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DESTAQUE EDITORIAL

A EDUCAÇÃO DO DEFICIENTE ção; livros e artigos de revistas, especializadas


NO BRASIL: DOS PRIMÓRDIOS ou não, e recorre às fontes primárias de docu-
mentação sobre o tema específico sempre que
AO INÍCIO DO SÉCUL
SÉCULOO XXI possível. Vale-se ainda de fontes secundárias,
derivadas da História da Educação e da Histó-
Gilberta de Martino Jannuzzi ria Geral e do Brasil, para tecer os ambientes
em que se desenrolam as ações e se forjam as
Campinas: Autores Associados, 2004, 243p.
posturas sobre os deficientes, possibilitando
(Col. Educação Contemporânea)
melhor entendê-las.
O livro está dividido em três capítulos
Este livro analisa como organizou-se a que discorrem sobre as diferentes fases do tra-
educação escolar dos alunos com limitações fí- tamento dado à educação dos deficientes numa
sicas, fisiológicas ou intelectuais no Brasil, abran- perspectiva cronológica. O primeiro, situa a
gendo desde os seus primórdios, no século questão desde o início da colonização portu-
XVI, até os dias atuais. guesa até os primórdios do século XX, perío-
Fundamenta-se no fato de que o modo do em que o país começou a industrializar-se.
de pensar e de agir com o diferente depende O segundo capítulo avança até a década de
da organização social em seu conjunto, consi- 1970, quando foi instituído o primeiro órgão
derada a sua base material, ou seja, o modo responsável pela formulação da política de edu-
como a produção é organizada e tem a ver com cação especial: o Centro Nacional de Educação
as descobertas das diversas ciências, com as Especial. O terceiro capítulo debruça-se sobre
crenças e as ideologias. Leva também em con- os acontecimentos das três últimas décadas do
ta o modo como a diferença é apreendida pe- século e sobre as idéias que circularam no pe-
los sujeitos em diferentes tempos e lugares, ríodo, procurando chegar aos dias atuais.
repercutindo na construção de sua própria O leitor dá-se conta de que na época
identidade. A especificidade da educação espe- emque o Brasil era caracterizado como uma
cial procura, pois, ser entendida com base nos sociedade rural e desescolarizada, silenciava-se
condicionantes materiais e culturais da organi- sobre o deficiente e escondia-se aqueles cuja
zação social brasileira, que integra um mundo presença mais causava desconforto. À medida
cada vez mais globalizado, bem como do con- que a educação primária ganha impulso, as pri-
texto da educação regular, sendo que a autora meiras iniciativas também são tomadas para
intenta não apenas registrar os acontecimentos atender aos deficientes. Posteriormente a de-
do período mas refletir sobre as idéias que os fesa da sua educação torna-se conveniente do
animam. ponto de vista econômico, porque evita despe-
O trabalho utiliza como fontes de consul- sas com outras formas de atendimento institu-
ta documentos governamentais, em especial os cionalizado, como os manicômios, asilos e pe-
de âmbito nacional, que fornecem orientações nitenciárias. Passa-se então a propugnar que as
gerais para as diferentes esferas administrativas; pessoas portadoras de deficiência sejam incor-
estudos produzidos nos cursos de pós-gradua- poradas ao trabalho produtivo.

Cadernos de Pesquisa, v. 35, n.


v. 35, n. 124,
124, jan./abr.
p. 255-256,
2005jan./abr. 2005 255
Destaque editorial

Contudo, como lembra Pedro Goergen gregação de parcelas da população com com-
na introdução que faz ao livro, a própria es- portamentos dissonantes em relação às ex-
cola, com base em critérios pouco definidos pectativas dominantes na sociedade. A relação
de normalidade que não se sustentam do entre a sociedade e a educação do deficiente
ponto de vista científico, incumbe-se de sele- ao longo das vicissitudes da história brasileira
cionar os “anormais”, carreando expectativas constitui assim o foco principal deste trabalho
sociais que servem para estigmatizá-los. A de- que se reveste de especial importância não só
finição da anormalidade, para a qual a escola pelo cuidado com que busca reconstruir seu
concorre de maneira significativa, está profun- objeto específico de análise, mas também pela
damente condicionada pelas conveniências da grande escassez de obras que se ocupem do
“normalidade” e configura um processo de se- tema.

256 Cadernos de Pesquisa, v. 35, n. 124, jan./abr. 2005

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