Você está na página 1de 6

20/11/2020 Neurocientista vê futebol negligente com riscos de demência e Alzheimer - 20/11/2020 - Esporte - Folha

Neurocientista vê futebol negligente com riscos de


demência e Alzheimer
Estudos de William Stewart apontam para os perigos de repetidas cabeçadas na bola

20.nov.2020 às 14h14

Alex Sabino (https://www1.folha.uol.com.br/autores/alex-sabino.shtml)

SÃO PAULOO neurocientista William Stewart, 50, já se acostumou com a


acusação de que pretende arruinar o futebol. Ele também passou a ser cada
vez mais procurado quando casos de ex-jogadores com demência ou
Alzheimer vem à tona. No começo deste mês, isso aconteceu várias vezes.

No dia 1º, foi anunciado que Bobby Charlton


(https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1995/2/19/esporte/35.html),
83, o maior jogador inglês da
história, tem demência. Nobby Stiles havia morrido 48 horas antes, vítima de
complicações causadas pelo mesmo mal. Ambos foram integrantes da seleção
campeã mundial de 1966 (https://www1.folha.uol.com.br/especial/2010/copa/historia-1966.shtml).

https://www1.folha.uol.com.br/esporte/2020/11/neurocientista-ve-futebol-negligente-com-riscos-de-demencia-e-alzheimer.shtml 1/6
20/11/2020 Neurocientista vê futebol negligente com riscos de demência e Alzheimer - 20/11/2020 - Esporte - Folha

Sua assinatura vale muito.


ENTENDA

O ex-jogador da seleção inglesa, Bobby Charlton, em aparição durante o torneio de Wimbledon -


Ben Stansall-7-jul-18/AFP

No dia 2, Uschi Muller, mulher de Gerd (https://www1.folha.uol.com.br/esporte/760178-maior-


artilheiro-alemao-em-copas-gerd-muller-duvida-de-klose.shtml)Muller (https://www1.folha.uol.com.br/esporte/760178-

maior-artilheiro-alemao-em-copas-gerd-muller-duvida-de-klose.shtml), 75, vencedor da Copa de 1974 com

a Alemanha, disse que o marido está "fazendo sua passagem enquanto


dorme". De acordo com ela, o ex-jogador sofre de demência senil e passa quase
todas as horas do dia na cama.

"Está comprovado que jogadores de futebol são 3,5 vezes mais propensos a ter
demência do que a população em geral. A probabilidade de Azheimer é cinco
vezes mais alta. Doenças motoras são quatro vezes mais prováveis", afirma à
Folha Stewart, professor do Instituto de Neurociência e Psicologia da
Universidade de Glasgow, na Escócia.

https://www1.folha.uol.com.br/esporte/2020/11/neurocientista-ve-futebol-negligente-com-riscos-de-demencia-e-alzheimer.shtml 2/6
20/11/2020 Neurocientista vê futebol negligente com riscos de demência e Alzheimer - 20/11/2020 - Esporte - Folha

Ele pesquisa os efeitos de repetidas batidas


Sua assinatura namuito.
vale cabeça em atletas de futebol e
rúgbi há 18 anos. O primeiro caso estudado foi o de Jeff Astle, atacante de
ENTENDA
seleção inglesa na Copa de 1970 e maior artilheiro da história do West
Bromwich Albion, com 174 gols. Astle morreu em 2002, aos 59 anos, de
doença degenerativa no cérebro causada, segundo a autópsia, por repetidos
traumas.

"Meu pai atuou em uma Copa do Mundo e morreu sem se lembrar ter sido
jogador de futebol", disse a sua filha, Dawn.

Na última semana, Geoff Hurst, autor de três gols na final do Mundial de 1966,
disse que após sua morte permitirá estudos sobre seu cérebro para pesquisar
sinais de demência.

"Os atletas do passado e os atuais nunca foram olhados em um microscópio


nessa questão de lesões na cabeça, da encefalopatia traumática crônicas, dos
repetidos choques. Talvez porque na NFL (liga de futebol americano) e no
rúgbi, a força dos choques seja mais evidente. No futebol é algo mais insidioso,
lento. Não se percebe", completa o neurocientista.

Segundo os estudos dele, os riscos são tão elevados para jogadores de futebol
quanto de rúgbi.

Stewart já ouviu várias vezes que o problema de fato existiu, mas ficou no
passado, com a mudança no material de jogo. As repetidas cabeçadas com
bolas de couro que, em dias de chuva se tornavam ainda mais pesadas,
causaram problemas em tantos jogadores que não há uma estatística
confiável.

Exame realizado após a sua morte revelou que Bellini, capitão da seleção
brasileira (https://www1.folha.uol.com.br/esporte/folhanacopa/2014/03/1428473-morre-bellini-aos-83-anos-bicampeao-
mundial-e-capitao-da-selecao-de-1958.shtml) na Copa de 1958, morreu em 2014 de demência

causada por encefalopatia traumática crônica.

https://www1.folha.uol.com.br/esporte/2020/11/neurocientista-ve-futebol-negligente-com-riscos-de-demencia-e-alzheimer.shtml 3/6
20/11/2020 Neurocientista vê futebol negligente com riscos de demência e Alzheimer - 20/11/2020 - Esporte - Folha

A consequência desse pensamento é que as


Sua assinatura bolas
vale atuais, mais leves e
muito.
modernas, não causariam tanto risco. Essa visão irrita o pesquisador.
ENTENDA

"É uma falácia dizer que bolas de couro eram o problema. Nossa experiência é
que o principal fator é, na verdade, a velocidade em que a bola viaja. A bola de
hoje em dia é mais rápida. Não há nenhuma evidência científica de que a
demência no futebol diminuiu nos últimos anos. As autoridades do futebol
gostam de falar isso porque é um argumento para não fazerem nada", opina.

O cientista sabe mexer em um vespeiro. Ele reconhece que novas pesquisas


devem ser feitas antes de reivindicar qualquer mudança nas regras do esporte,
mas afirma que algo precisa ser feito.

São necessários mais estudos para identificar o efeito que repetidas cabeçadas
produzem. E se é impossível reduzir os lances em que o atleta acerta a bola
com a cabeça durante as partidas, pode ser necessário diminuir isso ao menos
nos treinamentos.

Na situação atual, Stewart avalia, apenas em 20 ou 30 anos os cientistas terão


um cenário sobre a situação dos jogadores em atividade. É possível estudar
isso agora, segundo ele.

"Nunca houve nenhum contato da Fifa ou da Uefa. O futebol poderia fazer


muito mais. Durante a semana, os atletas são expostos a centenas de
cabeçadas evitáveis. Temos de reduzir esse risco. Que a cabeçada é um
problema imediato, já está estabelecido. Mas o que fazer é uma decisão que o
futebol e seus jogadores têm de tomar", diz.

Procuradas para comentar o tema, Fifa e Uefa não se manifestaram.

Uma conclusão a que seu departamento na Universidade de Glasgow já chegou


é que crianças com 10 anos ou menos que jogam futebol não deveriam nunca
cabecear uma bola. Pelo período de formação do organismo, é um problema
que causa perda de capacidade de assimilação ou de memória imediata.

https://www1.folha.uol.com.br/esporte/2020/11/neurocientista-ve-futebol-negligente-com-riscos-de-demencia-e-alzheimer.shtml 4/6
20/11/2020 Neurocientista vê futebol negligente com riscos de demência e Alzheimer - 20/11/2020 - Esporte - Folha

As federações inglesa e escocesa estabeleceram


Sua assinatura que garotos ou garotas com
vale muito.
menos de 12 anos estão proibidos de pôr a cabeça na bola durante os treinos.
ENTENDA

William Stewart, neurocientista e pesquisador da Universidade de Glasgow - Reprodução TV

Colocar em discussão a possibilidade de mudar um componente tão


intrínseco do futebol faz Stewart receber acusações de ser alarmista, um
inimigo do esporte mais popular do mundo.

"O que eu quero é preservar o jogo. Quero que os jogadores tenham melhor
vida na velhice. Que não sofram de alcoolismo, demência, depressão,
ansiedade e morram antes da hora. Se o futebol não reconhecer que há um
problema e continuar a se esconder sem fazer nada, mais e mais pessoas vão
morrer por causa disso", afirma.

"Futebol é realmente ótimo para a saúde em geral. Mas é horrível para o


cérebro do atleta."

EX-JOGADORES QUE TÊM OU TIVERAM PROBLEMAS ASSOCIADOS A BATIDAS NA


CABEÇA

Jeff Astle, atacante


Integrante da seleção inglesa na Copa de 1970, ele morreu em 2002, sem se
lembrar que havia jogado futebol. Foi o primeiro caso reconhecido no Reino
Unido de jogador que morreu em decorrência das repetidas cabeçadas na
bola.

Hilderaldo Bellini, zagueiro


Capitão do Brasil campeão mundial em 1958, Bellini morreu em 2014 depois
de ser diagnosticado com Alzheimer. Exame posterior mostrou que ele sofria
de Encefalopatia Traumática Crônica, doença associada a repetidas batidas na
cabeça.

https://www1.folha.uol.com.br/esporte/2020/11/neurocientista-ve-futebol-negligente-com-riscos-de-demencia-e-alzheimer.shtml 5/6
20/11/2020 Neurocientista vê futebol negligente com riscos de demência e Alzheimer - 20/11/2020 - Esporte - Folha

Bobby Charlton, atacante Sua assinatura vale muito.


Considerado o maior jogador inglês da história, sua presença em jogos de
ENTENDA
futebol se tornou cada vez mais rara a partir do ano passado. No início do mês,
sua família confirmou que o ex-jogador de 83 anos sofre de demência.

Gerd Muller, atacante


Artilheiro da Copa de 1970 e campeão em 1974, o alemão, hoje com 75 anos,
passa quase todo o dia na cama e sofre de demência, segundo sua mulher.

sua assinatura vale muito


Mais de 180 reportagens e análises publicadas a cada dia. Um time com
mais de 120 colunistas. Um jornalismo profissional que fiscaliza o poder
público, veicula notícias proveitosas e inspiradoras, faz contraponto à
intolerância das redes sociais e traça uma linha clara entre verdade e
mentira. Quanto custa ajudar a produzir esse conteúdo?

ASSINE A FOLHA (HTTPS://LOGIN.FOLHA.COM.BR/ASSINATURA/390510?


UTM_SOURCE=MATERIA&UTM_MEDIUM=TEXTOFINAL&UTM_CAMPAIGN=ASSINETEXTOCURTO)

ENDEREÇO DA PÁGINA

https://www1.folha.uol.com.br/esporte/2020/11/neurocientista-ve-futebol-
negligente-com-riscos-de-demencia-e-alzheimer.shtml

https://www1.folha.uol.com.br/esporte/2020/11/neurocientista-ve-futebol-negligente-com-riscos-de-demencia-e-alzheimer.shtml 6/6

Você também pode gostar