual (EPIs), em que há entendimento da RFB em sentido favorável ao
contribuinte quando esses integram o processo de produção de bens ou de
[4]
execução do serviço por imposição legal , como é o caso dos prestadores de
serviços de limpeza, conservação e manutenção.

Além disso, na Solução de Consulta DISIT/SRRF07 nº 7.081/2020, concluiu-se que o


gasto com vale-transporte fornecido pela pessoa jurídica a seus funcionários que
trabalham diretamente na produção de bens ou na prestação de serviços pode ser
considerado insumo, por ser despesa decorrente de imposição legal.

Em linha semelhante, recentemente, foi publicada a Solução de Consulta COSIT nº


1/2021, onde entendeu-se que as despesas com tratamento de e uentes para
pessoas jurídicas dedicadas às atividades de curtimento e a outras preparações de
couro seriam passíveis de créditos de PIS e COFINS não cumulativos, tendo em vista
que esses gastos têm o intuito de mitigar danos ambientais e, com isso, afastar
multas e sanções administrativas que seriam aplicáveis no caso de
descumprimento das normas ambientais.

Veja-se, portanto, que a Receita Federal reconheceu que os gastos do contribuinte


com itens que, uma vez suprimidos, poderiam causar danos à coletividade e,
sobretudo, gerar sanções à empresa, devem ser entendidos como insumos para ns
de créditos de PIS/COFINS não cumulativo.

Com esses conceitos em mente e retornando para a temática da proteção de dados


pessoais, nota-se que o mesmo raciocínio é totalmente aplicável aos gastos de
adequação à LGPD.

Do mesmo modo que no exemplo anterior, o não atendimento das empresas à LGDP
expõe potenciais danos aos titulares como o vazamento de dados pessoais e o
tratamento indevido desses, para além disso, é também passível de sanções
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Dito isso, é importante ressaltar que, a m de resguardar o titular desses potenciais


dados, o legislador estabeleceu os direitos dos titulares (art. 17 a 22), que devem ser
respondidos imediatamente ou em até quinze dias. Ocorre que, para o cumprimento
desses prazos legais, as empresas devem estabelecer processos de busca, de
classi cação dos dados e de respostas. Estes que, quando manuais, geram o custo
com a hora/homem envolvida no atendimento de cada solicitação (em média R$
7.000 por solicitação)[5] e, quando automatizados, com a contratação de
plataformas (em média R$ 200 mil por ano)[6].

Da mesma forma, em se tratando dos vazamentos de dados e ataques aos


sistemas, a gestão dos riscos de incidentes de segurança da informação necessita
da implementação de uma série de protocolos, tecnologias e sistemas de
identi cação das falhas. Consequentemente, evitar multas, como a de R$ 6,6
milhões no caso do vazamento de dados de ao menos 443.000 usuários brasileiros
do Facebook em 2019[7], implica em um alto investimento no compliance com a
proteção de dados pessoais.

Também não se pode deixar de mencionar o custo com o DPO, cargo este criado e
imposto pelo legislador às empresas que tratem dados. Neste caso, somente foi
exibilizada a forma de contratação da atividade, que pode ser por terceirização (art.
41), mas é eminente a sua obrigatoriedade.

Em outras palavras, são expressivos os investimentos que as empresas devem


realizar para atender às exigências da LGPD e, quem assim não zer, certamente
provocará danos à coletividade e experimentará severas sanções, isso sem falar
de todo o prejuízo comercial e na imagem da companhia.

Assim sendo, tudo isso nos leva a crer que os gastos das empresas com a
adequação à LGPD vão muito além do critério da essencialidade e relevância, tendo
em vista se tratar de obrigação legal e que, caso a Receita Federal mantenha o
racional adotado em outros casos, devem gerar créditos de PIS e COFINS, por se
enquadrarem no conceito de insumos.

O episódio 53 do podcast Sem Precedentes discute ações sobre a Lei de Segurança


Nacional, que tem sido usada em inquéritos contra críticos de Bolsonaro. Ouça:

Sem Precedentes, ep 53: Supremo se prepara para derrubar Lei de Segur…


Segur…

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[1] Disponível em: https://www.migalhas.com.br/depeso/304059/transformando-desa os-em-


oportunidades–porque-a-lgpd-e-sua-empresa-podem-ser-a-combinacao-perfeita

[2] Disponível em: https://www.gedai.com.br/o-custo-da-protecao-de-dados-conhecendo-a-

gdpr-e-a-lgpd-na-pratica/

[3] Idem.

[4] Solução de Consulta COSIT nº 32/2020.

[5] Disponível em: https://www.itproportal.com/features/preparing-for-the-upcoming-subject-

access-requests-pandemic/

[6] Disponível em: https://www.onetrust.com/enterprise-pricing/

[7] Disponível em: https://brasil.elpais.com/tecnologia/2019-12-30/brasil-multa-facebook-em-66-

milhoes-de-reais-pelo-vazamento-de-dados-no-caso-cambridge-analytica.html

LUIZA LEITE – Advogada. CEO da Dados Legais. Sócia no BGL Advogados. Pesquisadora em regulação e
novas tecnologias pelo LETACI/UFRJ. Professora nos cursos de Pós-Graduação da FGV.
GUILHERME CHAMBARELLI – Sócio do Chambarelli Advogados. Diretor da TaxLab University. Pós-
graduado em Direito Tributário pela Fundação Getúlio Vargas

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