Você está na página 1de 184

PIERRE DUFOYER

 INTIMIDADE
CONJUGAL

O LIVRO DA ESPOSA

TRADUÇÃO DE M. PEREIRA DE CARVALHO

Reformatado by:

http://alexandriacatolica.blogspot.com.br

CASA DO CASTELO- EDlTORA


COIIv\BRA -1948
--------------
--- --- ------�--�-

Composto
. e impresso nas oficinas da c Gráfica de Coimbra a
Bairro 4e S. José,· 2 -COIMBRA
Prefácio

S TE l h ro destina-se âs noivas que estão enz


E
,

'Vésp eras de casanzento. As outras devem


renunciar à sua leitura. Longe de llzes ser
útil, ser-lhes-á prejudicial.Colhendo prenzatu­
ra1nente unz fruto, perdenzos-lhe o sabor e o
p ro veito.
·

Escrito para noivas que -vão casar enz breve,


te1n por finz indicar-lhes o 1nodo de encetar e
viver a vida conjuga l de nzaneira a sere nz bem
sucedidas, a encontrarenz nela a felicidade que
espera1n, a liare1n ao seu 1na rido a alegria e
plenitude que- busca, realizando assin� conzple­
támente os fin:s providenciais assinalatlos por
Deus ao matrinzónio. .Afuitas raparigas, por
iEnorância tla psicologia nzasculina, contpro­
meterant, logo desde o início, o bont êxito da
vida conJ·u�al. O presente livro tenz por fim
6
A brtimid�de Co1�jugal

·�;·za-las
. l'uCiir
a .11 b a essfs frros e evitar
aux1
o8
·

escolhos. .
alve
Dirige-se ta1nbént às recenz-casadas. T
os s e on t:em na s
mesmo esp os a s mais id � nc
=
ter
. u
leitura algun� pr vet . E u
o o !
q e n ao ba
sta

inicia do a vida C01t}ug_a para ternzos garan,_


l

tido zro. O c asam ento


êxito durado
unz
. tem
belas prinzícias, a ntazor !arte das vezes. Mas,
dez anos, c i11. co anos nzazs tarde, quantos lares
se tornaram insulsos, se �egradaram e desfi­
e
zeranz interiorntente, se que não se
desa­
gregaranz abertan'len e, ela : � sepg-ração ou
pelo
divórcio ! A pernzanencza do lar õ
p e
anzor no

tt11z verdadeiro prob!enta. Este lh.Jro pretendt


ajudar a resof�,ê-lo. Desejaria ensina r como
se pode prosseguirfeliznzenie a vidá conjugal;
às raparigas que ben1- a iniciaranz. As qu�·
tenhanz cometido qualquer erro, desejariq insi­
nár-lhes a corrigir a nzarcha e a re to ma � a
boa direcção do .lar unido e feliz.
Va-,nos linzitar-nos a estudar aqui os pro­
b/e�as co1zjug;ais do nzatriniónio, os que são
pos�os pela intiínidade dos esposos e1n ordem
à ple�a e 111;.útua realização l1u1nari'a e cristã.
·Nál:! esqzteceren'ZOfi tambénz q·ue o 1natri1nóni,o
O Livro da 'Esposa 7

tenz zan outro finz, alénz dessa realização : pro­


criar e educar os filhos. A t é
ducação dunta
inzportância extren-za, . tanto social como reli-
,giosa. Pô-lo-ão ent evidência diversas passagens
·deste livro. Deixaremos de parte, deliberada­
nrenl
; e, o estudo àprofundado das questões sus­
citadas pPla natalidade no lar e pela educação
dos filhos. Outros volu1nes desta colecção st
ocuparão desses capítulos.
Aqui falarenzos conz toda a franqueza dos
problenzas conjugais, 11tuito particularmente
dos que dizent respeito à intimidade carnal
dos esposos. Não pore1nos de parte ensina­
nzento algu1n, necessário ou útil. A taneira
n

de expor, todavia, será discr'!ia, pois sabe1nos


que a delica dez a da linguagent não deixa de
t�r i1zjluência na qualidade dos sentimentos.
Uma li1zguagenz brutal feriria Uma lingua--
ge1n pura, clqra e leal, será benz acolhida.
.

Tornava-se necessário que uma pena cristã


abordasse conz clareza estes problemas. Negá­
_... Jos, -desconhecer-lhes os dados, calá-los, não é
boa, maneira de os resolve1�. Do silêncio, nas­

(em �não raro erros e iné cias, nocivos à feli­


p
cidad.�/ dos lares,. e, por consequência; à sua
8 A Inlímidade Coujugal
----

ntoralidade. Dele rl'su/tant assinz, quase fatal­


mente, a ifYJt orância e ausência de {or11zac-
o , ao
. .
no donzínio da intinztdade C011Jttgal.
.

Conto chegarão os esposos, por exenz'Plo


o anz.or (a excepçâo du1

a espiritualizar

lhes
11a
elite 1'"etiuzida), nzostraranz
'

se nunca. St'

os nteios?
Va1·nos tratarestes .probletnas co1n toda a
franqttt!za, porque os estudánzos sob o olhar
de Deus. Foi Ele que quis e criou a dualidade
dos sexos, Ele que lhes estabeleceu as leis psi­
cológicas, os processos, as alegrias e a eficiên­
cia cria r/ora.
Falarenzos, portanto, dessas rtalidades, obra
do Criador, sent rigorisnz-o nenz puritanisnzo.
Não adop taremos, contudo, a atitude sin1plista
do naturalisntto ou tlos p ronzotores nzodernos do
anzor-livre.. Todo aquele que está ao facto da
vida e conhece a história sabe que o aceder
sent resistência a todos os inzpulsos do instinto
.não tem conzo resultado o engrandechnento do
ftome1n mas a sua di1ninuição: Jaz dele unt
tgoísta, de coração stco e duro. O instinto só
é grande e nobre quando disciplinado. Esta
constatação txptrintental mostra o bemfun-
O Livro da E.ç.(JOsa 9
------�--- ----
-------------�

dado dos t'Jtsinanzentos, sânzen.te co1nj reendi­


tlos, da nzoral cristâ.
E�·itarenzos com cuida do reduzir o cascinzento
� seus problenzas sànzqnte às questões sexuais.
l\lunu?rosos li�•ros, escritos nutitas vezes co;n

txcfleulfs inll'Jtções, consideranz a questão quase


txclusi�•anzente sob este ângulo ou pouco 1nais.
A sua inzportância na. vida intinza dos esposos
é incontcstá·z•el, 1nas Dttiros e!etnentos de ordent
txfra-sexual c particularnzente de ordem sen­
tinztnlal, tênz unz 'Va lo r pelo menos igual e

superior, se1n dúvida, para assegurar a feli­


cidatit dos lares. Por isso, insistire1nos unt
jouco sobrt? essoutros aspectos da vida con­
J·ugal.

Estt volunze, destinado apenas ao nzundo


j t1n inin o , é a dap tado â sua psicologia. Consi­ .

dera as n o ivas e as esp o sas tais C011ZO elas SãO,


co n z o seu temperámento fi5iológico, concepções,
;ropensões, e mostra-lhes o q�e Jazeren_z e c�nz�,
parq virem a ser bent sucetjzdas na �'tda Ja1J-tt­
liar. Não se dirige nenz aos noivos nent\ aos
esposos. Como não foi �scrito para eles, não lhes
I{) A Intimidade Conjttgal

conviria. A eles destina-se unz outro livro ( 1)


que tem ent co nta o que são, pensa1n e são leva­
dos a praticar. O casamento é encarado aqui
com unza ótica fem in ina e os conselhos nele
expressos, formulados em função da psicologia
feminina. Dirigindo-se a hontens, deveriânt
ter, sob certos aspectos, un� sentimento abso­
lutame11te diferente. As esposas podem ter a
certeza de que recordamos aos 11za ridos os seus
deveres , com tanta clareza corno o faze1n os
a elas.
O presente livro supõe, portan to, que a noiva
te1tlza feito zuna judiciosa escolha do noivo.
Não considerantos o problenza desta escolha.
t�ndo já sido publicados não pou cos volumes
sobi--e esta questão, pareceu-nos preferível tra­
tar um as su n to inteira1nente novo, inexplorado
até agora e onde os guias pruden tes, tão. úteis
e ;necessários,. fa!tavan� completamente. ]uj­

gâmo� assim p,restar unz serviço ma is _ jr9-


·veitoso.

...--..,....--

(r) Pierre Dufoyer, L'lnt'im.ité co·njugale. L1 /iw·1 ti�


ijJ(J.ux�
O Livro da Esposa :u

do au tor é u11z p seudóninto colectivo.


O nonze
Devenzos o texto à colaboração de nzédicos,
maridos, esposas e du11z nzoralista. Não há
u1n único capítulo cujo p en sanz en to ou estilo
sejant obra du nz nzesnzo a u tor. Ent cada ·tJt11'l,
por vezes até nas ca1,nbiantes de pensa1nento,
está ntarcado o contributo de todos Em caso
.

de divergência s entre os autores, quando se

tratava de questões filosóficas, psicológicas


ou 1-nora is , fo1nott a responsabilidade do texto
definitivo o 11zoralista. A su a escolha nenz
senzpre foi deterntinada por 1notivos de filo­
sofia pura, 111as, dado o ji11z prático da obra,
teve enz con ta a 1naneira hab itu al de encarar
as coisas e a necessidade de ser claro, para ser
compreendido. Quando, pelo contrário, se tra­
tava de qu es tõ es de anatonzia ou de psicologia
da sexualida de os po11�tos enz litígio foram
,

re solv idos por uuz 1n éd ico e a opinião dele é que

prevaleceu no texto.
O livro é, desta jor1na (assinz o esp eramo s)
o frúto feliz da ciência e da experiência. Uma
ú.nica anzbição norteou os c ola bora dores : con­
tribuir para a felicidade dos lares e para a
àscensão das al11tas.
PRIMEIRr\ PARTE

VISTAS DE S(NTESE

« MfJstre-se a un-idade profttntla,


a fleleza do casamento, ?Zào com
declamações poétlcas e sentlmen­
tals mas com uma análise rigorosa,
com uma vz"são exacta e deddida de
re�lü/ade humana e espiritual ».

(CHRISTIANJ
As riquezas do amor

c O amor l, por ess�ncia, ttnico, cons­


tante, ltulefectlvel. São os homen.s que o

traem
( Cti..t.RDONNE)
:t.

ARA corações de mulher, o amor é uma


P realidade maravilhosa. É a ele que aspi­
ram, mais ou menos conscientemente,
to das as raparigas, a partir dos primeiros
anos da s ua formação física. Sentem inten­
s amente a necessidade de amar e ser ama­
das. É a idade, para as melhores ou mais·
preservadas, das amizades ardentes com tal
.ou tal companheira de estudo, das dedica­
ções profundas e entusiastas a esta ou àquela
professora; para as mais expostas, é a idade
do convívio com os rapazes ; para todas, dos
sonhos sentimentais, das necessidades impre­
cisas, das impressões vivas de felicidade ou
de solidão dolorosa, da espectativa de não
I6 A Jutimitlad1 Co,jugal

sei quê de grande, de bel?, que de e torná­


:
-las pro digiosamente f e l i ze s . Sa1bam o u
igno rem o seu nome, é no Amo r que pen­
sam, é po r ele que estão esperand o .
1\Ias ei-las noivas. O amo r concreto nas­
ceu-lhes nos cora ções e ficam totalmente sob
0 encant o dele. O futuro não lhes oferece
dúvida alguma. Será feliz. Sentef!1-se segu­
ras daquele que escolheram. E grande,
belo , forte. Teriam outras falhado no seu
lar. Contam-se casos. . . Mas elas, apesar
de t u do, não hão-de falhar no seu. Têm a
convicção íntima disso. O seu am or irá
cr es cendo ; a sua união será deliciosa, envol­
vendo o marido em tanta ternura, tanto calor
de coração, e ele, em troca, será tão bom,
tão delicado, e sustê-las-á tão bem com a
sua força que a felicidade será durável.
((Amanhã, os doi s educaremos os nossos
,

filhos : serão gentis, inteligentes, d ó ce is . . .


e, ainda por cima, crianças encantadoras».
Tais os projectos e ossonhos de todas as
noivas... Como o amor é cheio de encantos!
Seria uma tolice velar de crep e tão belos
s on hos que são a alegria, o sol dos meses
O Livro da Esposa
I.J

de noivado. De modo nenhum maldire1nos


0 amor. Se não houver traição por parte
de qu alquer dos cônjuges, será mais belo
ainda na sua realidade concreta, embora
ligeiramente diferente do que se havia
sonh ado.
Mas para que seja esse belo e grande
amor que enche de sol a vida, é necessário,
em primeiro lugar, ter escolhido bem o com­
panheiro de viagem, não pela estatura, vigor
físico, ar forte e decidido ..., qualidades
superficiais, mas pelo seu valor profundo e
real, consciência, sentido do dever, coragem
no trabalho, delicadeza.
Em seguida, não devemos ficar numa
concepção um tanto romântica e irreal do
amor, mas duplicar a sua grande riqueza
sentimental nativa com uma visão clara da
inteligência e com uma firme decisão da
vonta de de amar sempre, aconteça o que
�contecer, p ara a�ém das decepções parciais,
os ine­
dos choques inevitáveis, dos sofriment
lutáveis, o esposo que tivermos escolh
ido.

Amar implica o s a b er perdoar e també


-
m
s"ofrer.
------ -----� -----------

O amor é grande e nobre, quando, vivido


na sua plenitude, permanece fiel às suas exi­
gências. Então, é u m dom total de si e um
apelo total de outrem.
Como dom total de si para tornar o ou t r o
feliz, aspira a devotar-se pl ena m e n te ao ser
a ma do, julga nulos os sacrifícios feitos pela
sua felicidade. A noi va é já felicíssima, - a o
pensar que· poderá animar, acarinhar, cercar
duma ternu r a sem r eser va s o amado da sua
alma. Não encara limitação alguma de tempo
ao seu .amor: é para sempre que se lhe entregao
Ao mesmo tempo que dom t o tal , o amor
é o apel o total de o u trem : a noiva é atraida
pela força e energia do noivo, conta com
ele para apoiar a- sua fragilidade ; d es e j a
dessedentar-se na sua ternura. Ser amada,.
não é uma das aspirações mais ardentes da
mulher? Tem necessidade do noivo para
derramar sobre ele o s tesouros de afecto
e de amor que tem dentro de si; é-lhe tão
;necessário que, sem ele, a vida tornar-se-ia
íqsípida, nunca seria feliz ....
· O amor não tolera qualquer limite, nem
à amplitude do dom nem à sua duração.
O Livro da Esposa I9

Todo o advérbio o trai. Diz


Eu amo-te » ' <(

simplesmente; teria consciência de se negar"


a si mesmo, se diss ess e «Eu amo-te agor a » .

«Amo-t e por algum t e m p o » ; afrouxaria,


dizendo: « ...l\mo-te tnuito »; só pode dizer:
t\.mo-te
« ... », envolvendo nesse laconismo,
to da a int en s ida de, toda a duração, e
n egand o O amor não prevê
a restrição.
o divórcio, e se há n oivo s que o prevêem,

ignoram o que é an1ar.


O amor é total e é porisso que exige a
intimidade dos corpos, dos corações e dos
espíritos : a vida e m comu1n. Sofre com as
reticências, com os segredo,s ciosamente
guardados, com as inquietações que passam
no olhar, c o m as rugas que se c av am na
fronte e que o noivo ou esposo se nega
a e xplicar, com os recantos de s om br a e

mistério r e ser vado s no coração; tudo quer


saber da vida anterior do b e m am ado e dos-

seus pen s amen t os presentes ; qu er ser o

único b em, exige a plenitude do coração,


receia tqdo o rival, aspira à posse total,
-_decisiva e definitiva, à unificação, à identi­
fica-ção éom o ser amado.
20 A Iutimidadc Çottjuga/
-

Tal é, no esplendor nativo, em toda a


espontanei dade, am r dos noivos.
r adi ante o o
E, c ont u d o , seria para desejar que esse
amor se não reduzisse unicamente ao sen­
timento expontãneo, por magnífico que sej a.
« A grande, a trágica ilusão das almas aman­
tes, é julgarem que a força e profundeza do
estado afectivo oferecem uma garantia da
sua duração» ( Klages ) Basta olhar à nossa
.

volta: quantos lares não começaram por


feliz e s noivados, na febre do amor, e depois
foran1 arrefecendo ! O amor, baseado üni­
came nte no sentimento, sofre essa lenta
usura que corrói todas as coisas humanas.
Se o amor se funda apenas na linha, na
esbelte z, na j uve �tude do noivo, no simples
encanto das suas qualidades físicas mas­
culinas, no atractivo e spontâne o que delas
resulta, com e las passará também.

Sem dúvida que são ne ce ssários essa


atracção e esse afecto se ntime ntal e ntre noi­
vos e e sp os o s De ve mos amar-nos, para vir­
.

mos a desposar-no·s .. Mas é necessário, arém


O Livro da Esposa 2I

disso , q ue este amor seja fundado na razão


e , para esse ef eito, ter escolhido o noivo
p e las suas qu a li da de s p ro fundas de cons­
ciência, de coragem no trabalho . . . q u e
duram mais do que a linha ou a cabeleira!
É preciso construir o a1nor sobre a von­
tade. Todas as esposas conhecem decep-_
ções. « Desposa-se um noivo e vive-se com
um marido .. Não é absolutamente o mesmo
homem>> ( Tinayre ). Para que a desilusão
sentimental o r ig inada por estas d ec epçõ es
não varra o amor, temos que estar decidi­
d a s a nutrir em nós uma afeição f o rt e,
tenaz, que perdoará, sofrerá com paciência
e fará os esforços de adaptação necessários.
Temos que fundar o a1nor sobre a Fé.
A f ide l idade de coração como de corpo, é
um verdadeiro dever de estado do qual

devemos dar contas a Deus. Somos todas


para o nosso esposo e para o nosso lar :
« Dora avante, não procurarei mais a quem
-

agradar mas sim agradar a quem esçolhi »


,

(-Alé:tin ).
Tudo isto é evidente para as noivas; tudo
isto l h es parece naturalíssimo. É o que
22 A Iutimidade Con.frtgal

consegue1n entrever no fogo do seu amor

nascente. Todavia, o dotn conj ugal não


será completo, não será amor segura1nente
durável, se a este ardor de sentitnentos não
vem juntar-se uma clara decisão da vontade;
deci s ão de não se deixar desconcertar pelas
borrascas e de amar fiehnente, através dos
sacrifícios possíveis e dos eventuais desen­
cantamentos. «Um amor não é verdadeira­
me n te grande e durável senão na medida
em que se nutre das próprias dores e decep­
ções semeadas no seu c aminho » (Thibon).
Eis o genu í n o grande Amor, aquele que a

noiva deve esforçar-se por manter e fazer


crescer d entro de si: amor quente do cora­
ção, amor claro da inteligência, amor forte
da ·vontade, amor- missão divina. Só ele
é o amor humano em toda a sua plenitude,
o amor perfeito.
Para que cante no lar
o amo r perfeito
« é a escolha, sempre mais
A. jiddidadt
li'ilre, dum amor stmpre mais forte:.,

(ZUNDEL)

,
este belo e grande Amor que a noiva
E deseja sentir vibrar para sempre no
seu peito. Que lar magnífico e, feliz
seria esse que sempre ouvisse o doce e
fiel romance de semelhante Amor ! Sem
dúvida algu�a, é o a1nor mais perfeito que
pode pulsar em corações humanos. Por
isso, vale a pena criar-lhe um meio, um
clima tão bem apropriado, que possa ver­
dadeiramente crescer, desabrochar., com­
prazer-se e permanecer, se possível, em
todos os lares.
Se examinarmos como os povos, no
decurso dos séculos, organizaran1 o qua-
A lt�tiutidade Conjugal

dro do casamento, cons tata1nos que só 0


catolicismo edificou o meio verdadeira­
mente favorável ao amor perfeit o.
Todos os povos pagão s, civilizados e
não civilizados, hoj e co m o ontem, açlmiti­
ram �· poligamia e o repú dio da esp osa.
Ora, que segurança pode· existir para uma
esposa sujeita a ser re pudiada e qu e intimi­
d ade pode r einar entre espos as e marido?
Nunca passará duma intimidade incompl eta�
diminuída não só física, ma?, o que é mais
im por ta nte sentimental e espiritualm ent e,
,

sobretudo par a a mulher ou mulheres que


não são a «favorita».
Na China por exemplo, a primeira mu lh er
é e continuará a ser a dona de casa. Sufi­
cientemente bem tratada pelo m ari do, a
maior _parte das vezes não é amada, porque,
segundo os usos, não pode ser o marido
ta escolhê-lha. Foram os pais que lha
escolheram. Ao contrário, amará muitas
vezes a s egun da mulher, a concubina, por-

que foi ele que pessoalmente a escolheu.


Todavia, a favorita nunca vem a. ser dona
de casa, papel que continua a per t e ncer à
O Livro da Esposa

..

pri m eira esposa. Esta últini.a tem portanto a


autóridade no lar, m as não o amor de seu
marido; a rival é amada , mas não tem a auto­
ridade. Que mulher, e ntr e nós, escolheria
este regime?
O quadro institucional do casamento poli­
gamico cria por si uma situação m;utilada e
d e inferioridade para a mulher. O casa­
m ento neste caso não é um dom mútuo
completo, uma intimidade total e exclusiva
dos dois seres. Um dos cônjuges é sacrifi­
cado ao outro, duma n1aneira notória.
É preciso chegar à regulamentação cristã
do casamento, para encontrarmos 6 meio
que favorece , por si, a inteira união, a per­
feita intimidade dos esposos. No casamento
monogâmico e indissolúvel, vivido segundo
o espírito que lhe inspira a norma, o esposo

e a esposa dão-se total e def-initivamente,

devotam··se um ao outro, orientam-se exclu­


sivamente um para o outro. Quem ·não vê
qu e este quadro e este clima são os únicos
que permitem a intimidade completa e total,
em pé de igualdade e re �i:procidade, sem
que um se torne subalte1fio :�? outro?
A Intimidade CfJtsjugal

-------
· a de
Mas {uonogan1ia e indissolubil1d
que cr· n""
ao
. . . . Iarn
passam de leis de quadro
meto tnstltuctona1 mats favorável
o

Per ..
. .

feito an1or (r). Não o realiza1n ips�of


a cto
ao conseguem criá-1 o
fac1.1.Itam-no. N,.,
.
, a
n ao
,

ve r dadeir tn
_

a ent
ser que os conJ uges vtva m
... · ·

s egu ndo o esp1r1 t o e


s 11et. s
que In spirou essa
, · ·

,
que· é o do atnor humano , o mais co rn
p e to
'

, . .
poss1vel. A m n g mia subhnha e f ,
o o a
a\i o ..
rece o exc 1usivtsmo abso 1uto do amo
. .

r qu
e
os conJuges devem ter um ao outr , a
... ·

o sua
1ntegr1.d a de sem Interrupção nem par
. .

tilh .
indica que o amor dos esposos deve a,
ser
tota 1 em 1ntens1'da d e. A Indissolubilid
.

essa significa que o amor deve ser tot


em duração.
ad
:;
O casamento monogâmico
indissolúvel e
é, pois, como instituição, o casamento do

(:r) catolicismo impõe


O não só o quadro mas o espí­
rito. Muitos c a s ai s cristãos podem de facto n ão os res­
São faltas d os homens, não faltas da institu�ção.
Nem por isso o quadro c at ólico deixa de ser o melhor, o
peitar.

mais apto a favorecer o am o r perfeito, enquanto o quadrct


pagão- ou o do amor livre que é um regresso �o pagão­
'favorece o. truncado, em detrimento da wulher,
am�r
so,bretudo.
O Lir.•ro da Esposa 2j

amor perfeito. Permite e favorece o mais


alto a1nor que o homem pode atingir.
Quando impuseram estas leis ao amor,
Cristo, e depois dEle o catolicis.mo, orien­
taranl a humanidade para o 1nelhor amor
e portanto, para a maior ventura no domí­
nio do amor, para o lar mais estável e

feliz (1).
A esposa con1preenderá, pois, tudo o que,
mulher, deve a Cristo e ao catolicismo; com­
preenderá tambén1 que o's preceitos em que
Ele envolve o amor não tendem a amesqui­
nhá-la, mas a torná-la mais bela e melhor
- , a
fazê-la v ivero grande Amor ao qual aspira
todo o coração de 1nulher ...

(1) É precisa, na verdade, toda a pobreza e « s u p er fi ­


cialidade� de pensamento dos defensores d o amor-livre
para ousar apresentar a sua filosofia do amor, dum amor
de eclipses ou de parceiros sucessivos, como uma fórmula
progressiva do amor. Este amor é um sentim e nt o em que
as notas pass i onais e carnais dominam, um amor livre em
que, como o disse muito bem Fõrster: «a liberdade acaba
sempre por matar o amor». Longe de marcar um pro­
gresso, m arc a um ,retrocesso.
O casamento perfeito

Non ta1ttum caro sed splritus unus crat.

«Eram um todo, ta1tto almas como corpos».

(Epitáfio de dois cônjuges cristãos)

UNHAJ:VIO S
P
d e parte as concepç õ es
não c ivil izadas ou civilizadas não cris­
tãs, para expormos a ideia cristã do
casamento. E não como se vive, em cada
caso particular, mas como era e é conside­
r ado , imposto e organizado pela religião
c atólica e como esta se esforça por fazê-lo

viver. Deixemos também as formas neo­


-pagãs propostas pelo amor livre, afim de
expormos o esplendor humano da concep­
ção cristã do casamento.

O casa m e nt o é a comunidade total de


vida de dois seres humanos, de s ex o d if e -
A JoÚmidade Co;�jugal

rente,comunidad e resultante dum livre


dom recíproco, feito por amor.

O casamento é a comunidade de vida


total: é uma união de carne, de espírito,
de ahna (totalidade de intensidade), até à
morte '(totalidade de duração).
União de carne: esta é um dos elementos
que distingue o amor da amizade. A ami­
zade é viável entre pessoas do mesmo sexo,
o amor não. A amizade é intimidade do
coração, de espírito e de alma; o amor
também, mas, além disso, é coabitação com­
pleta e contínua numa família, e é intimidade)
carnal. Consiste, portanto, numa amizade·\
mais íntima e total, porque se apodera de
todo o ser, físico e psíquico, e permite os
enriquecimentos particulares, inerentes à
sexualidade física.
União de coração: comporta todos os ele­
mentos se ntimentais e afectivos do am
or, os
que constituem essa doçura e em
briagues
o a lado, de
de se reverem, de viverem lad

do outro, de
sentirem alegria juntos um
.
O Livro da Esposa 31
-------

aderirem um ao outro, de s e completarem


um ao outro, de desabr charem um para oo
outro, de mútuamente se desejarem a feli­
cidade. E"'sta união de cora ç ão , duplicando
a união da carne, d istingue o a 1n or humano

do amor anünal, a esposa da cotnparsa oca ­


sional.
União de espírito: termos que englobam
todos os elen1entos intelectuais do amor:
o acordar das ·concepções, das ideias, dos
juizos, das maneiras de ver e de pensar.
Dizemos acordar numa troca amiO'ável e
b
amorosa e não o despotismo dum cônjuge
autoritário sobre um cônjuge diminuído ou
aniquilado (I). Esta união de espírito, junta.

(r)Não vamos consagrar um capítulo especial à auto­


ridade masculina no lar. Que significa a asserção: o m arid o
é • chefe do lar? Não imp li c a nele superioridade algum a
lle natureza. Não há entre homem e mulher um grau dife­
ógicas
rente de humanidade mas somente diferenças fisiol
e psicológicas numa mesma humanida
de. O homem e a

••lher são diferentes, não de s iguais


; complementares, nio
no lar, como
subordinados' como pessoas humanas. Mas,.
ndade. O tem-
em toda a sociedade, tem de haver uma auto
itual e natur almente
peramento psicológico masculino é hab
IDiids apto e mais inclinado a e x er

cer essa autor1 ade, o
.

temperameDto feminino ma!s espont�neamente d1sposto


A Intimidade Conjugal

à união de carne e de coração, distingue a


,
um novo título, o amor humano do am
or
animal, a esposa da mulher dum dia.
União de alma: entendam os por esta
toda as profundezas do ser, ta to
s n natu­
ral como sobrenatural, todos os elementos
tão profundamente enraizados na estrutura
íntima dos indivíduos que deixam de ser
claramente exprimíveis. É uma es p é c i e de
osmose, de aderência íntima, de consonân­
cia vivida, de intimidade supra-sensível, de
pertença um do outro. Up1 vive de tal
maneira no out r o que as suas alegrias tor-

a aceitá-la. É esta a r a z ão porque esta aut o rid ad e, indis­


pensável no lar, pertence, por sua natureza� ao marid·o.
De mais a mais, há ocasião para repartir judiciosamente
os sectores segun d o as aptidões d(_)S sexos. A autorid ade
masculina não tem o di rei t o de se transformar numa absor­
ção da personalidade feminina, numa d omin aç ão despótica:
deve ser u ma firmeza amante e delic a da, exercendo-se,
via
É
sobretudo, por de conolusões, por tro c as de pontos de
vista em c om um. neste s entido que, segund o a sã razão,
como segundo o ensinamento cristão, o marido é o chefe
da mulher. É-o não por superioridade hu�ana, mas por
indicações psicológicas das suas disposições nativas e por
pecessidade
. duma autoridade fa m i liar, pois que a vida se
en car..-ega de· fazer as adaptações e rectificações nece$·
sárias.
O Livr,o da Esposa
33

-s
nam e as alegrias dele, os seus sucessos,
os sucessos d �le, como também os reve-
zes dum, os. revezes do outro, os peri o
g s
dum, os p e rig os do outro r
. Pe tencem um
ao outro; melhor: um é, de algum modo, 0
outro, suportando os dois. as m esmas pro­
a õ sofrendo os dois os mesmos lutos
v ç es, ,

fiéis semp re
, na dor como na alegria. E esta

união de alma, reforçando as outras, distin­


gue o esposo e a esposa do amante e da
amante. Estes últimos, mu itas vezes, são
fiéis, uni ca men te na prosperidade. De ordi­
nário, só os verdadeiros esposos permane­
cem unidos, mesmo nas provações.
União até à mort e : é o termo que mar c a
a totalidade da uni�o na duração. Ama­
ram-se sem r eserva ; irão lado a lado, atra­
vés das a leg r ias e das provações da v id a ,
através dos atritos, das desilusões, dos pos­
síveis choques, até ao declínio das forças,
�éompanheitos de ardor, na juventude, de
trabalho, na id a de madura, de solidão, na
velhice.
E esta união efectiva-se pelo livre do�
,.que um ao outro se fazem, dom inspirado
34 A Itilintidade Coujugal

no amor. Há reciprocidade no dom. Dan1o­


e a s materiais, forças
- no s com as noss as riqu z

físicas, recursos sentimentais, intelectuais,


humanos; damo-nos e recebemos tudo o
que o outro tem de riquezas s emelhantes ;
damo-nos para sermos felizes, por meio de
alguém e para tornar alguém feliz. O casa­
mento não é a pura posse de outren1; não
é a busca da nossa felicidade sàmente: isso
seria egoísmo; não é também s impl e s doa­
ção a outrem; é, e deve ser, «união», isto é,.
posse e doação, ao mesmo tempo. A liber­
dade do dom total que faze1nos de nós
e o amor que dita este dom total constituem
a grandeza do casamento, o seu esplendor
humano.

Não p o demos imaginar uma concepção


mais alta do casamento. É p r ecisamente
es sa que o c ri stia nis m o tentou inculcar
a

aos homens. No entanto, está bem longe


de ser realizada e vivida por to d os , na sua
perfeição. Muitas têm dela uma concepção
mais �goísta e mais comesinha. Algumas
Livro da Esposa
.
O 35
,

..

buscam no casamento a sua p r ó pria liber­


da d e e satisfação sentim ental, de preferência
à f e li ci d ade do esposo ; aspiram , sobretudo,
a ser rodeadas, aduladas e lisong eada s .

To davia quase sempre, têm o des ej o de


,

se dedicar ao marido e aos filhos. Dificil­


mente imaginamos uma r ap a riga de cora­
ção tão seco, tão egoísta e pouco feminino
que só pensasse em si mesma.
Dar-se totalmente, e para sempre, é viver
o casamento tal como Deus o quis. Se as

noivas têm esse amor e escolheram bem o


eleito do seu coração, hão-de fundar um lar
profunda e intensamente f eliz Nele distri­
.

buirão s em medida a alegria e a felicidade


e lá a en con tr ar ão também, por acréscimo.
O fim coniugal do casamento:
 plena e completa
rea lização mútua

« só carnalmente gue o homem e a


mullztr se comple t am , é, mttlto m ais ainda,
1Vão é

espiritualmente�· os doi.r tipos de pessoas têm


em relaç(io ttm ao outro posslbllidadas ztnicas

( VON HILDEBRAND)
de realizações».

D
ISSEMOS o que era o casamento.
Expunhamos agora os seus fins, o que
a Providência quis atingir por meio
dele e, consequentemente, o que os esposos
devem procurar realizar.
Que Deus tenha querido assegurar a pro­
creaçã9 e a educação dos filhos pela união
do homem e da mulher, pela constituição
física que deu aos seus corpos, pelo psi­
quismo instintivo e sentimental de que
os dotou, e particularmente pelo instinto
A Intimidade Conjugal

materno, é uma verdade de intuição que


n en h u m homem de bom senso p o d e pôr e1n
vi a. Fiéis ao nosso programa não tra­
dú d ,

taremos aqui d e s t e fim do matrimónio.


O outro fim considerado por Deus ao
criar a união do homem e da mulher e,
mais ou menos conscientemente, pro cura d o
po r eles quan do contraem o matrimónio é
,
a p len i tu de e realização mútua dos e sf o rç os .

Sem dúvida, alguns, mais e g o ís tas, são leva­


dos de prefer ên cia pelo proveito pessoal de
toda q. espécie que contam auferir do rnatri­
mónio ; to davia se o seu amot não é puro
,
egoísmo mas verdadeiro amor (e é-o sem­
pre a qualquer título), procurarão tam bé m
a felicidade e r eal i zaç ão plena do seu cô n­

juge_. E de direito, pois que esposo e esposa


sãifiguais em humanidade (am b o s são pes-
-soas humanas da m esm a natureza essencial);
é o bem harmónico de ambos e não o bem dun1
e.m d etri m e nto do outro que o matrimónio
deve proporcionar. A busca do bem mútuo é
a lei natural constitutiva, objectiva do matri­
,

móni o, lei que os cônjuges deven1 esforçar-se


por observar-, livre- e resolutamente.
O Livro da Esposa 39

O homem e a mulher, tomados em sepa­


rado, não obstante seren1 pessoas autónomas,
constituem seres incomp l etos. Esta afirm a­
ção, não é só verdadeira, como pat ent e, no
domínio da geração; zoospermas e óvulos,
separados, permanecem infecundos. É ver­
dadeira, até certo ponto, espiritualm ente
também. Há uma maneira de pensar, de
sentir, de agir, própria do homem e uma
maneira de pensar, de sentir, de agir, pró­
pri a da mulher; uma sobrepondo-se parcial­
mente à ou tra, todavia comple�ndo-a.
A visão masculina da vida e dos aconte­
cimentos é ordinàriamente mais sintética;
atinge melhor o essencial, as grandes linhas;
é também mais fria e mais estável, pois que
o juizo é menos influenciado pela sentimen­
talidade. O homem é feito para a acção,
para a creação. Gosta de construir, de
o rg anizar o «mundo »; ao contrário, sen te

menos simpatia pelos «seres » vivos, é


menos se ns ív el, menos acessível à pi e da d e
e à compaixão .
A visão feminina da vida é mais analítica,
. .

tem m ais tonalidades; nota melhor os deta-


A lt� tim idade Conjugal

• lhes e p:çeocupa-s e m ais co m e les . M a i s


impregn a da de sen sib ilida d e e d e s e ntim e n -
t t�lidade; esta v i são é m a i s q ue n te, m ais
ch efn d e simpat ia para co m os s er e s v ivos ,
sobretudo os fra cos e s o fredo r e s ; mais

intuitiva e mais subti l, é tamb ém mais o n du­
lante e mais instável . . .
Estes traços, que s e po deriam multiplicar
e que são os do tipo corrente, tanto mas­
éulino como feminino, mostram à evidência
que os dois seres humanos podem comple­
tar-se um ao outro. Um homem, graças a o
conjunto da sua personalidade, p ode dupli­
car uma mulher como nenhuma o utra
mulher o poderia fazer e reciprocamente.
Esta diferença e possibilidade de enri­
quecimento, pela troca e contribuição recí­
proca, está na base da atracção universal
que leva rapazes e raparigas , quando
chega a primavera da vida, a procura­
rem-s� mutuamente e a comprazerem-se
na tompaJ? hia uns dos out�os, a provar a
delicadeza e misterioso sabor dessa situa­
ção.. É também o fundamento do amor
propriamente dito, desse s entint ento ex c ep-
O Livro da Esposa

c i o na l e fo rte q u e faz com que utn rapa z e


uma rapar i ga s e es c olham , entr e " milh ares

d e outr o s , s e u nam u m. ao o utr o , n ão pe r:t ­


s em s enão u1n n o outr o , n o es quecim�to
quas e total d o s demais s eres humanos ,
e n quanto saboream a alegria ín tima e a
. '

inexprimível v entura da sua afeiçã_o .


E como « ambos são seres vivos , inaca­
bado s , inexplorados , infinitos » (Chardonne)
e qu e o são tanto mais quan to mais cultura·,
educação , riquezas de alma pessoais possuem,
este complemento mútuo que trazem um
ao outr o p o de r enovar-se continuamente.
Os acontecimentos novos da vida, pater ni ­

dade e maternidade, o s problemas constan­


t e s p ostos pela educação dos filhos ( r ), as

provações diversas , vão faz er s urgir r eac­


ções desconhecidas o ntem, p ermitir des­
c o b er tas n o s er amado , confr ontaç õ e s de
ideias , p ô r em comum as concep ções , os

s entimentos e o s afectos. Nas condições

(r ) Ca da filho põe um caso novo. Q u a n t o s filhos, tan­


tos os caracteres, tantas as man eiras diversas de agir e d e
ed.u càr.
A Intimidade CoHjugnl

s e mpre ins távei s da vida do n osso t e 1np o ,


marido e 1nulher p o dem p ô r e m con1 urn
de co ntínuo os recurs os p r ó p r i os , e nrique­
cer-s e com as s uas vis ões r es p e cti vas s u s ­,

tentar-se e fo rti fi c ar s e reciprocam e nte com


-

a sua ternura e ar dor e aj udar - s e assin1


no gene r o s o cum p riin ento da sua tar efa
hum ana, da sua missão p r o vi d e n c i a l .

A alma nã o é a única a b e n eficiar c o m


este dualismo d o s sexos ; o cor p o tam b é1n
t em n el e a s ua part e . D'esco b er tas recen­
tes da b i o lo gi a mos tr aran1 -no s como , em
consequência da i m p r egn a çã o es p er m áti c a ,
..

as relações conjugais e ram p o sitivamente


beneficiadoras do organism o fe m i n i n o i\.s .

melhoras físicas , experimentadas p o r mul he­


res j óvens, nos p r i m eir os anos de matrim ó­
nio , bas tam para d e mon st ra r e s s a benéfica
infl u encia. A vantagem física das relações
conjugais para o organismo n1as culin o não
foi ainda esclarecida. Não há d ú vi d a qu e con­
si$te sob r e t ud o , m edi a n t e u m a p r u d e n t e �em­
perança e rectidão dos ritos conju gais , num
m elhor equilíbrio hormonal e no a p azi g ua­
men to das tensões nervosas do org anismo..
O Livro da· Esposa
43

Eis o que o pod e traz er a o s


m at r i m ó n i o
.

c ô nj uges. Foi o próp rio Deu s que lhe deu


e ss a s p o ss ibil i dad e s ; é Ele que quer os efei­
t o s e i m p õ e aos esposos, a título de dever
de estado , o esforç o i n di s p ensáve l para a
S\la r eal ização .
Ser ia n e cessário , pois, que c ada esposa, ]
colo cando -se no p l a no p r o v iden cial , enca-,;
ras s e o mat r i m ó n io como uma << missão » a�
c u m p r ir : a de c on t ri b ui r para a realização,

p l� n a do seu cônjuge, adaptando-se a ele.


É p r ec i s o que q u e i ra, consciente e deli­
beradamente, levar a efeito esta realiza­
ção , através das dificuldades inevitáveis e
gr a ças à? vitórias necessár ias sobre o
egoísmo.
P ara o conse guir, será p odero same nte
ajud ada pelo amo r senti ment al es p ontâ neo,
am e a ç a do de ento rpec imen to pelo hábi
to
e p elas desi lusõ es. É nece ssár io, desd e o
iníc io e ao longo da vida con jugal, dup li­
car -lhe o ferv or, pela clara visã o da mis são
a cumprir no ma trim óni o
e p e la firm e von ­
tad e de a pôr em prá tica , triunfa ndo
das
dificu lda des inelutáveis . É nec ess ário « que
-
44 A Intimidade Cottjugal

rer ». que o companheiro atinja a plena e


completa realização. Para isso, há que com­
preender, em primeiro lugar, a sua psicolo­
gia, a sua concepção do amor, o que espera
e deseja receber do matrimónio e da sua

esposa; em seguida, temos que adaptar-nos


aos s eus desejos e esperanças e tratâr
de lhe corresponder, não impondo, com
manhas diplomáticas muito hábeis, as nos ­
sas concepções femininas do amor e da
vida, mas esforçando-nos por amá-lo como
ele deseja ser amado com as suas ideias
masculinas.
A esposa que se der ao trabalho de fazer
este esforço, por pouco recto de coração
que seja o homem desposado, encontrará
no marido o apoio que procura e, ao menos
parcialmente (r), a ternura que deseja. Aqui
se verifica ainda a palavra profunda de

(I) E sta restrição não põe de modo alg u m em d úvida


a sinceridade total d o amor m asculino verdad eiro, m a s
sublinha o facto segun d o o qual o apelo feminino d e ter­

Não
n ura ultrapassa muitas vezes e m amplitud e a resposta
sempre incompleta que o h o m e m pode forn ecer. se
enche o vazi o d o mar com as águas d u m lago.
O Livro da Esposa 45

Cristo : << O qu e p er de a sua alma en co n­


tr á -l a - á » . A melhor maneira de ser b em
s ucedid a no làr , é pro curar primeir o que
tu do t or nar f eliz o cônjuge.
Nisso co nsis te o segr e do do lar fel iz.
A psico logia dos homens
(( A funçâá própria dos homens, é agir,
caçar, construir, serem engenheiros, pedrei­
guen·eiros ».
( �fAUROIS )
ros,

con j ugal

O
fim do cas am ento é , p or ­

tant o , essa p lena realização mútua,


enriquecendo-se cada um dos cô n-
juges c o m os co ntributos do o utro e enri­
quecendo o o utro com o s seus próprios
c o n t r i b uto s .

Neste livro dirigido às noivas e às espo­


s as é necessário p r eci sar a maneíra como
a esp o s a deve c €> nt ri b u ir para a plena rea­
lização do s eu e sp o s o ou o q u e ele espera
.

e deseja receber da esposa no matrimónio.


Por isso imp õe-se este capítulo sobre a
psicologia mas c ul ina Esboçaremos em pr i
. ­

meiro lugar a psicologia dos homens em


geral, e, em seguida, a sua p sicologia parti-
A In timidade Co11jugal

cular en1 face do matrim ó nio . Isto p erm i­


tirá à esposa compr een d er m elhor o s eu
marido, ada p tar -se-lhe, correspo nder à su a
espe cta tiva e cump rir assim mais efic az­
mente a sua missão e dever de estado.
A ex periê ncia p rova que, em num er osos
lares ,. os homen s e as mulheres compr e en-
dem-s e mal e vivem duina felicid ade !Jem
medíocre. Donde a utilida de d e indicar às
esposas certas inépcias a evitar, afim de
melhor as ajudar a cumprir o s eu p apel
conj ugal.
É d esnecessário prevenir qu� não p o de ­
mos dar aqui s enão as notas essenciais .e
comuns da psicologia dos ho1nen s . Todas
as cambiantes individuais , pouco mais p ouco
menos, se encontram efectivamente até n o s
.
cas os anormais.

A chave da psicologia masculina está no


predomíni o das faculdades de acção (razão
e vontade) e D;O menor de� envolvirnento
das facul9ades de r ecepção, especialm ente
a sensibilid ade. Não quer dizer que o
O Livro da Espo sa
49

ho m em s ej a d é sp r o vido de s e n imen .

. . t ta -
lis m o n e n1 q u e r e � o s I nsin u ar q
ue a mu lher
seJ. a d e sp ro v 1d a d as f a culda
_

des de acç ão .
Na - o 11 á ' e ntr e h o mem e mul . -
h er , oposiçao ,
n o s entid o d e u m p o ssuir .
.n a- o tem e . o que o outro
v1c e - v e r s a ; mas num predom ina
o qu e n o o utr o s e f az s entir
.
em menor grau.
De s d e a 1d a d e J· Uvenl. 1 que s e manifesta a
. ·

P r o p e nsã o ma sct1 l 1na p ar a a acçao e m uitas



'
.
_

vez e s para a a cç a o VIO enta : os .gar ot o s


- ·

pavo n eam - s e t o do s s atisfeit os ' a rm ado s d e


.
quépts e s abres de madeira ; brincam aos
sol dad os e aos c o \v-b oys ; m urr os , p onta­
p é s , d i sp u tas , lutas, s o co s , são para eles o
pão q u o ti di an o .

O ado lesc ente do tip o vulg ar é louco p el o s


d e s pü r t o s , pel os jog os vio len tos , até m esm o
p ela s c o m p e tiç õ es ; na esc olh a das
leit ura s
ári o , en cam i­
as s ua s p r eferê n ci as , d e o r din
s, p� ra as gr an de s
nh am -se para as av en tu ra
tere s se se nt e pe lo s
ex p lo ra çõ es , e p o uc o in
o u ps ic ol óg ic o s .
li vr os s en ti m en tais
m bé m ne ce ss i da de
O ho m em fe ito t em ta
co ns tr uir : m o de la
d e agir , de organiza r, de
a m at ér ia , re fo rm a, ou pr et en de re form ar
so A Intimidade Conjugal

o m undo pela p olíti�a, pe la acção s o cial ,


pela p r o p aga n d a ideol ógica . . . Pode muito
b em passar, durante o noivado ou a « lua
de m el >> , por um período em que o amor o
ocupa quas e p or completo , o d i strai elos
s eus afazeres , o faz sonhar e errar as con­
tas . . . Ordinàriamente, esta « crise não
»

dura m uito e, pouco a pouco, o hom em_


c a sa d o já s e s ente p r es o de novo p elo entu­
s iab mo da acção e dos afazeres .
Não existe um homem, ver dadeiram ente
homem, que possa viver exclusivamente de
amo r . Um ho m em que não passasse de um
a mo r o s o , não s eria homem, faltaria à sua
missão . Uma
mulher não pode ser feliz
senão devotando-s e a s eres em carne e
oss o . Um h om em não tem felicidade, a

não ser q u e s e consagr e a uma obra, a

uma ideia, a uma acçã o , a uma r e f o r m a .


Quer cr ia r : m an u al o u .intelectua lm ente,
pelo comérci o , p el a ind ús tria, p e l a arte,
pela ciência ou p e la p ol ít i ca pouco impor ta.
,

Mas tem de criar .


A:rna espontaneam ente essa o bra, por q u e
é filha do seu p e n s am e nt o o u do seu tra-
O Livro da Esp osa SI

balho e é d e des ej ar que a ame . Se não a


ama s � e fá- la- ia ·contrafeito, sem gosto , s em
alegr ia e seria infeliz.
A espo sa deve compreender esta neces ­
sidade mas c ulina de acção e não lhe pô r
obs tácu lo, salv o em caso de exagero not ó­
rio. Respei tará a pers onalidade do cônjug e.
Com pree nder á que a plena realização e a
felicidade dele, em grande part e, estão liga­
das a esta actividade e deve aceitá-lo.
A jove m esposa não deve estranhar que
,seu marido não pense unicamente nela
como ela pensa unicamente nele e nos
filhos. Pensará nos negócios, nas realiza­
ç ões , amá.. las-á fora dela, ao lado dela,
mas, em última análise, por ela e pelos
filhos.
Com efeito, o trabalho do homem fora do
lar é necessário ao lar. Admitir que o pen­
s amento do marido e mesmo uma parte do
s e u coração pertençam a uma obra exterior,
é uma renúncia q u e se imp õe abs olutamente
à sentimentalidade fem in i na A e sp o s a deve
amar o
.

s eu marido para o tornar completo ,


segundo as suas virtualidades d e homem e
52 .A ltl fim.idade Co11jugal
� ------ ------- ------- ------

não p ara faz er dele ,um s us p ir os o o u u m


escravo a s eus p és. E este o pre ço da fe li­
cidade d e ambos !

Dotad o de forç a física , consciente da s u a


su p erior idad e s obre a m ulhe r , n est e d o mí­
nio , dotad o de ricas facul dades de acção ,
mais estável nos s eus juizos e mais fi 1m1 e
nas suas decis ões em razão da menor sen ­
sibilida de, o homem é levado espo ntân e a­
mente a mandar : quer s er o chef e. Se
fosse s àmente firme, corajoso , decidido,
s e pudesse fazer racio cinar a 1nulher e
mostrar-lhe calmamente o bem fundado
das suas decis ões , s e tivess e a arte de a
p er s ua dir pela doçura, t o da a ambição da
esposa s eria obedecer. Efectivamente pre­
cisa de direcç_ã o , de firmeza, e é feliz p or
ter j un t o dela uma p essoa for te na qual se
.

possa ap o1ar.
Mas estas qualidades masculinas, que,
nas tonalidades d e s crit as , são um benefí­
cio, transformam-se fàcilmente eJV defeitos,
se o homem não estiver habituado a domi-
O Livro da Esposa 53
------

n ar - s e , s e é d espro vido d e subtil ezà. e d e


hum ani da de. O s eu t e m peram ent o natura
l
l eva- o ent ão a o autoritarism o e ao d es ­
p otis m o ; p r e ten de decid ir sober anam e nt e ,
.
tm p or as suas con ce p ç õ e s e as suas ma n ei
-
r as d e v e r , n ão adm ite nenhuma dis cuss ã o
e in disp õ e - se.
Es ta vont ad e de mandar é já m arc a da,
n o r apaz e n o ad o l es ce n te. Qual a irmã
que não o uviu da p ar te de seus irmãos :
« c al a- te , tu não passas duma rapariga ».
A esposa inteligente compreenderá que
isto é o preço duma qualidade. Os próprios
elem entos fun damenta i s do carácter, que
levam ao autoritarismo com o qual ela sofre,
est� o t ambém na base dessa firmeza, desse
e sp írit o de decisão, do qual, aliás, ela bene­
ficia. A não ser em certos casos bem raros
em que estejam em jogo interesses maiores
evidentes e em que deva de�ender afinca­
damente o s seus direitos, a esposa agir á
com p rudência, r enunciando a discutir no
mesmo tom, absten do -se de qu er e r dar
prova de força ou de iludir o s eu marido.
O homem médio não s up o r tará ser man-
54 A !Htimitlade Conjt�gal

dado p el a mulher . Sem el h a nte ati tud e n ão


viria a pro v o car da m aneira m a is p ate n te ,
as discuss ões, as anim osidade s , as ce na s ?
Nã o é com dar provas de f o r ça qu e a
esp osa obterá , qu alquer coisa de s eu m arid o :
é captan do -o, na hora propícia, p ela ter­
nura. A mulher é fraca em face do mari do,
quando pretende usar da for ça ; é forte
e toda-poder osa, quando age p ela tern ura.
Convém, pelo menos , que ó homem tenha
a impres são de mandar ; contanto que tenha
a ilusão e que as apar ências se salvem ,
fica satisfeito. Do çura, << paciência e tempo,
, valem mais do que força e violência » devia
. ser um princípio estratégico feminino, mas
;que só deveria ser posto ao serviço de
:-b oas causas !

Ricame nte dotado para a acção , o homem


é meno s dotad o de facl.lld ades r e cept iv as .

A sens ibilid ade, a senti ment alida de, a emo ­


tividad e, nele , s ã o men os viva s e c o m men o s
tonalidades q ue na m ulhe r. Ele tem , além
disso , o pudo r . do s seus sentim entos detesta
' '
O Livro da Esjt:JS6l 55

parecer c o m o v i d o , j u lga i ndig n o de si d ei­


x a r adivinha r a en1o ção - sinal de fra qu e z a ,
im agi n a ele.
E s t a i n f e riori d ade s e n s í ve l e s e nt im e n t al
o fer e c e vant agen s e inc on veni entes . C o m o
a i nteli gên cia e s tá men os l igada à emo t ivi­
dade e s e ndo esta últim a,
p or o utr o lad o ,
rn en o s agud a ,· o s j uizos masc ulin o s são mais
firm e s , mais es táv eis , mais co nsta ntes , mais
e qu ilibrad o s . O h omem é mais calmo , não
se in quieta s em m ais n em m en o s e leva
mais tetnp o a apaix o nar-s e .
P ela conformação da s u a intel ig ê ncia, ap er ­
ceb e-a m elhor d o essencial e p er de-se menos
no p o r 1n e n o r , é m ais apto à a cção constru­
tiva, ao c o m an d o , à dir e c çã o . A es p osa tir a
daí grandes vantage ns : tem s obre quem
ap o i ar a s ua fr agil i dade , junto de quem
saciar a p r op enção e in t e n si d a d e do s s eus

s entimentos , onde encontrar um cons·elho


firme, es tável, mui tas vezes judicio s o . De
m a i s a mais, é esta faceta do carácter mas­

çulino q ue mais atrai a rapariga par a o


rapaz, a noiva para o n oivo . O homem
é mais tolerante, mais p aciente moral-
de Conjugal
A In tim ida
s6 -
------
e a m u l her ; m a i s s i m p l e s 111 .
m en te ( 1 ) qu a 1s
fra n co , me no s m an h o s o , 'm en
re cto, . m ais . -- e
c o mp i ca d o ' p
l o me n o s r e f i namen t o n
. - .
os
a s ua
d e que p r atica in
n o s e n ti d o f in ·
a l da de
� 'e me n o s q u e a mul h e r, a a r t e d I ..
t 1va men t . d as
. áb a s d a s p i ca el a s alfi n et
de
e,
v1 nganç as s i '

l ê i as . s.
m i E
das ca1 u, n ta
t_
e d c n c e es t
a . a
a
d as
a e
, ,

m a io r rect �
o d e r c e r ain da u md s
idã o
e1 emen to s qu e
m a i s agradam à ra p ar i
ga.
A o con t rári o , a su a me n or se nsib ili d ad
. e
oferec e in c o n ve n i entes . R '
I c o e m qualid
a-
des d e a cçã o , bas tando -se ma is a s i pró pr i o,
0 h o m em pe n s a me n os noutr e m . P or qu e
p ossu i uma imag inaç-ã o m eno s viv a e m e n o s
co ncr eta, sent e m eno s inte nsam e n t e pi -­
e
dade e c o mpaixão ; p o s s ui t a m b é m me no s
·
simpatia para co m os que s ofre m, e se não­
to m a cautela, torna-se fàcilm ente dur o .
Pelos mesmo s m otivo s , e porqu e é goz a­
dor e sensual, o home m é n o rm almente
eg o ís t a reduz tud o a ele e pensa pouco no
,

que causar ia prazer _aos o utr o s . É devo-

(1) Mas m en o s fisicam ente. A m ulher suporta mellwr


o sofrimento cor poral.
O Livro da Esposa 57

ta d o , mas a nt es à s ua obra, aos s e us nêgó.­


cios que à s p e s so a s : é s empre o s eu
dem ó nio cri ado r que o to rtura .
...&... sua se ns ib ilidade, por te r menos tona­
l d a d es , não o i m pede , to davia, de a pre ciar
i
o s o b s équ ios , as d e l i cad eza s , a s atenç õ e s
q u e a lgu ém te m pa r a co m ele. L iga-lhe s
'

contudo , muit o m enos i m p o rtância d o q u e


a m u l h er e experim enta uma real dificul­
dade em dar - s e conta do val or que ela lhe
atribui. Por este motivo e também p or q ue
geral m e n te é absorvido pelo cuidado dos
negócios , esquecerá fàcilmente o obrigado
que causaria prazer , o e l ogio esperado
- e que s eria tão b em recebido - por uma
ementa mais feliz ou mais del icada uu por
uma « toilete c o m b i n a d a c o m arte ; negli­
>>

genciará ou omitirá cortesias , atençõ es ,_


p equenos até aniversários de
presentes ,
nas cimento ou de casamento . Não con­
cluamos daí que já não am a ; não , ama , · mas
à maneira ma s c uli na, de um h o mem que se
deixa ir ao sabor da s ua natureza.� Não
ligu e m o s uma i mp o rt â n c i a exagerada a
estes es q uecimentos, compreendamos esta
A Intim idade Conjugal
-s
.)

e , em v ez d e. n s lam e ntar mos



p sicologia,
se que nclas d es t a m
das perniciosas c on ai o r
. s em os n as v an
1ns ens1' b 1"l'1 da de , pe n
ant. e s
t a-
gens que dela vi m o s a auf e rir .

En f.tm, 0 home tn- nat ur e z a é a m ig o do s


seus à-v o n ta de s e do eu
s c o nf o r t o . É
sen-
1. em to do s o s s e n tl d o s da p a lavr a
.
sua , .
A m ulhe r sacri fi ca r egu la r me nt e a com
o
-

didade à vaid ade


; p rov aln -n o cem de t al h e
de « t o il e te » femin in a. O h o m em s a c r if i c a
s

alegreme nte a vaid ade ao bem- es ta r : tir a 0


c o larinho , o u cri a m o da s q u e o sup r im am
se está calo r , p õ e-se em tn a n gas de c a m is a,
;

instala-se confortàv elmen t e n o fu n d o d o


melhor s o fá, r es s o n a com a b o ca ab er t a . . .
Nã o se dará à maça d a de limpar o s pé s ao
entr ar , de lan ç ar as cinzas d o c igar r o an te s
no cinzeir o do que no tapet e , de pôr o s
" p apeis e m ordem ou a s b ag agens n o s eu
lugar. A não ser no que lhe ag r a d a ( as
suas coisas , os s eus neg ócio s , p el o s quais
p ode real men te dev otar -se ) o b e de c e à lei
do men or esfo rço e do maior confort o .
De
boame nte se f�z ser vir , mas g osta p o uc o de
se con trariar pa ra pr est
ar ser viç os . É exi·
O Livro da Esposa 59

g e nte, m a n ife sta logo o s eu descontenta ­


m ento s e n ão come b e m , s e o s pratos não
e s tão ap ur a d o s o u as r efeições s er vidas à
hora. Gos t a qu e « o deixem em paz » . Fàcil­
m ente, é n eglig ente e não -te-rales . Tem
p ouca p ac iê n ci a q uando s o fre fisica m ente.
No do m í nio s ex ual, é s ens ual. Enquanto
para a rapar iga os fenóme nos da puber d ade
são s em atr ativ o , aborrecido s d e suportar,
no r a paz imp el em para o prazer . De lá, as
suas p r o p e n s õ es, por vez es vivíss im as ,
nesse d o míni o . Mas , i nfelizmente, não é
muito maisgenero so p ara se vencer do
que as rapar igas, espontân eamente inclina­
das à vaidade, o são para r esistir. O seu
amor, com certeza, é feito de estima e d e
s entimen t o , mas as notas de des ejo . · físico
não faltam , lá estão, or diriàriarnente arden­
tes. Enq uant o a rapariga, a maior parte
das vez es, não s ente atracção alguma por
este elemento do amor, e não se aclima ta a

ele, s enão po uco a pouco ; en quanto nume­


rosas mulheres feitas lhe l igam um inter esse
m oderado apenas, o r ap az , o marido jovem ,
o homem feito ligam-lhe �ma e11orme impor-
. 'dade C
o njugal
A� ------ -- ---

d e va lor. A mulh e r jov e m
a n - o d e am ar
o se u
. m gr
tân ct a, u m blç a
qu e d
.

deseJa s er a ina d o , dev er á


t e r a a .

I
e ve

m ar t. d o , c . s p e c t o d a ps i co lo
o rn o e e

. n t e e s te a
. f .

e nc ar ar 5 e
rn e
e s ac r r 1car , em p ar te
ri a
a e t er á d '
to s ( 1 ) .
s c u h n
gta m a
fe r e.... n c ia s e
·

o s s eus g o s
l i dad e d e .q u e o h o m e m tem
as s u as p r e
, . a
ue a dm i t e , 1 eg1 t1m
a se n s u a
D es t
-
. m e nte
. e q
1 0 5 s e u s seme lh ante s , d er1v
ci a
. a em
c o n sct ê n
,
.
c i úme m as c u 1 1n o . O s r a p az e s
e nl g e ra ' n
h. n h a r ec ta , 0
m c i ú m e un s d o s o utr os , a o
r ar arn ente tê
ass o qu e a s rapar ig as a c a a. p as o � � �
. s :n -
p
tem . O s m arid o s , a o co ntrar io , s ao I n fi n i-
ta m ente mais ci um e n t o s
d a s u a mul he r d o

que as mulh er e s , m e n o s s en suais s obr e­ �


tud o men o s c onh ec ed o r as da psi colo gia
mas culina (2), o são de s eu mar id o . S e este
ciú me, levado ao e x ag er o , p o d e s er fr anca -

( r) As e sp osa s p od em estar certas que n o l ivro desti"'


nado aos maridos, lhes pregam os também e s t a doutrina
das concessões mútuas.
(2) Isto explica, s e m a l egiti m ar, a atitude não raro
inconscientemente provocante d a s ra p a ri gas nas suas rela­
fõe s co m o m undo m a sculin o, das noiv a s n o s seus teste­
munhos de ternura para os n oivos, d a s m ulheres novas
em presença dos amigos d o seu m arid o.
(J Livro dtJ Esposa 6:r

m e nt e á
i n s u p or t v e l e c o nver t e o l ar num
ver dadeir o in fe rno , m ant ido nos mais jus­
tos lim i t e s , c on s t itui um a prova de amor e
a es p o s a muit a s v e z es s en t e-se l is o ngeada
.
com ISS O .

É tamb é m desta s ensualidade , des te desej o


in tens o que der iv am os gran des ví cios mas ­
t
cu l in o s : a m á c o n d u a , a em briaguês , m esm o
s o b a p a r ê n cias dist inta s !
Tal é, e s b oç a d a a traços larg os , a ps i c o l o ­
gia d o homem m é dio , como ele s e apres enta
exp on t âneamente em numerosos e x e m p l a­
r e s ou tal como se torna des de que s e não
vi g ia e já s e não domina. A esp o s a pru­
dente e esp erta tirará daqui úteis lições :
primeiro que tudo , co mpr een derá que os

de feitos masculinos que a farão sofrer mais


ou menos no matrimó nio são o revers o das
qualidades com que, por o utro lado , b en efi­
cia ; recordará dep ois a sua mag nífica missão
d e esp o s a que é de faz er melhor o s eu marido ;
ao m es m o temp o que o ajuda a v encer as.

s uas faltas , esforçar-se-á por s e a da p t ar à


s ua p s i c o lo gia e aos seus desejo s . O lar em
que este p rincípio é r e sp eitado é um lar feliz �
O sen tid o do dom ca r n a l

« A união dos corpos deve descer da ple-


1lituàe do amor. �
( THIBON )

Á u m ele1nento do amor, em g eral


H pouco atraente para as noivas, que o
não encaram sem alguma apreensãó e
cuj a importância e valor são inclinadas a ter
em pouca conta : é a intimidade carnal do
casamento. Dese jávamos falar dela com
toda a lealdade e com toda a franqueza, na
presença de Deus.
No seu pudor nativo, com a vigilância
que pôs até então em preservar a sua
pureza, a rapariga não pode p ensar , s em
algu m receio no abandono total de si
mesma, na do ação do que o seu corpo tem
de mais íntimo e de mais secr eto . Que tenha
confiança em Deus , aceite lealmente o· plano
A Intimidade Conjugal

providencial, e descobrirá as riquezas ini­


maginada� que o amor dos corações pode
tirar da união dos corpo s .
Todas conhecem a fábula de La Fontaine
e m que Grosjean se queixa do Criador. No
m o me n to de adormecer, estirado debaixo
de um carvalho, vai filosofando. Meu Deus,
p e n sa ele, como este mundo está mal feito.
O carvalho soberbo tem apenas uns peque­
n os frutos ; esta planta rastejante produz
enormes abóboras. Teria sido mais harmo­
nioso suspender estes frutos enormes na
árvore potente e colocar as bolotas, em vez
e n o lugar das abóboras r Grosjean ador­
mece cogitando nisto. Subitamente é arran­
cado ao sono por uma bolota que lhe cai
no nariz. E, no seu bom senso, toca de
concluir, pensando no que teria sido feito
da sua personagem se a bolota fosse uma
abóbora : « Deus faz bem aquilo que faz » .
Esta fábula encerra uma oportuna lição
de p r u de n t e filosofia : aceitar das mãos de
Deus o qu e Ele fez como El e o fez. Foi
Ele que criou o homem de dois s exos dife­
rent�s, que quis o cor p o mas culino e o
O Livro da Esposa
--

co rp o feminino, que invento u o rito da sua


u niã o , com as suas alegrias e a sua eficiên­
cia . T udo aquilo que diz respeito ao tipo
es s en cial dos noss9s órgãos, dos nossos ins­
tint o s e s � as tendências fundamentais dEle
prov ém. S em dúvida, no decurso de longos
séculos de humanidade, o hom em, que é um
ser livre e um ser social, pôde, pela sua con­

duta e por escolha sua, falsear parcialmente


essa inclinação d o instinto, desregrá-la,
torná-la excessiva nas suas exigências.
É necessário, pois, disciplinar a natureza
in stintiva. É este o. objecto e o fim duma
prudente educação.
Mas a indisciplina dos desejos instintivos
que radica na origem do homem e faz parte,
da hereditariedade humana, abandonada à
livr e influência e acção social, não demons-

.

tra de modo algum que o instinto seja mau


em si mesmo. A sede insaciável do ébrio
não prové:l a nocividade do instinto de nutri­
ção ; ao contrário, todos sabem quanto é
n ec e ss ári o à s ubsistência do ser vi v o.
Deus é o autor dos instintos e das suas
tendências fundamentais ; e esta obra é boa.
5
66 A Jntimidnde Cot1jugal

O facto da liberdade, da h e redi tariedade,.


da solidariedade hum an a (I) , to dos v alo r e s
bons em si , mas que , mal utilizado s, produ­
zem maus · efe i t os criou, no p assado, e cria
,

ainda, todos os dias , os desregramento s do


inst into.
FoiDeus que fez a sexualidade, os s eu s
ritos e aleg r ia s Fê-los em vista do enri­
.

quecimento mútuo dos e s p o s o s e da fecun­


didade da união. O hom e m , usando ou abu­
sando d a sua liberdade, p o de u ti liz á l o s p a ra
-

fins p r o vid en c iais ou de s viá l o s deles . Mas �


-

resp éitan.do-os , e ng r an d e c e s e
- .

Os r i t o s da maternidade, a gr a v i de z c o m
as s u as indis p o siçõ es. e o s seus aborreci ­

me n t o s , o parto com os s eus sofrimentos e


riscos, não tem nada de p o ético . E to davia,
o facto de ter trazido em si o filho , de o ter
, dado à luz, não está na origem do am o r
materno, des s e amor úni c o e infinito ? t_
( Uma mãe amaria tanto o s eu filho, se lho
tivessem trazido de fora, completamente·

(I) A influ�ncia do cinema, dos romances, etc., diz


respeito à solidaJiedade humana.
O Livro da Esposa

formado ? Um pai tem , p orventura, o amo r


t e naz, imens o , pro fund o , de uma mãe p elo
s eu fil ho ? O s rito s físicos da maternidade,
nã o obstante os inco nvenientes e os lados
dolo ros o s , conduz em assim a um acréscim o
d e am or .
O mesmo s e diga_ ( quando o s cônjuges
o quer em ) dos ritos físicos da vida de casa ..
dos, vividos s egundo o plano providencial.
Não há dúvida que, s e os consideramo s
apenas n o seu realismo material, abstrain do
de todo o conteúdo psicológico como de
toda a r epercussão s o cial, parecerão bem
humildes em si mesmos. Mas , precisamente,
essa maneira de os ·considerar é muitas
vezes o r es ultado de uma iniciação mal
feita ou incompleta : equivale a mutilá-los
de to d a a sua grandeza humana.

P r o c u r e m o s , p o is , apr e e n d e r t o d o o
alcance do dom carnal no plano providencial.
Não entra neste plano s enão quando , unin­
do-se ao dom dos co r aço e s e das almas ,
aparece como a manifestaçã o verídica do
68 A Intimidade Conjugal

dom de todo o ser à pesso a amada. O que


nós vamos dizer da sua no h r eza e b eleza
não tem pois valor se o consideramos sim­
plesmente no seu conteúdo físico ; só é ver­
dadeir o quando o dom , acima de tudo , é um
g esto de alma.
Este dom é um dos elementos principais
que distingue o amor da amizade que leva
até ao ápice a fusão dos dois s er es huma­
nos. A amizade é a união das almas , dos
espíritos, dos corações, num afecto mútuo .
O amor é t\ldo isto, mas procura ser mais
ainda. Pretende não excluir nenhuma inti-
I

midade, não s e recusar meio algum de


expressão e de realização do dom total a
o �trem e' da posse total de outr em . É o
m o tivo p orque, à união das almas , dos espí­
r itos e dos corações , quer juntar , inspirado
aliás nela, a união dos corpos.
• Esta toma então o seu primeir o s entido :

um esforço para traduzir a totalidade do


dom de si, a profundeza do amor que vibra
no cora,ção . E, e fe ctivam e nt e este
, aban­
dono físico que a mu lhe r nova faz de si
mesma ao seu marido, este enorme sacri-
O Livro da Esposa

fício q u e lhe consente do seu pudor vir�


gin al e da su a intimida de corporal , não o
faz senão p o r amor , e por causa da in t en ­
sida de mesm a do s eu amor por ele. Este
dom traduz, p oris s o , bem nítida e clara­
mente, o grau único de afeição da esposa
jov em p o r seu espo s o , p ois indica que a
ele s e d á, toda inteira e definitivam�nte,
de corp o e alma . O dom carnal · é assim
a traduç ão visível, o símb olo t angí v el de
um amor que não deve ter reserva. Reali­
zado neste espírito, enobrece-se e torna-se
extraordi nàriam ente b elo : gesto de cora­
ção , gesto de alma, que penetra o corpo
e o o b riga a traduzir os sentimentos mais
p ro fundos.

A união carnal, quando insp irada pel o


amor dos corações e das almas, é , p ois o ,

esforço mais completo que p o dem fazer


dois s eres que s e amam , para s e darem
inteiramente um ao outro . Fora da união
carnalo d o m p o de ser total na vontade e
no coração, não é total na sua expressão .
Onde existisse uma união física s em união
de corações e de almas ter í am o s apenas
,

A Intimidade Confugal

um g e s t o orgânico e um gesto q u a l q uer ;


mas s e há união dos corpos e dos corações ,
o dom m ú tu o tor na-s e tão i n t e g r al quanto
p o de sê-lo cá na t e r a . r
Vemos ag ora d
o s e n ti o d o amor carnal ,
o espírito que deve animá-lo e compreen­
demos então que , vivido nesta plenitude
humana e providencial , s eja, não s omente
sinal e símbo lo , mas alünento efectivo do
amor m ú t u o dos esposos . O dom carnal
a li m e n ta , 1nantém , aum enta o amor con­
jugal . E isto compreende-se fàcilmente :
i o a m o r intensifica-se p elo dom que faze­
nlo s de nós 1nesmas e q u e r e cebemo s do
ser am ado . O s entirmo -no s ar dentem ente
amadas s uscita o a1nor recípr o co e fortifica
união mútua dos esposos .
a

Além diss o e em co ns e quêricia dis s o , o


.dom carnal é ta m b é m ap aziguador das ten­
s ões conjugais, um dos factores m a} s e fic a ­

zes do enten dimen to entre cônjuges. Na


vida, os choques são inevitáveis entr e espo­
s o s ; mil e um motivo s lhes dão origem :
divergência de caracteres, de concepções ,
de gostos, sus ceptibilidad e , nervo sismo em
O Livro da Esposa 7I

co n s equ ência de fa digas , de cuidados . . .


Mas qu e apareça, amoroso e al egr e o dom ,

m útuo , reaf irmaçã o ardente do a fect o i n t e n � o


qu e t em um p e l o o u tr o , e, os miasmas .d o
ar são a
v r r ido s , dissolvidos o s ranc ores ,
'a
dist endid o s o s n ervos e ap gados os m o t i ­

vos de atrit o. Bem p e q u n o s parecerão os


e
c
h o qu es quotidian os, em face d a grandeza
da dedica ção que se consagram . O dom
car nal , consu m ado, s eg un d o o sen espírito
provid encial, é , p o r t an t o , um auxiliar eficaz
do b o m enten dimento entre esp osos.
Ajuda também, misteriosamente, a situar
cada um dos e s p os o s no s eu papel c onj u ­

gal. No lar s ã me n te constituído , em que o.


homem é vi r i l e enérgico e a mulher deli � '

cada e devotada, o esposo deve ser o chefe,�


aquele que, em ú l t im o r ecurs o, dirige as;
actividades e t oma as decisões, a be m de:
todos. Sucede por vezes ser n ecessário
inverter os papéis, m as isto não é, normal­
mente, um bem, nem para o lar nem para a
actividade social de cada um dos es po s o s .

As r elações conjugais em que o marido


tem o p apel principal, em que tem a inicia-
A Intimidade Co�tjuga/
- - ---- --

:t1va e encaminha a esp osa p ara a alegr ia


comum, em que a JJlUl her s e esfor ça po r


colaborar afectuosam ente, seg ue com aten ­
ção o seu esposo no caminho a perc orr er �
espera da sua delicadeza que a revele ple­
namente a si me.s ma, essas relações fazem
com que os esposos tomem uma mais viva
consciência do seu papel e dos deveres
respectivos na comunidade conjugal. Rea­
lizadas num momento carregado de emo­
ções, pesado de impressões, e, portanto�
particularmente formador de mentalidades,
contribuem para os colocar a ambos no seu
verdadeiro lugar providencial , no lar.
O dom carnal faz também notar ao vivo
a dependência mútua dos dois cônjuges ;

mostra-lhes luminosamente, quão necessá­


rios são um ao outro, quanto o seu bon1
entendimento, a sua harmonia são indispen­
sáveis à plenitude da sua satisfação. Estas
verdades t ê m valor em todos os momentos
do mat rim ó n io mas por causa do - seu clima
,

particular tomam um relevo especial nos


,

instantes da união. Para que um e o utro


possam atingir a plenitude d e alegria possí-
O Livl'o da Esposa . 73

vel , é precis o que ca d a um aceite o dar - s e


e , dando-se, si m patis e de alma e coraçãd

co m o d om, que ambos pro curem caminh ar


a par no amo r e nas suas manifestaçõ e s ,
que o espos o s e disciplin e e s e preocupe
com a alegr ia da esposa e que a esposa s e

alegre com a felicidade do marido . S àmente


entãó , a união adquir e a sua plenitude de
ex pressão espiritual , de eficiência, de amo r
e de prazer ; então , esses momentos são
realmente o símb olo do que deve realizar
to d a a vida conjugal : chamam a atenção para
os fins· de plenitude e r ealização mútua,
para as leis do sacrifício relativo de nós
mesmas e do cuidado d e outrem.
Ess es momentos manifestam , enfim , a uma
luz particular, mais clara que em muitas
outras horas , o verdadeiro r osto da alma ;
fazem conhecer os caract�res e as profun­
dezas dos corações ; revelam a intensida d e
e a riqueza do amor ; testemun�am d a sua

delicadeza, d o s eu requinte. Há, s em dúvida,


na vida conj ugal , ocasiões mais desinter es­

sadas de provar, por actos e p elo devo­


tamento , a verdadeir a natureza do nosso
7-4 A lt�lim idadl Conjuo·al
�- --- --�----

amo r ; não há tão fácei s n em tão naturai s


as
Des te mod o o dom c a rn al , p elas rev elaç ões
.

'

que faz sob re a q u al i da d e do amor m út u o


'

con trib ui mui to, se este amo r é real m e nte


profundo e delic ado, para a aleg ria dos
corações , par a o e n c anto da vi d a c n1 c o m u n1 ,
p ara a ades ão tota l da s alma s ( r ).

E-is e1.11 que consisten1 as riquezas possí­


veis do dom carnal . Po dem ser deturpadas ,
mutiladas ; p o dem s er destr uid�s ; podem
m es m o ser usadas às avessas e fazer do que
devia s e r , no matrimónio , a man ifestação
do amor e o seu alimento mais s u bstancial ,
uma prova de eg oís m o , uma ferida o u um
golpe m o r tal vibrado no amor . Para desen-
volver todas as suas riqu ezas, temos que
viver esse dom, segund o o seu s entido
humano e providencial : deve ser ditado
_p elo am or, real i zado n o amor, cercado de

(:r) O inverso tam bém é verdad eiro : se, n estes momen­


tos de uniã o, a qualidade do amor aparece m esquinha,

tJbia, egofsta, em lugar d.e unir, levará a uma desiluslo


por vezes cruel.
O Livro da Esposa

deli cadeza, de pureza, de caridade, de aten­


ç ão por o ut rem, consumado na rectidão
c o mpleta dos s eus ritos e dos s eus fins.
As noivas e esp osas deverão pr eparar-se,
portanto, p ara real izar este dom na sua
plenitude espiri tual e na sua lealdade física,
p ois que j á compreenderam a sua grandeza,
valor e riquezas latentes . Sup erarão, s e
necessário , o puritanismo da s u a anterior
educação e irão iniciar o s·eu pap el de
mulheres casadas por u1na inteira adesão
à sua missão providencial .
Penetrada do s entido pro fundo e nobre
do dom s exual , a noiva deve ter adivinhado
já que só no casamento o pode pôr em prá­
tica. Expr essão física do dom total de si,
dom de amor, não pode ser consumado,
confor1ne à sua verdade psicol ógica, s enão

depois do compromisso solene e púb l i c o


dos esp osos, num estado de vida que con­
sagra efectivamente esse dom total e defi­
nitivo de si até à morte. Só o casamento
monoga.mico e indiss olúvel constitui esse
estado d e vida. O noivado , tanto de facto
como de dir eito, não p as s a dum e ncam i -
'16 A /ntimiáad t Conjugal
..:__-------- �'--------- --

nham e nto para lá . Seri a , p o is ,


su m am en te
impr ude n t e , num clim a aind a instáve l de
facto, mes mo que o n ã o sej a na inten çã o
da n o iva fazer um dom t o tal e durável J
,

enquanto os aban dono s p o dem ter lugar ,


a pesar de tudo, e seria m mesm o frequ e n
­
tíssimos , se o dom sexual fosse permi tido
n e ss a altura. Quantos r ap az i n ho s n ã o j oga ­
riam com promessas de casamento para
s at i s faz er as s uas p aix õ es ! « Fora do casa­
mento, escreve uma mulher, a mulher é
; entregue ao bel-prazer d o h o m em que a
'toma, a possui, a torna mãe, s e aborreée
, de� a. e a aban d ona para recom eçar depois
! outra aventura » ( Tinayre ) ( I ).

(1) A mesma evidência ressalta d e um o u tro facto.


O d om mútuo conduz à fecundidade, ao fil h o. O catoli­
eismo, com toda a prud�ncia, não p ermite e s t e d o m, a não
•er no casamento. Se fosse lícito fora do c asam e n to , teria
efeitos s oc i ai s desastrosos : m ui tas vezes a m ulher ficaria
aó, pois que o pai partiria para outros a m ores ; ela te ri a o
duplo encargo d o seu filho e d e si m es m a ; teria q u e tra­
balhar e trabalhar duro, em detri ment o d a su a saúde d a
educação d o filho q u e n ã o poderia v e r s enão d e ma hã �
oed ? e no fi m d a tard e ; a educação d o filho estaria privada
4a Infl�encxa
. paterna. Q aantos p rej u iz o s . para a mulh er,
para o filho e para a sociedade f O d o m fora do casamen to
O Livro da Espos�
11

É precis o acre � centar que o dom car nal


nã o a ument a as riquezas descrita s a não
s er qu e viv amo s ver dade iramente no se u
es pír ito hum ano e pr ovidencial. S e inver­
termos hierar quia objectiva dos seus
a
c onstituintes , s e o elemento do prazer car ­
nal chega a d ominar nitidamente , até mesmo
a abafar p or completo os elementos de dom
e de afeição , s e o egoís�o prima s obre o
amor , s e o abuso da s ensualidade destrói
voluntàriamente a fecundidade do rito con­
jugal , aniquila as suas p ossibilidades gran­
dio sas de chamar à vida um novo homem,
para pr o ss eguir dum mo do artificial somente
aA5 s atisfações s ensíveis , o s eu alto valor
assim invertido p or C O lll pleto , p erverte-se ,
envilece-se e envilecemo-nos a n ó s mesmas,
criando imenso s pr ejuízos sociais .

é, p ois, uma imprudência g�avíssima para a rapariga, e

permanece como tal, mesmo se tem deveras a intensão de


se casar. Não s ão conhecidos casos de noivos, mortos

as
num acidente, que deixaram a n oiva grávida ? Pelo casa­
mento, ao contrário, coisas são organizadaSi, tanto quante
é possível, neste mundo, para evitar todos e&ses incon­
venientes.
A Intimidade Conjugal

Basta olhar à noss a v ol ta p ara cons tatar


os danos do instinto i n disc i p li n a do . Aban­
don a d o ao livr e jog o dos cap richo s , mos­
tra-s e t err iv e l men t e d e str ut or : o voluptuoso
torna-se egoísta, e sacri fi ca o s outros aos
seus prazeres, sacri fica- l hes mesmo a feli­
cidade d o lar . É o i ns ti nto d esen freado que
causa o s uplíc i o d e numerosos pares , o s
ciúmes ferozes, os ó dios pa s si o n ais , a deca­
dênéia física e mental das doenças venéreas ,
das traições, dos crimes e d os assassínios .
A palavra poderosa de Pascal cons erva a
sua veracida d e : « Os que cr êem que o bem
; do homem está na carne e o mal no que
# afasta do praz er d os s entidos, que se fartem
e morram » . As estatísticas d e mortalida de
provam , aliás , que a volúpia mata ( r ).
O cat o l icis m o que proclama, a um tempo ,
as riquezas do amor carnal e os s eus p er i ­
gOf, que condena o despr ezo manique�
)

(I) Em morrem por ano 140.000 homens de


sffilis, d oença d i d a, de ordinário, à m á conduta. Depois
ev
França,

da tuberculose (xso.ooo), a maior causa de mortalidade é


a sffilis.
O LivYo da Esposa 79

o u ja nse nist a, be rfl co mo a exalta ção s em


reser va d a s e xu al i d a d e , que lhe dá um alto
valor m a s u m v alor fr ágil , fàcilmente peri­
gos a, se n ão é dis ciplinad a, o catolicismo é,
p o r t an to em ine ntem en t e prudente.
,

O cato licis m o r �p eita a s exuali dade .


Co m o p o d e ri a ser de out ro modo s e e l e
ens i n a que o unive rso i n t eir o é o bra de
Deus , a distinção dos seres humanos em
homens e mulheres feita por Ele, as possi­
bi li da d es �e prazer e alegria, as fecundida­
des da união carnal, obra da sua inteligência
e vo n ta d e ? Como poderia ele maldizer a
carne s e Cristo se fez homem e Maria, sua
mãe, fo i uma simples mulher ? Cristo, não
fez áo mat rim ó nio um sacramento, dos seus
ritos de carne, lealmente executados, um
ca nal de gr aça santificante � de graças
actuais, um acto meritório duma recom­
p e n s a eternà ?
É porisso que o sexto mandamento de
Deus é, no pensamento da Igr ej a , um
mandamento ditado p el o respeito da al ta
importância da sexua lid a de Se não per ­
.

mite realizar a união carnal senão no matri-


8o A bttintiàade Conjugal

mónio , é em p ri m e i r o lugar por causa qa


sua alta significação : dom total de si ; eru
segu i da , par a a ss egur ar à mulher e aos
filh o s um a p o i o estável na vida : à mulher
um marido qu e a há-de aj udar , durante
to da a existência, a s atisfazer s o bretudo
os encargos e c o n ó m i c os e educativos da
maternidade, ao s filho s , um pai que dupli­
cará e completará a o b r a educativa da
mãe. Quer Deus que o acto da união
conj �gal , grave entre todos para a mulher ,
para o filho e para a S o ciedade , tenha lugar
somente nu� qu a dr o d e s egurança f a v or á ­

vel a uma melhor eclosão dos seus ricos


frutos humanos .
A Igreja de Cr is to é mesmo tão pouco
puritana que tem , no s e u ritual, bênçãos
especiais pa�a o leit o n up cial e para a mu l he r
. ...

grávida. Ná §ua lit urgia , a prop ósito p or


ex�mplo da Virge m , fala das particularida­
des fisiológicas do corp o feminino o u do
matrimónio com uma c lar e z a que s ó é igua­
lada pela pureza que i n sp ir a a s u a oração .
Trazendo à memória a concepção de Cristo ,
toma como símbolo o acto co nj u gal para
O Livro da Esposa 8I

supli car a o E spí rito S anto que f ecu nde os


noss os cor aç õ es.
D e mais a m ais, o cato licis mo conhece a
fun do a s r uínas, i ndividuais e sociais, cau ­
sadas p ela in dis ciplina do instin to ; sab e
quanto est e último é fà cilment e exc essiv o ,
impetuoso e de sordenado. C o n h e c e a fra­
gilidade dos coraç ões e da car ne, os desas­
tr es conjugais e soci a is , que são os fru tos
da vol úp ia. É este o motivo do seu nono
mandamen to recomendar uma prudência
muito grande, uma vigilânci� extrem a no
domíni o das avenidas do desejo e do dom
de si. É a razão também do seu sistema de
educação pregar a necessária disciplina do
instinto e cercar o seu uso no casamento,
de todo um conjun t o de leis que não
têm o utro fim, vê-lo-emos mais adiante,
s enão mantê-lo na, via da elevação e da
b el eza.
A e xp e ri ência dà vida confirma a emi­
� en t e prudência e o benefício desta atitude
da Igreja, igualmente di s t an c ia da do des­
prezo jansenista da s exu ali d a d e e do culto
i d olátrico dos mo dernos por ela.
A l11timidad� Conjugal

A esp os a terá, pois, de acautelar-se com


os desvios e processos da s ensualidade e
aproveitar, segundo o plano de Deus , as
riquezas incluídas na união dos cor p o s .
É a isso q u e devem ajudá-la, leal e clarlssi­
rnamente, as páginas que vão s eguir-s e.
SEGUNDA PARTE

PÁ GI NAS DE INTIMIDA DE

c Temos 9ue evitar dois escolhos :


a ausênct'a do atractivo sexual '
" primado do atractivo sexual ».

( TntBoN )
O dom de n ó s m es mas (1)

« Serão dois JtUma só carne ». Evange­


ll)o segundo S. Mateus, XIX, 5·
-

A
l eit ura das p ág inas prec e dent es d ev e
ter leva do a noiv a a enca rar , de uma
mane ira mais positiva e mais serena,
o do m d e s i m esma. O amor por aquele que
amanh ã, p er ante Deus e perant e os homens ,
virá a s er
o s eu marido , é total. Que o dom
que lhe s er v e de símbolo seja total também.
É c o mpreensível , to davia, a s ua pertur­
bação em face do desconhecido , os receios
ins tinti v o s do s eu pudor, a timidez ao apr o ­
ximarem-s e a s prim eiras horas d e intimi­
dade, as apr e ensões perante o acto , aind a
impregnado de mistério, do dom de si.

(1) Por causa da própria n atureza do assunto, o papel


dos médico!, colaboradores do livro, foi prep onderante na
redacção dos primeiros capítulos desta segunda parte.
�6 A /utimidade Conjugal

Que cons erve estes s ent imentos : fazem


parte desse encanto e atractivo que a mulher
exer ce sobre o marido ; -p õe-na pr e cis am e n t e
no estado de alma que agrada ao ho mem,
porque ele gosta sempre de s er um p o u co
a voz
. " .
conqu1stador . Q ue a no1va es cute
do seu pudor virginal ; que avance para o
himeneu, adornada com a fr e s cu r a da sua
pureza, da sua delicadeza, da sua timidez ,
cheia de respeito pelo sentido misterioso e
i p ro fun d o do dom que vai consentir.
Que o faç a confiante na Providência que
quis a união dos corp os e lhe marcou os
rit o s
. Que não fuja à união ; que não se
rec u s e a ela, nem de f a c to nem por senti­
mento. Que corresp onda com o seu an1 o r
ao amor do marido , com ternura às suas
ternuras, com beijos aos s eus beijos . Que
lhe deixe a iniciativa e o e x c l u sivo dos tes­
temunhos de amor mais íntimos ; que obe­
deça ao s eu p udor que lhe sugere , n estes
primeiros m o m ento s a guar da de u ma certa
,

reserva fís ica . Que se harmoniz e, não s ó


interiormente e m as também
d e coração ,
por sinais de boa vontade com o amor que
O Li'l.lt'o da Ifsposa

l he testemu nha o seu marido. Que l h e faça


c o m preend er que não se recusará ao seu
desej o ard ente , à sua vontade ·de a ver p er ­
ten cer-lhe com todo o seu ser.
Não há, de resto, obrigação alguma de con­
su mar a união física, logo na primeira noite.
Que deixe juiz neste domínio o marido. A ele
per tence conduzir a esposa e instruí-la nas
vias do\ dom de si mesma. Este papel do
marido é muito delicado para uma alma
amante e requintada, desejosa de evitar,
a todo o cu s t o , à_ sua jovem esposa, melin­

dres, choques ou constrangimentos. Que


ela compreenda o seu desejo tanto de se
unir a ela como de a não ferir. Que apre ...

cie a paciência e discreção que ele testemu­


nha. Niss o en c ontrará a prova de que a
compreende e respeita, de que é generos o
em s e renunciar e dominar o ardor dos

desej o s , por amor d el a .

Eis a razão por q ue, q uando a sua alma


se sentir encántada com esta ternura e deli­
cadeza, a esposa dever á faz er a sua parte
de sacrifício por amor dele, vir em auxílio
de sua boa vontade e deixar-se conquistar
88 A luli,iidtzdtJ Conjugal
- - - --

com simplicidade. No ard o r da s u a alma


azpante, e co m a sub mis s ão cr is tã a o s e u
papel pr o videncial de e spos a, a b an do na r­
·se-á l ealmen te, de corpo e a l m a, à u niã o
que Deus criou : « Serão doi s n u m a s ó
carne » .
Con s e l h os à iovem mónica

« Pensar 9ue a virtude dispensa do pó de


an·oz, ou de estar convenimtemente bar­
�eado, t um err() criminoso ».
( FAYOL)

E
SCUTA minha irmã, alg Uns conselh o s
e p õe-nos e m prática. O t eu amor s en­
tir-se-á bem com iss o .
Sê s empr e leal e sen1 reticências no dom
físic o . Se, em certos dias , tu mesmo s entes
necessidade de te s entir amada e aspiras à
união, p o des manifestar esse- desejo. Fá-lo
feminilmente, com delicadeza. A tua atitude
trairá os teus desejos : faz -te branda, discr e­
tamente m eiga, procura calor e r econforto
junto de · teu marido. Ele compreenderá
essa linguagem e r esponderá ao teu apel o .
Poderá s uceder, por qu e u m a mulher é
sempre complicada para um homem, que
não procurasses a união total, m a s ternura
4 Intimidade Conjugal

sàmente. A compreens ão de st es m a t i z es
e x ig e uma grande exp eri ê ncia d o co ração
femini no e é pedir muito aos jov ens mari­
dos ; além disso, as tend ências masculinas
prestam-se pouco a estas meias tintas . Se
o teu apelo era total e ele lhe responde na
m esm a medida, muito que bem. Se a s ua
r esposta vai mais longe que o teu ap el o
{ê o caso mais frequente) abre o teu cora­
çã o à a mpl itude da sua resposta.

Nas horas do des ej o , nunca s eja s fisica­
mente provo cante. Diminuir-te-ias , de facto ,
aos olhos de teu mar ido , mesmo que, passa­
ge_i ramente, par ecesse apr eciar a tua atitude.
Para que um marido continue a amar dura­
d o ir am e n te , é precis o que possa co ntinuar
a apreciar-te s empr e. O pudor e a r es er va,
na l e ald a d e do dom, são um elemento dessa
e s t ima.

Não imagines no casamento , uma har­


monia ilusória, feita de ausência de dificul­
d a d e s e de consonância espontânea de todos
os d es ejos , de to das as concepções , de todos
os gostos. Nenhum lar real realiza este tipo.
Em todos, ouves b em ? em to do s , há dife-
O Livro da Esposa 9I

rença s , div e rg ê ncias , e fatalmente, portanto,


ligeiros c h o qu es ent r e os esposos. A har­
monia du ráv el dos lar es não é puramente
e sp ont â n ea ; é o resulta do, ao menos parcial,
de es fo rços ; n ã o nasce dos sen timentos mas
da s vonta des ; não é unicam ente sorris os mas
cons truída parcialmente sobre o sacrifí c io .
Os lar es que s e desfazem são aqueles que
consideram as divergências sob o aspecto
trágico ; os felizes, aqueles que as superam:
com bom s enso, paciência e espírito de fé.
A diferença está pendente menos das difi­
culdades em si mesmas do que da maneira
de as e nfre ntar. Onde a harmonia não for
espontânea, procura atingi-la pelo esfor ç o ,
p ela paciência, p ela adaptação, p elo s acri­
fício : é este o s egredo dos lares unidos e
felizes .
D esco h rirás no teu marido defeitos não
s uspeitados ou ao menos de amplitude não
suspeitada (r). Descob erta vulgar que se

(1) Referimo·nos aqui aos defeitos masculinos c orren ­

tes, discretamente sublinhados no capítulo sobre a psicolo­


gia masculina : susceptibilidade, sensualidade, amor d a
A Intimidade Conjugal

pode resumir numa p al avr a : os ho mens são


egoístas, todos, mesmo os melh or es ! Não
há diferen ça nenhum a entre eles , a não ser
no grau de acuidade do egoísmo.
Ern face desses defeitos podes tomar três
atitudes : rebelar- te, lamentar-te, adaptar -te.
Rebelar -te, é ir ao encontr o de discussõ es ,
d e choque s , de cenas . . . e provocar a cris e
do matr imônio . O que lucras com isso ?.
Lamentar -te, leva ao desânimo , conduz
à tristez a ; a partir daí, serás menos atenta
à v i da caseira e desinteressar-te-ás do teu
pap el de esposa ; teu marido, menos feliz ,
afastar-se-á do lar ; a alegria anemizar-se-á
e o matrimônio vai seguir , p or outros cami­
nho s , ainda para a crise. Que proveito
advir á daí ?
Adaptar-te , contentar- te c o m o que pos­
s u es , r en u n c i ar a corrigir o que é i n c o rr i­
gível, suportar com paciên cia, le v ar o teu
marido pela doçura, p ela ter nura, a corrigir ,

comodidad e, goloseima, autoritarism o, egoísmo. N ão enca­


ramos os vícios graves, felizmente mais raros, em que
p óderia ser oportuno aconselhar uma atitude completa·
mente diferente ..
O Livro da Esposa 93

p ara te ag r a d a r , o que é incorrigí vel, q uanto


ao r es to , p r o c u ra r um a justificação , p e rs e v e ­
r ar n o t e u p ap �l de espo s a , « sab er aliviar,
di v e r t ir , cr iar um int eri or alegr e » , é s a l v ar
a paz e har mon ia do lar, conse rvar o ver­
d adeiro cl ima famil iar e m q ue p a i s e filhos
p o d erã o r eal izar-s e plenamente.
Não s e tra ta de legitim ar as faltas do teu
mari d o . É
para desejar que as corrija. Com
ess e fito , favo r ece a sua vida c r i s t ã . Não
tome s c o m o trágico o que não te m razão
d e o s e.r. S ê, tamb é1n tu , mais cristã e corri­
ge-te de teus próprio s defeitos : s up o rtarás
o s d e o utrem com mais paciênci a e o pt i -
.
mrsmo.
Tende, s e p ossí v e l , a vossa casinha p r ó ­
pria. Não h abite s nem c o m teus pais n em
com teus s ogr o s . Antes viver mais aperta d o ,
m a s em cas a própria. Procura amar os pais:
do teu marido ; procura fazer com que ele ·

ame o s teus. Não esqueçais, nem um nem


outro, t u d o o que deveis a vossos p ais .

Tende a vossa casinha. Vi v e i nela. Não


ande is s emp re p or casa de vossos amigos
nem por casa dos am igos dos vossos ami-
94
A bltinzidade Conjug«l

Perde m -se assi m h oras preciosas


gos . . .
de intimidade. O p er fume do lar evap o­
ra-se. Sêde s o ciáveis e h ospitaleir os , sim,
mas s em ultrapassar uma justa medida.
Um a vez casad as , muitas raparigas d ei­
xam de !>reocupar-se com a sua casa e
com a sua pessoa. « A infelicidade dos
lares começa logo que um dos esp o s o s
s e persuade já não precis ar de agradar »

( Borden). É necessário que o teu interior


seja limpo, agradável, ridente, eclaro
quente. Para isso não é indispensável
habitar um palácio . Uma hábil mão femi­
n i na p o de transformar admiràvelmente um
q u art o , intro duzir o r dem, j ovialidade , ale­
gria, s ol. A uma casinha tã o ridente, tão
s impátic a, o marido regr essará com to do
o gosto. É u ma das razões pelas quais
tanto importa que a esposa não trabalhe
fora do l ar ; do contrário , como entra mais
ou menos às mesmas horas do marido , a

casa encontra-se fria e e m desordem ; com


a pressa, as refeições são po uco cuidadas,
a Senhora fica precipitada, enervada . . .
de tal maneira que , muito em breve, o
O Liv1·o da Esposa 95

mar ido c o m eç ar á a habituar-se a procurar


cal or , con fo rt o e distracçã o por outros sítios.
Não bas ta qu e a casinha seja agradável e ·
ri dente ; é p re cis o que a Senhor a também .
o sej a , n o físico ( I ) como no moral. Que,
des de manhã, os teus vestid os estejam lim­
pos , o te u cabelo cuidadosamente pentead o ;
evita todo o desalin ho ; mesmo em ple n a
tarefa, vela, com o maior cuida do , o te u
porte ; o trabalh o requ er sem dúvida ves­
tidos apropr iado s é cert o ; mas , em presença
de teu marido, conserva sempre limpeza,
distin ção, mesmo um nadinha de garridice.
Ao meio dia e à noite, quando ele chega,
s·ê atraente, limpa e fresca. Uma inglesa
escreve com humor : É uma desleixada.«

Tem uma n ó doa na frente do vestido. Isso


não tem importância, pe n sa ela. Engana-se.
É imenso o número de casamentos desfei-

(r)A esposa deve particularme nte velar, com nm cui ­


dad o meticuloso , pela limpeza dos órgãos genitais externos
media nte uma « t oi l e te � quotidian a ; mas, salvo casos espe­
ciais e p rescriçõe s m�dicas, deve evi t ar as inj ecções vagi­
Jaais internas que :aio são, norm almente, de utilid a d e
al&uma •. '
A Intimidade Conjuga l
---

to s po r cau sa de u m a nàdoa zit a n a fr e nte


do vestido da S enhora » ( B or de n ). Es s as
meninas que o m ari do enco ntra n o e s c r i­
tório são graciosas, lindam ent e ve s ti das , dis­
cretame nte emp oad a s , cabelos lu si di o s , u m a
« per man ente » imp ecáv el . . . A S enh or a não
de ve ficar-l hes atrás em nada . Mu itas rap a­
rigas , outro ra elegantes e bo nitas tr a n s­
formam -se depois em espos as neglige nt es.
Fazem mal , muito mal. Nu mer os as de s a­
feições do marido pela mulhe r tiv eram aí
a sua origem.
Que as refeições estejam prontas a tempo,
à hora em que o marido as pediu. Pode ter
um encontro de negócios, uma reunião.
Se nada está pronto quando chega, é com­
preensível o seu descontentamento, a sua
im p aci ê n cia. Daí às cenas, é só um passo,
depressa dado. Esforça-te por que a cozi­
nha seja cuidada. Os bons maridos são glu­
tões , diz-se ! Em todo o caso, se em noites
consecutivas t e m salsicharia e, de dois em
dois ou três em três dias , a mesma ementa
estereotipada, o s eu humor ressentir-se-á
com isso. Quando saís� os dois , que a par-
O Liuro da Espo.r;a 97

tida nã_o s e ja p ara el e um longo exercício !


de pacH� n ci�, pois que não há meio de t e �!
apront are s o u r e e n tras veze s sem conto ,

em bus ca de· um objecto esquecido !


S ê , mo r al me nt e, atraente e sedutora, sor­
rid ente e aco lhe dora. Lá fora, estas meninas
que ele e nco ntra , são todas muito amáveis.
Que contraste par a teu marido se o rece­
b es, ao r egress ar, co1n um r o sto enfadado
e carranc udo. Estás descontente, amuas,
recrimin as : « tu não limpaste os pés ao
entrar » - « manchaste o casaco » - « deixas
cair cinza no chão » - arrastas os sapa­
«

tos » - « nunca pões nada no seu lugar » -


« não tens ordem » , etc., etc . . . Ou então és
capricho sa, extravagap.te, hoje ridente, am a ­

nhã abatida , descon certas o teu marido pelas


muda nças de humor inexplicáveis. Estás
indis posta , enerv ada, irritá vel, ag-itad a, sus­
ceptível. Que difer ença da noiv a sorri­
dent e de onte m ! O mari do, está claro ,
aprecia pou co este clima ! Por isso , demo­
ra-s e 'no café com os amigos, entra cada
vez mais tar de . . . e segu e-se a perd a do
amo r.
A Jntitniáade Conjug al
------ ----�--- --- --·

Podes pôr o teu m ar i d o ao corrente das


dificuldades caseira s . Está bem , fá-lo, mas
fá-lo com mo deração . Que a tua c o n v e rs a
não decorra unicamente, n em p rincipal­
mente sobre qu estões ma t e r ia i s . ]á são
as dificuldades lá for a : ap r e n d e
, suficientes
a suportar, só, as que te incumbem . Tu
geres o ministério d o i n te ri or ; ele o dos
estrangeiros ; não mistureis as com p e tê n ­

cias, que devem permanecer distintas . Ist o


não quer di ze r que não s eja necessário , no
momento o p o rtun o , esclarecer des-vos s o br e
a marcha d o s ministérios respectivos, m as

evitai fazer disso o tema, q uase único , das


vossas conversas . Que a esp o s a distraia o

ma ri do das suas preo cupações , não fazen­


do-o resolver as suas pró p r i a s dificuldades
mas levando-o para um terreno que o s.
divirta e eleve a ambos. Quando os espo­
sos são cultos, que a esposa d e s c u b r a ao

marido os domínios da literatura, da arte,


da psicologia, da educação , nos quais ele é,
às vezes, bastante p r o fa no Resume-lhe um a
.

'leitura, lê-lhe belas passagens , comunica-lhe


uma reflexão religiosa, numa palavra pro-
O Lif/ro da Esposa
----- --

cura CO J? pletá-lo intelectual e espiritual­


me nte. 1� s o b retu d o nosp ri m eir o s tempos
do matrimó n io , em que as horas feriadas
de ambos são mais fr e quen t e s que é fácil
,

cons egui-lo . Criais assim um belo há b ito .

Não vale infinitamente mais i s t o do que a


b us ca de mil e um p r a z e r e s vãos e s up er ­

fici ais ?
É nor m alm e n te o teu papel, visto que
é s es pontaneamente mais pi e d o s a m an t e r
,

a vida relig iosa do lar , ser a promotora

do progresso espiritual . T o m a cuidado, no


início do matr im ó n i o com um tal qual janse­
,

n is mo. O dom carnal é instituição divina


e não um a e spécie de (( peéado l egitimado
pel o casamento ; pelo contrá!io, d es d e que
é vivido no seu sentido providencial, é um
acto de virtude ! Que nenhum s e n ti m ento de
receio te. afaste, p o is , da oraç ão e dos sa cr a ­

mentos. Que a o raç ã o em comum i nau gure .

e termine os vossos dias ; põe-na tu em prá­


tica, desde o primeiro dia do casamento.
Que ela preceda e s ig a as vossas refeições.
Que a acção de gra ças sub a até D eus que
fez as alegrias sentimentais e sensíveis do
:roo · A Intimidade Coujugal

amor. Que· o t eu Fiat em fa c e da provação


indique a t e u marido as vias da submissão
� e da aceitação . Que a comunhã o frequente,
• a té i qu o t i dian a , nutra a tua vida sobr ena­
1

� tural, o teu amor de Deus e do próxim o .


De�de o s primeiros dias do matrim ó nio ,
nesse momento em que as tuas sugestões
serão tão fàcilmente acolhidas , fun da no lar
o c l im a s obr enatural , tomando tu mesma a
initiativa de pôr em prática, simplesmente,
s em b eatice mas com convicção, os actos
religiosos que o criam . Ao mesmo tempo ,
s ê boa esposa ; teu marido amar-te-á mais
a ti e à tua piedade que te faz melhor.
« Creatura ador ável, escreve um marido
acerca de s ua mulher , cuj os o lhos nunca
vi sem ternura e os lábios s em sorriso ))
( Belaigue ).
Esforça-te por s eguir este m o delo .
C o n s e l h os a _u m a mie

< Paz' e filho devem encontrar ttuma mesma


jessoa a esposa e a mãe que reivindicam com

ipal excluslfJismo ».

CENDEU-SE vida .
A
a centelha da
O grão maravilhoso ge r min ou . Esta
get mi n ação misterios a opera-se, con­
t udo , ainda em segr edo . E m breve a rapa­
riga s er á m ã e . . . Outros lhe darão conselhos
de higiene e puericultura. Fiéis ao nosso
programa, não falaremos de maternidade,
senão do p o nto de vista conj ugal.
Tornar - s e mãe, que gr ande obra e nobr e
missão l É ass egur ar à Cidade terrena as
novas roesses s em as quais não poderia viver
nem perdurar ; é colaborar com o p rópr io
Deus na creação de um ser humano, esse
vivo eterno, que na da mais , nem m es m o a

morte física poderá destruir ; é erguer a


única o bra rigorosamente imortal que um
A Intimidade Cot1jugal
Iu
- 2--------�-----------------
0�

tra b l har n a e
h o mem p o de r e z r ; é xt en
ali a �
de D e u s q ue a o s e aume n ta...
n_
s ã o do r eino
- � r p o r no vo s b a p t1 sm o s e n
'
a na o s e . o '\Tos
d
.

ele i tos . Se r mã e , é . i p o s c um pri r um a gran


e r e I r. gi o s a. e
mis são s oc ial
É tam b ém utn a missã o p esso al dign a de
r e l ev o . Nad a amad u r e c e tant o o es p o so e
co mo a p aternida de e a m at ern
esp osa
a

d ad e ; nada é u s scep í e
t v l de p r o v o ca r tão
i ntens am ente, tã o p r o fundam en t e , tã o ra di
­
calm ente, tão com p l etament e a p l e n a r eal i­
zaç ão m útua dos cônj uge s . Pat er ni dade
e matern idade cavam o cor ação h um an o
'
faz em brota r nas centes p r o fun das , faz e m.
nascer nele , com inigual ada int e ns idade

s en timentos novos d e dedic ação e -gen er o-


sidade ; avivam o s entido das r espo nsab ili­
dades , aumentam in t e r e s s e prestado à
o
b o a marcha s o cial da cidade e a nós mes­
mos o brigam-nos a praticar, para as pregar
aos nos sos filho s , as virtudes que até lá
não hav íamos cultivado s empre com grande
assiduidade.
�-Se a dmitim o s que o s er humano se huma­
nisa e enriquece , não na medida em que
O Livro da Esposa 103

aum e nta o s eu c on forto e ego ís mo , m as


na me d i d a em que cr esce em d edicaçõ es
e r e nú n cia , to rna- se evi d en t e qu e , p Qr um

111eca nis mo tã o instint ivo com o .maravilh o so,


a pat e rni da de e a m at er n i dad e são, nes te

mun d , fac tor es de enr i q u ecimento human o


?
.
-e esp1�1t ual . Po r i ss o , s em el as , u m matri­
m ó n io n un ca realiza ple namente as suas
i
possibil da d es totais d e vi da e plenitude.
Q u e o br a mais séria, mais apaix o nan te
par a u m coração vi ril do que a e ducação
d o s filhos, a formaçã o de home ns, verda­
deir amente dignos deste nome; um Nunál­
vares, por exe m plo ! Que horizonte de
ternura para uma m ulher, que des.dobra­
mento das suas riquezas nativas de de di ­
cação , ter filhos e filhos numerosos ! Um
marido, muito bem ; um m arido e fil ho s ,
infinitamente mel hor. Fala-se muito de
• recalcamentos s exuais • ; mas quem diria

o que p or aí vão de recalcamentos das ten­


dencias mais profundas e mais nobres · do
coração humano, p ela recusa sistemática e
voluntária da p a t er nidade . Um m arido que
quer a verdadeira realização e p lenitude
A Intim idade Conjuga l
104
-- -

qu e q uer de s c o b r r · e fi
da sua m ulh er , a z er
- o , do
se u e s p í r it o
j o rr a r do seu co
:
raç a
o re c u r s o s hu m n
do seu co r p o , to do s � a o
ae ; u m a mu lh
latent es , dev e faze-la m er u e
quer v er dadeir am ente. faz.er s u r gir da alqrn a
a s p r o fu n d o s r c
e ur s o
de seu mar ido os m 1 . s
to r na - lo pai.
,

criad o re s, de ve

Rest a ago ra que a mate r ni dade , s ob


o
. 1 nã o é toda van-
.
p o nto de vista CO�Juga
tagen s ; tem também algun s i n c o n v enie n ­

tes . Um a es posa verda deira m ent e c r i stã


procur ará reduzi-los , o mais p o s sí v e l
A gravidez é , p or vezes , ocasião de diver­
.

sas co ntra riedades que influenciam natural­


mente o carácter feminino . Um marid o
delicado suportar -lhes-á a r epercussão com
paciência. É precis o ainda que a espos a não
se deixe abater . Tem que a c e i tar cora osa j
e valorosamente, os incó m o dos inerentes
ao seu estado e não far á s ofr e r os que
1 vivem na sua companhia. Ao invés de certas
! mulheres qu e , em d e t er m inados m o mentos�
se abando nam aos seus c a p r i h o s , fantasias
c
O Livro da Esposa

esecr eta pr e gu iç a , qu e , por falta de d o mí n i o


de s i m e s m as , d e d is c i p l i na de vo n t a d e e, n o
fu n d o , d e e d uca çã·o , se to rnam extr av agan tes
-

e i n s u p or t áveis , m os trar-s e -ão antes coraj o ­

sas e en érgica s . É no in t eresse do s eu l a r ,


.

da s u a p r ó p r i a f elicid a d e e do peque no se r
qu e tr a zem e m si e a o qu al t an to b em
j
des e a m
Q u an d o a grav i de z s egue o seu curso
.

normal , p.ão há qu al qu e r o bstác�l o médico­


ou m o r al à continu aç�o d as u niõ e s co nju­
gais ; � é p ara d e s ej ar que dim i n u am nos
três últimos mes es , para cess ar no último.
A m e s m a abs tenção se im p õ e com um rigor
abs oluto , nos d ias que s eguem imediata­
m e nt e o parto . O r ecomeço , particul ar­
mente mo d e r ad o no início , não deveria
muito fazer-se, senão ao fim de al gu m a s
s eman a s

es p osa, o
.

A coragem d� durante par t o ,


o afecto delicado e carinhos o d o marido
nestes m om en t o s , a compaixão pelos sofri­
men to s da sua mulher que viu e partilhou
com ela, são ocasiões p recios as para aum e n ­
tar a estima e o amor mútuos ; amam-se
A [1Jtim idade
Cottjugal
IOÓ

. e s t a m a t e rni -
e
mais : e I a p o q
r u e lhe de v
.
ela o t o r n u pa i ( I ). Mui-

dad e ele p or q u e
am ent ao c o n s ciê n cia ,
t os h
o me n s to m ar
elaçã o , d a s u bl Im' 1d . ad e d o
com 0 n u ma re v
d o s e u he r o1, sm o , d a _g ra n -
pa pel fe m ini n o e
r de e d a o b ra c rea d o ra
dez a da mat e nida
ais .
r ealizada pel os p .
Ma s , diz-s e : « g erand o
um filho , o esp o s o
gera um riv al » . Esta afir ação , q u te m os � e
d e reba te r , most ra u m p erigo . A m ulh er é
espo ntân ea ment e mais mãe d o que esp osa.

(I)O parto n um a m atern id a d e pode s er necessário


medicin alm ente ou familiarm ente ; m a s, s ob o p onto .de
vi s ta co nj ngal e moral, é pr�ferível na p r ópri a casa. Com
efeito, n ada mais para d e s ej a r do q u e o m arid o ser tes­
t e m unh a dos sofrim entos de s u a mulher, poder fácil e f:r�­
quentemente fazer-lh e· companhia, passar os s e rõ s junto e
do leito da part uriente. Pode s u rgir n este mom ento uma
nova e m aravilhosa intimidade espiritual, favorecida p ela s
circunstâncias e pelo clima sentimental p ro pí ci o. Iiã tam ­
bém, nesta in ti m i d ade , uma influência b enéfica s obre o
moral da esposa. Evita-se que o marido seja tentad o a ir
pas&ar os serões fora . . . S u s cita - s e , enfim , o encanto e a

al egri a dos outros filh o s. Um nascimen to d eve· ser uma


festa de� . .famflia, uma ocasião para estreitar a i n ti m i a e e dd
os laços fam.i liares. O s eu lugar natural é n o meio fami ­
liar. Só a necessidade d e veria �onstranger a o parto nas
ma ternidades.
O Livro da EsjJosa 1.07

Po r iss o , cor re o r isc o , s e não toma cui­


'

dad o , de e s que c e r um p ouc o o mar i do , p e n


s an d o de m as iad o no filho . Deve vigiar esta
­

t en dê nc i a , s e a n ota em s i . A rn at er ni d ade
não d eve sub stituir o conjugal ; a mãe não
dev e deixar pe s er esp osa.
Deve d i latar as pot ê ncias e multipl ica r

as riqueza s do seu coração para amar, com


semel hante ar dor os filho s de s e u marid o e
o pai de s eus filhos. Ser mãe, é alargar o
co ração , aceitar novos deveres , mas é, tam­
bém , ver j o r rar as fontes de novos dons ;
é viver intensamente novos sentimentos ,
praticar novas virtudes . Torn a da mam ã ,
a mulher velar á por ficar esposa e cercar
s eu marido de tanta ternura e calor como
dantes .
Do m esm o modo que muitas maternidad e s
desenvolvem e enriqu ecem o s,en time nto e

o am or maternos, -- quant as mulheres fize­


ram esta experiência, j ulgando a m ar total ­

m en t e o seu p r ime iro fil ho c viram , a cad a


novo nascimento, alargar-se, intensificar-se,
aumentar a sua capacidade de am o r ! - é
também necessário ·que o amo r conj ugal
Io8 A J,timidná1 Conjugal

cr�sça p ar al e l am nte . Muit as m ulh er es n ã o


e
conheceram a pl e n it u d e d e al egr ia do amo r
c o nj ugal , tan to s e n t i m e n t a l co m o fí s i co,
senão dep o is de u m a ou duas ' m at er nid a ­
des. Po� isso o amor vai-se apr ofun dando
igualmente. casar-me julgava am ar
« Ao
total mente o meu marido ; v ejo ag or a que
s e p od e ama r �ais ainda ; am o- o cad a v ez
. mats » .
.

Não deve cair tam b ém n o excesso oposto :


mostrar-se melhor esposa q u e boa mã e .
A vi rt u de encontra-se n o meio : tã o boa
espo s a c omo boa mãe. Este equilíbrio
exige alguns s ac r ifíc ios imp õ e constran­
,

g im e n to s tanto à mãe como ao pai, pre­


ci s ar á de algumas experiências e tentativas ;
em todo o cas o , p o r á à p r o va a d ip l o m a ci a
fem i n i n a.
É evidente qu e a mãe deve amamentar o
filho. É o que p ed e a n atur e z a e a e x p e , ­

riência prova que as crianças, alim entadas


ao p eito são mais fortes e resistem melhor
às doenças infantis . De resto, a composição
do leite m aterno é
perfeitamente adaptada
às necessidades da ·criança, Nenhum outro
O Livro da Esposa IQ9

aleitament o tem o val or deste, embora deva


supri - lo p ar ci alm ente, p ar a perm itir prolo n ­
gá-l o . O alei ta m ento materno acarr e ta, sem
dúvida , in egáv eis s er vi dõ e s, s ob o .p onto de
vis ta da l i b er dad e , sobre tudo, mas tamb é m
s ob o p o nto de vista fí sico , po r v ezes. Mé!-s
o fer ece uma utili dade e vantagen s n ã o m enos
in egáv eis . Ben efício físico para a crian ça,
como acabámos de ver ; para a mãe tam­
bém , quando de boa saúde, porque o alei­
tamento favorece o restabelecimento dos
órgãos genitais internos. Benefício de inti­
midade conjugal igualmente : que estima,
que r espeito e que aumento de amor,
não tira o marido delicado da - contempla­
ção da sua mulher, tão devotada ao filho
comum, tão esquecida de seu bem estar e
da sua lib erdade, tão generosa em cumprir,
com solicitude, todos os dev eres maternos !
O matrimónio ganha, enfim, em moralidade
e valor hur.aano ; os cônjuges subordinam

o seu bem ao da criança, aceitam por ela


uma disciplina que contraria a sua liber­
dade de movimentos. O lar pagão vê no .

filho uma riqueza ,em proveito do pai ; o


IIO A Intimidade Conjugal

lar cristão p õe os pais ao serviç o do filho.


É um benefício humano e esp iritual, p o rq u e
o valor dos s eres human os m ede-se nã o
pelo egoísmo mas pelo devotamento e cap a ­
cidade de renúncia.
Esposa e mãe, a mulher encontrará, no
matrimónio, este alargamento e aprofunda­
mento de si mesma, que é um dos s eus fins
providenciais ; boa esposa e boa mãe a um

tempo, prop orcionará ao marido e aos filhos


essa realização plena de si m esmo s , que é ao

mesmo tempo que a maior obra humana, a

sua missão d i vin a neste mundo.


A e sp i ri tu a i izacio do a mor

« Se11' amo-r rue a diriJa, a sublime, lke


til todo o sentido, a Ntt.ião dos corpos
se�t

nü jassa da cart.'catura do fUe deveria ser,


wna fttn;ão que se exerce no vazio ,.,

( CHRlSTIAN )

c .4. 1astidade conJuKal reside, não niJ rlu­


jrnll tia &4rn� em pro'Deito da alma, mas 11a

«dD}f� da &arn.e j61a mesma alma :&.

( THIBON )

5 satisfações da carne tem, sob ponto


A de vista conjugal, um papel assinalado
pela Providencia : intensificar o amor
mútuo dos cônjuges, que as experimentam,
e um a o outro as devem. Podem satisfa­

zer a est e fim admirà velmente, mas, se nã o


tomamos cautela, podem também corrom­
per, degradar pouco a pouco o amor, alte­
rá-lo e fazer com que se transforme em
�oismo. Basta constatar quão ràpidamente
II2 A In timidade Co11juga/

s e extin gue o fogo dos amor .


es c ar n a i
s , em
tantos lares , como em m u i t o s rom a n ce s
. que
pintam a vida de manei ra a f a ze r v e r q ue
_ as
alegrias da carne , mesm o I nt ens as , n ão ba ­
s
tam , por si s ó , para assegurar a p er e ni da d e
do amor . Para que per dure e a u m en te, é
precis o espiritualiza r os ar d ore s d a car n e.
Dissemos já corno os i nstin to s h u m an
os
bons na sua forma essencial , têm fà cil m en
t �
exigências excessivas . Não estão e spo n
tâ.­
n eamente coor denados nem hierar q uiz ado s
e ntre s i ; desviados p ela c o ncu p is c ê nci a só ,

proc uram a satisfação individual , não se


im po r ta n do com mais n ada. Fà cilmente
s e mostram insu b mis s o s à r azão e à alma .
E mais q u e os o utro s , o instinto da carne,
porque os prazeres são mais intensos e,
por consegu inte, os desejos mais vivos.
Se nos descuidarmos em es pirit uali zar
este ardor dos s e nti d os , por um esforço
constante, num amor de alma e coração ,
a pouco e pouco ir-se-á originando o estio­
lamento e a mo r te do amor. Na medida
em que a união deixa de s er « dom » , para
não passar du ma <• p osse » , na medida em
O Liv·ro ia Espos11 1 13
- - · ·-

que , n a orquestração do amor , as notas


carnais do prazer p essoal são postas em
primeir o plano , p ro curadas em primeiro
lugar e dominando assim as notas psíqui­
cas do afecto e do dom de nós mesmas ,

nes s a medida, o a mo r começará a enti­

biar-se, até m ort er , p or fim. Nenhum acto


-de união é plenamente enriquecedor s enão
quando t em integrados em si, no s eu lugar
c segundo o val or r espectivo , o fer vor do

co ração que s e dá e bus ca a felicidade do


ser amado e o fervor dos s entidos que pos­
suem e s a b o r e ia m o prazer mútuo.
Nos cas o s em q ue o f er v or do coração é
s ó e �dominante s em que o s s entidos atinjam
a s ua s atisfação total, a união salvaguarda
-a· sua hierarquia essencial tnas não atinge a
plenitude pr ovidencial de efic á c ia : é uma
deficiência que é pr eciso r emediar , ta nt o
quanto p o ssível . Nos cas os em que o f-e r vor
do s s entido s , p elo co ntrário , prima sobre o
- fervor do c or aç ã o, a união perde a sua hie­
rarquia essencial e co nstitue u ma desordem
humana. Mais ainda : provoca e precipita
··uma decadência do amor e vivifica, ·aumenta
A Intimidad, Conjugal

o egoísmo ; p or isso , esta atitude, tornada


h ab itu al , arrasta pouco a p ouco,.,.m ediante
um processo psicológico inelutável, à inten­
sificação do egoísmo e, par alelamente, à
� morte do amor. Onde o fervor dos senti­
; dos r eina soberano e onde já não arde
'

' qualquer fervor do coração, o amor está


m oribundo : não há mais que egoísmo.
O acto de união , comportando notas do
coração e n otas da carne, implica, poist'
s egun do a maneira de as fazer vibrar, fac­
tores de enriquecimento e intensificação do
amor humano ou, ao contr ário , factores de
avptament o , decadência e m orte. Se a alma
in s p i r a o corp o , s e o amor psíquico int en s o
excita o amor físico , para se fazer t ot al e
mais elo quentem ente se manifestar , se o
amor dos corações é a melo dia fu n d am en ­

tal e o amor dos corpos o acompanhamento


que a sublinha, e n t ã o o acto de união é
,

huni'ano e atinge o s seus fins de r eal i zação


e plenitu d e mútua : e n r iqu ec e e intensifica
o amo r dos esposos . Se, ao c o ntr ár io é o ,

corpo que d o mi n a a alma, se o prazer se


torna o tema essencial da melodia e o dom
O Li'l•ro da Espo5a
-�---- l.IS

das alm as o a c o m p a n ha1nento cada vez ma i s


t é n ue , e ntã o , po r qu e o pr az e r as s enta numa
b as e d e ego í s m o s o b r e t udo o acto de união
,

d e ixa de atingi r o s s eu s fins pr o vi d e n ciai s ,


o am o r a f a s t a-s e , as a hnas e n terr am s e e o -

egoísm o , d e m ó ni o d o amo r , triunfa. Quem


.
.. . .
o u sa r i a n e gar que e s t e per igo é de temer ,
' '

mes mo no m u n d o fem inin o ?


A esposa, par a « salvar a sua alma » , para
s al v ag u a rd a r a sua d ig n i d ade e progresso
espiri t ual , p ar a salvar tan1bém o amor, deve
velar p o r essa es p iritu al ização. Tome t e nto
e m não p r ocur ar e p e d ir a u n i ã o , e xclusi­
va m ente e s obr etudo , po r fins p essoais de
vrazer ; s em os p ô r d e p arte, esforce-s e p or
desejar e c o n s umar essa união, s o b r etu d o
por dom d e amor, p o r afe cto e para tornar ,

feliz o seu marido . Trabalhe p or hierar­


quizar ins ensivel m ente o amor, por colocar
em s eu sítio, s egundo o val9r r e sp e ctiv o ,

cada uma das n o t as da melodia amorosa. Is to


não sig n ific a de tno do algum que s eja neces­
sário c o n s er v ar nos momentos de u n ião na ,

ocasião do 4rdor dos sentidos, o pleno « con­


trole » e um impossível auto domínio. É por
116 A Intimidade Co11jugal
---------

u m pro c e s s o in dir e cto que s e ch eg a a espi­


ritualizar o am o r : p ela int e n s i ficaç ã o hab i­
tual , consc iente e volun tár ia, da � notas d este
afect o , ternu ra, dom de si, a1nor psí qu ico.
O tom do acom panh am e nt o carnal é da do
pela natur eza : é in oport uno faz ê-l o baix ar.
Mas pode inte nsificar-se a pu � eza e son o ­
ridade dos so ns d a melodia psíquica a qu al
dep end e da nossa von tade .
São estas as co ndições que perm ite m
in tensificar o a1nor, as condições d a sua
permanência e salvaç.ã o. « Do prazer , s ó
há u1na co.i sa boa : o ante-gosto , a espec ­
tativa, a ideia que dele fazemo s . Tudo o
mais me deixou s empr e insatisfeito. Há
ho r a s em que me sinto desesp erado, des­
go s t os o, a tal ponto que me par ece banal
e se me apresenta s empre idêntico e monó­
tono . P odeis encontrar mil variantes no
) amor. Se não é enobr ecido., tr ansfigurado
por uma ídeia gr an d e pelo p ensamento de
,

criarmos um ser e de nos ligarmos de corp o


, e alma a uma pessoa, se não s e transfor ma
\num símbolo , quase num gozo do espírit<?,
o amo r , amor físico, é, a meu ver , o ID:ais
O Lmo tia Es.11Jsa UJ

bel o l ogr o , o mais belo engodo em que os


homen s po d em cair J) ( Van der Meersch ).
�a\ss im pois , o cat licism o , que não admite
o
o aban do no à p aixão , qu e impõ e aos s e nti­
dos uma dis ciplina, que exige ao instinto
que s e po n ha ao serviço do a mor salva­
guar da , n ão somente a dign idade do hom em
,

e a p e r man ê nci a do amor, mas ainda o reju­

venes cime nto das suas próp rias al egri as


_\ do ut rin a cristã p r ova n este d o mí nio
.

como em ta nt o s outros, o maravilhoso equi­


,

líbrio d o s seus p r in cí p i os e da sua adapta­


ção adequada à natureza do homem. Os seu s
ensinamentos sobre o amor conjugal parte
de uma p sicol ogia p r ofun da e perfeitamente
exacta, não o colocando nem na recusa
efectiva do dom carnal o u n uma repugnân­
cia puritana, nem na busca calcul ada e, por
assim dizer, científica do aumento do pr azer
sexu al, mas na intensificação das n ota s psí­
quica s do amor, ao m esm o temp o que acen­
tua o afecto e dom de nós mesmas que
enobrecem a uniã o da carne e a s atisfaç ão
tios sentidos.
Pa r a a l ém d o insti nto

É necessárt'a uma t'molação recta e

subt"fú­
«

fraw.ca, à luz me,·:'diana, .rem

fios, nem compensações e9uívoca.r .. .

{ THIBON )

Amar f!Utt· dizer estar p,-onto para t1

saçrifkio
c

( ALLif.RS )
».

espiritualização do amor, tal como a

A encarám os no capítulo an tecedente,


está ligada com a realização da união
conjugal ; pro c u ra , mediante uma síntese de
to d os o s elementos constitutivos , ao m esmo
tempo harmoniosa e reveladora, fazer dela
um acto plenamente humano ; e sfor ça-s e por
<:onseguir um amor co njugal perfe ito.
Ao contrário, a sublimação do instinto
de que vamos falar neste capítulo , supõe
I

a abstenção das relações conjugais, a co n-


120
�4 Jntimitlatie Co-Jtjugal

tinência ; é u,m meio d e ca nalizar as fo rças.


e tendências dispo níveis do in s t i n t o , s e m
r ecorrer a i ni biçõ e s físicas o u psíqu icas
positivas, a recalcamcntos viol en t o s ; p r o ­
c ur a resolver, duma. m a n e i r a r el ativam ente
calma, o c p nflito s e1npre ameaçador e n t r e
,

as p r op e n s õ es instintivas e a sua necess ária


s�tisfação em c e r ta s cir cunstélncias dadas ;
orienta para fins m a i s alt o s , para um a util i-
zação mais elevada, as forças não utiliz a-•
.,

das do instinto ; não s e refr eia s ü bita men te


perante o obstáculo , m a s contorn a-o , o u
m elh o r , es força-s e p o r s u p erá-l o .

Na vida conj ugal , h á p eríodos de dura­


ção variável , em que a continência, por
diversos mo tivos segundo as cir cuns­
e
tâncias , é de aco nselhar o u se ünp õ e abs o ­
lutamente.
Não nos referimos aqui às seis se1nanas

que seguem o parto o u aos p er í od o s men­

sais de indispqsição feminina. Or dinària­


mente, nestas alturas, o desejo de r e l açõe s
é mínimo na mulher . O obstác'Ulo, abs oluto
O Livro da Esposa 121
------- --------

our e lati v o , que nós encaramos, p o d e ter ori­


gem n o s p r ó p rios es po sos : perí o dos de fatiga
ou d e doença de um d o s c ônj uges , e s ta d o de
pro s t r açã o física o u n er vosa, doença do cora­
l

ção , s eparaçã o fo r çad a p or motivo s de .tra­


balh o o u de n eg ó c i o s , vitalidad e d im i nuí da
dum m ar id o muit o idoso , etc. . . . Este obs­
tác ulo p o d e nasc er também de dificuldades
ec o n ó� icas grave s ou de ris cos s érios , que
faria cor r e r à s aúde fe1ninin a uma n ova
�ravidez .
Esta c o n tinê ncia forçada é e n car a da pel os
e s p o s o s duma maneira diversa. Acham-na
fácil ou difíciL, s egu nd o a . sua atitude e1n
.

face do prazer carnal. A atitude masculina,


neste cas o , é sensi veln1 ente uniform e e -feita
de alta apreciação, enquanto os s e n timentos
feminin o s são .muito n1ais divers o s e c heios
de tonalidades : vã o da p aixão ar dente à
estima real, da atracção mo derada à indi­
ferença, à tolerância, às vezes até ao abor­
recimento e à repulsa. Certas esp o s a s ligam
uma importância medíocre ao elemento físico
das relações conjugais : basta-lhes e satisfá­
--:-las plenamente o amor sentimental.
122 A ltttimidad� CoNjugal
--- ---- ------- ---- --- --- - -

Concebe1nos agora que o probl ema da


c on tin ência levante dificuld ade s de i nt e n ­
sidade variável, s egundo os temperam entos
e o s psiquism o s. No s cas o s d e tibieza ou
de frigidez não s e põe, a bem dizer, pa ra a
mulher, nenhum problema de sublimação
do instinto ou, se acaso surge, reso l ve -se
com facilidade. Co ntudo , esta vantagem é
contrabalançada, pois que a e sposa, nas
horas de união, terá de se vencer , para
r ealizar generosamente o dom de si mes m a.
A necessidade de s ublimar o instinto e o

méto do a adoptar para o conseguir inte­


res s am s o bretudo às esp osa s que só dão
valor aos elementos s ensíveis da união .
Não há dúvida que a maior parte d e l as
apreciam , acima de tud o , as alegrias sen­
timentais e p r o cur am , até na u nião c o n ­
jugal, a v en tu r a d e to r n ar e m alguém feliz e
de se s entirem amadas . No entanto, porque
co m p r ee n d r a m o s entido enriquecedor do
e
d o m carnal, a m a m o amor integralmente, e,

p ar a isso, devem saber como agir nas h�ras


em quea continência se impõe como neces­
sária ou bastante p ara desejar. É a estas
O Livro da Esposa I.23

es p o s as e a elas s ó qu e se apli c am os c o n ­
s elhos que van1os ler (1).

Em p r i m e ir o lug ar , impo rta saber, d es d e


o iní ci o do c asa m en t o , que o problem a da
c ontin ê n cia , abs ol ut a o u relativa, se l h es
h á - d e p ô r c e rtam ente um di a, no lar.
Ordi­
nàr iam e nt e , é im posta por um motiv o de
saúd e fem inin a ou p ela falta de recursos
econ ómico s que tornam conveniente uma
maior intervalação dos nascimentos . É pru­
dente, p o is , prever esta eventualidade pela
organiz ação raci onal da vida sexual no casa­
m ento .
Há duas soluções possíveis : a p rimei ra ,
gozar e s aciar-se o mais po ssível, ceder
a to dos o s impul?'OS do instinto, buscar
m esmo todos os condimentos possíveis e

excitant e s artificiais do desejo. Esta solu-

(1) Para as outras, desej aríamos recordar-lhe� q u e


devem facilitar a continência ma sculina quan do as cir­
cun stâncias o exijam. Devem ter em conta que, s e as

ternuras exageradas as deixam p esso almente insensíveis


no d omínio dos sentidos, não sucede o m es m o seus
a

maridos que reagem m ais inten sam ente. Sem suprimir


os testemunhos de afeeto, devem saber p Or n eles a reserva
necessária.
.A bttlm idade Co11jugal
124-

çao e fa l h a d e pru d ênc ia1 , evi d entem ente . . •

p a x a o vr� .:nt a q u e o rigin a


_ ,

t
.
. _

prep ara , pe l a
e alimen ta, dific ulda de s s e t Ias par a o fu t ur o .
Não se p a s s a, fác il
: espo ntft � e am e n t e , d o
a um gen e r o el e v
luxo e d a abun danc t a i da
es tr.eit o e lin1it ad o .
.A. outr a soluçã o , verdad e jra m e n t e sã ,
.consiste em adopt ar d e
c o m u m a c or
do,
desde os prim eir os e m os do t p m atrim ó- .

rÚo , uma a t u d e de moder a ção s exual.


it
To davia, q ue a esp o a compr een da b e m
s
0 no s s o pensan1ento . Não retr ata m o s de
m o d o algum o s con s elho s da d os pr ec ede n­
t me nt e s o bre a lealdade , o cal or , a gen e­
e
ro s i da d e co m que d eve r ealizar o do m de
si mesqta . Desejamos v ê-la camin har , ju b i ­
losa, par a o hiineneu .
Mas que os cônjuges e a e sp o s a em

particul ar, evitem tudo o que 'Yxcitar arti­


ficialmen te o desej o . Muitos r ecém -casado s,
na esto nteadora surpresa das d e sc o b e rtas
opera das em novas t err a na sua avidezs,
de gozo , e s tão à sprei t a de t u do o que
e
possa avivar , espicaçar incans àv elmen te
o desej o : s er ões m1-1nd anos , espectáculo$
O Livro tia Esposa
----�---

excit�n tes , r e vi s t as p ouco d e ce n t es , leitu­


ra s pi c an tes . . .
Se b e m r �fl ectimos , co n s t at a m o s que um
gr ande nú m er o de diversõe s m o d er n as não
t ê m e m v ista um a s ã di s tra c ção do espírito,
um a agr a d áv e l e n ec e s s ár ia distracç ão , mas ,
e 1n r ealid a de, t o do s e s t ão or ientado s para
avivar o d e s ej o . « Quase todas as compli­
caçõ es , . que servem de i n t rig a aos nossos
autor e s , r e du ze m - s e ao esquem a monót ono
dos « ar dis » util i z a das pela paixão , a fim de
s e ir al im en t a n do » ( D e Rougemont ) .
_;\ ·ver dadeir a prudência co njugal suger e
aos cônjuges que evitem , de comum ac o r d o ,

os excitantes factícios e artificiais do ins­


tinto ; que instaurem , desde os p ri m eir o s
tempo s da s ua vida em comum , um ritmo
de r e la çõ es tal, que tenha bem em c o n t a as
exigências espontâ neas do i n s ti n to e n eces­
s idad e de se manife stare m a mútua afeição ;
mas não e s queça m tàm b ém uma pr udent e
mo d er a ç ã o - e uma dis ciplina r azoáv el dos
1sentidos .
.
.

E assim , n os d1as em que, ma1s tarde , se

im p oser um a continência mais estrita , as


A Jntimidadl Conjugal

almas não s e s ent i rão tom a das de imp r o ­


viso , nã o irão a dop ta r in c ons ide.r ada men t e
e sem p reparaç ão algu m a, u m
a a titude no v a ,

m as p o der ão apel ar par a as res e rvas , já exis­


tente s de au todis ciplin a e de d omí nio do
instinto.
Fàcilmen te ._ s e com preen de que a atitud e
recom endada aqui é a única conforme às
leis duma sã psicolog ia e duma previdên cia
avisada. U ma vez mais , reco nhec emos · ·a
prudência da Igreja cat ólica que, em todos
os domínios da educação , pr ega a opor­
tunidade e n ecessidade duma certa mor­
tificação - base indispensável duma vida
equilibrada.
Mas eis chegado o momento em que esta
continência mais rigorosa s e imp õe p or
qualquer dos motiv os considerados acima ..
Como consegui-lo ?
Em primeir o lugar olhemos a r ealidade:
bem de frente. Este probl ema não tem
solução fá cil , espontâneamente har mo n iosa ,
entre os desejos do instinto e os imp erati-­
a obedecer às exigên­
vos da razão f or çada
cias da saúde feminina ou masculina, às
' O Liwo da Esposa
-------

poss ib ilida des econ órnicas ou edu cativas.


Isto nad a tem d e extraor dinário . É es ta
i
a co n d çã o hu m ana em todos os domínios
, . ' . '

eco no mico, político , inte rnacional ; as s olu-


ções humanas são so l uç õ es de esforço e
não de a bandon o - soluções dinâmicas a
dirigir e reajustar perpetuamente e. não
solu ç ões es táticas de preguiça e indolência.
O mesmo se dá n o domí nio sexual .
Enquanto a abstenção s e impõ e , a única
solução coerente do problema posto aqui
é unir a continência psicológica à física,
completando-a por uma utilização adaptada
ao carácter feminino dos recursos do orga­
nismo que ficam assim disponíveis.
Em to dos os domínios, quando temos que
ultrapassar um obstáculo, é de m á po lít ica
desanimar, deixar invadir o campo da cons­
ciência p or rememorações sau dos as , tão
amargas como estéreis, dos temp o s em
que estas dificuldades não existiam. Estas
reminiscencias não resolvem nada e con­
tribuem para roubar à alma a energia
necessária para vencer as dificuldades pre­
sentes .
njugal
-- .A
---- Jn ti m iáll dt Co
--
- -----
12�8--------���------
sp ír ito as al eg r i a s p
o qu e 1 e v rv,.e e n1 e as ...
1 o n gamen t e, r ev
·

.
_

o I ..
r en1emora
sadas , e as .
o m este
o bté
ta -s.. e C o n t ra
jej u m p
Im st o o e
1 e t ri s t e z a . Asst·rn
·
d certo . d esá n im o
·

r es u ta o
·

ar e m p .e n s ame n to o s . p r a z e�
·

tatn b e, m sa b o r e
r es d a n tim a d e c onJ uga l , rec o nstituí-los
i id
ar a aca b ar p or t e r
p
eni imaginação
, de
reje ita r , n o últi m o a s u a s at is­
.Ino n1ento,
façã o co mpl eta , eq u1 vale a ag ra v ar as difi­
cul d ades da vitória a obte r s o b r e s i m esmo
e a t orna r n e c essárias inibiç ões ain d a m ai s·

ené rgic as." Esta estratégia é , p ois , i n defen­


sáve l, vis t o que acaba por aument ar o s ob s...;
táculos que é necess ário , a p esar d e tu do ,
• ._r

superar.
É mais pruden te, portan to , orien tar nou ...:
tro s enti o ,
d desde e s bordamento
o início , o
de fo rç as psíqu icas e física � . Nos dias em· ,
que a absti nênc ia c o nj ugal é desejável e
nece ssári a, colo que- s e um guar da atentó �
nas sen das do evi tem-se o s pró dr:o.,J
des ejo ,
mos psic oló gico s nor mai s . Não som e nte,
há nece ssidade da abs ten ção de tud o o
que! fun dam entalm e nte ,
nã o pa ss a de u111
�xcttante artifi
cial d as paix õe s, « dan cings. » ,
O Lí�.1ro da Esposa 129
..

cin emas , l eitur as s ensu ais , teatro s e tr e­


cho s de músic a de um ce rto género , mas
ainda de e vit ar to dos os gesto s que cons ­
tituem as p r em issas no rmais da ecl os ã o
d o dese j o : b eijos apaixo nados, carícias
íntim as.
Estas r estr iç õ es s er iam talvez mais dis­
pe nsáve is , s e u nicam ente estiv ess e em causa
a esposa. Para ela, o atractivo dominante
é s emp r e s e ntime ntal, mesmo no sexu al ;
por iss o , sendo necessári o , satisfazer-se -ia
com mais facilidade, só com o s entimento .
Quand o a sua alma es t á s aciada de ter­
nura, pode passar fàcilmente s em esse
m eio d e significar o afecto, que é o dom
carnal. Mas estas mesmas carícias que
dão à esp o s a uma satisfação quase suficiente
e suprem para ela a união . conj ugal não

passam duma prepara ção e excitant e do


desejo p ara o marido. Deve, pois , mais
p o r ele que p o r si, evitar , se não todo o
sinal d e afecto , ao m enos todos aquele s
que são de natur eza a excitar o desejo ;
e, muito mais ainda , aquel es que cons­
tituem os precu rsores imediatos da von-
.A lntim ida d� ConjtJgnl

tade de união com as suc1 s rep ercuss ões


físicas (1).
Tal é a p rün e ira atitud e de pr udên cia
a adop tar . -Pura ment e negat iva , deve s er
duplicada por u m a atitud e p ositiv a : a utili­
zação das fo rças que fi c aram por empr egar.
um ponto s abido em psico l ogia que a
É
mulher « sublima » com relativa facilida de
o dinam i smo do instinto , encaminha ndo-o
.para o bjectivos de amor e dedicação , em
primeiro lugar o am or e dedicação maternos.
Daí, o b enefício dos filhos. Quando o esposo­
es tá a us e n t e , m esm o por largo temp o , o u
quando o s eu estado d e saúde o o briga

(I} É pr e ci s o « in stalarm o-nos » na continência, dizia.


muito judiciosam ente um e sp os o. A palavra é ' feli.r; e

traduz' a id e i a . Quando, por qualquer m o t iv o , form os-­


obrigados a viver, durant� algum tempo, n a abstençã(}
de relações, deve m o s tirar daí parti d o, deliberada e deci-·
didamente, recusando-nos a al i m en t a r n a alma u ma atmos­
fera de saudades, re m e m orar, de quand o em vez, os
motivos racionais que d i ta m esta abstinência conjugal,.
n um a palavra, adoptar uma a ti tu d e nitidissim a e resolu­
Ussima. A exp�riência prova quão singularmente e�te
viril to�ar de posição, j un t o à oração, facilita a prá ­
tica da quand q e}a OU é pa�a.
desejar�
CODtinência, se, impõe
O Livro da Etlposa
--------,-�-
- - � · ---
- -· - -� -

a interr o n1per 1n o m ent a n eamen te as u niõ es ,


a es p os a , qu e é mãe, encontra junto d e · seus
filh os , u n1 d e r i v ati vo p ar a a s ua tern ura,
um em p r eg o s uav e e d oce das riquezas
af e ct i v as .
·

É ve r da d e qu e deve estar de s obreaviso


pa r a nã o a mi mar os filhos , mas , me sm o
s em o s ami mar , o cuid ado da saúde, a for-
mação da intelig ência e do sentimento, a
solicit u de mate rn a de todos os mom entos ,
basta rão muito bem para saciar o seu c o r a­
ção , p ar a utilizar a maior parte deste imenso
tesour o de t er nura que guar da todo o · cora­
ção feminin o . Sentirá vibrar , s en1 dúvida,
as pir a çõ e s insatisfeitas, �
ao menos, este
dom de si m e s ma aos filhos mais completo
que an te s , irá temperar-lhes sensivelmente
à vivacidade e prop orcionar· lhe-á uma satis­
fação r azoáv el, me.dia nte uma polític a con­
jugal inte ligen te.
Além dis s o , ness as horas em qu:e a.s

man ifest açõe s amo rosa s , estritam ente car ...


nais , o u mes mo s entim e n tais , mas polo , qe
sensual, são inde sejáveis ou contra-indica­
das, a espo sa terá o cuid ado de vincar a

132 A lntimidaá1 Conjugal

p ermanência do s eu amor por testemunhos


sentimentais de polo espiritual. Cultivará
as no tas de amizade do amor e utilizará
os factores de união e interesse comum
dos c ôn j uges. É o m omento das trocas
de impressões intelectuais, das conversas
sobre assuntos que unem o s esposos numa
solicitude externa comum, tais como a ins­
trução dos filhos , a sua educação r eligiosa
e moral, a s ua pres ervação e futúro, as
obras apostólicas ou de caridade dos espb­
sos, etc . . .
A esposa nunca deixará de s er çarinh osa
e terna, nunca r ecusará um b eijo , não evi­
tará a ternura o u as carícias, mas deve
fugi r a reforçar a nota ; es colherá, de pre­
ferência, essa espécie de atenções afectuo­
s a s que marcam a p erman ência e adoçura
do amor, sem fazer espertar m anife staçõ es
adiantadas ou íntim as demais. Manterá sem­
pre, diante dos olhos, com tod a a nitidez,
a m iss ão que tem a cumprir : aj u d ar o
marido ; mas, não negligenciando, é claro,
a parte sentimental, deve proc.urar, nas
horas a que nos referimos, àtingir esse
O Lirwo da Esposa 133
---- ------ -----

fim , no pla n o r e ligio so , espiritual e int e­


l e ctu al s o br etud o ( 1 ).
S e a d e dicação e amor de mãe lhe deixar
te m p o livr e em casa, deve praticá-los fora.
Tantas obras que solicitam o e mprego b ené­
fic o das s ua s r iqu e zas de coraç ã o : cr eches ,
ob r as inf antis , obra das mães , auxílio aos
órfãos , aos v e lhos , aos do entes , socorros
de to d o o géner o às mil e uma formas da
ang ústia humana . O es quecimento de
si, a c omp aix - 0 , a p iedade, o cuidado de

outrem, os s er ços pfêstados ou a prestar
irão
·

contribuir � alimentar o seu cora­


ç ão duma m aneira bem substancial , por­
que o alimento do coração feminino não
é somente r e c e b er , é sobretud o dar .

Dizia-nos muito j udiciosamente um esposo : «. A ver­


dadeira sublimação d o in sti n to entre esposos ê a amizade �.
(r)

Não queremos, com esta a s s erç ã o negar a importância das


notas s e n s ív e i s d o amor ; já fi c o u dito q u e o amor integral
é de c o rp o e alma ; mas, vi.5to que o sentido humano e
provid encial d o s ge s t o s d o cor:p o é t rad u zi r o amor dos
corações, a « s o norização � das notas de a � izad_: do a� or
entre espos os , constitue -a ve rd a d e i ra subbmaçao do Ins­
tint o. Dai os n o s s o s c o n s elhos nos dias em que se impõe
a conti n ên cia, para fusionar as almas medi ante t roc as espi·
,

rituais e intele ctu ai s .


A bstimidade Co 11ju ga l
4 ------------ ---- � ---
1_3_

Assim viv ida , a con tin ê ncia, long e de cons­


tituir um per igo para o amo r dos esp o sos,
fav orece, ao con tr ário , o seu desenvolvi�
menta , p ela inten sificação das notas mais
elevadas , as da amizad e. Os per ío dos de
continên cia conjugal, al t er nan do com os
perí odos de união, t o r n am-s e enr iqu ece­
dore s e hu m aniz ant es ; o amor progride,
por meio dos seus m el h o r es elem entos .
Forçando os esposos a discipli nar o ins­
ti nto a continência liberta-os do seu peso
,

carnal, das suas tendências materializantes


e fàcilmente egoístas, e ensina-lhes a utili­
zar os e l em entos espiritualizantes do am o r ,

a alimentá-lo de amiz ad e a desenvolver a


,

ternura do coração e o afecto da alma.


É para desejar , no entanto, que os espo­
sos não s ejam constrangidos a uma longa .

continência e que o seu am o r mútuo possa


testemunhar -s e, integral e totalmente, tanto
pela união dos corpos como pela das almas ;
é o caso que acabámos de analisar e ao
qual se aplica a atitude descrita mais acima.
Outros casos há, contudo, em qu e se '
impõe inelutàvelmente, a dura lei da çon-
O Lit1ro da Esposa

tinência, abs o l ut a e durável . N e st e scasos


p o d e nã o ser de acons elhar u m a abstinên­
c i a ra d ical de to d o o t e s t em u n ho s entimen­

tal, mes m o de p o l o s e nsualizante. Que a


esp osa o s e mpregue , s e é que emprega,
insistin d o , vol unt àriamente nos as p ectos
posit ivam ente a fe ctivos d es tas manifesta­
ções , nos elementos de amiz ade que co m ­
port am . A o u s ar d el e s deverão o s es p o s o s
,

observar uma certa r es er va, uma v igil â n cia


rel�.tiva d as r eações físicas , afim de evitar
que atinjam um e s ta d o emotivo intenso.
Ligarão a m áxima i n1 p o r t â n c i a à e s trat égia
d a s u b l i m ação do instint o , que d e s cr e v e ­

mos já.
Mas , n a m ai o r i a dos cas os fe l i zm en t e ,
u m a c o n t inên ci a temporária b as t a r á
para
atingir os fins de prudên cia i mpo s t o s p el a

razão . A vida c o nju gal consistirá, a s s im ,

n uma alt e r n ati va de uniões e de abstenções ,


que, m e d i a nte uma prudente disci plina do
desej o , proporcionará ao instinto uma satis­
fação suficiente e alünentará, de u m modo
razoável, o amor dos esposos. Se, nos
per í o do s de união , não se soltam as rédeas
A ltttimidad1 CoHJ"tlgal ..

.

___...__
_ -- ------ - -----

à paixão , s e não s e procuram, numa avidez


voraz , com p ensações para a temperança
passada, a difícil tarefa da humanização do
inst into prosseguirá, o amor conjugal atin­
girá a beleza total pela ordenação hierár­
quica dos s eus el ementos ; será alma e carne,
mas carne purificada dos seus egoísmos ;.
tornar-se-á fusionamento , tão p leno quanto
possível, vida paralela, tran,sfusão, osmose,
vida em unidade, de dois s eres humanos .
Nestes cimos, com p reendemos a influen­
ci3: que p o dem ter , na maturação do amor
conjugal , os p erío dos de continência e os
períodos de união ; co:t;npreendemos o papel
benéfico que p o de ter , em caso de necessi­
dade, aquilo a que, em cons equencia de
recentes descobertas , chamamos hoje cor­
r ent eme n te a « continência periódica )) (1).
Bem compreendida, tem o seu lugar , não
só na solução do problema dos nascimen tos
no lar, mais ainda n o progresso es piritual
da vida conjugal . Mas, para isso, é p reciso

(I} Duval-Aumonte. L•s pro!JUmes d1 la natalité atl


joy11'} Exposição moral e biológica. Paris. Casterm an.
O Liflro da EsjJo&a X37
-� -,.

t omá- la e viv e - la não n um sentido neo -mal­


tusiano d e eg oísmo e de reduç ão injus ­
tifi c ada da natalidade, que é nitidamente
c o nden ável, m as nu m sentido c onstrutivo
de espiritu aliz ação do amor dos esposos e
de f e c u n d�dad e racional e generos_a no lar ;
neste es pír-i to , a continência p er i ó dica tem
o seu lug�r m a rc a d o na b oa ordenação da
-vida conjugal .
A c ontinê n cia em si, inspir ada, não por
fins legí timos de espaçam ento ou l imit açã o
de na s cim e n t o s , mas por um espírito de
dis c iplina dos s entidos e de autodomínio ,
d e ver i a igualm ente t er um l ug ar de honra
no l ar , l ogo des de o início da vida con­
j ugal . To davia, deve s er d is cr eta e não
pode s er adaptada s enão de comum acordo .
Es t a con duta ajudará os e s p o s o s a conse­
"

guir o domínio da razão e da vontade s o bre


os s entido s , que o futu r o do lar r evelar á
mui tas vez es tão útil .
Espiri tualizar o am o r , sublim ar o i ns ti n t o ,
não é t a r e fa fácil. S er ia melhor passar em
silên cio ? Não nos pare ce q u e isso seja boa
tática. Pensám os, ao contrário , que esta
A lt!fimidade Co11jugal

indicação da via a s eguir para o s c im os do


amor conjugai na s ua plenitude hu ma n a e
cristã fa c ilitaria às almas de boa von tade
,

com a ajuda da graça de Deus, esta s difí ceis

mas nobil itantes ascens ões .


Pa r a q u e vibre sem p re o amor

« Nada das llumatz,zs, nem as casas,

estofos, os pra­
coisas
nem os nem as amt"zades, nem

zeres, nada é durd'Del Os


sfazem-se. A cadiZ
no abandono. leltJJ

uma t�llza, reparar


desmot·ottam-se, os amores de
instante temos
juntura, desatar
que repor
uma um mal entendido ».

« A. !Jri'ntet"ra nec�ssidaáe no casamento é


' sa!Jer amar, perdoar e compreender ».
. ... .

{ BARCLAY ) ·1

os noivos se consa­
Q
UASE todos
gra m um amor sincero e ar dente.
Mas p o derem o s dizer, 1 0 ou 20 anos
mais tarde, que estes bons augúrios tive­
ram pl ena efecti vação ? Há lares, certa­
mente e m que o amor foi s empre cr escendo .
em que ambos estão unidos até às fibras
mais íntim as do seu s er. « Julgav� amar o
meu marido , quando me cas ei. Não .sabia
A ltllim idadl Conjugal

1 o que era amar. Agora, amo -o , dia a dia,


' cada vez mais » .
Mas, a o contrário , quan tos lares d os
outros. Ao lado dos exce lent es , há o s
bons em que o amor perm anece mas s em
muita poesia ; algun s, em que reina a soli­
dão do amor na cohabitação, pois que a s
vidas estão prosaicamente ligadas pelo
hábito ; os d o l o ro s os em que um dos côn­
juges é infiel ; os maus em que os carác­
teres se chocam, em que as discuss ões e .
as cenas são frequentes ; o s desfeitos em
que os dois amorosos de outrora s e sepa­
raram, romperam a exi s te n c ia comum, se
esqueceram, ou, pior ai n da, s e o deiam. Não
basta, p oi s amar ardentemente na p ar t i da :
,

o a m o r pode enfraquecer e morrer ; deve


ser entretido e alimentado. A p er man e n é ia
do am�r no lar é , pois, um problema e um
grande pro blema.
D e v e mo s a p re n d e r a conser var-lhe o pre-
cioso sabor, e p ar a isso, tem os de com­
j>r ee n de r , em primeiro lugar , que o a mo r
não é um instinto, mas uma arte e uma

arte a cultivar cuida dosamente. c O matri-


O Livf'o da Esposa

, .
rn o n 1o t e m que r efazer-se sem des cans o.
Uma ob r a r efeita dia a dia eis o casamento
,

qu e mel hor suces so teve » ( Maur ois ).


O a m o r conju g al pode evadir s e por -

muit as fendas. Salvo casos de harmo nia


e sp ontânea , quase miraculosa, a vida comum
do c asamento oferece frequentes ocasi õ es
de d iv e r g ê nci as e portanto de choques que
poderiam, pouco a po u co ir min a n d o o
,

am o r As difer enças fí s icas e ps icológicas


.

dos s exo s estão n a mesma base das suas


possibilidades de enriquecimento mútuo ;
mas , m al manej adas, p o dem tamb ém v ir a
s er fonte de conflitos.
« Desposa-se u m n o ivo e vive-se com um
marido. Já nã o é o mesmo homem . Des- �
posa-s e uma rapariga e v1ve-s e com uma 1
• •
I

mulh er. É outra pesso a. Há no matr im ó n i o


um mom e n t o inev itáve l em que a m ul her se
ape rcebe que o amo r c o nj ugal é u m outr o '

amo r dife r ent e do am o r ( Ty n air e ) dos


»

seus sonhos de n o iva do. « O am o r e o


am o r conju gal são duas divindades , ma s
não gêm eas » ( Tynaire ). E s tas fraz es claras
e fr ancas não são par a tom ar à letr a, ma,_
A ltdimidad1 Conjugal

tem, pelo men os, o méri t o de situar o pro­


blema.
As dificuldades da vida comum provém
prim eiro que tudo da diferença d e t emp e ­
ramentos físicos. Esbo çámos m ais acima os
enriquecimentos possíveis da união carnal,
se o s dois cônjuges a vivem com inteli­
gência, compreensão, resp eito e d efe r ê n cias
mútua s . Os casos d e harmo nia esp ontânea
d o d es ejo são raros , como dis s emos. Aqui
reside um p erigo para o amor mútuo, se os
cônjuges não têm o bom senso de se faz erem
concess ões reciprocas e de aceitarem am b o s
o sacrifício parcial pela adopção voluntária
de um m eio termo de enten dimento .
Enfim, muitas causas ex t rín s e cas saúde -

feminina c o mp r o m e t i da envelhecimento per­


,

maturo de um dos c ô nj u ge s nascimentos


,

pouco intervalados, dificuldades ec o n óm i ca s


que tornam d e s ejá v el maior intervalação
nas concep ções , po dem suscitar n ovos e fre­
quentes motivos de desacordo sexual entre
os esposos. Qualquer que s eja a solução
à.doprada, .arriscam-se a abrir uma brexa no

amQr conjugal.
O Livro da Esposa

r\ difer e n ça das psicologias mas culi na e


fem i n i n a, fonte de enriquecimento, se é int e ­
ligentemente acei te p e lo s esposos· e se am ...
b o s tên1 o bom senso de fazer um e s fo r ç o
d e com pree :p.sã o e adaptação , pode ser, para·
c ô nj ug e s p ouco inteligentes, ocasião c o n ti­

n uam ente renova da de indisposições, de


atritos e, por fim, de esmaecimento do amor.
Se não há boa vontade, tolerância, e spír ito
de com pre ensão, tudo· pode ser motivo d e
di sse n ç õe s : concepções religiosas, políticas,
sociais , económicas, educação dos filhos,
gostos diversos a propósito das mil conti­
gências da vida, ritmo das compras e d es ­
pesas do lar . Na maior parte dos casos,
ambos têm· parcialmente razão ; sucede por
ve ze s que as duas concep ç õ es, as duas espé­
ci es de gostos, são ambos legítimos . Porissot
todos os atritos são p o ss í v e i s , com as suas
co nsequencias s e m p r e lamentáveis e muitas
vezes perniciosas, se não s e observa o prin­
cípio conjugal das concessões mútuas.
De mais a mais , cada esp oso tem os seus
defeitos de que nem s empre é plenamente
responsável. . Esses defeitos dependem, �m
..4 l11timidad1 Conjugal

parte, do t emp er am e n t o , em parte, da edu­


cação , em parte, da falta de esforços para
se corrigirem. Talvez mal os tenhamos
entrevisto nas horas de noivado e nos pri­
meiros temp os do matrimónio ; mas o que é
certo é que vão apare ce n d o , pquco a pouco,
cada vez com mais crueza. Circunstâncias
e c ep cio nais , fadigas, doenças, revezes , labu­
x

tas d omé s tic as , malestar da gravidez , cuida­


dos com a ed ucação dos filhos , ou m esmo ,
s imp l esm ent e , as cir cun stâncias quotidianas
da vi da, c o n tribuem para os evidenciar, ao
mesmo temp o que vão aziumando o s carac­
teres. A c o n s t ata çã o destes factos origina
desilusões, desp e r ta l em b ra nç as deixa no
,

coração desejos e n ecessidades insatisfeitas .

Que fazer, não o b s t ante estas dificulda­


des, p ara que o amor dure e aumente ?
O primeiro acto duma boa estratégia é
prever os obstáculos e referenciá-los com
exatidão. Nada mais ridículo do que irmo­
-nos de�pedaçar contra eles, q u an d o teria
sido fácil ou possível evitá-los.
O LitJro da Esposa l
145

A es po sa de ve te r b em
pr es ente que
não é de es tranhar um ce
rto egoí sm o mas­
culi no e que o am or do ho mem co
mp orta,
n o rmalme nt e, n o t as fís ica
s da maior so no ­
rid a de . Deve a daptar-s e-l he . De ve
co m­
pr e en der tamb ém qu e as pr eo
cupa çõ es
ma s cu linas est ão centr adas em grande pa
rte,
d
fora o lar e qu e, por iss o , o esquecimento
de cer tas ate nçõ es o u a omissã o de algumas
delicadezas não é s in al dum esfr iam ento do
amor , mas uma i mp o s içã o quase fatal das
ne ce s sidad es d a vida, o preço , por assim
di z er inevitáv el, da missão s o c ial do homem.
D ev e ainda ter presente que é fácil es p er t ar
0 ciume d o marido . Procurará, portanto ,

evitar tudo o que possa dar-lhe motivo


legítim o. Numa palavra , deve c o m pr e :n­
der a psic olog ia m a s c ul in a e po : em práttc�
as liçõ es de pac iência e adaptaçao que deri-
vam des sa com pre ensão . .
O s. eg und o p d u boa est r atégta
.
onto . ma
coni ugal c on sis te em l m pe dt r que as d'f 1 1-

a dar -lhes
culda des n asçam, de pr eferên cia
reméd1. 0 .. A melh o r tática, que
r esolverá
est ões de har-
antecipadame nte mul"tas qu
·
I46 A Iu tim idade Co11jugal

monia tanto sexual como psicológica, é


al_ll ar o marido como ele deseja s er amado .
Visto qu e o esposo normalm ente dá uma

grande iin po r t anc ia às alegr ias da uniã o , a


e s p os a terá muita cautela em não as menos ­

prezar na sua pr ópria apreciação da boa


harmonia conjugal ; res ponder á s empre�
c or

com lealdade e generosidade, às s olicitaçõ e s.


para o himeneu ; quando adivinha que a

união seria ca u sa de prazer , deve procurar


ser a prim e ir a a con vidar o marido . Como
suge rim os n1ais acim a, existe uma maneira
feminina de s uscitar o desejo, de p edir ou
realizar a união : é un1 a arte feita <te delica­
deza, p u d o r e ao m esmo tempo de sin­
c er i d a de . maneira disc r eta amante e
Esta ,

jovial, d e se dar co ntribue m uito para tornar


duráveis as alegrias da união e a afeição
d o s esposos . Não o es q u e çam as espo sas ,.
cujo lar começa a co n t ar o s a no s b e m como ,

a mãi de família.

A casinha deve s er sempre al egr e quente ,

e acolhedora, bem com o a s ua p ess oa fí s ic a ,

e moralmente. A mulher ignora o m al


imensô que faz a si mesma, quand0 comçça
O Li'lwo da Esposa
--- - - -----

negligenc iar a s u a ap resentação ou cede às'


m u d a n ç a s bruscas de humor . Mesmo que
o m ar i d o t enha as s uas liber dades , não lhe
i mit e o e x e mplo ; não d ig a : ele é que faz

bem » . S er ia o ca min h o m ai s s egu r o para


o afas tar de c a s a .
A esp osa nu nc a deve per der de vista q u e ·
um dos doi s fin s
do casamen t o é am p a r ar
o m ar i d o . Já não é o mom ento, uma vez
cas ada , de s e abando nar a lam en tações vãs
e e s t é r e i s , nem de se e n tr eg ar a compara­
ções no que toca ao marid o ou outro s mari­
dos ; comp araçõ e s essas que, no estado de
e s pírit o em que se encontr a quando se p õe
a fazê-las , só s erve1n para a d e s an im ar e
e n t r i s te c e r . Temos que e vitar como peste,
t o dar-e ssas r eflexões, r ecriminações e lamú­
rias, tanto mais perigosas e nocivas quanto
p ar ec e m verdadeiras e legítimas . Devemos ,
aceitar com lealdade, ben1 fr en t e a fr ent e e 1
d e m o do de fini ti vo , o nosso pr óprio lar,
com suas vantage ns e inconve nientes, o
próprio mar id o , com s e u s defeitos e quali ­
dades ( que tamb ém as tem ), diz er irr evogà·
vel ment e : « Ligu ei - m e para to d a â vida,
A ltllimidad1 Conjugal

� escolhi. Para o futu ro, o m eu fito n ã o s erá


i mais procur ar a quem ag radar m � s agr adar
\
! a quem escolhi » ( Maurois ) . « S e1 que de v o
_
aceitar a distância de dois temp era m ento s
e de dois caracteres já formados. Mas quero
conseguir vencer as dificuldades e fazer do
meu matrimónio uma obra de plenitude e

realização total >> ( Maurois ).


É preciso também darmo-nos co nta da
tarefa masculina na vida. O marido nem
sempre co1n pr eende as dificuldades da vida
caseira e da obra m�ternal da esposa ; mas
ela, por seu turno, raramente aprecia, no
seu j usto valor , a aus teridade do trabalho
do marido . Nos tempos modernos, o homem
está continuamente e1n luta com dificulda­
des de ordem eco nómica de todos o s géne­
ros. O meio em que trabalha e age, composto
de homens , é frio, duro, áspero , s em cordia­
l idade. A matéria que modela com as suas
mãos ou com a qual comercia não tem
coração nem alma. As suas l utas , ou, pelo
menos, os seus esforços desenrolam-se num
clima árido, em que não floresce poesia
alguma. Não há dúvida que a alma mas--
O Livro da Esj)oso

culi na é feita par a su p ortar essas estações,


m as a esp osa d e v e com p reender , no entanto,
que, m esm o n um a p r o fissã o desejada, mui­
tas das tar efas são austert:ts, difíceis e p eno­
sas . Afast ará hàbilmente por conseguinte
do p e nsam ento dele , mesmo co ntra sua vo n­
tade, os grav es cuidados ou as preocupa­
ções que o as saltam . Co nsegui-lo-á muito
melhor, s e tiver alguma cultura. É verdade
que o marido tem a sua, sobretudo profis­
sio nal . Mas , mesmo que sej a universitária,
tem ainda muitas l a u n as c Graças às leitu­
ras, s e há tempo para elas , aos estudos pas­
.

s ad o s que é r e l at ivam en t e mais fácil te r em


dia e que diziam respeito a matérias igno
dos m arid o s
­

radas o u pouco co nhecidas


et:n ger al, a es posa po derá conduzir a

conversação das « horas c o nj ugais » sobre


ass u ntos que têm a dupla vantagem de cul­
tiv ar espiritual e intelectualmente o m arido
ao mesmo tempo que o distraem. Já não
será at r a í do e ret i do no lar apenas p elo
encanto p e s s o al de sua esposa, mas p el o
encanto d o seu espí rit o e d a sua alma.
Este clima jovial e tranquilo, criado para
.A lnti1nidatl� Coujugcrl

ela, irá s er en ar e b�nhar d e sol a do alma


marido. O encanto d um lar s ereno e duma
c o mp anh e i r a compreensiva cons ervará pre­
ciosatnent e o amor no lar.
Que a es p osa encar e o lar como o seu
cam p o de trabalho providencial . Encher o
marido de alegria e s atis faç ão p e rmanecer­
,

-lhe fi e l de corpo e alma, educar b e m os


filh o s , é -es s a a sua missão e dev er d e
estado, o seu grande m e io de santificação .
Deve auferir desta certeza uma al t a cons­
ciên cia do seu dever e, nesse espírito dé
fé, uma g rande coragem para o cu mp r ir .
Este relance de olhos s obre a vida con­
jugal é ainda o melhor meio de co n s er var
e tornar mais intenso o an1or , no seio da
família.

Se a esposa ag·e deste modo e se1 por s ua

p arte, 1narido colabora um pouco nos


o

seus esforços, terá criado um lar feliz�


vibrante de amor numa frescura sempre
renovada, no qual ela mesma e s eus filhos
encontrarão alegria e satisfação plena.
O Livro da Esposa

« l\_ felici dade conjuga l ex iste. Não se


enco n t r a i m ediatam ente ao casar . Faz-s e à
fo r ça d e te r nu r a , d e i ndu lgência, de p acien­
cia e d e boa vontad e » ( M aur oi s ) .
Buscar com p r e ender-se, d ep o is de com­
pr e e n der o qu e o outr o aguarda e espera ,
esforçar -s e por lho dar e o tornar feliz, ver
nis s o a sua t ar efa providencial, é o segredo
dos amo res duráveis e d os lares felizes .
TERC EIRA PA RTE

PERSP ECTIVAS CR S
I TÃS

c A 'Diàa conjugal e familiar te.


um carácter sagrado, relig·iosD.
Pori"sso, não hd acti'Didade tão m•
teria/, tão carnal, tão lzumanametJie
fútil, que, reposta e orientada n•
conjunto da nossa bela tJocação, nà#
lenha o seu 'Oa!or sobrenaturs/1 a
s1111 grandfza.

( CHRISTJAJt )
Direi tos e deveres da esposa

� Todas as leis da moral coujt1gal são , as


mesmas dum amor que des�ja atingi,. os seus
fins mais ehvados ».
( TniBON )

matr1m ó n io de vida orga­


O
é u m estado
n i z a do pr o vid encialmente parasatis­
fação e realização plena dos cônjuges
e para a procriação e e du ca ção dos filhos .

A realização plena dos cônj uge s é, de cer to


mo d o , um bem para a sociedade ; a procria­
ção e a e d u ca çã o dos filhos, por seu lado , é
um bem cónjugal : e n r iqu e c e e aprofunda a

personalidade d os cônjuges. Podemos dizer ,


todavia, que a satisfação e pl e n i t u d e dos
cônjuges visa, mais directamente, o ben1
pessoal dos e s p o s o s que o bem social, e q u e
a procriação tende mais a o ben1 so cial que

ao bem dos cônjuges.


A Jntimidt1d1 CoHJugal

É evidente q ue as relações s e xu a is, vivi­


das segundo o s eu es p írito providencial e
conservando-lhe a e ficiê ncia normal, reali­
zam, ao mesmo tempo, esses dois fins : . num
só e mesmo acto, são conjuntamente factor
de plena e recíproca satisfação pessoal dos
c ô nj ug es e motivo de fecundidade.

Visto ser este o estado próprio do ma­


trimónio, a moral conjugal resumir-se-á
essencialmente em dois deveres de e s ta do
correspondentes a estes dois fins : dever
de amparo mútuo e dever de fecundi­
dade.
Por conseguinte, ajudar à r e a l iz a ção plena
do m a r i d o em todas as esferas do seu
,

ser, física, i ntel e c t ua l, sentimental, es piri­


t ual m e n t e é um dever de e s t a d o para a
,

esposa. A prossecussão deste fim constitue


para ela uma ob rigação de consciência que
cumprirá, pondo em prática os diversos
meios fornecid os pela vida em comum. ,
A esposa é o brigada a um co n t r ib u to
humano, sentimental e espiritual . D e v e ser ,
segun d o o s s e us meios e c ap a ci da d e o ,

amparo do cônjuge na vida. Para o con•


O Livro da Esposa
------- - ----

s eguir , a � o pt a rá as a t itudes de compre en ­


s ão e d e l ica dez a acima des crit as. Não é s ó
inte re sse s eu, mas ain da s eu d e v e r , dar ao
m ar1 do o rec onfort o d a sua s ensibilidade,J
.

d oç u ra , calo r de c o r a ç ã o , devo tame n to a�


lar ; s e r o c o m p lem e n t o da sua cultura, e\
l evá -lo a c um p r ir o s d ev er e s r el igi oso s � .

Mostrando-se m u lh e r amante e esposa deli-�"


c a d a , c r ia n d o um clima familiar cl a ro e
q u e n t e , enriquece ndo -o hum a na e espiri­
t u a l m e n t e , sus ter á o esforço humano do
m ar ido , dar - l h e á a coragem necessária par a
a s tar efas viris , s erá a i nspir a d o r a s ecreta,
-

talvez ignorada mas e f e c tiva , do seu vigor ..


Tudo is to exigirá dela sacrifícios , silêncios ,
p a ciência, devotatn ento s, quantas vez es ign o ­
rados ; mas , desta gener o sidade , nasce rá a
aleg ria do espos o e dos fil h os e o suces so
do lar , felic idad e supr ema para um verda­
deir o cor açã o fem inin o .
Est a atit ude c ar i nh osa e dev otada da
e sp o s a , aju da efe ctiva e r eal sus te ntá cul o
.
do ma r i d o no valo ros o cum priment o da
sua mis são na s o cie d a de , é dum alt o valor
m oral . O cato licis mo ve em cada um dos
A Jntim.;daàe Cott_jugal

actos de dedica ção c onjugal , co ntan to q u e


executa do em estado d e graça, um acrés ­
( cimo de gl ó r i a para Deus e de felicidade
. para a es posa no outro mun du. O códig o
da moral católica está assim em p l en a con­
formidade com o do amor sincer o .

No domínio s exual , a moral das r elaç ões


está baseada na observância do pro cesso
nat ural das funções fisiol ógicas po stas em
.

J Ogo .
No que concerne à r ealização física da
u n �ã o co njugal , a moral exige o r espeito do
rito e d o s efeitos naturais das r elaç õ es entre
esp o s o s
r i t o natural
salvagu ar­
.

Desde que o esteja


dado na ess ência, isto é desde que a união
íntima dos orgãos sexuais termine p ela
emissão espermática interna, tudo está em
o r dem. Pouco impor�a a p osição adaptada
p el o s c ô nj uges ( a o besidade dum , p or exem­
plo, p o d eria im p e dir a posição normal fa c e
a face ) ; desde que s e r espei t e o rito funda­

mental de com p enetração e ins eminação


O Lhwo da Esposa

v ag i nal , t u do fica e1n ordem, no qu e con­


cer ne à r eal ização mat erial da u n iã o . })o
m esmo m o d o , ficam salvaguar dados os r itos
e s s en c iais da união , des de que nada venha
viciar artificialmente, por meios me cânicos
( cob e rtura externa do orgão masculino t
ob tu r ação do colo do úter o ) o u químicos
( inje c ções ou pro dutos espermati ci das ) a . ,

fecu ndida de possível das r elaç õ es co nju-


ga1s .
.

...�o contrário, tudo o que impede, radical


e a rtificialmente, o rito normal dessas r ela­

ções, especialmente a sua interrupção b r u s ca ,

após a penetração vaginal e antes êla inse­


minação, é contrário à ordem da natureza
8 à m o r a l cristã. Este pr ocedimento , de m ais

a m ais é nocivo fisiolàgicamente. To d o s o s


,

médicos estão de acor do em lhe sublinhar o


asp ect o pr ej udicial tanto p ar a o marido·
como para a esposa. Para o m ar ido , a
interrupção brusca dum en c a d eam ent o de
processos fisiol ógicos, num clima de forte
excitação nervosa, cria, fatalmente, sobre­
tudo em indivíduos cuj o equilíbrio , n este
domínio, é mais ou menos frágil, p erturba-
I6o A In timidade Conjugal
---·--

ções nervosas tanto mais s é r i a s quanto mais


frequente é a r ep etição d sta m an e i r a de �
agir . A esposa não s e extme t�mb ém. aos
danos fis i ol ógicos . A s e quenc1a das más
reacçõ es no r m ai s é igualmente interr om­
pida ; o descongestion am ento sa n g uí n e o dos
ó rgã o s faz-se mal e, s e este pro cesso s e tor­
nasse habitual , provocaria um c on ge s ti o n a ­
mento cró nico dos órgãos s exuais i nt e r n o s e
externos, e, ao mesmo temp o , indisposições _
e p ertur baç õ es gin ecol ógicas d e diversas
o r de n s . ..A.l ém diss o , o prazer mútuo qas·
r elaçõ es é s ensivelmente di m i n uí d o , se não
c o mp l e t am e n t e aboli do para um ·do s côn­
juges. A saúde não é m en o s at i ngi d a que a
,.
moral.
D este modo pois, t o a s as m an e ir as de
q., . .,..

agir que corrompem naturalmente o rito


c onj uga l e as que s u pr im e m artifi­
lhe
cialmente os efeitos de fecundidade, exe­
cutadas e m pl e n a consciência e com livre
de t e rmin açã o , constituem em moral cató­
lica, pecados graves.
Im porta , todavia, notar que estas fraude�
podem ser por culpa s ó do espos o, coin
O Livro da Esposa 161
------------ -----
·--

exclu sã o absolut a da esposa ( 1 ). Se as frau­


des s e realizam u n i c am e nt e por exclusiva
vonta de ma s culin a que in t erro m pe o acto
conjugal an t e s da in s em in açã o , a respo nsa­
b il id ad e da espo sa pode não estar dírec­
tam e nte i mplicada. Estará implicada, na
medid a em que aprovar esse procedi­
mento, s e o tiver aconselhado ou pr o ­
cu r a d o , m ai s o u men os directamente, por
qu eixa s ou m ani f es t a çã o r ep e tida dos t emo ­
r es da m a ter n i d a de , dos desejos de evitar
a gesta ção, ou s e , sim p lesmente , o ' n ã o tiver

impe di do , quando lhe era possível, sem oca-:­


sio nar s érios danos o u aborr ecimentos gra­
ves , tanto c o nj ugai s como pessoais .
Qual d e v e s er a atitude da esposa que­
sabe antec ipadament e que seu marid o us ar á
de frau de, inte rr omp end o prematuramente
as rela çõe � c o nj u gais ? Pod e nes te c9,s o
s
sol icitar ess as r ela çõ es ? Po de ao me no
pr estar -se a iss o ?

a fí!l seia, de s?e o inicio, o


o orgão mascuhn o ) a esposa
S e a fraud e ma scu lin
act o con jug al ( recobrindo
(I}

não p ode pr est ar- se a ess as relaçõ


es assim totalmente

falsead a:·s em si m est;n as.


I62 A Jn/itJIÍdadc CoJtjugal

Not emo s em prim eir o lug ar que lhe é


abs olutamen te interdit o a p r o v a r em es p í­
rito este pro cedi men to , s i m p a t i z a r com ele ,
regosijar-se . Ser ia to �·nar -se mor alm e n te
cúm plice da falta.
Post o isto, temo s a co n s i derar dois ele-
mentos para bem compreend er a s oluçã o
que v�i se guir-se. O primei r o , é . que em
semelhantes circuns tâncias , e co nsidera da
a par t e tomada pela espo sa nas r elações,
ela não fals eia ·em nada, pelo que lhe diz
res peito , o rito natural das r elações conju­
gais. O s eu co ntributo para o acto que
s erá truncado é , n o aspecto físico , to t al ­

mente idêntico ·ao que pr esta. nas relaç õ es


normais. Por s eu lado , pois, não pratica a
fraude Mas, por outro lado ( e é este o­
.

segundo el em ento a considerar ) entre­


gando-se, colabora de modo m uito íntimo·
num a acç�o que sab e , de uma maneira
certa ou prqvável , dever s er falseada pelo·
�õnjuge . Sem terp r o c ur a d o a fraude ( é a
hipótese em que nos colocam os ), e sem a.
·�fectivar p or si mesm a, torna possível o
p�ado doutrem. Ora, ela não p o d� çola-
O Li'l• ,·o da Esposa
------
-- -- ---- ------ ------

b or ar n o n1 al e , de mais a mai s, tem ,


em face do m arid o , mais que em fa ce

d e qu alqu er outr o , o dever de caridade


d e o imp e dir , tant o quan to poss ível, de
p ecar .
P o d e m os, p o r tan to aplicar a este caso
,

os pr1nci p1o s m or ais que diz em res peit o às


. . .

regras d a colab oraç ão no mal. A e s p o s a


deve esfo rçar - s e em p r i meiro lug ar e muit o
seriam ent e , para afastar dest� procedimento
o m ar ido por via da persuas ão , e recusar -se
terminante mente, se, com esta recusa, s e m
incorrer .no ris co de d a no s s érios, tem a
esperança d e o emen dar e c o n duz ir a pro ­
ceder com co rrecção . S e , ao contrário, esta
re�u sa compor tasse sérios inconve nientes ;
�e ordem ·m at er ial o u mor�l , como por
exem plo um per igo de infel icida de ou de
inco ntin ênci a para o mar ido , um tran st or no
notável p4r a a paz con jugal ou uma priv açã o
pen osa e fo � ada para a esp osa das relaç ões
conj ugais , poderia pres tar se a elas, com a
..

condição , em primeiro lugar , de não se reg o·


:S�jar intimame nt e c o m a frau de ; em se�und o
'lugar , . de não procuràr a provo caçao do
;
A btJim.idade Co11jugal

goso p e ss o al, uma vez i n terr o mp i d o o


acto pela fr aud e masculina ; em terceiro
lugar , fazer esforços leais, em o cas iã o
oportuna, para levar o mar id o a consu­
mar a união c onjuga l segundo os r it o s
,

nat urais .
Sempre na mesma hipótese, a saber que
a esposa nada pratique de anti n at u ral -

e que tenha procurado sinceramente con­


duz ir o espos,o a agir correctamente, os
m o r alist as admitem que ela solicite a
união, se tem para isso u m m o ti v o j u st o
como, dum modo e s p e cial , o prejuízo
que resultaria para ela da privação d o
seu direito conjugal. T odavia é�lhe in t er ­

dito provocar directamente o prazer con­


c o m it an t e às relações a partir d o momento
em que estas são falseadas por i n iciativa
do marido .
Mas não basta que o acto conj ugal con­
serve a r ecti dão fisiológica, 't s u� « casti­
dad e » m at er ial para estar de acordo
,

com a m o r al : tem que manter a sua


rectidão psicológica e s entimental. Deve
ser orientado· parcialmente para o bem
U L ivro da E$p osa 16::
- - - -----·----- - - - - - - ------ oJ

duJD c ô nj ug e e totalmente p ar a o bem


de ambo s .
Uma esp osa qu e se d á dum mo do
f o r �al ista , por con descend ência ou por
co m ise ra ção , s em s im patia nem rego­
s ij o n ão cum p r e conv enie ntem ente o seu
,

deve r .
Nã o p o de s e r acusad a duma frigidez
inv o lun t ár i a o u d uma falta de at
r ac çã o
n atur al ; não é diss o respo nsável , t alv e z .
Mas temos o direit o de· l h e censurar,
adm itida essa frig id ez e essa falta de
atr a cçã o natural , não f az er o esforço psi­
c o l ó g ic o desejável para participar na união ,
o melhor que lhe s ej a p os s ív el .

É v�rdade que o marido pode ter faltado


à delica deza, no início da vida conjugal ;
é p o s sív e l que m ul ti pl i qu e exce ssivamen te
as sua s solicitaçõe s , pod e ser m e s m o que
nltt apasse ni tid am ent e o s seu s dir eit � s
( pr eci sá-los -em as com t o da a cl ar e: a mais
ad ian te ), m e s mo ass im é n ec e s s ár io qu e ,
tiç õe s sej am
pé l o m e n o s qu an do as s u as pe
leg íti mas , a es po sa a qui e s ç a ge
ne ro samente

de fac to e d e cor açã o.


166 A lH timidade Conjsegal

O a c t o da união de v e tan1bém realiz ar -se


em caridade mútua. Pode aco ntecer q u e as

r e la çõ e s s ejatn n o civ a s ao marido : é car­


díaco , por exem plo , ou s o fr e de angina de
peito. Nes te c a s o, a esposa deverá r enu n­
ciar aos s eus desejos, a não s er que e la
m esma esteja ameaçada de s ofrer , por
motivo d e s t a privação , um dano , físico ou
m oral , de importância equivalente ou s u p e -
'

rior à quel e que as r elaç õ es p ode r i am fa z e r


1
correr ao m arido .
O p ri ncípio em causa co ns titu i a bas e
mes m o da mo ral co njugal :. p r o m o v er o
b em de am b o s e não o do m ar id o em
detrimento da e s p o s a, o u o da esposa em
d etr im e nt o d o m ar id o O d ir e it o d e cada
.

um é limitado pel o b em comum. C a d a qual


terá pois que ceder do s eu dir eito , sacrifjcar
parcialmente o seu bem p ara o n1aior bem
dos dois . Em cas os deste gé nero , há motivo
para po n d e r ar os elementos em. causa : cer·
teza, probabilidade ou simples possibilidade
de dano a s ofrer p o r um ou outro dos
esposos o u pelos filhos eventualm ente nas...

cidos, gravidade comparada destes perigos,


O L ivro
da E.r; J. 0
�..-:-
� -- --
· ----
--- ---- · sa
l�-
- ---�r____
_
-- --

t a n to no po n t o d e
v is ta m o r a
fís ic o (r ). E ste l c o mo no
s c as o s s ão
e xt rem am e nt e
Jel ic a do s e r e c l a m
a m c o m pr ee n
r o si dad e d a são e g e n e­
p art e do s dois
A lém d is s o a m c ô njuges.
e s m a caridad e ,
u m de v e r p a
qu e to r n a
ra a es p os a dar
-s e le alm ent e
ou renu n c i ar a .r

der iam ser


el a ç õ es q ue p o
nocivas à s a ú de d o
marid o , co nfer e-l
também o dir eit o d e s he
e r e cus ar , qu and o,
p elo facto du m a do e
nç a m a scu lin a c onta
­
giosa ( d o en ça v en ér ea
p or ex . ), ou p or
au
c sa da s ua sa úd e p es s o�
reJações
l, es ta s
a.vies sem a pr ej udic ar ou a P?-
re cer peri­
go sas. U m a de ci sã o equi tativà ".dev
eria ter
em co nta, s eg un do o s eu valor res p ectiv
. o
,
tod os e cad a um .do s eleme nto s ass inalados.
anteriormente.

O acto da união deve ainda salvaguardar


a. .. .da de humana Assim, deve conser!O.
dtgni · ·

---,. -
---�

. (r) E m ça so de recurs o aos conselhos d1.lm terceiro


(médico, CQ11fess�r) pal. .a a udar a resol�çr a qu�:stao,. ..."
. - ..

prudente que haJ a ama exp_j osição dos d ois interess ad os.
.

Cada "l\lal puxa a brasa à sua s a rdinha.


168 A Intimidade Co11jugal ·-- - - - · - ·-

var o s e u sentido d e d oação e não s er


transformado num· acto , quas e brutal , de
posse. -É o motivo pe l o qual a esposa tem
o direito de s e r ecusar a um tn ar i do pri­
vado de razão e de domínio de si p e l o
alcool. E p o de-o tanto mais que os i n t e ­
resses da descendência even tual e n tram
aqui em jogo . A concepção, r ealizada num.
momento em qu e um dos cônjuges está no
estado d e em briagues o u do ente ( do ença
venérea, por exempl o ), pode ter e t em
mesmo, muitas vezes , terríveis repercus s õ es
so bre a saúde dos filhos . A esposa, nestes
casos, é juiz para u s ar dos s eus direitos
de recusa ou renunciar a el es . Em cas o
d e doença venérea, fará melhor , normal­
mente, em usar deles .
Por outro l ado , todos os process o s que
respeitam -a - dignidade dos c ô njuges e que
são orientados para a p erfeição da harmo ­
nia. psíquica da uniã o , são plenamente líci­
tos . Designadamente to dos os beij o s , to das
as carícias, todas as intimidades , todos os
actos, mesmo que se di r ija m às partes
s exuai s do corpo, são honestos, contanto
O Li'l.r1·o d n Esp os a

que, " en quadr ados n um cli m a


o p o rt un o
v
ise m
pr az er ,
a pr om ov e r a si mu lta n eidad e d�
v o nt a d e d a un ião e de
a
en trega
rnú tua to tal ( I ). O s es p os o s l e m
brar-s e-ão
n o entanto , q ue têm o b r i g a ç ã �
o morál d
u s ar a p e n a s do gén er o de int imi dades
_ ue q
p e r mitem a atm o sfer a de uniã o e qu e p e r
d ig n a s de sere s h umanos . É no
.
­

mane cem

mo m ento em que a
melo dia se faz mais
s o n o r a que uma nota desafin ad a soa mais
cr ua m ente ; é m o m e nt o em q ue a paixão
no
se m ai s ar dente que p ode s osso bra r na
faz
gr osseria e ferir o amo r .

(r) O s enti d o n atural d o prazer sexual é ser mútuo e


não d u m indivíduo. Porisso, a buxa prem editada por um
dos cônj uges d o e s p asmo sexual completo, provocado iso­
ladame nte, é p ecado grave aos olhos da moral católica .
Tudo o q u e não chega a esse es p a s m o compl eto não é
con sider ado com o falta grave . Se esta e moção carna l com­
pl eta, se prod p.z invo luntà riam ente ou por �urp reza, fora
ou idei a de união, n a s
d e q ualq uer inte nção prec onc ebid a
h<1t as em que o s test emu nho s
de afec to e tern.ura �ão
.
vise m e s t e efe ito físi co, não há mo
.
tivo p ara t n q utet aço es,
que hab it ual me nte t er­
sal vo se a at itu de e m ca usa é d as
s cOnj ug es ess e esp asm o
mi na m po r pr ov oc ar Ii um d o
.

c0 1n ple to n o últim o ca-s o, ter ia


qu e ve lar ult en orm ente,
or.
s tes tem un ho s de am
po r man er m ais re s er va ne ste
·

; .
I]O A Intimidade Cmljí{gat
..,_. _ _ _ _ _ _ · --- ---------- ·- -------·--

O acto de união re quer lealdade . Deve


s er , de am bas as partes, dom e dom
c o mpl et o. Truncár esse dom, r oubá-l o ,
p en a n do voluntàriamente numa o utr a c om
s -,

parsa elimina to dos os motivos que p o de­


riam levar-nos- a r e c l a tn ar , neste mom e nt o ,
a doação da esposa. Do m esmo mo do , a
e s p o sa adúltera p erde todo o direito a exi­
gir formalmente a união e o cônjuge enga­
nado p o de legitimamente recusar-se a ela.
Pertence-lhe a ele julgar da oportunidade
desta recusa : muitas vez es, a esp erança
dum arrep endimento o u do bem futur o do
lar levá-lo -á a aceitar o que teria o direito
I

estrito de r ecusar. p reciso saber, to da­É


i
:via, que, em direito eclesiástic o , a ac e it ação
; da união com um cônjuge que se sabe adúl·
i te}_" o e qu ivale ao p er dão desta falta e exclui
todo o direito ulterior de r eclamar uma sepa-
ração de corpos fundada so bre os factos
anteriores a esta reconciliação efectiva.

Na -união , enfim, os cônjuges devertí··�


,P;:t;oc.ur-ar respe.it�r o valor hierárquico 7
O Livro da Esposa
1.7 I

do S s e us eleme nt os . Tratámos longam ente


de st e a ssunto no capítulo da espir itualiza­
çã o do amo r ; não insistir emo s . O do m
al , , amor o s o , dev e primar
_
p e s s o sen t1mental

em val o
r e em móbil, s obr e os eleme ntos
do i n s t i nt o . É a n emizar o acto de · união
es va ziá-lo largamente da sua substância e
da s u a riqu eza, tanto humana com o con�
jugal , reduzi -lo a um simples act o ditado
p el o am or do p r azer . Neste respeito da
hier ar quia dos valores, consiste a castidade
p sic ológica da união amorosa.
Em suma, a moralidade p s ic o l o gica do
a cto da união c o n j ugal é salvaguardada,
s e, real izada num clima tal-- como a dita o
amo r , tende à s atis.faç ão comple ta, ao bem

e alegr i a do espo s o , do mesm o modo que


ao reco nfor to e alegria da esp osa .
Vem os de nov o , com toda a evid ência1
nes tes da união con­
pre ceit os psi cológicos .
jugal, a ide nti dad e do código da �o ral
cat óli ca e do có digo dó am or , con
tan to

qu e se ·e nt en da , co mo é natur�l
do amo r
sincero, .tot al, lea l, huma no.
Es te s a c ra m e n to é g ra n d e

« N_o matrimónio, ?zão se trata de sa!Jer


�ue ltcença a carne p oderá
,.e.Je
" r mas nue
san ttuade ela poderá
co ...
,_
. .J z
'

revestir ».

( ZUNDEL ) I

TÉ aqu i falá1nos
A
da fisio loo-ia da
psic olog ia e da m o r al do cas m nto , : �
do amo r e da s e x ual i d ad e . Expu­
semos ó plano providencial de Deus ,
no que diz respeito a estas r ea�idades
human as .
O dogm a católic o r evela- nos que o
matrim ó nio com t o d o s os seus elem ento s
,

nat ura is , pa� te integrante do pla no


faz
so bre na tur al de De us sob re o m u nd o ; qu
e
é « sac ram ent o ».

Sa cram en to , o matr im ôn i
o cr is tão é um
o, qu er id a po r Cr is to ,
si nal. T em po r m is sã
ol h os do m un do a
su a união
simb ol izar ao s
r co nhecer
com a Igreja. Ao p ro cu r ar faze
A In timidade Co11j•egal
· - -- �··- � - - - -

a que p o n t o Ele atna a sua Ig r e j a, q uer


s ignifi car a união tot al e d e fi n iti v a que
O liga a ela no trans curs � do temp o ,
manifestar q ua nto desej a a sua fecun didad e
em eleitos . Cristo escolh eu, no mu n do
hun1ano , con1o símbolo expr essivo de S eus
sentimentos, a u n iã o mais total e defin i­
tiva : n o decurso da história humana , em
todos os p ovos, ai nda os mais s elv agens ,
o q ue mais completam ente funde dois $eres

humanos adultos um n o o utro é o matri­


mónio . Para corres p onder p ois ao desejo
de Cristo e ao s entido r eligios o que Ele
q uis 'ligar ao mat r im ó nio os cônjuges cris- ·
,

tãos de ve m pelo amor mútuo , fidelidade


,

total, e fidelidade do lar , s er quanto


,

possível, uma réplica e um exemplo para


o mun d o do amor de Cristo pel a Igreja e
,

da fecundidade so breflatur al deste amor .


Sacramento, o matrim ónio cristão con­
�ere uma graça. Es sa graça , em virtude da
l�i geral .dos sacrampnto s, está no plano do
sírnl?ol q sacramental. Símb olo do amor:
pe�f�jto de Cristo pela s ua ' Igr eja, a uiu
t,empo unit�vo ·� fecu ndo , o sacrame nto é
1 75
--- -- - - -- --- -----
--- ---·- - --
--

destinado a d ar a o s esp o sos e m b o as


dis p o s iç õ es , a tit ulo de gr a ç a s acr ament al
pró pri a, a g:·áç a do am o r conjugal p erf eit o .
Infun d e pois , na ahna , no mom e nto do
ca s am ento , u tn a graç a cuja e-ficiê n cia levará
os e s po sos a amarem -·se perf eit amente, com
um am o r natu ral sobr enatural iz ado, no
c a s o de lhe corresp onder em.

P o r e s t e sacra men to , o matr im.o nio dos


cris tã o s é eleva d o , , na s ua essên cia, a
um plano e a um estado sobren aturais .
O e s t a d o matrimonial, de comunida de tot al
entre d oi s s e res hu m a q o s , torna-se assim
um estado santificante, em si mesmo e em
cada um dos a c t o s , tantó conjugais có m o
patern o s ou m at er n o s q ue nele se reali­
,

zatn. e cada um destes actos s e


To dos
tornam « salu tare s » e « mer itóri os » par�
o out ro mu ndo , des de que os cônj-uges
es tej a m em est ado de gra
ça santi �i cant e
e . pro ced am r ect am ente.
Es ta santificação
pr ó­
do matri mó nio , co mo tal , é a gr aça
ef eito ,. a união
pr ia do sa cr am en to . Co m
ldos pelo
sexuar de· dois baptiz ad os não �n
·e .
casam en to
-f •'
.c onstitu i um · pe ca<l o gr av
A l11tim idade Con}flgdl
------- ----- ·· - - -- - - --·-�

O cas am ent o ao me sm o tem po que lhes


atri bui esta graç a fund a men tal ( tale n tos
, que o s esp osos dev em faz er r e nde r ) , a b r e ­

j-lh es um dir eito p erm ane n te às gr aças


actu �is útei s no tran scu rso d a vid a con -
,

juga l p ara a obte nção do amo r p er f eit o


,

Esta s graç as actu ais , impl or adas p el o s côn­


juges , valer -lhe-ã o a corag em p ar a s up er ar
as tentaç ões exteri or es o u interio r es do
lar , para executar com generosi dade as
tarefas de r ealização pl ena e r e c í p r o c a e

de fecundidade nas quais r es i d e m os seus


deveres de estad o .

Vê-se que aprofundamento em natur eza


e em eficiência o sacramento comunica
aos baptizados : dá-lhes a mi s s ã o de r epro­
d uz ir , com a m aior fidelidade possível ,
o amor e a f e c u n di dad e de Cristo e da
I

Igreja, de s er o seu símbolo , exemplo e

realização p ar ci al ao�. olhos de s eus con-



temporâneos ; co nfer� a to dos o s g e s t os
do matrimó nio , conjug ais ou educativo s ,

gestos de alma ou gestos de carne, intimi-


O Livro
1 77 da Espo&a
------�----- ·----------

dad e d o s co r açõ es ou união dos corpos,


,.·.

urna efi cácia sobrenatural. Executados e m


on form idade com o e s pírito providencial
c
que p r esidiu à instituição do casamento,
est es ges tos têm a sua repercussão até
sob re a f elicidàde eterna dos esposos.
Q ue pr olonga mentos inauditos o sac r a­
m e nto do matrimô nio , o atnor cristão,
não dá ao amor humano I Bem long e d e
0 d es truir ou arr efec er, ainda aumenta a
.
sua r1 queza.
Espiri tuali dade coniug al

c Se me dizeis : não desejaria deixar-me


ahsonJer pela_1 coisas temporais, responder­
-vos-ei 911e somos nós . 9ue as tornamos tem­
poraú, }or9ue tudo procede da Bontlatk
Suprema • .
...

( SANTA CATARINA DE SJ.:NA )


matrt"mônio, ')Ue os esposos aceitem plena­
necessário, 1t.a vocação normal para o

mente os setts aspectos naturais, vive1zdo-os


num esplrito profundamente religioso •.

( CHRISTIAN )

estado matr imonial tem a origem,


O natureza, eficiência e fins, no mesmo
D eus . Não é i nv en çã o humana, é
invenção divina. Deus qui-lo assi� no dia
em qu e dotou a humanidade de dois s exos
e e m que atribuiu ao homem e à mu l her o

s eu p siq uismo partic ular e aptidão para


procriar.

t8o A lt�titnidad1 Conjuga l
------ - --�--

O m at rim ó n io foi ele va do p o r C r i s t o à


dign i d a de de sac r am e nto . O estado de
matr i m óni o torno u-se um estado sobr ena­
tural. Não é, por t an t o , ap esar do rnatrimó­
n io e fora dele que os esposos terão d e
santificar-se : é n o matrimónio e por ele.
A s ua as cenção humana e s o br enatural nãõ
deve r ealizar-se solitàriam ente, mas c o nj u n­
tam ente ou, melhor ainda, familiarm ente ;
não um ap esar do o utr o e ap esar dos filhos,
mas um pelo o utro e, amb os, p el o s filhos e
com eles.

A es piritualidade co nJugal vai c o n sistir ,

em p rim e i r o lugar, no e s p í r it o de fé.


Os esp o s o s c r i s t ã o s d evem encarar o
casamento c o m o uma (( missão » a cumprir,
mi_s são q u e lhes foi confiada por Deus.
Esta palavra « m i s s ã o » traduz com e x ac...
tidão a r eal i da d e É justa e bela.
.

Uma missão reclama um mandato. Ora,


o casamento não provém dum encontro,
duma livre escolha dos esposos, mas é,
em. primeiro lugar, da vontade divina quer
O Livro da Esposa 1 81

criando o matrün ónio e a dualidad e sexual


,

tor nou possível e s te e s tad o de vida. Foi


Deus , na verdap e, q u e destinou os seres
humano s ao m atrim ónio, Ele que lhes ins­
creveu n a sua fisiologia os fins a a.tingir ..
Segue -s e que o matrimónio é , e fecti va­
men te, uma mis são divi na.
Uma « missã o » implica ig u alm e nt e deve­
res preciosos a cum prir : a escolha do fim
não é livre mas fixada pelo mandato·; os
meios gerais a empregar para o conseguir,
são indicados, muitas vezes, pelos próprios
termos do mandato ; só os dados secund á ­
rios, o r dinàriamente , é que são deixados
ao arbítrio e escolha do mandatá rio. Tal é
o caso do matrim ónio . A escolha do con­
j uge é livr:e ; l ivr es , també m, as numer osas
e d i v ersa s man eiras prát icas e quot id ia n as
de atingir os fins do matrimó nio. Mas os
fins , esse s, são tão li vr es com o as leis
do m a tr im ónio ; n ão s e p od em rejeitar ;
tem os o dev er de os p r o ss eguir e de os
observar o me lho r p os s ív e l.
Um a c mis são • assinala tàm bém sem pre
•m o bje ctivo imp ortant e. Nã o é ain
da o
A lntimidad1 Conjugal

caso do matrim ónio , se con siderarmos o


seu pap el emi ne nte tant o p essoal como
s o cial e religi os o ?
� Um a « m is são » hon ra os que dela se
}encarregam . É
um sina l de con fia nça que
i lhes é dad o , uma hon ra com a qual tê m o
d ireito de se sent irem orgu lhos os e o dever
de serem digno s. Não s erá um e ncargo
h o nros o terem man d ato de ampar o e de
santificação mútuos , colabo rarem com Deus
no chamame nto de se r e s novos à vida do

corpo e da alm a ?
Este termo « missão >> sugere logo difi­
cul dades a vencer. As mis sões , na vida
social, são ordinàriamente mais o n erosas
e até perigosas que p u r am ent e honorí­
ficas. Cotnpletar o cônjuge, gerar e ed ucar
filho s , é uma grande , mas também uma
rude tarefa que exigirá, dia a dia, múlti­
plos devotamentos e numerosos sacrifícios .
Os c ô nj ug es
cristã os , porta nto, encara­
rão e viver ão o seu matr imó nio como uma
mis são providenc ial. A que alturas esta
visão da razã o e da fé não eleva o matri­
món io ! Já náo é sim ples atracção do pra�
O LirJro da Esposa l ftt

2 er sen s ual, já não é a pen as bus ca da


doç ur a s e n time ntal e do apo io mor al ;
é , além diss o , qual uer
q c oi s a d e i n fi nita­
ment e mais forte , m ais viril , mais nobr e,
mais e leva do : o de s ej o que dois seres
hu mano s têm de s e enriquecerem um ao
outr o pelo amor , a vontade de servirem a
s ocie dade e de se rv ir em a Deu s. Esta von ­
tade e este amo r dever ão ser tão fiéis
que saia1n vitorio so s de to das as dificul­
d a d e s causa das infall velmen te, t ant o pelos
acontecimentos da vida como pela diversi­
d a d e de caracteres dos cônj uges, como p e la
educação dos filhos. Ao mesmo tempo ,
devem simbol izar e r ealizar , no pl an o fami­
liar , num l ar c oncr e t o a afeiçã o , indefec­
,

tivel e fecu nda , que Cris to dedica à sua


Igreja.
Ta is são a gra nd e za e nob rez a do plano
de D eus so br e o casa m ento . Que genero
­

sid ad e e en tusia sm o de v iv er ele nã


o

po derá faz er br otar n aqu e l e s que o com ­


pr ee ndem ve rdadeir am en te a es
ta luz I
.

Cada um do s co njuge s resp


eitará a perso �
de fazer dela. um
Jialida de do ou tr o ; lon ge
a sim p l es f o n te
ins trume n t o de pra z er o u
dum r eco nfo r t o sen tim ent
al um p o uco

le
go f st , p r ocu rará e nri u e c e-l a pe o co n
a q l ­

krib uto dos se u s conh e ci me n to s c u lt urais ;


: far - s e - á delic ado e aman te, para a e nc a r a­
/ia� l l
0 c onjuge, torn á-l o fe iz ; o nge de c o n

! tituir um obstá cul o à s ua vida cr is t ã , a t é
r mesm o u ma ocasiã o de p e c ado , ajudá -lo-á,
melh o r p o s s a, fo r ma çã o
I

o que na sua
moral e- n a s u a santificação . O casam e nto
torna-s e, n es t e
cas o , um grande esforço
l humano e' s n ti fican te para a � b os .

- Este espfrtto de fé ve1n VI v1hcar
. .
o s ma1s
r div er sos aspectos. da vida conjugal, a to da
a e em ca d a, acto. O dia é encarado
hora
como um dom de D eu s , n o qu a l há uma.
tar e f.a divina a e xe c u t ar , e é ofer e cido ao
Senhor pe l a oração matinal, em comum,
do s es p osos. Cada qual irá pôr mãos à
o b r a respectiva , com toda a co r ag em : ela�

à sua miss.ã o domé�ti ca, ele , à sua missão


económica. Qualqu er· que s eja a obra em
que. trabalhem, manual ou intelectual, -fami­
liar ou social� passam a e n c ar á - l a como
querida � Pôr Deus, útil aos homens , com�
O Livro da E�poss
-----
-- -�----

plemento dos pl a no s divinos s o b r e a huma­


tlidade. Vivem em caridade, no l a r e fora
do lar ; no lar, sobretudo , p or que o marido
e a es p o s a têm consciência d e não possui­
r em pró xilno mais pró ximo do que o côn·
j ug e e os filhos. Ambos se dedicam, num
co m um esforço, à e d u c aç ão destes, av er d ­

deir os dons d e Deus ; amam-n o s ardente­


m ente, s em o s anünar,� p o r q u e procuram:
fo r mar , o m e l ho r p os s í v el a s ua personali-i
,

dade de homens e de cristãos.


É a es ta luz da fé que encaram. ainda as
provações e os lu t o s Sup ortam-nos em con­
.

junto, r efor çand o-se co m uma ternura mútua,


porque encaram a vida não como a p r o s s e �

cuçã o , aliás vã, duma felici dade durá vel,


sobr e a terr a, mas com o a gran de obra de
vire m a pos suir Deu s e a dá-l o aos outr os.
Levada a e f eit o e c o m exi to est a tarefa,
q ue imp ort a, no fun do , a duração , mais ou
me n o s longa, do s no sso
s di a s ne s te m� nd o ?
ta e
Tamb ém a u nião do s co rp os , é v1s
vivida à luz de De us , no r e s p e it o do
se n­

ia, do s s e us
tid o pr ovtd en cial e na hier ar qu
za , na leal-
�lementos.- Realiza-se na pu re
A lHiíHu·dadt CoHjugal

da de na alegria . f: por isso que a li m e n t a


e

o amor dos esp oso s . E qua


ndo s o a a h ora
das contine·ncias nec essárias , é mais fácil
supo rtar o esfor ço , porqu e a u n iã o des tes
esposos é me n o s da carne que das pr ofun-
dezas d.a alma.
N.o s cônjuge s cristão s, a provação põe
o

Fiat sobre os lábios e a al egria o O brigad o !

Nesta visão de fé , os cônjuges forjam um


coração nt>vo para o cumprimento de seus
deveres , porqu e os sabem qu e r i dos por
Deus. Cada dia que surge vai enco ntrá-los
a encarar valorosamente as tarefas que a

Providência lhes impôs . O amor expontâ­


neo do s eu coração leva-o s a bem c um p r i ­

rem os encargos conjugais de pai e mãi

que livr em en t e escolheram . Também a


c o ns ciên cia a isso os imp ele, duplicando o
seu amor e s up r in d o no mo m en to opor­
,

tuno, as suas deficiencias. V eem, com efeito,


nos divers os trabalhos que cada dia lhes

apre senta , um dever de estado a cumprir,


9o qual terão de prestar cont as a· Deus.
O Livro da Esposa

E se, por acaso , com o pod e suc ed er nesta


t er r a de vicis situd es , o amo r sentisse esfriar
o se u entu siasmo , s e o espír ito se apaixo­
nasse p ela novid ade e pel o imprevisto , a
co ns ciência cortari a cerce estas divagaç ões
por fora das vias da felicidade e r econdu ­
ziria o coraçã o inconst ante e o espírito
vagabundo às tar e�as do lar . Po dem o s
espírit os estr eitos e de vista curta, cantar a
bele za do amor espontâneo e denegrir o
de v e r . Perman ece bem assente que, muitas
ve z e s , só o espírito do dever " Conseguiu
deter o s passos do coração que s e trans­
viava, salvando assim o próprio amor , e,
desse m o do , a alegria e satisfação plena
dos esposo s e dos filhos . A c o ns ci ê n cia o ,

espír ito do d ever não preju dicam o entu ­


sias mo do amo r : salvam-no no mom ento
op ort uno ; dup lica m sem pr e de con stância
a sua esp ont a nei dad e .
O es pír ito d e fé su sci stará , e n tr e os esp o ..
e te que é
so s, ao lad o do am or , a caridad
a, que não é
p acien te , qu e é do ce e be né fic
o faz
�urios a ne m in co ns id er ada , que nã
sa , não
iri"char de or gu lho , não é de sd en ho
188 A ],t im ida dl Conjugal
--- · � ·- -- -

pro cur a o s pró prio s interes se , não s e ir r a


_: ��
nem a z e da, não p e ns a m al , nao s e r e g o s i J a
com a i njus tiça , mas com a ver da de, tud o
desc ulpa , cr ê, espe ra e s o f r e , essa caridade
que nun ca aca bar á » ( S. P a u l o ) .

Cada qual cump re o tnelhor p o s sível as


tarefas do dia a dia. Encara a s ua missão.
Nela põe to da a sua alm� e v on t a d e fé e ,

am or Deste m o d o o s en c ar g o s são m ais


. ,

b em cu m p r ido s ; a o r a çã o da m a nhã e da
noite, a nt e s e d e p o is das r efeições , não é
um co stum e u1n a rotina, u m gesto s em
,

alma ; pelo con trário , é a a lm a que dita


ou i m p ro vi sa o s gestos · e as p al avr as ;
a s e nho r a é s empr e o bs e quio s a ; o cava­
lhe ir o sempre p a ci e n t e ; reina no lar a
igualdade de humor , por que, ao p r e p ar á l o - ,

confia-se o f ut ur o a D eus ; as e m e n tas são


mais variadas e sempre prontas a tempo ;
as p o nta s de cigarr o não estão fora dos
cinzeiros ; a esp osa calo u uma censura ;
o m arido não esqu ece nenh um anive rsári o ;
certa leitu ra enca ntou -a ; e, ele a partir
d�sta tar d e reju bilar á com ela ; o mari do
tom a conhe cim ent o du m a
novida de, a p artir
O Livro da Esp osa
--�------

do j an t ar a e s p o s a est ará a par d ela ; ei-l os l


qu � :'ão o s d o i s a um a fes t a
s oh cltude com u m disc ute m con jun tamente
ou que numa

o ca r á ct er e e du c a ç ã o de s eus filhos ;
a
o A dven to o u v e o s , qua se t o das as t ard e s
-
,

ler em.. vo z al ta um l ivro r elig ioso , e tro car


a s sua s r efle xõ es ; o dom ingo vê-o s todos,

pais e filho s, à Sant a Mes a ; esta noite


reen cont ra-os amor o s o s . O s eu dia é assim
u m a oraçã o e m dueto porqu e vivem como
filhos d e D eus . S ã o p e r egrinos da eterni­
dade, mas que ama m o humano , porque é.
obra de D eus , p orque veem no hu1nano o
penhor d a ete r n idad e .
A ·verdadeira v id a espirit ual não desen­
«

raíza o hum ano ; ao contr ár i o des envo lve ,

o m e lh o r das s u a s virt u�li dad es,


r eali za.. o ;

purifica- o, tra nsfigura- o » ( Ch: istian ). ver �. P:


a
d de ira vid a int eri or , a vi d a cr ist ã c
o ns ci e nt e
à int im ida de
,

lon o-e de se r um ob stá cu lo


conjugal e à felicidade no lar , faz com q�e
re s , to rn� -o s m at s
os es p o s os sejam m el ho
s un td os .
.
delicad os , mai s a m a nt es m at,

te m co ns ci ên ci a cu m p rt. re�
E , p or que
de

o, p or qu e ve em no m
atrlmónlo
uma mis sã
A JHt;midatl• Conjugal

\
dos outros a mesma tarefa divinat p o r q u e
desejam par ti l har a s ua felicidade, porque
laspiram ao reino de Deus, os esposos cris ­
tãos esforçam-se por irradiar à volta deles
o exemplo , a alegria e o s egredo do seu
bom exito . Os seres humanos têm a

nostalgia do verdadeiro amor ( I ). Os co n ­


juges cristãos mostrar-lhe-ão p ela amizade,
p elo conselho, pela palavra, p elo aposto-
; lado , a via que a ele conduz .

Num grupo d e sol d a do s , em véspera de ano no vo,


(r)
ca-da qual conta as suas experi�ncias amorosas. Todos
conheceram outras m ul h e re s antes da s u a . Um cristão
timorato e en v ergo nha d o teria inventado nesse momento
ama história, uma feliz aventura com m ulheres. Mas eis
que está presente um verdadeiro cristão, que d eclara ter
ehegado casto ao matrimónio, e diz o que é p a r a ele a sua
mulher ; I e uma p as sage m das últimas cartas re ce b id a s que

ela escolheu n as suas leituras para o marido ; explica como,


contêm sempre um ou outro pensamento dignificante que

para eles, o m at ri m ó ni o é, em p ri m ei ro lugar, u ma intimi­


dade de alma, uma cultura espiritual e intel e ct u a l a o m es m o
tempo que UllJ amor d o coração e u m dom j ovial. O s o utros
escutaram, surpreendido s, um pouco trocistas, a principio,
seduzidos, em seguida, enfim profundam ente com ov id o a
e admirad os. c Meu velho, que sorte t u tens :.. c Sabes,
�:'leu
velho, � o mais feliz d� todos nós ». Os �omens
téiD a D�talgia do amor cristio porque ele é o melhor
.-mor" humano.
Conc l usões

OI D eu s que do to u a hu m anida
de de
F dois s exo s , Ele que qui s o m atr im ó n io
Ele que i nv e n t o u o a m o Ele qu e
r ,
crio�
a possib ilida de das suas alegri a s hu
man as ,

al eg r i a s dos s entido s , alegr ias do espírito,

a l egrias do c oraçã o , alegr ias do n o ivad o ,

al egr i as do amor conjug al. Tud o isto é


« do m de Deus » e o homem deve estar-Lhe
im e nsa mente r econhecido e most r ar-Lhe a
s ua gr at id ão .
Foi Deus que fez os s ex o s comple­
mentares ; e qui-los assim para seu enri ..
quecimento mútuo. Uma identidade total
ter-lhes-ia interdito g r an de número de ven­
turas, de al egr ias de p r az e r es de possibi­
, ,

lidades de realização total. É porque são


diferentes na sua maneira de ser, de pensar,
de sentir, que os homens e mulheres podem
..4. IHtimidade CoHjugal

com plet ar-se ; mas esta dife ren ça dá- lhes


tam bém a pos sibi li dad e de s e ch o c ar e m
!O pró prio Deus, com dot a:. o home� d e
.

':liber dade, não po dia i ped i este s


m r a�r1tos.
J
�Todavia , ensin a-no s , por es us Cris t o , os
t prec eitos de amor , de pur eza, d �.ória
'

e
· sobre nós mesm os , de fi delida de irr e preen­
sível que, seguidos integral mente, cond uzi­
riam os cônjuges à perfeita plenitude e.
i desabrochamento. Em suas -m �os está s erem
I

�- suficientemente prudentes, i'hteligentes , vir-


: tuosos , para fa ze r e m s er vir estas diferenças
ao enriquecimento recipr o co e não ao· seu
mútuo torm ento. Deus, em to do o caso,
quere-o, ordena-o ; é uma o b ra explen­
didá. A esposa encarará p ois o s e u
casamento, consciente e delib eradam ente,
como uma magnífica missão a c u mp ri r ,

uma obra de ar t e a realizar e a levar


a bom termo. Há-de encontrar, fatal­
mente, dificul dades e obstáculos. Cons­
ciente d9 seu dever de estado providencial,
saberá vence-los.
O fim conjugal do casamento é a realiza­
Çi� ylena dos esposos. Ao cumprir gene-
O Livro da Esp osa

ros am e n t e a s u a n1issão so c ial q u


e é a
ed u c aç "'
a o d o flh
s 1 o s ,. a es po s a nã o omitirá
.
0 c um p rim en to d e v 1 d o d s
a tar efa s c o n u- .

J
. S c m pa r
gai s r na e a m a n t e ,
erá a o n h e i a te
a c� e . Ih e i r a o a m pa r o no tr ab alh o e a
. ,

anitlâ d o r a d o seu esp o so, dar -lh e -á a


be b er, p o r um b e l o e a 1n p l o vas o , 0 a fe c t o
e d o ç ur a d e qu e o s e u cor açã
o de hom em
t a n t a nec e�s ida de tem .
O p r in cípio polít ico da vida conj ugal é 0
d as c o n ces s õ es mút u as . Onde a harm onia
nã o é e s p o ntâ nea, de v e surgir um a c or d o
est u dad o e volun t ário, no qual cada um
do s esp o s o s contribui c o m a sua parte
par a supo r tar a l e g r e m e n te os s acr i fíci o s
necess ários a um entendim ento pacífico e
amoros o .
A mor al !5 exual do matrimó n io r esid e
esse ncia l m ent e n a inte grid ade fís i ca e
psic o lóg ica da u n iã o , do do m mú tuo .
a r
Sem nunc a po ste rgar os sentid os, o mo
dev eria en riq ue ce r- s e de q ualid ad es esp i­
rituais .
Q ue o praz er s ej a a ocasiã o , o acom ­
lh o r
panham en to , o su po rt e du ma co is a me
1 94 A Jutitnida dl C o njugal
---

e q� e 0 ult r apass a i mens a�ente : o d o m


total d o s c orações e a un 1ao das al m a s .
O s e sp o s o s não c umprirão _p l e n am e nt e a
sua missão conjugal de p l e n i t u d e e d e s a ..
brochamento , a sua m is s ã o soci al e � r eli­
g i o s a de salvador es da Cidade t er r e str e e
d e p ro p agador es do R e i n o de Deu s s e
não -· s e tornam << P ai » e « Mã e » . O « lar »
não at i nge a s u a p l e n i t ud e h u m a na e
providencial, s e não passar dum c a nt o
estreito de egoísmo, em vez do m eio ,

l argo vibrante e povoado , em q ue viv e


,

uma « fa mí li a » .

Aos esposos que pro curem v iv e r o


matrimónio neste e sp í r it o cristão , não
s er ã o p oupadas as provaçõ es e as r e n ú n ­
cias ( Cr i s t o não veio a e s t e mundo s u p r i­
mir o sofrim ento ) ; mas terão encont rado ,
sobretud o s e Deus . lhes conced e a graça
incomp aráve l de p od e r educar conve nien­
teme nte os s eus filhos , a s e n d a da felici dade .
•·)
te rr e s tr e , s em p r e r e l ativa , o s eg r e do do
lar quente, amante, unid o , a mai or doç ura
que pod e exp erim ent ar um cor açã o de
mulher . . .
V Livro . da Esposa
I
195

Se a lgum m ar i do , p o r curiosidade, leu


este l ivr o , não faça o e x ame de cons c iência
da sua m ulher , m as e x amin e a própria
con d u ta , c o rrij a - s e a si mesm o e procur e
t ornar - s e melhor . O s l ares em qu e cada
u m d o s e sposo s pr o c eder desta maneira,
s erão lar e s felizes e pl en os de ventura.

Reformatado by:

http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ÍNDICE

PaiFÃcio . •

PRIMEIRA PARTE

VISTAS DE SlNTESE

A s riquez a s do amor . IS
Para que cante no lar o a m or perfeita.

O casam ento perfeito .


O fim conj ugal do casamento
psicologia dos homens
.

A
sentido do dom carnal .
.

SEGUNDA PAR TE

PA G I N AS DE INTI MI DADE

O d om de nós m e s m as
C onselhos A j ov e m Món ica
lO (
Con selh os a uma mãe .
111
A espiritu aliz açio do amo r
1 19
Para além do insti nto .

Para qv.e vibre sempre o a m or 1 39


19ft A Intimidade C()njugal

'T E R C E I R A PARTE

P E R S P E C T I V A S C R I S T .� S
P�g s.
Direitos e deverey da esposa •
r-
J::>
Este sacramento é grande . •
173
Espiritualid ad e conj ugal .
1 ]9
Concl usões . 191
ACABOU D:! SE IMPRIM IR ESTE LIVRO

NO DIA 20 DE ABRIL DE l 9U NAS

O F I CINAS DA GRÁFICA DE COIMBR A ,

BA IRRO DE 2
'

S. J OSÉ1 - C O I M BR A

Reformatado by:

http://alexandriacatolica.blogspot.com.br

Você também pode gostar