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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2019.0000444725

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 1021874-


93.2015.8.26.0100, da Comarca de São Paulo, em que são apelantes GERALDA MARIA
GARCIA e ALEXANDRE GARCIA ELETRO ELETRÔNICOS ME, é apelado ATA NO
BREACK - ME.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 25ª Câmara de Direito Privado


do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Rejeitadas as
preliminares, deram provimento parcial, nos termos que constarão do acórdão. V.U.,
de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores HUGO CREPALDI


(Presidente sem voto), CARMEN LUCIA DA SILVA E ALMEIDA SAMPAIO.

São Paulo, 5 de junho de 2019.

Claudio Hamilton
Relator
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Apelação Cível nº 1021874-93.2015.8.26.0100


Comarca: São Paulo
Apelantes: Geralda Maria Garcia e outra
Apelada: Ata No Breack ME
Juiz: Antonio Carlos de Figueiredo Negreiros

VOTO 20.165

APELAÇÃO AÇÃO ORDINÁRIA PARCIAL


PROCEDÊNCIA RELAÇÃO COMERCIAL COMPRA E
VENDA PRODUTOS IMPORTADOS Decadência,
Sentença citra petita e extra petita Inocorrência - Litígio que
não envolve mero vício oculto, mas erro substancial das
características do produto - Aquisição de capacitores que
vieram a explodir após sete dias de instalação - Perícia judicial
que concluiu que os produtos entregues eram de especificações
diversas daquelas adquiridas Responsabilidade civil Direito
da autora à devolução de todo o valor despendido e dos
prejuízos sofridos Sentença modificada apenas para
reconhecer a sucumbência parcial das partes e fixar honorários
também em favor do patrono das requeridas Recurso
parcialmente provido, rejeitadas as preliminares.

Trata-se de ação de indenização por danos materiais e morais

que ATA NO BREACK ME move em face de GERALDA MARIA GARCIA

e ALEXANDRE GARCIA ELTRO-ELETRÔNICOS ME julgada

parcialmente procedente para condenar as rés a restituírem os valores

despendidos pela autora com a aquisição dos quarenta capacitores (pág.

27), incluindo-se frete e despesas com entrada do produto no território

nacional (pág. 34), com correção monetária desde a data do desembolso

e juros legais de mora desde a citação; bem como para CONDENAR as

rés a pagar à autora, a título de danos emergentes, indenização no valor

de R$ 3.760,00, com correção monetária a contar de 07/12/2014 (data de

prestação dos serviços pelos técnicos e troca da placa eletrônica) e juros

Apelação Cível nº 1021874-93.2015.8.26.0100 -Voto nº 20165 – São Paulo 2


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legais de mora a contar da citação, julgado improcedente o pedido de

indenização por danos morais. Sucumbentes, as requeridas foram

condenadas ao pagamento das custas, despesas processuais e

honorários advocatícios fixados em 20% do valor da condenação

atualizada.

Inconformadas, apelam as vencidas aduzindo, em síntese,

preliminar de decadência, com fundamento no artigo 445 do Código Civil,

ressalvando que o contrato de compra e venda foi firmado em

15/08/2014, os produtos foram entregues em 19/09/2014 e a apelada, ao

tomar conhecimento do vício em 06/12/2014 tinha o prazo de 30 dias

para ajuizar a ação, tendo como prazo final o dia 05/01/2015. Ajuizada a

ação em 10/03/2015, alega que a autora decaiu em seu direito.

Alega nulidade da sentença, por ser extra petita, ao condenar a

apelante pelos danos emergenciais, não requeridos na inicial, bem como

inexiste ato ilícito, visto que não produz o produto, mas apenas o importa.

Acrescenta que não há prova de pagamento do suposto serviço prestado

pelos técnicos, nem da troca de placa eletrônica do inversor UM 713, que

restariam comprovados por meio de nota fiscal.

Também considera a sentença citra petita, porque não se

analisou a defesa em sua amplitude, que impugnou todos os valores

buscados, questionando a ausência de provas, fato sequer considerado

na decisão.

No mérito, alega divergência no fato de a autora aduzir que a

maioria dos capacitores queimaram, ao passo que o perito relatou que

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todos os equipamentos queimaram, isso porque o expert não levou o

equipamento multímetro para aferir a capacitância dos objetos que não

queimaram. Por isso a perícia é falha.

Também questiona a assertiva do perito de que as instalações

da empresa autora estavam em perfeitas condições, sendo que sequer

visitou o local dos fatos.

Também alegou falta de imparcialidade do perito, ex funcionário

da empresa Ericsson, empresa cliente da apelada e quanto ao pedido de

indicação de novo perito não houve manifestação a respeito pelo

magistrado.

Expõe que impugnou o laudo e o assistente técnico detalhou

como deveria ser feito o teste nos capacitores, não observado pelo perito.

Em relação as supostas especificações diversas dos capacitores, diz

desconhecer, posto que às fls. 105 consta exatamente a mesma

especificação que se havia encomendado.

Também aponta contradição nas fotos da pessoa que de fato

efetuou a troca dos capacitores e se teria capacidade técnica para

execução do serviço. Indaga como poderiam somente dois capacitores

explodirem, se todos estavam ligados em um mesma fonte de energia.

Afirmam que aqueles de capa vermelha constante nas fotos são

desconhecidos, haja vista que não importa produto de má-qualidade ou

falsificado. Acrescentam que não teve acesso aos quarenta capacitores

supostamente queimados.

Do relato do perito, alegam que é possível concluir que a causa

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da explosão não poderia se dar em razão de sua capacitância ser maior,

mas sim menor do que a especificada. Se a explosão ocorreu sete dias

após, constatam que o problema não era com os capacitores e a perícia é

falha porque não investigou suficientemente a causa do ocorrido. Requer

seja desconsiderada a prova pericial.

Contestam a condenação à devolução da quantia paga pelo

produto e indenização por perdas e danos, por entender o magistrado

que a apelante conhecia o vício ou defeito do produto, argumentando que

a suposta falha não ficou provada pela perícia; que se tratando de

produtos importados não detém nenhum controle de qualidade sobre

eles; a conclusão do magistrado não pode se basear pela simples

divergência de marca e características, se documentalmente provou-se a

coincidência do produto com a encomenda.

Subsidiariamente, caso se reconheça que houve comprovação

do defeito ou vício, pugnam para que seja excluída a condenação por

perdas e danos, porque não tinha conhecimento das falhas e não se

provou que tenha agido de má-fé.

Elucida que a ficha de visitas é insuficiente para provar o

desembolso de valor para o serviço prestado para reparo e substituição

dos capacitores, ausente nota fiscal, inclusive da compra da placa do

inversor. Diversamente do que alegou o magistrado, afirmam que

contestaram o pedido de restituição de R$ 2.800,00 pela troca da placa e

os documentos em que se sustenta. Requerem seja afastada a

condenação por danos emergentes.

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Quanto aos honorários advocatícios, aduzem que a autora teve

êxito em três dos sete pedidos, o que implica sucumbência recíproca,

devendo também ser condenada ao pagamento da verba, sem prejuízo

da redução daqueles já fixados.

Vieram contrarrazões (fls. 434/450).

É o relatório.

Ao que se colhe da inicial, alegou a autora, preliminarmente,

que as partes se confundem, uma vez que utilizam o mesmo nome,

"Gartec", mesmos canais de atendimento e página na internet. No mérito,

argumentou que em 28/07/2014 realizou cotação por meio do endereço

eletrônico das rés, objetivando adquirir "40 Capacitores Eletrol com porca

para colocação de parafusos e base sem parafuso; 10.000 UF, 250 VCC,

Altura 220 ou 170mm". Foi informado, no dia seguinte, que estaria

disponível o produto "Novo Black Edition capacitores eletrônicos de

volume 250V, 10.000 UF, 65 MMX, 145 MM.", sendo negociado o preço

final de R$ 133,00 por produto, neste preço inclusas as taxas de

importação e entrega, totalizando R$ 5.320,00 (por 40 unidades). Aduziu

que em 14/08/2014 foi acordada a forma de pagamento, parcelada e via

"PayPal"; que a compra, incluindo a taxa da operadora e a taxa de

parcelamento, totalizou R$ 6.184,57, em seis parcelas de R$ 1.030,76.

Alegou que foi feito o desconto do valor total de uma só vez de seu

cartão; a entrega foi realizada após o prazo acordado; foi obrigada a

efetuar pagamento de R$ 910,00 para a liberação dos capacitores junto à

Receita Federal, não previstos na negociação; as rés se recusaram a

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entregar nota fiscal, condicionando ao pagamento de mais 15% do valor

da compra. Em relação aos produtos, elucidou que os capacitores,

instalados em 29/11/2014, vieram a explodir sete dias depois da

instalação, descobrindo-se depois que eram de má qualidade e de

procedência duvidosa. Requereu a procedência da demanda, para

condenar as rés à devolução dos valores pagos pela compra; devolução

em dobro do valor de R$ 910,00 cobrados indevidamente para a

liberação dos produtos na Receita Federal; ao pagamento de R$

2.400,00, equivalente a 12 horas de serviço de dois técnicos, utilizadas

para substituição dos capacitores e a indenização dos demais danos

materiais; ao pagamento de indenização por danos morais, estimados em

R$ 15.000,00, além das sucumbências.

Citados, os réus contestaram a ação.

Arguiu Alexandre Garcia Eletro-Eletrônicos ME que as rés

constituem empresas diversas, bem como que a relação firmada entre as

partes é civil, porque as peças foram usadas na prestação de serviço de

à cliente da autora, descabendo a aplicação do CDC; que atuou como

mera importadora do produto solicitado e não houve descumprimento

contratual, haja vista que foi a própria autora que selecionou a opção de

compra parcelada em uma vez no sistema PayPal; que o prazo para

entrega definido era meramente informativo, uma vez que se trata de

produto adquirido do exterior que ficou parado na alfandega aguardando

liberação, logo o atraso foi por fato de terceiro; e que a autora usou os

produtos somente 72 horas após a entrega, o que denota não ter havido

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qualquer prejuízo; que a taxa de R$ 910,00 é devida pois trata-se de

pagamento por serviço prestado pela ré como mera despachante,

implicando importação por conta e ordem do adquirente; que improcede a

alegação de que os capacitores eram de má qualidade ou procedência

duvidosa, haja vista o funcionamento por sete dias; eventual prejuízo

decorreu da imperícia da autora; disse que inexiste prova do trabalho

desempenhado pelos técnicos para a troca dos capacitores a ensejar

indenização; rechaçou a indenização por danos materiais e morais,

ausente o nexo causal. Requereu a improcedência.

A corré Geralda Maria Garcia, empreendedora individual, por

sua vez, alegou ilegitimidade passiva, eis que não participou da

negociação, tendo apenas emprestado seu cadastro no sistema PayPal à

corré para que a autora pudesse realizar o pagamento. No mérito, disse

que foi a própria autora que direcionou a forma de pagamento no sistema

do PayPal, ainda alegou que estornou o valor para que a autora

corrigisse o procedimento; que inexiste contrato ou tratativa comercial

firmada entre a autora e a ré. Subsidiariamente, alegou falta de prova de

defeitos nos capacitores. Requereu a extinção do processo sem

julgamento do mérito e a improcedência da ação.

Houve réplica (fls. 139/144 e 145/151) e encarte de outros

documentos, deferido pelo juízo.

Laudo pericial acostado às fls. 266/317, sobre o qual se

manifestaram os réus (fls. 324/329) e os autores (fls. 355/356).

Parecer técnico divergente às fls. 330/346, seguido de

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esclarecimento do perito às fls. 363/368.

Os réus encartaram nova impugnação ao laudo

complementado, subscrito por seu assistente técnico. Sobreveio o

julgamento da ação.

O recurso comporta parcial provimento.

A priori, não há que se falar em decadência. A pretensão diz

respeito à inexigibilidade do contrato por descumprimento por parte da

vendedora, ou seja, envolve anulação do negócio entabulado, não por

mero vício oculto, mas por erro substancial ao bem que se estava

adquirindo, cuja fraude perpetrada foi descoberta com a explosão dos

capacitores, colocando em evidencia as especificidades reais do produto,

diversas daquelas contratadas. Portanto, a causa sujeita-se ao prazo

decadencial de 4 anos, nos termos do artigo 178, II do CPC.

Descabido o argumento de sentença extra petita, considerando

que os valores da condenação estão abrangidos pelos pedidos de danos

emergentes relacionados às fls. 06/07. Também não socorre as

recorrentes alegar falta de ato ilícito, tendo atuado como mera

importadora. Ora, o negócio jurídico deu-se diretamente com a corré

Alexandre Garcia, assumindo essa o risco das qualidades do produto,

cujo valor foi depositado em favor da segunda corré.

O cálculo do valor da condenação relativo à visita técnica que

se utilizou o autor para o reparo após a explosão com os capacitores foi

devidamente fundamentado pelo magistrado, que se valeu de tabela do

CREA para o arbitramento.

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No mais, o documento de fls. 36/37 comprova a prestação

desse serviço e a necessidade de aquisição de uma nova placa

eletrônica, atingida com o ocorrido.

Também não houve decisão citra petita, porque as questões

relevantes capazes de infirmar a solução adotada foram enfrentadas.

No mérito propriamente dito, melhor sorte não assiste às

recorrentes.

Quanto aos fatos, o conjunto probatório mostra-se suficiente

para responsabilização das rés pelos prejuízos suportados pela autora.

O objeto comercializado consiste em 40 capacitores eletrônicos

de volume 250V 10.000 uF 65 MMX 145 MM.

Com efeito, o laudo pericial assim concluiu acerca dos

capacitores fornecidos para perícia (fls. 301):

“Analisando-se os capacitores disponibilizados pela Requerente

durante esta diligência, esta perícia constatou que os mesmos

apresentam uma etiqueta (capa de plástico preto) com as informações de

capacitância e voltagem de 10.000uF e 250V (marcas FXA e HCG FA),

contudo ao se retirar esta primeira etiqueta se constatou que existiam

outras etiquetas e marcações não identificadas e/ou de capacitância e

voltagem de 12 .000uF e 450V, conforme se verifica no item 4.3.3 deste

laudo pericial.

“Esta perícia não realizou diligência no local onde ocorre a

explosão dos capacitores adquiridos das Requeridas, ou seja, no No-

Break da marca ABB e instalado na empresa Ericsson, pois em nada iria

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contribuir para esclarecer os fatos, pois o referido No-Break se encontra

instalado no local há vários anos e novos capacitores foram instalados no

local pela Requerente em 07/2015, os quais estão em funcionamento

normal até os dias atuais”.

Ora, a prova pericial dos autos é indene de dúvidas no sentido

de concluir que as características elétricas destes capacitores não eram

aquelas expressas em sua etiqueta, fato que ocasionou um desiquilíbrio

na capacitância e voltagem do banco de capacitores do No Break onde

foram instalados, tendo como consequência sua explosão após 7 dias de

sua instalação (fls. 308).

Às fls. 306, expressamente o perito afastou como causa da

explosão problemas de instalação ou no equipamento No-Break.

A conclusão a que chegou o expert deve ser considerada,

porquanto produzido por profissional imparcial à causa, cujo trabalho foi

realizado dentro do contraditório e da ampla defesa, o qual deve mesmo

prevalecer. Nem se diga que o fato de ter trabalhado na Ericson, local

onde os fatos ocorreram, inquina o resultado da perícia, porque não há

prova da alegação e mesmo que houvesse, a empresa em questão não é

parte no processo, sendo apenas cliente dos serviços prestados pela

autora.

Com efeito, o devido processo legal foi observado em toda a

sua concepção, resultando o julgamento no estado de expressa previsão

normativa, o que, por óbvio, homenageia o princípio do contraditório.

As recorrentes tecem inúmeras impugnações, no entanto,

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nenhuma capaz de desconstituir a conclusão do perito. Pelo contrário,

alegaram desconhecer a divergência do produto.

Além disso, constou da sentença o fato de ter o perito

concluído que os produtos não apresentavam características de

capacitores novos. A procedência deles restou, portanto, duvidosa, mais

ainda considerando a resistência a vendedora em entregar a nota fiscal

da compra.

Diante do cenário relatado, ainda que atuando como

importadora, independentemente de existência de má-fé, a parte ré

obrigou-se a fornecer à autora produto certo e determinado. Se coisa

diversa foi entregue, deve responder pelos danos daí advindos, seja pela

regra geral prevista no artigo 186 ou mesmo pela responsabilidade do

empresário individual, prevista no artigo 931, ambos do Código Civil.

O pedido de ressarcimento quanto aos reparos realizados no

local da explosão, na empresa cliente da autora, também merece ser

mantido. Com efeito, a ficha de visita aponta que o serviço foi prestado e

havia necessidade de troca da placa avariada. A impugnação ao valor

desta peça foi genérica, ausente prova de que esteja em dissonância com

valor que é comercializada.

Logo, fica mantida a procedência da ação, ainda que por

fundamento diverso.

O recurso comporta reparo somente em relação à distribuição

da sucumbência.

Tendo em conta que a soma da pretensão total da autora

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equivale a R$ 35.437,37 (danos materiais e danos morais) e que o valor

reconhecido a seu favor não alcança 11 mil reais (sem os consectários

legais), de rigor reconhecer que ambas as partes saíram vencidas e

vencedoras.

Assim, as custas e despesas processuais desembolsadas por

cada parte serão por elas próprias suportadas. Vedada a compensação,

ficam mantidos os honorários arbitrados em favor do patrono da autora

que, no entanto, também deverá pagar ao patrono da parte contrária,

honorários de mesmo percentual calculados sobre o proveito econômico

obtido, consistente na diferença do valor obtido com aquele efetivamente

reconhecido em sentença que a autora faz jus.

Consequentemente, dá-se parcial provimento ao recurso tão

somente para modificar a distribuição das sucumbências.

Posto isso, dá-se parcial provimento ao recurso, rejeitadas as

preliminares, nos termos do acórdão.

CLÁUDIO HAMILTON
Relator

Apelação Cível nº 1021874-93.2015.8.26.0100 -Voto nº 20165 – São Paulo 13

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