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PEPPER WINTERS

Disponibilizado: Eva e Liz


Tradução e Pré-Revisão: Vivi Gueixinha
Revisão: Thay, Mallu
Leitura Final: Ly
Formatação: Niquevenen

PEPPER WINTERS
Agradeço a aqueles que começaram esta jornada comigo.
Obrigada por cada resenha, cada mensagem, cada vislumbre de
suas almas. Não faz diferença se este é o meu décimo livro ou o
meu centésimo, eu vou sempre amar cada leitor, cada sorriso, e
valorizar cada coisa maravilhosa que me foi proporcionada
através da escrita.

PEPPER WINTERS
“Aos 18 anos, eu tinha algumas moedas, mas o dinheiro não me
fez mais corajosa.
Aos 19 anos, eu tinha alguns dólares, mas isto não aliviou a dor
de ser vendida.
Aos 20 anos, eu tinha centenas de dólares, mas então eu o
conheci e fui salva.
Aos 21 anos, eu tinha milhares de dólares, mas tudo o que eu
queria era ser presa.”

***

“Aos 23 anos, eu tinha alguns dólares, mas a vida mudou e me


fez rico.
Aos 25 anos, eu tinha centenas de dólares, mas isso não era
suficiente para satisfazer os meus desejos.
Aos 27 anos, eu tinha milhares de dólares, mas minha reputação
não me libertou.
Aos 29 anos, eu tinha milhões de dólares, mas eu a encontrei e
pude finalmente ver.”

***

PEPPER WINTERS
Tasmin foi morta no seu 18º aniversário.
Ela tinha tudo planejado. O início de uma graduação em psicologia, uma mãe que a
impulsionava para grandeza, e um futuro que qualquer um gostaria de ter. Mas
então seu assassino salvou sua vida, somente para vendê-la e mudar a sua história.

Elder saiu de uma situação na qual não tinha um centavo e se tornou podre de rico
através de uma reviravolta do destino. Sua vida de crimes e roubos ficou para trás,
mas não importa o poder que ele agora possui, não é suficiente. Ele tem um
objetivo a alcançar, e não vai parar até conseguir.

Mas então, eles se encontram.


Uma escrava espancada e um ladrão ricamente vestido.
Dinheiro foi o que definiu cada um dos seus destinos. Dinheiro foi o que os uniu. E
dinheiro foi o que os destruiu no fim.
Ela era pobre.
Ele era rico.
Juntos... eles foram à falência.

PEPPER WINTERS
Pennies (Dollars #1) é um ROMANCE DARK. Isto
significa que nele serão encontradas cenas difíceis de ler,
linguagem gráfica, e conteúdo sexual (escrito de forma implícita
e explícita). Por favor, não leia se o ato de se apaixonar por um
homem que se comporta como um monstro ao invés de
comportar-se como um cavaleiro de armadura branca ofende
você. Este não é um conto de fadas. Este é um abismo escuro
que deve ser escalado as cegas antes de chegar a luz. Além de
possuir um conteúdo dark, este livro é o primeiro de uma série
de cinco livros. Cada novela subsequente será lançada em
intervalos curtos (para que você não fique desesperada pelos
cliffhanger1), e cada um será um livro completo. Por favor,
lembre-se também de que nem todas as respostas serão dadas e
de que nem todos os personagens são o que aparentam.
Existem lobos em pele de cordeiros e cordeiros em pele de lobos.
Lembre-se disto.
Você foi avisado.
Não diga que eu não te contei.
Leia por sua própria conta e risco.
Assuma a responsabilidade de apaixonar-se por Elder Prest.
Você está pronto?

1 Recurso de roteiro utilizado para prender a atenção do leitor e fazê-lo continuar acompanhando a
história para testemunhar a conclusão dos acontecimentos.

PEPPER WINTERS
Você tem certeza?
Você tem realmente certeza?
Ok então... entre no mundo de pennies2 e dólares.

2 Moedas ou tostões.

PEPPER WINTERS
LIBERDADE.
Uma palavra tão modesta.
Ela carrega pouca importância para aqueles que a possuem.
Mas para aqueles que não, ela é a mais preciosa, estimada, e
carregada de esperança de todas as palavras existentes.
Eu acho que eu fui sortuda em conhecer a sensação da
liberdade.
Por dezoito anos, eu fui livre. Livre para aprender o que eu
quis, para fazer amizades com quem eu gostasse, e para flertar
com os garotos que passassem pelo meu precioso crivo.
Eu era uma garota simples com ideais e sonhos, encorajada
pela sociedade a acreditar que nada me machucaria, que
deveria me esforçar para conseguir uma excelente carreira, e
que ninguém poderia me parar. Regras me manteriam salva, a
polícia afastaria de mim todos os monstros e eu poderia me
manter inocente e ingênua em relação à escuridão do mundo.
Liberdade.
Eu a tinha.
Mas então, eu a perdi.
Assassinada, ressuscitada, e vendida.

PEPPER WINTERS
Eu fiquei presa por tantos anos.
Até o dia que ele entrou na minha jaula.
Ele, dotado de olhos escuros e alma negra.
O homem que desafiou meu dono.
E transformou meu aprisionamento em algo completamente
diferente.

PEPPER WINTERS
QUERIDO DIÁRIO,

Não, isto não soou bem. Uma expressão muito alegre para o
meu conto.

Querido Universo,

Risque isto. Muito grandioso.

Para a Pessoa que está lendo isto.

Muito vago.

Para a pessoa que eu gostaria que me ajudasse.

Isso me colocaria em problemas. E eu me recuso a parecer


fraca. Não se estas palavras serão a única coisa pelas qual
serei lembrada pelo estranho que ler este conto.

Para ...

PEPPER WINTERS
Batendo o lápis quebrado na minha têmpora, eu fiz o
melhor que podia para me focar. Por semanas eu estive
confinada, da mesma forma que um animal de zoológico, sendo
aclimatada em minha nova jaula. Eu fui alimentada, vestida, e
recebi atenção médica para curar os danos causados pela
minha captura. Eu tinha uma cama com lençóis, uma privada,
e shampoo para o banho. Eu tinha o básico que todos os seres
humanos e não humanos precisavam para viver.
Mas eu não estava vivendo.
Eu estava morrendo.
Eles só não conseguiam notar isto.
Espere ... Já sei.
Inspiração me tomou quando eu consegui definir a
saudação perfeita para o destinatário desta triste carta. A
expressão era a única coisa perfeita neste horrível novo mundo.

Para Ninguém.

No momento em que escrevi essas palavras no papel, eu não


fui capaz de parar as memórias que surgiram na minha mente.
Minha mão esquerda segurou firmemente o papel higiênico no
qual eu estava escrevendo, enquanto a minha mão direita voou,
calmamente transcrevendo o meu passado.

PEPPER WINTERS
EU TINHA DEZOITO ANOS quando eu morri.
Eu me lembro daquele dia melhor do que qualquer outro em
minha curta vida. E eu sei que você está revirando os olhos,
dizendo que isto só aconteceu há três semanas, mas acredite em
mim, eu nunca vou esquecer. Eu sei que algumas pessoas dizem
que certos acontecimentos têm impactos eternos na psique
humana, mas até então eu não tinha passado por nada do
gênero. Veja bem, Ninguém, eu acho que você me chamaria de
mimada. Algumas pessoas podem até dizer que eu mereço isto.
Não, isto é uma mentira. Ninguém desejaria isto a seu pior
inimigo. Porém de todas as formas, você é o único que sabe que
eu não estou morta. Eu estou viva nesta cela a espera de ser
vendida. Eu fui machucada, tocada e violada de todas as formas
que não envolvessem estupro, e fui despojada de tudo o que eu
costumava ser. No entanto para minha mãe? Eu estou morta. Eu
morri. Quem sabe se ela um dia saberá a verdade a respeito do
que aconteceu comigo.

O movimento do meu lápis parou. Eu comecei a ofegar,


tremendo muito ao reviver mentalmente o que me aconteceu.
Minha vontade de continuar respirando desapareceu.
Demorou um tempo para que eles conseguissem me quebrar,
mas conseguiram. E agora eles conquistaram seu objetivo, eu
era nada mais que uma carga esperando pela transação de
venda.

PEPPER WINTERS
Por dias, tudo o que eu tinha para me entreter eram os
meus pensamentos caóticos, minhas memórias terríveis e o
pânico sufocante que me tomava ao imaginar o que eles tinham
planejado para o futuro. Mas isso foi antes de encontrar a
mastigada metade de um lápis embaixo da cama.
A descoberta foi melhor que comida ou liberdade; melhor
porque meus traficantes controlam meticulosamente estas duas
coisas. Eu não tenho poder para decidir quando vou tomar café
da manhã ou jantar, e não posso mudar o fato de que eu estaria
sendo vendida como um pedaço de carne para o maior lance.
Eu não posso controlar o fato de estar sozinha em um
quarto minúsculo que outrora tinha sido uma suíte de um
hotel, que teve suas instalações compradas para a realização de
estadias mais desagradáveis. As toalhas surradas possuem o
logotipo de algum estabelecimento antigo, e os tapetes tem
detalhes de ouro e bronze, indicando que a decoração do lugar
não foi trocada desde os anos setenta.
Há quanto tempo este lápis esteve escondido embaixo de
minha cama? Seriam estas marcas de mordida dadas por uma
criança impaciente enquanto esperava os pais para poder ir
explorar uma nova cidade? Ou alguma camareira o perdeu ao
arrumar a cama?
Eu nunca saberia.
Mas eu gostava de fantasiar, já que não tinha outra coisa
para fazer. Eu passei os meus agonizantes e chatos dias

PEPPER WINTERS
explorando todos os recantos da minha prisão. Eles quebraram
o meu espírito, acabaram com meu desejo de lutar, mas não
conseguiram acabar com meu instinto de sobrevivência. O
instinto que todos têm - pelo menos eu acho que sim.
Eu estive sozinha por tanto tempo até então, que não sei
como as outras garotas, que foram trazidas juntas comigo,
estavam lidando com a situação. Será que elas apenas se
deitam na cama esperando os acontecimentos futuros? Será
que elas estão encolhidas em um canto, rezando para que seus
pais as salvem deste pesadelo? Ou elas simplesmente aceitam a
situação, já que a aceitação é mais fácil que a luta?
No meu caso? Eu corri meus dedos machucados por todas
as paredes, todas as rachaduras, todos os quadros e todas as
janelas e fachadas. Eu me arrastei pelo chão, procurando por
algo que pudesse me ajudar. E quando eu pensei em ajuda, eu
não sei se eu queria algo para usar como arma para poder
escapar ou se eu queria algo para acabar com meu sofrimento
antes que ele começasse de verdade.
Eu levei dias investigando cada centímetro deste quarto.
Mas tudo o que eu pude encontrar foi este pedaço de lápis meio
mastigado. Um presente. Um tesouro. A ponta de grafite estava
quase no fim, e não demoraria muito até que ele precisasse ser
apontado, mas eu me preocuparia com isso outro dia. Eu me
tornei mestre em ignorar minhas preocupações e necessidades.

PEPPER WINTERS
A única coisa que eu não pude encontrar foi papel. Não nas
gavetas da mesa e nem no armário embaixo da televisão
estragada. O único material no qual eu poderia escrever era
papel higiênico, e o lápis não aceitou bem esta ideia, rasgando o
suave tecido ao invés de marcá-lo com suas linhas prateadas.
No entanto, eu estava determinada a deixar algum tipo de
nota para trás. Alguma parte de mim que esses bastardos não
tinham tomado e nunca tomariam.
Respirando profundamente, eu ignorei minhas condições
atuais e segurei o lápis de forma mais firme. Olhando a porta
para me certificar de que estava sozinha, eu estiquei com mais
precisão o pedaço de papel para facilitar o ato de escrever, e
continuei o meu relato.

Eu desejo poder dizer que um mostro me matou. Que um


terrível acidente causou esta situação. E eu posso dizer isto ...
Até certo ponto.
No entanto, a verdadeira e principal razão pela qual eu estou
morta e me transformei em um brinquedo prestes a ser vendido é
a minha criação.
Sabe a postura confiante que minha mãe incutiu em mim?
Esta qualidade não me garantiu uma carreira rentável ou um
belo marido. Tal postura irritava as pessoas. Eu passava uma
imagem de arrogância, de sabe-tudo, de egocêntrica.
Isto me tornou um alvo.

PEPPER WINTERS
Eu não sei se alguém além de você, Ninguém, vai ler esse
relato, mas se por acaso sim, eu espero que esta outra pessoa
esqueça o que eu estou prestes a admitir. Eu sou filha única de
uma mãe solteira. Eu amo minha mãe. Realmente amo.
Mas se eu sobreviver ao que está prestes a me acontecer, e
se por algum milagre, eu me tornar livre novamente, eu vou
manter essa parte para mim mesma quando eu recontar minha
experiência no purgatório.
Eu amo minha mãe, mas eu a odeio.
Sinto falta da minha mãe, mas eu nunca quero vê-la
novamente.
Obedeci a minha mãe, mas eu quero amaldiçoa-la por toda a
eternidade.
Ela é a única que eu posso culpar.
A única responsável por eu ter sido transformada em uma
prostituta.

PEPPER WINTERS
Dois dias se passaram.

No mundo do qual eu tinha sido roubada, dois dias não


eram nada. Dois alarmes para despertar, duas aulas na
Universidade, duas noites falando ao telefone com os meus
amigos, e duas noites de um maravilhoso sono protegido no
qual eu estupidamente acreditava que ninguém poderia me
causar dano.
Neste novo mundo?
Dois dias foram suficientes para eu me coçar sem motivo,
simplesmente para sentir algo. Dois dias significavam que eu
usei meu lápis e lentamente descasquei a madeira em volta da
ponta para revelar mais grafite para que eu continuasse
escrevendo, ocupando assim o meu tempo.
Dois dias significavam que eu continuei a trabalhar no meu
livro feito de papel higiênico, o tempo todo sem saber que no
final destas quarenta e oito horas, a minha breve estadia no
limbo tinha acabado.
Minha transformação tinha terminado.
Minha data de venda foi definida.

PEPPER WINTERS
Eles vieram para mim na hora do jantar. Em vez do habitual
arroz empapado e frango ou do ensopado aguado, que eram
empurrados para mim através do buraco na parede, a porta se
abriu.
A porta se abriu!
Pela primeira vez em semanas.
Eu tenho estado tão sozinha neste lugar, contando apenas
com espelhos encardidos que me mostravam o reflexo de
alguém desesperada por companhia, que esta visita alegrou
meu coração. Quando eu fui capturada, eu tinha um curvilíneo
corpo adolescente, seios empinados e barriga arredondada. Meu
cabelo castanho tinha sido tingido de cor chocolate graças a
uma visita exclusiva do meu cabelereiro, arranjada pela minha
mãe, que queria que eu ficasse linda para um evento de
caridade.
O mesmo evento no qual eu fui sequestrada.
Antes, meus pensamentos eram todos superficiais e giravam
em torno do que fazer para emagrecer e do como me maquiar
como as modelos, usando tutoriais do Youtube. Apesar da
minha aparência mimada, eu era inteligente e tinha acabado de
ingressar numa prestigiosa universidade para estudar
psicologia – do jeito que minha mãe queria. Seguindo seus
passos e cumprindo seus planos para minha vida.

PEPPER WINTERS
Agora, minha aparência e pensamentos parecem ser de uma
garota completamente diferente. Não mais uma adolescente,
mas uma mulher. Meu cabelo desbotou e voltou para seu tom
normal de castanho escuro. Minha estrutura corporal perdeu
suas curvas graças ao cardápio de baixa caloria ao qual eu
tinha acesso.
Se eu tivesse minha liberdade eu seria feliz. Eu consegui
tudo o que eu queria. Eu estava mais magra e já não me
importava com tinturas de cabelos e moda. No entanto, eu odiei
minha transformação porque ela era outra marca do meu
aprisionamento.
"Venha". O homem estalou os dedos.
Ver outro ser humano me trouxe certo alívio. Algo intrínseco
dentro de mim necessitava de companhia – mesmo que essa
companhia fosse minha desgraça. Mas eu não conseguia ver
seus olhos, sua boca e seu nariz. Ele era um fantasma, uma
caricatura, uma face escondida por uma máscara veneziana
preta e branca de um palhaço com lágrimas correndo por sua
face.
Seriam lágrimas de pesar por mim? Ou apenas uma
gozação?
Eu caminhei em direção a ele, odiando o traço de obediência
que eles incutiram em mim nos primeiros dias de cativeiro. As
marcas dos machucados desapareceram, mas a lição foi
aprendida.

PEPPER WINTERS
Mas então, eu parei, olhando os relatos escritos no papel
higiênico.
O relato da minha história.
Eu não tinha mais nada de valor. Os trapos que eu usava
de tantas mulheres traficadas anteriormente não eram meus.
Os travesseiros nos quais eu chorei até dormir não eram meus.
Minha vida não era mais minha. O desejo de manter meus
pensamentos rabiscados não tinha sentido, mas eu me recusei
a deixar ainda outro pedaço de mim para trás.
Se eu tenho que passar por este novo tormento, o meu
passado servirá como talismã, que me lembrará de que eu ainda
estou respirando, e se eu posso respirar eu posso escrever, e
quando eu escrever, eu encontrarei alguma liberdade no ato.
"Agora, garota!" O homem entrou no quarto, sua estrutura
imensa pronta para me machucar.
Antes que ele pudesse me agarrar, eu corri até a mesa e
peguei os pedaços frágeis da minha vida. Os segurando
firmemente, eu dei a volta em torno dele e saí do quarto.
Saí do quarto!
Eu estou fora da quarto.
A familiaridade do meu já conhecido espaço foi embora no
momento em que eu caminhei descalça em direção ao corredor
adornado com o mesmo tapete de cor ouro e bronze. Os passos
pesados do meu captor ressoaram atrás de mim.

PEPPER WINTERS
Ele não me agarrou ou me forçou a andar mais devagar. Ele
sabia tão bem quanto eu que não existia nenhuma escapatória.
Eu fui vendada ao ser conduzida para este lugar, mas uma vez
dentro do edifício, eles me deixaram ver livremente.
À medida que passávamos por salas fechadas como em
qualquer outro hotel normal, eu me preparei para o que viria a
seguir.

Você pode superar isso.

Eles me queriam viva, não morta.


Por alguma razão, esse pensamento não me trouxe
conforto... Pelo contrário, ele fez meu medo aumentar.
"Entre no elevador. Nós vamos descer.” A voz do homem
ecoou no espaço claustrofóbico.
Virando à esquerda, entrei no saguão onde vi quatro
elevadores. Amaldiçoei a ligeira trepidação na minha mão ao
pressionar o botão para a abertura de um deles.
O sino do elevador soou imediatamente e as portas se
abriram, acolhendo-me na sombria caixa espelhada.
Eu não consegui olhar para o meu reflexo ao entrar no local
e me coloquei próxima à porta de saída. Eu podia ver minhas
pernas vestidas em short amarelo desbotado que eu tinha
recebido. Meus braços magros mostravam os últimos sinais da
minha juventude em uma camiseta cinzenta, folgada e puída.

PEPPER WINTERS
Eu não quis olhar para mim mesma, porque o estado do meu
corpo não retratava a situação da minha alma.
Sim, eu parecia quebrada.
Sim, eu obedecia implicitamente.
Mas por dentro, de alguma forma, reuni todas as partes de
mim que eles tinham quebrado e as colei, criando assim, algo
que passei a estimar. Eu estou mais forte agora do que quando
cheguei pela primeira vez. Eu não sou mais aquela menina
chorosa que foi despida sem cuidado e asperamente lavada por
mãos raivosas, e que foi depois catalogada como um objeto
juntamente com outras mulheres. Agora eu fiquei calada,
porque aqui ninguém pode me ouvir.
Dessa vez, ninguém poderia usar meus lamentos contra
mim. O silêncio era uma arma que eu poderia manejar melhor
do que o pânico. E se isso significava que eu nunca proferiria
uma palavra novamente até que eu encontrasse a liberdade,
então que assim seja.
O homem que me acompanhava, pressionou o botão para o
quarto andar.
A julgar pelos números nas portas de quartos pelos quais
passamos, eu deduzi que eles tinham me alocado no décimo
segundo andar. Quantas meninas estavam trancadas por trás
dessas portas? Quantos andares abrigavam mulheres cativas à
espera de serem vendidas?

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A descida foi um pouco rápida demais, a gravidade me
causou um aperto no estômago. Prendi a respiração quando o
elevador se abriu novamente, revelando uma plataforma de
desembarque idêntica.
O homem cutucou-me entre as omoplatas.
Eu andei para frente. Sem tropeçar. Sem implorar. Sem
uma pergunta ou pedido de explicação.
Não havia nenhum ponto.

Esfreguei minha bochecha onde eu fui socada poucas horas


depois de minha chegada semanas atrás. Eu fiz exigências. Eu
disse que quando minha mãe os encontrasse eles iriam sofrer.
Eu acreditava que era uma princesa com um regimento de
cavaleiros que iria correr atrás de mim.
Eu aprenderia rapidamente através de chutes em meu
estômago e socos na minha cara que tudo que eu acreditava era
uma mentira.
"Aqui." O homem apontou para o corredor esquerdo.
Seguindo a direção escolhida, eu tremi em resposta à
maciez do tapete que fazia o seu melhor para me trazer
conforto. O hotel era um cenário perfeito. A temperatura era
confortável, então eu não senti frio ou calor. As luzes brilhavam
de forma uniforme, então eu não tive dificuldades para
enxergar. Todos os meus sentidos corporais foram controlados

PEPPER WINTERS
até o ponto de me fazer esquecer a sensação do vento em minha
pele e dos raios do sol em minha face.
Eu seria permitida a sair do hotel?

Onde ele está me levando?

O homem andou na minha frente, abrindo uma porta que


dava acesso a uma antiga academia de ginástica. O hotel devia
ter sido um estabelecimento quatro estrelas, antes que tivesse
sido comprado e se tornado uma ruína.
Entrando no vestiário feminino, onde as paredes eram
encardidas e secadores de cabelos antigos se se viam
pendurados como máscaras de gás, eu aguardei por instruções.
Notei que pendurado em uma das paredes havia um saco de
roupa, fechado, mas transparente, que mostrou um vestido
branco. Mesmo distante, pude ver um corpete bordado com
pérolas e um lenço bordado com diamantes que denotavam um
refinamento que destoou de um local tão decadente quanto este.
O homem por trás da máscara veneziana murmurou, "Tome
banho, arrume seu cabelo e se vista. Eu venho buscá-la em
uma hora.”
Uma hora para arrumar-me?

Para quê?

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Ele se inclinou para perto de mim, cheirando a fritura e
cerveja. "Não pense em fugir." Inclinando a cabeça, ele afastou-
se enquanto duas outras meninas entraram no espaço. "Ah,
companhia."
O encarregado das recém-chegadas apontou para seus
correspondentes sacos de roupa na parede oposta. Seus
vestidos eram de cor preta e de cor cinza. "Preparem-se, vocês
duas."

Assim como todas as sensações foram roubadas de nós,


através de um ambiente controlado que não nos deixava sentir
calor ou frio, também perdemos o estímulo visual em nossas
vestimentas. Branco, preto e cinza. Cores monocrômicas sem
um traço de qualquer outra cor.

Meu guarda acenou para seu colega com máscara de leão.


"Você fica de guarda. Vou dizer ao chefe que estamos quase
prontos”.

As meninas olharam para mim. Olhei para elas. Todas nós


olhávamos para os homens que traziam o nosso destino em
suas garras sujas. A vontade de perguntar o que iria acontecer
queimou minha língua. Mas não o fiz. Não por falta de coragem,

PEPPER WINTERS
mas porque eu já sabia a resposta: rizadas frias, zombarias, e
as frases enigmáticas destinadas a aterrorizar ao invés de
consolar.
Não, eu não faria nenhuma pergunta.
Infelizmente esta minha convicção não alcançou a menina
loira de cabelo embaraçado que estava mais perto de mim,
usando um vestido rosa bebê. “Por que vocês estão fazendo
isto? O que vai acontecer conosco?”
O homem com a máscara veneziana olhou para o homem
com a máscara de leão. Juntos, eles avançaram sobre ela,
empurrando-a contra a parede de azulejos. Eles preferiram
intimidá-la com sua aura de perigo a machucá-la fisicamente,
mostrando que eles nos feriram no início de nosso cativeiro para
nos controlar, mas agora, nós valemos mais incólumes.
Afinal, quão boa seria uma mercadoria se ela está feia e
machucada?
"Eu já te disse. Você vai ser vendida, anjo bonito”. Disse o
homem com a máscara de leão ao acariciá-la na bochecha.
"Você vai ser escolhida por alguém e comprada, e quando o doce
dinheiro cair em nossas mãos, você irá embora. Tchau tchau.
Não será mais nossa preocupação".
A outra menina, uma ruiva com o cabelo opaco, se
desequilibrou, gemendo silenciosamente.
Como elas não sabiam? Se elas passaram a mesma
quantidade de tempo que eu passei trancada sozinha, deveriam

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ter imaginado que algo assim aconteceria. Talvez, eu tenha lido
muitos livros dark ou assistido muitos programas policiais na
televisão. De qualquer maneira, eu não era estúpida, e eu
definitivamente não era ingênua mais.
Assim como eu nunca voltaria para a universidade para
terminar o meu curso de psicologia, essas meninas nunca
voltariam para suas vidas. Ao contrário de mim, que culpava
minha mãe por essa bagunça, elas poderiam culpar um mau
namorado ou decisão idiota de beber muito e confiar na pessoa
errada.
Não importa o que nos trouxe até aqui, estávamos na
mesma jornada. Apenas com destinos diferentes, a serem
determinados por quem nos comprasse.
Afastando-me das lágrimas das meninas e da zombaria dos
captores, eu despi meus shorts e camiseta, coloquei as folhas de
papel higiênico com meus preciosos relatos no balcão, e me
dirigi para um chuveiro. Não havia portas ou cortinas. Minha
nudez continuou a mostra, enquanto eu entrei na água e passei
shampoo sem cheiro no cabelo.
Estar nua na frente de estranhos teria me petrificado de
medo há um mês.
Agora isso já não me é importante, já que eu não posso
controlar quem me olha ou toca ou até mesmo, evitar o estupro
e a destruição.

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Não pense sobre isso.

Rangendo os dentes, eu manipulei o shampoo até formar


bolhas. O sabão não me trouxe nenhum aroma ou conforto. Eu
sinto falta do meu esfoliante corporal de melancia e meu gloss
de framboesa. Assim como anseio por refrigerante e um cobertor
de flanela após um longo dia de estudo.
O que eu não daria para cheirar, ouvir e sentir novamente.
Enquanto as outras meninas lamentavam por suas vidas e
temiam o futuro, eu senti alívio. Eu estava feliz que esta fase
havia terminado. Mais uma hora naquele quarto teria me
enlouquecido. Pelo menos desta maneira, eu teria algo para
fazer, alguém para desafiar, algum outro lugar para ir.

E quem sabe, talvez eu encontrasse uma maneira de


escapar.

O barulho do chuveiro bloqueou todos os sons. Eu me


mantive de costas com os olhos fechados enquanto ensaboava o
cabelo e não me virei até estar enxaguada e depilada, utilizando
o aparelho de barbear fornecido por eles, e envolvida em toalha
puída.
Os homens e suas máscaras tinham desaparecido, e as
outras mulheres seguiram meu exemplo, cada uma

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obedientemente pegando uma cabine, se desfazendo em
lágrimas enquanto se banhavam.
Esta não foi uma limpeza simples ou preparação.
Este foi um batismo para o Inferno.

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PARA NINGUÉM,

Minha mãe sempre me disse que valentões são pessoas


também.
Ela me avisou para nunca julgar ninguém pelas primeiras
impressões ou ser superficial. Ela disse que eu não deveria
criticar as pessoas, já que não sabia se eles estavam sofrendo ou
se viviam uma vida terrível e descontavam suas frustrações nos
outros.
Bem, a minha situação atual poderia me fazer discordar
desses ensinamentos, porém neste caso, estes homens não são
valentões, eles são monstros. Então eu acho que as regras de
minha mãe ainda são válidas.
Não julgue. Ouça.
Ela me prometeu que isso me traria benefícios, e eu que faria
amigos, não inimigos. O que ela não me disse foi que ninguém
gostava de ser observado como um espécime, e todo mundo
odiava um sabe-tudo compassivo.
E foi por isso que me tornei um alvo.
Ou pelo menos... Eu acho que foi por isso.

PEPPER WINTERS
Então, NINGUÉM, tudo começou como uma noite normal.
Arrumei-me no meu quarto em frente ao da minha mãe. Eu calcei
os sapatos de saltos baixos que ela tinha escolhido, usei o
vestido modelo de um ombro só que ela tinha selecionado, e
entrei no táxi que ela tinha arranjado.
Eu era grata por ser incluída em algo já que normalmente não
era o caso.
Eu me orgulho da minha mãe. Respeito-a, tenho temor por
ela... Mas não a adoro. Ela me amava, mas não tinha tempo para
crianças tolas, mesmo que a criança tola pertencesse a ela. Ela
se certificou de que eu amadurecesse rápido para poder me virar
sozinha, enquanto ela lidava com adultos agressivos
diariamente. Ela vendeu seus serviços ao Estado para livrar a
sociedade de psicopatas e pedófilos.
Ela tratava a todos como cobaia, examinando nossas mentes
‒ quando eu fazia algo errado ela sempre exigia explicações ao
invés de me repreender. Exigia sempre relatos articulados ao
invés de falas confusas e emocionais.
Meus amigos me chamavam de louca por confiar nas
orientações da minha mãe. Mas eu era uma boa menina, uma
filha exemplar, uma criança guiada por uma mulher que ganhava
a vida desvendando os segredos da mente humana. Ela me fez
acreditar que eu tinha o mesmo dom, e que era meu dever ajudar
aqueles sem tal habilidade.
Ela me fez o que eu era.

PEPPER WINTERS
Eu acho que tenho que ser grata por isso, porque, sem ela e
sua educação rígida, eu estaria em um canto chorando como as
outras meninas estão fazendo no momento, a espera do que está
por vir. Eu sou grata à mulher que me pariu por incutir em mim
essas habilidades de sobrevivência, mas isso não significa que
eu posso perdoa-la um dia.
Das 21h00 até a meia-noite, eu estava segura. Eu misturei-
me com os homens de ternos e conversei com as pessoas,
representando minha mãe e seu negócio, portando-me de acordo
com suas exigências.
Somente então, por volta daquela hora mágica, quando as
regras relaxam e o cansaço aparece debaixo da obscuridade
divertida, encontrei um homem. Enquanto minha mãe intoxicava
os benfeitores com sua inteligência e charme, ganhando
generosas doações para sua instituição de caridade para o bem-
estar mental das pessoas no corredor da morte (por que alguém
gostaria de fazer uma doação neste caso, eu não tinha ideia), um
homem misterioso chamado Sr. Kewet flertou comigo.
Ele riu das minhas piadas adolescentes. Ele se entregou aos
meus caprichos infantis. E eu caí em cada truque maldito de seu
arsenal covarde.
Enquanto as outras pessoas evitaram esse homem,
instintivamente notando que nele havia algo mau, eu fiz de tudo
para que ele se sentisse confortável. Eu não dei ouvidos à voz em

PEPPER WINTERS
minha cabeça que me disse para ficar longe dele; em vez disso,
eu coloquei em prática a regra de ‘Não julgue. Ouça.'
Minha mãe me ensinou errado.
Ela me fez simpatizar ao invés de ter medo.
Ela me fez acreditar em ser boa em vez de reconhecer o mal.
Eu dancei com meu assassino.
Eu sorri quando ele me encurralou lá fora.
Tentei acalma-lo enquanto ele me ameaçou.
E quando suas mãos se apertaram em torno de minha
garganta e ele me estrangulou, eu ainda acreditava que poderia
redimi-lo.
Ele me matou na varanda do salão de baile a poucos metros
da minha mãe.
E enquanto isso tudo estava acontecendo, eu ainda achava
que ele era o único que precisava de salvação, não eu.

"Acabou o tempo. É melhor vocês estarem prontas para ir.”

Meu lápis parou de escrever no papel higiênico. Eu


precisava relatar o que aconteceu depois que fiquei inconsciente
nos braços assassinos de Sr. Kewet. Kewet como ele tinha me
trazido de volta à vida em um mundo que eu não reconhecia. E
contar como tudo o que eu tinha conhecido na vida se tornou
embaralhado e completamente estranho a mim.

PEPPER WINTERS
Mas o homem com a máscara veneziana retornou, cruzando
os braços sobre sua grande massa de músculos não tonificados.
Mesmo sua voz era identificável, sem nenhum sotaque algo que
indicasse sua origem. Sem características faciais ou pistas
raciais, eu não tinha ideia do local ao qual eu havia sido
transportada ou em qual país eu estava.
Amassando o papel com um punhado de parágrafos
rabiscados, eu o coloquei dentro do corpete bordado do meu
vestido. Meus dedos traçaram os bordados do vestido até chegar
a minha garganta. Mesmo agora, as marcas de dedos eram
visíveis. Ser estrangulada foi uma morte dolorosa. E que deixou
vestígios em forma de dores e contusões, que estão sempre lá
como um lembrete do que me aconteceu toda vez que olho em
um espelho.
Ele tinha me matado. Eu não tinha sido capaz de pará-lo.
Então, por que ele não poderia ter me deixado morta?
Por que aquilo não foi o fim, em vez de apenas o começo?

Porque você vale muito mais viva.

Aprumei minhas costas.


Eu usei o secador para arrumar o cabelo e apliquei o rímel e
o batom fornecido. Eu não sei por que eu me dei ao trabalho. No
entanto, a beleza poderia ser a maldição que me concederia um

PEPPER WINTERS
destino amável. Na minha lógica inquietante, achei que se
alguém pagar caro por mim, mais bem tratada eu seria.

A não ser que o tiro saia pela culatra e um bilionário psicótico


me compre para praticar tiro ao alvo.

Minha garganta se fecha e meu coração parece querer


encontrar uma escada e pular do meu peito. Eu tentei me
acalmar. Por mais que eu não queria enfrentar essa situação,
eu preciso do meu coração batendo, caso uma chance de
sobreviver me seja apresentada.
Apoiando-me nos azulejos, ajustei meu vestido branco como
se estivesse prestes a ser apresentada ao Primeiro Ministro. Os
botões pitorescos na parte de trás tinham sido fechados graças
à ajuda da ruiva. O cetim beijou meu corpo nu, protegendo a
pele sensível dos meus mamilos e o meu núcleo, comprido até o
chão, um milímetro longe de ser muito longo. As medidas foram
exatas, até o tamanho ‘35’ dos sapatos brancos de salto em
meus pés.
Eu nunca tinha sido fã de branco. Preferia para vestir preto
‒ por transmitir uma imagem de autoridade (de acordo com a
minha mãe) ‒ ou cores pastéis dependendo do meu humor nas
aulas.
Roupas brancas eram muito trabalhosas. O branco atraia
manchas de sujeira no instante em que fosse vestido. Mas

PEPPER WINTERS
também concedida uma imagem de inocência, que no meu
entendimento, era a razão pela qual os meus traficantes
escolheram essa cor para meu vestido. Meu cabelo parecia mais
brilhante; meus olhos verdes maiores, minha pele mais bonita.
A menina vestida de preto parecia dura e mais velha,
enquanto a ruiva em cinza parecia desbotada e já implorando
por uma sepultura.
Se estivermos prestes a adentrar um covil de lobos, eu não
quero já estar cheirando a sangue antes da luta. Estreitando os
ombros, eu passei pelo guarda e segui os passos do Máscara de
Leão.
Silenciosamente, eu segui os nossos algozes liderando a
triste linha de escravas pelo corredor, para dentro do elevador, e
então para o segundo andar.
Lá, comoção nos recebe com sons de conversa, risos
masculinos, e música suave de um piano.
Fazia tanto tempo desde que eu escutei música ou senti
calor humano que eu me perdi. Esquecendo minha necessidade
de permanecer distante e intocada, eu parei bruscamente.
Minha falha me rendeu um golpe na cabeça ao ser empurrada
para frente por Máscara de Leão.
Eu me senti fraca pela primeira vez desde o meu primeiro
espancamento, quando eu tentei resistir e sofri uma lição.
Eu senti os olhares de todos na sala.
Olhares famintos.

PEPPER WINTERS
Olhares insanos.
Olhares terríveis, cheios de luxúria.
Todos espiando por trás de máscaras.
Um foco de luz, proveniente de uma brilhante bola
prateada que inundava o espaço com luzes intermitentes, foi
colocado diretamente acima de nós. O piano parou de tocar
enquanto as duas meninas e eu caminhamos para o centro do
que costumava ser uma pista de dança sob a orientação de
nossos guardas.
Isto era um leilão. Completo com um pódio para inspeção e
um leiloeiro e seu martelo. As duas meninas com as quais eu
tinha tomado banho soluçavam em silêncio, ao serem alinhadas
em uma procissão de outras mulheres. Mulheres que viveram
no hotel comigo, mas eu nunca tinha visto. Mulheres de todas
as idades e etnias, todas roubadas de seu lugar de direito e
tratadas como gado.
Meus amigos não iriam realmente sentir minha falta porque
eles não me entendiam. Eu não tinha namorado para se
lamentar por mim, nenhum pai para vir em minha busca. No
que diz respeito a amigos e familiares, eu não tinha muito.
Eu suponho que isso facilitou o meu desapego do desejo de
amar e ser amada, sabendo que eu nunca sentiria tais coisas
novamente. Mas também doeu mais porque se pelo menos eu
tivesse tido essas coisas, eu poderia dizer que eu tinha vivido

PEPPER WINTERS
brevemente; que eu não tinha considerado minha liberdade
como garantida.
Agora, tudo o que eu conheceria era cativeiro.
A sala se silenciou quando um homem entrou no local,
vestindo um smoking perfeito e uma máscara preta, com um
microfone próximo aos lábios.
"Sejam bem-vindos, senhores, ao QMB, também conhecido
como Quarterly Market of Beauties." Apontando na direção das
mercadorias, ele disse: "Como vocês podem ver, temos uma
grande variedade para vocês hoje à noite."
Uma por uma, ele apontou para nós.
Nós éramos as únicas sem máscaras na sala.
Uma por uma, nós encolhemos para dentro de nós mesmas.
Doze foram contadas antes de mim.
Eu era a sortuda número treze.
Ou era a azarada número treze? Tudo o que eu precisava
era de um gato preto, de passar por baixo de uma escada, e de
ser amaldiçoada por uma bruxa para completar minha
maldição.
O homem caminhou orgulhosamente como se ele tivesse,
pessoalmente criado todas e cada uma de nós. Se ele estava no
comando de nossa destruição total e de nossa reconstrução em
nada, então talvez ele tivesse. Talvez ele nos fez suas e tinha
pleno direito de nos vender, já que não éramos mais nós
mesmas.

PEPPER WINTERS
"Como de costume, temos uma variedade de belezas
disponíveis para o seu prazer. Todos vocês tiveram tempo para
ler os arquivos e ver as fotos que fornecemos.”

Espere. Quais fotos e arquivos?

Nossos quartos tinham câmeras? Nós fomos secretamente


catalogadas e investigadas? Meu peito subia e descia,
pressionando contra os meus rabiscos no papel higiênico
roubado. Será que eles sabem sobre a minha escrita? Será que
eles a levariam para longe de mim?
Minhas perguntas me mantiveram ocupada enquanto o
homem atravessou a pista de dança e agarrou a primeira garota
da fila. Arrastando-a para frente, ele a forçou subir no pódio,
segurando-a até ela equilibrar-se.
O holofote mostrou cada linha de seu stress, todo o seu
terror, todas as lágrimas. Ela não podia esconder nada debaixo
de um brilho tão invasivo. Sua nudez facial se fez mais evidente
já que nenhuma humanidade a observava. Somente máscaras,
em diversas formas.

Eu não quero me parecer com ela.

Eu não deixaria esses babacas verem o meu horror. Se eles


se recusaram a deixar-nos vê-los, eu me recuso a deixá-los me

PEPPER WINTERS
ver. Eu não tinha penas ou diamantes para esconder o meu
verdadeiro eu, mas eu tenho força de vontade.

Foi necessária a venda de quatro meninas para que eu


moldasse minha face em uma concha rígida e insensível. Com a
venda de outras quatro eu excluí a emoção do meu olhar e
reuni o resto dos sentimentos os empacotei em uma mala em
minha mente (ou devo dizer na minha alma?). E com a venda
das últimas quatro meninas eu encontrei uma maneira de
trancar essa mala imaginária, banindo todos os meus segredos,
esperanças e aspirações, e jogar a chave fora.
Meu nome era Tasmin Blythe, mas quando chegou minha
vez e eu fui forçada a ficar altiva e orgulhosa no pódio, eles me
deram um novo nome. Um nome que sempre me lembraria de
onde eu vim, mas que me desprovia de tudo ao mesmo tempo.
Pimlico.
Depois do subúrbio de Londres onde o evento de minha mãe
foi realizado.
Eu já não era mais Tasmin. Pimlico... Pim.

Estou feliz.

Eu já não tenho que fingir ser forte e distante; Pimlico é


forte e distante. Tasmin foi bloqueada no fundo da minha

PEPPER WINTERS
mente, bem no fundo e foi esquecida enquanto eu piscava com
as luzes brilhantes e ouvia o discurso mais degradante.
"Eu vou pagar cem mil."
"Eu pago duzentos."
"Eu cubro a todos e dobro o lance." A sala engasgou em um
suspiro ao mesmo tempo em que uma silhueta de um homem
alto e magro entrou na pista de dança. "Quatrocentos mil
dólares pela menina de branco."
Meu coração mais uma vez tentou construir um pára-
quedas e escapar. Esse foi o lance mais alto da noite.
Ele me deu nojo.
Como ousam decidir o meu valor? Decidir o que minhas
companheiras escravas valiam. Vidas humanas não deveriam
ser vendidas.

Eu não deveria ser vendida.

Eu não tinha dito uma palavra desde o terceiro dia da


minha prisão. Eu não tinha respondido às suas perguntas sobre
a minha idade ou histórico sexual. Recusei-me a compartilhar
quaisquer detalhes invasivos.
Eu me senti poderosa por essa resistência, mesmo sabendo
que eles conseguiriam as informações em minha carteira de
motorista e redes sociais.

PEPPER WINTERS
Mas agora ... aqui, prestes a ser vendida, eu tinha algo a
dizer.
Gesticulando, eu olhei para o homem indistinto que
desejava me possuir. Minha voz soou macia e pura, o único som
feminino em um ninho de homens.
"Dou um milhão. Deixe-me comprar-me, senhor, e eu vou
esquecer que tudo isso aconteceu.”
As meninas compradas, já entregues a seus novos senhores,
engasgaram de surpresa. Minha audácia podia encurtar a
minha vida ou prolongá-la. De qualquer maneira, foi uma
proposta consciente e voluntária de minha parte.
Eu não tenho um milhão. Minha mãe poderia ter se ela
vender nosso apartamento de dois quartos em Londres. Mas,
assim como eu ignorei as outras preocupações, ignorei esta
também.
Dinheiro era apenas dinheiro.
Moedas adicionadas a notas e notas adicionadas a maços,
formando centenas.
No final, as lindas notas impressas serão inúteis porque a
inflação roubará seu valor numérico, tornando aqueles que as
possuem infelizes.
Minha vida, por outro lado, aumentaria em valor, ficando
mais sábia e mais rica em experiência quanto mais tempo eu
sobrevivesse. Eu era um investimento, não um passivo. E eu
investiria tudo o que tenho para ser capaz de ter um futuro.

PEPPER WINTERS
O homem se aproximou, sendo iluminado de forma que sua
silhueta se transformou em massa física. Seu cabelo loiro sujo
era a única coisa visível por trás de uma principesca máscara
de Lord Inglês. "Você está fazendo uma oferta por si mesma?"
Sua voz tinha sotaque estrangeiro, mas eu não consegui
identificar de qual local. Mediterrâneo, talvez?
Ergui meu queixo, o pódio me fazia mais alta que ele então
eu olhei para baixo como se ele fosse meu servo e eu sua
rainha.
Eu iria governar ele. Eu nunca iria me curvar.
"Está correto. Eu sou muito cara para você. Um milhão de
libras, não dólares. Um lance alto sobre o seu montante
patético".
O leiloeiro se atrapalhou, claramente sem saber o que fazer
com essa mudança de eventos. Seu papel no jogo era fazer
dinheiro. A venda de mulheres era altamente lucrativa, mas se
ele poderia ganhar mais me vendendo para mim mesma, ele se
importaria em quebrar algumas regras do negócio?
Ele seria pago de qualquer maneira.
Ignorando o homem em sua máscara de Lord Inglês, eu
enfrentei o carrasco, implorando para que o meu lance fosse
aceito. "Um milhão, senhor, e eu vou embora e nunca
mencionarei essa situação."

E as outras meninas?

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Minha mãe me repreenderia pela vergonha e culpa que eu
senti ao pensar em deixar as mulheres vendidas. Mas ela
também ficaria orgulhosa porque eu tinha escolhido um
caminho com determinação e convicção. Algo que ela disse que
sempre me faltou.

Feliz agora, mãe?

A sala entrou em erupção com os murmúrios de


deliberação, enquanto eu estava no refluxo do mar de vozes.
Por um momento, eu estupidamente acreditei que havia
ganhado. Que eu tinha realizado a oferta no momento perfeito e
ganhado a minha liberdade. Mas eu não tinha aprendido a lição
final.

A soberba precede a queda.

E eu estava prestes a despencar.


"Eu considerei a sua oferta e a cubro:" Máscara de Lord
murmurou. "Um milhão e quinhentas mil libras, não dólares. O
que você diz?"
Antes que eu pudesse responder, antes de poder aumentar
meu lance e alterar minhas circunstâncias, o leiloeiro bateu o
temido martelo.

PEPPER WINTERS
"Vendida!" Gritou o leiloeiro. "Para o Sr. Máscara de Lord
por um milhão e quinhentas mil libras."

*****

Para Ninguém,

Essa foi a última vez que falei. A última vez que eu perdi. A
última vez que eu soube o que era não viver com dor a cada dia.
Daquele dia em diante, eu era Pimlico a Muda, a Mulher Sem
Voz em Branco.
Não importa o que o homem fez para mim, eu não quebrei.
Não importa a surra que ele me deu ou a punição sexual que
empregou, eu permaneci em silêncio e forte.
Eu gostaria de dizer que eu encontrei uma maneira de
escapar. Que corri. Que eu estou escrevendo isso para você de
uma loja de café pitoresca em Londres com um namorado bonito
na minha esquerda e um melhor amigo à minha direita.
Mas eu nunca fui boa em mentir.
Esta novela em papel higiênico nunca vai ser ficção.
Esta é a minha autobiografia, para que um dia, quando o
meu valor for esgotado, e cada centavo que meu mestre pagou
por mim for descontado, alguém se lembre da escrava muda que
suportou tanto.
Talvez então, eu seja livre.

PEPPER WINTERS
Em vez de contar o que eu tinha perdido e nunca mais
veria, preferi contar o que eu tinha.
Isso me manteve ocupada enquanto a transação de venda
era completada, a sala se tornou vazia à medida que cada
comprador vitorioso levava sua posse para casa, e meus braços
foram puxados para trás, amarrados por um fio grosso em torno
dos meus pulsos como uma espécie de anel de casamento
bizarro.
Eu não disse uma palavra quando fui vendada, sendo
mergulhada na escuridão, e nem dei um pio enquanto mãos
dominantes guiaram-me do salão de baile, preenchido com calor
e notas de piano, para corredores que eu não podia ver, e
através de um vestíbulo que eu nunca testemunhei.
Uma conversa suave aconteceu enquanto eu era empurrada
como uma fugitiva para dentro da parte de trás de um carro, o
meu vestido branco e um lenço ainda me decoravam como um
brinquedo premiado saído da prateleira.
Eu não sabia se era um Honda acabado ou um Maybach
caro que me transportava do Hotel de tráfico sexual para uma

PEPPER WINTERS
pista privada. Eu não tinha permissão para ver ou tocar ou
mover-me sem o auxílio das duas mãos de quem tinha me
comprado.
Ele não falou comigo. Eu não falei com ele. E o pessoal em
torno de nós não precisava falar, porque eles foram orientados e
obedeciam explicitamente.
Entrei em uma estrutura que eu creio ser um jato
particular, sendo guiada com empurrões suaves por um
corredor, antes de me sentar em um assento desconhecido. Pelo
menos, afastada do ambiente estéril daquele hotel, eu tinha o
que eu precisava.
Fragmentos e sensações da vida me cercaram. O ar da
cidade no meu rosto, ouvir os sons da civilização quando eu
estava sendo conduzida pelas ruas, passando por pais
desavisados e amantes passeando, e agora... eu estava sentada
no couro mais macio que se possa imaginar com as minhas
costas bloqueadas, pulsos amarrados, e sem visão.
Essa situação aumentou os meus sentidos livres restantes.
Eu senti um aroma de licor, um cheiro forte de canela e caviar,
e um consegui identificar a essência de uma loção pós-barba.
Ao longo do meu aprisionamento, eu não tinha tentado
libertar-me sendo estúpida. Eu nunca discutia (não após o
espancamento de boas vindas) e nem uma vez recusei as
refeições tinham sido servidas. Todas essas ideias ridículas de

PEPPER WINTERS
passar fome e lutar com palavras foram removidas nas
primeiras horas de chegada.
Nestas novas circunstâncias, eu não deixaria de ser sábia.
Eu não gritaria ou choraria ou tentaria fazer amizade com o
meu carcereiro. Em vez disso, gostaria de permanecer em
silêncio e forte e nunca ser idiota, recusando qualquer que seja
o sustento que este homem queira me dar.
Eu precisava de toda a saúde e determinação para que eu
pudesse me agarrar.
Bolhas geladas de champanhe foram encostadas aos meus
lábios.
Eu não tinha provado nada tão acentuado em um tempo
muito longo. Minha boca se abriu, e eu tomei um gole.
A taça foi removida após precisamente dois goles, os
motores do jato privados foram acionados, alguém me colocou o
cinto de segurança em mim, e a voz de um piloto desconhecido
anunciou que estávamos prontos para a descolagem.
Eu gostaria de saber para onde estávamos voando.
Eu gostaria de saber quem era este novo adversário.
Eu gostaria de saber quanto tempo eu resistiria antes que a
máscara que eu tinha posto no pódio caísse. Uma máscara de
papel dura pouco tempo antes de ser destruída pela umidade. E
quanto a uma feita de pura teimosia e rebeldia? Quanto tempo
ela duraria?

PEPPER WINTERS
Mas querer não é poder, então eu não tinha escolha a não
ser sentar na minha cadeira enquanto decolávamos. Meus
ouvidos estalaram com subida íngreme, e ninguém murmurou
uma palavra por um longo tempo. Ninguém se mobilizou para
me soltar ou devolver-me o dom da visão, também.
Minutos se tornaram horas, e eu esperei que o homem
falasse. Relaxei tanto quanto eu podia assumindo uma postura
introspectiva, mantendo-me sã mentalmente e me preparando
para a próxima etapa.
Eu sabia que isso iria acontecer desde que o bastardo que
tinha me estrangulado e me revivido ao fazer Ressuscitação
Cardiopulmonar. Eu não tinha ninguém em quem confiar mais.
Ninguém para me dizer o que fazer e como agir. Todas as ações
seriam unicamente minhas. Qualquer que seja a dor ou os
maus tratos que podem ou não estar no meu futuro, eu tenho
que segurar minha própria mão, enxugar minhas próprias
lágrimas, e encontrar conforto em meus braços, não importa
quão sangrentos eles estarão.
Essa constatação me aterroriza, mas também me encoraja.
Porque eu só tinha que cuidar de mim mesma. Estando
sozinha, eu poderia ser egoísta. Eu poderia evitar emoções e
tornar o meu coração tão mudo quanto minha boca.
As outras meninas vendidas seriam esquecidas, então eu
não me preocuparia com sua existência. Minha mãe seria
ignorada, então eu seria a única responsável por mim.

PEPPER WINTERS
Era a única maneira que eu tinha de sobreviver.
À medida que mais minutos se passaram, o tempo de
viagem foi suficiente para que duas comissárias de bordo
servissem o homem e eu, e o piloto a anunciou que tinha outra
hora de vôo obtida, meus nervos lutaram uma batalha perdida.
Mesmo com meus pensamentos positivos, eu não conseguia
parar o cronometro em minha cabeça, mostrando a contagem
regressiva para o evento seguinte que eu teria que superar.
Tentei manter a calma ‒ para evitar fazer perguntas. Mas
tudo que eu queria era saber quem eu teria de suportar,
enquanto planejava minha fuga.
Quem era esse bastardo que tinha comprado uma vida?
O que ele esperava de mim?
E quantas vezes ele realizou esta mesma transação?
"Vamos tirar as apresentações básicas para fora do
caminho, não é?"
Eu congelei quando a voz do homem quebrou o silêncio
estagnado. Sua escolha de falar neste momento causou arrepios
na minha espinha, quase como se ele tivesse ouvido meus
pensamentos.
Será que ele espera que eu fale sem vê-lo? Sem assistir a
sua linguagem corporal e pegando muito mais informações do
que eu faria se ele me mantivesse vendada?

PEPPER WINTERS
Eu tinha prometido não voltar a falar. Sempre. Mas, neste
caso, seria benéfico para mim, não para ele. Eu permito-me três
palavras. Uma dieta escassa de sílabas antes de voltar à fome.
"Desate-me em primeiro lugar."
Por um longo momento, ele não respondeu. Em seguida,
senti o leve roçar de seu terno quando ele se inclinou para
frente e afastou meus ombros do assento. Minha pele se
arrepiou sob seu toque, eriçada de ódio.
Fazendo o meu melhor para afastar-me, contorci-me para a
borda da cadeira de couro, segurando meus pulsos para torná-
lo mais fácil. Com uma serra rápida, as demoníacas cordas ao
redor minha pele caíram, seu aperto sendo guardado para outro
dia.
A venda saiu dos meus olhos, concedendo um pouquinho de
alívio da dor de cabeça causada por sua demora.
No momento em que fui libertada, vi o homem reclinado na
cadeira.
Pisquei, lutando contra o clarão de, finalmente, ter a visão
novamente. Ele estava sentado de frente a mim, e não no
assento ao lado como eu pensava. Ele tinha tirado a máscara, e
ao reconhecer o seu olhar, eu queria colocar a venda de volta e
perder todos os sentidos.
Eu não quero ver, ouvir, tocar, ou Deus me perdoe nunca
quero provar este homem.

PEPPER WINTERS
A máscara de Lord Inglês que ele usava tinha sido muito
amável para o monstro que se escondia embaixo dela.
Lutando para manter meu rosto firme e ilegível, eu inclinei
meu queixo. O desejo de barganhar e fazer perguntas formava
uma mordaça em torno de minha garganta.
Eu estava grata.
Ele não merecia nenhuma palavra a mais de mim. Ele
merecia ser fuzilado e que eu dançasse seu túmulo.
Antes quando a vida era segura e minha única preocupação
era qual programa de TV eu deveria assistir quando não
conseguia dormir, eu fazia maratonas de séries policiais,
documentários forenses e investigações criminais. Eu amava
identificar o suspeito antes que ele fosse apresentado em cena,
observando as características mostradas pelo teste de DNA e as
comparando com cada assassino em potencial na tela.
Na maioria dos casos, o assassino teria a aparência de
qualquer outro vizinho ou amigo da família. Jovem ou velho,
rico ou pobre, eles eram apenas uma pessoa qualquer.
Uma pessoa com maldade dentro de si.
No entanto, quando a câmera se aproximava de suas faces
quando era apresentada a eles a punição na conclusão do show,
eles sempre tinham algo em comum.
Seus olhos.
Algo em seus olhos revelava a verdade, assim como os deste
homem fizeram.

PEPPER WINTERS
Algo estava faltando. Eu não queria dizer uma alma, porque
eu não sabia exatamente o que era uma. Mas também poderia
ser algo muito pior. Um impostor. Não o suficiente humano de
sentir compaixão e empatia. Pessoas que matam e estupram
eram demônios de coração frio, sedentas de dor.
Eu tinha sido vendida a esse demônio.
Ele sorriu, mostrando os dentes brancos quadrados em um
rosto bronzeado. Seu cabelo loiro escuro indicava uma
característica sueca ou talvez norueguesa. Ele tinha a mesma
estrutura óssea dos europeus esguios com um longo nariz,
maçãs do rosto pronunciadas, e olhos azuis penetrantes.
Imaginei que ele teria trinta e tantos anos. Uma idade em
que ele poderia ter sido meu pai se tivesse um filho jovem.

Espere…

Será que ele tem filhos? Uma esposa? Uma família?


Olhamos um para o outro, sem dizer uma palavra. Parecia
um concurso, uma luta por domínio, mas eu compreendi o jogo.
Ele queria que eu caísse em sua armadilha. Eu já tinha,
solicitado que ele me soltasse. Eu tinha feito a minha parte. O
resto seria com ele.
Ele sorriu friamente. "Agora que você pode me ver, vamos
começar."

PEPPER WINTERS
Inclinando-se para frente, ele afundou os dedos nas minhas
rótulas. Ninguém nunca tinha me atingido lá antes, mas sentir
as unhas se afundarem rapidamente através do cetim do meu
vestido e se agarrarem em torno dos ossos que protegiam
minhas articulações, de repente me fez entender como joelhos
eram partes vulneráveis. Fáceis de serem arrancados do lugar.
Engoli em seco, congelando no assento.
"Meu nome é Alrik Asbjorn. Para você, eu sou Mestre A.
Você entendeu?" Seus dedos me apertaram mais forte.
Meus lábios permaneceram colados, recusando-se a falar.
Eu tinha poder sobre minha fala, mas não sobre meu olhar.
Meus olhos estavam vidrados com dor que ele estava me
proporcionando.
"Não tem nada a responder?" Sua mandíbula aperta quando
ele afunda ainda mais os dedos nos meus joelhos. "O que
aconteceu com a menina que deu o lance de um milhão para si
mesma? Eu gosto mais daquela postura de cadela.”
Desconforto agonizante atingia minhas pernas, mas eu não
cedi. Eu não podia. Se ele ganhasse esta batalha, então eu
perderia a guerra. Eu não poderia fazer isso comigo tão cedo.
“Tímida? Bem". Removendo a ameaça, ele se encostou-se de
volta no assento. "Você vai falar. Você verá."
O alívio em meus ossos pulsava com cada batimento
cardíaco.

PEPPER WINTERS
Vou fazer o meu melhor para que você nunca ouça a minha
voz novamente.

"Eu vejo que teremos que fazer algumas adaptações, mas


não me subestime, menina. Você não quer se meter comigo.”
Pegando um arquivo preto que eu não tinha visto ao seu lado,
ele abriu a bolsa de couro e tirou dela um maço de papéis.
Agitando-os no meu rosto, ele sorriu. "Esta é você. A soma de
sua vida. Seus amigos nas redes sociais. Suas fotos de família.
Suas mensagens pessoais. Cada pensamento bobo e cada feio
lembrete de seu passado”.
Sua voz suave estupidamente me acalmou até que ele
explodiu violentamente, atirando à papelada através da cabine
com acabamento de madeira e prata. "Já era! Tudo isso. Você
não é nada mais que uma vadia. Você é minha puta. A você foi
dado o nome de Pimlico, e de agora em diante, isso é tudo que
você é. Entendido? Você não tem nome ou família, e é minha."
Ele levantou a mão, e as lições que os traficantes tinham
ensinado me mantiveram subserviente. Encolhi-me antes de ser
atingida, já lhe dando o controle que ele desejava. Ele me bateu
na região da orelha, causando um barulho afiado dentro do
meu crânio.
Mordi o lábio, segurando qualquer choro e lágrimas,
curvando-me para frente para fazer com que meu cabelo
escondesse meu rosto.

PEPPER WINTERS
Eu precisava sumir. Desaparecer.
Ele não parecia se importar com a minha falta de gritos e
choro. Esfregando as mãos, ele ficou calmo novamente.
Muito calmo.
Ele agiu como se estivéssemos em uma reunião de negócios,
discutindo uma transação benéfica para nós dois.
Eu queria ensinar-lhe o que seria benéfico: suas bolas na
minha mão esquerda e um mandado de prisão em minha
direita.
Alrik ‒ Que gostaria que o chamasse de Mestre A? (Idiota
sádico). Ele colocou a palma da mão sobre o queixo bem
barbeado. "É justo que eu te diga uma coisa sobre mim, já que
eu sei tudo o que há para saber sobre você." Alisando as unhas
em sua camisa, ele suspirou como se essa coisa toda fosse
chata para ele. "Vou levá-la para minha casa em Creta. Lá, você
vai fazer o que eu quero, quando eu quiser. Você não irá se
recusar a menos que você goste de agonia.” Seus olhos estavam
focados em mim sem misericórdia. "Porém talvez você goste de
dor. Você gosta, Pimlico? Responda-me; Não seja tímida. Você
gosta secretamente de ser ferida?”
Eu endureci enquanto ele acariciava meu joelho de novo,
ameaçando-me com a lembrança do que ele já tinha feito. "Seja
qual for o empoderamento que estar em silêncio te dá... pense
novamente." Sua mão tocou o meu vestido, o subindo até
minhas coxas.

PEPPER WINTERS
Não. Por favor, não.

Apertei os olhos, à espera do toque dos seus dedos horríveis


entre as minhas pernas. Mas ele parou. Pairando sobre a minha
pele delicada, ele resmungou: "Você vai falar comigo.
Eventualmente. Mas não se preocupe, se você só aprender a
gritar, eu posso trabalhar com isso.”
Reclinando-se para trás, seu toque vil me deu um alívio
quando ele pegou seu copo. Tomando três goles longos, ele
girou a taça delicada com um sorriso persistente. "Esqueça tudo
sobre o seu passado e só se lembre disso. Você é meu
brinquedo; meu bem mais precioso. Não se esqueça do quanto
eu paguei por você e que eu espero em troca”.
Suas palavras caíram como granadas carregadas no chão do
avião.
Eu esperei para ver se elas explodiriam e me destruiriam,
mas qualquer liberdade que eu encontrei ao me trancar em mim
mesma prevaleceu.
O silêncio se estendeu como uma pausa suja, mas eu não
me importava. Se eu fosse permanecer fiel ao meu futuro sem
voz, eu tinha de fazer amizade com o silêncio e encontrar
refúgio em qualquer constrangimento que ele criasse.
No entanto, Alrik não estava preparado para fazer essas
coisas. Seus olhos se estreitaram quando ele se inclinou para

PEPPER WINTERS
mim. "Você não vai perguntar o que você pode esperar em
troca?"
Cada instinto meu ordenou que eu acenasse com a cabeça.
Para responder de alguma forma. Mas eu lutei contra isso
também. Comunicação verbal e não verbal seriam sempre
proibidas. Assim como eu havia trancado quem eu era, eu iria
banir toda a memória de conexão sociável.
Ele resmungou baixinho. "Quanto mais você me desafiar,
mais você vai pagar quando chegarmos."
Chegarmos.
Longe da minha casa e mãe. Longe de tudo o que eu tinha
sido.
Eu podia controlar a minha resposta externa, mas eu não
conseguia controlar meu coração batendo loucamente em meu
peito.
Alrik suspirou profundamente, estalando os dedos para
mais uma taça de champanhe. Instantaneamente, uma taça
coberta de orvalho preenchida com licor espumante foi entregue
diretamente em sua mão estendida.
Desfrutando de um gole, ele disse, "Considerando que você
não vai perguntar, eu não vou contar. Mas só para você saber,
depois de uma semana, você vai estar de joelhos desejando ter
sido mais inteligente. Você dormir implorando para saber o que
te espera."

PEPPER WINTERS
Ele pintou um quadro horrível. Um futuro no qual eu não
queria ter nada a ver.
Alguns batimentos cardíacos trovejaram, fazendo meu peito
subir e descer e se esfregar contra os pedaços de papel
guardados no meu corpete, fazendo cócegas nos meus mamilos.

Minha carta a Ninguém.

Eu era estúpida por encontrar conforto naqueles pedaços


rabiscados. Mas eu fiz. Minhas costas se endireitaram, e os
meus dedos se ligaram recatadamente no meu colo.
Este bastardo era apenas um homem.

A pior merda na face da Terra.

Sim, ele poderia me machucar. Sim, ele poderia me fazer


implorar pela morte. Mas nós somos da mesma espécie. E
somos adversários.
E um dia, em breve, gostaria de descobrir uma maneira de
vencer e me livrar dele.
Alrik me brindou com seu champanhe, não me ofereceu
uma bebida ou jantar. Seu olhar viajou sobre cada polegada de
mim quando o avião inclinou para a esquerda. "Estamos quase
em casa. Eu não posso esperar para lhe mostrar as
redondezas."

PEPPER WINTERS
Ele riu, gostando de ser o criador da brincadeira e da piada
que dará o tom da nova narração da minha vida. "Uma vez que
chegar lá, você vai perceber o quanto você está desperdiçando
minha abertura para conversar. Pobre Pimlico ... você realmente
deveria ter perguntado.
"E agora ... é tarde demais."

PEPPER WINTERS
"Este é o seu quarto."
Alrik empurrou-me para dentro da casa, barrando a porta
com seu corpo. Meus saltos brancos bateram sobre o piso
brilhante, afundando-se profundamente em um tapete de pele
de carneiro quando eu tropecei com seu toque.
Eu queria esfregar minha pele onde ele me tocou. Eu queria
lavar e lavar e lavar.
Nós chegamos há pouco tempo, passando das nuvens a
terra, concluindo a viagem em uma pista privada. Um carro com
motorista nos trouxe de lá para cá, e a casa resplandecente do
meu captor não fez nada para tornar a minha estadia mais
acolhedora.
No momento em que me arrastou para dentro, ele me levou
através do espaço, passando pela sala de jantar, cozinha, sala
de estar, e por uma escada que levava um piso que se
ramificava em duas direções. Ele tomou à esquerda, segurando
o meu pulso de forma firme, de modo a evitar que eu fugisse a
qualquer momento.

Não há para onde correr.

PEPPER WINTERS
Eu não tinha idéia de onde estava. Sem esperança de
escapar.
Eu perdi a conta de quantos quartos existiam no corredor
até que ele abriu uma porta branca e me jogou dentro do
cômodo.
Ou Alrik tinha um fascínio com a cor branca, ou ele não
estava inspirado quando decorou o lugar. As paredes eram
brancas, a cama branca, mesmo a penteadeira, mesas de
cabeceira e armário. Branco, branco, branco.
Meus olhos caíram para o meu vestido.
Foi por isso que ele me comprou? Porque eu tinha sido
preparado para venda em um vestido branco como a neve?
Eu caminhei na direção das cortinas de alabastro, que
escondiam uma vista de um país que eu nunca tinha visitado,
escondido na escuridão da noite.
Suas mãos se espalham como algemas enquanto marchava
em direção a mim. "É hora de recebê-la em sua nova casa, você
não acha?" Agarrando a frente do meu vestido, ele o abriu. Com
toda a força.
As pérolas bonitas e a costura intrincada fizeram o seu
melhor para resistir a tal tortura, mas as peças rasgaram-se
com um som alto.
Meus braços subiram automaticamente para evitar que o
vestido se abrisse. Não para proteger a minha decência, esse

PEPPER WINTERS
desejo tinha sido retirando de mim violentamente no hotel do
tráfico, mas para esconder os meus relatos em papel higiênico.
Mas era tarde.
As peças rabiscadas se espalharam sobre o tapete como
pequenos quadrados de miséria. Meu lápis mordido saltou livre
como uma lasca do meu coração. Eu queria pegá-los, mas não
adiantava mais. Ele os tinha visto, e não importava se eu os
escondesse ou os deixasse no chão, ele os roubaria de mim.
Isso é o que homens como ele fazem.
Eu tinha sido comprada para compartilhar sua vida
pervertida de qualquer maneira que ele bem entendesse. Eu não
iria chorar pelas minhas palavras reveladas, e eu não iria
implorar para que ele as deixasse.
Seus olhos se prenderam à bagunça no chão, um sorriso
sinistro contraiu seus lábios. "Bem, bem, o que temos aqui?"
Eu respirei fundo, o encarando com toda a força que me
restava.
Ele levantou uma sobrancelha quando ele se agachou para
pegar um pedaço. Lendo os rabiscos, ele olhou para cima. O
fato de ele se curvar diante de mim não me passou
despercebido. No entanto, eu não era tola o suficiente para
acreditar que a posição o faria vulnerável a mim. Ele, ajoelhado,
poderia me causar tanta dor, quanto comigo amassada e
chorando a seus pés.
"O que exatamente é isso?"

PEPPER WINTERS
Eu quebrei nosso contato visual, passando a olhar para a
parede pintada de branco. Nenhuma obra de arte. Nenhuma
personalidade ‒ um espaço preenchido por nada.
"Essa falta de respostas está ficando cansativa." Alrik
endireitou-se, empurrando um punhado das minhas páginas na
minha face. "Não quer me dizer? Bem. Então, você não precisa
mais delas."
Após recolher todas as folhas, ele dirigiu-se para porta. "Eu
sugiro que você durma um pouco, Pimlico, porque amanhã, sua
verdadeira recepção de boas vindas começa."

Para Ninguém,

Ele se foi. Ele levou minhas confissões anteriores para você,


mas não o meu lápis. Eu vou esconder todos os meus relatos a
partir de agora, para que ele nunca tenha estas novas páginas. É
tarde, muito tarde, mas eu não tenho um relógio neste túmulo
sem emoção. Amanhã, minha vida vai mudar, e posso não ser
capaz de relatar a você o que eu vou viver.
Porém saber que você existe para me ouvir é suficiente. Ter a
sua aceitação sem julgamentos me dá forças.
Minha mãe ficaria orgulhosa de mim. Eu tenho resistido tanto
tempo com a minha dignidade intacta.
Posso te contar um segredo, Ninguém? Seja o que for que
Alrik faça para mim amanhã, sexualmente será a primeira coisa

PEPPER WINTERS
que alguém faz para mim. Tenho dezoito e sou uma virgem.
Risível, certo? Mas isso é o que acontece quando você vive no
meu mundo. Minha mãe me forçou a escolher os livros ao invés
de meninos e estudos ao invés de sexo. Quer dizer, se eu tivesse
encontrado um cara que eu gostasse o suficiente para querer
mais que alguns encontros com beijos molhados, suas regras não
teriam me parado. Mas eu não o encontrei. E agora, eu nunca
iria, porque essa escolha foi tirada de mim.
É estúpido não ter medo de seus punhos, botas ou correntes?
É ridículo que eu não tema paus, chicotes e equipamentos de
tortura? Tudo o que eu realmente temo é ele. Seu ... Pau.
Será que vai doer?
Será que vou sangrar?
Quem estará lá para falar comigo quando acabar e eu me
sentir diferente? Quando ele me forçar a passar de menina para
mulher? De adolescente a escrava? De uma pessoa livre para
uma quebrada?
Você, eu acho. Só você.
Até amanhã, Ninguém.
Durma bem, porque eu não vou.

PEPPER WINTERS
Para Ninguém,

E-eu pensei que eu poderia fazer isso. Mas eu não posso. Eu


pensei que eu poderia dizer-lhe o que ele fez. Mas eu não vou.
Tudo o que posso dizer é... Sua ideia de boas-vindas incluía
coisas que eu nunca iria querer experimentar novamente. Isso me
machucou. Muito. Eu mal posso sentar sem querer gritar de
agonia ao escrever isso para você.
Ele tirou a minha virgindade.
Várias vezes.
Ele me fez desejar que sexo nunca fosse inventado.
Deus, doeu tanto, Ninguém.
Mas ele não vai me matar.
Então, eu vou me focar nisso.
E fazer o meu melhor para descobrir como sobreviver.

PEPPER WINTERS
Para Ninguém,

Há quanto tempo eu vivo aqui? Não me lembro. São duas


semanas ou três? Dez semanas ou doze anos?
Alrik deliberadamente não mantém calendários em casa, e
cada dispositivo de tecnologia que ele possui é protegido por
senha. Eu sei por que eu tentei. No escuro eu tentei descobrir
suas senhas. Eu fingia dormir, acorrentada no canto do seu
quarto, enquanto tentava descobrir o padrão de bloqueio do seu
celular.
A única maneira pela qual eu posso identificar os meses que
se passam é a injeção anticoncepcional, que ele me aplica
regularmente.
Oh, Ninguem, se você pudesse me ver? Deus, eu estou tão
feliz que você não pode me ver.
Por que eu vaidosamente pensava que era bonita? Por que eu
quis perder a gordura que me dava curvas? Posso dizer
honestamente que se minha mãe me visse agora, ela passaria
direto por mim. Ela não me reconheceria. Eu não me reconheço.

PEPPER WINTERS
Alrik cortou meu cabelo há três noites. Ou eram seis? Eu não
sei. Tudo o que sei foi socar minha pele e chutar minha barriga
não foi suficiente para ele. Ele teve que cortar o cabelo que eu
usava para proteger meu rosto dele. Ele levou a minha proteção
com quatro recortes de uma tesoura de cozinha.
Ele me deixou com um corte horrível na altura da mandíbula.
Isso não me incomoda. Os fios cortados não podem me
enfraquecer, mas o fato de ele não arrumar o corte horrível
danificou minha crença de que eu poderia suportar o que o meu
futuro nos reserva.
Ao deixar-me desta maneira, ele mostra o quanto ele não se
importa.
Ele me chamou seu bem mais valioso.
Eu não pareço valiosa.
Eu sou o seu troféu a ser manchado e amassado para depois
ser envolvido em um manto de modo que o ouro se torne uma cor
bronze envelhecida, antes de ser enfiado em uma caixa e
esquecido. Eu tenho quanto tempo antes que de ser encaixotada,
Ninguém?
Eu realmente devo saber?

PEPPER WINTERS
Para Ninguém,

Eu falo com você todos os dias (se eu possuo tempo), mas


você tem notado que eu não estou escrevendo tudo o que tem
acontecido? Que eu não descrevo os meus horrores diários ou
relato o que eu suporto?
Você quer saber por quê?
Porque ninguém deve ler sobre a transformação que eu
passei. Ninguém deve ver o que aquele bastardo estuprador faz.
Vou poupá-lo.
E eu vou me poupar não recontando os fatos.

PEPPER WINTERS
Querido Ninguém,

Hoje, Alrik me disse que eu estive com ele por um ano. Um


ano! Um nojento, horrível e incapacitante ano.
Um ano…
Isso é muito tempo para contemplar.
Eu fiz tudo que podia para escapar, você sabe disso. Eu me
escondi dele, eu lutei com ele, até tentei matá-lo.
E eu pago pelas minhas tentativas.
Você é a única coisa que eu tenho, Ninguém. Só você sabe os
fatos verdadeiros. Só você entende o que eu fiz para sobreviver.
Como eu dei um pedaço de mim para proteger o que me resta.
Como ele pode ferir o meu corpo, mas ele não pode mais ferir a
minha alma.
Eu aprendi a manipulá-lo. Ele ainda bate-me ‒ meu Deus, ele
encontra novas maneiras todos os dias ‒ depois de todo esse
tempo, ele ainda promete que vai me quebrar.
Porém o oposto é verdadeiro.
Estou mais forte agora do que eu já estive.
Eu sou mais velha agora.
Eu sou mais sábia agora.
E eu finalmente entendi o que minha mãe tentou me ensinar.

PEPPER WINTERS
Há poder em escutar, em analisar, em observar. Alrik é uma
fossa profunda preenchida com o mal, mas ele me aprisionou.
Enquanto eu procuro maneiras de matá-lo, eu irei controlá-lo...
Pouco a pouco. Polegada por polegada, eu ganharei uma refeição
extra por ser educada. Eu irei minar a seus abusos por ser
obediente.
Ele não me quebrará
Ele nunca vai me quebrar.
E em breve, eu serei livre.

PEPPER WINTERS
Querido Ninguém,

Um ano e meio ...


Minha mãe .... deve ter seguido em frente. Meus amigos
estarão na metade de suas graduações na universidade. Suas
vidas progrediram enquanto a minha regrediu.
Eu ainda sou uma garota? Eu não sei. Tudo o que conheço é
a dor. Eu fui forte por tanto tempo. Eu me calei profundamente
dentro de mim. Eu tinha santuário seguro para fugir quando ele
vinha para mim.
Mas ontem... Ele abordou o meu reino interior e convidou
seus amigos para me quebrar.
Eles não tiveram êxito.
Mas eles tiveram êxito em outra coisa.
Mata-me admitir isso para você, Ninguém... Mas eu... Eu fui
tão corajosa quanto podia ser. Eu resisti por tanto tempo.
Estou cansada.
Quando o viver se torna a escolha errada e morte a mais
certa? Quando é que tirar sua própria vida é mais sábio do que
deixar alguém destruí-la?
Eu não quero morrer, porque eu sou fraca.

PEPPER WINTERS
Eu quero morrer, porque isso é a última coisa que eu posso
fazer para ganhar.
Ele não teria mais de mim. Eu tiraria seu poder.
O suicídio pode ser a rebelião final e um ato que ele não
conseguiu evitar.
Você acha que tirar minha vida seria um ato de fraqueza?
Você acredita que eu resisti o suficiente? Eu já suportei ossos
quebrados suficientes para provar o meu desejo de continuar
vivendo?
Eu sou uma escrava, Ninguém.
Uma escrava de seus caprichos, mesmo enquanto eu
amaldiçôo sua própria criação.
Ele marcou-me, arruinou-me, e agora, ele está me partilhando
como se eu não valesse nada.
Eu tenho valor.
E eu finalmente tive o suficiente.

PEPPER WINTERS
QUERIDO NINGUÉM,

Você me apoiou em cada corte e violência. Você ouviu os


meus pesadelos, e segurou a minha mão, quando aquele
bastardo me fez sangrar.
Tantas vezes você já ouviu e me abraçou e esteve junto de
mim. Mas você já pensou que você teve que me ouvir por dois
anos?
Dois.
Anos.
Eu estive com este monstro horrível por dois anos.
Não tenho mais nada a dizer. Nada mais para dar.
Seis meses atrás, cheguei ao meu limite. Eu desliguei todos
os sentimentos que me restaram e decidi que entre a morte e o
delírio. A morte se eu pudesse enganar o seu divertimento em me

PEPPER WINTERS
machucar. Delírio, se eu não pudesse correr para a minha
sepultura.
Mas de alguma forma... Ele soube.
Um dia, as facas na cozinha estavam no lugar de sempre, me
tentando a usá-las; no outro, elas tinham desaparecido.
Os cordões de cortina, as ferramentas de uso doméstico,
eletrodomésticos, qualquer coisa que poderia ter ajudado no meu
suicídio desapareceu magicamente.
Ele fez isso para me manter fraca.
Mas não funcionou. Ele lembrou-me de que tenho durado
muito tempo. Eu posso durar mais tempo ainda. Por que eu
deveria morrer? Ele é o único que merece conhecer o seu criador e
pagar por tudo o que ele fez.
E ele vai pagar.
Eu vou me certificar disso.
Levou muito tempo, mas ele não suspeitou de minhas
intenções mais. Eu parei de lutar, eu... Obedeci. Mas não porque
ele me quebrou.
Ah não.
Eu obedeci, porque eu sou mais inteligente do que ele. Eu sou
paciente o suficiente para esperar o momento perfeito.
Não importa se eu me tornei mestre em dormir acorrentada,
em respirar amordaçada, em viver espancada.
Fiz coisas das quais eu me orgulho. Fiz coisas das quais eu
não me orgulho. Mas no final, nada disso importa.

PEPPER WINTERS
Senti coisas antes, Ninguém. Eu ainda acreditava em
fantasias como esperança e casa e felicidade. Agora, tudo o que
eu acredito é em dormência, na avaliação clínica de como
manipular o meu mestre, e na bomba-relógio dentro de mim que
poderia detonar a qualquer momento.
Foi-se a vaidosa adolescente que pensou que iria governar o
mundo. Meus ossos querem escapar de minha carne magra.
Meus olhos estão vagos e frios. O meu cabelo cresceu de novo em
um corte esfarrapado como o de uma boneca de pano.
Eu não me importo que ele tenha tomado tudo. Ainda há uma
coisa que ele nunca vai ter.
Dois anos sem uma palavra.
Minha voz é o seu santo graal e o meu último ‘foda-se’. Ele
nunca vai ganhar. Não que ele vá parar de tentar.
Nove meses atrás, Mestre A quebrou minha perna só para me
ouvir gritar. Ele ganhou esse round. Eu não pude me conter. E
sim, você ouviu esse direito. Parei de chamá-lo de Alrik quando
ele... Você sabe o quê? Não importa.
Tudo o que importa é hoje é o nosso aniversário.
Dois anos.
Será o nosso último aniversário.
Isso eu prometo a você.

*****

PEPPER WINTERS
"Ajoelhe-se, Pim".

Meus machucados berraram, mas eu não lhe daria mais um


motivo para me bater. Meus joelhos estalaram quando eu
cautelosamente fiz como me foi dito.
Viver nesta casa com ele? É um perpétuo purgatório.
Eu odiava cada maldito segundo, mas eu odiava o ato de
acordar ainda mais. Pelo menos ao dormir, eu tinha um pouco
de liberdade. Livre para estar a céu aberto novamente. Rir
novamente. E correr novamente, para muito longe.
Ele era um idiota entediado que não tinha nada melhor para
fazer, a não ser me atormentar. Ele não trabalhava. Ele não tem
empregados, além de uma equipe de limpeza que vem uma vez
por semana e um serviço de entrega de alimentação que
acontece às dezoito horas todos os dias. Seus recursos eram
ilimitados. Ele tem poder para agir sem consequências.
No início, eu não tinha ideia de suas motivações ou por que
ele me tratou tão terrivelmente. Mas dois anos foi um longo
tempo, e eu tinha aprendido rapidamente. Cada espancamento,
cada chicotada, cada noite horrível que passei embaixo dele, me
deu pistas sobre como sobreviver.
Afrontá-lo não era uma opção. Correr, gritar, desobedecer,
todas essas ações me renderam mais dor do que eu podia
suportar.
Mas a observação.

PEPPER WINTERS
Ela é a minha arma.
No começo, saber que quando seu temperamento passava
de suave para agitado significava que ele preferia me chicotear a
me foder não ajudou em nada. Eu não poderia evitar o que ele
tinha planejado. Não importava se seu tom de voz me fazia
identificar o seu humor ou se ele me contava as tortura que
planejou.
Mas com o passar do tempo, essas coisas me serviram de
aviso. Eu me tornei mais forte, anestesiei o meu corpo, e vencia
apenas por respirar. Comecei a entender quem ele era além dos
chicotes e correntes e o achei incrivelmente insatisfatório. Ele é
o epítome de um covarde repugnante que me manteve na linha
por meio da violência.
Eu tinha entrado em sua casa acreditando que eu poderia
permanecer forte.
Isso foi antes do primeiro estupro.
Do primeiro espancamento.
Dos primeiros chutes, socos e chicotadas.
Minha desobediência durou mais tempo do que eu pensava,
mas tudo parou bruscamente quando ele me mostrou as fotos
do que aconteceu com sua última menina.
Morta.
Ele a matou.
No entanto, ao envolver outra corda em volta do meu corpo
para me segurar, ele murmurou que eu não iria acabar do

PEPPER WINTERS
mesmo jeito que ela. Ele tinha pagado o quadruplo por mim do
que ele pagou por ela. Eu realmente era seu brinquedo mais
caro, e mesmo que ele desejasse destruir meu espírito e
acorrentar-me a sua alma, ele não iria me matar.
Eu valia mais viva do que morta.
Foi uma conclusão terrível. E a minha rebeldia foi
rapidamente trocada por uma constatação interna. Quando eu
desviei os olhos em submissão, eu realmente neguei-lhe o
direito de me ler. Quando eu antecipei seu jogo colocando-me de
joelhos, eu recusei-lhe a oportunidade de me bater.
E quando ele me fez realizar tarefas, completamente nua,
minha mente se vestiu de uma roupa feita de retribuição e
vingança.
Eu teria uma chance de matá-lo. Apenas uma.
E mesmo se eu tivesse sucesso, eu não tinha nenhuma
garantia de que eu poderia escapar sem ser inteligente. Tudo
nesta casa estava ligado a um sistema eletrônico. Se eu o
matasse sem aprender esse código, eu morreria aqui. Recusei-
me a compartilhar uma cripta com este estuprador.
"Nós temos algo para comemorar. Você não concorda?" Ele
andou em volta de mim com o queixo estreito erguido. "Dois
anos, minha querida. Eu posso imaginar que na sua tenra idade
este é o relacionamento mais longo que você já teve.”

Isto não é uma relação, seu porco.

PEPPER WINTERS
Meu lábio superior se contraiu de nojo quando eu abaixei a
cabeça, olhando para o tapete de pele de carneiro.
Infelizmente, ele viu a minha injúria facial.
Seu punho atingiu o lado da minha cabeça. "Não me dê
uma atitude de merda, Pim! Não em nosso aniversário".
Eu caí para o lado, balançando a cabeça para afastar as
estrelas pulsantes, forçando o meu corpo de volta para meus
joelhos antes que ele me chutasse para que eu voltasse para
minha posição. Ignorando a dor de cabeça súbita, eu catalogava
seu humor. Tudo falava comigo nestes dias, e não apenas o seu
comportamento, mas o seu vestuário, o relógio que ele estava
usando, e até mesmo a maneira como ele arrumava o cabelo.
Tudo era uma pista do seu humor.
Enquanto ele passeava em torno de mim, tagarelando sobre
como sua viagem para a cidade foi boa e sobre um negócio
qualquer que deu certo, olhei para seus sapatos (mocassins
pretos significavam que ele estava despreocupado e confiante).
Olhei para as calças (jeans claro indicava que sua visita à
cidade não foi totalmente relacionada ao trabalho). Meus olhos
subiram ao seu pulso e vi berrante Rolex de ouro (hoje, ele
queria mostrar sua superioridade). Finalmente, eu olhei sua
camisa de manga comprida azul claro (descontraído, mas
formal). No entanto, o casaco de linho desabotoado não fazia

PEPPER WINTERS
parte do seu vestuário habitual (ele queria impressionar, mas
mostrar indiferença ao mesmo tempo).

Impressionar a quem?

Eu não gostava de coisas que eu não conseguia entender.


Ele vestiu-se para o nosso 'aniversário', ou ele convidou
pessoas para virem hoje à noite?
Meu coração recolheu-se em sua concha com o
pensamento. A primeira vez que ele me ofereceu a seus amigos,
Darryl, Tony, e Monty, eu tinha vomitado não só do horror de
ser usada por quatro homens, mas também pelos golpes dados
em minha barriga.
Desde então, a partilha era frequente. Eu não tinha escolha.
Mas, pelo menos, sua arrogância e as de seus amigos me deram
um abrigo para que eu me desligasse e me escondesse. Eles
poderiam ter meu corpo, mas enquanto eu flutuava em um
lugar entre dois mundos, eu era capaz de manter minha alma
intacta, e sempre negar minha voz a eles.
Ele passou a mão no cabelo loiro espetado. "Você foi uma
boa menina enquanto eu estava fora?"

Você sabe a resposta para isso, seu bastardo.

Eu olhei para a parede.

PEPPER WINTERS
Por alguma razão, sempre que ele saia, ele tinha tanta
certeza de que eu nunca escaparia, ele não me atava como ele
fazia durante a noite. A primeira vez que ele me deixou sozinha,
eu tinha recrutado as facas da cozinha, até mesmo escondendo
algumas lâminas com a esperança de matá-lo em seu sono.
Mas quando ele voltou, ele sabia exatamente o que eu tinha
feito. Segurando meu cabelo, ele me arrastou pela casa,
recolhendo as três facas de açougueiro que tinha guardado em
esconderijos. Após confiscar o meu arsenal, ele me levou para
uma sala privada de segurança na garagem, escondida atrás de
um pedaço de placa de gesso, e revelou como ele sabia.
Cada polegada de sua propriedade era monitorada.
Como eu não vi alguma câmera?
Não havia pontos cegos ou cômodos não vigiados.
Na época, meu coração pegou uma pá e cavou um buraco
tão profundo e cavernoso dentro de mim para se esconder, que
eu temi que eu nunca me recuperasse.
Mas eu me recuperei. Porque eu não tinha escolha.
"Ah, Pim, não seja assim. Estive fora durante três horas...
certamente, você sentiu minha falta."

Como eu sinto falta de contrair ebola.

Eu estreitei o meu olhar, arriscando olhar para ele.

PEPPER WINTERS
No momento em que fiz contato com seus os olhos, ele
sorriu. "Ainda recusando-se a falar, eu vejo. Você pode apertar
os lábios, o inferno, você pode arrancar sua língua, mas eu a
ouço gritar para mim. Ouço suas réplicas, mesmo que você não
as diz em voz alta".

Eu te odeio.
Eu te odeio.
Eu te odeio.

Eu esperava que ele tivesse me ouvido agora; os decibéis


vibraram através do meu corpo de forma que qualquer pessoa
surda ou cega possa senti-los.
Ele riu, abaixando-se ao meu nível de joelhos. A ponta do
seu dedo traçou a linha de minha mandíbula, deliberadamente
pressionando a contusão que ele tinha deixado lá última noite.
"Você sabe... se você tivesse falado comigo desde o início, eu
poderia ter sido um pouco mais agradável para você."

Besteira.

Eu movi meu rosto longe do seu toque.


Ele inspirou com raiva. Sua mão caiu para o meu peito nu,
beliscando meu mamilo. "Eu poderia te dado roupas, pelo
menos."

PEPPER WINTERS
Eu não acredito em você.

Ele não faria isso. Ele não tinha compaixão e só vivia para
causar dor.
Na manhã da minha recepção, ele tinha me tirado o vestido
branco e nunca me deu de volta. Com o vestido roubado, eu não
tinha nada. Nenhuma roupa existiu para mim em qualquer um
dos armários de sua propriedade de doze quartos. Quando eu
tinha tentado pegar uma de suas camisetas, ele me bateu tão
forte, que evitei todos os espelhos do banheiro por semanas.
Sentir o abuso em mim era uma coisa. Ver as marcas na minha
pele era totalmente outra.
Após essa primeira iniciação, eu enlouqueci. Eu tinha voado
ao redor de sua casa como um pássaro psicótico preso em uma
gaiola. Eu abri cada porta, agarrei cada janela, e procurei por
uma fenda na fortaleza dessa casa, à procura de qualquer via de
escape.
Eu falhei.
No entanto, a minha luta não havia desaparecido.
Ele tentou me fazer falar. Ele se tornou... inventivo em sua
persuasão.
Mas eu não vacilei.
Se ele me falava, eu olhava para uma parede. Se ele me
levava para a cama, eu desligava minha mente. Se ele me jogava

PEPPER WINTERS
coisas ou me batia, eu segurava firme em minha alma até ele
terminar.
E cada vez, eu me erguia de volta.
Um passo em frente do outro ... até que um dia, eu iria
parar.
Mas naquele dia não era hoje.
Ou amanhã.
"Você sabe que coisa especial que eu planejei hoje à noite?"

É a sua morte? Esse é o único presente que eu quero de você.

"Vai ser uma noite duplamente impressionante para mim."


Batendo na minha cabeça, ele sorriu. "Primeiro, eu tenho um
visitante muito importante que eu espero que você o entretenha
se solicitado."
Eu congelei.
"Em segundo lugar, uma vez que ele se vá... nós vamos ter a
nossa própria celebração de dois anos." Ele sorriu. "Oh,
enquanto eu estava fora, eu fui fazer compras. Peguei uma nova
mordaça e corda nova. Sou tão generoso quando se trata de
você, Pim".
A escada, a pá e o paraquedas que meu coração usou
anteriormente para tentar escapar, bateram ruidosamente
contra minhas costelas enquanto o órgão maldito criou pernas e
correu para muito longe.

PEPPER WINTERS
Ele poderia manter para si mesmo sua generosidade
bárbara.
Indo para o pequeno frigobar ao lado da penteadeira, onde
ele mantinha um estoque de cerveja para manter-se hidratado
ao gastar horas fazendo-me desejar que eu estivesse morta, ele
abriu uma garrafa de sua marca favorita e bebeu um longo gole.
"Uma coisa que você deve saber sobre esta noite, Pim, é esse
desgraçado não sabe quão único nosso amor é. É especial; você
entende?"
Levou tudo que eu tinha para não revirar os olhos.

Você é louco. Insano!


Amor? Bah!

Ser propriedade de alguém era a própria definição de fodido.


"Você vai estar no seu melhor comportamento, porque eu
tenho outra coisa para lhe dar."
Meus ombros rolaram, protegendo-me de uma pancada ou
beijo doloroso de qualquer novo item que ele tinha comprado.
Minha capacidade de lê-lo foi bagunçada com a súbita
inferência que mudou sua rotina habitual.

Se você não pode prever suas atitudes, você falhou em


Psicologia 101.

PEPPER WINTERS
Minha mãe não ficaria orgulhosa.
Meus pensamentos não vão frequentemente para ela, mas
quando é o caso, eu me perguntava se ela havia se misturado
com o bastardo que tinha me levado. Se ela sorriu para ele,
pensando que ele estava lá pelo seu negócio, ao mesmo tempo
em que ele sorria com a intenção de meu sequestro para seu
lucro.
Qual foi a sua porcentagem no um milhão e meio que foi
pago por mim?
Quanto ele conseguiria por mim agora? Agora que eu estava
magra, abatida e roxa?
Mestre A se virou para mim.
Minha carne arrepiou com um mau pressentimento.
Tudo o que eu queria fazer era matá-lo e ir embora. Eu
precisava de uma boa notícia para contar a Ninguém. Mesmo ao
compartilhar a vida com o meu amigo de correspondência
imaginário, eu não poderia escrever a maioria das confissões.
Ele me machuca de forma mais brutal do que eu gostaria de
imortalizar em grafite. Ele poderia me corromper, abusar de
mim, e até mesmo me adular para falar, mas eu nunca iria dar
o que ele mais queria.
Minha voz.
Às vezes, ele me levou à beira da fala me estrangulando ou
me cortando, quase extrapolando meus limites e me fazendo

PEPPER WINTERS
falar. Mas, sentindo que, se ele me fizesse falar, eu seria inútil,
ele voltou a trás no último momento excruciante.
Após tal incidente, eu usei a minha força restante para
trancar a porta com meu armário ‒ para evitar que ele me
machucasse mais.
Ele tinha enlouquecido, agarrando um machado da
garagem, e cortando através do mobiliário imaculado.
E o que ele fez quando ele entrou...
Estremeci, incapaz de revivê-lo. Mas isso não impediu os
meus dedos de tocarem o meu pé onde cada metacarpo tinha
sido quebrado ao serem pisados e brutalizados.
"Levante-se. Tenho uma surpresa para você."

Surpresa?

Eu odiava surpresas.
Surpresa significava ser estrangulada.
Surpresa significava ser vendida.
Meus lábios se apertaram quando eu fiquei de pé.
Ele desapareceu do quarto só para voltar um segundo
depois com uma sacola. "Continue. Olhe o meu presente. Não
seja uma puta ingrata."
Se eu não tivesse feito um voto de silêncio, eu teria
amaldiçoado sua alma podre. Eu teria gritado o desejo de sua
morte repetidamente.

PEPPER WINTERS
Dando um passo hesitante, aceitei a sacola e olhei dentro.
Roupas.

Por que diabos ele está me dando roupas agora... depois de


todo esse tempo?

Ele estava de alguma forma esperando que eu fosse perdoá-


lo pelo que ele tinha feito? Algodão e seda não podiam fazer
isso. Nada podia. Não, ele nunca seria humano o suficiente para
buscar o perdão ou mesmo são o suficiente para perceber o
quão doente ele estava.
Sem esperar que eu tirasse as roupas da sacola, ele puxou o
saco dos meus dedos, e jogou as roupas brancas no chão. Eles
se misturaram com o piso e o tapete de pele de carneiro abaixo.
"Suas. Eu espero que você as use."
Quando não me mexi, ele veio atrás de mim, esfregando sua
ereção na fenda da minha bunda. "Porra, você me irrita ao não
falar." Ele deu um tapa na minha coxa. "Você acha que é tão
forte, mas você não é forte. Você não quer falar comigo? Eu não
preciso de você para conversar."
Mordendo minha orelha com força suficiente para tirar
sangue, ele riu quando eu vacilei. "Um dia, você vai quebrar, e
quando o fizer, eu vou comemorar por ouvir seus gritos."
Agarrando minha nuca, ele me empurrou para frente até
que bati contra a penteadeira. "Siga em frente em não falar

PEPPER WINTERS
comigo. Eu não preciso de sua voz de menina quando eu sei que
você gosta de escrever."
Minha carne ondulou com indignação, ao mesmo tempo em
que uma gota carmim caiu da minha orelha mordida e pousou
no meu ombro.
Ele revirou os quadris, cavando seu pau em minhas costas.
"Lembre-se aquelas notas que roubei de você quando você
chegou... eles eram a leitura divertida. Eu quero mais. Eu quero
saber o que você sentiu quando eu te possuí. Quero saber tudo
o que você mantém escondido dentro desse pequeno cérebro de
muda."
Eu me forcei a não olhar por cima do ombro para o meu
esconderijo. Folhas e folhas de notas escritas para Ninguém
estavam escondidas tão maldito perto de onde estávamos. Eu
teria nada se ele as encontrasse.
Eu não conseguia respirar quando ele bateu meu rosto
contra um grande livro que descansava na borda da mesa. "Este
é outro presente, porque eu estou me sentindo como um Papai
Noel do caralho esta noite." Apertando minha bochecha no
diário ornamentado fechado, ele sussurrou, "Escreva minha
querida. Vamos ver o que você tem a dizer sobre mim.”
A nova caneta Mont Blanc ao lado das novas páginas me
pedia para usá-la como um arpão. Esfaqueá-la em seu olho e
festejar sua cegueira.

PEPPER WINTERS
Faça.
Mate ele.
Agora!

Meus dedos se arrastaram até a caneta, mas ele bateu em


meu punho. "Pensando bem... isso é muito bom para você."
Lambendo meu ouvido, ele espalhava meu sangue. "Eu
adivinhei os seus planos, Pim. Que vergonha pensar em usar
meu presente para outras atividades."

Maldito.
Dane-se!
Deixe-me ir!

Lágrimas quentes de raiva turvam a minha visão.


E então nada mais importava quando ele me jogou no chão
e plantou o pé no meu estômago. "Sua cadela ingrata. Não
reconhece as coisas que eu faço para você!"

Pontapé.
Pontapé.
Pontapé.

PEPPER WINTERS
Institivamente eu quero me encolher, mas a disciplina me
fez ficar reta e aceitar. Eu tinha a muito aprendido que tentar
evitar suas agressões só levava a outras.
"Você acha que é melhor que eu. Você não é!"
Pontapé.
Pontapé.
As minhas costelas gritaram. Meus pulmões se sufocavam.
Eu estava muito machucada.

Eu sou forte o suficiente para obedecer.

A campainha tocou em perfeita sincronia com seu abuso


condenável. O carrilhão alegre correspondia a lâminas cortando
a minha espinha.
Respirando com dificuldade, ele se abaixou e quase
arrancou um punhado de meu cabelo enquanto ele me colocou
de pé, ainda instável. "Ah, ele está aqui. Hora de brincar."
Eu contive um suspiro cheio de ódio, agonizando em fogo
ardente.
Ele me soltou, endireitando a camisa. "Agora que você já viu
o tamanho da minha generosidade, é hora de você fazer o
mesmo ao ser a puta perfeita para o meu convidado esta noite.
Vista a porra da roupa. E desça. "

PEPPER WINTERS
*****

Para Ninguém,

Estou aqui sentada, dedilhando estas estranhas roupas


novas, e eu não quero usá-las. Isso faz de mim estranha? Eu não
quero ser confinada. Eu não quero que o tecido desta criação me
estrangule.
Você pode vê-las ‒ a monstruosidade branca? Não, é claro,
você não pode, porque você não tem olhos ou ouvidos ou um
coração.
Ele disse que tem um convidado vindo esta noite. Outro
diferente dos animais habituais ele me compartilha.
Eu não sei o que isso significa. Eu não gosto de não saber.
Eu posso rastejar dentro de suas folhas macias e me
esconder atrás de suas linhas de lápis até que esteja terminado?
...

Eu me vesti, Ninguém.
Vesti a saia e a camisa polo e me fiquei me olhando no
espelho por um maldito tempo longo. Estou confusa por que ele
está fazendo com que eu vista essas roupas. Não é sexy. Elas
são folgadas, escondendo minha estrutura esquelética e todos os
hematomas e cicatrizes que ele me deu.
Mas por que ele faria isso?

PEPPER WINTERS
Por que esconder as marcas de seus feitos? Ele gosta delas.
Ele as chama minhas joias. Diz-me como generoso que ele é ao
me dar mais um colar ou pulseira ao me estrangular com a corda.
Ah, não, ele está me chamando.
Eu não quero ir.
Eu não tenho escolha a não ser ir.

PEPPER WINTERS
Existem múltiplas versões do Inferno.
A maioria era cheia de clichês e nada mais do que um
incômodo ‒ dramatizado ao extremo e tema de conversa para os
carentes de atenção. No entanto, algumas versões justificam o
nome.
Uma versão do termo remetia a um breve momento que
uma vida era rasgada, e as ruínas eram deixadas para quem
tem a coragem de pegar os pedaços sangrentos. Outra versão é
destinada especialmente aos desgraçados, oferecendo
retribuição para quaisquer atrocidades que eles tinham
cometido. Uma terceira correspondia à ação de um furacão,
trazendo destruição a todos aqueles em seu caminho,
merecedores ou não.
E, em seguida, houve isso.
A mentirosa, enganadora forma do Inferno onde cada
contração e cada vogal devem ser cuidadosamente escolhidas e
meticulosamente entregues, porque se o cuidado não existir, a
morte não era o pior castigo disponível.
Eu estava naquele inferno.

PEPPER WINTERS
Eu voluntariamente entrei na cova do demônio, e para quê?

Por que diabos eu estou aqui?

A resposta pendia como um verme dentro da minha mente.


Mas se havia um verme dentro dos meus pensamentos,
significava que meu núcleo já estava estragado. Uma maçã
podre lentamente devorada pela imundície.
E era.
Por muitos anos, isso era exatamente o que eu era.
Mas não mais.
Onde o verme tinha escavado um túnel através da minha
humanidade e justiça, algo mais tinha enchido os buracos. Algo
que tem sede de poder, embora eu já tenha quantidades
infinitas. Algo que desejava riqueza, embora eu já tivesse
oceanos. Algo que exigiu que eu nunca me esquecesse de quem
eu era no início.
E quem eu era no início não era um cidadão de valor. Eu
estava cheio de sombras, sangue e gritos. Eu tinha perdido
minha honra, a minha família e tudo o que me fez humano.
Perder tudo significava que quando eu ganhei tudo, a
fortuna não fez a minha escuridão interna melhorar... Ela fez
piorar.
Muito pior.
Não que o meu novo anfitrião sabia disso.

PEPPER WINTERS
Meus lábios tremeram enquanto eu saí do meu carro e
acenei para Selix. "Eu não vou precisar de seus serviços hoje à
noite."
Meu guarda-costas, motorista, e faz-tudo, estreitou seu
olhar. Seu cabelo escuro em um coque no alto da cabeça
absorveu a luz do início da noite, seu o queixo bem barbeado e
fino. "Você tem certeza? Você sabe o que este homem é. Você fez
a pesquisa. Eu aconselharia a repensar sua-”
"Eu aconselho que você pare de tentar me dar conselhos."
Nós nos conhecemos antes que eu fosse alguém na vida.
Um inimigo que sofreu as mesmas dificuldades que eu. Quando
a minha sorte tinha mudado, eu o tinha arrastado da lama
comigo.
Afinal de contas, não havia melhor pessoa para empregar do
que um inimigo.
Se eu pudesse comprar sua lealdade e ganhar sua amizade
depois que tentamos matar um ao outro, nada poderia nos
separar. Nós tínhamos construído uma fundação em algo muito
mais forte do que a luz e felicidade. Nós fomos forjadas a partir
do mesmo mau.

Há fraqueza nisso, assim como força.

PEPPER WINTERS
E por causa disso, eu não parava de lembrá-lo de que eu
poderia confiar nele com a minha vida, mas ele não era a minha
consciência. Não antes, nem agora, nem nunca.

Eu duvido que ainda tenha uma consciência.

De acordo com a minha herança, eu era um ninguém. Um


ser indigno de ser chamado de homem.

Eu estou bem com isso.

Selix estalou os lábios. "Eu estarei por perto se precisar de


mim."
Abrindo o meu botão de blazer, eu assenti. "Você saberá
caso eu precise." Disse ao dispensar, e caminhei em direção à
porta da frente da grande mansão branca.
Branco.
Eu zombei.
A maior mentira de todas.
Ele dava a um visitante a impressão de inocência e pureza.
Mas o oposto era verdade. Branco era a cor com múltiplas faces.
Ele mentia sobre sua identidade, escondendo seu pigmento,
enquanto sufocava outros. A última cor vista antes da morte.
Meu novo anfitrião acreditava que eu era o que eu disse que
era. Mesmo que ele tivesse me pesquisado como eu o tinha

PEPPER WINTERS
pesquisado, ele não saberia nada de verdadeiro sobre mim.
Somente as migalhas cuidadosamente definidas de
conhecimento inútil.
Ele não sabia o meu passado.
Ele não sabia minhas habilidades.
E ele não sabia o meu objetivo final.
Mas logo, ele o faria.
E, em seguida, a minha tarefa no inferno estaria completa.

PEPPER WINTERS
Esta noite foi diferente.
Eu não gosto do diferente.
Meu estômago doía de onde ele tinha me chutado. Minha
cabeça estava zonza por conta do seu soco. Minha orelha doía
por sua mordida. E isso era ele sendo gentil.
As lições de minha mãe sobre como ler agressores havia se
tornado uma ocupação de tempo inteiro. Eu já sabia o que
motivava homens como meu mestre. Eu roubei pedaços dele em
cada momento que ele olhou para mim ou me tocou.
Eu era a esponja para a sua maldade, absorvendo tudo o
que podia para meu benefício. No entanto, não importa as
pequenas vitórias que tive, as tragédias superaram os meus
triunfos.
Hoje à noite não seria um triunfo.
Eu podia sentir isso.

O que vai acontecer?

PEPPER WINTERS
A cada resposta que eu imaginei, eu tremia cada vez mais,
cada cenário pior que o outro. A casa parecia perigosa e
estranha, pronta para algo que eu não poderia me preparar.
Deixando meu quarto sem portas, eu desci as escadas.
Meus pés descalços não poderiam camuflar as sombras pretas e
azuis que marcavam a quebra dos meus ossos, nem esconder o
pigmento desnutrido da minha pele. Mas a saia branca, como se
flutuava em torno das minhas pernas, cobrindo minha nudez e
cicatrizes, pela primeira vez desde que cheguei a Creta.
Se isso era mesmo onde eu estava.
A gola polo sem cor agarrou minha garganta com seus
dedos de algodão, fazendo-me remexer e puxar a obstrução.
Ultimamente, ele tinha uma tendência a usar coleiras e
cordas, mantendo-me amarrada em posições terríveis.
Normalmente, essa posição acabava me estrangulando no fim
do seu divertimento. Isso me aterrorizava quando acontecia,
mas também contaminava às vezes quando ele não fazia.
Sempre que ele tocava meu pescoço, as lágrimas
instantaneamente desciam. Não importa o quão forte eu era,
isto se tornou um gatilho para terror em meu corpo.
E agora, ele tinha me vestido com roupas que me sufocavam
para o seu benefício.
Engolindo o meu pânico crescente, parei no meio da descida
das escadas.

PEPPER WINTERS
Eu não posso fazer isso.

Voltando para trás, eu queria fugir de volta.

Você não tem uma escolha.

Parei no patamar com o meu rosto em minhas mãos,


soluços ameaçando desfazer todas as costelas. Eu odiava meu
medo súbito. O desconhecido faz isto ‒ sacode a minha frágil
força ‒ pronto para detonar a minha estrutura.
Nos últimos dois anos, eu tinha desenvolvido um sistema de
segurança que garantiu que eu respirasse por mais um dia
mesmo quando em alguns dias eu queria morrer. Outros, eu
queria gritar. Na maioria, eu queria matá-lo.
Foram os pensamentos de assassiná-lo que me fizeram
seguir em frente.
E eu evoluí.
Antes, quando ele me forçava a ajoelhar, eu me forçava a
ficar de pé. Ele arrastava meu rosto no chão, e eu me erguia em
desafio. Pela minha rebeldia, eu era ferida repetidamente.
Agora, eu me ajoelhava porque o fazia acreditar que eu o
respeitava, ao mesmo tempo meu coração afiava os punhais que
eu queria mergulhar nele. Eu me ajoelhava porque lhe dava
poder, e quando ele tinha poder, ele não o afirmava tão
frequentemente.

PEPPER WINTERS
Ele era um covarde com uma viciosa e sadista veia de
motivação. Mas eu o manipulei da melhor forma que pude.
Entrei em sua cabeça. Eu não poderia evitar a sua ferocidade
diária, mas eu podia evitar a dor absoluta, ao ser inteligente.
No entanto, ser inteligente e subserviente veio com um
preço. Minhas ações de sobrevivência me fizeram viver e
respirar a existência de um escravo, e, ocasionalmente, apenas
ocasionalmente, o medo constante e infelicidade ganhavam.
Como estavam ganhando agora.
Os soluços me engoliram até que minha pele implorou por
alívio da roupa apertada. Eu queria despir-me e desaparecer.

Você está perdendo tempo.


Mova-se.

Se eu não fosse conta própria, ele viria por mim. Ele me


machucaria. Eu tinha sido ferida o suficiente hoje.

Eu sou forte o suficiente para obedecer.

Essa frase tornou-se um grito de guerra, uma canção de


ninar, uma oração. Lembrei-me constantemente que era
verdade. Não importa se alguns dias foi uma mentira... Eu
ainda estava aqui. De uma forma estranha, eu tinha ganhado.

PEPPER WINTERS
Sugando as lágrimas, eu fiz o meu melhor para endireitar a
espinha que a muito tinha se curvado sob a dominação e dor, e
voltei a descer as escadas.
Lentamente.
De forma muito lenta.
Mas não o suficientemente lento.
Meus dedos atingiram o piso inferior antes que eu tivesse
tempo de limpar a gota na minha bochecha. Minha garganta se
contraiu quando eu avancei todo o corredor até a sala de estar.
A gola da minha camisa me apertava, transformando o meu
medo em algo grosso e enjoativo.
Eu estava a dois segundos de me despir dos itens ofensivos
quando vi o hóspede do Mestre A pela primeira vez.
Meu primeiro pensamento foi... correr.
Seus olhos combinam com os dos homens que o rodeia.
Os olhos de um assassino, causador e dependente de dor.
Mas meu segundo pensamento foi... correr para ele.
Ele não me conhecia.
Mestre A não o governava. Ele poderia finalmente ser o
único a me libertar.
Ou me matar.
Qualquer opção me serviria porque, pela primeira vez em
muito tempo, eu me lembrei de como era ver um estranho. De
sentir esperança ao invés de forçar-me a permanecer forte.

PEPPER WINTERS
Meus joelhos vacilaram enquanto sua atenção permanecia
no grupo habitual de idiotas que se aproveitavam de mim, a
critério do Mestre A.
Ele não tinha me visto, pairando como um fantasma
silencioso contra a parede.
O intruso sentava-se tenso, como uma espada a espera de
ser desembainhada, olhando para os três homens no sofá
oposto.
Mestre A nunca tinha me apresentado aos animais que
tinham abusado de mim, mas eu sabia seus nomes. Eu
conhecia os seus gostos bárbaros. E eu sabia que eles eram tão
ruins quanto o resto.
Darryl, Monty, e Tony descartaram minha presença no
segundo que olharam em minha direção. Eu não era nada para
eles. Nada, assim como o lustre de cristal sobre a mesa da sala
de jantar, ou como o vaso sobre o aparador no hall de entrada.
Eles me viram, podendo até me apreciar por um breve
momento, mas depois eu não era importante.
Eu apenas desejei que eu não fosse importante o suficiente
para não atrair seu interesse sexual quando o álcool flui, e
Mestre A dá a ordem para fazerem o que diabos eles quisessem.
O idiota doente se satisfez com seus amigos me
machucando, os três de uma só vez. Ele se sentou ali se
masturbando enquanto eles-

PEPPER WINTERS
Pare!

Enterrei cada memória horrível profundamente em meu


interior. Era a única maneira que eu poderia aguentar mais no
topo de uma montanha que já tinha sido escalada.

Além disso, não importa.

Eu estava muito mais interessado neste estranho no meio


do meu pesadelo.

Quem é ele?

Meus dedos agarraram a saia feia, buscando refúgio sua fria


fragilidade. Passou-se um longo tempo desde que eu tinha sido
vestida; Eu tinha esquecido como confortante uma cobertura
simples poderia ser.
Não que esta roupa protegesse meu corpo.
Cada parte de mim ainda era visível, o tecido apenas...
sombreava. O material branco não escondeu meus mamilos em
seu aperto, e a saia insinuava segredos, o lugar violado entre
minhas pernas.
Eu lembrava vagamente de minha mãe dizendo, por vezes,
as roupas eram mais provocativas do que a nudez franca. Talvez
esse fosse o caso? Uma provocação? Um show de strip inverso?

PEPPER WINTERS
Mestre A reparou em mim, vindo da cozinha com uma taça
de champanhe. Ele não bebia muitas vezes, e eu quase recuei
em surpresa quando ele passou a delicada taça para mim.
Beijando meu rosto, ele olhou para o estranho antes de
sussurrar no meu ouvido. "Nosso convidado não tem
conhecimento de nossos pequenos jogos, minha doce Pim? E se
você sabe o que é bom para você, você não vai dar-lhe qualquer
razão para descobrir.”
De costas para o seu hóspede, ele sutilmente traçou uma
linha sobre sua garganta em uma ameaça.
Eu não sei se isso significava que ele mataria o recém-
chegado ou a mim.
Roubando o champanhe dos meus dedos sem uma única
gota espirrar na minha língua, ele passou um braço em volta de
mim e me transportou para o homem.
Quanto mais me aproximei, mais intrigada ficava.
Ao contrário de Mestre A e os seus homólogos loiros, este
homem era uma mancha negra no meio das compleições
europeias.
Seu cabelo era mais preto do que o preto, parecendo um
derramamento de tinta sobre a morte de uma noite perfeita. Seu
olhar combinava as profundezas de carvão, escondendo tanto,
mas levando tudo em redor.
Imaginei que ele saiu da adolescência há um tempo e estava
no fim dos vinte anos, talvez uns trinta, trinta e poucos anos.

PEPPER WINTERS
Ele era o que minha mãe costumava chamar de "etnia confusa."
Ele não era como eu, que poderia identificar suas raízes nos
anglo-saxões e vikings. Ele foi um desencontro de origens
étnicas exóticas.
Ele era bonito e estava olhando diretamente para mim.
Encarando como se ele não esperasse que uma menina
estivesse aqui; uma escrava que já tinha verdadeiramente
esquecido o mundo exterior.
Abaixei meu olhar, encorajando um pedaço de cabelo a
ocultar os vestígios de contusões na minha bochecha.
Eu não fui a qualquer lugar ou vi nada novo em dois anos.
Até este homem.
Parando diante do estranho que se sentava ereto no sofá,
mestre A resmungou: "Eu pensei trazer mais uma para o jantar
se você não se importa." Enterrando as unhas no meu cotovelo,
ele sorriu cordialmente. "Esta é a minha namorada, Pimlico."
O homem levantou uma sobrancelha, chamando minha
atenção de seus cabelos e olhos para o resto do seu rosto
simetricamente masculino. Seu nariz exalava autoridade na
medida sem ser demasiado grande. Seu queixo era quadrado
suficiente para expor cada aperto de seus dentes, e sua
garganta poderosa o suficiente para revelar cada gole,
ondulando com nervos e músculos.
Meus olhos seguiram seu pescoço, seguindo os contornos de
sua pele impecável que desaparecia debaixo de uma camisa

PEPPER WINTERS
cinza escuro com o colarinho desabotoado. Ele usava
casualmente um blazer preto, como se ele tivesse o colocado no
último minuto enquanto fazia compras na Armani ou Gucci, e
suas longas pernas o fazem uma cabeça mais alto do que
Mestre A, que por sua vez era muito mais alto do que eu.
Só que, onde o Mestre A me fez sentir pequena e indefesa,
este novo homem... Não o fez.
Eu não poderia descrever o sentimento.
Eu tinha ouvido muitas vezes as minhas amigas da escola
mencionar algum tipo de reação “beije-me” quando elas
conheceram seus namorados, mas eu nunca senti.
Meu coração me traiu quando o homem inclinou a cabeça,
seus olhos nunca deixando os meus. Ele se movia como um
líquido, como se tivesse o poder de afogar a todos com apenas
uma gota ou erradicar paisagens inteiras como um tsunami.
Eu não conseguia respirar quando ele se inclinou para
frente em um ligeiro arco, estendendo a mão. Cada movimento
foi fluido e aperfeiçoado, sex appeal o contornava como uma
névoa fina.
Eu vacilei.
Por que ele olhava para mim como se eu valesse alguma
coisa? Ele não podia ver que ele iria ficar em apuros se o Mestre
A considerasse eu tinha recebido presentes que não eram
devidos?

PEPPER WINTERS
Meus ombros se curvaram quando eu olhei para os azulejos
brancos sob os meus pés.
Mestre A aproximou-me de seu lado com um aperto de
aviso. "Aperte a mão do Sr. Prest, Pim".

Apertar?

Eu tinha esquecido tais sutilezas sociais. Por dois anos,


uma palma da mão estendida significava dor, e não uma
introdução comum.

O que diabos está acontecendo?

Se eu não tivesse jogado os jogos do Mestre A por tanto


tempo, eu poderia ter-me curvado aos seus desejos, esperando
que esta noite teria um resultado mais feliz do que as outras
vezes. Mas eu não podia negar que tenho sido sua por muitos
anos e já não acreditava na esperança.
Eu não podia evitar a dor.
Não importa o que eu fizesse.
Então, por que eu deveria fazer alguma coisa? Ele poderia
querer que eu apertasse a mão do desconhecido apenas para
que ele pudesse gritar comigo por tocar outro homem contra a
sua vontade. Ou ele poderia me repreender por não obedecer.
De qualquer maneira, as consequências seriam as mesmas.

PEPPER WINTERS
Eu não vou fazer nada.

Inclinando minha cabeça, eu olho nos olhos do Sr. Prest.


E cruzo os braços.
Darryl, Monty, e Tony riram no sofá, sabendo que eu seria
ferida pelas minhas ações. Muito ferida. Assim que o
desconhecido fosse embora.
Tony gargalhou. "Ahhh, merda, você vai ser-"
"Basta!" Mestre A estalou, silenciando o deslize em
potencial. Seu rosto empalideceu, coincidindo com os fios loiros
em sua cabeça.

Interessante.

Não era uma farsa; ele realmente não queria que este
homem soubesse.
Meu coração fez o seu melhor para livrar sua mortalha de
morte e encontrar esperança mais uma vez. Por muito tempo,
ele tinha embalado sua escada e paraquedas, se preparando
para lutar uma guerra para me manter viva, e seguindo as
fodidas regras. Mas agora, ele sacudiu a poeira e os detritos de
batalha, brilhando em um carmesim hesitante.
Se eu me lembrasse de como usar a minha voz, eu poderia
ter informado este misterioso Sr. Prest que ele tinha acabado de
entrar em uma prisão de sexo. E que ele voluntariamente fez

PEPPER WINTERS
amizade com estes animais que me compartilharam e ferem,
sem na alma gritando silenciosamente dentro de mim.
Mas dois anos era muito tempo.
E dizer uma palavra me era tão estranho quanto ser livre.
Abaixando sua mão não apertada, o Sr. Prest fez uma
careta. Seu olhar dançou por mim, com seu rosto escondendo
seus pensamentos, mas sendo incapaz de impedir as dúvidas.
Assim como eu queria saber quem ele era, ele queria me
conhecer.
Lutei contra a vontade para soltar meus olhos, mas a
intensidade feroz em que ele me estudou concedia coragem ao
invés de despojá-la. Eu nunca tirei meus olhos dos seus quando
seu olhar negro observou a minha postura tensa, notou os
meus mamilos visíveis através da polo branca, e se fixou no
meu braço onde Mestre A me agarrava firmemente.
Seus lábios se apertaram ao mesmo tempo em que uma
conclusão transpareceu em seu rosto.
Eu queria aplaudi-lo. Dar-lhe um prêmio mínimo por
perceber que nem tudo era o que parecia.
Mas então, a constatação na qual ele chegou foi descartada
de seu rosto, quando ele sorriu de modo tão frio, tão mal e tão
sórdido, assim como Mestre A e seus associados. "Olá, Pim".

Pim.

PEPPER WINTERS
Simplesmente, ele encurtou o meu nome como se me
conhecesse.
Meus braços cruzados se apertaram.

Você não me conhece. Você nunca vai me conhecer.

Seu olhar se desviou para os meus ombros, onde os meus


músculos se contraíram. Não que eu tivesse muitos músculos.
Eles foram perdidos graças a minha dieta de uma única refeição
por dia, e isso só se eu merecesse.
Eu não tinha visto o sol em dois anos, somente através da
janela.
Eu não tinha sentido uma brisa em dois anos, somente a
que vem de um aparelho de ar-condicionado.
O desejo do mundo exterior que eu tive no hotel de tráfico
era o mesmo aqui onde o mármore tinha substituído os tapetes
dos anos setenta e os lençóis de algodão egípcios tinham
substituído os brancos engomados do hotel.
O negro desespero de viver permanentemente nos limites da
minha força ameaçou me estrangular. Meu coração chutou
meus outros órgãos, como se tentasse me acordar ou me matar.
Forçando uma reação que há muito tempo eu dei ordens para
permanecer escondida.

PEPPER WINTERS
Este estranho pode ser a única coisa nova em dois anos que
veria antes de morrer. Eu nunca mais inalaria a fragrância de
uma flor ou provaria uma gota de chuva em minha língua.
Engoli em seco quando um ataque de pânico iminente se
aproximava. Durante um ano e meio, eu tinha sido capaz de
controlar a minha histeria. Mas alguns meses atrás, eu tinha
sofrido uma quantidade tão grande de horror e desespero, que
Mestre A foi forçado a chamar um médico particular (que não
fazia perguntas) para garantir que eu não estava morrendo de
insuficiência cardíaca. Eu tinha sido diagnosticada como
severamente deprimida com tendências a ter ataques de pânico.
Eu estava grata por um diagnóstico, mas cheio de ódio que
a forte adolescente que eu tinha sido, agora era nada mais do
que uma emocional em ruína ‒ não importando quão corajosa
eu me forcei a ser.
Mestre A me segurou mais forte, sibilando no meu ouvido.
"Controle-se, Pim. Você não vai ter um ataque na presença do
nosso convidado."
Se eu pudesse controlá-lo, eu iria obedecer. Não havia nada
de bom em revelar o quão profundo o meu medo é.
Mas quando o desespero e a falta de ar se agarraram a mim,
eu fui tomada.
Engolindo, eu arranhava o algodão que se apertava em volta
da minha garganta.

PEPPER WINTERS
Eu não posso respirar.
Preciso de ar.
Eu preciso correr e correr e correr.

Seus dedos opressivos me arrastaram para o lado. "Acalme-


se!"

Eu não posso.
Eu não posso.

Memórias de uma morte lenta me corromperam. Lembrei-


me da sensação final de ver e sentir as últimas coisas.
Lembranças reprimidas, de ser estrangulada e acordar dentro
deste pesadelo ‒ traficada por sexo, me invadiram.

Pare!
Faça parar!

Minha asfixia tornou-se um ofegar de boca aberta.


Mestre A arrastou-me pela sala para me colocar em algum
lugar onde eu não iria constrangê-lo.
Mr. Prest seguiu o nosso rastro.
Quando eu tropecei na soleira da porta que dava para o
corredor, uma voz fria exigiu: "Deixe-a ir."

PEPPER WINTERS
Mestre A congelou, olhando por cima do ombro. Com um
aperto raivoso, ele me girou para enfrentar o desconhecido. "Não
se preocupe. Isto não é da sua conta."

Eu não posso respirar.

Agarrando meu peito, eu monitorei as confusas duplas


batidas do meu coração. De acordo com o médico, eu poderia
parar o ataque se me lembrasse de que a minha situação atual
não mudaria, não importando os meus sentimentos. Eu não
devo me preocupar, já que não posso reverter às circunstâncias
da minha situação.
Ele teve a audácia de dizer isso.
Para mim.
A escrava muda que foi espancada, estuprada e deixada
com fome diariamente.
O meu terror era plenamente justificado. Eu só acho
surpreendente que os ataques tenham começado há alguns
meses e não no dia que eu tinha sido vendida.

Oh Deus.
Dois anos.
Dois longos anos.

PEPPER WINTERS
Eu me abaixei, segurando o peito, fazendo o meu melhor
para manter a minha alma dentro do corpo. Quando eu estou
presa em um episódio, minha cabeça ruge, meu coração
enlouquece, e tudo que eu quero é morrer. Parar o horror e
tornar-me calma novamente parecia ser algo impossível.

Eu não posso lidar com mais dois anos.


Eu não consigo lidar com mais dois dias.

Mr. Prest inclinou a cabeça, passando a mão pela


mandíbula sombria. Tudo nele boicotava a vastidão branca da
mansão de Mestre A, trazendo a escuridão para seus
corredores.
"Se você quiser fazer negócio comigo Alrik, considere esta
minha preocupação." Seus olhos se arrastaram sobre mim. Ele
não parecia sentir empatia pelo meu sofrimento, apenas frieza e
uma leve irritação.
Sua sobrancelha levantou-se em um arco aristocrático na
medida em que meus lábios trementes se tornaram azulados e
minha respiração ofegante tornou-se fatigada. Ele me olhou
como se eu fosse uma aberração de circo fazendo uma
apresentação particular.
Uma apresentação da qual ele não gostou.

PEPPER WINTERS
Ignorando Mestre A, que ainda lutava para me manter em
pé e não ajoelhada no chão como eu queria, Sr. Prest
murmurou duramente, "Pare com isso."
Eu queria gritar. Clamar. Falar. Para mostrar a ele que eu
era algo humano, e não um objeto que ele poderia comandar.
Mas eu murchei sob seu olhar pesado, me curvando ao aperto
doloroso do meu dono.
Ser repreendida não era novidade. As únicas palavras
dirigidas a mim consistiam em comentários sarcásticos, ordens,
e xingamentos. Por isso, não me chocava que esse estranho agia
da mesma forma que os outros. Nenhuma palavra gentil ou
piedade. Sem empatia ou capacidade de ver além das mentiras
e compreender a verdade.
E mesmo se ele compreendesse... Por que ele deveria se
importar?
Eu não era nada para ele.
Apenas um brinquedo rebelde que rapidamente tornou-se
cansativo e pronto para ser substituído.
Mestre A me balançou, sibilando no meu ouvido. "Você
ouviu o nosso convidado. Pare com isso." Puxando-me mais
perto, ele disse algo que apenas eu ouvi. "Você acha que esse
comportamento ficará impune? Boba, boba, Pim. Hoje à noite, a
suas costas serão desfiadas. Cicatrizes em cima das cicatrizes.”
Eu convulsionava, livrando-me do seu aperto e
escorregando para o chão.

PEPPER WINTERS
Não! Não! Não!
Recomponha-se.
Respire!

Todo o meu corpo tremia enquanto eu rasgava o algodão


que circulava minha garganta. Minhas unhas quebradas
marcaram dolorosamente a minha pele quando eu finalmente
consegui agarrar a roupa ofensiva, me regozijando com o rasgo
do material.
A sufocante gola se abriu quando eu a dilacerei.
Eu não parei até que a camisa branca se abriu escancarou,
revelando as lacerações de chicote, os machucados dolorosos, e
as cicatrizes prateadas no meu peito que eram as
consequências de pertencer a um mostro como Mestre A.
Sr. Prest endureceu.
Eu não ousei olhar para cima, mas suas coxas pareciam
árvores feitas de aço, tencionando as calças pretas. O farfalhar
suave de seu blazer deu a entender que ele não era mais um
espectador da situação, mas sim uma testemunha da minha
ruína.
Antigamente, eu teria escondido o meu peito nu e tentaria
cobrir meus mamilos ‒ eu era recatada e tímida.
Agora ... Eu não me importava.

PEPPER WINTERS
Depois de tanto tempo sem roupas, eu estava mais
confortável nua. Eu não podia suportar nada e ninguém me
tocando.
Tocar, assim como falar, havia se tornado um tabu. Era algo
que só trazia dor. Não prazer.
Mestre A me colocou bruscamente de pé, com as mãos
ferozes e inflexíveis debaixo dos meus braços. "Que porra é essa
que você fez?" Seu temperamento era como uma nevasca, me
cobrindo de granizo e gelo.
Eu tremi, esperando pelo congelamento ártico.
Mas o Sr. Prest avançou. Retirando o seu blazer, ele ignorou
o meu mestre enquanto envolvia o material sobre a minha
forma seminua. Eu vacilei, temendo o menor toque.
Mas nada aconteceu.
Ele me deu seu casaco, ainda quente e cheirando a algo
ricamente inebriante e exótico, mas ele fez tudo isso sem me
encostar um dedo.
Eu congelo.
Eu me afogo.
O ato de bondade quase me causou outro ataque de pânico.
Eu relaxei sob o casaco, estranhando a sensação de calor
que me envolvia.
Um batimento cardíaco exigiu: Tire isso!

PEPPER WINTERS
O próximo lembrou-me do que minha carne tinha
esquecido. Ele lembrou-me de como era bom ser protegida. Não
... não o tire.
"Tire isso dela, Sr. Prest," Mestre A rosnou. "Ela vai subir e
se vestir com as próprias roupas, não vai, Pim?"

Com o que?

Eu não tinha outras roupas.


Mas o Sr. Prest não sabia disso, e eu esperei, com meus
olhos voltados para o chão e coração em chamas, que me fosse
retirado o único elemento de conforto que eu tive contato em
um longo tempo.
Tudo o que eu queria fazer era deslizar meus braços nas
largas mangas, deitar no chão, e abraçar-me. Eu queria enrolar-
me em um casulo, protegido pela armadura do blazer, e
reemergir muito mais corajosa e mais ousada do que antes com
asas mágicas para voar para bem longe.
Pelo menos o choque de Sr. Prest de compartilhar seu
casaco, interrompeu meu ataque de nervos. A adrenalina parou
de correr em minhas veias; Fiz o meu melhor para respirar
normalmente.
Mr. Prest cruzou os braços, com a camisa cinza escuro
dobrada até os cotovelos, revelando músculos firmes e uma

PEPPER WINTERS
tatuagem com caracteres japoneses que formava uma pulseira
em torno de seu pulso. "Ela pode ficar com ele."
Mestre A olhou-me furiosamente, cravando as unhas no
meu ombro enquanto ele me conduzia em direção à escada.
"Não. Ela não pode".
"Por quê?" Sr. Prest perguntou encostado no batente da
porta, sem tirar os olhos negros de mim.
"Porque eu disse isso." Mestre A me empurrou em direção à
escada. "Ela vai descer novamente assim que se trocar."
Eu tropecei, a jaqueta larga esvoaçava como uma nuvem
nas minhas costas.
Sr. Prest abaixou o queixo, nos observando com uma feição
sombria. "Eu quero ouvir isso dela."
Mestre A congelou. "O que?"
Sr. Prest apontou na minha direção. Sua postura fluida e
graciosa indicava tédio e desinteresse, mas deixava transparecer
uma veia de mortalidade e perigo. "Dela. Eu quero ouvir isso
dela."
Eu girei para enfrentar o homem, absorvendo toda a
brancura em volta dele. Fizemos contato visual antes que eu
lembrasse qual era o meu lugar e olhasse para o chão.
Mestre A passa os dedos duramente por seu cabelo loiro.
"Você não entende, Elder. Ela não fala."

PEPPER WINTERS
Sr. Prest respondeu sorrateiramente. "Não acho que
podemos nos chamar pelo primeiro nome, Alrik. Eu certamente
não dei esta liberdade a você".
Minhas costas enrijeceram. Ninguém falava com Mestre A
assim e ficava impune.
Mas o impensável aconteceu.
Mestre A engoliu sua réplica raivosa, balançando a cabeça
respeitosamente. "Claro. Desculpe-me." Aproximando-se do Sr.
Prest, ele acenou por cima do ombro. "Talvez, devemos começar
a noite novamente. Temos uma boa refeição planejada. Vamos
jantar ... Devemos começar? "
"Não" Sr. Prest não se moveu da porta. "Eu quero saber o
que diabos está acontecendo."
Os olhos do Mestre A se arregalaram.
Se eu não estivesse com tanto medo do homem ser
castigado, eu teria apreciado essa mudança de eventos. Mas eu
sabia que em última análise seria eu a pessoa a pagar o preço
quando o estranho fosse embora.
"Nada está acontecendo."
Sr. Prest inclinou a cabeça, com um sorriso frio nos lábios.
"Mentiras. Eu não faço negócios com mentirosos."
"Eu não estou mentindo."
"Então, a deixe falar." Os olhos do Sr. Prest se fixaram em
mim novamente. "Pimlico ... Diga-me. Você quer manter o meu
casaco ou você prefere usar as suas próprias roupas?" Seu

PEPPER WINTERS
olhar se desviou para a saia branca desagradável que eu usava,
que mal escondia nada. "Você tem gosto estranho pela moda,
mas não vou julgar. Você pode vestir o que quiser. Não que seja
o meu papel mandar em você.” Sua careta pousou em Mestre A.
"Mas também, não cabe ao seu namorado dizer-lhe como se
vestir."
Seu sotaque provocou a minha mente, lembrando-me de
viajantes ricos e lugares estrangeiros. A maneira como ele disse
'namorado' me fez endurecer.
Eu tinha razão.
Ele entendeu a situação. Ele viu através das besteiras
contadas e sabia o que eu era.
Meu coração pulou em um oceano de lágrimas. Por que isso
me dói tanto? Ser vista pelo o que eu era? Por este estranho
nunca me conhecer como a feliz e confiante Tasmin, mas como
a derrotada e feia Pimlico?
"Responda-me", disse Prest. "Meu casaco ou suas próprias
roupas?"
A questão não me incitou a respondê-lo. Após dois anos de
mudez, uma pergunta banal já não tinha tal poder. Minha
laringe não se preparou para falar. Meus pulmões não inflam
para conversar.
Eu não tinha vontade de vocalizar.
Meu corpo ficou tenso quando eu me concentrei na
mandíbula e na garganta poderosa do Sr. Prest. Eu acho que ele

PEPPER WINTERS
tinha sangue estrangeiro em algum lugar em sua linhagem. Não
era uma parte forte de suas características, mas seus olhos
eram amendoados demais para serem estritamente Europeus.
Nós três ficamos em um silêncio tenso.
Sr. Prest lentamente exalou, seu temperamento ofuscando
Mestre A, transformando a nevasca branca em um tufão escuro.
"Fale."
Mestre A riu. "Eu tentei lhe dizer."
"Dizer-me o que?"
"Ela não fala." Mestre A acenou na minha direção como se
eu fosse uma mercadoria com defeito que só serve para ser
torturada. "Ela é muda."
"Por escolha ou por uma condição médica?"

Whoa ... O quê?

A pergunta pessoal cortou o silêncio como um facão.


Mestre A sorriu, lentamente ganhando o controle da
situação agora que a atenção voltou para ele. "Desde que
ficamos juntos, ela tem sido muda. Você vê, quando a encontrei,
ela estava tão quebrada, que não sabia como agir normalmente.
Eu achei comovente, e eu fiz o meu melhor para ajuda-la a se
curar." Ele passou a mão sobre o meu couro cabeludo, me
acariciando com falso afeto. "Mas é claro, essas coisas levam
tempo e muita paciência."

PEPPER WINTERS
Mas que monte de bestei-

"Besteira," Mr. Prest replicou.


O fato de que ele tinha roubado a palavra da minha mente e
a disse com o mesmo desprezo e descrença que eu diria, fez
meu coração saltar.
Rindo friamente, o Sr. Prest acrescentou, "Ajudá-la a curar?
Estas cicatrizes e cortes em sua pele não são velhas. "Andando
para frente, ele se elevou sobre Mestre A." Elas são recentes.
Você ainda mente sobre como isso aconteceu?"
Mestre A encolheu os ombros, fazendo seu melhor para
parecer sereno. "Uma série de coisas está errada com ela. Ser
muda é apenas uma delas."

Uau, ele está dizendo que eu própria me machucava?

Eu queria ficar com raiva, mas eu não senti nada mais que
uma desgostosa aceitação.
Será que o Sr. Prest acreditaria nele se eu arrancasse o
blazer e revelasse minhas costas e coxas machucadas, e as
queimaduras de cigarro nas nádegas? Ou seriam necessárias
evidências mais profundas, como as horríveis lesões internas
causadas por itens não consensuais que foram empurrados
para dentro do meu corpo?

PEPPER WINTERS
Sr. Prest fez uma pausa, olhando-me de cima a baixo. "Eu
não acredito em você. Ninguém se automutila a esse ponto."
Seu rosto sombrio. "E acredite em mim, eu sei."

Como é que ele sabe?

Era uma sugestão velada de que ele se automutila? Sob


suas caras roupas sob medida, ele estava tão marcado como eu
estava?
De alguma forma, eu duvidava.
No entanto suas mãos eram marcadas ‒ por cicatrizes
novas e antigas. As luzes do teto piscaram sobre as cicatrizes
prateadas e hematomas. Ele as usava para outros fins além de
fazer negócios com idiotas.
Mestre A tornou-se feroz. "Bem, você não tem que acreditar
em mim, porra. Ela é minha namorada. Imaginei que você
gostaria de pouco de companhia feminina, porque ouvi dizer
que você esteve no mar por meses. Mas isso é malditamente
ridículo. Eu não preciso de suas lições." Acenando com o braço,
ele rosnou, "Ela é minha, entendeu? Não é sua. Esqueça que a
viu".
Dirigindo sua ira para mim, ele ordenou. "Vá para cima,
Pim. Agora!"
A obediência que ele tinha incutido em mim respondeu ao
comando. Virando-me para a escada, comecei a subir.

PEPPER WINTERS
Porém, o Sr. Prest rapidamente disse, "Pare".
Virando-me de frente, ele agarrou meu pulso e me tirou fora
da escada.

Não!

Eu não queria estar no meio dessa batalha por poder. Eu


queria correr de volta para o meu quarto e contar a Ninguém a
confusão deste encontro. Eu queria inalar o cheiro do blazer do
Sr. Prest em privado e ceder às lágrimas que restaram do meu
ataque de pânico.
Mas não importava o que eu queria.
Nunca importou.
Tornei-me a corda em um cabo de guerra desagradável.
Seus dedos eram tão cruéis quanto os do Mestre A, quando
ele apertava a mão e me puxava para perto. Muito perto. Mais
perto do que deveria. Seu hálito de hortelã fazia meus olhos
arderem. "Diga-me a sua história. Agora."
Eu olhei para o chão.
Mestre A me tomou do aperto do seu convidado. "Que porra
é o seu problema? Ela é muda. Acabei de te falar."
Sr. Prest empurrou um dedo na cara de Mestre A. "Meu
problema é que eu não faço negócios com pessoas que eu não
entendo." Seus olhos se estreitaram. "E eu não entendo onde ela
se encaixa."

PEPPER WINTERS
Mestre A me empurrou contra a parede. Ele fez isso de uma
maneira que demonstrou autoridade e quase proteção contra
um desconhecido agressivo em nossa suposta casa feliz. No
entanto, o Sr. Prest viu a verdade através da minha postura
instável, a procura de algo firme para me segurar.
Agarrando o meu braço livre enquanto eu lutava para ficar
em pé, Sr. Prest rosnou, "Você. Comece a falar. "
Mestre A lutava para me segurar, uma batalha de posse em
minha carne. "Deixe ela ir."
"Se você deseja concluir nossa transação, você vai calar a
boca." A voz de Sr. Prest tornou-se um sussurro assustador.
"Pense bem, Alrik. Compartilhar a sua namorada é um preço
muito alto a pagar por aquilo que você realmente quer?"
Lentamente, um brilho calculista preencheu o olhar azul
aquoso do Mestre A. "Compartilhar?" Ele riu, levantando uma
sobrancelha em minha direção.
Para quem não o conhecia, aquele denotava indecisão. Para
mim, que tinha sido compartilhada todo santo dia durante
anos, aquele olhar era uma ameaça. Uma afirmação de que
antes que a noite terminasse, Elder Prest me provaria, usaria, e,
finalmente, me destruiria com seu ódio da mesma forma que ele
me destruiu com sua bondade.
"Você está certo." Mestre A me soltou sem resistência.
Eu ricocheteei para frente, caindo contra o corpo esculpido
do Sr. Prest.

PEPPER WINTERS
No momento em que eu fui esmagada contra ele, eu recuei.
Com ele não foi diferente.
Ele fez o mesmo.
E eu não tinha vontade de estar perto dele ou de qualquer
homem.
Mestre A estufou o peito, cruzando os braços. "O
compartilhamento é um requisito oficial para completar o nosso
negócio?"
Meu cabelo indomado pairava sobre o meu rosto enquanto o
Sr. Prest me manobrava ao redor de seu corpo, colocando-me
atrás dele. Seu braço me segurou firme, me mantendo presa
atrás de suas costas duras. "Você realmente é um doente
fodido".
Energia e poder inexplorado percorreu sua espinha quando
ele riu, me infectando com qual seja a loucura que ele sofria.
Porque ele tinha que ser louco.
Ele me protegeu do Mestre A, ao mesmo tempo em que
discutia me compartilhar como requisito de uma transação
comercial.

Quem faz isso?

Ninguém que eu quisesse por perto.


Um ano atrás, eu poderia ter lutado ‒ morder seu pulso
para me libertar. Mas, assim como eu tinha desenvolvido um

PEPPER WINTERS
senso de obediência para sobreviver, eu aprendi que
antagonizar alguém sem motivo não era inteligente.
Mestre A estendeu as mãos. "Isso é algo bastante ofensivo
para dizer. Eu não estou te julgando. Então, eu apreciaria se
você não me julgasse.”
Olhando para trás, minha pele arrepiou ao ver que Darryl,
Tony, e Monty haviam se reposicionado às costas do Sr. Prest,
prontos para lhe mutilar ou matar caso ele ameasse seu amigo.
Fechei os olhos, deliberadamente evitando que viria a
seguir.
No entanto, eu tinha subestimado o Sr. Prest.
Quase como se sentisse o ataque iminente, ele deu um
passo para trás, obrigando-me a mover-se com ele até que ele
entrou na sala e girou para enfrentar os três homens,
prendendo-me contra a parede.
Ele os enfrentou enquanto Mestre A se juntou a seus
cúmplices do mal.
Mr. Prest apertou sua mandíbula, seus olhos cerrados e
escuros. "Vamos começar de novo. Com a porra da verdade."
Puxando-me de atrás de suas costas, ele me colocou ao seu
lado. "Ela é uma prostituta".
Eu tremi com essa palavra.
Eu odiava essa palavra.

PEPPER WINTERS
Ela remetia a coisas tristes e quebradas. Mas eu não era
isso. Eu era uma filha, um estudante, uma amiga. Eu era
inteligente. Eu tinha sido bonita, uma vez.
Eu significava alguma coisa.
Mestre A compartilhou um olhar com Tony antes de sorrir.
"Ela é mais do que uma prostituta. Eu a comprei. Negócio
justo."
"Então, ela é uma escrava." Sr. Prest disse a frase como
uma afirmação, sem questionamentos. De alguma forma, ele
sabia o tempo todo o que eu era no segundo em que me viu.

Eu sou escrava dele; é verdade.


Mas eu não quero ser.

Mestre A olhou para seu convidado por um longo momento


antes dos seus ombros relaxarem e um largo sorriso dividir seu
rosto. "Ela é uma escrava, uma prostituta, uma vagabunda. Ela
é o que eu quiser que seja." Aproximando-se, ele estendeu a
mão pela segunda vez. "Conheça Pimlico... Minha posse. E você
tem um passe completo para usá-la."

Não…

PEPPER WINTERS
Meus olhos voaram para o Sr. Prest, esperando
ardentemente que a proposição o abominasse. Que preferiria ir
embora a lidar com essas pessoas terríveis e me levaria com ele.
Mas o tenso impasse terminou quando ele aceitou o aperto
de mão do Mestre A, sorrindo friamente.
"Isso é mais a minha cara." Desfazendo o aperto, o Sr. Prest
passou o braço sobre meus ombros. "Por que você não disse
isso antes?"

Não ...

"Isso torna esta noite muito mais interessante."

PEPPER WINTERS
ESTE LUGAR fedia a mentiras e enganos.
E isso era muito, já que geralmente eu era a pessoa que
mais tinha a esconder.
Este idiota passou pela maioria dos meus canais de
investigação, mas a minha pesquisa não tinha revelado uma
namorada morando ali.
Definitivamente não uma namorada muda.

No entanto, ela é nenhuma dessas coisas.

Ela era uma abatida e quebrada prostituta.


Uma escrava.
Eu tinha visto merdas no meu passado. Eu tinha cometido
crimes. Eu tinha feito o meu quinhão de sujeira. Mas eu nunca
conheci alguém que pensou que poderia possuir uma alma
humana antes.
Parte de mim queria liberar toda minha ira em cima dele.
Mas a outra ... a maior parte de mim ficou intrigada.

PEPPER WINTERS
Ao me distanciar de Pimlico, eu não podia negar o calor em
minha carne causado pela fragilidade de seus ossos. Eu não
conseguia desviar o olhar da translucidez de sua pele, que
parecia um mapa de veias azuis e artérias vermelhas.
Mexendo minhas mãos, eu dei outro passo.
Ele começou a ofegar, e não como um flerte, mas com medo.
Isso não era uma coisa boa.
Não de acordo com meus conhecimentos.
Ao longo dos anos do meu domínio, eu tinha ganhado um
nome que pavimentou a estrada de tijolos dourados que levava
ao núcleo deste mundo doente e torcido.

Kaitou.

Ladrão fantasma.
Em primeiro lugar, porque eu era um batedor de carteira,
ladrão, e mestre de cinco dedos.
Em segundo lugar, porque, em vez de roubar objetos,
comecei a roubar vidas.
Mas apenas as vidas daqueles que me deviam ou daqueles
muito fracos, sem utilidade.

Em qual categoria ela se encaixa?

Ela estava fraca, mas não inútil.

PEPPER WINTERS
Algo sobre ela ficou sob minha pele, na forma de uma
curiosidade intolerável.
De onde ela veio?
Há quanto tempo ela está aqui?
E há quanto tempo ela queria morrer?
O olhar em seus olhos era um convite clássico para a morte.
Dei mais um passo para longe da escrava.
Só para garantir.
Vi força nela, mas eu também provei seu desejo pelo fim.
Uma vez que alguém cultivava pensamentos suicidas em sua
alma, eles não desapareciam, lentamente, corrompendo a
pessoa até que ela encontre novamente o desejo de viver ou
ceda e deixe a morte reclamá-los.
Eu tinha subestimado Alrik Asbjorn.
Ele manteve esta mulher viva por quem sabe quanto tempo,
mesmo quando o seu desejo de morrer ecoava com cada
batimento cardíaco.
Isso foi impressionante.
A emoção de saber que eu poderia fazer qualquer coisa que
quisesse a esta menina, sem repercussões, me dava nojo. Eu
poderia machucá-la, fodê-la, tratá-la com nenhum respeito. E
ela só poderia aceitar porque esse era o seu papel. Seu
comprado e vendido papel.
Eu poderia matá-la, e ela provavelmente iria me agradecer
por deixá-la livre.

PEPPER WINTERS
Talvez eu deva.
Talvez eu vá.

Dependendo de como a noite transcorrer e de como nossa


transação aconteça, eu poderia roubar sua vida e mantê-la
como uma bugiganga, um símbolo, por mais um negócio
sombrio realizado com monstros.
"Vamos comer." Alrik sorriu, caminhando para a mesa de
oito lugares posicionada debaixo de um candelabro comum.
Sua casa me irritou. O branco austero. As paredes
impessoais e móveis estéreis. Eu preferia personalidade na
minha decoração. Por que viver em uma caixa de presente sem
alma? Ele poderia muito bem viver em uma porra de um caixão.
Amigos de Alrik tomaram seus assentos, sem esperar que o
convidado de honra se sentasse em primeiro lugar. Meus lábios
se apertaram com a falta de cortesia e respeito.
A minha cultura exigia tais coisas.
Mesmo quando eu vivia nas ruas de merda como um rato
indesejado, eu me lembrei do que os mais velhos me ensinaram.

Seja reverente aos mais sábios, mais velhos e mais espertos


que você. Tenha apreço pelos mais amáveis, mais delicados, e
mais agradáveis do que você. E adore aqueles que podem
aniquilar a porra de você sem esforço.

PEPPER WINTERS
Segurando o encosto da cadeira, olhei para trás vendo a
escrava se misturar ao ambiente, desaparecendo como uma
assombração.
A julgar pelo seu atual estado, eu diria que ela se tornou
mestre em aceitar a dor. Ela era como eu nesse quesito. E por
causa disso, ela ganhou meu interesse. Ela não era apenas uma
posse, mas um quebra-cabeça, pronto para ser decifrado.
Afundando-se de joelhos sobre os azulejos brancos duros,
ela inclinou a cabeça.
Mesmo com o meu blazer cobrindo o esqueleto austero, seu
corpo desnutrido ainda podia ser visto. Meu casaco parecia
cinco vezes maior do que ela. Seu cabelo parecia um esfregão
marrom nojento com nenhum estilo. Seus olhos verdes se
assemelhavam a um pântano, e sua pele deu a entender que ela
beirava o escorbuto.
Ela não estava saudável.
Por que ela não falava? E por que seus pensamentos
desafiadores gritavam muito mais alto do que suas palavras?
Como ela poderia permanecer tão impertinente ao tocar a
campainha da morte com os dedos ansiosos?
Rasgando meu olhar, eu olhei para os hóspedes indesejados
em torno da mesa. Alrik assegurou-me, quando combinamos a
reunião, que seria apenas ele e eu. Não três outros desgraçados
e uma menina silenciosa.

PEPPER WINTERS
Eu faria sua vontade durante o jantar já que eu me recuso a
falar de negócios enquanto como, e nunca quando bebo, mas no
momento em que terminássemos de comer, eles teriam que sair.
Minhas costas ficaram tensas quando um pensamento
preocupante me sucedeu.
Ele pode ter envenenado a refeição?
Graças a minha pesquisa incansável, eu sabia que ele não
cozinhava e que o seu chefe particular fornecia iguarias todas
as noites. Eu teria que confiar que ele não adicionaria óleo de
rícino ao meu prato principal puramente por causa de seu ego e
do que ele queria de mim.
Se Alrik, por alguma decisão imbecil, tentar me despachar,
em vez de fazer negócios, eu estava preparado.
Ele não seria o primeiro a tentar me matar.
E ele não seria o último.
No entanto, a trilha de cadáveres deixados em meu caminho
constantemente crescia à medida que eu provava para todos
que era invencível.
Sentando-me, eu reajustei a meus talheres, correndo meus
dedos ansiosos sobre a faca serrilhada. Eu poderia assassinar a
todos nesta sala antes que um grito fosse proferido.

Talvez eu deva.
Talvez eu vá.

PEPPER WINTERS
Antes que a noite termine.
Alrik permaneceu de pé, abrindo sacos de comida gourmet e
servindo-nos com cada prato: bok choi com molho de ostras,
pato a Pequim, macarrão Cingapura e wontons.
Os aromas transformaram o espaço monocromático em algo
convidativo.
Finalmente, ele sentou-se na cabeceira da mesa e sorriu.
"Comam. Apreciem."
Enquanto ele arrumava o guardanapo, olhei de novo para a
menina.
Ela não se mexia. A cabeça dela permaneceu baixa, com os
olhos fixos em um pontinho na frente dela.
Pegando meu garfo, eu apontei para ela. "Você não alimenta
a sua escrava?"
Alrik sorveu uma parte do macarrão, não mais tentando
esconder a verdade. "Ela é alimentada quando se comporta. Ela
sabe disso." Ele levantou a voz para que a menina pudesse
ouvir. "E hoje à noite, ela não o fez. Esse episódio desagradável
de antes não é tolerado." Ele sorriu, esfaqueando um pedaço do
pato. "Ela vai comer amanhã."
Eu concordei.
Um animal de estimação impertinente deve ser punido.
Mas ela não é apenas um animal de estimação.
Ela é um ser humano, e eu ainda não terminei de
inspecioná-la.

PEPPER WINTERS
Eu preciso dela mais perto.

Eu pedi, "Convide-a para comer com a gente."


Alrik e seus amigos congelaram, com a comida meio
mastigada dentro da boca, ou com seus garfos cheios no ar. "O
que?"
"Convide-a para comer. Ela está com fome."
"Mas este é um jantar de negócios. Eu não vou contaminá-lo
com ela.”
"Nós não estamos negociando. Este jantar é apenas uma
cortesia social com o intuito de nós fazer sentir uma conexão
antes que nossa transação seja concluída. Se fosse por mim,
nós nos encontraríamos sozinhos, conforme combinamos, e
concluiríamos o negócio rapidamente, ao invés dessa porra de
espetáculo”.
Meu queixo abaixou-se quando senti meu sangue esquentar
em minhas veias. "Você é o único que mudou as regras. Agora,
eu quero mudá-las para meu benefício. Deixe-a comer.”
A pele clara de Alrik se tornou roxa de raiva.
Eu sorri, esperando por uma explosão, ou qualquer surto de
raiva. Eu alegremente lhe ensinaria uma lição, lhe mostrando
que ninguém nunca me vence.
Nunca.

PEPPER WINTERS
Lentamente, ele colocou seus talheres na mesa e olhou para
sua puta. "Pimlico, pegue um prato e se junte a nós. Eu mudei
de ideia. Você pode comer esta noite”.
Eu não me virei para vê-la, mas seu suspiro atingiu a
minha nuca, me fazendo tremer. Era muito fácil. A caça era
muito divertida. Assim como o roubo. O truque para realizar um
grande assalto era ganhar a confiança de sua vítima em
primeiro lugar.

Confie em mim, Pim.


Deixe-me roubar seus segredos.

Alrik tinha tentado fazer o mesmo comigo, atraindo-me para


jantar com seus amigos. Mas ele não conseguir disfarçar seu
desejo ganancioso de obter o que eu tenho a oferecer. Pimlico,
por outro lado, comprou o meu favor com cada batimento
cardíaco, ao colocar-se de pé e se arrastar para a cozinha.
Eu não me movi com os sons das louças recolhidas e o
tilintar de facas e garfos ecoando no espaço vazio. Seus passos
eram tão tranquilos como os de uma sombra quando ela
hesitantemente se aproximou da mesa.
Estreitei os olhos ao notar que ela olhava para o chão,
segurando o prato como um escudo.
Os amigos de Alrik riam, tomando suas cervejas, apreciando
o desconforto dela mais do que deveriam. Eu não precisei

PEPPER WINTERS
perguntar para saber que eles também tinham abusado desta
menina. Eles foram responsáveis por alguns dos hematomas e
cicatrizes que decoravam seu corpo.
Alrik suspirou, revirando os olhos. "Bem, sente-se, Pim.
Porra, não fique parada aí como uma aberração."
Instantaneamente, ela se moveu e se sentou graciosamente
na cadeira ao meu lado.
Não sei se esta ação foi algo intencional ou subconsciente,
mas o fato de que ela escolheu sentar perto de mim me causou
sentimentos estranhos. Metade de mim queria acariciar sua
bochecha e prometer que enquanto ela usasse o meu casaco eu
a protegeria. Enquanto a outra metade queria ver quão bonitas
suas lágrimas ficariam caindo em seu jantar.
Retirando o meu olhar de seu rosto triste, eu peguei seu
prato vazio e substituí pelo meu intocado e cheio.
Ela respirou fundo, quando eu coloquei a comida mais
próxima a ela.
Eu não falei. Eu não precisava.
Ela sabe o que eu ofereci e aceitaria ‒ se soubesse o que era
bom para ela.
O garfo de Alrik caiu na toalha de mesa, manchando-a com
o molho de alho e óleo. "Espere... ela comer um sanduíche. Não
há o suficiente para tod‒."
Eu levantei a mão e o interrompi. "Eu não estou com fome.
Ela está. Problema resolvido."

PEPPER WINTERS
Além disso, havia poder em não comer quando os outros
sim. Eu teria liberdade para observar e analisar. Eu poderia
fazer perguntas e investigar o que desejasse enquanto eles
teriam que inconvenientemente engolir rápido e pensar em
respostas mentirosas ao mesmo tempo.
Sim, isto é perfeito.
Eu posso realizar um bom acordo ‒ algo do qual eu estava
precisando ‒ e também posso deixar esses homens com o pé
atrás.
Que comece o interrogatório.

PEPPER WINTERS
Eu não conseguia olhar para cima.
Os aromas da comida deliciosa fizeram a minha fome eterna
rugir.

Isto é real?

Eu estava realmente sentada em uma cadeira à mesa com


um prato na minha frente? Ou era uma piada cruel, na qual
Mestre A iria tomar a refeição de mim por maldade, como às
vezes fazia?
Estremeci, ao lembrar-me de quando, no mês passado, ele
me fez rastejar atrás dele por horas, subindo e descendo as
escadas, pelos corredores, provocando-me com uma tigela de
cão cheia de espaguete à carbonara.
Eu queria aquele macarrão cremoso mais do que qualquer
outra coisa e odiei o que tive que fazer quando ele finalmente
parou e exigiu que eu o chupasse em troca do jantar.
O sabor do seu esperma arruinou a recompensa.
Eu nunca quis carbonara novamente.

PEPPER WINTERS
Meus dedos tremiam em torno dos talheres enquanto eu me
forçava a lembrar da mecânica. Como eu poderia esquecer algo
tão simples como usar um garfo? E se eu não conseguisse me
lembrar, o que o Sr. Prest pensaria de mim?

Ele vai ver um puta e um boçal.

Uma escrava não treinada, sem boas maneiras à mesa.


Por que de repente eu quero ser notada ao invés de
esquecida? Por que quero chamar atenção ao invés de ser
deixada só? Por que este homem me faz sentir mais viva do que
estive alguma vez em anos?
Lutando contra o meu tremor, eu levei um bocado de
comida para os lábios.
A comida tinha gosto de papelão mesmo sabendo que
Mestre A tinha encomendado um cardápio cinco estrelas.
Meu paladar estava em estado de choque.
Minha mente, meu corpo... Tudo em mim estava apreensivo,
graças ao estranho ao meu lado.
Eu não conseguia respirar sem inalar o inebriante perfume
exótico do Sr. Prest. Eu não podia me mover sem roçar seu
braço poderoso ou o seu blazer quente em meus ombros.
Eu não queria piscar pelo medo de que tudo ia desaparecer,
sem deixar rastros, em um poof. Eu nunca tive permissão para
sentar à mesa. Nunca pude usar garfos ou um prato. E

PEPPER WINTERS
definitivamente nunca fui tratada como um ser humano por um
homem que ofuscava o Mestre A em todos os sentidos.
Eu me senti recompensada.
Eu me senti viva.
E eu odiei o Sr. Prest tanto quanto o agradeci por isso.
A cada bocado, eu esperei que o Mestre A começasse a
gritar e a jogar objetos em mim. Eu já sinto os chutes e o frio do
piso em meu rosto quanto ele me jogar no chão.
Este é apenas um ponto de bondade em um mundo de
tortura, onde ele me obriga a brincar de jogos terríveis e a fazer
coisas humilhantes.
A comida insípida deslizou até minha barriga, mas a riqueza
decadente dos temperos me fez mal. Meu sistema não estava
acostumado a tais opulências.
Mas eu não iria parar de comer.
Eu não podia.
Eu devoraria cada pedaço, sorveria cada molho, e depois
lamberia o prato se me fosse permitido.
Minha boca aguou com uma memória quase esquecida.
Lembrei-me do sushi e molho de soja; dos hambúrgueres e
batatas fritas. Parece que foi há muito tempo.
Eu realmente era capaz de ir aonde eu quisesse? Eu
realmente ria e era feliz?
Eu era tão ingênua.

PEPPER WINTERS
Mestre A levantou a taça de vinho, brindando ao Sr. Prest.
"À emocionantes empreendimentos e à novos amigos."

Ugh, que idiota.

Eu não pisquei ou franzi a testa, mas mentalmente, eu lhe


mostrei a língua e o dedo do meio. Bajulador, falso. Ele era um
réptil sem coração.
O Sr. Prest não retornou o brinde; meramente inclinou a
cabeça, deixando Mestre A com a taça estendida no ar, o
forçado a tomar um gole estranho do vinho para disfarçar o
constrangimento.
Tony pigarreou, enquanto os outros focaram intensamente a
comida. O tilintar de facas e garfos foi o único ruído além da
música clássica que saia dos alto-falantes.
Mestre A gostava de música. Mesmo que só nós dois
vivêssemos aqui, a casa nunca estava silenciosa.
Eu odiava isto.
Minhas sinapses associaram as notas clássicas com a
tortura, e eu não posso ouvir um piano ou violino, sem reviver
os estupros e os espancamentos.
Mestre A olhou em minha direção, comendo uma garfada de
macarrão. Sua raiva pela minha posição ao lado de seu
convidado era perceptível.

PEPPER WINTERS
O garfo balançou em minhas mãos. Eu vivo aqui há tanto
tempo, e ainda sim eu não consigo prever as ações meu
carcereiro. Imaginei inúmeras punições por desafiá-lo, mas eu
seria surpreendida. Como sempre. Mestre A era criativo em
tudo que fazia comigo.
"Quanto tempo se passou desde que você comeu?"
A pergunta me arrancou dos meus pensamentos. Pisquei,
estupidamente esquecendo o que eu era e levantei a cabeça
para olhá-lo diretamente.
Mr. Prest me encarou de volta. Seus olhos escuros não se
mexeram, fazendo o seu melhor desvendar todos os segredos
que me restavam. Apontando para o meu prato, ele disse: "Você
come como um pássaro, mas eu sei que você está morrendo de
fome."
Meu coração se apertou de preocupação. Muito tempo se
passou desde que alguém olhou para mim como uma pessoa,
em vez de uma boneca. Mas era tarde demais. Eu possuía
muitas marcas. Eu era mais um objeto do que qualquer outra
coisa nestes dias.
Olhei para Mestre A. A indignação em seu rosto não foi por
causa de algo que eu tinha feito, mas porque eu tinha atraído a
atenção de alguém que ele não queria me compartilhar.
"Não pergunte coisas particulares." Mestre A bateu a faca
sobre a mesa. "Eu cuido dela. Isso é tudo que você precisa
saber."

PEPPER WINTERS
Meu sangue ferveu de ódio pela nossa história. Por todas as
coisas monstruosas que ele tinha feito comigo.

Cuidou de mim?
Merda nenhuma.

Mr. Prest congelou, sua coluna reta vibrando com energia


implacável. "Eu a fiz uma pergunta. Eu não preciso que você
responda por ela."
"E já te disse, ela nunca vai responder."
"Ela me responde muito bem."

Espere o que?

Meu olhar dançava entre os dois homens.


Como eu o respondi? E por que ele diz tais coisas? Ele não
vê que minha recusa em falar deixa Mestre A furioso? Que ele
me matará se achar que eu falo com outro e não com ele.
"Deixe o que não é seu em paz, Sr. Prest," Mestre A
ameaçou. "Ela é minha. Dirija as suas perguntas para mim e
somente a mim".
Sr. Prest não se mexeu. "Por quê?"
"Por quê?" Mestre A balbuciou. "Por que eu ordenei que você
pare de falar com minha escrava?" Ele levantou-se batendo os

PEPPER WINTERS
punhos na mesa. "Porque ela é minha e quaisquer respostas
que você pensa que obtêm são mentiras."
"Você está com medo que ela me diga coisas sobre você que
atrapalhe nosso acordo de negócios."

Errado. Ele tem medo que eu peça a você para mata-lo.


Ele tem medo de eu dar a você a peça final que me completa
e não a ele.

"Ela não vai lhe dizer nada ‒ sejam coisas boas ou ruins."
Forçando-se a relaxar, Mestre A sentou-se novamente. "Mas
isso não vem ao caso. Você está certo. Eu ofereci Pimlico como
uma prova de amizade, e você tem total direito de fazer o que
quiser com ela. Qualquer coisa que garanta o nosso negócio."
Ele sorriu como um tubarão. "Nada mais importa."
Durante cinco dolorosos e longos segundos, o Sr. Prest não
aceitou a oferta de paz. Testosterona invadiu a mesa. Mas pelo
menos Darryl, Tony, e Monty ficaram fora da conversa.
"Às vezes, não é o que é falado que é a resposta verdadeira
Sr. Asbjorn" Murmurou o Sr. Prest. "E soube de todas as
respostas às minhas perguntas sem a sua escrava proferir uma
única sílaba."
Mestre A perdeu o interesse no jantar. "O que você está
dizendo?"

PEPPER WINTERS
Sr. Prest olhou para mim, seus olhos de carvão parecendo
predatórios. "Eu não estou dizendo nada. Assim como Pimlico."
Com graciosa precisão, ele segurou o meu pulso com dedos
fortes.
Eu endureci.
Ele escoava mais poder e perigo de sua mão esquerda do
Mestre A de todo o seu corpo loiro. Ele exalava uma autoridade
que me aterrorizava, mas que também me incentivava a me
aproximar com a esperança dele usar esse poder para me
proteger.

Mentiras.
Tudo isso.

Ele não iria me proteger.


Eu balancei a cabeça para me livrar de tais pensamentos
estúpidos.
Sr. Prest deixou de me tocar, liberando meu pulso.
Eu tive a sensação horrível que ele aferiu o meu pulso e não
apenas me tocou por tocar. Ele sentiu o quão rápido meu
coração galopava? Ele viu o terror e desespero em meu olhar?
Sem deixar de me olhar, ele juntou as mãos em seu colo,
como se ele não confiasse em si mesmo para controla-las.
"Coma, Pim. Nossa conversa acabou... Por agora".

PEPPER WINTERS
Minha respiração tornou-se superficial. Seu longo toque me
ameaçou. Eu não era estúpida de não reconhecer o quão
perigoso ele era, mas ele me passou uma sensação de
segurança também.
O seu toque sussurrou que se ele me machucasse ele me
faria bem ao mesmo tempo. Eu só não sabia como.
Ele era uma contradição. Um enigma. Algo fascinante que
eu não conseguia entender.
Lentamente, a atmosfera na mesa se acalmou
provisoriamente; os homens voltaram a comer.
Eu também. Afinal, eu não iria desperdiçar uma boa
comida.
Minhas papilas gustativas voltaram a funcionar, sinalizando
para o meu cérebro quão rico e delicioso era o pedaço de pato
que eu coloquei na boca.
Tony, Darryl, e Monty eram os brutos habituais sem boas
maneiras, e Mestre A manteve-se em seu melhor
comportamento. Mas ele não podia esconder o fato de que ele
odiava a minha posição na mesa.
Todo o alimento que eu estava comendo provavelmente seria
vomitado mais tarde quando ele chutasse o meu estômago.
Pensar sobre isso quase me fez parar de comer.
Mas não completamente.
Humildemente, eu deixei cair o meu olhar. E corajosamente,
comi outro bocado.

PEPPER WINTERS
Eu não poderia impedir o que ele faria comigo, mas eu daria
ao meu corpo todas as vitaminas e nutrientes possíveis.
"Eu mudei de ideia." O Sr. Prest disse calmamente,
inclinando-se mais para perto. "Eu quero saber mais sobre a
menina muda chamada Pimlico."
A voz dele.
Ela era como açúcar e doces; batatas fritas e chocolate.
Seu corpo me atordoou ‒ não porque ele era bonito, mas
porque a sua proximidade detonava todos os tipos de avisos no
meu sangue.
Dando uma rápida olhada, eu vi seus olhos enquanto ele
descaradamente me olhava. De onde ele veio? Qual era a sua
nacionalidade? Qual era seu país?
E quem o nomeou Elder?
Ele não era velho ou o líder de uma seita. Mas poderia ser
por tudo o que eu sabia.

O que diabos ele está fazendo se misturando com esta


gentalha?

Mestre A meu olhou com os olhos estreitos.


Eu conhecia aquele olhar. Ele queria que eu respondesse.
Por muito tempo, ele esperava que eu escorregasse e sem querer
falasse alguma coisa.

PEPPER WINTERS
Nos primeiros meses, tinha sido difícil controlar o desejo de
me comunicar, quando ele me fazia uma pergunta direta. Foi
difícil não responder. Mas ao longo do tempo, ficou mais fácil.
Mesmo este lindo e perigoso estranho não iria quebrar minha
armadura de silêncio.
Dando outra mordida, eu deliberadamente olhei para baixo,
deixando-o ganhar o concurso de encarar, mas o fazendo perder
a batalha de me fazer falar.
O fogo queimando-me por dentro me manteve lutando
mesmo quando eu queria desistir. Eu sabia o quão ruim a
minha vida tinha se tornado, mas algo dentro de mim (oh, meu
Deus, era orgulho?) odiou que o Sr. Prest me visse como uma
menina magra, com cicatrizes, sem escapatória.
Ele nunca tinha me visto em um vestido, com cabelo
arrumado e com a maquiagem perfeita. Nunca me ouviu
responder aos professores com sagacidade e inteligência. Nunca
me viu dançar e entreter presidentes de instituições de caridade
e sondar a mente dos meus colegas como minha mãe tinha me
ensinado.
Quem eu era nunca existiu para o Sr. Prest. Ele só viu
quem eu sou hoje. Ele iria embora e para sempre se lembraria
de mim como uma escrava, não como uma menina livre.
Um pensamento zombeteiro invadiu a minha mente
enquanto eu mastigava o último pedaço do pato.

PEPPER WINTERS
Como se isto fosse verdade.
Ele vai se esquecer de você no minuto em que se afastar.

Às vezes, o meu ego ainda podia me machucar, mesmo


agora.
Não deixando o meu silêncio abatê-lo, o Sr. Prest invadiu o
meu espaço pessoal. Sua mão grande desapareceu no bolso de
sua calça, fazendo tilintar algumas moedas.
Olhando-me nos olhos, ele se afastou de mim, não antes de
depositar uma moeda americana de um centavo perto da minha
mão.
Olhei rapidamente para Mestre A.
Assim como eu era autorizada a me sentar à mesa durante
dois anos, eu não tinha acesso a moedas ou a dinheiro de
qualquer tipo.
Mestre A colocou a faca e o garfo em ambos os lados do
prato com calma assustadora. "Sr. Prest, posso perguntar por
que diabos você está dando dinheiro para minha escrava?"
O Sr. Prest não tirou os olhos dos meus. "Isto é entre
Pimlico e eu."
Meu coração se afundou como uma âncora enferrujada de
duas toneladas.
Ele não vê que ele tinha acabado de tornar o meu
espaçamento corriqueiro em algo que seria dez vezes pior? Ele

PEPPER WINTERS
tinha descartado Mestre A, e ninguém nunca, nunca deve fazer
isso.
Eu lutei contra o terror e infelicidade, mantendo o meu
olhar fixo sobre a mesa. No entanto, isso não me impediu de ter
um relance de Mestre A. Ele sorria malignamente, com uma
promessa velada de me fazer passar fome por muito tempo.
Seus três amigos sorriram, compreendendo ainda que eu
receberia outra punição, e que desta, eles seriam convidados a
participar.

Maldito seja você, Sr. Prest.

Engolindo em seco, eu não me permiti olhar para cima, mas


quando o Sr. Prest empurrou a moeda para mais perto de mim,
meus olhos fitaram os dele.
Eu congelei.
Os mais espessos e longos cílios que eu já vi enquadravam
seus olhos negros. Tão densos e opacos que pareciam uma
pelagem. Não era justo um homem ter olhos tão sedutores; e era
duplamente injusto ele entrar em minha existência difícil e a
tornar muito pior.
Eu me lembrarei dele sempre.
Ele iria esquecer-se de mim amanhã.
Por que eu sentei ao lado dele?
Eu deveria ter sentado aos pés do Mestre A.

PEPPER WINTERS
Isto é minha culpa.

Estúpida.
Tão estúpida.

Baixando a voz inebriante, o Sr. Prest sussurrou: "Um


centavo pelos seus pensamentos, menina."
A frase antiga ecoou no meu peito.
Ele queria pagar por minhas respostas silenciadas?
Ele valorizava minhas respostas o suficiente para me
subornar?

Por quê?

Mestre A nunca tinha me oferecido bondade em troca de


uma conversa. Ele só tinha me punido e reforçado o meu desejo
de permanecer em silêncio.
Mas este homem...
Ele era traiçoeiro.
Respirando fundo, eu empurrei a moeda de volta para ele
com o meu dedo mindinho.
A vontade de sacudir a cabeça me tomou. Não gesticular era
quase tão difícil quanto falar.
Lutei contra a vontade, recolhendo o meu bocado final do
macarrão e fazendo o meu melhor para não hiperventilar

PEPPER WINTERS
quando o Sr. Prest forçou a moeda em minha direção
novamente.
Ele não repetiu a frase.
Ele não precisava. Eu a ouvi em minha mente.

Um centavo por seus pensamentos.


Fale, porra.

Mestre A bateu na mesa com a palma da mão, fazendo


Tony, Darryl, e Monty saltarem.
Mas não o Sr. Prest.
Ele moveu-se devagar da mesma forma que o óleo desliza na
água, levantando uma sobrancelha para o seu anfitrião. "Sim?"
Mestre A mostrou os dentes, sua mão fechada em torno de
sua faca. "Eu me cansei dos seus jogos. Esqueça. Ela não é
nada. Vamos falar de negócios." Esfaqueando o ar com a lâmina
suja de comida, ele gritou: "Pim, limpe a porra da mesa. Você já
acabou. Saia da minha frente."
Imediatamente, eu me levantei.
Felizmente, eu devorei meu jantar e não lamentaria a falta
de tempo para terminar. Meu prato vazio brilhava com o
lembrete de que minha barriga estava cheia, mas eu pagaria por
isso com dor.

PEPPER WINTERS
O meu corpo que estava sofrendo com a indigestão por
comer a carne exótica, já antecipava a sofrimento dos chutes e
socos que estavam por vir.
Mantendo meus olhos voltados para baixo, eu
respeitosamente recolhi os recipientes vazios e enfiei os sacos de
papel debaixo dos meus braços. O blazer do Sr. Prest me
atrapalhava, mas até que ele o roubasse de mim, eu não iria
tirá-lo.
Ele era meu.
Mesmo que por pouco tempo.
Sr. Prest me observava a levar as embalagens para a
cozinha, as lavar, e as colocar na lixeira de reciclagem.
Voltando, eu fiz o meu melhor para ficar fora do alcance das
mãos dos homens enquanto eu coletava os pratos sujos.
Sr. Prest viu como Monty bateu na minha bunda e Darryl
pegou fios de meu cabelo para farejar dramaticamente. Mestre A
não notou seu convidado vibrando com raiva, e eu não lhe diria.
Eu me tornaria invisível novamente ao fazes os meus deveres de
servente.
Mestre A recostou-se na cadeira. "Então, agora que já
jantamos. Vamos discutir o negócio."
Sr. Prest colocou as mãos sobre a mesa, juntando os dedos
em uma pose de equilíbrio e poder. "Antes disso, eu tenho
condições a serem satisfeitas."
"Quais condições?"

PEPPER WINTERS
"Eu não discuto detalhes na frente dos outros." Inclinando o
queixo para os três estupradores, ele rosnou, "Eu quero que eles
saiam."
Darryl fungou. "Ei, perdedor. Estamos aqui para o nosso
amigo. Nós o apoiamos."
"Sim. Sem ‘nós’ sem ‘acordo’. Disse Monty cruzando os
braços.
Eu carregava a louça para a cozinha quando o Sr. Prest
levantou-se tão rapidamente que sua cadeira chiou contra o
chão. "Entendido."
Saindo da mesa, ele passou por mim. Seus olhos pretos
brilhavam com violência, flamejando ainda mais quando ele me
olhou de cima a baixo. "Mantenha o casaco."
Meu queixo caiu ao vê-lo se dirigir para a saída.
Eu queria gritar para que ele não fosse.
Eu não podia permitir.
Com ele aqui, eu não tinha que temer tanto a Mestre A. Eu
não tive tempo suficiente para descobrir se eu poderia usá-lo a
meu favor. Ele poderia me ajudar? Me libertar?

Não vá ...

Mestre A impediu sua fuga.


Levantando-se da mesa, ele estalou os dedos. “Vocês todos,
fora.” Perseguindo o Sr. Prest, ele o alcançou na porta da frente.

PEPPER WINTERS
"Não faz isto, Elder. Você ganhou. Nenhuma companhia.
Apenas você e eu."
Mr. Prest parou com a mão na maçaneta da porta. Seus
ombros se mantiveram firmes. Eu não sabia se ele iria aceitar a
oferta do Mestre A ou simplesmente ia desaparecer.
Respirei fundo, fazendo tinir a torre de louças em meus
braços.
Finalmente, o Sr. Prest virou, cerrando as mãos. "Não me
faça lembrá-lo que não deve usar primeiro nome, Alrik. Esse é o
último aviso, porra. Quanto à nossa discussão, eu quero que
seja entre você, eu e ela." Seu olhar ardente se travou no meu.

Ah não…
Não não não.

Eu não queria estar a par do seu bate-papo. Eu não queria


dar a Mestre A mais razão para pensar que eu fiz algo errado.
Depositando os pratos na pia, eu fiz uma curva estranha,
pronta para sair da sala e correr para as escadas.

Por favor, deixe-me chegar lá antes que ele me pare.

Então eu me poderia trancar no andar de cima e escrever a


Ninguém, tampando os meus ouvidos para que eu nunca

PEPPER WINTERS
tivesse que saber das coisas ilegais nas quais Mestre A estava
envolvido.
Mas, claro, isso não deu certo.
Nada jamais dá.
Sr. Prest foi o único a me parar. "Fique, menina. E tome o
seu centavo. Você pode não ter vendido os seus pensamentos
tão barato, mas você não vai nos deixar até que eu diga.”
Meus olhos se viraram para Mestre A, procurando
permissão.
Sr. Prest pode ser o caçador de topo desta cadeia alimentar,
mas ele não era o meu dono. Não era com ele que eu iria viver
depois desta noite.
Mestre A cerrou os dentes, recebendo tapas de adeus de
seus amigos enquanto eles vestiam seus casacos para sair.
Raiva o envolvia, exalando do seu corpo como uma fumaça
tóxica. Passando a mão pelo cabelo loiro, ele grunhiu. "Porra,
tudo bem. Fique, Pimlico. Pegue copos e o bourbon.
"Sr. Prest e eu temos algo a discutir."

PEPPER WINTERS
Eu realmente odeio o sabor de bourbon.
Eu prefiro saquê, gin ou mesmo o absinto. Eu não era um
grande bebedor. Eu tenho minhas razões. E não bebi nada
alcoólico em quase um ano.
Mas um homem como Alrik acha que se deve beber álcool
ao fazer negócios, porque ele ainda era um maldito Neandertal.
Mas eu iria agradá-lo neste sentido, já que eu meus desejos
foram satisfeitos até agora.
A escrava não tinha se sentado, andando ao redor como a
porra de um beija-flor, reunindo copos, endireitando almofadas
brancas, e colocando pratos na máquina de lavar louça.
Alrik não parecia se importar. Ela não era apenas sua
escrava sexual, mas empregada doméstica também. Ele mal
tinha consciência dela, ficando feliz em deixá-la morrer de fome
e definhar.
Ele merecia sofrer por isto.
Dolorosamente.
Ao longo dos próximos dias, eu iria pensar em uma punição
criativa.

PEPPER WINTERS
O barulho da torneira na cozinha chamou minha atenção, e
vi quando a menina se molhou acidentalmente com a água.

Porra.

Meus lábios se curvaram em desgosto. As mangas do meu


casaco ficaram encharcadas enquanto ela lavava facas e garfos
antes de colocá-los na máquina de lavar louça.
Bebendo cautelosamente minha dose de bourbon, eu disse,
"Chega, menina. Sente-se."
Alrik se sentou no sofá oposto. Ele já havia bebido sua dose
e estava colocando uma segunda no copo. Se ele ficar bêbado
durante esta discussão, melhor para mim. Os termos
funcionariam em meu favor e as cláusulas que normalmente eu
adiciono sorrateiramente na papelada, esperando que não
fossem notadas, não seriam vistas.

Idiota do caralho.

Eu tinha coisas para dizer, mas eu não iria começar até que
a menina se sentasse e parasse de se remexer. Eu não gostava
de distrações, e ela era uma distração, ainda que mínima.
Algo caiu ruidosamente atrás de mim antes de Alrik berrar:
"Pelo amor de Deus, Pimlico, vá sentar."

PEPPER WINTERS
Imediatamente, ela correu para a sala e ajoelhou-se no
tapete branco da mesa de café, retomando a mesma posição
curvada que tinha estado antes que eu a convidasse para
comer.
Ela não tocou o mobiliário, quase como se ela não fosse
permitida. Como um cão ruim que tivesse sido estapeado
muitas vezes por saltar sobre sofás arrumados.
Quanto mais eu descobria sobre esse desgraçado, mais eu o
desprezava.
Ignorando Pimlico enquanto ela estava amontoada no chão,
Alrik propôs um brinde. "Por estarmos sozinhos e sermos
capazes de discutir o nosso novo empreendimento."
"Não tão rápido."
Eu pensei que eu poderia beber essa merda, mas eu não
podia.

Por que diabos eu estou aqui de qualquer forma?

A partir do momento que eu conheci esse ser desprezível, eu


tenho tido o impulso irresistível de me lavar sempre que ele olha
para mim. Sempre que ele me observava. Sempre que ele ri e
fala como se eu não pudesse ouvir seus segredos desprezíveis.
Mas eu posso.
E quanto mais tempo eu passava em sua companhia,
menos eu queria que ele continuasse respirando. O dinheiro era

PEPPER WINTERS
dinheiro. O negócio era negócio. Mas quando os instintos
gritavam para ignorar o acordo e sair... Eu escutava.
Só que eu não queria ir.
Ainda não.

Por causa dela.

Beliscando a ponta do meu nariz, eu olhava para as janelas


atrás de Alrik onde, presumivelmente, havia um jardim.
O segundo que entrei na casa deste psicopata, eu fiquei
fascinado por ela. Não porque eu podia ver seus seios e a
sombra entre as pernas, mas por causa da maneira que ela me
observava.
Ela viu tudo.
O mundo tinha dois tipos de pessoas. Os primeiro eram os
recebedores. Eles só notavam aqueles que poderiam ajudá-los,
oferecendo amizade por motivos falsos ‒ seus egos impediam o
aprofundamento do seu interesse superficial.
Os segundos eram os doadores. Aqueles que sabiam que
estavam sendo enganados, mas não impediam o ato. Eles
davam e davam até que não tinham mais nada. Mas, dando,
eles viam as coisas, observando silenciosamente nas sombras.
Esta menina era uma doadora.
Ela fez o julgamento silencioso, analisando tudo enquanto
seu mestre e seus conhecidos fingiam que ela não existia. Ela

PEPPER WINTERS
era forte no interior, mas ela não tinha encontrado sua
liberdade apesar implorar por ela, o que a fez necessitada.
E eu me envolvo com necessitados.

Então, porra, a esqueça, termine com isto, e saia.

Me inclinado para frente, eu depositei o copo de cristal na


mesa de café, entrelaçando os dedos entre as minhas pernas.
"Você tem os fundos?"
Alrik sorriu. "A sério? Você vai me perguntar isso? Mesmo
depois de suas invasivas verificações de antecedentes?"

Hum.

Ele tinha descoberto sobre isso. Isso foi interessante e


ganhou um pouco do meu respeito. Minhas habilidades de
hacker não eram tão boas como as de alguns, mas
normalmente, eu poderia me infiltrar e extrair informações sem
deixar rastros.
Ele bufou. "Olha, vamos fazer o negócio ou o quê?"
"Possivelmente."
Ele se atirou no sofá de couro macio. "Porra, me disseram
que isto era exaustivo. Eu devia ter acreditado." Estendendo o
copo vazio, ele estalou os dedos para Pimlico o servir.
Ela o fez sem um pio ou piscada de olhos.

PEPPER WINTERS
Eu estive em torno de outros que se recusaram a falar.
Fazer um voto de silêncio não era tão incomum na minha
profissão (ou melhor, ex profissão), mas esta explicação não me
satisfez totalmente.
Principalmente porque eu não era um idiota como Alrik.
Sua escrava lhe obedeceu, mas ela o odiava com toda a
força. E de onde eu vim... Isto não era boa coisa. Se meu apelido
era Kaitou por conta do ‘Ladrão Fantasma’, o dela seria
Mokusatsu. Morte Silenciosa.
Ela absorvia tudo, apenas esperando por uma oportunidade
de acabar com a vida dele.
Boa sorte para ela.
Com base nesta breve interação que tive com eles, ela
merece a vitória em cima deste idiota rico excessivamente
mimado. Ela só tinha que perceber o seu poder e se
comprometer.
"Não é desgastante negociar." Eu apertei os dedos,
segurando a minha ira. "É cansativo negociar com pessoas não
confiáveis."
Alrik franziu a testa. "Olha, você sabia qual era o negócio
quando você chegou aqui. Você foi altamente recomendado. Não
me faça ficar arrependido de tê-lo convidado para a minha
casa.”
Eu sorri. Este idiota achava que ele era melhor do que eu.
Que ele poderia ganhar.

PEPPER WINTERS
Errado.

Ignorando-o, mais uma vez olhei para a escrava no chão. Eu


odiava o jeito que ela atraia o meu olhar continuamente. Não
era uma encenação. Ela realmente estava lutando para
sobreviver. Mas a vibração zumbido de sua determinação e força
era uma droga para mim.
Batendo no sofá, eu murmurei, "Sente-se aqui, menina."
Seus ombros se encolheram, quando ela se inclinou mais
ainda no tapete. Seu cabelo esfarrapado estremeceu quando ela
olhou para o mestre.
Alrik tentou me matar com os olhos.
Se eu fosse qualquer outra pessoa, com qualquer outro
passado, eu poderia ter mudar de ideia sobre jogar com os seus
bens.

Mas ele disse que eu poderia usá-la.

E eu não tinha medo dele. Nunca tive medo de pessoas


falsas.
O silêncio caiu, chocando-se com a ira de Alrik, o terror de
Pimlico, e a minha autoridade.
Adivinhe quem ganhou porra?
Alrik bebeu sua terceira dose de bourbon. "Vá para ele,
Pim".

PEPPER WINTERS
Imediatamente, a menina colocou-se de pé e correu para o
meu lado.
Meu coração batia forte quando ela empoleirou-se como um
pássaro frágil no couro branco austero, suas coxas tensas ‒
pronta para voar se Alrik mudasse de idéia.
A julgar pela forma como ela manteve seu corpo de frente
para ele, achei que ele mudava de ideia frequentemente ‒ seja
para ofendê-la ou machucá-la.
Olhando para minha jaqueta arruinada com a manga
molhada e os pulsos pingando, pendurada em seus ombros de
forma desleixada, eu pedi, "Dê-lhe permissão para me obedecer
sem ter que passar por você." Eu olhei para cima, atraindo a
atenção e Alrik com o comando.

Faça.

O que diabos eu estava fazendo?


Esta menina não era importante. Eu corria o risco de
destruir este negócio. Porém... Eu me importo?
Fiz uma pausa, fazendo um balanço do que aconteceria se
eu deliberadamente sabotasse esta transação. Claro, eu
perderia milhões. Mas eu tinha mais do que eu poderia contar e
isto não era sobre o dinheiro. Sim, eu perderia a notoriedade
que eu tinha feito o meu melhor para ganhar. Perdendo a
oportunidade de frequentar lugares que, até agora, eu não era

PEPPER WINTERS
permitido. Mas eu não precisava da porra do Alrik para abrir as
portas para mim. Eu podia arrombar essas portas conforme a
minha vontade.
Não, essa menina me interessa mais do que Alrik jamais fez.
Ela vale o preço se tudo der errado.
Alrik encarou sua escrava antes de me dar um breve aceno
de cabeça. Ele não gostava de mim antes. Agora, ele me odiava.
Eu sorri friamente. "Você disse que eu poderia usá-la."
A menina tremia, seu corpo enviando ondas de temor ao
longo do sofá. Eu não tinha tocado nela ainda, mas todas
minhas terminações nervosas estavam sedentas de necessidade.
"Pimlico." Alrik inclinou-se para frente, sua mão branca
apertando com força o seu copo. "Obedeça ao Sr. Prest como
você me obedece. Entendeu? Faça o que ele quiser, sem
hesitar".
Eu lutei a emoção correndo pela minha espinha.
Pimlico olhou para mim, antes de deixar cair o olhar para o
chão. Ela não assentiu ou deu qualquer indicação de estar de
acordo.
Mas eu sabia que ela tinha ouvido, avaliado e aceitado os
novos termos.
O fato de ela não falar alimentou meu interesse ‒ não
porque eu queria seus segredos, mas porque ela me desafiou a
fazer o que meu professor tinha ensinado uma década atrás:
‘Ouça com todo o seu corpo, não apenas com seus ouvidos. Veja

PEPPER WINTERS
com todo o seu ser, não apenas com seus olhos. E julgue com
toda a tua alma, não apenas com a superfície.’
Eu nunca esqueci essa lição. Eu não era o tipo de pessoa
que aprendia algo e, em seguida, jogava o conhecimento no lixo.
Mas mesmo assim ela era uma boa revisão.
Eu queria ficar sozinho com ela. Para lhe fazer perguntas
que ela não iria responder, mas que eu ganharia a resposta de
qualquer maneira. Eu queria roubá-la para discipliná-la
conforme a minha vontade e não a deste idiota mentiroso.
Testando a sua obediência, Bati em minha coxa. "Chegue
mais perto."
Por um segundo, ela hesitou. Seus lábios se franziram, mas
ela apoiou a mão no sofá e se moveu.
Ela não chegou tão perto quanto eu queria ‒ já que sua
perna ainda criava um abismo entre nós ‒ Mas eu inalei,
fazendo o meu melhor para sentir seu cheiro.
Ela cheirava a nada.
Não, isso não era verdade.
Ela cheirava ao maldito desespero.
Querendo mudar sua opinião sobre mim, para provar
graciosamente que eu não era um cara tão ruim, eu descansei
minha mão em sua coxa.
Ela tremeu, mas permaneceu sentada, mesmo quando seus
olhos se estreitaram de fúria.

PEPPER WINTERS
Sua pele estava gelada sob o meu toque; sua saia branca
não oferecia propriedades térmicas.
Alrik nunca tirou o olhar lívido de mim enquanto eu a
acariciava com uma delicadeza, com a qual eu aposto que ela
não foi tocada em anos.
Em vez de relaxar, ela só endureceu ainda mais.
Se eu fosse um homem amável, eu teria removido a minha
mão e lhe permitido voltar para o seu lugar no chão onde ela
obviamente sentia alguma segurança.
Mas eu não era um bom homem.
Eu era um torturador. Um assassino. Um ladrão.
E eu queria roubar a sua coragem gota por gota.

PEPPER WINTERS
PALAVRAS E VOZES e negócios.
Há quanto tempo eu estou sentada aqui? Acorrentada por
amarras invisíveis a um homem que eu tinha que obedecer
absolutamente como meu mestre.
Fechei os olhos jargões e promessas vazias voaram através
da sala.
Eu não tinha ideia de qual era o negócio entre o Mestre A e
o Sr. Prest, mas o que quer que fosse valia mais de trinta
milhões de dólares e envolvia frases como ‘indetectável,
irrefutável, e de máxima segurança em termos de velocidade e
entrega. ’
Passou-se tanto tempo desde a última vez que eu ouvi uma
conversa normal, que isto acabou por me induzir a um estado
semi relaxado. Eu estava no centro das atenções, e os
comandos emitidos eram trocados entre estes dois homens e
não direcionados a mim.
Sutilmente, eu esfreguei os joelhos, onde contusões
constantes por ficar de joelhos marcavam minha carne. A saia
branca me incomodava por apertar as minhas costelas e barriga
doloridas da surra de mais cedo.

PEPPER WINTERS
Mesmo que este tempo de pausa fosse agradável ‒ não
importando quão agradecida eu estou por sentar em um sofá
depois de anos me rastejando no chão ‒ ele não seria de graça.

Vou ser compartilhada esta noite.

Assim como na maioria das noites.


Sr. Prest tinha carta branca para me controlar, o que nunca
aconteceu com Tony, Darryl, e Monty. Ele poderia me pedir para
fazer qualquer coisa, e eu teria que obedecer. E uma vez que eu
tivesse obedecido, Mestre A iria me machucar porque ele odiava
que outras pessoas tomassem liberdades ele não tinha dado.
Eu tinha visto isso em primeira mão, quando Tony foi longe
demais e tomou alguma coisa de mim que ele não deveria
tomar. Ele não havia retornado por uma quinzena por causa
das feridas que Mestre A lhe tinha infligido.
O Sr. Prest deve ser muito importante, para Mestre A tolerar
que eu me sentasse em seus móveis e ouvisse sua conversa
incompreensível.
Mestre A bebeu outro dose. "E você vai instalar os melhores
defletores fantasmas?”
"De acordo com o seu pedido, sim."
"E o armamento será muito superior ao que eles vão usar
em retaliação?"

PEPPER WINTERS
Sr. Prest endureceu. "Você duvida da minha ética de
trabalho e contrato?"
"Não. Mas isto é um monte de dinheiro e um arranjo
sensível."
"Assim como todas as minhas transações. Discrição máxima
é exigida de ambas as partes. Não só eu." Sr. Prest ergueu a
sobrancelha, desconsiderando a acusação pomposa de Mestre
A. "Eu tenho a sua palavra de que você nunca mencionará o
meu nome ou a origem do armamento a bordo no momento da
entrega do navio?"

Hã?

Saí do meu estado sonolento e me tornei consciente da


conversa. Um estalo de adrenalina inundou o meu sistema
nervoso. O que eles estavam discutindo? Navios e armas?

O que é isso?

Mestre A tinha dito algo sobre o Sr. Prest estar no mar por
alguns meses e precisar de companhia feminina.
Ele era da Marinha? Vendia segredos de Estado e
espionagem?
Mestre A assentiu. "Claro. Mas apenas se os torpedos forem
indetectáveis por meio de radar".

PEPPER WINTERS
"Com o aumento da tecnologia nos dias de hoje, isso não é
totalmente garantido."
"E você tem certeza de que não é possível obter uma ogiva
nuclear. Eu pagaria a mais por isso."
"Eu disse que não trabalho com elas. Se você as quiser, não
será através de mim." A voz do Sr. Prest se tornou um rosnado.
"Mas você já está ciente desses termos." Seus olhos profundos
se voltaram para os meus, sugando a luz e vida de mim. "O que
você acha Pimlico? Quer ser presa em um barco, ao invés de em
uma mansão? Seu mestre aqui parece estar indo para a
guerra."
Um barco?
Guerra?

O que diabos ele está falando?

Eu não poderia imaginar uma coisa dessas. Uma imagem de


um bote com remos a propulsão e os lados de madeira para
evitar afogamento veio à mente. Por que alguém iria querer
trocar uma casa por isso?
Rangendo os dentes, desviei o olhar do Sr. Prest, ignorando
a pergunta.
Eu não me importava com o que eu não entendia. O que
importava era que ele tentou me fazer responder.

PEPPER WINTERS
Não vai funcionar.

Eu tinha anos de prática.


Ele riu. "Não se preocupe. Tenho certeza que ele não vai
levá-la para a guerra." Sua mão pousou possessiva na minha
coxa. "E se ele a levar, pelo menos, você pode encontrar o que
você está procurando."
Eu congelo.

O que?
O que estou procurando?
Como você sabe o que eu preciso?

Mesmo repetindo continuamente essas perguntas, eu não


estava certa das respostas.
Eu sobrevivi neste mundo fazendo pequenas coisas para me
manter forte. Eu tinha o prazer de evitar um braço quebrado,
quando fazia tarefas antes de ser solicitada. Fui premiada com
horas extras de sono ou jantares quando obedeci às duras
ordens, ao mesmo tempo em que escondia com sucesso o meu
ódio.
Eu fiz tudo isso porque eu precisava de algo para me focar.
Caso contrário, o desejo de acabar com tudo me tomaria. Se eu
me concentrasse nas pequenas coisas, eu poderia ignorar a
falta de liberdade.

PEPPER WINTERS
Mas se eu não o fizesse... A morte seria a única saída.
Ela tinha uma voz sedutora e calculista, prometendo um fim
à dor e sofrimento. Eu a tinha escutado uma vez e teria
obedecido a seus comandos se as facas não tivessem
desaparecido. Eu pensei que a minha fraqueza momentânea
havia passado.
Eu menti.
Os murmúrios de suicídio se escondiam nos ataques de
pânico, que me aconteciam sempre quando minha força
vacilava. Eu já não era inteira ‒ partes de mim se toram minhas
inimigas, querendo que eu morresse ao invés de sobreviver.

Ele cheirou desejo de suicídio em mim.

Isso aconteceu no segundo em que ele colocou os olhos em


mim; da mesma forma que eu soube que ele era mais do que
um homem de negócios e um desgraçado aristocrático.
Ele era um assassino.
E um bom, já que ele está aqui conosco e não preso ou
morto.
Os dedos de Mr. Prest deslizaram da minha coxa até o meu
joelho, exatamente como Mestre A fez durante a viagem de avião
até aqui. Ao contrário de antes, quando aquela pequena ameaça
me apavorou, isto não é nada comparado ao que eu tinha
sofrido. Eu fui treinada com toques como esse.

PEPPER WINTERS
Eu não me mexi quando o Sr. Prest manipulou as minhas
articulações, forçando o meu corpo a prestar atenção. No
entanto, quando os meus músculos se tencionaram a espera do
abuso e meu coração acelerou com o nervosismo, seu toque
passou de especulativo para calmante.
Sua respiração se tornou ofegante quando ele olhou para o
lugar no qual os nossos corpos se tocavam. "Eu não vou te
machucar."

Por favor.
Eu não ouvi isso antes.

Eu queria revirar os olhos por sua promessa vazia, mas não


me atrevi. Quem sabe o que o Mestre A faria? Ele poderia
arrancar meus olhos com uma colher se eu fosse rebelde.
Mestre A limpou a garganta, seu olhar fixo onde o Sr. Prest
estava me tocando. Ele vibrava com ódio e ciúme, mesmo sendo
ele o único que me ofereceu para adoçar o negócio entre eles.
"Você tem a oportunidade de tomar ar fresco e conhecer
novos lugares, Pim?" Sr. Prest nunca parou de me acariciar.
Seus dedos lentamente deixaram meu joelho, avançando para
cima a cada toque.
Assim como meu paladar reviveu após alguns bocados de
uma comida deliciosa, também fez a minha pele ao receber
carícias suaves, pela primeira vez em muito tempo.

PEPPER WINTERS
Minha carne se tornou quente e começou a formigar,
querendo mais do seu toque.

Traidor.

Engoli em seco, forçando o meu olhar a se tornar nebuloso e


não focar o homem me tocando, o meu mestre, ou as coisas que
eu vou ser obrigada a fazer no futuro.
"Ela não é um cão maldito, Elder." Mestre A riu. "Eu não a
ponho na coleira para levá-la para caminhar na porra de
parque. Ela é uma prostituta. Esta é a sua casa. Ela não precisa
ir a qualquer lugar."

Sim. Sim, eu preciso.


Eu preciso ir a algum lugar.
Longe de você.
Longe desta gaiola.

As unhas do Sr. Prest substituíram sua suave carícia,


marcando minha coxa. "Terceiro deslize, Mr. Asbjorn. Mais um,
e essa porra de negócio será desfeito. Eu não me importo se
tudo está organizado e os contratos já estão elaborados." Sua
mão esquerda deixou minha pele, para apontar severamente
para Mestre A. "Use meu nome mais uma vez e você nunca mais
vai falar novamente. Entendido?"

PEPPER WINTERS
Eu tremi quando a mesma mão que vibrava com a violência
me tocou novamente. Em um momento, ele era vicioso e cruel, e
no próximo, era sereno e tranquilizante.
Mestre A, levantou e serviu a si mesmo outra dose de
bourbon e a tomou. Seu ódio frágil o perfurava como cacos de
vidro enquanto ele se obrigava a manter a calma.
Mr. Prest não se importava. Sua atenção total voltou a mim,
se aproximando cada vez mais, pressionando o joelho contra o
meu.
Eu respirei profundamente quando sua cabeça se inclinou
em direção ao meu ouvido, fazendo com que seu aroma
inebriante e exótico tomasse meu nariz como um incêndio
florestal. Ele explodiu em meus pulmões e sobre a minha
língua, fazendo-me inspirá-lo e saboreá-lo de uma só vez.
"Diga-me, Pimlico, você gosta de ser tocada delicadamente
ou você está acostumada a uma mão mais forte?" Sua palma
espalhou-se ao longo da minha coxa, agarrando com força
suficiente para me fazer recuar.
Senti a queimação. Prendi a respiração, permitindo que os
receptores de dor se acalmassem e a dormência assumisse. Eu
usei esse truque muitas vezes.
Sr. Prest foi cruel e duro e dominante. Mas sob essa
escuridão, ele não poderia apagar completamente a estranheza
que espreita profundamente de dentro dele. Eu não sei se era
uma estranheza boa ou ruim, mas ele era diferente do Mestre A.

PEPPER WINTERS
Essa excentricidade me atraiu.
Mestre A sentou-se de volta para o sofá, nos olhando com
desdém. "Eu não sei por que você se incomoda. Ela não fala.
Bata nela, a machuque, sussurre, ou a corteje ‒ tudo surte o
mesmo efeito."
Sr. Prest acariciou o minha orelha com o nariz,
murmurando tão baixo que Mestre A não podia ouvir. "Você não
pode usar sua voz, pequena silenciosa, mas você fala do mesmo
jeito." A ponta de sua língua correu sobre a carne altamente
sensível do meu ouvido e desceu até o início da minha
mandíbula. "Quer saber o que você já me disse?" Sua mão se
arrastou mais para cima na minha perna, chegando ao lugar
onde eu mais fui ferida.
Eu passei pela minha adolescência apenas com um flerte
ocasional de um menino ansioso, que ganhou a minha
aprovação para chegar perto o suficiente para me tocar. E
então, eu me tornei mulher com um estupro brutal que
arruinou o sexo para mim eternamente. Tudo sobre o
acoplamento entre homens e mulheres era doente, sujo e
errado.
Nenhuma parte de mim, em qualquer circunstância, queria
ser tocada lá. Não por Mr. Prest, não por Mestre A, e certamente
não por qualquer um dos seus amigos covardes.
Eu o odiava por tomar liberdades. Eu não quero que minha
pele e meus sentidos respondam a seu toque.

PEPPER WINTERS
Eu queria ser insensível.
Indiferente.
E a audácia do Sr. Prest de me fazer sentir as coisas de
novo, de fazer o meu coração bater e meu paladar despertar,
não era justa.
Mas, pelo menos, meu corpo repelia a ele assim como a
qualquer outro homem.
Eu não senti arrepios. Minha boceta não se apertou; meu
sangue não esquentou. Meu espírito pode ter permanecido
firme, recusando-se a quebrar, mas Mestre A tinha quebrado o
meu corpo.
O sexo era revoltante.
O sexo era nauseante.
O sexo não era algo que fosse gostar um dia.
Eu tinha certeza disso.
Isso não impediu o Sr. Prest de passar a ponta dos dedos
entre minhas pernas. Sua voz ficou pesada e baixa. "Eu estou
acostumado com o silêncio, pequena silenciosa. Mas você não é
muito boa em esconder seus pensamentos, os seus olhos
falam."
Afastando-se, ele tocou meu queixo com os nós dos dedos.
"Quer que eu prove isso? Eu sei que você me odeia por tocar em
você, e você não pode parar a fúria em seu interior.”
Seus olhos se desviaram rapidamente para Mestre A, antes
de inclinar a cabeça novamente. Ele passava a impressão de

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que estávamos sussurrando segredos um para o outro. "Ele não
a vê como eu. Ele não a ouve como eu faço.”
Mestre A se levantou, claramente pronto para esta encerrar
esta reunião. "Eu acho que nós discutimos os principais
detalhes. O resto pode ser feito quando você liberar o contrato
para assinatura final”.
Sr. Prest entendeu a mensagem subjacente.

Vá embora.

Inclinando-se para longe de mim, ele sorriu. "Quer a sua


escrava de volta tão cedo?" Ele bateu no meu pé, antagonizando
a ele. "Eu não acho que você entende o conceito de partilha,
Alrik."
Eu me irritei.

Eu não sou nenhum brinquedo para ser emprestado.

Eu não era uma novidade ou uma boneca para se brincar


conforme os caprichos do dono para então depois ser
desmembrada quando o tédio substituir o fascínio.
Eu estava indecisa. O Sr. Prest fez o meu coração bater
enlouquecido com seus toques suaves e comandos macios. Eu o
temia mais do que eu temia Mestre A. Eu queria que ele se fosse
embora. Imediatamente. Mas uma grande parte de mim queria

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continuar sendo acariciada porque tinha se passado muito
tempo desde que alguém tinha. Feito isso Eu queria que ele me
libertasse.
No entanto, eu nunca consegui o que queria.
Mestre A se aproximou, encarando a mão do Sr. Prest na
minha coxa. "Você gosta de seu toque mais do que o meu, Pim?"
Sua voz era um estrondo perigoso. "Eu aconselho que você diga
que prefere a mim a esse estranho."
Ele me encarou.
Eu o encarei.
Não o respondi.
Ele não merece saber, mesmo que eu queria falar. Eu nunca
vou preferir a ele. Eu queria enterrar suas cinzas e fazer com
que todos os cães da vizinhança mijassem em sua sepultura.
Nesse quesito, sim, eu muito prefiro muito mais o toque do Sr.
Prest, mesmo que ele o fez sem permissão, em vez de ter
solicitado.
A raiva do Mestre A aumentou conforme o silêncio persistia.
"Houve bastante partilha por uma noite. Agora é necessário
relembrá-la de quem é o seu verdadeiro mestre. O que você
acha disso, minha doce Pim?"
Verdadeiro mestre.
Isso significava pontapés, chicotes, correntes.
Baixei a cabeça, mantendo o meu rosto encoberto.
Você me disse para obedecer-lhe.

PEPPER WINTERS
Raiva tomou o meu peito porque eu sabia que não
importava o que fosse acontecer com seu acordo de negócios, eu
estaria em um mundo de dor no momento em que o Sr. Prest
saísse.
Um pouco instável pelas múltiplas doses de bourbon,
Mestre A saiu da sala e foi em direção ao hall de entrada.
Meu coração apertou 'start' em um cronômetro imaginário,
contabilizando os segundos até que eu fosse machucada
novamente.

Um,
dois,
três,
quatro.
Por favor, não me deixe sofrer novamente.

Mestre A berrou: "Vá embora, Sr. Prest. Nosso negócio


acabou. Pim e eu precisamos ter uma pequena conversa."
Olhando por cima do ombro, ele não sutilmente esperou na
porta para chutar o Sr. Prest para fora, tudo isso enquanto seu
olhar martelava facas no meu peito.
Os dedos do Sr. Prest apertavam a minha perna, cavando as
unhas perfeitamente aparadas na minha saia. Ele segurou a
pressão por um segundo demasiado longo, prendendo a
respiração.

PEPPER WINTERS
Não ousei olhar para cima. Mesmo sabendo que ele queria
que eu olhasse.
Ele tinha arrancado mais respostas de mim sem falar do
Mestre A tinha conseguido em dois anos. Tivemos um
entendimento tácito entre nós. A química reconheceu nossas
semelhanças e nos ligou. O que nos atraiu? Por que eu sinto
que o conheço de alguma forma?

Eu odeio que você pode desvendar os meus segredos.


Mas, em troca, eu desvendo alguns dos seus.

Sua conversa de negócios e as armas não era quem ele era


no coração. Essa conversa era como teias de aranha e escudos,
mantendo a verdade escondida.
Como eu sei disso, não faço ideia. Como ele pode me ler,
não entendi.
E isso me aterrorizou tanto quanto me intriga.
"Volte para o seu mestre, pequena silenciosa. Espero te ver
de novo."

Você não pode ir.


Eu…

Ele me soltou e se levantou. Com um meio sorriso, ele se


dirigiu elegante e tranquilamente em direção à saída, onde

PEPPER WINTERS
Mestre A aguardava com os braços cruzados. Eu nunca tinha
visto ele tão zangado com outro homem por me tocar.
"Vem cá, Pim." Mestre A estalou os dedos, puxando o fio
invisível em torno de minha garganta.
Instantaneamente, eu coloquei de pé minha estrutura
raquítica, mantendo a cabeça abaixada em sinal de respeito.
Apenas extrema servidão iria me salvar esta noite.
Neste momento o meu sangue já se congelou de terror. Meu
corpo chorou com o pensamento do que iria acontecer. A única
coisa que me encorajava a seguir em frente era o cheiro
inebriante e o calor do blazer do Sr. Prest.
Eu pertencia a uma besta. Mas se isso fosse verdade e
Mestre A era um animal, então o Sr. Prest era o domador. Ele
era o mestre com as gaiolas, as chaves e o poder. Ele tinha a
competência para chicotear os animais até que eles se tornem
submissos, para corrigi-los pelo mau comportamento, e forçá-
los a se agir contra os seus desejos básicos.
Eu não sabia o que era pior.
O animal ou o líder.
"Tire o casaco do Sr. Prest do seu maldito corpo sem valor,
Pim!" Mestre A gritou quando eu me aproximei, me fazendo
recuar.
Meus dedos correram para obedecer, puxando as lapelas
imaculadas e deslizando o material caro pelos meus braços.
Lamentei a perda de calor e conforto imediatamente.

PEPPER WINTERS
Sr. Prest levantou a mão. "Não, eu disse que ela poderia
ficar com ele." Seu olhar se tornou maligno ao olhar para o
Mestre A. "E eu quero dizer isso. Quando eu voltar em poucos
dias, espero vê-la com ele. Compreendeu?"
Mestre A engoliu sua ira, mas sem sucesso em esconder a
raiva em seu rosto. "Sim."
"Muito bem."
Voltando seu olhar perigoso para mim, Sr. Prest murmurou,
"Até a próxima, pequena silenciosa. Não estrague o meu
presente." Com uma última olhada, ele saiu da mansão branca.
A forma pela qual o Mestre A o chutou para fora
demonstrou uma falta de respeito.
A forma pela qual o Sr. Prest saiu demonstrou nenhuma
gratidão.
A guerra foi armada, e eu tive uma sensação horrível que
tinha sido por causa de mim.
Eu não o instiguei.
Eu não me comportei como uma namorada mimada
flertando com os conhecidos de seu amante para causar
problemas. Eu era apenas uma menina que implorava por uma
existência tranquila, e desejava desaparecer para nunca ter que
ver outro homem novamente.
A ira de ambos os lados formou uma unidade, esbofeteando
o meu corpo na medida em que a porta lentamente se fechava.

PEPPER WINTERS
Tal ira quebrar-me-ia, salvar-me-ia, e me faria desejar deixar a
morte.
Lutando contra um ataque de pânico que se aproximava, eu
mantive meus olhos na porção final da garagem.
A última coisa que eu vi, antes de tudo se dissolver em um
ataque de agonia, era o estranho terrível e suas costas
poderosas afastando-se de mim.

PEPPER WINTERS
NO MOMENTO em que o Sr. Prest saiu, eu dirigi-me para o
corredor e a escada.
Eu realizei o meu papel. Eu tinha sido o peão na transação
comercial do Mestre A.
Eu estava feita.
"Oh, Piiiimmm." A provocação do Mestre A soou atrás de
mim. "Onde você pensa que vai?"
Minhas costas se endireitaram e a adrenalina corre por
minhas pernas. Cada instinto meu gritou: ‘Corra!’. Corra e se
esconda o mais longe possível.
Mas eu não iria correr.
Eu nunca corri.
Isto era uma fraqueza, e eu era muitas coisas, mas eu me
recusei a ser uma covarde.
Inclinando o queixo, eu dei-lhe um olhar e continuei a
minha trajetória em direção ao corredor. O som de seus sapatos
no piso pareciam facas prontas para arrancar a minha espinha.
"Você sabe que não deve virar as costas para mim, Pimlico."

Apenas continue.

PEPPER WINTERS
Mais alguns passos.

Apoiei-me no batente da porta ao sair da sala e respirei


fundo. Um passo, dois, três. Meus dedos dos pés descalços
tocaram o primeiro degrau; o meu coração acelerado me fez
tremer ao segurar o corrimão polido.
"Volte aqui." Mestre A acelerou o passo, aparecendo a
poucos metros atrás de mim. Ele estalou os dedos, inclinando a
cabeça em uma ameaça bem conhecida. "Você não acha que
você iria livrar-se tão facilmente, não é? Você sabe que você está
fodida esta noite."
Seus dentes brilhavam selvagemente brancos. "Você sentou-
se na porra da minha mesa, sua cadela. Você comeu minha
comida. Você seduziu meu convidado. Você foi rude comigo, e
você sabe o que isso significa."
A cada passo que ele dava em direção a mim, minhas
células gritavam mais alto.
Foi tão difícil ignorá-lo. Tão difícil que eu tive que agarrar o
corrimão para me manter no lugar; meus pobres dedos
estalavam com a pressão.
Mas eu não iria aumentar a minha velocidade.
Não importa que ele apontasse uma arma pronta para mim,
apenas para me fazer correr, eu subia os degraus lentamente,
majestosamente, com a cabeça erguida e com o silêncio envolto
como um vestido cintilante em torno de mim.

PEPPER WINTERS
Eu já perdi o controle uma vez esta noite com o meu ataque
de pânico. O absoluto terror tomou o meu corpo frágil no pior
momento possível. Detesto pensar que o estranho me viu dessa
forma. Sem fôlego e azul.

Oh Deus.

O constrangimento era algo novo. Eu não me preocupava


sobre o que outros pensavam sobre mim... Até ele.
Mas isso não importava. Ele tinha ido embora. Eu nunca o
veria novamente. Depois do que o Mestre A faria comigo esta
noite... Talvez eu nunca veja outra pessoa novamente.
Sete degraus, oito, nove.
Vinte e sete a mais, e eu chegaria a meu quarto, a minha
prisão. Se eu conseguir chegar lá, talvez Mestre A se lembre de
que eu era sua e não do Sr. Prest. Outro homem pode me tocar
e me usar a critério do meu dono, mas eu nunca seria levada
embora.
Só eu que posso me libertar, acabando com a minha vida ou
com a dele.
A minha coluna coçava, como se nela estivessem rastejando
baratas, correndo cada vez mais rápido.
Mestre A subiu as escadas silenciosamente atrás de mim.
Meus ouvidos ficaram tensos, a espera dos gritos e ataques.

PEPPER WINTERS
Mas ele continuou a me seguir calmamente pelas escadas,
observando as minhas ações.
Ele não estava com pressa para me castigar. Nós dois
sabíamos que não existia nenhuma alternativa diferente para
esta noite.
Ele acha que eu fui desobediente.
Eu não concordo.
A dor seria a mesma.
"Você está pronta para mais um presente de aniversário,
minha querida?" Sua risada era rançosa e maligna. "Eu acho
que você é a única que me deve um presente após eu deixar
você sentar no meu sofá. Não quero que você acredite que você
vale mais do que você é".
Ele estava tão perto. Minha velocidade aumentou um pouco.
Ele rosnou quando meus pés atingiram o último degrau.
"Correr não vai mudar o que está prestes a acontecer, Pim".
Suas palavras me atingiram como um empurrão de uma
mão fantasma entre as minhas omoplatas. Não era mais uma
batalha entre lento e rápido, forte ou fraco, corajoso ou manso.
Eu era uma guerreira veterana em combate. Mas eu também
era uma soldada derrotada que queria fugir das linhas inimigas.

Fuja!

PEPPER WINTERS
O instinto me instigou a fazer isso. A necessidade
animalesca de esconder-me não me deu outra opção. Eu não
conseguia impedir minhas pernas de correr, assim como eu não
consegui parar as batidas frenéticas do meu coração rasgando
em meu machucado peito.
Eu não deveria.
Eu seria punida.
Eu deveria lutar contra meu terror e ajoelhar-me. Como
sempre.
Mas eu não podia. Não dessa vez.
Eu fugi.
"Pim!" Ele me perseguiu. Assim como eu já sabia.
Minhas pernas frágeis transportaram o meu corpo magro do
corredor para o meu quarto. Não havia uma porta para ser
fechada e nem uma fechadura para ser trancada. Mesmo o meu
banheiro não tinha porta, não me sendo oferecida privacidade
em nenhum momento.
Eu acho que eu tive sorte por ter o meu próprio espaço, mas
isto foi apenas mais um elemento nos jogos do Mestre A. Não
importa o que eu faça, não há lugar onde eu possa escapar e me
esconder, ele sempre me encontra. Porque ele era o deus desta
casa, e eu era apenas sua prostituta.
Minha boca se abriu com um grito silencioso quando ele
apareceu na porta, ofegante com os olhos irritados. "Eu já não
te ensinei a não correr desse jeito assim que você chegou a esta

PEPPER WINTERS
casa?” Andando em minha direção, ele rosnou: "Será que esse
maldito idiota de algum modo desfez todos os meus
ensinamentos no segundo que ele tocou em você? É verdade?
Responda-me!"
Cada célula minha se encolheu, meu sangue secou e meu
coração parou de bater.
Derretendo no chão ladrilhado, eu implorei mais do que a
qualquer outro momento. Eu não me curvei com meu queixo
dobrado e ombros encolhidos. Atirei-me inteiramente no chão,
com os braços estendidos como eu tinha visto monges fazerem
em profunda oração, pedindo misericórdia, mas sabendo que
não iria obter qualquer.
"Isso não vai te salvar desta vez, cadela." Parei de respirar
quando ele pisou na minha mão esquerda, torcendo o pé, até
que minha pele cedeu.
Eu gritei mentalmente.
Dor.
Dor.

Dor!

Meu grito silencioso foi tão alto que fez meus tímpanos
sangrarem.
"Você gostou dele tocar em você, não é!? Não negue, porra.
Eu sei a verdade. "Ele pisava mais forte na minha mão,

PEPPER WINTERS
colocando todo o seu peso sobre os ossos minúsculos e
quebráveis. "Você acha que eu não percebi? Que eu não vi o
jeito com o qual você olhou para ele? Foda-se, Pimlico você é
minha!"
Gritei de novo, me afogando no som doloroso de agonia, mas
o quarto permaneceu em silêncio enquanto ele pisava de novo e
de novo, fazendo o seu melhor para quebrar os dedos delicados.
"Só porque você não fala não significa que eu não sei
quando você está mentindo para mim, porra!"

Pare com isso!


Agora!

Lutando contra uma onda de esmagadora de náuseas, forcei


cada terminação nervosa a se acalmar. Eu fiz o que meu corpo
me ensinou. Um mantra encheu a minha cabeça, enquanto os
receptores de dor na minha mão se desligavam.
Afinal de contas, a dor era apenas uma sensação. Um sinal
para alertar que algo não estava bem e que uma ação deveria
ser tomada para evitar danos piores. Entendi a mensagem, algo
estava errado. Eu a recebi com sucesso, alta e clara. Eu não
preciso ouvi-la continuamente.
Ligar ou desligar.

Clique.

PEPPER WINTERS
Desligar-me.
Isso não significa que eu poderia ignorar a latejante e
berrante agonia que ricocheteou pelo meu braço. O mantra só
me permite compartimentar e ficar alerta para antecipar o que
vem a seguir.
Ele deixou de esmagar a minha mão, para poder me chutar
nas costelas.
Lutei contra a vontade de me encolher. Mesmo que ele
tenha me chutado há apenas algumas horas e que as minhas
contusões anteriores se tornem mais doloridas, ou que eu tenha
um sangramento interno.
Tudo que eu podia fazer era permanecer reta e suportar o
seu abuso. Eu vou fazer o meu melhor para adormecer os meus
sentidos e aceitar as opções que eu tenho: ou eu sobrevivo a
esta noite, para depois lamber as minhas feridas em privado e,
finalmente, chorar abertamente, ou ele me mata e nada mais
será importante.

Mate-me, acabe com isso.

"Por que você não fala, porra?!" Ele me chutou novamente,


agora no o meu quadril, me deixando completamente cheia de
hematomas. "Fale, droga." Seu sapato afiado esfaqueou a minha

PEPPER WINTERS
coxa, então o meu joelho, panturrilha e tornozelo. "Diga uma
palavra e eu paro."
Não.
Nunca.
Esta batalha não era nova. Eu já a lutei muitas vezes antes.
No entanto, ele foi mais cruel esta noite, tudo por causa do Sr.
Prest.

Condenado seja ele.


Maldito.
Nunca volte.
Jamais ouse aparecer de novo.

Voltando sua atenção para o meu lado esquerdo, ele repetiu


todo o espancamento nas costelas, quadril, coxa, joelho,
panturrilha e tornozelo. Pelo menos as marcas seriam iguais
nos dois lados. Linhas de código Morse pontilhavam a minha
carne. Será que elas expressavam um pedido de ajuda? Ou
anunciavam que eu era dele e podia ser usada de qualquer
forma?
"Você não vai falar comigo, mas você falou com ele."
O que?
"Você falou com um babaca que pensa que é melhor do que
eu."

PEPPER WINTERS
Não!

"Você acha que pode mentir para mim? Mesmo o seu


silêncio goteja com a porra da verdade."

Que verdade?
Não há nenhuma verdade!

Ele me chutou com toda a energia restante, diretamente na


parte inferior das minhas costas, arrancando de mim um
gemido profundo que eu não podia controlar.
"Ah, doce vitória. Você fez um barulho." Abaixando-se ao
meu lado, ele puxou meu cabelo, forçando-me a olhar para ele.
"Você o queria, não é, Pim? Você prefere o pau ao meu. Você
queria aquele doente fodido porque ele a deixou comer à mesa
como um ser humano. Porque ele a permitiu sentar no sofá
como uma mulher."
Sacudindo-me, ele cuspiu na minha cara. "Você não é uma
mulher. Você é minha para ser o que eu quiser. Se eu digo que
você é a porra de um flamingo, você fica parada em um pé só.
Se eu te disser que você é um cadela, você fica de quatro e
espera para ser montada. Você entendeu isso? Sim!?"
Eu me encolhi desgostosa ao extremo, com saliva
escorrendo pelo meu queixo.

PEPPER WINTERS
Eu sou uma mulher.
E eu não sou sua.
Não importa por quanto tempo você me possuir, eu nunca vou
ser sua.

"Esses presentes não eram dele para dar." Levantando-me


bruscamente, ele usou o meu cabelo como uma coleira,
guiando-me do meu quarto para o seu.
Eu tropecei ao lado dele, respirando com dificuldade, com
lágrimas que eu não me lembro de chorar escorrendo pelo meu
rosto, ao mesmo tempo em que segurava a minha mão
mutilada. Parecia que com cada passo eu me quebrava em um
bilhão de partes. Eu queria quebrar completamente. Talvez,
então, a agonia iria parar.
Minha mão estava quebrada. Eu não precisava de um
médico para me dizer isso.
Ele me jogou em seu quarto, rapidamente se dirigindo para
sua mesa de cabeceira, tirando dela uma corda. Eu tentei
defender-me dele, mas fui agarrada pelo pulso e jogada na
cama.
No momento em que me deitei, ele arrancou blazer do Sr.
Prest, tirou a minha saia, puxou o resto da minha camisa
arruinada, e sorriu com a vitória. "Eu queria me divertir esta
noite. Nem todo dia é tão especial como um aniversário de dois
anos".

PEPPER WINTERS
Ele enfiou a cara na minha. "Mas você tinha que arruinar
tudo, não é porra?! Você tinha que ficar molhada para esse filho
da puta enquanto ele tentava me tirar milhões. Você teve a
audácia de deixá-lo tocá-la e gostar disso".
Afastando-se, ele passou as mãos instáveis pelo cabelo. Seu
tremor combinava com o meu, mas por razões completamente
diferentes. Eu lutei contra o terror com os últimos restos de
força que possuía. Ele estava bêbado da brutalidade e pronto
para agir.
Enrolando a corda em torno de sua mão, ele riu. "Sabe o
que eu acabei de perceber, doce pequena Pim?" Ele fez a corda
de chicote. "Eu percebi que se passaram muitos meses desde
que eu fiz você gritar."
O primeiro golpe me acertou no peito, criando um vergão
lívido instantaneamente.
Eu apertei meus lábios e olhei para o teto. Eu teria dado
qualquer coisa para afastar-me para o lado e enrolar-me em
uma bola. Eu tinha estado com ele por tempo suficiente para
saber qual era seu plano.
Não era algo bom.
Ele me chicoteou uma e outra vez, as minúsculas fibras
corda cortando a minha pele macia como uma lâmina afiada.
Filetes de sangue brotaram nos meus seios e baixo ventre.
"Lembra daquela noite ... quando eu quebrei o seu braço?
Você fez o som mais doce." Ele agarrou seu pau através da

PEPPER WINTERS
calça, antes de desfazer rapidamente o cinto, tirar a calça e
jogá-la no chão. Ele não usava roupa de baixo, e seu pau feio
saiu de uma moita de cabelo loiro. "Quando eu a ouvi gritar?
Porra, isso me deixou excitado."
Rasgando a camisa, ele subiu no colchão, nu, com apenas a
corda em suas mãos.
Eu desviei os olhos.
De agora em diante, eu não olharia para ele. Ele iria fazer o
seu melhor para fazer-me berrar. Ele me forçaria a assistir.
Ordenar-me a ouvir cada coisa depravada que ele dissesse. Mas
ele não poderia fazer-me ficar.
Quando seu corpo suado atacou o meu corpo enquanto a
corda grossa prendia os meus pulsos e tornozelos, eu disse
adeus a Pimlico e tornei-me Tasmin outra vez.
Eu afundei e afundei.
Voltei para um tempo mais feliz.
Cavando através do meu período de escravidão, minha
mente encontrou a inocência.
Onde nada e ninguém poderia me tocar.

PEPPER WINTERS
Quem é ela?

A pergunta me deixou louco.


Ela estava em minha mente com seu silêncio julgador; em
meus pensamentos com seu olhar conhecedor.
Ela era apenas uma menina. Uma abatida, magra, menina
insolente.
Então, por que eu me lembro dela como algo muito mais do
que o que ela era? Por ela causou tal impressão em mim?
Ninguém tinha me deixado uma marca desde que eu vivi
nas ruas cheias de frieza e crueldade. Ela me lembrou daquela
época. De um tempo que eu tentei tão duramente esquecer.
"Senhor, o contrato está redigido."
Minha cabeça se levantou do meu laptop. Eu encarei Selix.
Ele foi um dos poucos a conhecer-me antes da riqueza
encontrar-me ‒ bem, antes que eu roubasse a riqueza que se
tornou minha.
Corri a mão pelo meu braço nu, traçando as palavras
japonesas escritas com tinta em volta do meu pulso. O
provérbio zombou de mim, me lembrando da promessa que

PEPPER WINTERS
tinha feito a minha mãe quando eu tinha sido um homem
melhor. "Bom. Organizar a reunião final para que possamos dar
o fora deste porto."
"Muito bem." Ele retirou-se do meu escritório, carregando a
pasta de papel pardo grosso cheio de esquemas e letras miúdas.
Eu não relaxei até que o ruído suave da porta sendo fechada
encontrou meus ouvidos.
No momento em que eu estava sozinho, eu plantei meus
cotovelos sobre a mesa e esfreguei o meu rosto.
Eu era muito ocupado para esta porra absurda.

Ela é apenas uma menina.


Merda, não a chame assim.
Ela é uma escrava.

Nos últimos dois dias, minha mente tinha lentamente a


transformado de uma posse para um ser humano.
Eu não queria isso.
Eu queria que ela permanecesse sem rosto ... sem valor,
para que eu pudesse esquecê-la e seguir em frente. Eu tinha
muitos idiotas requisitando os meus serviços para ter uma
distração atrapalhando-me.
Além disso, se eu precisasse de uma mulher, eu poderia ter
duas ou dez entregues para mim dentro de uma hora. Eu não
precisava dela. Não que eu muitas vezes cedi aos desejos

PEPPER WINTERS
corporais. Coisas ruins aconteceram quando eu cedi aos meus
desejos.

Olhe para o meu reino atual.

De alguma forma, dos pequenos furtos eu passei para as


extorsões. Eu transformei os roubos em uma dinastia ilegal, e
nenhuma lei ou regra poderia me parar. Eu operava em águas
internacionais. Sem constituições de países para respeitar. Na
verdade, eu sou um pirata com objetivos singulares.
Pensando no oceano aberto, meus olhos se voltaram para o
horizonte. Um desejo físico de lançar a âncora e ir embora me
tomou. Para navegar para longe desta porra de cidade suja.

Em breve.
Mais um dia.

Então eu poderia deixar este lugar esquecido por Deus e


viajar para o meu próximo encontro de negócios do outro lado
do globo.
Alrik foi fiel à sua palavra. Ele fez o pagamento, e minha
conta bancária estava milhões de dólares mais rica.
Não que o dinheiro miserável significava qualquer coisa
nestes dias. Eu poderia sobreviver com nada ‒ já provei que sim

PEPPER WINTERS
‒ mesmo fazendo coisas para sobreviver que não teria a
aprovação de muitos.
Antes que eu tivesse dinheiro ... a vida era fácil. Eu sabia
quem eu era. Eu sabia o que era. Mas então, o destino decidiu
me dar ouro em vez de sujeira, fazendo com eu me tornasse
alguém na vida.
Fui feito para ferir aqueles abaixo de mim, para manipular e
controlar. Então, por que diabos eu me sinto como se eu tivesse
esmagado um rato de sarjeta sob meu sapato quando eu havia
sido apenas bom e cortês?

Droga de mulher.

Colocando-me de pé, eu empurrei a minha cadeira para o


lado e caminhei até as janelas que iam do chão ao teto,
revelando um porto espumante com catamarãs, lanchas e botes
pintados. Nós tínhamos atracado nesse porto há quase uma
semana, e já era hora de sair. Eu não me sinto bem preso em
um só lugar.
"Porra." A maldição saiu silenciosamente quando vi uma
mulher com cabelos castanhos escuros rindo no cais a
distância. Ela não se parecia em nada com a escrava magra que
eu conheci, mas a cor do cabelo despertou em mim coisas que
eu já não reconhecia.
Eu tinha ganhado o que eu queria no encontro com Alrik.

PEPPER WINTERS
Eu deveria estar feliz.
Mas eu não podia me livrar deste sentimento repugnante
como se eu tivesse feito algo do qual eu não poderia me
orgulhar.
Minhas mãos se fecharam em punhos. Eu não tinha dado a
ela a minha própria jaqueta, porra? Eu não tinha falado
cordialmente e me assegurado de que ela comesse?

Sim!
Então, por que não posso esquecê-la?

Ela deve ter ficado muito grata pela minha atenção. Tratei-a
muito melhor do que o seu mestre já fez algum dia.
O que lhe aconteceu nos dois dias desde que eu tinha
estado lá? Ela havia sido molestada outra vez? Bateram-lhe de
novo?
Não que isso importasse.
Eu tinha visto as pessoas terem os dentes arrombados e
ossos quebrados na rua. Eu tinha visto homens terem seus
dedos cortados em um restaurante cinco estrelas, onde chefes
da máfia não tinham medo de retaliação.
Eu vivia em violência.
Eu era violência.
Portanto, o pensamento de uma menina recebendo uns
tapas não devia malditamente me incomodar.

PEPPER WINTERS
Mas incomodou...
Alguém bateu na porta do meu escritório.
Virando-me, eu rosnei, "Entre".
Uma das empregadas entrou na ponta dos pés, carregando
uma bandeja com o almoço desconhecido sob uma cúpula de
prata. Ela não disse uma palavra, mas andava com confiança,
colocando a comida na minha mesa com um sorriso educado
antes de se retirar.
Ela movia-se com liberdade e felicidade.
Pimlico movia-se com a servidão e depressão.

Eu a quero.

Meu corpo ficou tenso com a necessidade obsessiva de


raptar a escrava de Alrik. Deslizando os dedos pelo meu cabelo,
eu tentei domar os fios pretos grossos, tentando desfazer esta
ideia.
Pimlico tinha muito a compartilhar, toda uma história para
contar. Ela tinha ficado intrigada por mim também. Eu senti.
Seu interesse não tinha sido pela minha riqueza, mas algo mais
profundo. Alguma coisa, que eu não conseguia descobrir.
Alguma coisa que eu nunca saberia, porque ela não era minha e
eu tinha um código de conduta a seguir.
Eu tinha visto ela uma vez. Toquei-lhe uma vez.
Uma vez que teria de ser suficiente.

PEPPER WINTERS
Porque um homem como eu nunca poderia ter uma
segunda chance.
Foi a minha lei mais inquebrável.
Amanhã, eu voltaria e completaria o nosso negócio.
Eu deveria estar animado por mais um negócio bem
sucedido.
No entanto, eu não poderia ligar menos para isso.
O que meu empolgou foi o pensamento de encontrar a
escrava e roubar seus segredos silenciosos.

Eu tenho força de vontade para fazer isso?

Andando no meu escritório, eu fiz uma careta para a


decoração cara com móveis artesanais. Eu convivi com meus
apetites incomuns toda a minha vida. Eu não deixaria uma
garota quebrada destruir minhas diretrizes rígidas.
Gostaria de vê-la novamente.
Eu não iria falar com ela.
Eu não iria olhar para ela.
E eu definitivamente não exigiria me aproximar dela.

PEPPER WINTERS
Dois dias se passaram.
Depois da surra, quando o Sr. Prest se foi, e Mestre A me
usou impiedosamente. Neste dia, ele me fez desejar que eu
tivesse sido mais corajosa e me matado o momento em que ele
me comprou. À noite, ele me fez dormir como um cão enrolado
no fim de sua cama, onde ele poderia me chutar em seus
sonhos e em seguida me estuprar quando acordasse.
Pela manhã, eu estava privada de sono e tremendo de
agonia residual.
Ele não chamaria o médico para cuidar da minha mão, e
depois de fazer o café da manhã, eu saqueei o armário médico
no banheiro do térreo, fazendo o meu melhor para corrigir-me.
Eu encontrei uns curativos e analgésicos ‒ não bons o
suficiente para corrigir o estrago feito ‒ mas melhor do que
nada.
Por que me dar ao trabalho?
Eu não fazia ideia.
Ele simplesmente me machucaria novamente e novamente.
Era inútil dar o meu corpo uma tentativa de sobrevivência

PEPPER WINTERS
quando a minha alma já tinha embalado suas malas e pulado
ao mar.
No entanto, quando eu enfaixei os meus dedos quebrados e
passei arnica sobre meus braços e pernas, minha mente vagou
para o Sr. Prest.
Ele tinha causado a minha dor.
Ele foi a razão pela qual Mestre A foi tão vil.
Eu nunca esqueceria isso.
Eu não queria ter nada a ver com seu blazer, seu cheiro
exótico, ou pensar em seus olhos negros e características
ferozes.
Ele não era nada para mim. Assim como eu não era nada
para o meu mestre.
A única graça foi que eu não tinha visto Darryl, Monty, ou
Tony desde a noite eles foram expulsos. Eu não acho que foi
porque o Mestre A precisava de um descanso de seus supostos
amigos, mas porque ele estava com ciúmes da atenção dada a
mim.
"Oh, Pimlicooo? Saia, saia, de onde quer que esteja."
Estremeci quando meu inimigo apareceu na cozinha.
"Ah, aí está você."

Sim, aqui estou. Lavando sua roupa e louça e realizando


todas as tarefas que você necessita.

PEPPER WINTERS
Vindo atrás de mim, ele envolveu os braços terríveis volta do
meu corpo doloroso. "Senti sua falta."

Vá para o inferno.

Pressionando uma contusão na minha clavícula, ele


murmurou, "Você foi uma boa menina enquanto eu estive no
meu escritório?"
Uma hora ou mais atrás, ele retirou-se para seu escritório,
mandando e-mails e fazendo sabe lá o que. Eu tinha desfrutado
de alguns momentos longe de seus olhos sujos e maldições
críticas. Enquanto ele estava ocupado, eu tinha feito o meu
melhor para encontrar os comprimidos para dormir que ele às
vezes tomava. Eu não poderia lidar com outra surra tão cedo,
então planejei para esmagar um pouco em sua comida para que
eu pudesse ter a noite de folga.
No entanto, a garrafa estava vazia.
Meu plano para evitar mais agonia foi frustrado.
Se eu tivesse que bater-lhe na cabeça com a frigideira ... eu
o faria.
Eu iria bater e bater e bater até que seu crânio se rachasse
como um ovo podre e eu pudesse finalmente me tornar uma
mulher livre.

Livre…

PEPPER WINTERS
Meu queixo levantou-se quando eu olhei para longe. Meus
dedos dos pés descalços cavavam os azulejos frios, encolhendo
o meu corpo nu sob seu toque. Desde a partida do Sr. Prest, eu
estava nua e todas as roupas desapareceram mais uma vez.
Em um momento, Mestre A me apertou, e no próximo, ele
me jogou em direção a pia, golpeando meu rosto com o punho.
"Eu perguntei se você foi uma boa menina, Pim. Responda-me."
Eu olhei através de lágrimas, olhos vidrados, segurando
minha bochecha ardente.

Você nunca vai aprender.


Não importa o que você faça... Eu nunca vou te responder.

Suas mãos fecharam quando entramos mais uma


competição de encarar que normalmente terminava comigo
curvando-me aos seus pés implorando por misericórdia.
Durante todo o dia, ele tinha estado em um humor
diabólico. Tudo começou com ele me acordando ao forçar o meu
rosto em sua virilha, me fazendo sufocar com seu pau em
minha garganta.
O café da manhã se passou comigo em pé sobre a mesa
como uma estatueta nua para que ele pudesse jogar utensílios
em mim enquanto comia seu cereal.

PEPPER WINTERS
Na hora do almoço eu tive o meu corpo empurrado e
pressionado no couro branco de seu sofá enquanto ele me
chicoteava.
E agora, era noite.
O pior momento.
Por anos, eu tinha mantido um pouco de dignidade. Eu
mantive o meu silêncio. Eu amaldiçoei com força e mantive o
queixo acentuadamente inclinado. E não importava o que ele
fazia, eu nunca deixei ele me quebrar. Mas ao fazer isso, fui
tomada por pensamentos de assassinato e fuga que poderiam
encher uma enciclopédia inteira.
Eu estava pronta para matá-lo ou ser morta.
Eu não poderia viver assim por mais tempo.
Eu queria sair.

Agora!

Sacudindo o punho ele tinha usado para me esmurrar, ele


rosnou, "Vá para o andar de cima, Pim. Já passou da sua hora
de dormir, e eu tenho algo para ajudá-la adormecer."

*****

Três dias desde que o Sr. Prest desapareceu.


Hora do almoço.

PEPPER WINTERS
Eu tinha sido alimentada esta tarde, o que foi a primeira vez
em vinte e sete horas. Não que eu estivesse contando ou
qualquer coisa. A refeição consistia de restos de lasanha
servidos em meu recipiente de cão.
Foi uma das minhas pequenas vitórias. Eu tinha ganhado
na noite passada.
Eu antecipei seus planos, e com alguns olhares bem
colocados, mudei seu humor de volátil para sã. Ele ainda me
machucou, mas não tanto quanto ele tinha previsto. E hoje, ele
concordou que eu era uma boa menina.

Idiota.

No momento, agora que eu lavei a louça e ajoelhei-me aos


pés do sofá enquanto ele assistia a algum filme de ação horrível,
ele estalou os dedos para que eu rastejasse para perto.
Meu estômago tremeu ao mesmo tempo em que o vômito
correu até minha garganta.
Eu sabia o que ele queria ‒ a mesma coisa de sempre
quando ele assistia a um filme antes do jantar.
Um boquete.
Nos primeiros que ele me forçou a fazer, eu o mordi. Não
muito forte, mas o suficiente para expressar o meu desagrado
de forma clara.

PEPPER WINTERS
Ele me bateu na cabeça com tanta força que eu apaguei, e
ao acordar vi que ele me usou sem minha permissão.
Lambi meus lábios, correndo minha língua sobre a carne
rachada e ferida das gengivas. Na minha perspectiva, era a
melhor forma de preparar meu corpo para uma tarefa tão
desagradável. Na dele, era um gesto sensual, que indicava
vontade de chupá-lo.
Mestre A gemeu quando ele arqueou seus quadris para fora
do sofá, desfazendo seu zíper, e puxando para fora seu pau.
"Você se tornou tão talentosa nisso, minha doce Pim."
Agarrando o controle remoto ao lado dele, ele desligou os sons
de explosões e tiros, substituindo o filme por macios sons de
violino e piano.
Instantaneamente, eu tremi com repulsa.
Música clássica.
Intrinsecamente ligada a meu abuso. Eu não sabia se o
Mestre A era inteligente o suficiente para acorrentar minha
mente com música ao obrigar o meu corpo fazer coisas
abomináveis. Mas minha mãe teria ficado intrigada com seus
métodos. Ela ficaria louca para descobrir por que eu queria
explodir em lágrimas no momento em que a nota trêmula do
instrumento suave ecoou em torno de mim.
Encostando-se no sofá, Mestre A agarrou minha nuca,
guiando meu rosto para seu colo. "Estou tão feliz que você está

PEPPER WINTERS
se comportando novamente. Parece que a nossa pequena
conversa fez-lhe muito bem”.

Eu o desprezo até as entranhas do cosmos.

A minha alma recuou. Eu tentei resistir, tanto quanto me


atrevi.
Mas, afinal, eu o deixei guiar-me para onde ele queria,
mantendo meus olhos espremidos quando seu pau empurrou
contra o meu lábio inferior.

Bing bong.

Nós dois congelamos.


A campainha pairava no espaço com a demanda.
Mestre A respirava com dificuldade, seu peito trabalhando
com a antecipação de minha boca. "Quem diabos será?"

Como diabos eu vou saber?

Afastando-me, agradeci a quem quer que fosse. Ninguém


poderia impedir que isso acontecesse, mas pelo eu teria um
pequeno alívio, o suficiente para digerir o meu almoço e
mentalmente desligar a música clássica, para então ser capaz

PEPPER WINTERS
de realizar minhas obrigações enquanto me refugiava na minha
mente e adormecia.
Empurrou-me para longe, sem remorsos por me derrubar
quando ele saiu do sofá, ajustando a sua calça jeans e fechando
a braguilha. "Se for aquela merda do Darryl, eu disse a ele que
era amanhã."

Espero que todos os seus amigos apodreçam.

Mestre A me olhou, apontando para a parede. "Ajoelhe-se.


Comporte-se."
A campainha tocou novamente quando ele desapareceu da
sala.

Porra.

Eu lhe mostrei a língua. Era juvenil e ridículo, mas isso fez


meu coração mais leve de uma forma pequena.
Apenas em um pequeno segundo, olhei para as janelas a
minha esquerda. O sol tinha se posto no mar, extinguindo-se
em uma fogueira de tons rosa e laranja. A vista da
monstruosidade branca nunca era bela, não importando o que
mostrasse. Era apenas mais um componente da minha prisão.
Eu a odiava.
Eu odiava muitas coisas nestes dias.

PEPPER WINTERS
Deixei de observar o crepúsculo e me arrastei para o lugar
onde ele me disse para esperar.
Embalando a minha mão enfaixada, eu olhei para cima
quando Mestre A entrou na sala. Seu rosto tinha perdido o seu
desejo de antes, o substituído com aborrecimento gritante. Ele
jogou algo macio e branco em meu corpo nu.
"Porra! Eu esqueci que ele viria hoje."
Meu coração disparou até que eu prometi amarrá-lo se ele
não parasse.

Quem?
Quem está vindo?

Esquivando-se, ele empurrou um dedo na minha cara.


"Vista-se. Agora. Mantenha seus olhos para baixo, obedeça-me,
e se eu pegar você olhando para ele, porra, as últimas noites
poderão ser consideradas como um ensaio leve para o
verdadeiro show." Tocando meu queixo com o dedo, ele beijou-
me com força e desleixo. "Entendeu? Você é minha. Não dele.
Minha. Agora, cubra-se e não se atreva a se mover."
Não me esperando a obedecer, ele se dirigiu ao hall de
entrada, deixando-me a acariciar o vestido branco que ele me
deu.
Roupas.
A última vez que ele me deu roupas ...

PEPPER WINTERS
Oh, meu Deus, ele está de volta.
O maldito Elder Prest.

O homem que provocou o meu mestre. O homem cuja


diversão quase me custou a vida. Nos últimos dias, ele
provavelmente contou seus milhões e esqueceu tudo sobre mim
enquanto eu sofria com ossos quebrados e agonia.
Agora, ele estava de volta para mais.
Minha pele eclodiu em fogo e gelo, lutando pela supremacia.
Eu não sei por que Mestre A me queria coberta para este
convidado quando ele permitiu que todos os outros me
olhassem, mas eu não hesitei escorregando minhas mãos nas
mangas longas e puxando o material elástico sobre a minha
cabeça.
Meus ombros gritaram. Meus cotovelos estalaram. Cada
polegada de mim gritou quando eu coloquei o vestido. Ele
chegava até as minhas panturrilhas ‒ não o suficiente para
esconder os hematomas nas minhas pernas, mas o suficiente
para cobrir todo o resto.

Ele está aqui.

Eu não poderia aliviar o meu coração, mesmo acariciando o


meu peito suavemente e sussurrando para ele se acalmar. O
coitado já não me escuta depois de tanto ser ameaçado.

PEPPER WINTERS
Sr. Prest era apenas um homem. Um homem que eu não
gostava. Um homem que com apenas uma vista encheu o meu
mundo de dor.

Mas ainda assim apenas um homem.

Eu tenho sobrevivido a um por tanto tempo... Eu poderia


sobreviver a outro.
Passos pesados soaram no vestíbulo enquanto eu ajustava a
minha posição e usava a minha mão boa para jogar o cabelo no
rosto para protegê-lo de ver demais. Ele havia retornado, mas
isso não quer dizer que eu o olharia. Se Mestre A queria que eu
me tornasse invisível e ouvisse a sua conversa de negócios, mas
sem prestar atenção no Sr. Prest, eu cumpriria todas as
instruções.

Eu acho que o comando para obedecer ao Sr. Prest foi


revogado.

Descansando minha mão ferida no colo, suspirei ao tocar o


material pegajoso do vestido que me foi dado. Mais uma vez, a
claustrofobia me tomava, trazendo com ela os ataques de pânico
e fraqueza.
Eu cerrei os dentes.

PEPPER WINTERS
Você é mais forte do que isso. Você é melhor do que todos
eles.

Respirando com dificuldade pelo nariz, ousei acreditar nas


minhas mentiras e forcei-me a ter calma.
O piso duro e frio feria os meus joelhos ao mesmo tempo em
que murmúrios baixos se aproximavam. Escutei atentamente
quando o clique gentil de sapatos de homem ecoou no espaço
vazio. Meu corpo implorou para que eu olhasse para a perfeição
da beleza do Sr. Prest, ao sentir a sua presença e cheiro.

Eu o proíbo.

Em vez disso, eu mantive a minha cabeça baixa, olhando


diretamente para a linha de argamassa entre os ladrilhos que
seguia por toda a sala.
"Você recebeu o pagamento?" Mestre A perguntou.
As pernas do Sr. Prest entraram na minha linha de visão.
Abaixei minha cabeça ainda mais.

Ele não está aqui.


Ele não é real.
Não o olhe ou o ouça ou o cheire.

PEPPER WINTERS
Meu coração continua a bater loucamente, mas eu ganho a
guerra. Meus olhos permaneceram firmes no chão.
O Sr. Prest avançou alguns passos, colocando as suas
longas e fortes pernas em um lugar que eu não desejava.
Pernas não eram tão ruins.
Eu poderia lidar com as pernas... Na verdade com os
tornozelos.
Até aí tudo bem.
Mas qualquer outra parte dele, eu não quero ver.
"Recebi. E enviei-lhe os esquemas e modelos do projeto." O
Sr. Prest tirou algo de dentro da pasta de couro que estava em
suas mãos, fazendo um barulho áspero. "Aqui."

Como você sabe que é uma pasta?

Merda, eu olhei para cima.


Meu olhar passou por suas largas coxas, pela ligeira
protuberância em suas calças, pelas linhas graciosas de seu
peito, até os cumes afiados de sua garganta.

Abaixe a sua cabeça!

Meu comando fez meus ombros se encolherem quando eu


me encolhi ainda mais no chão. Eu não podia encontrar seus
olhos. É ali onde o perigo estava.

PEPPER WINTERS
Se eu escorregasse e olhasse para cima, eu duvidava que eu
vivesse até amanhã. Mestre A considerava eu tinha algum tipo
de fascinação doente (ou era atração?) por este monstro que eu
não podia suportar).

Não, não é atração.

Não podia ser.


Depois de perder minha virgindade brutalmente e virado
escrava, eu não tenho esperança de achar alguém atraente pelo
qual eu pudesse me apaixonar.
Eu duvido que eu tenha encontrado alguém assim.
Meu destino é diferente do das minhas amigas que viverão
felizes e por muito tempo, casadas com um homem amoroso e
tendo filhos.
Eu queria ficar sozinha.
Segura.
Longe dos homens.
Os dois vilões falavam em vozes baixas sobre datas de
entrega e inspeções.
Eu não me incomodei tentando ouvir. Eu não me importava.
Minha pele se arrepiou quando a voz do Sr. Prest se
misturou com a do Mestre A. Saber que ambos me observavam
me dava a sensação de sufocamento. Eu não ousava me mover;

PEPPER WINTERS
Eu mal podia respirar. O Sr. Prest de alguma forma roubou
todos os sentidos e os guardou com ele.
A batalha para manter a minha cabeça baixa tornou-se
cada vez mais difícil de vencer. Cada arrastar de pés e farfalhar
de suas roupas me instigava a dar uma espiada.
Uma espiada.

Eu não posso.
Respirando fundo, eu fiz o que eu nunca pensei que eu iria
fazer e foquei-me na música clássica, tentando ignorar o meu
fascínio repugnante pelo nosso visitante.
De bom grado deixei os instrumentos de cordas me
distraírem, mesmo que eles só me trouxessem pesadelos
geralmente.
Isso é Mestre A: um pesadelo. E algum dia, eu vou acordar e
será o fim.

Acorde, Pim ... acorde.

Depois de dez minutos ou mais, Mestre A estalou os dedos,


deixando a conversa. "Pegue uma bebida para o Sr. Prest, Pim".
Levantar-me?

Mover-me?

PEPPER WINTERS
Correr o risco de olhá-lo sem permissão?
Minha coluna tencionou em desobediência.
Quando eu não me movi, Mestre A baixou a voz. "Será que
você não me ouviu?" Empurrando meu joelho com o seu dedo
do pé, ele resmungou: "Vai!"
Meu corpo rosnou com muitas dores quando eu me levantei,
derrapando na cozinha. Milagrosamente, eu mantive meu
queixo dobrado e os olhos para baixo. No entanto, mesmo sem
vê-lo, eu senti o Sr. Prest me observando. O ouvi pensar em
mim.
Sua sombra espreitava o meu campo de visão enquanto eu
corria em torno da bancada.
Em nenhuma vez o Sr. Prest se dirigiu a mim. Ele não
brincou comigo como da primeira vez quando me deu um
apelido.
Ele não foi ameaçado pelo Mestre A, então por que não
estava sendo bom e gentil como foi da outra vez?
Eu não queria admitir, mas a sua frieza me doeu mais do
que um chute do meu dono estúpido.
Isto era cruel. Quando uma pessoa só recebe maus tratos,
ela não espera por algo melhor, mas quando uma pessoa recebe
carinho e cuidado e depois é abandonada é muito pior.
Foi este o objetivo do Sr. Prest desde o início?

PEPPER WINTERS
Mantendo o meu rosto coberto por meu cabelo, tanto
quanto possível, eu fui para a pequena despensa, onde uma
pequena adega estava localizada no chão.
Pressionando um botão prateado na parede, o alçapão se
abriu e uma garrafa de Bourbon que Mestre A havia selecionado
foi entregue automaticamente pelo sistema.
Agarrando o licor caro, eu tremia enquanto despejava em
taças a bebida.
Eu derrubei algumas gotas.
De costas rígidas. Esperei por uma repreensão.
Eu tinha deixado cair uma garrafa uma vez.
Eu só tinha estado com o Mestre A por um mês, e ainda era
rebelde. Eu não me recordo se eu a deixei cair por acidente ou
se foi de propósito.
Mas eu me lembro da punição muito bem. Ela envolvia os
cacos da garrafa quebrada e licor sendo jogado nos cortes que
ele desenhou em minha pele.
Eu chorei silenciosamente.
Mas eu não tinha dado a ele o que ele mais queria, a minha
voz.
Não que isso importasse. Ele tinha curado o meu jeito
desastrado nesta ocasião.
Ignorando a cicatriz no meu antebraço que marcava aquela
memória horrível, eu rapidamente limpei a bagunça e fechei a
garrafa.

PEPPER WINTERS
Eu guardei a bebida de volta a adega, servi os homens e
voltei para o meu posto, me ajoelhando aos pés da parede com
uma careta de dor mal disfarçada.
O Sr. Prest murmurou algo parecido com um ‘obrigado’,
com os olhos voltados para mim mesmo quando um barulho de
taças brindando cobriu o som da música.
Mas ele não disse mais nada. Nenhuma observação sobre as
minhas roupas ou tentativa de me fazer falar.
Ele me ignorou, concentrando-se em Mestre A.
Pelos próximos trinta minutos, eu mergulhei em minha
mente.
Eu fiquei muito mais feliz em ouvi-los falar do que ser
forçada a chupá-los. No entanto, após as últimas noites sem
dormir, eu lutava para combater a pesada nuvem de sonolência.
Eu lutei para não fechar os olhos, obrigando-me a não ficar
inconsciente.
Eu tinha feito isso uma vez: caí no sono quando eu estava
ajoelhada.
Darryl tinha sido o único a me punir naquela noite. Mestre
A o tinha incitado, dizendo como indisciplinada eu era e
precisava de uma dura lição.
Eu não tinha sido capaz de me mover por uma semana.
O zumbido baixo de vozes de repente parou.
Eu entrei em pânico.

PEPPER WINTERS
Adormeci e eles notaram? Eles me deram uma ordem e eu
estava cochilando?
Meu coração ficou enlouquecido. Quase saiu do peito
quando ouvi o Sr. Prest amaldiçoar baixinho. Meus ombros se
encolheram ainda mais quando ele finalmente resolveu me dar
atenção.
"Este vestido fica melhor em você do que aquela saia feia.”
Sua voz agiu como tesouras, cortando o vestido que ele tinha
elogiado, lambendo minha pele com ameaças afiadas.
Ele deslizou no sofá e sua sombra se aproximou de mim
enquanto o sol terminava de se pôr e as luzes automáticas se
acendiam.

Não olhe.
Não. O. Olhe.

Ele estava empoleirado na extremidade do sofá como um


corvo negro da intriga.
"Vamos voltar para a assinatura final do contrato?" Mestre
A murmurou, segurando sua bebida.
"Em um momento." Sr. Prest o dispensou, impaciente.
Mesmo com o meu cabelo obscurecendo a minha visão e
meu olhar fixo no chão, eu não afastar a tentação olhá-lo.

Eu odeio você pelo o que me aconteceu.

PEPPER WINTERS
Então, por que eu ainda me sinto atraída por ele?

Magia?
Destino?
O que?

Sentindo que eu estava ouvindo, Sr. Prest se aproximou.


Inclinando-se sobre a ponta do sofá com os dedos ligados em
torno de sua taça e os olhos fixos em mim, disse: "Ainda em
silêncio, eu vejo." Ele riu preparado para me inquirir ao invés de
dar a sua atenção para Mestre A.
Não faça isso.

Você não vê o que vai me custar?


Olhe para ele, não para mim.

Inclinando-se para frente, ele colocou seu copo de bebida


intocado na mesa de café antes de voltar a me olhar.
Meu couro cabeludo formigava sob seu olhar, a temperatura
da sala subia na medida em que ficávamos presos em seu jogo.
"Sr. Prest ..." Um barulho de papel e uma caneta batendo no
vidro sinalizou a tentativa não muito sutil do Mestre A chamar
sua atenção.
Não funcionou.

PEPPER WINTERS
O Sr. Prest apenas continuou a me encarar, como se
pudesse abrir minha cabeça e tirar dele os meus pensamentos
sem ter que ouvi-los da minha boca muda. Movimentando-se,
ele enfiou a mão no bolso.

Que não seja uma moeda.


De novo não.

Senti o toque suave do pequeno objeto de cobre em meu


joelho, antes que ele escorregasse e caísse no chão. "Um
centavo pelos seus pensamentos, pequena silenciosa. Talvez,
hoje você resolva falar."

Pare de fazer isso comigo!

Maldito seja ele e seus tostões.


Eu não quero ser paga por palavras que eu jamais
pronunciaria. Que tal ele me pagar um centavo para cada chute
que eu tinha sofrido, cada osso quebrado, cada estupro, cada
lágrima?
Eu seria uma maldita milionária com os meios para escapar
daqui.
Mestre A colocou-se de pé.
Meus dentes apertavam o meu lábio inferior e eu me encolhi
ainda mais.

PEPPER WINTERS
Eu não fiz nada!
Machuque-o, não a mim!

Mas ao invés de me golpear na cabeça ou me chutar, Mestre


A se colocou entre o Sr. Prest e eu. A distância da minha
posição no pé da parede e a extremidade do sofá não era muito
longa, então meu dono ficou tão próximo a mim que eu pude
sentir o cheiro floral do sabão em pó que ele insistia que eu
usasse ao lavar suas roupas.
O cheiro do Mestre A era muito diferente do Sr. Prest, que
exalava um perfume de poder e crueldade. Eu não sabia de
onde ele obteve essa fragrância, mas era fato que ele nadava
nela e a espalhava por todo o ambiente no qual se entrava.
"Pare de dar dinheiro a minha escrava." Pegando a moeda
de um centavo do chão, Mestre A a manteve firmemente presa
em seu punho. "Neste acordo de negócios, eu sou o único que
deve pagar a alguém. O que eu fiz, como você bem sabe, porra.
A transferência dos fundos está completa. Eu assinei o contrato
de aceitação final. Nossa reunião acabou."
Eu respirei de alívio por Mestre A não poder me ver. Como
ele estava de costas para mim, eu me permiti levantar a cabeça,
apenas um pouco.
O impacto de sua declaração durou por alguns segundos
tensos.

PEPPER WINTERS
Ao invés de levantar-se para sair, o Sr. Prest reclinou-se
confortavelmente no sofá. O grito do couro caro agiu como uma
interrupção na música terrível que ainda tocava. "Eu não vou
embora. Ainda não."

O que? Será que ele tem um desejo de morte?


Basta ir!

Eu peguei o movimento entre as pernas do Mestre A quando


o Sr. Prest levantou o braço, apontando para mim. "O que
aconteceu com ela?"
"Que porra é essa que você quer dizer, o que aconteceu com
ela?" Mestre A cruzou os braços, não retornando a moeda ou
afastando-se. "Ela não é da sua conta."
Eu congelei quando o Sr. Prest apontou de forma acusadora
para a minha mão quebrada, mal enfaixada. "Como ela fez
isso?"
Uma bolha estranha de riso fez cócegas meu interior.

Quem se importa?

Por que ele insiste em irritar meu dono? Ele não se importa
comigo. Foi tudo um ato para irritar Mestre A e de alguma
forma obter melhores condições no acordo entre eles, seja qual
for.

PEPPER WINTERS
"Ela fez isso para si mesma." Disse Mestre A ao mesmo
tempo em que abria as pernas, numa posição ameaçadora. "Não
se preocupe com um pequeno acidente. Preocupe-se em
entregar o meu iate na porra do tempo certo."
"Oh, eu não me preocupo com coisas desse tipo." Disse o Sr.
Prest também assumindo uma postura agressiva. "Tenho
certeza de que sua compra será de alta qualidade, cumprindo
as mais rigorosas especificações, e entregue perfeitamente a
tempo."
Mestre A não tinha réplica para isto.
"Então, para garantir que eu cumpra a minha parte no
negócio, que tal responder uma simples pergunta?" Desviando o
olhar do Mestre A e encontrando o meu, o Sr. Prest disse:
"Conte-me."

Merda!

Eu olhei para cima, esquecendo-me.


No momento em que fizemos contato com os olhos, minha
respiração parou, e cada veia anexada ao meu coração bateu
livre como uma mangueira, pulverizando sangue aquecido como
rios em todo o meu peito.
"Diga-me como ela machucou a mão." Sua mandíbula
endureceu, seus olhos como pedras de ônix, muito mais
valiosos do que qualquer moeda que ele poderia me dar. "Você

PEPPER WINTERS
vai mentir pra mim, sobre o motivo dela estar toda preta e
azul?”
Sua raiva crescente podia ser percebida em seu rosto tenso
e em testa franzida em linhas furiosas.
Ele estava me intoxicando.
Sua fúria era um cobertor quente, lembrando-me
brevemente o que era ser vista como algo de valor, em vez de
uma coisa estragada.
Meu queixo subiu e minha boca se abriu enquanto
continuávamos a nos olhar.
Ele lambeu os lábios como se algo não dito e não
reconhecido tivesse saído do seu corpo e alcançado o meu. Eu
não tinha escolha a não ser deixar a sua eletricidade corruptível
correr através de minhas veias, passar pelo meu peito, antes de
voltar para ele.
Quanto mais observávamos um ao outro, a ligação entre
nós se tornou mais espessa até que cada célula do meu corpo
ansiava por algo maior, mais forte, mais assustador e mais
seguro do que tudo que já me foi dado.

Desvie o olhar ...


Desvie o olhar!

Eu o encarei por muito tempo. Eu me prejudiquei por muito


pouco.

PEPPER WINTERS
Meu pescoço quis resistir, mas eu forcei-me a olhar para o
chão novamente.
Foi tão difícil quanto arrancar uma unha, mas consegui.
Isso foi apenas um instante antes de Mestre A se voltar para
mim e ver-me dócil e comportada atrás dele. "A mão dela? Não é
nada. Como eu disse, ela machucou a si mesma."

Eu nunca faria uma coisa dessas...

"Como?" A voz do Sr. Prest foi afiada e ágil.

Homem estúpido. Você nunca vai chegar à verdade. Saia


antes que você me faça errar novamente.

Olhar para ele de alguma forma substituiu o ódio que eu


senti pelo o que eu sofri, retirando a culpa de seus ombros, e eu
quis que ele ficasse.
Ele era o único com poder exclusivo sobre Mestre A. O que
eu poderia fazer para que ele me libertasse, em vez de me
destruir?
Mestre A zombou. "Ela caiu da escada."

Sério?
Deus, isto é um cliché.

PEPPER WINTERS
Eu fiquei congelada esperando por mais perguntas do Sr.
Prest. Como ela caiu? O que você fez? Por que eu deveria
acreditar em suas mentiras?
Só que, não houve nenhuma.
Lentamente, ele grunhiu em concordância, e foi isso.
Movendo-se no sofá, o Sr. Prest fechou suas mãos. "Nesse
caso, o nosso negócio está completo."

O que? Não!

Como ele se atrevia a provocar Mestre A com perguntas que


já sabia as respostas?

Maldito. Maldito seja!


Saia! E nunca mais volte!

Eu tremia no chão. Tomada por uma raiva tão espessa e


violenta, que mordi a língua.
Mestre A riu, instantaneamente relaxado, sentindo a vitória,
enquanto eu me envolvia em derrota. "Excelente." Caminhando
para frente, ele estendeu a mão. "Você vai entrar em contato em
oito meses para fazer a entrega?"
"Correto." O Sr. Prest aceitou o aperto de mão, seus olhos
carregavam o peso do céu e do inferno quando olhou para mim,
demorando-se no meu corpo oculto pelo vestido.

PEPPER WINTERS
Consegui manter minha cabeça abaixada, mesmo com a
minha mente cheia de maldições e insultos dirigidos a ele pelo
seu jogo horrível. Ele me fez pensar que sentiu algo especial
entre nós e me fez acreditar que eu valia a atenção de alguém.

Estúpida, Pim.
Estúpida, estúpida, estúpida!

Ele não sentiu nada.

Nada!

Meus olhos vidraram ao sentir vir à tona as lágrimas


espontâneas. Eu queria esquecer essa situação. Mestre A estava
certo. Eu queria Sr. Prest mais do que o queria ‒ não
sexualmente, não emocionalmente, inferno, eu não sabia como
o desejava.
Mas tudo acabou.
E agora, eu estava curada, sabia o meu lugar e nunca me
permitiria sair dele.
Suspirando com toda a decepção e desespero que corria em
minhas veias, me abracei, descansando minha testa nos
joelhos.
Eu não me importava mais.
Eu só queria ficar sozinha.

PEPPER WINTERS
A voz régia e profunda do Sr. Prest rasgou através do meu
manto de depressão. "Ela ainda tem o meu casaco?"

Sim.
E você não pode tê-lo de volta.
Porque eu vou queimá-lo, enquanto pensao em você.

Mestre A assentiu. "Ela ainda o tem e vai buscá-lo para te


devolver, se quiser"
Encolhi-me mais ainda.

Não me faça ir, seu estúpido. Isso é meu para fazer o que
diabos eu quiser.

"Não. Foi um presente." Passando a mão pelo queixo, Sr.


Prest acrescentou calmamente, "No entanto, antes que este
negócio seja cem por cento concluído, eu tenho um termo extra
para adicionar."
Mestre A ficou tranquilo, acreditando que era algo que
estaria disposto a aceitar. Ele pensou que já tinha ganhado.
"Oh?"
Eu sabia melhor.
Minha coluna endureceu quando eu parei de respirar...
Esperando.

PEPPER WINTERS
Mr. Prest riu baixinho, arrastando a antecipação. "Esta
cláusula deverá ser fácil para você. Algo que você não terá
nenhum problema em cumprir já que você ofereceu tal coisa
quando eu estive aqui da última vez."

Não.

Eu ousei olhar para cima, minha cabeça subindo, enquanto


o resto do meu corpo afundou mais nos azulejos gelados.

Não faça isto.

"Ofereci?" Mestre A perguntou.

Pare.

Sr. Prest fez contato visual comigo, sabendo muito bem que
eu sabia o que ele estava prestes a solicitar, e não poderia dizer
nada sobre isso, tendo que obedecer mesmo que levasse a
minha morte.
Por que isso me aterroriza tanto?
Eu passei os últimos dias pensando na morte, a dele, a
minha e de todos.

PEPPER WINTERS
Eu deveria estar feliz sabendo que depois desta noite,
Mestre A me mataria. Eu só posso esperar que seja rápido ao
invés de uma longa e agonizante tortura.

Talvez, o Sr. Prest me mate?

Uma vez que ele tenha terminado comigo, eu poderia pedir


uma coisa. Eu poderia falar pela primeira vez em anos e pedir a
morte como prêmio final.
O Sr. Prest desviou o olhar sem profundidade do meu, se
voltando para o seu parceiro de negócios. Ele sorriu, tentando
não mostrar os dentes, mas incapaz de esconder sua expressão
predatória.
Sua mão estendeu-se, apontando diretamente para mim.
"Ela."
Mestre A girou, vendo-me com a cabeça levantada, olhando
ao Sr. Prest. "O que?"
Imediatamente, eu deixei cair meu queixo, apertando os
olhos como se pudesse convencê-lo de que não estava olhando.
Sr. Prest se colocou ao meu lado em um movimento ágil. Ele
desviou-se de Mestre A com a elegância e rapidez de uma águia
mergulhando sobre um coelho antes que alguém piscasse.
Eu saltei quando sua mão fria pousou no meu couro
cabeludo, as pontas dos seus dedos tocando a minha testa.
"Eu a quero."

PEPPER WINTERS
Ele puxou tufos feios de cabelo, me penteando, acariciando
e me preparando para o que tinha planejado.
Eu tremia por uma razão completamente diferente.
Mestre A engasgou. "De jeito nenhum."
O toque do Sr. Prest voltou ao meu couro cabeludo. Engoli
um gemido quando ele mais uma vez me acariciou. A maneira
pela qual ele fazia isto não era sexual, era mais como um
caçador com sua presa; um domador com sua égua derrotada.
"Você se ofereceu para compartilhá-la. Você disse que eu
poderia fazer o que quisesse." Reunindo mais do meu cabelo, ele
puxou um pouco, forçando meu corpo a se levantar do chão e
me sentar ereta pela primeira vez em meses. Minha caixa
torácica decorou o vestido apertado como as teclas de um
xilofone e os meus mamilos endureceram sob o tecido.
Ele me segurou lá como uma estátua. "Eu aceito a oferta."
O temperamento de Mestre A tornou-se mais quente, mais
proeminente e mais louco a cada segundo. "Essa parte do
negócio não está mais em ofer-"
"Está, se você quer que a transação seja completada." A voz
do Sr. Prest se assemelhava a um machado, cortando através
do ar. "Quero ela só para mim. E eu a quero por uma noite
inteira."

Uma noite inteira?

PEPPER WINTERS
O ar desapareceu da sala. Entrei em um portal onde o
pânico governava com tempestades e furacões.

Eu estou ... Oh, eu não consigo respirar.

Minha mão subiu para a minha garganta, agarrando-se aos


músculos tensos que me impediam de sugar oxigênio. Outro
ataque de pânico começou do nada enquanto meus olhos
saltaram com descrença.

Ele não pode estar falando sério.

Eu esperava uma hora. Um pedido para me foder e depois ir


embora.
Não uma noite inteira.
Manchas negras dançavam em meus olhos, enquanto me
tornava cada vez mais histérica.
O Sr. Prest não oferece nenhum conforto, apenas me segura
pelos cabelos. Sua atenção estava em Mestre A, à espera de sua
aprovação.

O que ele vai fazer comigo?

Ao sentir a dor das minhas unhas arranhando a minha


garganta, eu fiz o meu melhor para acalmar as batidas do meu

PEPPER WINTERS
coração. Não importava. Nunca iria acontecer. Mestre A nunca
iria deixá-lo me ter por uma noite inteira.
Ninguém tinha feito isso.

Ninguém.

Eu fui emprestada por breves interlúdios. Não alugada por


períodos negociados.

Ele não vai deixar isso acontecer.


Eu estou bem ... Eu vou ficar bem.

Eu não tinha explicação pelo ataque que estava tendo. Eu já


sofri nas mãos de homens piores que o Sr. Prest. Sim, ele era o
diabo vestido com asas de anjo, mas ele tinha um veneno
refinado que faltava nos outros monstros.
Ele era aterrorizante.
"Que se foda o negócio então. Eu vou encontrar alguém para
construir o que eu quero."
"Ninguém mais tem os contatos, e você sabe disso."
Mestre A rosnou, "Você não vai foder a minha escrava."
"Ela é uma escrava por esse motivo." A voz do Sr. Prest
nunca subiu, ficando regiamente calma e melódica. "E eu vou
tê-la ... se você quer o que eu tenho para dar."

PEPPER WINTERS
Meu corpo sofreu um espasmo enquanto eu respirava
audivelmente, odiando o modo como a minha pele se aqueceu a
ser disputada. Eu nunca pensei que eu ia ser tão querida, tão
desejada‒ mesmo que fosse por razões terríveis, eu era valiosa
por um segundo.
"Eu paguei-lhe a porra de uma fortuna!"
"E eu quero algo mais."
"De jeito nenhum."
Os dedos do Sr. Prest se apertaram em volta da minha
nuca, me içando sem cerimônias para os meus pés. Eu não
podia lutar contra a pressão de sua forte aderência, algemada
inteiramente à sua mercê.
Ficar de pé não ajudou com o meu ataque de pânico
iminente. Eu vacilei no lugar enquanto o Sr. Prest me forçou a
olhar para ele. Meus olhos lacrimejantes abriram-se bebendo
seu rosto, como se ele pudesse garantir o futuro e não o fim.
Seu cabelo penteado, preto azulado, grosso, parecia um
poço de piche ‒ pronto para extinguir a minha vida. Seu olhar
escuro brilhou de raiva. "Sim. E eu vou te dizer o porquê." Sua
voz tornou-se um silvo. "Eu sei que você é a pessoa que bateu
nela. Eu sei que sua mão não se quebrou por cair da escada
maldita. E eu sei que a puniu pelas coisas que fiz da última vez
que estive aqui. Eu a quero. Você a trata como uma merda. O
mínimo que você pode fazer é a dar para mim para que eu possa
fazer o mesmo."

PEPPER WINTERS
Meus joelhos se dobraram.
Meu infantil sonho irrisório de finalmente ser tratada
cordialmente foi pulverizado.
Ele queria ... não dormir comigo ... mas me machucar?
Era assim que ele se divertia? Batendo em mulheres já
massacradas?
Minha raiva aniquilou o meu ataque de pânico, dando-me
um pilar para me sustentar enquanto arrastava o ar para meus
pulmões relutantes.
Como ele ousa!
Como esse maldito ousa barganhar o meu corpo, pelo
simples desejo de arruiná-lo ainda mais.

Porra!

Mestre A endireitou os ombros, ainda lutando uma batalha


já perdida. "Você está esquecendo o que ela é? Ela não é
humana, é uma posse. Minha posse. Eu paguei por ela e posso
fazer o que quero inclusive a emprestar para quem eu quiser."
"Eu sugiro que você mude de ideia a respeito de me negá-la.
Só porque ela é sua não significa que eu não vou tomá-la se
você não vai cedê-la a mim."
Arrastando-me para frente, ele enfrentou Mestre A. "Eu sou
um ladrão, Alrik, antes de ser um fornecedor de guerra. Eu
poderia roubá-la, e você nunca saberia. Mas eu não vou por

PEPPER WINTERS
respeito ao nosso acordo." Ele estreitou os olhos. "Fazendo
negócios ou não. De qualquer forma, eu não vou embora sem
saboreá-la."

Saborear-me?

Mestre A sabia que foi derrotado. Seu olhar caiu sobre mim,
turbulento e possessivo. "Você não vai abandonar as instalações
com ela."
"Bem. Vou passar a noite aqui."
"Onde?"
"Ela tem um quarto?"
Mestre A suspirou. "Sim."
"Privado?"
Ele encolheu os ombros. "Não há nenhuma porta, mas sim,
privado o suficiente."
"Coloque a porta, dê-me a chave para que não sejamos
perturbados, e você tem o seu acordo."
Eu queria gritar e exigir que eles me vissem como um ser
humano. Uma mulher. Não uma transação a ser completada
para a noite.
Eles queriam me machucar.
Isso era tudo o que eu era para eles.
Ambos mereciam morrer.

PEPPER WINTERS
Mantendo meus lábios apertados, eu me enrolei os braços
em minha volta, protegendo meu peito frágil e mão quebrada.
Eu faria sexo hoje à noite.
Eu seria machucada esta noite.
Pelo Mestre A ou o Sr. Prest.
Já não fazia um pingo de diferença.

PEPPER WINTERS
.

"Tudo bem, porra!" Alrik olhou-me com todo o ódio que pode
evocar.
Ele tinha uma obsessão com sua escrava. Pouco saudável.
Perigoso. Uma obsessão que excluía a racionalidade.
E eu simplesmente redirecionei essa possessividade idiota
para mim mesmo, ao demandar a única coisa que eu jurei que
não iria.

Você não foi forte o suficiente.

Eu vim aqui me prometendo que não iria fazer essa porra.


Eu tinha jurado uma e outra vez que eu não iria olhá-la,
falar com ela ou mesmo notá-la. Na primeira parte da reunião,
eu consegui fazer isso.
Mas, então, minha mente vagou para a quieta ratinha
machucada no canto. Seu silêncio me atraiu, chamando minha
atenção a cada vez que eu queria me afastar.
Agora, eu tinha feito algo que eu já me arrependi.

PEPPER WINTERS
Que porra estou fazendo?

Isto não iria acabar bem. Era para eu obter as cópias finais
do contrato assinadas, dá-las para Selix para enviá-las para o
meu advogado, e partir em seguida.
Eu não deveria estar passando a noite com uma garota que
estava quase tendo um ataque de pânico porque eu tinha
reclamado ela por algumas horas. Eu não poderia confiar em
mim mesmo. Eu já tinha ido longe demais ao tocá-la.
Um homem como eu tinha regras por uma maldita razão.
Meus dedos apertaram-se. Obriguei-me a não prestar
atenção nos fios sedosos do cabelo dela contra a minha pele.
Seu crânio era tão pequeno sob o meu toque, preso pelas garras
que já tinham assassinado homens para lucrar e roubando de
quem me trouxe prejuízo.
Esfregando o rosto com as duas mãos, Alrik murmurou,
"Dê-me vinte minutos para encontrar a porta. Você vai recolocá-
la. Eu não vou ajudar, porra."
"Eu posso fazer isso." Eu engoli o meu temperamento. "E
não se incomode procurando. Eu não quero que você alegue que
não pode encontrá-la e para começar uma discussão
novamente." Olhando para Pim, eu sorri levemente. "Diga-me
onde ela está e Pimlico vai ajudar."
A escrava ficou rígida, seus ombros duros e afiados.

PEPPER WINTERS
Mais uma vez, o seu silêncio estava cheio de som. Se eu
fechasse os olhos e escutasse com todos os sentidos e não
apenas os meus ouvidos, eu seria capaz de pegar as maldições e
xingamentos que sem dúvida ela estava dizendo e os apelos
inconscientes de compaixão que saiam do seu corpo.
Apelos não funcionam comigo.
Nunca funcionaram.
Nunca iriam.
Alrik bufou, puxando algumas chaves em um aro prata do
bolso de trás. "Você não desiste, não é? Você quer uma noite
com ela? Bem. Acabe logo com isso, porra." Lançando o
chaveiro de metal para mim, ele rosnou, "Ela sabe onde está a
porta. Está em um lugar seguro com um monte de outras coisas
que ela perdeu o privilégio de usar."
Aproximando-se de Pimlico, que ainda estava segura por
mim, ele agarrou suas bochechas, beliscando forte.
Seus lábios formaram um arco inocente quando ele olhou
nos olhos dela. "Agora, minha pequena doce Pim. O Sr. Prest vai
se divertir com você. Assim como todos os nossos outros
amigos, entendeu? Eu não quero que isso aconteça, e nem você.
Então, pense em mim, e não se atreva a gostar de passar um
tempo com ele, porra.”
O corpo dela estremeceu quando ela lutou contra o instinto
de curvar-se e a obediência de ficar de pé.
Desviei o olhar de desgosto.

PEPPER WINTERS
Por que diabos eu tinha lutado por uma noite com esta
menina? Ela tinha sido abusada demais para me querer. Não
importava que eu a trataria melhor do que os idiotas que a
tinham arruinado. Em sua mente, eu era a mesma coisa:
alguém para tolerar, fantasiar a morte, e desligar a alma
enquanto era fodida.
Não tinha nada sexy em roubá-la.
Nada do que eu estava prestes a fazer era certo.

Então, porra, pare e vá embora.

Ignorei o pensamento, porque isso era impossível.


Eu tenho que tê-la atrás de portas fechadas. Eu tenho que
tirá-la do meu pensamento para encontrar a paz novamente.
Já nesse momento, eu senti a corrupção dentro de mim
clamando por mais. Um gosto, um toque, um beijo, uma foda.
Uma vez era tudo que me seria permitido.
E se fosse para aceitar a oferta de usá-la, que seja esta
noite. Porque eu não tenho planos de vê-la novamente.
Alrik tocou a sua testa a advertindo como um pai faria com
sua filha. "Comporte-se, mas não me deixe ciumento. Caso
contrário ... lembre-se de que eu prometi que as últimas noites
seriam nada perto do que eu posso fazer."
Meu instinto se apertou.

PEPPER WINTERS
Ele era malditamente louco; Tanto que nem sequer tentou
esconder que as contusões multicoloridas no corpo de sua
escrava eram de seus punhos. Alguns outros machucados a
vista, entretanto, pareciam marcas de outra coisa... de sapato,
talvez?
Meu olhar caiu para o meu próprio calçado ridiculamente
caro. De que cor sua pele ficaria se eu o usasse para marcá-la
da mesma forma? Será que seus hematomas seriam mais
bonitos? Será que eu seria mais suave ou mais brutal que seu
dono?
Tantas coisas para descobrir.
Se eu me deixasse ser um monstro como ele.
O que eu não faria.

Eu acho que não.

Eu feri muitas pessoas antes, mas nunca por um prazer


egoísta. Socá-la seria diferente de socar alguém que me
machucou? Dormir com ela seria melhor do que pagar uma
prostituta de alta classe que geralmente apreciava o seu
trabalho quando eram bem tratadas?
Eu precisava de respostas para todas essas perguntas para
poder seguir em frente com a minha vida fodida. E uma vez que
eu saiba o que preciso, eu exterminaria o sofrimento dela.
Morte seria o presente mais gentil que eu poderia oferecê-la.

PEPPER WINTERS
No entanto, será que eu poderia tomar a sua luta final,
sabendo que eu iria matá-la em troca? Isso era frio? Ou eu era
um maldito idiota egoísta, que iria usá-la sem o estômago para
matá-la depois?

Eu acho que o tempo dirá.

Alrik bateu palmas. "Vá pegar a porta, Pim. Não me faça


pedir duas vezes."
A menina imediatamente soltou-se do meu aperto, correndo
da sala para o corredor onde eu tinha lhe dado o meu casaco e
visto seus seios maltratados pela primeira vez.
"Eu sugiro que você siga." Alrik sorriu. "Ela é pequena, mas
ela se move rapidamente. Você não quer perdê-la. Existem
muitos cômodos nesta casa."
Meus olhos se estreitaram, ao ouvir a ameaça, mas não
mordendo a isca.
Sem olhar para trás, eu caminhei atrás da escrava que eu
barganhei para ganhar uma noite com ela. Eu tinha estado
interessado nesta menina desde o segundo que a notei. Cada
vez mais eu ficava mais curioso a seu respeito.
Descendo o corredor, ela virou à esquerda antes de entrar
em uma garagem interna, correndo em torno de um Porsche
branco, e movendo-se em direção ao fundo do espaço.

PEPPER WINTERS
Lá, ela esperou com os olhos baixos, com o corpo virado
para uma jaula trancada onde três portas, bugigangas, caixas
de papelão, e outros apetrechos descansavam na penumbra.
"Essa é a porta?", Perguntei, passando-lhe as chaves para
desfazer o cadeado. A minha pergunta ficou no ar sem resposta.
Eu não recebi um retorno.
Não que eu esperasse um.
Hesitante, ela pegou o chaveiro oferecido, cuidando para
não me tocar.
Virando as costas, ela tentou um pouco antes de encontrar
a chave certa e abrir o cadeado. Seu estranho silêncio foi ainda
mais pronunciado na garagem sem vida.
Nenhum som veio de seus pés descalços, sem barulho de
respiração, nenhum farfalhar de roupas. Era como se eu
estivesse só.
Se eu não a tivesse tocado para me certificar de que ela era
de carne e osso, eu poderia pensar que ela era um fantasma.
Minha mãe a amaria pra caralho.
Não por causa de sua espancada e quebrada aura, mas
porque era muito raro alguém ser totalmente silencioso.
Meu pau endureceu quando a menina se dirigiu para as
três portas que descansam como guardas aposentados na
parede. Eu de onde eram as outras duas, mas ela estava ao lado
de uma branca lacada com marcas de machado e arranhões ao
longo de ambos os lados, sendo prováveis marcas de sua

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tentativa de manter o seu mestre fora do quarto e dele fazendo o
seu melhor para chegar até ela.
Imagens do que essa experiência deve ter sido me
invadiram. Ela encolheu-se e gritou quando Alrik conseguiu
abrir a porta? Ou tinha ela esperado deitada na cama já morta
de terror?

Porra.

Andei para frente.


Minha mão elevou-se.
O desejo de acalmá-la catapultou dos meus dedos em sua
bochecha. Minha pele sentiu o seu calor delicado. Eu já gastei o
meu único toque permitido quando eu tinha acariciado seu
cabelo. Um segundo não me era permitido.
Mas isso não me parou.
Em um momento, ela estava perto de mim, arqueando o
queixo para a porta.
No momento seguinte, ela estava do outro lado da jaula,
alcançando uma pilha de caixas que caíram espalhando facas e
garfos pontiagudos.
Seus olhos se tornaram luminosos na escuridão,
encontrando os meus com raiva.

Merda.

PEPPER WINTERS
Eu me distraí sentindo pena dessa espancada escrava, mas
ela não havia esquecido seu esmagador ódio dos homens.
Eu não desviei o olhar. Mas eu não me explicaria, também.
Eu a tinha como empréstimo por esta noite. Se eu quisesse
tocá-la, eu poderia. O fato de que ela afastou-se de mim
significava que eu poderia denunciá-la ao seu mestre e fazer
com ela fosse castigada.

Ou você mesmo poderia puni-la.

A distância entre nós ficou mais significativa à medida que


respirávamos.
Eu esperei... Querendo saber quão profunda a sua educação
no prazer tinha ido.
Rasgando o seu olhar do meu, ela engoliu em seco. Devagar,
ela escondeu o seu ódio, substituindo-o com certa reticência.
Movendo-se, os seus dedos dos pés jogavam as lâminas
afiadas para o lado enquanto ela aproximava-se de mim e
ajoelhava-se no concreto frio.
Uma parte de mim foi tomada por um desejo louco. A outra
e maior parte se esquivou com repulsa, ao ver seu cabelo
desgrenhado cobrir o rosto, mas não antes de eu ver o desgosto
e o desespero em sua face.

PEPPER WINTERS
"Levante-se," eu murmurei. Mesmo que minha voz fosse
baixa, o vazio da garagem a amplificava, a tornando
proeminente.
Instantaneamente, ela se pôs de pé. Os estalos de suas
articulações e das cartilagens maltratadas dos seus ossos
pareciam um pequeno tiroteio.
"Não se ajoelhe. Não aqui."
Seu queixo se inclinou enquanto ela balançava no lugar.
Constrangimento caiu entre nós. Eu não estava acostumado a
isso. Eu nunca tinha comprado uma escrava antes. Eu estava
acostumado com pessoas fazendo o que eu queria, sem dizer-
lhes. Eu era malditamente ocupado para lidar com microgestão
de pessoas.
Ter esta menina respondendo a qualquer comando em
minhas mãos mostrou-me que eu não era tão mau quanto
pensava. Eu não quero dar-lhe uma tarefa que ela não tinha
escolha a não ser obedecer. Eu queria que ela usasse o seu livre
arbítrio e me escolhesse, independentemente das outras opções
dadas.
Suspirando pesadamente, quebrei a tensão levantando uma
sobrancelha para os utensílios espalhados por seus pés. Eu não
me importava com a bagunça. Eu só me preocupava com essa
garota louca e a raiva furiosa em seu olhar.
Ela me temia. O fedor do seu medo tomou todo o ambiente.
Mas ela me odiava mais do que receava.

PEPPER WINTERS
Será que ela acha que eu iria fazer com ela o que Alrik
fazia?
Ela tinha razão para pensar isso.
Eu ainda não estava certo do por que eu tinha demandado
uma noite com ela.
Seus olhos pousaram-se na faca grande de açougueiro aos
seus pés.
Meus lábios se curvaram, seguindo seus pensamentos.
"Você já tentou alguma vez?"
Seus ombros enrijeceram-se.
"Alguma vez você já tentou matá-lo?"
Um suspiro audível saiu dos seus lábios. Ela queria me
encarar, mas manteve a cabeça baixa.
Esquivando-me, eu peguei a faca, segurando-a pela lâmina,
em vez do cabo. Pressionando o punho de madeira em seu
estômago, eu sussurrei, "Toque-a. Pegue. Fique com ela.
Esconda-a e faça o que quiser com ela." Minha outra mão
envolveu o seu pescoço. "Use-a nele, mas não ouse usar essa
porra em mim."
Sua mão saudável não reivindicou a arma. Peguei seus
dedos, envolvendo-os ao redor do punho, e deixei a ir. No
momento em que o peso do objeto foi transferido de mim para
ela, virei-me e agarrei a porta danificada. Sem dizer outra
palavra, levei-a da gaiola.

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Pimlico respirou fundo, tremendo no lugar onde eu a tinha
deixado. Sua face foi tomada pelo medo, não de mim ou do
sexo, mas da faca. Ela deu alguns passos antes do seu desejo
ser cancelado pela lembrança de qualquer punição que sofreu
no passado.
Uma única lágrima rolou pelo seu rosto quando ela se virou
para pegar as facas e garfos espalhados, colocando a que eu
tinha dado a ela na caixa. Quando o espaço foi arrumado, ela
aproximou-se para mim sem se atrapalhar com o cadeado.

Droga.

Claro, ela não levaria a faca. Quem iria, depois de anos de


abuso, sabendo muito bem o que aconteceria se fosse pego? Ela
era fraca demais para pegar a faca ou forte o suficiente para não
roubá-la? Sem dúvidas ela pensou no assunto. Não havia um
jeito de esconder o objeto. Nenhuma maneira de levá-la para o
quarto dela sem que seu mestre percebesse. Nós provavelmente
estamos sendo filmados a cada passo que damos.
Ela estava certa em deixar a faca pra trás.
Mas eu comandei de qualquer maneira. "Espere." Colocando
a porta contra a gaiola, eu voltei para dentro, peguei a faca da
caixa e guardei nas costas de minhas calças, me assegurando
de que o meu blazer a esconderia antes de sair novamente.
"Agora, você pode fechar."

PEPPER WINTERS
Seus olhos saltaram, mas ela cumpriu o meu comando.
Eu queria ouvir seus pensamentos. O que se passava em
sua mente? Ela estaria preocupada por achar que eu vá usar a
faca nela? Estaria esperançosa de que eu usasse a faca em
Alrik?
Seu silêncio era impecável, deixando-me ansiando
raivosamente por respostas.
Virando-me, eu carreguei a porta enquanto Pimlico
arrastava-se atrás de mim. O tilintar suave das chaves me fez
sorrir.
O barulho soava como um sino.
Um sino ao redor do pescoço de uma ovelha inocente indo
para o matadouro.
Eu só não sabia se eu era o carrasco cruel ou o pastor que a
resgataria.

PEPPER WINTERS
Nós estávamos sozinhos.
Meu quarto tinha uma porta.
Pela primeira vez em mais de um ano.
Meu banheiro ainda não tem uma, e eu podia ver o chuveiro
brilhante da minha posição ajoelhada nos pés da minha cama,
mas, pelo menos, o corredor estava escondido e a paz caiu,
ainda que brevemente, no meu quarto.
O Sr. Prest havia apontado para o tapete branco com uma
sobrancelha levantada quando eu tinha lhe mostrado que o
quarto era o meu. Ele tinha olhado ao redor do espaço
indefinido com uma decepção furiosa.
Eu não sabia por que ele estava com raiva. A decoração era
tão branda e dura que ninguém poderia achar que era muito
berrante.
No momento em que me ajoelhei no chão, Sr. Prest virou as
costas para mim e foi fixar a porta. Ele não podia fazer um
trabalho perfeito, sem as ferramentas necessárias para proteger
as dobradiças, mas a madeira nos impedia de visitantes, e ele
apoiou o aparador em frente a ela, dando-nos um elemento de
privacidade.

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Privacidade.

Bem, na verdade não.

Meus olhos se voltaram para os cantos da sala onde eu


tinha certeza de que câmeras se escondiam.
Eu nunca tinha sido capaz de encontrá-las, mesmo olhando
e sabendo que estavam ali eu nunca tinha visto um flash de
uma lente. Eu deveria dizer ao Sr. Prest, avisá-lo, informá-lo
que tudo o que fizemos aqui seria um show.
Mas como eu poderia quando eu recusava-me a comunicar-
me?
O terror que o Mestre A me fez viver com por tanto tempo
deslizou sobre o meu corpo. Eu estupidamente cedi a um
pequeno segundo de relaxamento quando o Sr. Prest colocou a
porta. Eu finalmente fiquei insana, acreditando que este
estranho e uma frágil barreira de alguma forma me manteria
segura.

Estúpida, Pim. Você não mais está protegida aqui do que você
estava ao correr em torno da mansão.
Eu estou provavelmente ainda mais em perigo.

Era mais perigoso porque eu conhecia o Mestre A. Eu


poderia imaginá-lo andando no andar de baixo, perfurando uma

PEPPER WINTERS
parede ou duas, olhando para o teto, como se pudesse penetrar
no chão e ver no meu quarto. Ele não lidaria bem com a ideia de
eu ser usada em particular.
Ele havia sido banido.

Ele vai fazer alguma coisa ... e logo.

Engoli em seco quando o Sr. Prest se virou para mim.


Será que ele sabia o quão perigosa essa situação era? O
quão frágil, volátil e aterrorizante? No momento em que ele
tinha negociado uma noite comigo, era como se ele tivesse
acionando uma bomba, que estava em contagem regressiva
para explodir.

Por que, oh por que, você não pegou a faca quando teve a
chance?

Pela centésima vez desde que estávamos na garagem, onde


tinha as chaves para tantas coisas que me haviam sido tiradas,
eu me amaldiçoei. Sim, eu não tinha nenhum lugar para
esconder a faca. Sim, Mestre A saberia que eu a peguei, onde eu
coloquei, e muito provavelmente a usaria em mim como uma
lição de que nada era meu para cobiçar.

PEPPER WINTERS
Mas, pelo menos, quando ele invadisse o local (uma vez que
o seu temperamento explodir cansado de nos assistir), eu
poderia ter algo para me defender.
Eu seria punida por tudo, não apenas o pequeno lapso na
garagem.
Eu deveria estar horrorizada, medrosa, chorosa.
Só que eu estava esperando para ser livre por tanto tempo.
Se eu estava na véspera deste acontecimento, então que assim
seja. Esta noite, eu iria me libertar ou morrer.
As duas opções eram igualmente atraentes.
Minha atenção mudou-se para o Sr. Prest. Eu o odiava por
aquilo que aconteceu comigo, mas quanto mais tempo
estávamos juntos, mais minha trama evoluiu.
Ele pediu uma noite comigo, porque ele sentiu o mesmo que
eu.
Ele queria explorar o que era esta sensação crepitante que
existia entre nós.
A princípio, eu tinha planejado ignorá-lo, desligar-me, e
evitar o que ele faria para mim. Mas e se eu pudesse manipulá-
lo para me ajudar? Sim, ele tinha um contrato multimilionário
com o Mestre A que eu duvidava que eu pudesse arruinar...
mas valia a pena a chance.
Eu valia a pena.
Além disso, eu não conseguia deixar de estar curiosa a
respeito do homem que arriscou tudo para estar comigo.

PEPPER WINTERS
O Sr. Prest limpou as mãos na calça depois de tocar a porta
empoeirada. Minha atenção permaneceu quando ele tirou a faca
roubada e colocou-a no aparador bloqueando a entrada.
Ele pensou que me tinha para si mesmo.
Ele pensou que estava a salvo.

Ele está errado.

Respirando fundo, o Sr. Prest passou a palma da mão sobre


sua mandíbula. A cabeça inclinada, olhos se arrastando por
cima do meu vestido branco e a posição que eu estava
ajoelhada. Humilde e submissa. O perfeito brinquedo bem
treinado.
Quanto mais tempo o Sr. Prest me olhava, mais o quarto se
enchia com a mesma eletricidade de antes. Eu tremia,
amaldiçoando os arrepios nos meus braços.
Eu não estava acostumada a alguém usando a mesma
ferramenta que eu.
Eu ficava em silêncio, mas o Mestre A não. Ele enchia meu
vazio com bobagens e ameaças, constantemente me dizendo o
que aconteceria se eu não obedecesse. Sua conversa permitia-
me um refúgio seguro para ficar quieta. Ele impulsionava o meu
desejo de permanecer muda.
Mas o Sr. Prest não era o meu mestre.
E ele entendia o poder do som muito bem.

PEPPER WINTERS
Como um assassino, ele se aproximou da cama para se
sentar no colchão duro.
Minha cama era o único lugar que eu tinha lençóis para
cobrir-me. Mas, como sempre, Mestre A se assegurava de que
eu não tivesse o suficiente, nada quente para ter uma boa noite
de sono. Não que eu dormisse sem ser molestada no meu
próprio quarto muitas vezes, acontecia apenas quando eu
estava menstruada ou quando o Mestre A ficava doente.
Eu achava surpreendente que em todo esse tempo ele
contraiu gripe duas vezes, teve três constipações e febres,
passou mal duas vezes com dor de estômago (doenças pelas
quais ele me culpou), mas eu não adoeci nenhuma vez.
Mesmo no meu estado de desnutrição.
Movendo-se na cama, e inclinando-se contra a cabeceira
branca onde eu escrevia minhas notas a ‘Ninguém’, o Sr. Prest
deu um tapinha no espaço ao lado dele. "Vem."
Eu tenho um diploma em obediência, graças ao meu
treinamento. Eu poderia não estar na universidade como meus
amigos, mas isso não significava que eu não tinha obtido um
doutorado em cumprir ordens.
No entanto, não foi a submissão que me fez obedecer... Era
a astúcia.
Eu precisava aprender sobre este homem para que eu
pudesse enganá-lo, conquistá-lo e encontrar uma maneira de
usá-lo.

PEPPER WINTERS
Você vai me dar o que eu quero.
Você verá.
Mantendo a cabeça baixa, eu subi (tomando cuidado com a
mão quebrada) e mais uma vez ajoelhei-me com meu queixo
abaixado. Eu nunca tinha permissão para deitar-me por
completo. Meu corpo estava acostumado a ser enrolado e
amarrado, contorcido em qualquer posição que desse prazer ao
meu estúpido mestre.
Ciúme encheu-me quando o meu olhar caiu sobre as pernas
estendidas, longas e ágeis, cruzadas nos tornozelos com uma
confiança indiferente.
Ele não tirou os sapatos, e o couro preto absorvia a luz
escassa. Eles não eram brilhantes ou ostensivos, combinando
com seu estilo sóbrio e escuro ‒ acentuando seus profundos
olhos de ébano e seu cabelo cor de carvão.
Mudando um pouco, ele estendeu a palma da mão, onde
uma pilha de moedas de um centavo manchadas descansavam.

Qual o problema desse cara com as moedas?

Derrubando-as ao seu lado, uma cascata de cobre caiu nos


meus joelhos.
Ele não falou enquanto o dinheiro tilintando rolava,
descansando contra a minha pele como se eu fosse um ímã.

PEPPER WINTERS
"Eu não vou perguntar de novo, porque eu vejo agora seus
pensamentos valem mais do que meros tostões." Pegando uma
moeda que tinha saltado para trás em sua direção, ele a jogou
com o polegar, girando-a no ar. "Então eu vou fazer perguntas
sem oferecer uma recompensa. E você vai responder-me, porque
é o que deseja.”

Eu nunca vou querer falar; para você ou qualquer um.

"Diga-me o que eu quero saber. Você está aqui comigo,


longe daquele idiota ‒ pelo menos por enquanto... então fale.”

De jeito nenhum.

Minhas defesas se acionaram, identificando a armadilha, já


sentindo as pinças frias de uma cilada em volta do meu
pescoço.
"Você quer falar comigo."

Não, eu não quero.

"Sim, você quer, menina."

Menina, ugh.

PEPPER WINTERS
Por que ele usa o meu nome? Mesmo que ‘Pimlico’ não fosse
meu nome de verdade.
Eu era tão insignificante que não merecia ser chamada da
forma correta? Será que ele acha que eu não dou digna de um
nome, devendo ser chamada por um adjetivo ou verbo?
Eu não me movi.
Não encolhi os ombros ou pressionei levemente a cabeça.
Meu corpo estava amordaçado, assim como a minha boca.
A voz do Sr. Prest pairava no espaço por muito mais tempo
do que o habitual. As palavras suaves eram como a fumaça de
uma vela apagada, ainda visível, mas enfraquecendo lentamente
quanto mais o tempo passava.
Quando a sílaba final foi extinta, ele murmurou, "Você não
gosta disso, não é?"

Gostar do quê?

"O fato de eu não usar o seu nome."


Meus olhos se arregalaram até que a pele delicada ao redor
deles apertou-se com o choque. Que diabos?
Ele sorriu. "Qual é o seu nome?"

Você sabe meu nome.

"Deixe-me reformular isso... qual é o seu verdadeiro nome?"

PEPPER WINTERS
Eu me transformei em pedra. Você nunca saberá.
"De onde você vem?"

Não é da sua conta.

Eu o encarei mais duramente; seus olhos se estreitaram em


frustração. "Quantos anos você tem?"

Muito velha. Muito jovem.

A novidade de ser questionada ameaçou quebrar o meu


mundo de pesadelos. Ele era perigoso, mas também muito
insano e comum. Se eu tivesse ido a mais encontros, os rapazes
teriam me perguntado exatamente as mesmas coisas.
E naquela época, eu teria respondido.
Mas não aqui.
Agora não.
Rindo em voz baixa, ele se inclinou para frente. Suas pernas
dobraram-se para apoiar o seu torso ereto; o colchão balançou
um pouco sob seu peso.
"Você sabe, eu estive em torno de muitas pessoas que não
falam." Ele movimentou uma moeda pelos nós dos dedos com
graça e sem esforço. "Isso não me incomodava naquela época, e
isso não me incomoda agora." Pegando a moeda na mão, ele

PEPPER WINTERS
rosnou, "Eu vou conseguir respostas que eu quero de você,
Pim".

Pode tentar.

Seu sorriso se tornou frio. "Antes de nós terminamos, eu


saberei mais do que qualquer besteira superficial. Eu vou saber
quem você é..." Ele atirou-se para frente, com um dedo
apunhalando o meu peito. "... aqui dentro."
Eu vacilei sob o seu toque. Ele atingiu uma contusão
anterior, ampliando a dor. Não que fosse difícil achar lesões no
meu corpo.
Seus olhos prenderam-se nos meus.

Eu queria gritar. 'Você acha que pode me decifrar? Eu que


vou conhecê-lo melhor. Que tal uma troca de informações?

Ele poderia ter os meus segredos se me contrabandeasse


para fora daqui. Havia algo sobre este homem. Algo
desconhecido, intrínseco e essencial. Muito, muito essencial.
Eu não conhecia o seu monstro interno, mas isso não
significa nada enquanto eu olhava em olhos profundos,
sentindo o desafio de guerrear com ele.

PEPPER WINTERS
Quanto mais nos olhávamos, mais profunda a nossa ligação
desconhecida se tornou. A eletricidade maldita estava de volta,
fluindo sem limites, sibilando no meu sangue.
Nunca olhando para longe, seu dedo pressionando em meu
peito se tornou dois, depois três, depois quatro, até a sua mão
inteira pressionar o meu esterno.
Eu fiquei parada. Eu não podia me mover quando ele se
aproximou, com as narinas se dilatando, ao tocar os meus
seios.
Lágrimas brotaram. Em parte devido ao seu toque terno,
mas principalmente devido ao peso do seu olhar que me
empurrava profundamente no colchão. Meu coração não tinha a
menor chance, desistiu de tentar vencer e apenas tombou-se se
fingindo de morto.
"Você gosta disso?"
Seu sussurro quebrou o feitiço.

Não.
De modo nenhum.

Mordendo o lábio inferior, ele parecia mais jovem e mais


imprudente ao mesmo tempo. Eu nunca conheci ninguém como
ele. Nenhum menino em meu passado ou homem em meu
presente. Ele era estranho, fascinante e completamente
assustador.

PEPPER WINTERS
O Sr. Prest olhou para onde me tocava. Seu polegar roçou o
meu mamilo. A maldita coisa floresceu para ele.
Ver o brilho branco de seus dentes quando ele mordeu o
lábio mais duramente me fez ficar ainda mais arrepiada. Eu
nunca pensei que um homem mordendo o lábio seria tão
excitante.
Mas por Deus, era.
De alguma forma, ele me fez esquecer que eu não estava lá
por minha própria vontade ‒ que não estávamos em um
encontro e que não havia um proprietário louco a ponto de
estourar a porta no momento em que o Sr. Prest tentasse
dormir comigo.
Lembrar-me disso me fez congelar, acabando com todo o
desejo. A conexão que fluía do seu corpo para o meu cessou de
repente, como se eu a tivesse executado.
Afastando-me para trás, eu mantive meu queixo alto. Sua
mão deslizou do meu peito, caindo pesadamente em seu colo. O
silêncio tornou-se um inimigo em vez de um amigo quando a
nossa respiração caiu em um ritmo lento e esfarrapado.
"Você é diferente do que eu pensei que seria." Sua voz
lambeu onde seu toque tinha sido.

E você é diferente de quem eu pensava que era.

PEPPER WINTERS
Ele passou a língua sobre seu lábio, onde seus dentes
tinham beliscado. "Você sabe por que eu pedi uma noite com
você?"
Eu enrolei minha mão boa ao redor do meu corpo quebrado,
para protegê-lo, mas apertando um pouco demasiado duro.

Não.

Ele olhou para o teto, reclinando-se contra a cabeceira da


cama novamente. "Nem eu." Jogando um centavo para cima, ele
o pegou como um gato pega um rato, golpeando-o com seu
punho. "Mas nós temos toda a noite para descobrir."

Não, nós não temos.


Temos até Mestre A enlouquecer e vir te atacar.

Eu o vi através dos meus olhos baixos. Ele esparramou-se


na minha cama como se fosse o dono de tudo no quarto e não
só de mim. O cheiro de sua colônia exótica entrelaçou-se com o
ar fresco e sua própria atitude exalava confiança e poder,
afastando de mim a ideia aterrorizante do mestre A aparecer a
qualquer momento.
Abandonando a moeda, ele me lançou um olhar.
Abaixei a cabeça, com raiva que eu tinha sido pega o
olhando.

PEPPER WINTERS
Com um leve sorriso, ele abriu seu blazer e tirou um
telefone celular fino do bolso do peito. "Quase esqueci."
Desbloqueando o dispositivo, ele discou um número, com os
olhos colados em mim enquanto quem ele ligava atendeu.
"Selix, não vou precisar do carro hoje à noite."
A resposta metálica soou, mas não consegui distinguir as
palavras.
"Sim, tenho certeza. Vou ficar a noite. Vamos partir na
primeira hora amanhã."

Partir? Para onde ele irá?

Eu queria que ele fosse. Agora. Antes que eu pudesse


perder-me ainda mais. Mas eu queria que ele me levasse com
ele.

Liberte-me.
Eu não me importo se você me largar nas ruas.
Apenas ... me tire daqui.

"Certo, tudo bem. Fique aí fora. Eu não desejava que você


fizesse isso, mas se você quer dormir no carro, que assim seja.
Vou sair quando amanhecer." Terminando a ligação, ele jogou o
telefone no fim da cama.
Meus olhos seguiram o objeto.

PEPPER WINTERS
Um telefone.
A curta distância.
Poucos segundos se passaram enquanto eu ficava de boca
aberta.
"Acho que você não tem permissão para usar a tais coisas."
O Sr. Prest riu suavemente. "Ele não morde."

Não, mas eu poderia ligar para minha mãe, meus amigos... a


polícia.

Mais uma vez, a sua capacidade irritante para ler a minha


linguagem corporal apareceu. "Ah, você está pensando em ligar
para sua família." Usando a ponta de um pé, tirou um sapato,
seguido pelo outro, chutando os dois para fora da cama e
revelando seus pés cobertos por meias pretas. "De qualquer
forma, vamos tentar. Vou lhe dar uma chance para ligar para
quem quiser. A senha é 88098."

Eu tremi.
Quer dizer que... você não irá me impedir?

Quem era esse homem? E qual era o seu objetivo?


Cruzando os braços atrás da cabeça, ele sussurrou, "Eu não
vou dizer." Fechando os olhos, de alguma forma estranha me
dando privacidade, ele descansou sua cabeça suas mãos.

PEPPER WINTERS
Por um minuto sem fim, eu encarei o telefone. Tudo o que
eu precisava fazer era pegá-lo e discar. Eu poderia falar com
minha mãe depois de tanto tempo. Eu poderia finalmente
informar a alguém o que aconteceu comigo, pedir-lhes para vir,
e acabar com esse terror.
"Claro, que para usá-lo, você terá que falar." A voz do Sr.
Prest colocava obstáculos no meu caminho. "Está em suas
mãos, Pimlico. Fale e ganhe a sua liberdade. Ou não e o telefone
não terá serventia.”
Meus pulmões expandiram-se com raiva. Esse era o seu
jogo o tempo todo. Maldito seja ele. Ele quase ganhou. No
entanto... se ele me permitir fazer a ligação, e eu falar com
minha mãe ... Quem realmente ganha? Eu ou ele?

Nós dois.

Meu corpo decidiu antes de minha mente. Minha mão boa


alcançou o dispositivo e o segurei como uma tigresa faria com
seu filhote.
O Sr. Prest nunca abriu os olhos, mas a sua boca mostrou
um sorriso. "Estou ansioso para ouvir a sua voz."
Ignorando a sua provocação, eu acionei a tela de entrada e
teclei a senha. O código brilhou na minha cabeça, para nunca
mais ser esquecido. No momento em que o menu chamada

PEPPER WINTERS
apareceu, disquei o número da minha antiga casa, cometi três
erros por causa de minhas mãos severamente trêmulas.
Eu tinha um telefone.
Eu estava a segundos de distância de falar com a mãe que
me enfiou nesta bagunça.
Minha garganta se fechou com o pensamento do do Sr.
Prest arrancando o celular das minhas mãos e rindo. Ou que o
Mestre A escolheria este momento exato invadir o quarto. O
pânico rodando. O que eu diria para a mulher que eu tinha
culpado por tanto tempo?
Eu esperei e esperei para a linha para se conectar.

Mãe...
Socorro.
Bip, bip...

Com cada toque, minha espinha rolou até que me agachei


na cama com meus cotovelos cavando o colchão. Eu não
consegui controlar o tremor, nem o nó em minha garganta
quebrada quando uma mensagem automática respondeu, ao
invés da mulher que me levou a esta vida.
"Sinto muito, o número que você ligou foi desconectado.
Nenhum contato de encaminhamento foi dado. Por favor, use
outro meio de comunicação ou ligue para o diretório local para
obter mais informações.”

PEPPER WINTERS
Não.
Não.
Não!

O telefone caiu da minha mão, batendo suavemente


enquanto minha testa pressionou duramente na cama.
Ela não apenas se esqueceu de mim, como também seguiu
em frente, vivendo outras experiências e construindo um
império sem eu ao seu lado.
Eu não era nada.

Por que não chamei a polícia?


Você tinha uma chance!

A pergunta me esfaqueava quando o Sr. Prest pegou seu


telefone e acabou com a oportunidade de comunicação.
Eu tive uma única oportunidade de ligar para obter ajuda e
fui uma menina idiota e desesperada para falar com sua mãe.
Eu queria me dar um tapa.
Por um segundo fugaz, o Sr. Prest acariciou meu ombro
antes de se acomodar novamente contra a cabeceira. "Bem, que
merda. Eu acho que não vou ouvi-la falar no fim das contas."

PEPPER WINTERS
BEM ESSA PORRA saiu pela culatra.
Eu não tinha planejado dar-lhe a opção de falar com o seu
passado, simplesmente aconteceu. Em um momento, meu
telefone era algo tão comum, uma ferramenta que eu usava a
cada hora, de cada dia. No próximo ele era como a porra do
elixir sagrado para esta criatura delicada, que tremia como se o
celular pudesse se transformar em um portal e levá-la para
longe.
Minhas mãos se fecharam em punhos apertados. "Para
quem você ligou?"
Sua cabeça afundou-se ainda mais no colchão. Um colchão
tão duro quanto uma pedra. Ela não era somente espancada‒
todo o seu corpo e rosto ostentavam marcas roxas‒ mas seu
único lugar de conforto garantia que a tortura fosse contínua.
Fiquei confuso tentando imaginar para quem ela ligou. O
pai? Irmão? Namorado? Quem diabos não tinha estado lá para
ela quando ela finalmente teve a oportunidade de pedir ajuda?

Não seja um maldito hipócrita.

PEPPER WINTERS
Eu não tinha o direito de desprezar os entes queridos do seu
passado por não salvá-la quando eu estava prestes a fazer
exatamente a mesma coisa que todos os homens em seu
presente faziam. Eu deveria dar-lhe outra chance, deixá-la
chamar a polícia.

Seja melhor do que aqueles que a prenderam.

Esse pensamento deveria me impedir.


Mas ele não fez.
Não depois de eu ter tocado seu peito e minha pele detonou
como as armas que eu lidava. Eu me conhecia, e eu sabia quais
eram os meus limites. Eu poderia me afastar de outras
tentações antes que elas se tornassem fortes o suficiente para
não serem ignoradas. Mas eu duvidava que eu pudesse me
afastar dela, sem ter o que eu precisava.
"Sente-se..., menin- Pim". Corrigi meu erro. Quando eu
tinha chamado 'menina' antes, seu corpo liberou onda de
indignação tinha me dado uma pista. Ela odiava ser uma
propriedade de alguém, mas queria pertencer a um nome.
Uma contradição interessante, resultando em mais segredos
que eu precisava descobrir.
Prendi a respiração, esperando para ver se o seu desespero
iria se sobrepor ao meu comando.

PEPPER WINTERS
Ele não o fez.
Lentamente, sua espinha se ergueu como uma maldita flor
tentadora, levantando os ombros, dobrando o pescoço, e
mostrando o seu rosto raivoso e triste.
Eu não tinha mentido sobre estar perto de outras pessoas
que não falavam a fim de ganhar talentos em outras áreas. Eu
tinha sido iniciado em tal sanção.
Desde o dia em que cheguei ao dia em que saí em desgraça,
os mestres nunca falavam esperando que nós soubéssemos
exatamente o que eles queriam. Eu aprendi outra língua,
tornando-me mais do que bilíngue, mas multilíngue,
compreendendo as nuances do movimento de sobrancelhas,
obtendo dicas em contrações musculares. Quanto mais ficava
em sua presença, mais utilizava essas habilidades.
Limpando a garganta, olhei ao redor do quarto. Não deixei
de notar o modo pelo qual ela ficou olhando para os cantos
superiores das paredes, enquanto eu prendia a porta. Existiam
câmeras e alarmes em toda a maldita casa, até mesmo nos
vidros das janelas.
Eu negociei uma noite ininterrupta, mas eu não iria
conseguir. Alrik não seria fiel à sua palavra. E o pensamento de
estar nu e com as bolas no fundo de sua escrava ‒ vulnerável e
passível de ser surpreendido ‒ não era algo que eu planejava
deixar acontecer.

PEPPER WINTERS
No momento em que Pimlico descansou na posição vertical
sobre os joelhos, eu disse: "Esqueça o telefone. Ninguém mais
existe, somente nós."
Seus olhos brilharam, mas impediu que seus pensamentos
se mostrassem completamente.
"Nesta sala, não há passado nem futuro, apenas o presente.
Tudo que você precisa fazer é se comportar, e eu vou tratá-la
melhor do que os outros."
Sua mandíbula se apertou.
"Não acredita em mim?"
A contração de seu queixo me deu a resposta.
"Você não tem que acreditar em mim. Eu vou provar isso."
Colocando-me de joelhos, eu imitei sua posição. Ao contrário
dela, minhas articulações não estalavam com relutância. Meu
corpo estava afiado, treinado e tratado como uma ferramenta de
valor inestimável, porque isso era o que ele era.

No entanto, você quer arriscar sua saúde, fodendo esta


menina.

Bem, isso e algo a mais.


Eu queria entrar em sua mente maldita... mesmo que eu
tivesse que machucá-la para conseguir tal feito.
Eu iria.

PEPPER WINTERS
Eu congelei enquanto o Sr. Prest se equilibrava de joelhos
diante de mim.
Seu terno farfalhou quando ele estendeu a mão e colocou as
mãos grandes sobre os meus ombros. Seus olhos caíram para
os meus seios como se a obstrução do vestido branco não
escondesse o que estava por baixo.
Eu fiquei tensa, esperando que ele me tocasse lá
novamente. No entanto, seus dedos apertaram os meus braços
esqueléticos, aumentando a pressão até que eu balancei a
contragosto.
Eu lutei com ele, fazendo o meu melhor para ignorar o seu
impulso.

O que diabos ele está fazendo?

"A primeira coisa que quero de você é que..." Ele me


empurrou, sorrindo enquanto me deitava de lado, com as mãos
espalmadas para aparar a minha queda e as pernas
entrelaçadas. " ... pare de se sentar assim."

PEPPER WINTERS
O quê?
Como uma mulher que não tem uma escolha?

Quase como se ouvisse a minha mente, ele mais uma vez


colocou pressão sobre meus ombros, forçando-me a deitar.
"Relaxe."

Sem chance.

Eu me contorci para ficar em uma posição vertical,


estremecendo com a dor e os ossos latejantes na minha mão.
Eu não confiava nele para não me dar um soco no estômago
ou tirar proveito do meu corpo quando me deitasse.
Ele não me deixou levantar, prendendo-me no colchão com
os dedos em torno de minha garganta.

Me solte.

Eu parei de respirar.
Meus músculos travaram-se.
O seu toque levou-me me em um redemoinho de horror.

Ele está tocando meu pescoço.

PEPPER WINTERS
Meus lábios se separaram para respirar, lutando duramente
para não afundar.

Ele não é Mestre A.


Ignorar este gatilho.
Ignore isto!

Nossos olhos se encontraram amplos, suas mãos


estreitaram-se quando seu corpo pairou perto do meu.
Não.
Eu não sabia o que eu pedi a ele para não fazer. Mas ele
endureceu com a boca a milímetros dos meus lábios. "Continue
lutando comigo, Pimlico, e nós vamos ter um problema do
caralho."
Sua voz me prendia em uma rede, impedindo que eu
afundasse no escuro desprezível.
Como ele poderia saber que eu estava lutando com ele?
Como é que ele pode ouvir as minhas retóricas silenciosas?
Eu não podia me esconder dele.
Eu odiei isso.
De repente, ele se sentou de volta, soltando o meu pescoço e
passando a mão pelo cabelo.
Eu respirei aliviada.
"Existe algo que você deve saber sobre mim, garota." Ele
mostrou os dentes ao dizer a palavra abominável. "Eu não sou

PEPPER WINTERS
seu mestre. Como eu disse antes, eu vejo mais do que ele faz.
Eu sei mais do que ele sabe. E eu ouço todas as recusas que
você pensa."
Levantando-se de joelhos, elevando-se sobre mim, ele
murmurou, "Eu sei que você tem medo de que eu te machuque
como ele e tire vantagem de você."

E não vai? É para isto que estamos aqui.

Eu olhei para a parede, interrompendo-o.


O Sr. Prest agarrou meu pulso, traçando seu polegar em
torno da articulação óssea. "Olhe para mim."
Eu não fiz.
Sua voz tornou-se um silvo. "Olhe para mim."
Fizemos contato visual.
Algo disparou, cresceu e colidiu. A energia elétrica tornou-se
pior, cantarolando com o poder.
Merda.

Feche seus olhos.


Faça!

Mas eu não podia.


Como cimento, seu olhar me manteve presa, incapaz de me
libertar.

PEPPER WINTERS
Seus lábios se espalharam mostrando dentes brancos e
perfeitos. "Ah, finalmente... uma resposta." Sorrindo com frieza,
ele disse: "Eu adivinhei corretamente, não é?"

Não.

"Eu adivinhei. Você não tem que refutar." Movendo-se, ele


reclinou ao meu lado, seu corpo não tocava o meu diretamente,
mas eu senti o seu calor escaldante, de forma que era a mesma
coisa. Seus dedos não soltaram o meu pulso, acariciando-o com
pequenos toques do seu polegar. "Que tal começar outra vez?"
Ele trouxe a minha mão ao nariz, inalando meus dedos.
"Você pode sentar-se no momento que quiser, mas tudo o que
você fizer, eu vou fazer também. E tudo o que eu fizer, você faz.
Seu polegar pressionou duramente na carne delicada entre os
ossos quebradiços de meu pulso. "Combinado?"

Sem acordo.

Seus dedos me apertaram mais forte.


Ele me segurou em um lugar tão não-sexual, mas a minha
pele queimava sob seu toque. Eu parei de respirar ao sentir a
eletricidade se espalhar e ficar mais difícil de ignorar.

PEPPER WINTERS
"Você quer que eu continue apertando?" Seus olhos se
estreitaram enquanto meus dedos ficavam brancos com a perda
de sangue. "Porque eu vou se você não concordar."
Se eu fosse metade tão obediente como eu pensei que era,
gostaria de balançar a cabeça e deixar que ele me manipulasse
em tudo o que escolhesse. Mas algo sobre a maneira pela qual
ele me segurava me fez pensar em coisas que eu nunca tivesse
acesso.
Eu nunca gostei de sexo, beijos ou carícias.
Eu duvidava ‒ após passar por toda essa experiência ‒ que
algum dia fosse encontrar prazer em tais atividades. Eu sabia
disso nas profundezas da minha alma. Mas a forma como este
homem estranho me tocava me tornou desesperada e faminta
por coisas que eu não sabia que desejava. Coisas não
relacionadas ao sexo e dominação, mas a igualdade e amizade.
Deus, eu queria um amigo.
‘Ninguém’ me fazia companhia, mas meus rabiscos não
eram o suficiente.
Nada era suficiente.
Ele riu baixinho, seu polegar pressionando sobre o espaço
entre os ossos, onde artérias e veias fluíam. A pressão
aumentou quando ele avançou um, dois, três centímetros para
acima no meu braço, me fazendo tremer.
"Você vai me dizer o que eu quero saber."

PEPPER WINTERS
Meu corpo estremeceu quando seus dedos se enrolaram em
volta do meu cotovelo, me causando uma nova enxurrada de
arrepios.
"Você vai falar comigo."

Falar?

Meus olhos nebulosos se voltaram para o teto, procurando


onde Mestre A estaria espionando. Será que suas câmeras têm
capacidade de escuta, também? Será que ele me vê deitada ao
lado do Sr. Prest e estava acreditando que eu estava falando
agora, mas nunca tinha falado com ele?
Meu coração abriu um alçapão e mergulhou em um abismo.
Se ele pensar que eu estava conversando com um homem
que ele desprezava, ele não iria me matar. Ele me rasgaria em
pedaços minúsculos de forma excruciante.
Com dispositivos de escuta ou não, eu não podia permitir
qualquer indício de imagens em que eu respondia algo.
Eu me levantei, não me importando com a minha mão
quebrada enterrada no colchão. Não ligando que minha testa
batesse contra o Sr. Prest, me trazendo agonia e me fazendo ver
estrelas negras. Tudo que eu queria era ficar longe de tudo o
que ele queria, porque o pensamento de falar com ele por um
segundo não era horrível.
Mas agradável.

PEPPER WINTERS
Gemendo, ele recuou, segurando a testa da mesma forma
eu segurava a minha. "Droga."

Ouch!

Montei a onda de dor, bloqueando-a lentamente.


No entanto, o Sr. Prest ia me bater. Esfregando sua pele, ele
sacudiu a cabeça. "Eu sabia que você ia ser perigosa para a
minha saúde, mas eu não achei que você ia tentar me tornar
inconsciente."
Pisquei, erradicando a visão das estrelas.

Bem feito.

"Eu não merecia isso." Seus olhos negros se estreitaram.


"Eu não vou te machucar."
Sim, você vai.
Respirando fundo, ele colocou-se em nossa posição original
de joelhos. Suas calças se apertaram em torno de suas coxas
poderosas, lutando contra as costuras. A protuberância entre as
pernas parecia maior do que a do mestre A, o que me
aterrorizou.
Processando tudo o que tinha acontecido, ele me chamou
com o dedo. "Levante-se. Vendo como você prefere estar sentada
desta forma, faça o que faço."

PEPPER WINTERS
O que ele estava tentando alcançar? Como eu poderia
antecipar o seu próximo jogo quando ele próprio não sabia o
que ia fazer comigo?
Eu me senti como um cachorro seguindo seu líder enquanto
eu copiava sua respiração profunda, me joelhando, e recuando
tanto quanto possível. No entanto, eu não conseguia parar a
sensação nervosa que ele tinha evocado dentro de mim. Eu não
queria ter nada a ver com o interesse latejante que era tão
estranho para mim como refeições regulares e sair ao ar livre.
"Lembre-se, Pim. Novas regras. O que você faz, eu faço. E o
que eu faço, você faz." Com os dedos elegantes, ele espalhou o
material caro de seu blazer para os lados, revelando camisa
preta que vestia por baixo. Lentamente, ele mexeu o tirou,
jogando-o para fora da cama como se ele não tivesse nenhum
valor, o tempo todo me olhando como se eu fosse uma sedutora
inestimável.

O que ele vê em mim que justifique colocar sua vida em risco?

Eu devia arrancar meus olhos. Para parar de olhá-lo. Mas


ele queria que eu o visse.

Eu não posso negar que eu quero vê-lo.

PEPPER WINTERS
Não importa que eu ache que ele é algo raro e confuso. O
fato dele encurralar a minha mente, forçando-me a ficar
presente não me incomoda. Mestre A apenas tomava. Ele me
dava a oportunidade de desligar os meus pensamentos e
abandonar o meu corpo ao seu bel prazer.
Sr. Prest não é assim.
Junto com a rebeldia, ele trouxe vida e consciência de volta
para o meu corpo, mesmo que esses sentimentos tenham me
levado a bater minha testa contra a dele e sentir um
formigamento indesejado na barriga, eu não poderia desligar a
minha mente porque a noite foi ao mesmo tempo longa e curta.
Em breve, tudo estaria terminado.

Graças a Deus, vai acabar.


Ele irá embora.

Ele vai... me deixar .


Meus ombros caíram um pouco antes de que eu me
lembrasse que era isso o que eu queria. Eu o odiava por causa
das consequências que eu teria que sofrer quando ele saísse
pela porta.
Mestre A provavelmente iria me matar, isto era tudo o que
eu podia esperar do futuro. Uma morte limpa em vez de uma
punição interminável.

PEPPER WINTERS
A menos que o meu plano funcionasse e o Sr. Prest me
roubasse.

O que o Sr. Prest fará no futuro? Governar um império, em


um reino que eu só podia imaginar, em um palácio que eu só
podia sonhar.
Desviando os meus olhos, eu fiz o meu melhor para
silenciar os pensamentos indesejados e voltar para a minha
posição sem vida.
"Você pode olhar", ele sussurrou. "Eu tenho plena intenção
de olhar para você." Seus ombros tencionaram quando ele
moveu os braços acima de sua cabeça e agarrou a parte de trás
de sua camisa. Com um olhar escuro, ele arrancou a peça de
roupa, despindo um peitoral eu só tinha visto em minhas
fantasias.
Para um homem com características de etnias mistas, seu
corpo não deixava dúvidas do que o fez se destacar neste
mundo. Braços longos e ágeis com bíceps perfeitamente
proporcionados e antebraços firmes. Seu peito era amplo, mas
não muito largo, seu peito tinha oblíquos definidos e um
tanquinho que parecia querer escapar de sua pele.
Mas nada disso importava enquanto meus olhos se
desviaram para a obra-prima principal.
Respirei com reverencia.

PEPPER WINTERS
Sua caixa torácica era visível. Sua carne aberta, revelando
um dragão escondido sob os ossos.

Isso não pode ser verdade.

Mas era.
Meus dedos coçaram para tocá-lo, para inserir a minha mão
na câmara do seu peito e tocar o réptil que sibilava lá dentro.
Em algum lugar dentro de mim, eu sabia que não era real,
apenas um truque excelente. A tatuagem foi feita de modo
tridimensional, parecendo tão realista, que eu jurei que estava
olhando para dentro do seu corpo e testemunhava o coração
batendo na mesma frequência que o dragão exalava sua
fumaça, protegendo seu mestre como o porteiro para a sua
alma.
Sr. Prest não se mexeu. Sentado sobre os calcanhares, ele
permitiu minha inspeção enquanto eu balancei para frente,
presa na ilusão, pensando que se eu me virasse para a
esquerda ou para a direita, eu veria o seu baço, fígado e os rins.
A imagem era tão bem feita e profundamente detalhada, que eu
me contorci com o pensamento de ossos verdadeiros
pressionando contra mim sem estarem envoltos em carne
humana.
"Não é real." Ele passou a palma da mão sobre seu lado que
parecia cavernoso e aberto. Seus dedos não se mancharam de

PEPPER WINTERS
sangue ao tocar na caixa torácica exposta e nem foram
mordidos pelo dragão silvando em sua cavidade. "Vê?"
Soltando sua mão, ele apontou o queixo para minha forma
congelada. "O que eu faço, você deve fazer também." Sua
sobrancelha levantou-se, terminando sua sentença. “Retire a
sua roupa.”
Eu endureci.
Estar nua na frente dele não me assustava. A nudez era
apenas mais um código de vestimenta. Mestre A me ensinou
que não existem lugares particulares ou secretos em meu corpo.

Mas isso foi antes de ver a beleza dele, com ou sem adornos.
Tudo o que eu tinha para oferecer eram contusões
lamacentas e pele privada de sol.
O Sr. Prest abaixou o queixo, os olhos escurecendo.
"Obedeça."
A palavra ondulou de sua boca para os meus ouvidos.
Tornando-me irritada e atordoada.

Ele quer olhar-me?


Bem.

Quanto mais tempo eu gasto em sua companhia, mais eu


sentia a hesitação de sua parte. Ele não era como os outros que

PEPPER WINTERS
já teria me virado e me tomado sobre a cama no momento em
que a porta estava no lugar.
Ele não estava aqui para me levar rapidamente.
Ele não estava aqui para tomar alguma coisa física.

O que é que ele quer?


E o que vai acontecer se ele conseguir?

Sentada sobre os meus joelhos, eu inclinei meu queixo para


o canto do quarto, procurando mais uma vez para o portal por
onde o Mestre A nos vigiava. Rangendo os dentes, esperando a
porta se abrir com estilhaços e tiros de canhão, eu agarrei a
bainha do vestido branco e o empurrei sobre a minha cabeça.
A brisa do ar condicionado lambeu a minha carne. Tornei-
me consciente de quando o Sr. Prest respirou profundamente,
ao olhar para o meu corpo, partindo dos meus lábios, para
meus mamilos até o meu núcleo.
A maneira como ele me observava torcia meu estômago.
Eu não era bonita como ele.
Mas por alguma razão, ele viu algo em mim que eu tinha
perdido há muito tempo.
Inclinando-se, pegou o vestido de minhas mãos e jogou-o no
chão. "Foda-se, é pior do que eu pensava. Mil vezes pior.”

Pior?

PEPPER WINTERS
Qualquer confiança que ele tinha me concedido rasgou-se
em bolhas cheias de lágrimas.

Pior!?

Como ele ousa dizer uma coisa dessas!


Com nada para esconder-me, eu passei meus braços em
volta do meu corpo, fazendo o melhor para proteger a minha
nudez que ele disse que era a pior que já tinha visto.
Raiva golpeou minha consternação. Eu não escolhi ser
assim. Eu não quero ser tão magra e quebrada. Como ele se
atreve a me destruir tão insensivelmente?
Eu quase queria Mestre A aparecesse. Pelo menos, não
importa quão feia e abatida eu fosse, ele sempre me queria.
O Sr. Prest se moveu, suas grandes mãos cobrindo a
protuberância entre suas pernas. "Eu tinha planejado encontrar
prazer em você hoje à noite." Ele não foi sutil ao agarrar o
contorno de seu pau grosso em suas calças. "Eu tinha
planejado te comer porque, apesar de seu senso de moda
horrível e cabelo selvagem, você me excitou."
‘Excitou’.
Não ‘excita’.
Eu deveria estar grata por sua atração ter ficado no
passado. Isso significava que o quer que estes poucos minutos

PEPPER WINTERS
loucos foram, estava acabado antes que Mestre A invadisse o
lugar.
Ele olhou para o que ele acariciava. "Isso assusta você?"

Que você me queria?


Não.

Eu era bonita, muito tempo atrás, mas isso não quer dizer
que meu cabelo castanho escuro e olhos verdes me tornava
atraente para todos os garotos. No entanto, nesse ambiente, eu
poderia dizer com segurança que todos os homens me queriam.
Porque todos os homens que entraram em contato comigo eram
cães violentos, não me vendo como uma pessoa, mas como uma
representação: a liberdade de foder e ferir alguém sem
repercussões.

Até ele, é claro.

Minha cabeça nadou conforme a confusão me deixava tonta.


"Infelizmente, agora eu vi o que ele tentou esconder sob
suas roupas horríveis." Seu lábio superior enrolou-se com
repulsa. "E essa porra muda tudo."
Eu não podia encará-lo ‒ não podia olhar um homem que
me negociou para me ter e depois me dispensou assim que eu
tirei a roupa.

PEPPER WINTERS
Eu era uma escrava.
Eu não tinha nada próprio.
Minha autoconfiança era uma coisa frágil maltratada, e ele
tinha acabado de pegar o último pequeno pedaço dela restante e
pisou em cima.
Sugando uma enorme rajada de ar, o Sr. Prest esfregou o
rosto. "Abaixe os braços, deixe-me ver."
Obedeci imediatamente.
Ele queria se aterrorizar ainda mais, olhando para o meu
grotesco corpo?

Fique a vontade.

Poucos segundos se passaram enquanto seus olhos


percorriam sobre mim. Finalmente, ele sussurrou, "A sua pela
está mais negra do que branca e de um tom mais azul do que
rosado, mas você teve vergonha de revelá-la."

Vergonha?

Não se tratava de vergonha.


Era sobre saber meu lugar e fazer o que me foi dito.

Eu fiz o que você pediu!

PEPPER WINTERS
Este homem não tinha noção das regras e leis sobre as
quais eu vivia. Ele não tinha experiência em lidar com criaturas
compradas.
Isso acalmou minha raiva um pouco, sabendo que eu
poderia ser o pior que ele já tinha visto, mas ele não foi o pior
que eu já tinha encontrado.
"O que aconteceu com você?" Sua voz caiu para níveis de
sussurros.
Meus mamilos endureceram com o frio enquanto seus olhos
ardentes me mantinham aquecida.
Será que ele espera que eu diga a ele quando as respostas
estão todas ao seu redor?

Homem estúpido.

"O silêncio não vai salvar você de mim, Pimlico." O Sr. Prest
sentou-se, reclinando-se na cama novamente. Sua cabeça
descansou contra a cabeceira, seus movimentos suaves e sem
pressa. Sem tirar sua atenção de cima de mim, ele endireitou as
pernas e com dedos ágeis abriu as calças.
Engoli em seco.
O tilintar suave da fivela de metal soou alto quanto ele jogou
as extremidades de seu cinto para lados opostos e abriu o botão
antes do ruído duro de um zíper sendo desfeito encher a sala.

PEPPER WINTERS
"Você acha que eu não vou tocar em você só porque eu vi os
seus ferimentos?"
Meu coração tomou o controle, rugindo contra o meu peito
como um ferreiro forjando o aço.
"Você acha que eu sou um cara legal que irá tratá-la com
mais respeito do que os homens que marcaram você?" Ele
puxou o cós da cueca boxer preta de seu estômago tatuado,
inserindo a mão direita em suas profundezas. Sua mandíbula
apertou-se enquanto seus quadris se arqueavam um pouco,
abrindo uma folga para seus dedos se envolverem em torno de
si mesmo.
A maneira como seu rosto estava em profunda concentração
e seus dentes mordiam o lábio era a coisa mais excitante que eu
tinha visto desde que eu tinha sido assassinada e vendida.
"Eu não sou." Sua língua golpeou onde seus dentes tinham
mordido. "Eu não sou alguém que você pode foder. Quando eu
pedir alguma coisa, espero obtê-la. Imediatamente."
Uma onda súbita de medo e revolta me envolveu quando
sua mão se moveu em suas calças.
"Você tem uma escolha. Dá-me o que eu quero ou eu vou
levar o que eu quero." Ele sorriu asperamente, seus olhos
passando rapidamente ao redor do quarto, como se esperasse
uma surpresa a qualquer momento. "Sua escolha."
Pisquei.

PEPPER WINTERS
Eu não entendia este novo jogo. Ele já tinha me dito que
meus machucados mudavam tudo, que ele não me queria. Ele
poderia ter me levado no momento em que ele tinha me
roubado, então por que me ameaçar com o sexo quando ele
preferiria estar em uma cama diferente com uma menina
diferente?
Meu queixo pressionado contra o meu esterno, fazendo o
meu melhor para entender tal perplexidade.
"Olhe para mim." Sua voz ficou rouca enquanto sua mão se
movia, sussurrando com o pecado.
Beliscando minhas coxas para manter algum tipo de
dignidade, eu fiz o que ele pediu. Desta vez, eu não podia parar
o meu fascínio enquanto eu bebia tudo dele. Da forma como
seus lábios brilhavam, a seu estômago subindo e descendo e
sua tatuagem de dragão sob a ilusão ótica de costelas.
"Lembre-se, o que eu fizer, você faz."
Minha boca se abriu em choque.

Ele ... ele quer que eu me toque?

Eu nunca tinha me tocado.


Primeiro, porque uma mãe rigorosa, que invadia meu quarto
em todas as horas sem ligar para a minha privacidade, me
criou, e segundo, porque eu vivia com um mestre que me fez
desprezar todas as regiões inferiores do meu corpo.

PEPPER WINTERS
Por que eu iria querer me tocar?
Por que molestar essa parte de mim que já foi tanto
molestada?
Ele mordeu o lábio novamente, dessa vez sugando a carne
molhada em sua boca enquanto seu braço parava. "Você quer
que eu te trate como uma prostituta? Você prefere obedecer a
exigências humilhantes a responder a algumas perguntas
simples?" Sua voz soava como um rosnado. "Você vai aprender
a fazer escolhas melhores em breve."
Nossos olhos se encontraram antes que eu tivesse um
ataque de pânico que trancou os meus pulmões como um
parasita. Eu não posso acreditar que eu me senti mais segura
com este homem, que eu achava que ele era diferente.
Seu rosto se apertou com a frustração quando eu deixei cair
meus olhos, deixando que ele tivesse a autoridade.
"Diga-me de onde você veio. Diga-me quem te roubou e
como Alrik acabou com você. Dê-me isso e eu vou envolvê-la em
seu lençol e protegê-la nas horas restantes que temos juntos.
Não responda e você vai ansiar ter aceitado essa proposta. "
Eu tremi, odiando a forma como o meu corpo se encolheu,
tentando me fazer menor e invisível.
O tempo continuou a passar.
Finalmente, ele suspirou profundamente. "Falar vale muito
para você?" Ele tirou a mão de suas calças. "Nesse caso...

PEPPER WINTERS
vamos ver o quanto sua voz vale a pena quando todo o resto
está na linha."

PEPPER WINTERS
Eu era muitas coisas, mas um abusador, estuprador, e filho
da puta não faziam parte dos meus defeitos e falhas
abundantes.
Sim, eu tinha entrado na casa de Alrik pronto para tomar o
que lhe pertencia.
Sim, eu tinha intenções impuras de usá-la para o meu
prazer.
Eu mesmo me convenci de que ela não era o meu problema,
apenas um adoçante para o nosso negócio.
Mas então ela tinha tirado o vestido.
E eu simplesmente não podia fazê-lo, porra.
Como eu poderia ficar duro por uma menina que tinha tanta
força em seu coração, mas muito abuso pintado em sua pele?
Seu silêncio não era o desafio que eu acreditava. Sua mudez
não era coragem ou ousadia. Era a única maldita coisa que lhe
restava.

E eu quero roubar isso mais do que qualquer coisa que seu


corpo pode me dar.

PEPPER WINTERS
Eu a tinha ameaçado com o sexo. Eu enfiei a mão dentro
das minhas calças, forçando-a a acreditar que eu transaria com
ela de qualquer maneira. Em vez de terror e desgosto, ela me
olhou com uma resignação fria. Ela vivia em um mundo de dor
e sexo forçado por tanto tempo, que isso era nada para ela. Algo
esperado e forçado enquanto ela permanecia escondida em sua
fortaleza em silêncio, oferecendo o corpo, a fim de manter a
mente.
Porra, isso ganhou o meu respeito.
Mas também me irritou.
Abordar o fosso de seus pensamentos não seria um ataque
simples, mas um cerco difícil.
Ignorando minhas calças abertas e peito nu, eu fiquei de pé,
mais uma vez ficando de joelhos. O aperto das minhas cuecas
boxer machucava meu pau. Mesmo sentindo repulsa por suas
contusões eu não consegui controlar o meu desejo.
Ou era aversão?

Não…

Eu sabia o que era, e isso contaminou tudo ‒ cada


respiração e piscar de olhos.
Vergonha.
Ela me encheu com uma maldita vergonha.

PEPPER WINTERS
Seus olhos me seguiram, escondendo o que ela pensava. A
única maneira de quebrar-la era confundi-la. Fazê-la correr em
círculos, a deixar no escuro e enfurecê-la. Então, talvez, ela
quebraria seu voto de silêncio e me daria o que eu queria.
"Eu pedi uma noite com você porque eu acreditei que era
como eu."
Ela congelou.
Ela já conheceu alguém que usou a honestidade em seu
benefício ao mesmo tempo em que escondia seu passado? Será
que ela se importava que eu identificasse os seus pensamentos
de suicídio por que sabia como eles eram? Que eu uma vez sido
tão ferido como ela, mas ganhei mais de quem tinha me
arruinado?
Ela não merece saber por que ela se recusou a compartilhar
uma única coisa em troca.
Pim encolheu-se mais ainda em sua posição ajoelhada. O
cabelo feio estava pendurado em volta do rosto, lançando
sombras sobre os olhos, impedindo-me de ver seus segredos.

Isto não é permitido.

A vida nem sempre tinha sido tão preta e branca. Eu tinha


justificado os meios, mesmo quando cometia um crime,
exatamente como eu estava fazendo agora.
Fez-me um ser humano de merda, mas e daí?

PEPPER WINTERS
Quando eu estava morrendo de fome e vivendo nas ruas,
ninguém me deu uma jaqueta para manter longe a neve ou me
comprou uma refeição para garantir que sobrevivesse mais um
dia.
Eu fui uma inconveniência. Uma monstruosidade.

Ela não é uma monstruosidade.

Mesmo desnutrida e muito magra, tinha uma certa beleza


sobre ela. Seus olhos verdes eram os maiores que eu já vi. Seu
cabelo escuro estava pendurado flácido e sem vida, mas a cor
ainda insinuava de uma riqueza que não tinha inteiramente
desbotado. No entanto, esse cabelo impediu a minha capacidade
de ler o seu olhar.
"Você tem um prendedor de cabelo?" Inclinando-me para
frente, eu peguei os seus fios escuros e puxei-os para sua nuca.
Ela tremou ‒ sua pele foi tomada por arrepios. Esperei por
uma sobrancelha contraída ou uma leve torção de seus lábios.
Eu queria saber o que ela pensava sobre eu tocá-la desta forma.
Mas nenhuma resposta.
Não que isso importasse.
Até o final da noite, eu saberia tudo que eu precisava.

Eu vou ganhar, Pimlico.


Eu sempre faço.

PEPPER WINTERS
Mantendo contato com os seus olhos, meus dedos
separaram partes de seu cabelo. Ela respirou fundo, quando eu
envolvi uma seção menor em torno da maior e prendi o seu
cabelo em um rabo de cavalo baixo.
"Pronto, em nenhum outro lugar para se esconder."
Sentando-me, eu olhava para ela, finalmente capaz de ver os
ângulos de suas maçãs do rosto, a aridez de sua mandíbula, e o
matiz azulado de sua pele maltratada.
"Você não pode me impedir de obter minhas respostas",
murmurei. "Então, eu desistiria se eu fosse você."
Seu queixo se levantou com altivez.
"Como você ainda está viva?" Eu ri. "Quando você é tão
agressiva?"
Seus olhos se estreitaram.
"Você acha que você se comporta e faz o que é esperado,
mas eu estive te observando." Deixei a minha voz baixar. "Eu
vejo você olhar para ele. Eu vejo o seu ódio. Eu sinto."
Seu olhar disparou para os cantos da sala, com os ombros
tensos.
Segui a sua preocupação. "Você espera que um visitante
indesejado apareça em breve, não é?"
Ela endureceu.
"Você está certa. Ele não permitirá que eu fique por muito
tempo." Eu olhei para a porta. "Eu não sei quanto tempo nós
temos, então eu acho que vou ter que trabalhar rápido."

PEPPER WINTERS
Seu corpo ergueu-se; seu estômago ferido vibrou.
"Eu não quero dizer que eu preciso te foder rápido."
Seus olhos bateram nos meus.
"Se eu te usar desse jeito, vai ser depois que eu aprender os
seus segredos. Não antes."
Um fantasma de um sorriso iluminou seus lábios.
Eu ri baixinho. "Você acha que manter seus segredos irá
protegê-la de mim?"
Sua expressão me agradou enquanto eu passava a mão pelo
meu cabelo e a vi lentamente relaxar com esta inquisição
estranha. "Segredos têm uma maneira de sair com as pessoas
certas pedindo, Pimlico."
De certa forma, eu estava feliz que ela não falava. Minha
própria história estava segura. Ela não iria descobrir as razões
pelas quais eu estava atraído por ela. Ela não saberia que eu
não poderia ir embora ainda porque eu vi o meu passado em
seus olhos.
Ela foi uma pequena interrupção no meu mundo. Meu
interesse por ela não tinha nada a ver com a sua beleza
danificada ou imensa coragem. Nada a ver com a silhueta do
que estava escondido entre suas pernas ou os mamilos rosados.

Não seja ridículo, porra.

Eu tinha autocontrole.

PEPPER WINTERS
Eu vou provar isso.

Apontando para ela, eu sussurrei, "Eu causei isto."


Ela não se moveu, mas sua pele manchada pela violência
ficou branca.
Como eu não iria deixá-la afundar-se em todos os
pensamentos que vieram à tona em sua mente, eu gentilmente
peguei sua mão quebrada. "Eu sei que causei isto por ter te
tocado naquela noite. E eu sei que, quando eu sair, você vai ser
submetida a mais." Meus dedos acariciaram a mão dela. "Mas
eu não acho que vou me sentir culpado por isso. O mundo é um
lugar fodido, e todos nós temos nossos demônios para suportar.
Você não terá compaixão de mim, mas você vai ter respeito."
Soltando a sua mão, eu empurrei seu ombro. "Deite-se."
Ela oscilou em imprudência, mas eu aumentei a minha
pressão, dando-lhe nenhuma escolha. Caindo para trás, suas
pernas ficaram presas juntas, escondendo o que eu queria ver.
Seus pequenos seios saltaram me dando água na boca.
Foda-se, por que eu estava indo devagar com ela?
Ela era minha para fazer qualquer coisa que eu quisesse.
Torturar-me não era a minha idéia de um bom tempo.
Seus olhos prenderam-se aos meus, amplos, mas sem medo.
Ela me fascinava, mesmo que sua pele marcada e ossos
aparentes não fossem sexys, eu achei a sua resiliência muito
excitante.

PEPPER WINTERS
Eu a queria. Eu queria me soltar e fazer o que eu tinha
sonhado sobre a noite passada.
Mas eu não podia ... ainda não.
Eu tinha coisas muito mais importantes para fazer. Além
disso, tanto quanto a minha vida estava cheia de pecado (e eu
não me desculpo pelo o que eu sou), eu me recuso a ser como
Alrik. Ela tinha idiotas o suficiente em sua vida. Enquanto ela
pertencer a mim, ela aprenderia que um bastardo ainda podia
ser um cavalheiro.
Deitando de lado, apoiei-me no meu cotovelo e passei um
dedo pelo o seu lado nu. Seus mamilos duros viraram alfinetes,
enquanto seu estômago descolorido ficou ofegante por oxigênio.
Eu não disse uma palavra enquanto eu arrastava o meu toque
sobre uma costela, depois duas, aproximando-me mais perto de
seu peito.
A cada centímetro que eu subia, ela desligava um pouco
mais. Senti-a se afastando, deixando sua mente, usando
qualquer mecanismo que ela desenvolveu para suportar tais
torturas para levá-la para um lugar seguro.
Eu parei.
Ela não respirava.
"Relaxe."
Ela ficou mais tensa do que uma corda de violoncelo.
"Eu vejo que você não gosta dessa palavra."

PEPPER WINTERS
Sua cabeça virou-se, me permitindo ver os olhos
turbulentos, mas amotinados.
"Ou talvez, você não confia nessa palavra." Eu não podia
malditamente culpá-la. Retirando a mão do seu corpo,
deliberadamente coloquei um pequeno espaço entre nossos
corpos na capa. "Ok, vai ser do seu jeito. Sem mais toques. Mas
você me deve, Pim, e eu nunca me esqueço de uma dívida."
Sua testa se franziu.
Eu não sabia se era em negação ou confusão, mas eu
expliquei para ela de qualquer maneira. "A regra que lhe dei: o
que eu faço, você deve fazer. E o que você faz, eu preciso fazer."
Baixei a cabeça, roçando meu nariz sobre sua bochecha. "Você
esqueceu-se de que eu toquei a mim mesmo?"
O colchão balançou quando ela se afastou com os quadris.
Não era muito perceptível, mas eu notei.
E eu não estava feliz com isso, porra.
Se ela achava que poderia evitar que eu a tocasse entre as
pernas, ela não sabia que eu esperava obediência total.
"Você sempre se opõe aos homens em sua cama ou só
comigo?" Minha mão foi para cima, segurando em torno de sua
garganta. "Você já me fez quebrar a regra de não tocá-la. Não
me faça quebrar as outras regras que estão me mantendo na
linha esta noite."
Seus olhos se prenderam aos meus, cheios de incerteza e
pânico.

PEPPER WINTERS
"Ah, isto intrigou você." Afrouxando os meus dedos, eu não
ameacei estrangulá-la, apenas apertei suavemente, prendendo
sua mente em seu corpo, para que ela não voe livre. "Eu tenho
muitas leis que governam a minha vida." Mostrei-lhe os dentes.
"Quer saber algumas?"
Esperei que ela a acenar, piscar fazer algo que poderia ser
um sinal para sim.
Mas ela era muito boa.

Ou muito apavorada.

Ela era como um iceberg, seus olhos tão complexos como


flocos de neve.
"Você não gosta que toquem o seu pescoço?" Tirei mais do
meu peso, mas não retirei meus dedos. "Será que ele te
estrangula ... é por isso que você está me olhando como se eu
tivesse crescido chifres?"
Ela não respondeu de forma alguma, mas seu pulso jorrou
como uma correnteza abaixo de meu polegar. "Não se concentre
em onde eu estou te segurando. Concentre-se em por que eu
estou te segurando." Meu polegar acariciou o lado de seu
pescoço, enredando com o cabelo escapou de onde eu o tinha
preso. "Concentre-se em minhas perguntas."

PEPPER WINTERS
Sombras tomaram os seus olhos, enquanto ela lutava para
superar o sentimento de pânico que a invadia por associar um
toque na garganta com alguma tortura que sofreu.
Tentando chamar sua atenção por outras coisas, perguntei:
"Quanto tempo você tem estado em silêncio? Estou bastante
impressionado. Você evitou as minhas pergunta e ignorou a
vontade de seu corpo de responder-me ‒ mesmo com o pequeno
deslize mostrando o seu pavor."
Seus lábios se franziram, desviando a atenção para sua
boca. De alguma forma, ela transformou o medo em teimosia.
Sua pele voltou a ter cor, queimando sob o meu toque.
Calor nos envolveu. O desejo venenoso e necessidade
intoxicante socaram-me no peito.
Eu não era o único que sentiu isso.
Os sentimentos ficavam mais fortes à medida que tentamos
ignorar sua presença.
Ela intrigou uma parte desumana de mim, embebedando-me
e enchendo-me com coisas complicadas.
Eu não tinha vindo aqui para conectar-me com ela. Eu não
tinha reivindicado ela se sentir. Eu a peguei para roubar seus
segredos.
Isso foi tudo.

E é exatamente o que eu pretendo fazer.

PEPPER WINTERS
"Eu tenho uma proposta." Eu lambi meus lábios. "Você
responde a uma das minhas perguntas, e eu vou responder a
uma das suas."
Ela engoliu em seco, sua garganta trabalhando presa sob
meus dedos.
"Você não acredita que eu possa ouvir suas perguntas?"
Arrastando meu toque para seu esterno, eu empurrei em um
hematoma amarelado. "Eu posso. Assim como eu posso dizer-
lhe coisas sobre o seu mestre. Coisas que eu não tenho
nenhuma dúvida que você queria saber por um tempo. Você
sabe por que ele está deixando-me usá-la, mesmo quando isso o
irrita? Por que ele me permite reivindicar o seu bem mais
valioso? É porque você pode ser seu brinquedo favorito, por
agora, mas o que eu estou construindo para ele vale mais do
que uma menina, mais do que dinheiro, mais do que uma vida.
É um bilhete para o poder, e para homens como Alrik, essa é a
única coisa que importa."
Ela sacudiu-se, incapaz de esconder o seu choque.
Contorcendo-se como um peixe preso em um anzol, ela
levantou-se da cama. Fechando as pernas juntas, e agarrando
os joelhos quando se sentou, encostando-se contra a cabeceira
da cama.

Você realmente não deveria ter feito isso, Pim.

PEPPER WINTERS
Eu apoiei-me nos cotovelos, sentando-me. "Isso não foi
muito inteligente." Agarrando o seu tornozelo, eu apertei os
ossos sombreados de preto em seu pé. "Eu não disse que você
podia se mover. Eu não vou te machucar, então não corra,
porra."
Sua mandíbula apertou-se, fazendo com que ficasse ainda
mais fascinado por ela.
Eu tinha exercido bastante o meu autocontrole esta noite.
Ela tinha acabado de me empurrar para a borda.
Pressionando o polegar contra o metacarpo que levava a seu
dedão do pé onde os ossos mal curados mostravam uma lesão,
eu disse: "Assim como ele quebrou sua mão, ele quebrou seu
pé."
Ela respirou fundo, e ao ver que o meu toque permaneceu
na ponta dos seus pés ela aproximou o tornozelo da perna. "Por
quê? Será que é para mantê-la na linha? Você é rebelde e
merecedora de tamanha crueldade? Ou ele é apenas um fodido
doente que ele brinca com você?"
Uma faísca raivosa se acendeu em seu olhar. Pela primeira
vez, eu não conseguia descobrir se ela estava chateada pela
minha implicação de que a punição era merecida ou aliviada
que eu decifrei o que Alrik era.
"Vou te dar a resposta correta. Eu sei que não é você. É ele.
Você não merece uma única contusão que ele lhe deu."

PEPPER WINTERS
Essa conexão maldita tornou-se mais espessa à medida que
ela parou de respirar. Seus olhos mergulharam nos meus e o
encantamento jogou em mim e ficou mais quente, firme e forte.
Não poderia ser autorizado a continuar.
Eu só tinha uma noite. Eu só queria uma noite.
Eu não iria machucá-la, mas eu iria roubar algo dela, e
então... Eu a deixaria.
Porque eu era a porra de um egoísta e não teria a força de
vontade para lutar contra o vício que ela rapidamente despertou
em mim por ela.
Meu polegar acariciou-a suavemente enquanto eu lutava
para conquistar o controle dos meus pensamentos dispersos.
"Eu tenho muitas perguntas para você, Pimlico. Questões que
não me importavam até agora. No entanto, a sua recusa a me
obedecer ao invés de me dissuadir fez o oposto." Eu sorri. "Só
me fez mais determinado."
Colocando-me de joelhos, eu puxei a sua perna. Eu não fui
gentil ou bondoso. Ela escorregou na cama, e no momento em
que ela estava deitada, eu agarrei a sua garganta novamente.
O pânico que eu tinha testemunhado na minha primeira
visita quando eu tinha dado a ela o meu casaco, revelou-se. Sua
respiração parou, incapaz de evitar o sentimento de pânico
sempre que eu tocava seu pescoço.
Se eu fosse um homem agradável, removeria a minha mão e
a tocaria em outro lugar.

PEPPER WINTERS
Mas eu já disse que tenho muitas falhas.
Ela teria que viver com elas.
Eu esperava que ela irrompesse em um ataque lutando para
se libertar, mas mais uma vez ela inspirava e expirava,
domando seu pulso disparado, controlando todo o corpo,
inclusive os olhos.
Porra, ela é muito mais do que eu pensava. Mais guerreira,
mais ferida, mais mulher.
Mas nada disso importava.
Eu ainda iria ganhar minhas respostas.
"Três perguntas." Deitando-me ao lado dela, eu sussurrei
"Farei três perguntas. Se você responder, eu vou deixá-la ir. Eu
não vou esperar algo mais."
Seus olhos se arregalaram quando a minha mão escorregou
de sua garganta para retomar a minha posição sobre o esterno.
"No entanto, se você não respondê-las, então eu vou esperar
tudo. Eu vou foder você, apenas porque eu posso. Vou tratá-la
como uma escrava, porque isso é tudo que você sempre vai ser,
se você não me deixar entrar em sua mente."
Eu a olhei diretamente nos olhos. Meu controle rosnou,
querendo se libertar. Mas eu tinha a disciplina o suficiente
apenas para ignorá-lo. "Primeira pergunta, faz quanto tempo
que você comeu?"
O rosto mostrou a sua surpresa.

PEPPER WINTERS
Eu ri baixinho. "Não é algo que você esperava que eu
perguntasse?"

Vamos, mexa a cabeça.


Responda-me.

Quanto mais tempo ela ficava em silêncio, mais a minha


obsessão aumentava.

Vou quebrar você, Pim.

Cutucando suas costelas machucadas, eu disse: "Eu quero


saber porque eu vou garantir Alrik sofra a mesma privação,
quando completarmos o negócio."
Seus músculos ficaram tensos, seus olhos se dirigiram para
o teto, procurando por câmeras. Eu não tinha necessidade de
ficar quieto sobre o que eu pretendia fazer. Tínhamos um
contrato. Esse contrato manteria a paz até a entrega do seu
iate.
Depois disso, ele tentaria me matar da mesma forma que os
fodidos que compram meus serviços sempre fazem. E
fracassaria da mesma forma que eles fizeram. Mas pelo menos
eu teria cumprido o meu lado do negócio e minha reputação
permaneceria intacta.

PEPPER WINTERS
No entanto, eu não mataria Alrik tão rápido. Eu o faria
pagar por seus atos, o deixando viver a vida de Pimlico antes de
terminar com a sua.
O que ela diria se eu admitisse meu plano? Será que ela se
alegraria ou se esconderia? Eu tive um sentimento de que se ela
tivesse o poder de machucar o seu mestre, ela seria a única a
fazer o trabalho sujo. Ela não ficaria satisfeita com um estranho
o punindo.
Nosso silêncio mútuo foi preenchido com pensamentos de
vingança e o mínimo descongelamento em seu olhar me levou a
fazer outra pergunta.
Ela pode não saber, mas ela tinha acabado de perder.
Ela me deixou entrar.
Estúpida, garota estúpida.
"Quanto tempo faz que você foi livre?"
Seja qual for a abertura que ela tinha dado, foi encerrada
com o barulho de uma porta de aço. Seus olhos se fecharam
enquanto ela engolia.
"Meses ou anos?"
Ela não vacilou.
Estudando o seu corpo, contando as fraturas, as marcas de
pontapés e as contusões, eu respondi para ela. "Assim como
uma árvore revela a sua idade quando seu tronco é analisado,
assim faz o corpo, sem palavras."
Sua testa se franziu, mantendo os olhos fechados.

PEPPER WINTERS
"Eu acho que há alguns anos."
Raiva aqueceu meu sangue, não por causa de sua dor, mas
por sua recusa em responder. Tais questões poderiam fazer um
homem normal se importar e se arrepender de estar nesta
situação tentando furtar segredos de uma menina.
Mas eu não era um homem normal. Eu me importava... em
algum lugar dentro de mim. Mas eu passei pelo meu próprio
trauma, e ele tinha infectado a forma que eu via as outras
pessoas.
Eu não tive um salvador quando eu precisei de um.
Eu não tinha intenção de ser um salvador para alguém.
Quem se importava com essas perguntas genéricas? Eu
ganharia suas respostas através de outros meios. Ela me devia.
Era hora de pagar.
O pensamento de vê-la se masturbando engrossou o meu
pau.
Alrik estava certo sobre uma coisa. Estar no mar tornou
difícil encontrar alguém para foder ‒ a menos que eu fodesse
alguém da minha tripulação ou mandasse alguém trazer uma
acompanhante de helicóptero. No entanto, ambas as opções não
eram atraentes.
Não como esta criatura.
Em breve eu retornaria para o oceano. Já perdi muito
tempo.
"Chega de perguntas. Hora de me pagar, Pimlico."

PEPPER WINTERS
Seus olhos se ampliaram quando a minha mão espalmou-se
em seu baixo ventre, arrastando-se por sua caixa torácica,
passando pela curva do seu seio até sua clavícula proeminente.
Eu não parei de tocá-la, subindo até sua garganta, e
chegando às suas bochechas onde eu cavei meu polegar em um
lado, e os meus dedos no outro, puxando seu rosto para o meu.
Ela parou de respirar.
Eu a apertei com força, obrigando-a a prestar atenção e
ouvir todas as instruções.
"Abra suas pernas."
Seus dentes cerraram-se debaixo do meu aperto.
Minha mão apertou. "Faça."
Por um momento, ela brilhou com ódio, mas muito
lentamente suas pernas se abriram um pouco. Não o suficiente
para uma mão ou língua, mas o suficiente para vislumbrar o
que havia entre elas.
Meu pau transformou-se em pedra.
Balancei a cabeça, tentando me livrar do desejo e me focar
no controle e no eterno sentimento de vergonha, eu rosnei, "Eu
vou te soltar, mas você vai fazer tudo o que eu lhe digo.
Entendeu?"
Mesmo agora, eu ainda esperava um aceno de cabeça.
No entanto, Pimlico apenas olhou para mim não oferecendo
nenhuma confirmação ou recusa. Meus olhos caíram para os

PEPPER WINTERS
seus lábios, vendo a pele rosada rachada e lutando contra o
desejo diabólico súbito de beijá-la.
Eu quero muito beijá-la. Para forçar os lábios para se mover,
mesmo que não fosse falando.
Mas merda, isto era muito pessoal.
Eu estava autorizado a provar um pouco de tudo. Um
suspiro, uma noite, um orgasmo.
Mas um beijo ... Eu não podia fazê-lo.
Confiantes nos anos de treinamento em que Alrik a forçou a
obedecer, eu solto o seu rosto. O rabo de cavalo frouxo eu tinha
formado com seu cabelo espalhou-se na cama, enquanto ela
rolava completamente de costas e abria as pernas um pouco
mais.
"Boa menina," eu murmurei, traçando as contusões em sua
carne, que quase se pareciam como rosas em diferentes estágios
de crescimento. Algumas eram amplas e belamente desbotadas
e outras eram brilhantes e pequenas como um novo broto.
Pressionando uma marca violeta em sua pele, eu disse:
"Você se lembra da causa de cada uma delas? Ou você prefere
esquecer?”
Ela olhou para o teto enquanto eu seguia as pétalas de outro
machucado que já estava se desvanecendo em uma cor marrom
pálida. "Quanto mais eu estudo você, mais você me lembra um
rato."

PEPPER WINTERS
A ingestão aguda e repentina de sua respiração foi a maior
reação que eu tinha ganhado até agora.
Eu invadi o mundo onde ela guardava a sua voz. "Você não
gosta de ser chamada de um rato ou foi outra coisa que eu
disse?"
Seu queixo inclinou-se. Ela fechou-se novamente.
Muito tarde.
Eu tinha desbloqueado algo. Eu não sabia o que, mas eu iria
descobrir.
"Acho que vou chamá-la assim a partir de agora... ratinha.
Você é uma rata silenciosa e atormentada em uma gaiola. No
entanto, não importa quão pequeno e vulnerável um rato seja,
eles têm o poder de causar estragos quando aceitam o que eles
realmente são."
"Eles também têm dentes incrivelmente afiados." Levei os
meus dedos até sua boca, eu inseri a ponta de um em seus
lábios até chegar na umidade quente. "Diga-me, Pimlico, você
tem dentes afiados?"
Ela não abriu a boca ou me deixou-me tocar os seus dentes
caninos. Mas seu coração disparou, tornando seu pulso agitado
visível pela veia do seu pescoço.
Minha ‘pequena silenciosa’ tornou-se uma ‘ratinha
silenciosa’, o que lhe convinha pra caralho.
Ela virou o rosto como se estivesse lidando com uma
memória muito difícil.

PEPPER WINTERS
Cutucando seu queixo com os nós dos meus dedos, eu guiei
sua face de volta para mim à força. "Você não me conhece, mas
você precisa saber que, se você está na cama comigo, deve se
concentrar em mim e me foder."
Ela olhou-me com raiva.
Eu corri minha mão pelo seu braço direito e enrolado meus
dedos com os dela. "Você é destra?" Olhando para os dedos
quebrados eu sorri. "Porque se você não for, isto não vai dar
certo."
Sua sobrancelha se contraiu, mas não disse nada. De
qualquer maneira, ela faria o que eu quisesse e tocaria a si
mesma. Eu não me importava se precisasse esperar a noite toda
para isso.
Desenroscando meus dedos dos dela, eu os envolvi em torno
de seu pulso, guiando sua mão para sua boceta.
Ela endureceu quando eu coloquei a mão sobre ela,
escondendo o que eu queria ver. "Sua vez."
Apoiando minha cabeça na mão, eu olhava para ela.
"Continue. Toque-se como você faz quando está sozinha. Deixe-
me ver o seu prazer e ouvir os seus gemidos, eu quero assistir
você se foder com os dedos."
Ela recusou-se, retirando a mão da sua boceta para agarrar
a roupa de cama embaixo dela.
Minha raiva nublou os meus pensamentos. "Não desobedeça
a uma ordem direta, Ratinha silenciosa. Você tem que fazer o

PEPPER WINTERS
que eu faço, lembra?" Tomando a mão dela novamente, eu guiei
de volta para a posição.
Liberando-a, eu alcancei os seus joelhos, abrindo as suas
pernas mais amplamente.
No momento em que tive uma visão completa dela, eu engoli
um gemido. Eu tinha visto muitas mulheres em minhas
viagens; Eu tinha provado algumas e evitei outras, mas nunca
vi uma tão bonita como Pimlico.
Poderia uma mulher ser chamada de bonita lá em baixo?
Viciante e depilada, sim, mas bonita? Eu não sei porra, mas
Pim era. Tudo nela era delicado e pequeno, escondido, como se
quisesse evitar mais abusos, mas ainda feminino o suficiente
para ser atraente para o sexo.
Mordendo os lábios, eu enrolei o meu punho para me
impedir de tocá-la. Se eu a sentisse... seria o fim. Não haveria
nenhuma provocação ou aperitivo, apenas um maldito banquete
quando eu a fodesse uma e outra vez.
"Toque. Continue. Não seja tímida."
Como poderia uma escrava sexual ser tímida? Cada parte
dela era propriedade de outra pessoa. Eu não entendia o terror
repentino em sua face.
"Espere..." Fiz uma pausa. "Você já gozou antes, certo?"
Ela congelou.

Ah, porra.

PEPPER WINTERS
"Você ... nunca?"
Como eu deveria reagir a isso?
Ela apertou os olhos, tremendo, como se estivesse se
preparando para uma surra. Alrik a espancaria por uma coisa
dessas?
Eu iria?
Passei uma mão pelo meu rosto. "Você nunca teve um
orgasmo com outra pessoa? E sozinha?"
Seu corpo inteiro ficou vermelho com embaraço.
Sua resposta foi alta e malditamente clara.

Merda, quantos anos ela tem?

Quantos anos ela tinha quando ela foi fodida pela primeira
vez? Certamente, em algum momento, ela teria gozado? Ou, no
mínimo, a curiosidade a teria forçado a se dar prazer por conta
própria?
Meu primeiro orgasmo foi quando eu tinha doze anos
enquanto eu dormia atrás de uma lixeira. Tinha sido a única
coisa boa em um mar de coisas horríveis. Depois disso, eu me
tornei um pouco viciado na breve, mas satisfatória, sensação de
prazer que eu poderia me dar.
Se Pim nunca tinha experimentado tal escapatória, como se
ela tinha sobrevivido todo esse tempo? Como não acabou

PEPPER WINTERS
consigo mesma e desejou um caixão sempre que Alrik a
abusava?
Maldição, esta noite se tornou muito mais complicada do
que eu tinha planejado.
Pelo menos, ela não moveu a mão neste momento.
Aproximei o meu corpo do seu, meu peito com o dragão
tatuado contra a sua nudez e coloquei uma das minhas pernas
sobre suas coxas, segurando-a para baixo. Observando o seu
olhar confuso, eu mais uma vez enrolei meus dedos com os dela
diretamente sobre sua boceta. "Você tem que fazer o que faço.
Mas, por agora, vamos fazer isso juntos."
Colocando pressão em seu dedo médio, a forcei a acariciar
seu clitóris. O calor de sua pele penetrou em mim, mesmo que
eu não estava tocando-a diretamente.
Meu pau endureceu até doer. Buscando alívio, eu me movi
contra o seu quadril.
Seus olhos saltaram.
Eu continuei a me mover, odiando que seu osso ilíaco afiado
cavou a minha ereção. "Eu vou te ensinar. Mas, para isso, vou
ter que usá-la de outras maneiras. Caso contrário, eu vou
enlouquecer."
Ela se esquivou enquanto eu forçava a mão mais para baixo,
encontrando sua entrada.
"Não, você não vai ter o controle. Não dessa vez."

PEPPER WINTERS
Respirando com dificuldade, eu disse para o meu quase
inexistente controle para permanecer firma. Isso iria testar os
meus limites. Ela iria testar os meus limites.
"Prepare-se para se tocar, Ratinha silenciosa. Eu vou
apreciar isto."

PEPPER WINTERS
PUTA MERDA, o que ele está fazendo?
Eu endureci quando sua mão forçava meu núcleo,
pressionando meu dedo do meio, não me dando outra opção
senão obedecer. Meus dedos ficaram quentes pelo contado com
sua grande palma.
Eu não conseguia parar de olhá-lo ao ver que ele estava
mordendo o lábio inferior. Ele tornou impossível evitar que cada
célula minha queimasse com a forma erótica pela qual ele
empurrava contra o meu quadril. Ele não tinha tirado as calças,
mas isso não impediu que o calor de aço de sua ereção me
marcasse.
Muita coisa estava acontecendo.
Muitos estímulos.
Eu não sabia em que focar: seu corpo imprensado junto ao
meu, a sua mão ordenando-me a sentir-me, ou o seu pau
obtendo prazer de mim de uma forma estranha.
Ele me fez claustrofóbica e arisca.

Eu quero correr!

PEPPER WINTERS
Mas, em seguida, tudo o resto desapareceu quando a ponta
do meu dedo entrou em mim.

Pare!

Eu não queria isso.


Eu detestava isso.
Eu... odiava, odiava, odiava isso.
Meu dedo estava tão magro e pequeno comparado aos que
normalmente me brutalizavam. Minha unha estava afiada ao
deslizar dentro de mim com a ajuda da dominação do Sr. Prest.
Meu corpo se esticou para acomodar o dedo magro e a estranha
sensação de sentir-me me fez tremer.
Eu nunca tinha tocado nada tão estranho em toda a minha
vida.
Eu quero que isso acabe.

Agora!

"A sensação é estranha?" O Sr. Prest angulou minha mão,


empurrando mais profundo.
Meu rosto se contorceu quando a ponta do meu dedo
encontrou uma crista estranha dentro de mim, algo não tão
flexível ou tão quente como o resto.

PEPPER WINTERS
Era uma cicatriz dos maus tratos que eu tinha sofrido? Uma
lesão que nunca vai se curar totalmente? Seja o que foi perdeu
a importância quando ele me obrigou a afundar o dedo ainda
mais.
Sua voz profunda retumbou de seu peito ao meu. "Você
gosta disso?"

Se eu gosto disso?
Não, eu não gosto.

Senti culpa, vergonha e confusão.


Ele riu suavemente. "Você vai aprender a gostar... é só
esperar e ver."

Eu duvido.

Ele riu novamente, seu pulso deslocando para capturar o


meu anelar e o mergulhando dentro de mim, também. Desta
vez, a pressão e o alongamento foram maiores. No entanto, dois
dos meus dedos estavam ainda eram muito mais estreitos do
que o pau do Mestre A.
Fiquei rígida ao sentir a respiração quente do Sr. Prest
vibrando em meu cabelo e a sua ereção se esfregando contra o
meu quadril. "Você precisa gozar, Pim. Eu preciso lhe dar isso,

PEPPER WINTERS
para que assim possa pagar de alguma forma as coisas que eu
vou tirar de você.”
De jeito nenhum.
Sem chance.

Mentalmente, fisicamente e espiritualmente, não havia


nenhuma maneira de que eu pudesse ter um orgasmo.

Gozar?
Ha!

Eu não acredito em ‘faz de conta’. De jeito nenhum


desligaria a minha auto preservação, me renderia a alguém tão
completamente, e confiaria que ele não iria me machucar no
auge da minha rendição.
Ele era um comediante para dizer o mínimo se acreditava
que eu poderia fazer uma coisa dessas.

Solte-me!

Eu me contorci, encarando o em seu olhar negro.

Deixe-me em paz!

"Feche seus olhos."

PEPPER WINTERS
Vai se foder!

Ele levantou uma sobrancelha quando eu desobedeci,


mantendo os olhos nos meus.
"Você quer assistir?" Ele acrescentou fazendo mais pressão,
puxando meu braço para baixo para que meus dedos
desaparecessem completamente dentro de mim. "Eu posso
conseguir um espelho se você quiser? Narrar o que está
acontecendo. Mostrar-lhe o que seus dedos safados estão
fazendo.”
Eu queria desesperadamente negar com a cabeça, para não
deixar que ele pense que eu estava concordando com tais
absurdos. Mas ele apenas riu do meu desconforto e libertou os
meus dedos. "Vamos ver se você odeia tanto isso."
Lentamente, muito lentamente, ele deslizou o meu toque
para cima até que roçou a parte de mim que quebrou a
dormência do meu corpo e me trouxe sensações estranhas.
Meu clitóris.
No momento em que meus dedos deslizaram sobre o broto
duro, eu me sacudi.
Seu sorriso era o próprio inferno. "Ah, aí está você, Ratinha.
Lentamente se tornando viva."
Mais uma vez, o apelido de 'Ratinha' apertou meus
músculos, revogando tudo o que eu tinha vivido. Qualquer
outro nome eu poderia tolerar, ser chamada de qualquer outro

PEPPER WINTERS
nome de roedor e até mesmo de puta ‒ e outros termos
degradantes.
Mas ratinha?
Como ele poderia chamar-me assim?
Como ele se atreve a usar algo que significou muito para
mim?
Rangendo os dentes, eu empurrei de lado as memórias que
faziam o seu melhor para emergir. Eu não poderia pensar sobre
ele nos últimos anos. Era extremamente difícil. Minha mãe não
esteve muitas vezes em meus pensamentos, mas pelo menos ela
ainda estava viva e felizmente não sabia o que tinha acontecido
com sua filha.
Meu pai, por outro lado, estava morto.
Ele estava no céu me olhando de cima, de luto por minhas
circunstâncias e vendo todas as coisas que fui obrigada a fazer.
Horror e auto piedade tomaram o meu corpo, eu não
conseguia respirar. Lutei para sentar-me e liberar a minha mão
da pressão do Sr. Prest e retirar a minha perna de debaixo da
dele.
Eu precisava de espaço.
Eu precisava bloquear certas memórias antes que
enlouquecesse.
Mas ele não me soltou. Sua coxa meramente apertou a
minha e seus dedos forçaram os meus a girar em volta do meu
clitóris. "Você odeia esse apelido mais do que ser chamada de

PEPPER WINTERS
garota." Sua boca se moveu, mas sua voz era silenciosa como
um sopro, quase apologética enquanto perseguia os meus
segredos. "Diga-me o porquê."

Como se eu me recuso a falar?


Porque se eu não lhe conheço?
Nunca, porque você não merece saber.

Eu odiava quão bonito ele parecia reclinado ao meu lado,


roubando a minha liberdade com a arte em seu torso exposto.
Seu cabelo negro combinava com as linhas opacas marcavam a
cavidade onde seus órgãos deveriam estar e seus lábios eram
malditamente intoxicantes.
Mas a beleza não escondia a besta, e eu não seria enganada.
Eu estava feita com isso.
"Feche os olhos, Pim. É muito mais fácil deixar gozar quando
você está-"
Eu arqueei as costas, quebrando sua sentença, determinado
a remover o seu controle.
Recusei-me a fazer o que ele ordenou já que eu não confiava
nele.

Espere, você não confia em Mestre A, mas você obedece.

PEPPER WINTERS
Isso era verdade, mas eu sabia o que aconteceria se eu não
fizesse. Eu era inteligente o suficiente para escolher o caminho
menos doloroso. Com o Sr. Prest, eu não sabia o que ele faria
em retaliação.
E valeu a pena correr o risco da agonia, a fim de descobrir.
O Sr. Prest poderia não ter a coragem de me bater e me
deixar ir embora com ele, e eu poderia evitar dormir este
homem, o que por sua vez iria agradar mestre A, já que não
será o seu desejo me compartilhar.
Era um plano complicado... Mas ainda um plano.
Meus ombros levantaram-se da cama enquanto eu lutava de
forma mais forte do que eu fiz nos últimos anos.
Seu rosto escureceu enquanto surpresa destacou-se em
seus olhos. "Continue lutando e sua noite será dez vezes pior,
Ratinha silenciosa."
Encolhi-me, mas no meu estado selvagem, eu não focaria o
apelido. No entanto, engasguei enquanto seus dentes se
fecharam sobre minha clavícula sem piedade. Eu vacilei quando
sua língua rodou sobre a mordida de seus incisivos.
Eu não conseguia controlar o arrepio em meu corpo.
"Você ousa desobedecer-me?"

Sim, ouso!
Estou cansada disso!

PEPPER WINTERS
O focinho de seu dragão chiou onde sua caixa torácica
estava aberta quando ele segurou a minha forma contorcida.
Mas isso não iria me parar. Isso não me assustou. A única coisa
que poderia me aterrorizar era saber que não importa o que o
Sr. Prest fizesse comigo, nunca seria tão ruim quanto o que o
Mestre A faria.
Eu tinha que usar esse homem para ajudar ou provar ao
Mestre A, que era leal e submissa. Se ele me visse lutando... Ele
poderia ser mais gentil para mim. Se o Sr. Prest visse a minha
força, ele poderia me libertar.
Dois cenários advindos de um corajoso e imprudente
movimento.
Ele congelou, seguindo o meu olhar para a tatuagem e para
onde nossos corpos se encostavam. Seu rosto raivoso, incapaz
de esconder a frustração. Por estar tão confiante a respeito de
poder ler as minhas respostas silenciosas, ele nunca iria
entender que "rata" era o nome que ele nunca poderia chamar-
me sem me fazer odiá-lo por toda a eternidade.
A máscara impenetrável que ele usava (escondendo tudo o
que o fazia real) caiu por um segundo. Ele perdeu o tom de
empresário rude que projetava e tornou-se alguém fascinante e
desconhecido em seu lugar.
Estudou-me tão duro como eu o estudei.
Eu vi um homem com problemas de controle.

PEPPER WINTERS
Um homem acostumado ao mundo curvando-se aos seus
pés.
Mas também vi um homem que sabia o que era ser como eu.
Sem escolha, sem vida... sem esperança.
Então, como se lembrasse de que eu não era nada mais do
que uma prostituta que existia para satisfazer sua vontade, sua
máscara voltou ao lugar.
Seu toque me congelou.
"Você não pode dirigir toda diversão desta noite, Pimlico.
Esse é o meu trabalho."
Minha respiração ficou presa quando ele forçou meus dedos
a circularem o meu clitóris mais forte, fazendo-o pulsar com
eletricidade.
"Eu vou descobrir mais cedo ou mais tarde. Você vai me
responder. Mas, por agora, eu me recuso perder mais tempo."
Seu pau pressionava o meu quadril, pulsando sob suas
calças. "Eu quero estar dentro de você, mas para o seu bem, eu
vou esperar até que você esteja toda molhada." Seu nariz tocou
o meu. "Isso não é justo e agradável da minha parte?"
Agarrando minha mão quebrada com sua mão livre, ele a
prendeu acima da minha cabeça, restringindo-me. Fixada ao
colchão por seu punho, corpo e quadris, eu estava
completamente impotente, desesperada, e totalmente à sua
mercê.

PEPPER WINTERS
Engoli em seco quando sua garganta trabalhou forte, seu
cabelo caindo sobre um olho quando ele pressionava sua testa
contra a minha têmpora. "Você vai sentir um coisa boa, Pim.
Está tudo na sua cabeça." Seus dedos fizeram com que os meus
me esfregassem a partir do meu clitóris até a minha entrada e
voltassem novamente. O afago que senti era diferente desta vez,
menos estranho, mas ainda terrível.
Eu apertei os meus lábios para não soltar um gemido traidor
que se construía em meu peito. Não de prazer, mas em um
apelo.
Ele poderia machucar-me, forçar-me, exigir, mas eu não
gozaria.

Eu não posso.

Como eu poderia fazer algo que eu nunca tinha feito antes?


Como eu poderia consertar algo que tinha sido quebrado desde
o início?
Eu nunca iria apreciar ou querer isto.

Jamais.

E se ele se tornou exatamente como Alrik e só queria transar


comigo... Que assim seja.

PEPPER WINTERS
Eu tinha uma maneira de me proteger.
Eu minha mente viajaria enquanto ele estivesse devastando
o meu corpo.
E eu nunca iria pensar nele de novo, porque ele destruiu
quaisquer sentimentos que eu pudesse ter desenvolvido.

Corra…

Engoli em seco, tencionando-me e relaxando em seguida. Eu


vibrava e formigava, tudo ao mesmo tempo em que o meu sexo
se contraía por vontade própria e minha soberania sobre meus
membros desaparecia.
Tornei-me flexível, exatamente como a boneca que esses
bastardos gostavam de abusar.
Meus músculos relaxaram na cama, minhas pernas se
abriram, e minha mente... esta era a melhor parte.
Eu escapei.
Desapareci dentro de mim, girando cada vez mais rápido até
que eu estava muito longe para ser alcançada e espancada, e
também protegida de ser mais arruinada do que eu já estava.
Eu não me importava se seu dragão soprava fumaça quando
estava com raiva.
Eu não ouvi seu gemido atormentado.
Eu não sentia os meus dedos dentro de mim.
Eu

PEPPER WINTERS
fui
embora.

PEPPER WINTERS
Ela ainda estava aqui.
Seu corpo quente ainda estava sob nossos dedos unidos.
Sua respiração ainda fazia cócegas meu peito. Sua presença
ainda me fazia duro.
Mas tudo o que a fazia Pimlico desapareceu.
Sua luta, a sua justa ira, sua confusão, força e coragem.
Tudo desapareceu.

Então é assim que ela se protegia.

Ela pode não saber sobre prazer. Ela só entende a dor. Mas
ela descobriu como proteger sua mente. Porra, se isso não me
intriga ainda mais. Se ficasse ainda mais interessado nesta
mulher, eu não seria capaz de ir embora quando o momento
chegasse.
Mesmo agora, nosso tempo estava acabando. Fiquei chocado
por Alrik não ter invadido o quarto enquanto eu a tocava. (Não
que eu tocasse diretamente, apenas a guiava na auto
exploração).

PEPPER WINTERS
O fato de que ele não tinha chegado ainda despertou os
meus alarmes internos.
Mas agora, eu tinha fodido tudo e perdido a menina e seus
segredos. A única coisa que eu podia fazer era trazê-la de volta
para mim antes que fosse tarde demais.
Libertando nossos dedos unidos, eu rearranjei meu pau
para não ficar com bolas azuis e sentei-me. A cama balançou,
mas Pimlico permaneceu olhando em branco para o teto.
Ela não vacilou quando minha sombra caiu sobre ela ou
enrolou-se em uma bola quando eu estendi a mão e acariciei
sua bochecha.
Ela simplesmente estava ali, esperando.
Se eu quisesse roubar desta escrava, eu teria que usar seu
condicionamento contra ela.
Eu não poderia fazer mais perguntas.
Eu teria que exigir respostas.
Foi o jeito que ela tinha sido ensinada.
A única maneira que ela responderia.
Passando as duas mãos pelo meu cabelo, eu descartei a
minha necessidade de oferecer-lhe algum prazer e sentei-me
mais ereto.
Meus lábios se separaram para lhe dar um comando para
retornar. Para exigir que ela saísse desse estado.
Mas algo me parou.

PEPPER WINTERS
Ela parecia tão inocente e tão extremamente cansada.
Olheiras profundas marcavam a sua face, enquanto a exaustão
oprimia os seus membros.
Eu tinha ido longe demais.
O mínimo que eu podia fazer era conceder a ela um
momento de descanso. Minha impaciência se desvaneceu
quando memórias suaves de cuidar de outra pessoa me deram a
capacidade de ser gentil.
"Role de lado", eu sussurrei, empurrando seu ombro.
Ela moveu-se obedientemente, mas não deu sinais de ter me
escutado.
Quando ela obedeceu, eu deslizei para cima da cama e me
reclinei contra a cabeceira mais uma vez.
Meu olhar se fixou na porta quando eu coloquei minha mão
sobre suas costas nuas. Ela não vacilou, não por confiar em
mim ou me aceitar, mas porque ela tinha deixado seu corpo
para trás.
Ela não se importava com o que lhe fazia, porque tinha me
impedido de afetar sua mente.
Quanto tempo tinha sido desde que ela tinha dormido com
segurança? Quanto tempo desde que sonhou com tempos mais
felizes?
A palma da minha mão moveu-se por vontade própria,
acariciando-a suavemente, garantindo conforto depois de

PEPPER WINTERS
oferecer nada mais que sofrimento. "Descanse Pim. Eu vou
cuidar de você.”
Eu não podia ver seu rosto, mas seu corpo permaneceu
tenso e imóvel.
Colocando um braço acima da minha cabeça, eu passei os
dedos através da cabeceira, preparando-me para acariciá-la
novamente que ela cedesse. Eu fiz uma careta enquanto meus
dedos tocaram algo macio dentro das tabuas da moldura.
Tentei descobrir o que era, mas Pim de repente se sacudiu,
soltando o suspiro mais pesado que eu já ouvi. Sua coluna e
músculos relaxaram, e ela aceitou as minhas carícias como se
fosse um presente.
A sua aceitação arrancou quaisquer outros pensamentos da
minha mente e me acomodei na minha tarefa de protegê-la o
tempo todo, a tocando com bondade.
Nos primeiros minutos, eu estava ciente de cada inalar e
exalar seu. Mas à medida que o tempo passava e nos
acostumamos um com o outro, eu achei reconfortante estar
perto dela.
Eu não tinha estado com outra pessoa, desta forma por
tanto tempo, que tinha esquecido o quão gratificante era cuidar
de alguém.

Também é difícil, cansativo e desmoralizante.

PEPPER WINTERS
Isso era verdade.
Cuidar da minha mãe e fazendo o meu melhor para corrigir
o que eu fiz, era a razão pela qual eu carregava tanta vergonha.
Família tinha expectativas.
Pimlico não tinha nenhuma.
Ela iria aceitar o que eu dava a ela sem descartar minhas
tentativas de generosidade. E, em troca, ela me fazia querer dar
mais.
Muito mais.
Minha mente vagou, e minha mão livre foi de encontro ao
meu bolso e a nota de dólar dobrada dentro dele. Eu não me
importava com o silêncio em outras pessoas, mas o silêncio em
meu redor não era uma coisa boa.
Memórias tinham um jeito de me encontrar quando as
coisas estavam muito calmas, tão fortes que eu apertei a nota
na mão esquerda sem nunca cessar as carícias com a minha
direita.
Ela se contorceu e suspirou novamente, caindo no mais
profundo no sono.
Enquanto ela dormia ao meu lado, não sabendo o tipo de
homem que eu era, mas confiando que eu faria o que tinha
prometido e a manteria segura, dobrei o dinheiro e deixei as
lembranças dolorosas e as escravas suicidas dormirem.

PEPPER WINTERS
Meu relógio de Minnie mostrava que eram 12h33 da
madrugada.
Minha mãe odiava que eu usasse essa coisa, dizia que eu era
velha demais para essas bugigangas infantis. Mas eu amava a
estampa e as correias desgastadas. Era tudo o que eu tinha dele.
O homem que me chamava de ‘ratinha’ desde que eu conseguia
me lembrar.
A memória do seu apelido para mim ressoava com cada
escala das mãos sobre as orelhas grandes da Minnie. O apelido
era derivado do meu próprio nome, que de alguma forma se
transformou em um personagem da Disney. Tasmin tornou-se
Min, que se tornou Minnie, que se tornou Ratinha. Eu tinha
muitos apelidos, mas apenas o meu pai me chamava de Ratinha
enquanto todas as outras pessoas me chamavam de Tas.
Ele morreu quando eu tinha sete anos.
Era por isso que eu nunca iria tirar o relógio, não importa o
quão juvenil ele fosse.
Eu nunca cresceria na perspectiva do meu pai.
Isso deixava a minha mãe furiosa.

PEPPER WINTERS
De acordo com meu relógio, eu estava nesta festa com ela
durante cinco horas, e queria ir para casa. Meus pés doíam,
minha barriga roncava, e estava sendo simpática com pessoas
que não mereciam.
Mas, então, o Sr. Kewet sorriu e perguntou se eu podia
acompanhá-lo na varanda; e estupidamente fui com ele, mesmo o
reconhecendo como um lobo.
Eu era a filha de uma psicóloga. Eu estava aqui para trocar
idéias seus clientes e endossar seus patrocínios. Eu não a
decepcionaria.
A conversa foi normal. Mr. Kewet elogiou meu vestido, cabelo
e sorriso. Então seus olhos caíram para o meu relógio Minnie
Mouse, e seu sorriso se tornou cruel. Ele não era mais um rico
homem mais velho, mas sim um assassino que me via como
presa.
"Por que uma menina tão bonita como você está usando uma
coisa tão feia?"
Arrepios de aviso se espalharam pela minha espinha quando
ele se aproximou. O desejo de fugir fracassou em minhas pernas
paralisadas, mas eu tinha sido ensinada a permanecer educada,
porém distante. "Significa muito para mim. Não é apenas um
relógio.”
"Tudo bem." Ele riu. "Nesse caso, eu vou guardá-lo para você
para mantê-lo seguro."

PEPPER WINTERS
Minha sobrancelha subiu. "Guardá-lo?" Eu não tinha a
intenção de dar a este homem o último presente do meu pai.
Colocando os dedos de forma protetora em torno da pulseira
vermelha e branca, eu balancei a cabeça. "Eu não vou dá-lo a
você."
"Oh, não é uma questão de dar." Um segundo as suas mãos
estavam ao lado do meu corpo. O próximo eles estavam na minha
garganta. "É uma questão de tomar."
Meus dedos subiram para arranhá-lo; minha boca se abriu
para gritar. Mas ele não me estrangulava suavemente e devagar.
O ato foi cometido com rapidez e força.
Suas mãos bloquearam a minha traquéia. As lágrimas que eu
derramei deram lugar à hipóxia e choque. Meus braços se
tornaram membros inúteis. Minhas pernas param de chutar e
amoleceram. Minha cabeça rugiu, e em um segundo eu estava
viva e respirando e no outro estava morta e depois... não estava
mais.
Mesmo quando eu fui levada para a garagem, com os lábios
vis nos meus soprando ar para dentro meu cadáver desinflado,
tudo que notei foi que o meu pulso estava nu.
Meu relógio se foi.
Minha infância foi destroçada.
Ele não só tinha roubado minha vida, mas o meu apelido, pai
e a felicidade também.

PEPPER WINTERS
*****
Adormeci com carícias suaves nos braços acolhedores das
memórias. Algumas boas, algumas ruins... Outras que me
fizeram lembrar que eu tinha sido uma garota uma vez e não
esta escrava a beira da morte.
Eu não tive palpitações com o pensamento de mais um dia
no inferno. Eu não me encharquei em suor frio desejando que
pudesse dormir e nunca mais acordar.
No entanto, não foi assim que acordei.
O pesadelo recorrente foi o que me trouxe a consciência,
meus dedos tatearam para meu pulso vazio, a aflição comum da
perda lacerando o meu coração, e a saudade esculpindo um
buraco na minha alma.
Mas nada disso importava quando um ronronar sensual
salvou o meu coração de se esfaquear ainda mais com o
passado, dando-me uma ordem para que eu pudesse me
agarrar.
"Volte, Pimlico. Agora."
Acordei completamente, trocando a angústia da noite em
que eu perdi a minha vida por um relaxamento contente,
mesmo estando deitada com um estranho em meu colchão
duro.
Por quanto tempo eu dormi? Por quanto o Sr. Prest me
deixou descansar? E quanto faltava para o Mestre A perder a
paciência e vir me buscar?

PEPPER WINTERS
Pisquei quando o Sr. Prest levantou-se. "Levante-se.
Imediatamente."
Finalmente, um comando que eu poderia obedecer sem
pensar duas vezes.
Eu não tenho estar plenamente consciente ‒ somente agir
automaticamente como uma escrava.
Desviando os olhos de sua tatuagem de dragão, sentei-me e
preparei-me para escorregar para o tapete.
Porém, a sua voz me fez parar no meio do movimento. "Não
vá para o chão. Fique em pé na cama. Segure a cabeceira se for
necessário."

OK…

Fazendo o que me foi dito, plantei meus pés instáveis no


chão e me levantei.
Ele grunhiu quando teve uma visão do meu corpo inteiro.
A boceta nua que o Mestre A exigia. O estômago côncavo de
uma menina morrendo de fome. Os pequenos seios de uma
mulher sem nenhuma gordura ou quadris femininos. Eu não
era atraente. Eu não era curvilínea ou flexível como as artistas
pop, cujas músicas eu costumava dançar a alguns anos atrás.
Eu não amava nada sobre mim quando me olhava no
espelho. Incluindo as manchas roxas, verdes e azuis me
decorando da cabeça aos pés. Minha mão enfaixada doeu

PEPPER WINTERS
quando eu a usei para me equilibrar para me ajudar a subir na
cama.
Eu ousei olhar para ele.
Não importa a sua forma estranha de me atingir e suas
tentativas de roubar minha mente, eu ainda temia que ele fosse
surtar e agir como os outros homens. Ele tinha sido tão
estranhamente gentil em me deixar dormir, quando poderia ter
me usado para seu prazer.

Não estou entendendo.

Para ele, eu era nada mais do que um objeto para brincar.


Mas e se ele ficou entediado? O que fará em seguida?
Porém, eu posso estar errada. Talvez, ele realmente não
quer me estuprar, apenas conversar. Talvez, o Sr. Prest deixou-
me descansar, porque, mesmo com seus negócios obscuros e
contratos de iates blindados e ogivas, ele tinha alguma decência
distorcida.
Ele andava no chão do meu quarto, realocando sua ereção
descaradamente, mas ele não olhou para a minha forma nua ou
para os meus machucados. Seus olhos nunca saíram do meu
rosto, observando a minha forma de encará-lo, mordendo o
lábio forte quando eu fui contra todos os meus votos e inspirei
audivelmente.
Nós não falamos.

PEPPER WINTERS
Apenas nos olhamos.
Eu, de pé como uma deusa caída, e ele, como um adorador
do diabo fazendo o melhor para encontrar a luz.
Os minutos se passaram, mas ele não parou de andar. Sua
mandíbula ficou tensa, a garganta trabalhou, e seu corpo se
contraiu enquanto ele trabalhava os seus pensamentos.
Quanto mais nos olhávamos, mais despertos ficávamos.
Qualquer que seja a química que existia entre nós tornou-se
contaminada ‒ diferente.
Minha ideia de usá-lo para me libertar parecia ridícula
agora que eu não estava tão apavorada.
Ele deveria ir embora antes do Mestre A matá-lo. Esta
palhaçada já foi longe o suficiente.
"Porra." Sua cabeça caiu para trás ao mesmo tempo em que
um rosnado baixo escapou de seus lábios. "Eu não tenho ideia
do que estou fazendo aqui."
Eu tremi com uma mistura de repulsa e fascínio.
Será que ele quer que eu me importe e simpatize com sua
confusão?

Eu não vou.

Fiquei grata pelo pequeno alívio que ele me proporcionou,


mas eu não esqueceria o que aconteceu antes. Ele fez-me

PEPPER WINTERS
recuar para me proteger, provando que não entendia a palavra
não, mesmo que eu nunca disse isso verbalmente.
Eu bufei, ignorando o desejo de cruzar os braços e apontar
o queixo para a porta.

Você pode sair quando quiser.

"Eu acho você impressionante, isto é uma asneira? É fodido


que eu não me importe que você não está nua porque quer...
mas porque eu ordenei a você?" Ele retomou sua movimentação.
"Merda, esta foi uma má ideia."
Seus olhos se voltaram para o blazer jogado sobre a borda
da cama.
Huh, ele deve tê-lo pegado. O objeto estava no chão quando
eu tinha adormecido.
Seu rosto se contorceu como se estivesse lutando contra o
desejo de se vestir e sair ou desnudar-se e cumprir o que tinha
ameaçado.
Se eu fosse qualquer garota normal, eu teria caído no
colchão e me coberto de seu olhar lascivo. Para responder a seu
dilema e forçá-lo a escolher a primeira opção e ir embora.
Mas eu não era e não me foram dadas instruções para
ajoelhar-me, então eu permaneci de pé, mesmo quando ele se
afastou com suas calças abertas e cinto balançando, entrando
no meu banheiro para jogar água fria na testa.

PEPPER WINTERS
Sem porta para escondê-lo, continuei olhando.
Não que ele se importasse.
O que ele estava pensando enquanto eu dormia? Fosse o
que fosse tinha o levado ao seu limite.
Será que o Mestre A tentou entrar? O Sr. Prest fez algo que
eu não sei?
Tantas perguntas que não podem ser feitas em voz alta.
Após lavar o rosto, ele penteou o cabelo para trás com os
dedos e afivelou o cinto. Seus olhos negros misteriosos se
encontraram com os meus no espelho. Ele não deixou de me
observar enquanto secava as gotas finais em suas mãos usando
a pequena toalha ao lado da pia.
Ao entrar no quarto, ele se sentou no banquinho da
penteadeira que nunca usei. Ligando os dedos entre suas coxas,
ele se inclinou para frente, plantando seus pés no tapete
branco. "Venha aqui."
Eu quis me rebelar, mas eu lutei contra esse desejo.
O jogo dele estava começando a me intrigar, fazendo com
que o meu desejo de deixar o meu corpo desaparecesse,
obrigando-me a permanecer aqui com ele... Para o melhor ou
pior.
"Pim, venha."
Seu pesado timbre forçou as minhas pernas a se moverem.
Saltei da cama, escondendo a minha careta quando meu corpo
machucado tentou amortecer a ação.

PEPPER WINTERS
Ele sinalizou com dedo, me convocando mais perto. "Não
tenha medo."
Eu não fiz um som enquanto me movia nua e descalça para
ficar na sua frente.
Minha mão esquerda pendia quebrada ao meu lado,
enquanto a minha direita apertou-se em um punho, forçando-
me a esvaziar o meu corpo de toda a confusão e dúvidas, para
torná-lo emudecido.
O Sr. Prest olhou para cima.
Como ele estava sentado, eu estava mais alta. Mas não
acreditei por um segundo que teria algum controle do que
estava prestes a acontecer.
Sua voz era um sussurro sedutor. "Eu não vou forçá-la a
fazer algo que você não quer, mas quero que prometa que não
vai desaparecer novamente. Combinado?"

Não.
Sim.
Quem diabos é você?

"Você está confusa com o que fizemos juntos, mas você não
se importava tanto quanto você acha que deveria."

Pare de colocar palavras na minha boca.

PEPPER WINTERS
Meus dedos do pé agarraram o tapete enquanto eu abaixava
a cabeça, esperando que ele não fosse capaz de me ler.
"Vendo como você não vai me dizer seus pensamentos, eu
vou lhe dizer os meus." Ele se mexeu um pouco no banco. "Eu
estou fazendo negócios com o Alrik porque ele tem contatos que
quero. No entanto, em minha pesquisa, descobri que ele é um
fodido doente que matou outras quatro mulheres, que segundo
ele foram suas amantes e nunca foi processado por isso. Ele
também assassinou a alguns homens, mas isso não é
importante para você. Quando analisei os relatórios de autópsia
das moças, as alegações de abuso de longo prazo foram
predominantes, mas ainda não foram suficientes para pegá-lo."
Ele estendeu a mão e passou o braço em volta do meu
quadril. "Ele vem de uma família rica. Seu bisavô era fabricante
de aço, seu avô investiu com sucesso no mercado de ações, e
seu pai morreu jovem, deixando tudo para ele. Ele jogou maior
parte da riqueza fora, e eu fiz a minha parte pegando uma boa
quantia da fortuna dele. No entanto, eu não sabia nada sobre
você. Ele a manteve escondida. E isso me irrita pra caralho. Na
minha linha de trabalho, eu preciso saber tudo o que há sobre
uma pessoa. Agora, sei mais do que suficiente apenas passando
um tempo com você.”
Ele olhava para onde ele me tocava.

PEPPER WINTERS
Meu corpo se arrepiou e ficou quente, sem saber se deveria
ficar feliz por ser tocado ou enjoado por estar preso por seu
toque.
"Eu vim aqui hoje à noite querendo transar com você. Mas
vejo agora que já tomei tudo o que podia do Alrik. Eu não vou
abusar de você também, porque mesmo parecendo idiota, eu
senti alguma coisa. Eu não entendo o que é, e não faz uma
porra de diferença, mas há algo entre nós.”
Minhas narinas se dilataram.

Ele sentia, também?

Retirando a mão do meu quadril, ele a deixou pairando


sobre minha pele. Quanto mais tempo a promessa de um toque
se estendia, mais a minha carne formigava.
"Você sente isso?" Seus olhos capturaram os meus. "Porque
eu sim. E isso me enlouquece, porque eu não consigo resistir a
você." Sua mão me tocou novamente, me puxando para dentro
da prisão de suas pernas abertas. "No momento em que a vi,
soube o que era e o que queria de você. Eu não me importo se
você está aqui contra a sua vontade e que deveria fazer a coisa
certa e libertá-la." Seus dedos me apertaram. "Sabe por quê?"

Porque você é igual a eles.

PEPPER WINTERS
"Porque perdi tudo o que me faz humano há muito tempo.
Eu envergonhei a mim mesmo. Não tenho nenhuma honra do
caralho, tomo e roubo das pessoas. E o ato de roubar, me dá
estímulo para viver. Então veja Ratinha silenciosa, eu não estou
aqui para ser um cavalheiro. Eu quero as minhas respostas, e
então irei embora e nunca mais olharei para trás."
Seus dedos apertaram uma contusão laranja causada por
um chute do Mestre A. "Eu quero você fora da minha mente.
Fora da minha cabeça. Eu fui claro?"

Espera... Você pensou em mim?

Nestes três dias desde que nos conhecemos, ele tinha


pensado em mim tanto quanto eu pensei nele?
Meus lábios se contraíram em saber que nós dois pensamos
um no outro, não com afeto ou desejo, mas com ódio por
diferentes razões. Ele odiava o pouquinho de poder que eu tinha
sobre seu corpo. Eu o odiava por representar o fim da minha
vida.
Eu lutei contra um arrepio quando ele me puxou forte para
frente, apertando minha boceta nua contra seu peito tatuado.
"Eu tinha planejado em dar-lhe algo em troca. Assim, mesmo
roubando de você; eu teria pagado de alguma forma. Queria
dar-lhe um orgasmo. Mas vejo agora que... você não vai me
deixar."

PEPPER WINTERS
Não é que eu não vou... é que eu não posso.

O material caro da calça fez cócegas nas minhas pernas


quando ele apertou os joelhos, mantendo-me presa. "Você
realmente é o pior tipo de mulher, Pimlico."

O que?

Eu empurrei de volta, lutando contra o aperto.


Ele riu. "Não se ofenda. Eu quis dizer isso como um elogio."

Você é uma merda fazendo elogios.

"Quer saber por que você é o pior tipo?"


Minha testa franziu-se.

Não…
Certo, sim.

"O fato de ser viciante é o que a torna o pior tipo de mulher.


Você tem tantos segredos e tudo o que eu quero fazer é
desvendá-los, incluindo aqueles que ainda não conheço. Eu
estou exercendo toda a minha força de vontade para não ser
igual a seu mestre e te machucar para obter o que quero.”

PEPPER WINTERS
Mesmo julgando as brincadeiras assassinas do Mestre A, ele
era tão ruim, talvez pior, do que o monstro a quem eu pertencia.
Isso doeu mais do que eu pensava.

Os homens são todos iguais.

"Isso lhe surpreende, compreendo."

Você não compreendeu nada.

"Você está surpresa que mesmo com o meu desejo de


espanca-la e fodê-la, eu vou sair por aquela porta sem
machucá-la? Ou está mais surpresa pela minha admissão
honesta de estar obcecado por você?"
Seu toque passou do meu quadril para o meu umbigo.
Nunca olhando para longe, ele pressionou a ponta do dedo no
local, empurrando forte, de alguma forma ativando um fio de
prazer que eu nunca soube que existia.
Eu odiava sexo.
Eu só conhecia a dor quando era fodida, e dor não me
excitava. Mesmo na única ocasião em que toques desastrados e
beijos molhados tinham evocado certo desejo em mim, essa
sensação foi ofuscada pelo fato de que Scott (meu primeiro e
único namorado por duas semanas) me usou como qualquer
homem.

PEPPER WINTERS
Ele não abusou do meu corpo, mas sim da minha mente.
Copiando minhas respostas em seu dever de casa, me
ludibriando a ajuda-lo a passar em seus exames.

Talvez tudo isso seja culpa minha, e eu apenas deixo que os


homens me usem?
Não apenas os homens.

Minha mãe havia me usado como sua filha perfeita.


Um assassino tinha me usado como uma venda
conveniente.
Por que com o Sr. Prest seria diferente?
Ele interrompeu meus pensamentos tortuosos. "A coisa é,
você nunca vai me entender, assim como eu nunca vou
compreendê-la. Eu não falo muito, tampouco. Eu prefiro o
silêncio. Acho que ele agrega mais do que retira."
Inclinei meu queixo em desacordo.

Você está muito falador no momento.

Suas pálpebras se cerraram quando seu braço me


aproximou ainda mais dele. Seu nariz tocou a minha barriga.
"Você está certa. Por alguma razão, eu falo o suficiente por nós
dois quando estou perto de você. Vamos apenas dizer, que gosto

PEPPER WINTERS
de falar quando estou na cama. No sexo é quando a verdade
vem à tona, independentemente do que tentamos esconder”.

Nós não estamos na cama...

Suas desculpas não faziam sentido.


"Porra, o que estou dizendo?" Levantando-se do banco, ele
caminhou em direção à porta. "Eu preciso ir."

Ir?!
Mas você não pode... Não até que eu descobrir como usá-lo
para me libertar.

O esquema rígido de outra ereção mostrou-se em suas


calças. Ele não tinha colocado a camisa e sua tatuagem era tão
impressionante, a cauda do dragão parecia cintilar com
impaciência sobre o seu fígado com a face protegendo o seu
coração.
"Ah caralho, eu não posso. Não até que eu tenha-" Passando
a mão pelo cabelo, ele exalou pesadamente. "Merda, eu deveria-"
Parando perto do colchão, ele sacudiu a cabeça e me
chamou com o dedo. "Foda-se. Venha aqui. Há algo que eu
preciso fazer."
Meus pés ficaram colados no tapete.

PEPPER WINTERS
Fazer o quê, exatamente?

Será que isso importa? Eu estava ficando sem chances de


fazê-lo me querer o suficiente para me roubar. Ele já admitiu
me deseja de uma forma que não deveria. Eu precisava de bom
senso para usar isso contra ele.
Dei um passo para frente.
Ele sorriu, afiado e tão perigoso quanto o seu dragão. "Boa
menina. Um pouco mais perto."
Eu cerrei os olhos, estudando-o enquanto suas mãos se
abriam e fechavam em suas coxas. Ele olhou de mim para o seu
blazer e para mim de novo, mais uma vez, com culpa e confusão
mostrando-se no seu rosto.
O que ele faria causaria dor a nós dois.

Do que é que ele tem medo?

Minha curiosidade era mais forte do que o medo.


Caminhei em sua direção.

PEPPER WINTERS
Que porra você está fazendo?

Eu desliguei minha mente.


Eu não conseguia controlar meu corpo ou a luxúria
pulsante ao ver a aproximação de Pimlico, mas eu ignorar as
repreensões de minha mente.
Eu tinha prometido a mim mesmo que não faria isso.
Enquanto ela dormia e o desejo de fazer o que queria cresceu
como uma bola de neve, eu me acorrentei para não fazer nada.
Meu autocontrole acabou por ser malditamente bom.

Tenho permissão para fazer um pouco de tudo.

E eu queria tudo.
Muito. Pra. Caralho.

Mas isso vai contra-

Desliguei meus pensamentos.

PEPPER WINTERS
Mesmo que isso fosse errado, eu nunca ter outra
oportunidade novamente. Eu precisava saber como era antes de
sair pela maldita porta, sem olhar para trás. Depois disso, eu
iria embora. Não esperaria por Alrik invadir nosso santuário e
roubar de volta a sua escrava.
Ele poderia tê-la.
Ela era demais para mim.
Muito trabalho, muita tentação, demasiada dependência.
Fiquei contente que Selix tinha ficado por perto com o carro,
porque quanto mais cedo eu estivesse fora de aqui, seria o
melhor para todos.
Quando Pim alcançou meu lado, eu apontei para a cama.
"Sente-se."
Ao contrário de sua ferocidade anterior, ela obedeceu
imediatamente.
Suas coxas esconderam o lugar que ela tocou tão
indisposta, sua caixa torácica pressionado contra sua pele
enquanto ela respirava mais rápido com a incerteza.
Ela parecia tão malditamente bonita mesmo parcialmente
quebrada.
Pairando sobre ela, fiz uma pausa.
Se eu fizesse isso, eu estaria infringindo mais de uma lei no
meu mundo. Eu pagaria por este ato durante meses.
Mas se eu não fizer isso, eu sempre me imaginaria o que
teria sido, e eu não gosto disso, porra. Era um desperdício de

PEPPER WINTERS
tempo. Uma vez que eu precisava me dedicar ao meu império.
Eu tomaria esta última coisa dela e então... Tudo estaria
acabado.
Nunca afastando o olhar, eu me ajoelhei.
Ela engasgou quando nos ficamos da mesma altura e cada
selvageria dentro de mim disse para deitá-la e transar com ela.
Fazer o que eu quisesse.
Mas ela iria fugir como antes e perder-se profundamente
dentro de si.
E eu não queria reclamar seu corpo.
Eu queria a sua mente.
Ela era astuta e adaptável e esta era a única maneira que
eu poderia aproveitar um pedaço dela e fazê-la ficar.
Eu só não sei o quanto de mim mesmo eu iria dar no
processo.

PEPPER WINTERS
Suas mãos se levantaram.
Eu tentei me afastar, mas seus dedos fortes seguraram a
parte de trás da minha cabeça, me mantendo presa. O terror
familiar me congelou quando o botão para a dor apagou meus
sentidos. Eu não podia parar. Eu tinha sido brutalizada muitas
vezes para impedir o impulso de apagar a minha mente.
"Eu não vou te machucar." Sua respiração atingiu o meu
rosto. Sua promessa não fez nada para acalmar meus nervos. A
maneira como ele se ajoelhou diante de mim fez o meu coração
se envolver com arame farpado e sangrar. Com esta pequena
posição, ele me deu mais poder e mais respeito do que já
tinham me dado em toda a vida.
Ele me eviscerava.
Mas então seus lábios pousaram nos meus.
E o mundo parou antes de girar descontroladamente na
direção errada.
Eu não sabia o que fazer, como agir.
Devo me afastar?
Mordê-lo?
Ceder a ele?

PEPPER WINTERS
Eu congelo.
Fugir?
Esconder-me?
Sair do meu corpo?
Eu tremi.
Eu não podia fazer nada, porque seus lábios eram uma
coleira perfeita, me mantendo presa e tremente.
Em primeiro lugar, ele me desgastou com suas perguntas, e
agora, ele tinha finalmente tomado algo físico.
Um beijo.
Sua língua deslizou em minha boca.
Meu queixo arqueou-se por sua vontade própria,
desesperado por paixão, mesmo quando eu não sabia o que era.
Um calor borbulhante fluiu a galope pelo meu sangue.
Mestre A raramente me beijava, e quando fazia era
excessivamente molhado e ruim. Mas isto... Não havia nada de
errado com isso. Peculiar, definitivamente. Surpreendente,
absolutamente. Mas ruim, de forma alguma.
Meus lábios despertaram-se para um tipo diferente de beijo
de um tipo diferente de homem, mas por algum motivo, o Sr.
Prest parou.
Sua boca pairou sobre a minha, como um teste para ver até
onde ele tinha me empurrado, e empurrado a si mesmo. Seus
olhos brilhavam com a necessidade de parar. Mas os seus
lábios me chamaram para recomeçar e nunca cessar.

PEPPER WINTERS
Eu queria que ele parasse.
Eu precisava que ele parasse.
Mas uma parte microscópica de mim negava minhas
mentiras. Meu coração balançou, estendendo-se por mais
ternura, sabendo sem ser dito que esta seria a única vez em que
eu receberia uma coisa dessas.
Se eu não me deixasse aproveitar este momento, no qual um
belo estranho me dava algo que eu pensei que nunca teria,
então eu era uma idiota.
Eu queria isso.
Eu precisava disso.

Eu mereço isso.

"Você quer que eu te beije? Você vai me deixar levar uma


coisa de você?”
Mais uma vez, a pergunta foi feita para me fazer tropeçar e
me forçar a responder.
Ele era bom.
Ele tinha confundido minha mente com sonhos e beijos e
agora espera que eu acene com minha permissão.
Mas eu tinha estado em silêncio por muito tempo para
escorregar.
Em vez de balançar a cabeça ou me afastar, fiquei onde eu
estava. Nossas respirações se misturavam, nossos corpos

PEPPER WINTERS
formigavam, e o feitiço que havia entre nós nos arrastou em seu
charme.
Ele deu um meio sorriso, bufando em impaciência. "Você
realmente não vai falar, mesmo sabendo que eu não sou como
ele."
Olhei em seus olhos, ignorando o desejo de responder.
Eu esperava que ele terminasse o beijo, se levantasse e se
afastasse. Mas seu olhar mergulhou no meu, desconsiderando a
minha rebeldia, e aceitando a minha atitude.
"Porra, você é forte." Seus lábios pousaram na minha boca
novamente.
Seus dedos apertavam o meu rosto, me segurando firme.
Seu domínio era reconfortante e uma armadilha.
A maior parte de mim queria correr.
Mas, quando a língua mais uma vez brincou em minha
boca, eu deixei de lado o que deveria e o que não deveria fazer.
Em dois anos, eu nunca me permiti pensar que estivesse
quebrada. Eu não estava quebrada. Eu ainda estava viva. Mas
eu sabia de algo que o Sr. Prest não fazia ideia.
Mestre A não se importaria que seu convidado não tivesse
dormido comigo. Ele não se importaria que nada tivesse
realmente acontecido entre nós. Ele ia me matar de qualquer
maneira.

PEPPER WINTERS
Eu tinha sido o seu troféu mais caro, mas esta noite foi
aquela em que outro homem me deixou marcada, e eu vou
passar da estante para uma caixa.

Para um caixão.

Meu coração pulava como se estivesse preso em um cofre,


desesperado para sentir alguma coisa boa antes das coisas
ruins começarem. Inclinei-me para o beijo, dando-lhe uma
resposta silenciosa que sim, eu queria que ele me beijasse, e
sim, eu estava grata pelo que ele me deu, apesar de ainda o
odiá-lo por usar o apelido que meu pai deu para mim.
O beijo mudou de estranho para acolhedor; nossos corpos se
encaixaram juntos. Suas mãos deslizaram do meu rosto para o
meu cabelo, puxando minha cabeça para beijar-me com mais
força. Meus dedos, tanto os saudáveis quanto os quebrados
agarraram os seus pulsos, prendendo-o em vez de empurrá-lo.
Eu nunca pensei que eu iria encontrar algo tão singular e
doce.
Mas eu tinha.
Ele tinha me encontrado.
Ele tinha me dado uma noite de demandas e aceitação, e
este era um adeus.

PEPPER WINTERS
Todo o controle foi drenado do meu corpo quando me
entreguei ao seu toque. Eu desisti completamente. Seja isso o
que for, eu não quero que acabe.
O beijo se tornou mais profundo, soltando faíscas enquanto
nossas bocas nunca mais paravam.
Eu me mexi inquieta, desesperada, quando minha atenção
foi levada por sua língua ágil na manipulação magistral.
Ele despertou em mim um sentido estranho, pelo qual eu já
não ouvia o mundo exterior, mas o meu interior.
Aquele que eu abandonei quando fui sequestrada e vendida.
O que era muito maior do que o universo que eu vivia.
Um fogo nos queimava lentamente, enquanto nossas bocas
se buscavam com fome passional. Não havia mais nenhuma
sincronização.
"Você sente isso, Pim?" Ele ofegava entre beijos. "Você sente
seu corpo preparar-se para mim?" Sua voz mudou para um
grunhido, seus lábios brutais na minha boca. "Merda, eu quero
você."
Minhas costas se curvaram enquanto ele me apertava em
seu abraço.
Algo aconteceu comigo.
Eu não estava mais no mesmo caminho.
Eu tinha saído dele.
Não, eu tinha sido arrastada dele. Por este homem.

PEPPER WINTERS
Este anjo pecador tinha de alguma forma se tornado o meu
defensor e libertador.
Eu não o conhecia.
Mas eu queria.
Ele tinha salvado minha vida, dando-me um segundo de
felicidade. Eu queria que ele permanecesse nela. Mas eu sabia
que não era possível.
Ele praticamente assobiou com o calor. Eu não conseguia
pensar quando ele olhava para mim assim, me beijado desse
jeito, roubando tudo de mim.
Sua língua deslizou prazerosamente ao longo meu lábio
inferior, fazendo-me desejá-lo tão imprudentemente. Eu queria
sua língua em mim, dentro de mim, me consumindo. Eu queria
todas as coisas que eu não entendia nem nunca pensei que eu
iria contemplar.
Seu olhar ameaçador ficou furioso, zangado, cheio de cobiça,
e muita luxúria. Ele gritava sexo. Mas não forçado. Sexo.
Consensual, algo desconhecido para mim.
Seu peito ondulava enquanto sua mão segurou o meu rosto
novamente. Sua barriga estava tensa, fazendo seu dragão e
chiar.
"Eu finalmente fiz você falar, Pim." O brilho em seu olhar
dançou com o conhecimento. "Seu corpo gosta de mim, mesmo
se você não gosta."

PEPPER WINTERS
Ondas de emoções desconhecidas me golpearam tão
perversamente como os punhos do Mestre A. Eu não sei por
que, mas nesse segundo, eu fiquei devastada ‒ não pelo prazer
que ele tinha dado, mas pela depressão que me atingiria quando
ele me deixasse.
Eu queria viver neste momento por toda a eternidade.
Eu queria encontrar a autoestima e felicidade nesta falsa
união. Eu queria companhia, mas por me fazer querer isso, ele
me fez fraca, porque agora eu queria o seu apoio, depois de
tanto tempo dependendo apenas de mim mesma.
Eu gostei dele.
Ele me beijou de novo, parando meus pensamentos e
obrigando-me a aceitá-lo em um nível mais profundo do que eu
jamais pretendi.
Eu já não era uma escrava.
Eu fui beijada.

Beijada.

O Sr. Prest se afastou lentamente, levando seu calor,


acolhimento e proteção com ele.
Isto foi... Eu não tenho palavras.
Requintado?
Divino?

PEPPER WINTERS
Aterrorizante?

Eu pairava na bem-aventurança final da melhor coisa que


me aconteceu em muito tempo, caindo em uma letargia tão
pesada e demorada, que me fez lutar para manter os olhos
abertos. O que ele tinha feito comigo? Por que eu me sinto
drogada, obcecada e tão cansada?
Ele não se moveu.
Seu olhar travou guerra com desejos muito mais profundos
e perigosos que apenas um beijo, e eu fiquei grata quando ele
balançou a cabeça, cuidadosamente mascarando tudo o que
tinha acontecido.
Seus lábios se moveram em um sorriso satisfeito. "Presumo
que foi o seu primeiro beijo?"
Minhas bochechas aqueceram.
Fechei os olhos, libertando-me da torre de prazer que ele
tinha me colocado.
Os nós dos seus dedos tocaram meu queixo, fazendo com
que eu me assustasse e abrisse os olhos.
"Quais outras primeiras vezes você tem sido negada?"

O que? Como assim?

Colocando-se de pé, ele se sentou na cama e passou a mão


sobre sua boca.

PEPPER WINTERS
Algo quente e necessitado ganhou vida dentro de mim.
Desconhecido e hesitante, forte e confuso, mas focado.
Voltando-se para me encarar, ele pressionou a ponta do
dedo na minha testa. "Alguém já lhe deixou molhada apenas
falando com você? Dizendo o que vai fazer com você?
Detalhando explicitamente o que gosta sobre o seu corpo, sobre
os seus sons, seu gosto, seus gemidos?" Ele se aproximou com
sua voz máscula inebriando-me. "Sussurrando como o quanto
precisa estar dentro de você até que se derreta no primeiro
toque?"

Uau…

O choque por suas palavras e o poder de sua voz quase me


fez esquecer o meu voto de silêncio. Minha cabeça se moveu
ligeiramente de um lado para o outro sinalizando claramente
um ‘não’.
Ele exalou pesadamente. "Acho que isso é outra primeira
vez. Finalmente você respondeu a uma pergunta." Seus dentes
brilharam nas luzes fracas. "Não se preocupe. Eu não vou
contar para o seu dono.”
O estranho era que eu acreditava nele. Ele odiava Mestre A
quase tanto quanto eu. Ele não iria correr para ele e relatar
tudo o que tinha acabado de fazer. Isto não o beneficiaria de
qualquer forma.

PEPPER WINTERS
Fiquei tensa quando o dedo deslizou de minha testa,
passando pelo meu nariz, até os meus lábios. "E sobre esta
primeira vez?" Sua cabeça abaixou-se, me beijando brevemente.
"Alguém já te beijou tão forte ao ponto de machucar? Alguém já
te beijou por horas, atormentando-a até que você esteja
implorando por seu pau?”

Deus, pare.

Pressionei meus lábios juntos. Senti uma ligeira ternura por


suas atenções.
Desta vez, eu lutei contra a vontade de responder, mas ele
leu a forma como a minha língua lambeu a vermelhidão em
meus lábios causada por ele.
Eu tremi quando ele afastou-se, removendo a tentação de
seu beijo.
A conversa sobre primeiras experiências e a maneira
indescritível pela qual ele falou sobre elas despertou um desejo
em mim, mesmo considerando as minhas atuais circunstâncias.
Desejo de continuar viva para passar por todas estas
experiências. Ao invés de desejar a morte para nunca ter que
vivê-las.
Seu dedo se moveu novamente, deixando a minha boca para
trilhar um caminho ao longo do meu queixo, pescoço, até os
meus seios. Tocando em um, ele murmurou, "E aqui, Pim?

PEPPER WINTERS
Alguém já sugou seu mamilo tão forte que ele ficou inchado?
Alguém já te mordeu até que você implorou por misericórdia ou
colocou grampos em seus mamilos, fazendo você obedecer todas
as ordens?" Ele agarrou o meu mamilo, apertando apenas um
pouco.

Não…

Minha respiração se transformou em um suspiro quando a


ponta do seu dedo seguiu a curva suave do meu peito, descendo
pela minha caixa torácica, cintura, finalmente, traçando meu
umbigo. Seu olhar intenso deu a entender que queria me tocar
entre as minhas pernas, mas que não faria isso.
Apanhados na rede insana que tínhamos tecido, eu tremi
quando ele disse, "Eu queria dar-lhe outra primeira experiência.
Eu queria fazer você gozar. Vejo agora que teria sido impossível,
porque você nunca sentiu prazer de verdade."
Sua testa franziu-se. "Há tantas estréias para explorar com
sua boceta, Pim. Alguma vez você já sentiu a língua de um
homem dentro de você? Sua boca em seu clitóris? E quanto
sentir os dedos dele te fodendo tão profundamente, ao ponto de
se esquecer de ser humana e virar um animal?"
Sua sedução deixou os meus membros tensos.

PEPPER WINTERS
"Eu quero te dar tantas estreias." Ele se inclinou para mim,
os olhos cerrados, com a boca a milímetros da minha. "Eu a
quero"
O desastre começou.
A porta explodiu.
Um estrondo ruidoso soou quando as dobradiças cederam e
os painéis de madeira lascaram.

Não!
Os grunhidos de Tony rasgaram o silêncio enquanto ele
destruía a porta de entrada com um bastão de beisebol,
demolindo a única coisa que nos protegia.
Mestre A estava atrás dele, gritando instruções.
Meu coração disparou errante do provisório paraíso onde
estava e voltou para sua prisão.

Não! Não! Não!

Foi por isso que ele nos deu tanto tempo. Por isso que o Sr.
Prest teve o privilégio de deitar ao meu lado e sair ileso.
Mestre A tinha chamado reforços.
"Que porra é essa?" O Sr. Prest lançou-se de pé, com o
corpo pronto para uma luta. "Dê o fora. Eu não acabei."
Eu murchei quando o Mestre A invadiu o quarto. Em sua
mão, ele segurava uma arma.

PEPPER WINTERS
Eu nunca o tinha visto com o revólver preto, mas a maneira
como o segurava com confiança e precisão revelava que ele não
era um estranho para essas coisas.
Seu olhar analisou a minha nudez e a forma como a calça
do Sr. Prest estava aberta. "Você se divertiu com a porra da
minha escrava?" Ele inclinou a cabeça de forma
condescendente, olhando para mim. "Será que você se
comportou, Pim?"
Olhei para baixo, escondendo-me atrás do meu cabelo
emaranhado pelo sono.

Dê o fora, aberração!

A espada proverbial e o escudo que eu utilizava para lutar


tinham sido estupidamente abandonados durante o fantástico
beijo do Sr. Prest.
Eu não tenho forças para o combate. Para continuar
vivendo com ódio e dor.
Perguntas absurdas correram em motim quando eu fiz o
meu melhor para afundar na proteção da minha mudez.
Por quanto tempo o Sr. Prest me deixou descansar ao
mesmo tempo em que traçava os padrões mais doces nas
minhas costas? Quanto do tempo, que poderíamos ter passado
nos beijando, foi desperdiçado antes de Mestre A chegar para
nos separar?

PEPPER WINTERS
Não importa.
Acabou.

Eu estava no meu próprio mundo novamente. Como


sempre.
O Sr. Prest rosnou. "Será que você não me ouviu? Eu.
Disse. Que. Não. Acabei."
"Oh, sim, você já acabou porra!" Mestre A ficou vermelho de
raiva quando sua mão começou a tremer ao redor da arma.
"Saia. Eu quero esse iate, Sr. Prest, mas eu paguei-lhe mais do
que suficiente. Saia!"
Meus ombros caíram quando uma conclusão cristalina me
atingiu. Meus planos de usar o Sr. Prest para libertar-me
desapareceram. Ele nunca me libertaria. Ele tinha um contrato
com o meu dono, e esse contrato superava tudo, até o beijo
bobo nós tínhamos dado.

Não peça mais nada para ele.


Vai ser sua culpa se ele morrer.

Lágrimas picavam meus olhos enquanto Mestre A avançava


pela frente. Ele mal olhou para mim, obcecado em chutar esse
invasor de sua casa.

PEPPER WINTERS
O fato de que esperou por Tony para atuar como suporte
reafirmou que ele era um covarde. Ele não teve coragem para
tirar Sr. Prest por conta própria.
O cano da arma elevou-se, apontando diretamente para a
tatuagem de dragão.
Memórias do Sr. Prest me dizendo os assassinatos
cometidos pelo meu covarde dono enviou uma energia
catastrófica em minhas pernas. Eu sabia do meu destino. Eu o
aceitei. Mas eu não deixaria outra pessoa sangrar por mim,
mesmo que ele não fosse inocente do crime.
O Sr. Prest foi o único homem que tinha sido bom para
mim.

Eu não vou vê-lo morrer.

Instinto controlou o meu corpo. O impulso foi mais forte que


a sanidade e a submissão. Eu fiz algo que nunca tinha feito e
não foi por mim.
Eu fiz isso por ele.
Correndo, eu me coloquei na frente do ladrão que tinha me
beijado. Na frente da arma. Enfrentando tudo o que iria
acontecer comigo por causa da minha estupidez maldita.
O quarto ficou silencioso.
Eu congelei.

PEPPER WINTERS
O horror do que eu tinha acabado de fazer me atingiu com o
peso de um chumbo, fazendo-me afundar completamente com
medo.
A boca de Tony ficou boquiaberta quando seu olhar aguado
compreendeu o meu ato. "Puta merda".
Os olhos do Mestre A literalmente estalaram em sua cabeça.
Ele balbuciou em desgosto lívido, "Sai do caminho, Pim. Eu vou
lidar com você mais tarde.”
Aprumei os ombros, mesmo que a minha forma nua não
oferecesse proteção alguma. Ninguém me protegeria. Eu
morreria. Mas pelo menos o ciclo triste estaria terminado.
O terror habitual rolou através da minha espinha enquanto
eu lutava contra a vontade de se afastar-me e obedecer. Eu não
sei por que eu tentei proteger um homem com o dobro do meu
tamanho, com mais habilidades de se manter vivo do que eu.
Mas eu fiz.
Era minha última tentativa de ser Tasmin antes de Pimlico
desaparecer.

Não atire nele.


Deixe-o ir.

O Sr. Prest me puxou e colocou-me atrás dele, envolvendo o


braço nu em torno de mim. "Ela está confusa. Eu pedi a ela
para me proteger caso você invadisse o local." Seus dedos

PEPPER WINTERS
escavaram a minha pele. "Não vá feri-la por um comando que
eu dei."

Você está mentindo.


Ele está tentando proteger-me.

"Oh, ela vai ser bastante ferida. Não se preocupe com isso.
Tudo que você precisa se preocupar é levar a porra da sua
bunda para fora da minha casa. Agora mesmo!" O dedo de
Mestre A brincou no gatilho, apontando diretamente para a
tatuagem do Sr. Prest. Inclinando a cabeça para a bagunça que
Tony tinha feito na porta, ele gritou: "Quero você fora!"
"Não amanheceu."
"Não importa."
"Ela é minha até que eu vá."
"Errado." A mão de mestre A estava esbranquiçada em volta
da arma. "Ela é minha, imbecil. Eu não vou dizer de novo."
O Sr. Prest não se moveu. Ele simplesmente cruzou os
braços.
Eu fiquei na ponta dos pés atrás dele, querendo estar em
posição de tanto correr ou ajoelhar-me caso fosse necessário
fazer algo para acabar com esta situação tensa.
Mestre A mudou de tática. Seus olhos azuis sorriram
cruelmente quando ele apontou a arma para mim.
Eu endureci.

PEPPER WINTERS
"Você tem algo que eu quero Sr. Prest. Então se considere
malditamente sortudo, porque se não, eu teria atirado em você
no momento em que tomou a minha Pimlico. No entanto, você
também quer algo de mim."
Engoli em seco vendo a cena de um assassinato iminente.
O buraco sinistro da arma, por onde uma bala sairia para
me matar, me hipnotizava. Eu não conseguia desviar o olhar.
Se esta fosse à forma mais humana pela qual eu seria
morta, que assim seja. Eu ganhei o meu primeiro beijo de
verdade. Eu tinha sido bem tratada pela primeira vez em anos.
Se este é o epílogo da minha horrível história, eu estava bem
com isso.
Meus músculos relaxaram prontos para aceitar o rasgo
dilacerante do chumbo excruciante.

Por favor, que ele consiga uma boa mira.

"Você quer esta prostituta." Mestre A balançou a arma.


"Você a quer o suficiente para mantê-la viva. Eu vou matá-la
com prazer se isso te fará obedecer nosso acordo."

Faça.
Acabe com isso.

PEPPER WINTERS
O rosto do Sr. Prest tornou-se monstruoso. "Você mataria
sua própria escrava ao invés de me dar mais algumas horas?"
"Absolutamente." Sua resposta foi instantânea. "Então, o
que é que vai ser? Ela ou você. Fui tolerante o suficiente. Ela
precisa de uma porra de um chuveiro para livrar-se de sua
sujeira e, em seguida, um lembrete de quem ela pertence."

Apenas dispare em mim.

Eu não queria um lembrete. Eu não queria que ninguém me


tocasse nunca mais.
O Sr. Prest o olhou ameaçadoramente. “Você é um idiota."
Mestre A mostrou os dentes. "O que vai ser?"
"Você não vai fazer isso."
"Eu não vou?" Sua testa franziu-se de raiva. "Você quer que
eu prove isso, porra?"

Ele vai fazer.

Talvez, esse era o plano do Sr. Prest? Fazer com que meu
dono atire em mim para que ele pudesse ir embora, sabendo
que eu não iria sofrer mais? Ele disse que não se importava
comigo, que todos têm demônios pessoais para suportar.
Era misericordioso me despachar desta forma.

PEPPER WINTERS
Mestre A veio na minha direção e capturando os meus
cabelos, aproximando-me dele. "Vamos ver o quanto ela
sangra?"
Sr. Prest deu um passo, esquecendo-se de si mesmo
enquanto a fúria revestia suas feições. "Tire as mãos de cima
dela."
A ameaça legal da morte apresentou-me contra minha
têmpora quando Mestre A grunhiu, "Minha paciência acabou."
Ele me bateu com a arma.
O objeto de metal atingiu o meu nariz.
"Diga adeus à prostituta. Mantenha a porra do seu iate, eu
não- "
"Pare!" o Sr. Prest deixou cair os braços, movendo as mãos
em sinal de rendição. "Não a mate." Seu olhar se fixou no meu,
cheio de amargura e pedindo desculpas. "Você acabou de
cometer o pior erro de sua vida, Alrik Asbjorn."
A arma bateu contra a minha cabeça. O hematoma
anestesiou o meu crânio, onde uma bala iria entrar e me matar.
"Errado, Elder. Você que cometeu. Dê-me o que eu quero ‒ o
que eu malditamente paguei ‒ e eu vou esquecer que essa
porra aconteceu.”
O Sr. Prest riu. O som aterrissou de forma agressiva no
chão, queimando com uma alegria gelada e promessas árticas.
"Essa é a quarta vez que você usa o meu nome."
Impulsionando-se para frente, ele retrucou, "Você me

PEPPER WINTERS
desrespeitou, Alrik e isso não é uma boa coisa para se fazer,
porra."
Apanhando o blazer e camisa do tapete, ele me deu uma
olhada. "Eu pensei que eu poderia fazê-lo. Eu pensei que eu
poderia vê-la morrer. Mas eu não vou. A vida é sua e não vou
intrometer-me mais."
Ele balançou a cabeça. "Um fim triste para as suas
primeiras experiências, Pim. Eu sinto muito."
O rosto vermelho de Mestre A fluía como lava enquanto
apontava a arma para o ar. "Fora!"
"Você vai se arrepender disso." Sr. Prest abaixou o queixo,
observando-o com olhos assassinos. "Eu vou fazer você
amaldiçoar tudo o que você é." Apontando o dedo para mim, ele
rosnou: "Não ouse machucá-la. A culpa é minha, não dela.
Deixe-me corrigir os meus próprios erros." Atirando-me um
último olhar ilegível, ele desapareceu pela porta.

Espere você não pode ir!

No momento em que ele desapareceu, Mestre A sorriu. "Eu


acho que eu ganhei essa, hein? Merda, isso deixou o meu pau
duro." Ele beijou minha bochecha. "Entre no chuveiro. Tenho
algo especial planejado para você”. Com a ameaça persistente
no ar, ele me empurrou e seguiu seu hóspede indesejado,
deixando-me sozinha com Tony.

PEPPER WINTERS
Tony o idiota que tinha me usado muitas vezes soprou-me
um beijo hediondo. "Faça o que ele diz, querida. Os jogos vão
começar logo que aquele bastardo se for." Ele se virou para sair,
depois parou. Uma gargalhada alta saiu dos seus lábios.
Curvando-se, ele pegou a faca que o Sr. Prest havia furtado da
garagem.
Meu coração se afundou ainda mais na areia movediça.

Merda.

Tony girou, batendo a lâmina contra o taco de beisebol que


usou para derrubar a porta. "Contrabandeando agora, doçura?"
Sua risada me enojou. "Vamos apenas acrescentar isto na lista
do seu mau comportamento e nos certificar que você aprenda a
lição."
Ele me cumprimentou com a faca. "Até breve."
Ele saiu.
Seus passos ecoavam quando ele desceu as escadas,
batendo o taco de beisebol no corrimão.
Um ataque de pânico começou, me sufocando
instantaneamente.

Eu não posso respirar.

O quarto me espremia.

PEPPER WINTERS
Infelicidade me tomou.
Lágrimas correram em minha garganta quando eu as proibi
sair pelos os meus olhos.
Fiquei grata que Mestre A tinha ido.
Mas eu gritei pelo buraco que o Sr. Prest deixou para trás.
Um buraco que tinha sido quente e quase contente por algumas
horas roubadas agora assobiava com os ventos fortes de um
medo cavernoso.
Será que ele realmente foi embora?
Sem um adeus?
Sem um...
O que?

Um agradecimento a você?

O que você esperava? Ele lhe deu prazer. Ele deixou-a dormir
em paz. Ele lhe deu mais presentes do que ninguém, e você
espera mais dele?

Eu ri silenciosamente. Eu era uma idiota. Uma idiota morta.


Inalei quando a minha pulsação se tornava irregular,
tentando desesperadamente me acalmar.

Você não tem tempo para isso!


Respire!

PEPPER WINTERS
No momento em que o Sr. Prest fosse expulso da casa,
Mestre A voltaria. E ele não teria a arma com ele. Ele teria
maneiras muito mais inventivas para me matar. Maneiras que
lhe dariam entretenimento e lazer.
Se ao menos ele tivesse deixado a arma em cima da cama.
Eu a teria pegado, mirado meu rosto, passado meus dedos
no gatilho, e dito adeus.
Eu trocaria qualquer esperança de ir para o céu por cometer
suicídio apenas para finalmente ser livre deste purgatório. Eu
receberia a morte com suas asas geladas, esperando que eu
tivesse pagado o suficiente por uma vida melhor.

Como vou sobreviver a isso?

Enquanto minha mente corria em desespero, e meu corpo


continuou a sufocar o terror, eu compilei uma última vontade
no testamento na minha cabeça.
Não que eu tivesse alguma coisa para dar.
Voei de volta ao passado e ao meu quarto em Londres,
revivendo jantares com minha mãe na nossa mesa perto das
janelas voltadas para a baía e os momentos nos quais eu me
esgueirava para assistir TV quando eu deveria estar fazendo
lição de casa. Eu fui até meus pertences infantis bobos que, na
época, pareciam tão importantes e agora eram completamente
inconsequentes.

PEPPER WINTERS
Para minha mãe, eu iria deixar minha coleção rara de selos
ingleses. Para minha amiga, Amanda, deixaria o meu DVD do
filme ‘Os amores de Anne’-
Pare com isso Ratinha. Apenas... Pare.

Eu estremeci.
Eu tinha me chamado de Ratinha assim como o Sr. Prest.
Eu passei muito tempo em minhas memórias, muito tempo com
um homem que me fez lembrar de uma outra vida.
Entrei em um estado de choque e horror, tropeçando para
sentar no colchão, mas caindo de joelhos em vez disso. Meu
coração deixou de pular como um tambor para bater como
castanholas e pratos.

Não deixe que ele me machuque. De novo não.

Eu teria preferido levar um tiro.


Uma centena de vezes.
Eu queria que meu primeiro beijo fosse minha memória
final. Eu queria ir a um sono sem fim onde eu encontraria meu
pai e ele teria o meu relógio da Minnie Mouse. Eu queria tantas
coisas que eu nunca iria ganhar.
Mas, tanto quanto o meu coração doía, e desejava odiar o
Sr. Prest por me fazer desejar viver momentos antes da morte,
eu não poderia desprezá-lo. Ele tinha feito o que disse e me

PEPPER WINTERS
tirou do seu sistema. Ele beijou-me para se livrar de qualquer
feitiço que eu lancei sobre ele.
Ele não me fez outras promessas. Na verdade, seu único
juramento foi que ele iria me usar e depois me deixar.
Ele tinha cumprido esse juramento.
Eu não era dele.
Eu pertencia ao Mestre A, e contrato entre eles permanecia.
Lutando contra o abandono e a estupidez muito mais
doloridos do que quaisquer ferimentos abusivos eu tinha
sofrido, o meu mundo mais uma vez ficou escuro quando eu
fechei os olhos e me preparei para o meu fim.
Eu agarrei o lençol, puxando-o para me cobrir. No entanto,
algo caiu e vibrou com a brancura, aterrissando no chão ao
meu lado.
O choque de ver algo desconhecido interrompeu o meu
ataque de pânico.

O que é isso?

Soluçando, sentei-me na posição vertical. Minhas mãos


tremiam enquanto eu pegava a nota de um dólar.
Uma nota de um dólar americano.
Mas não foi dobrada como dinheiro normal. Não estava
plana ou dobrada ao meio como qualquer outra nota. Esta

PEPPER WINTERS
estava na forma de uma pequena borboleta com asas e antenas
delicadas.
A luz verde da nota deu a ilusão das asas serem feitas de
fios e tinta enquanto o seu corpo encapsulava o valor numérico
do papel.

É tão bonito.

Mas de onde ela vem?


A resposta era óbvia.

Ele.

Mas por quê?


Manuseando objeto, fui tomada pela raiva. Meu ataque de
pânico desapareceu, encontrando força mais uma vez. Era uma
maneira de me pagar por aquilo que ele tinha feito comigo? Só
valeu um dólar para ele?
Em vez do bonito origami, tudo o que eu vi foi algo barato.
Algo que me fez sentir barata.
O nosso beijo foi tão sem valor?
Ao jogá-la para longe, o flash de algo escrito no papel me fez
desdobrá-lo.

PEPPER WINTERS
Eu não gostava da ideia de destruir a criação, mesmo que
fosse degradante, mas a curiosidade era muito maior. Peguei a
pequena borboleta, e a desdobrei para revelar o bilhete interno.
Rabiscado com caligrafia masculina estava escrito:

Eu vim aqui para te tirar de meus pensamentos. Mas você


caiu no sono, e eu duvido que irei conseguir. Para um homem
como eu, isto é um problema. Portanto, eu estou saindo no
momento em que você acordar.
Adeus, Pequena Silenciosa.

Era isso.
Sem promessas de voltar ou sugerir que iria pedir para me
passar um tempo comigo novamente. Ele teve sua noite e foi
honesto o suficiente para dizer que não capturei a sua atenção.
Suas palavras eram afiadas como farpas, injetando veneno
em meu coração.

Não o odeie.
Não morra com ódio.

Se essa foi a única chance prazer que eu teria na vida, pelo


menos eu experimentei como era.

Eu tenho que dizer à ‘Ninguém’.

PEPPER WINTERS
Eu tenho que escrever assim que nunca esquecerei.

O Sr. Prest se tornaria um produto da minha imaginação,


trancado para sempre em meu livro escrito no papel higiênico.
Eu não contaria a ninguém sobre ele.
Eu não iria conhecê-lo ou começar a gostar dele.
Esta seria apenas mais uma razão pela qual eu iria
permanecer em silêncio para sempre, guardando os meus
segredos.
Até o fim.

PEPPER WINTERS
Como ele ousa me expulsar porra!
Será que ele acha que o nosso negócio iria continuar como o
planejado após tal grosseria? Será que ele realmente acha que
eu não iria cortá-lo em pedaços pela falta de respeito que ele
tinha mostrado?
Eu vou feri-lo pelo que ele tinha feito para Pim, mas eu o
mataria pelo que ele tinha feito para mim. A ninguém foi
permitida tal insolência intolerável.
Se ele tivesse me dado mais alguns minutos, eu teria aberto
a maldita porta pela minha própria vontade.
Eu sairia por causa de sua escrava.
Aquele beijo... Merda.
Eu nunca deveria ter feito isso.
Grande erro.
Enorme erro, porra.
E agora, Alrik tinha cometido o seu próprio.
O amanhecer tinha começado, mas eu queria sair desse
inferno branco. Tocá-la? Prová-la? Porra era mais do que eu
poderia manejar. Eu não tinha intenção de ficar sozinho com

PEPPER WINTERS
ela de novo, porque eu me conheço e sabia o que aconteceria se
eu fizesse isso.
Eu estava feliz que ela pertencia a outro.
Desta forma, eu não tinha como voltar para segundas
experiências.
Por um momento terrível, eu queria que ele a matasse.
Imaginei a bala rasgando o seu cérebro e a luz em seus olhos
apagando. Ela iria embora e eu ganharia absolvição.
Se ela estava morta, ela estava livre de mim e Alrik.
Eu estava tão perto de deixá-lo puxar o gatilho.
Mas mesmo que esta seria a coisa certa para tirá-la de seu
sofrimento, eu não tive a coragem de ter sua morte em minha
consciência.
Eu já tinha vergonha o suficiente para me devorar.
Eu não podia adicionar mais.
Não, eu a deixei porque ela não era o meu problema.
Sua vida ‒ não importando se era um inferno ou feliz ‒ não
era da minha conta.

Ela. Não. É. Minha.

Eu tinha que acreditar nisto se quisesse permanecer são.


Eu tive o suficiente.
Acabou.
Era o fim.

PEPPER WINTERS
"Senhor?" Selix saltou do carro enquanto eu caminhei para
ele, vestindo a minha jaqueta. Os bolsos tilintaram com as
coisas que eu tinha pilhado quando fechei botão do meio. O
pobre cara (fiel à sua palavra) tinha passado a noite esperando.
Ele sabia que eu preferia fazer negócios por conta própria. Eu
poderia lidar com minha segurança se algo desse errado. Não
precisava dele para isso. Mas eu estava grato que ele estava
aqui para me levar para o mais longe possível da porra deste
lugar e Pim.

Ela vai se machucar.


Não é problema meu.
Ele poderia matá-la.
Não é problema meu.

Quando eu tinha a levado para cima, eu tinha feito isso com


a promessa de matá-la depois.
Eu não tinha mantido essa promessa.
O que importava se era eu ou Alrik que finalmente fizesse
isso? Quem se importava se eu estava lá para assistir ou no
oceano onde eu pertencia?

Porra!

Selix limpou a garganta. "Tudo certo?"

PEPPER WINTERS
Nada está bem.

"Eu quero ir embora. Imediatamente." Eu passei as mãos


pelo meu cabelo. "O iate está pronto?"
Ele abriu a porta traseira. "Sim. Tudo preparado e pronto
para içar as velas.”
"Bom. Quero deixar este país de merda assim que eu
puder.”
"Eu vou ligar com antecedência. Certificar-me de partir no
momento em que pisarmos a bordo." Ele fechou a porta, me
envolvendo no sedan preto antes correr para o lado do
motorista.
Dando um último olhar para a prisão de Pim, eu murmurei,
"Leve-me para o Phanton. Agora."

PEPPER WINTERS
QUERIDO NINGUÉM,
Eu não sei o que aconteceu.
Todas as minhas notas e confissões para você... Elas
desapareceram. Você as levou? Por favor, me diga que você as
pegou. Eu posso lidar com isso. Diga-me você está cansado de
que eu escreva para você, e você jogou tudo no vaso sanitário, ou
as queimou e jogou as cinzas pela janela.
Diga-me qualquer coisa, contanto que não seja que o Mestre A
as tenha encontrado.
Não me diga isso!
Elas estavam lá antes do café da manhã de ontem. Eu
chequei.
Eu não verifiquei na noite passada enquanto o Sr. Prest me
fazia companhia.
Mas agora, eu perdi você.
Eu não quero perder você!
Ah não. Eu posso ouvi-lo chegando.
Merda, Ninguém... E se ele-

PEPPER WINTERS
"Sua maldita putinha!" Mestre A entrou no quarto, pegou a
minha carta, e a rasgou em pedacinhos.
Meu coração gritou como se tivesse assassinando um
vivente amigo.
"Todo esse tempo, você tem escrito e escondendo isso de
mim!"

Pare!

Eu me encolhia, deslizando para fora da cama para me


curvar no chão. Quaisquer humanidade e autoconsciência que
eu tinha ganhado graças a algumas horas com o Sr. Prest
desapareceu. Voltei para o meu papel de escrava, pressionando
minha testa contra o tapete.

Não me machuque.
Apenas me mate.

Eu desejei a minha liberdade. Eu implorei pela felicidade.


Mas eu não iria encontrar nenhuma dessas coisas aqui,
especialmente agora que minhas notas a ninguém tinham
desaparecido e o Sr. Prest tinha ido embora.
Ele tinha me deixado, sabendo o que eu sofreria, sem
compreender o quão grave seria o meu castigo por ter me
tocado.

PEPPER WINTERS
Não é justo!
Nada disso é certo.

"Você ocultou isso de mim porra!" Ele estendeu a mão, com


as palavras desfiadas caindo dos seus dedos. "Dê-me o resto.
Agora!"
Lágrimas caíram sobre meu nariz, infiltrando os fios
brancos abaixo de mim. Eu devia estar aliviada. Mestre A não
tinha as achado.
Ele não era um bom mentiroso. Ele preferia se vangloriar
demais para isso.
Isso significava que o ladrão era o Sr. Prest.

Por quê?
Como ele pôde?

Um tapa estalou no meu rosto. "Dê-me as outras páginas,


Pim. Não me faça pedir de novo."

Eu não as tenho, seu imbecil!

Como pôde o Sr. Prest tomar as minhas últimas posses?


Depois de roubar o meu corpo com seu beijo...
Como ele as tinha encontrado?

PEPPER WINTERS
Enquanto você dormia. Quando você confiou nele.
Isso não é possível.
Era?

"O silêncio não vai manter seus segredos desta vez." Mestre
A disse, seu corpo tomado pela adrenalina. "Não precisa me
dizer onde eles estão. E eu vou vasculhar o seu quarto até
encontrá-las eu mesmo." Curvando-se, ele sussurrou, "E
quando eu fizer isso, a punição será a segunda coisa mais
dolorosa que você vai sofrer.”

Espere, segunda?
Qual é a primeira?
Que pergunta mais estúpida!

Minhas narinas tremiam enquanto a minha mente tentava


desvendar o quebra-cabeça.
Confusão me manteve aérea, sem perceber o punho voando
pelo do ar, conectando-se com um baque terrível no lado do
meu crânio.

Oh Deus…

A agonia. A pressão. O pulsar.

PEPPER WINTERS
Envolvendo as mãos sobre minha cabeça, eu tombei de
lado, mordendo minha língua para parar de chorar.
"Você pode evitar isso, se você me disser onde o resto está.
Vou te dar uma última chance.”
Vi estrelas quando os meus olhos dispararam ao redor do
meu quarto, fazendo o meu melhor para detectar as páginas
antes que ele pudesse.
Se o Sr. Prest as encontrou, por que ele iria levá-las? Talvez
ele não sabia o que eram e deixou-as no meu armário ou
abandonadas no chão? Era este o porquê do dólar borboleta,
para pagar por elas? Como pagamento pelos meus mais escuros
e profundos pensamentos íntimos?

Ele era um ladrão.


Ele pegou meu primeiro beijo.
Assim como ele tomou o meu livro.
Mas por quê?

"Responda-me!" Mestre A me deu um soco novamente.


Estrelas se transformaram em um raio de sol direto nos
olhos, apagando a minha visão completamente.
Cada polegada de mim queria rastejar, correr, manter a
distância. Eu não conseguia parar de pensar.
Por que ele roubou minhas palavras preciosas?

PEPPER WINTERS
Para ler minhas emoções e rir? Rir da minha estupidez e
escravidão?
Ele disse que iria se esquecer de mim.
Por que então ter algo para lembrar-se de mim?

Minhas mãos arranharam o tapete enquanto eu atravessava


a atual onda de agonia. A borboleta dólar desdobrada escovou
os meus dedos ‒ tão quebrados quanto eu.
Arrebatando-o, eu usei-o como um talismã de esperança.
Enquanto eu o segurasse, eu iria sobreviver.
Eu me arrastei para frente, fazendo o meu melhor para me
afastar do abuso.
De cócoras sobre minha cabeça, ele riu. "Tentando fugir de
mim, doce Pim? Garota estúpida. Você sabe que não há para
onde ir; nenhum lugar para se esconder. Algumas horas com
aquele filho da puta e você já está arruinada.”
Meu estômago se agitou com náuseas quando ele se
levantou novamente.
"Mas não se preocupe. Vou me certificar de que você
lembre-se quem o seu mestre é e o que acontece quando você se
esquece.”
Meus lábios se entreabriram para sugar oxigênio quando ele
saiu da sala, sua risada fria se arrastando atrás dele.

O que ele vai fazer?

PEPPER WINTERS
Eu não quero saber.

Nos poucos minutos em que eu estava sozinha, eu não me


incomodei tentando sentar. Fiquei enrolada no chão, cuidando
de minha tontura e cabeça latejante, segurando o meu único
dólar.
Ele voltou.
Eu consegui sufocar o meu soluço quando meu olhar caiu
sobre o que estava em suas mãos. Ele havia trocado o revólver
preto pela coisa que eu mais odiava.
O laço de corda.
O laço que ele usou para me pendurar como uma estrela de
quatro pontas em seu teto. O laço que ele usou como uma
coleira, um colar, e uma ferramenta disciplinar.
Meu inimigo mais odiado.
Eu me movi para trás quando ele agarrou o meu cabelo,
torcendo-o em seu pulso. "Você vai aprender, Pim. Você não
quer conversar? Bem. Não fale porra. Escreva suas notas
estúpidas em um diário que não dá a mínima para você. Minta
para mim e o esconda. Tudo isso é perdoável, porque você é
minha, doce Pimlico, e sendo minha significa que eu sou
possessivo com sua mente, mas indulgente também.”
Seus dedos se apertaram, arrancando alguns fios do meu
couro cabeludo. "Mas se você acha que pode passar a noite com
a porra de um estranho, deitar ao lado dele, fantasiar sobre ter

PEPPER WINTERS
a porra do pau dele dentro de você, e manter o que você disse a
ele em segredo, pense novamente."
Envolvendo a corda grossa em volta do meu pescoço, ele
puxou forte. "Você vai me dizer o que aconteceu. Você vai porra.
Eu fui paciente o suficiente. Você falou com ele, não foi?" A
saliva voou de sua boca quando ele me arrastou do meu quarto
para o corredor. "Você quer que ele seja o seu mestre e não eu.
Você não pode negar isso.”
O tapete queimou minhas mãos e joelhos enquanto eu fazia
o meu melhor para acompanhá-lo, mas não consegui.
Meus dentes bateram juntos quando ele me puxou para
baixo da escada. Eu me desequilibrei, saltando para baixo
enquanto ele segurava a corda, me sufocando quando eu caí em
um amontoado na parte inferior. Minhas articulações berraram,
mas eu nunca deixei de lado minha borboleta dólar.
"Levanta porra." Puxando a corda, ele obrigou-me a ficar de
joelhos.
Eu folheava o almanaque da minha dor, vendo se havia
novas entradas a temer. Minha mão quebrada gritou, mas nada
mais parecia estar quebrado.
"Eu vou ensinar você."

Bing bong.

Ele congelou quando a campainha soou pela casa.

PEPPER WINTERS
Eu respirei fundo, incapaz de parar a torrente de lágrimas.

Ele voltou!
Graças por tudo o que é santo, ele voltou.

No entanto, enquanto eu comemorava com alívio, Mestre A


sorriu com depravação. "Ah, timing perfeito."

Espere. O que?
Quem está na porta?

Pânico assobiou através do meu sangue me aterrorizando


mais do que qualquer outra coisa.

Não!
Pare!

Meus dedos voaram para o meu pescoço (mão quebrada e


tudo), arranhando a corda apertada.

Tira isso!
Eu não posso mais fazer isso!

Mestre A puxou forte a corda como se eu fosse um cavalo


rebelde lutando com as rédeas. "Pare com isso!" Ele se dirigiu

PEPPER WINTERS
para a sala, me arrastando atrás de si, cortando meu
suprimento de ar quando o laço apertou mais e mais.
Meus olhos saltaram com a pressão construída em minha
cabeça já latejante.
Puxando-me para o meio do espaço com empurrões fortes,
ele me amarrou à perna da mesa de café. "Fique."
Eu não conseguia parar a minha esperança satânica
quando ele desapareceu para atender a porta da frente.

Por favor, que seja ele.

A cada clique de seus sapatos, eu implorei para que ele


fosse o Sr. Prest.
Era errado desistir da liberdade e me contentar com um
novo mestre em vez disso? Liberdade era inatingível, mas um
novo proprietário poderia ser viável.
Se ele retornou por mim, ele poderia me manter. Eu não iria
tentar executar ou matá-lo.

Basta salvar-me e eu sou sua.

Mas eu era estúpida.


Meus instintos sabiam a verdade. Mestre A estava feliz, e
não furioso.

PEPPER WINTERS
Tony se escondia na cozinha, observando-me com os olhos
nefastos. "Você está pronta para algum divertimento, Pim?"
Agarrei meu dólar dobrado quando vozes masculinas
chegaram aos meus ouvidos, ecoando com dois conjuntos de
passos.
"Estou feliz que você está aqui." Mestre A apareceu, sorrindo
para o amigo.
A última esperança estúpida de ser livre da dor evaporou.
Darryl.
"Ei, cara." Tony deslizou em direção a ele, dando um
tapinha em suas costas.
"Vamos ter uma festa, não é?" Darryl sorriu. "Onde está o
pequeno demônio?"
"Bem ali." Mestre A apontou na minha direção.
O olhar de Darryl caiu sobre mim, seus dedos se apertando
ao redor da mochila preta que carregava. "Olá, Pimlico. Eu
soube que você foi uma menina má." Seu cabelo loiro sujo
combinava com o Mestre A, tornando-os irmãos pelo pecado se
não pelo sangue.
"Muito, eu tenho que dizer," Mestre A murmurou. "No
momento em que o bastardo me entregar a minha compra, ele
está morto. Se eu não precisasse tanto do seu produto, eu teria
matado ele no segundo que ele entrou na minha casa."

PEPPER WINTERS
"O que é tão grandiosos assim que ele pode fazer, afinal?"
Tony limpou o nariz com as costas da mão. "É apenas um
barco."
Mestre A rosnou, "Não é apenas um barco. É uma cidade
flutuante. Não, é mais do que isso. É uma arca, seu idiota. E eu
preciso da merda da proteção."
Darryl sorriu. "Você finalmente ficará sem dinheiro, A? Os
tubarões agiotas vão vir atrás de você?"
"Não é da sua maldita conta." Mestre A de repente riu.
"Vamos apenas dizer que, os únicos tubarões que eu quero ao
meu redor são aqueles abaixo de meu iate totalmente blindado
onde posso acabar com eles."
"Boa." Tony deu uma gargalhada.
Suas vozes eram tão nauseantes como lâminas de barbear
no vidro.
Eu odiava esta parte. A antecipação do que eles fariam. A
facilidade da conversa entre amigos antes de me machucar
apenas por diversão.
Olhei para trás, vendo se Monty iria participar. Mas não
havia mais visitantes.
Eu deveria estar feliz. Hoje, eu só tinha de entreter três em
vez de quatro.

Você consegue fazer isso.


Você já fez isso uma centena de vezes antes.

PEPPER WINTERS
Então, por que parecia muito pior?
"Certo, o suficiente de bate-papo. Vamos começar."
Desfazendo a corda em torno da perna mesa de café, Mestre A
içou-me na posição vertical com um puxão e me chutou na
coxa. No momento em que eu me encolhi, ele deixou o balançar
corda entre meus seios nus. "Eu não posso acreditar que aquele
bastardo tocou Pim. Ele tocou a minha Pim. Ele estava prestes
a transar com ela, o maldito idiota.”

Isso não é verdade.

E eu não podia decifrar por que eu estava frustrada com


isso. Por que ele me ameaçou com o sexo, mas nunca seguiu
adiante? Eu falhei de alguma forma? Ele decidiu que eu não
valia o risco de dormir comigo?
Se ele estava desconfiado de dormir com uma escrava por
causa de doenças, ele não precisava se preocupar. Eu tinha
perdido minha virgindade com este ogro e seus amigos todos
foram submetidos a testes antes de Mestre A deixá-los perto de
mim.
"Ele se foi agora. É tempo dela pagar." Darryl lambeu os
lábios, aproximando-se do Mestre A e Tony, suas cabeças
inclinadas em conjunto, discutindo o meu castigo.

PEPPER WINTERS
Eles amam esta parte ‒ me fazer esperar, construindo meu
terror.
Eles resmungavam e praguejavam muito baixo para que eu
compreendesse. Ocasionalmente, uma maldição fluía através da
sala, alargando meus olhos. Finalmente, quando a coceira da
corda grossa em volta do meu pescoço se tornou demais para
suportar, e os meus dedos ficaram brancos protegendo minha
borboleta dólar, Mestre A deu um tapa nas costas de Darryl.
"Sim, você está certo. Eu não queria, mas eu estou cansado de
dar-lhe tantas chances." Seu olhar encontrou o meu, escuro e
sem profundidade. "Ela não quer falar? Vamos lhe conceder
esse desejo."

O que?
O que isso significa?

Tony ficou para trás, cruzando os braços enquanto Darryl


sorriu. "Ouviu menina?" Se aproximando do sofá onde ele tinha
colocado sua mochila preta, ele abriu o zíper. "Quão legal é
isso?" Retirando algo dela, ele o manteve escondido enquanto se
movia em direção a mim. "Você é a única que decidiu que não
somos dignos de sua voz. Eu acho que é apenas justo que os
outros não tenham acesso a ela, tampouco."
Mestre A enfiou a cara na minha. "Você falou com ele na
noite passada, não é? Você sussurrou para aquele filho da puta

PEPPER WINTERS
quando ele empurrou seus dedos dentro de você. Você pediu
por mais e para ele salvá-la." Sua mão disparou em meu cabelo,
arrancando mais alguns fios em sua indignação. "Responda-me,
Pim. Você falou com ele e não comigo!? "Uma risada maníaca
caiu de seus lábios. "Bem, não por muito tempo. Aquele
desgraçado Prest desapareceu. O nosso contrato está assinado.
E ele nunca vai vê-lo novamente e com certeza nunca mais
ouvi-la novamente.”
Cacarejando como um animal louco, ele estalou os dedos.
Darryl se aproximou imediatamente.
Eu me encolhi, olhando entre os dois homens e o item
horrendo na mão de Darryl.
Grandes tesouras.
Do tipo para cortar rolos de tecido ou peças de metal.
Engoli em seco.

Não…

Contorcendo-me, tentei esquivar-me, mas Mestre A socou


do lado da minha cabeça já inchada e macia. Eu caí de joelhos,
segurando-me no tapete enquanto a sala guinou e balançou.
Meus joelhos gritaram de dor e meu crânio lutou contra
rachaduras, eu estava impotente para impedir qualquer coisa.
Eu estava irremediavelmente perdida quando as mãos me
rolaram para minhas costas.

PEPPER WINTERS
Seus joelhos prenderam meus quadris.
E o riso frio encheu meus ouvidos quando os dedos
rançosos arrombavam minha boca e apertavam a minha língua.
A voz de Mestre A sussurrou ao meu redor. "Você se recusa
a falar, minha querida doce Pim? Agora, você nunca mais vai
falar de novo."

PEPPER WINTERS
QUERIDO NINGUÉM,
É errado que eu ainda a odeio?
Depois de um ano de ser brinquedo de alguém, eu não
deveria abrigar maus sentimentos para aqueles que nunca me
machucaram. Eu deveria ser grata a minha mãe por me dar a
vida, mesmo que seja uma odiosa.
Eu tive sorte antes de ser vendida. Eu tinha sorrisos, escola e
segurança.
Mas isso acabou agora. E eu odeio não ter apreciado o que eu
tinha antes de ter sido roubada.
Ele tirou a minha virgindade antes que eu pudesse ter
quaisquer sussurros ou conversa pré-sexo com a minha mãe ou
risadas sobre namorados tolos. Não que ela fosse fazer tais
coisas. Mas agora, nós nunca vamos falar novamente. Ela não
me conhece mais. Ela não tem idéia do que eu vivi. Eu odeio que
ela não está lá para mim. Eu odeio que ela não me procurou e me
achou.
Eu odeio que eu não sou mais a filha.
Eu sou dele.

PEPPER WINTERS
Eu odeio que eu estou morta para ela, mas eu ainda estou
aqui.
Eu ainda estou aqui, ninguém.
Desaparecendo, desintegrando, em decomposição.
Mas ainda aqui.

QUERIDO NINGUÉM,
Hoje, ele quebrou um osso pela primeira vez. Você pensaria
que estaria mais amedrontada, mais dolorida. Mas eu não estou.
Eu esperava este momento desde que o Sr. Kewet me matou
a poucos metros da minha mãe. No minuto em seus dedos foram
em torno de minha garganta e ele roubou meu relógio, eu não
estava vivendo mais, era meramente um cadáver trazido de volta
à vida para servir.
Ele pode ter me ressuscitado, Ninguém, e salvo alguns anos
de batimentos cardíacos, mas eu morri naquele dia e não voltei a
viver.
Então, o que é um osso quebrado próximo à morte?
Não é nada.
Eu não sou nada.
Eu só quero que isso acabe.
*

PEPPER WINTERS
"Volte com o carro."

Que porra estou fazendo?

Esta pergunta está ficando velha.


Meus dedos tremiam enquanto eu passava pelos rabiscos
no papel higiênico, um após o outro. Quando eu empurrei
minhas mãos através da cabeceira da cama na noite passada,
tentando ficar confortável no colchão duro de Pimlico, encontrei
algo macio dentro de uma rachadura na madeira.
Pimlico tinha-me distraído no primeiro contato, e eu tinha
me mantido ocupado escrevendo uma nota e dobrando-lhe o
pequeno presente em origami. No entanto, uma vez que a
borboleta foi formada, eu não conseguia parar meus dedos de se
arrastarem de volta para o que tinha encontrado.
Eu puxei. E a porra de um livro de histórias caiu em minhas
mãos.
Eu deveria ter colocado de volta onde pertencia. Eu deveria
ter respeitado a privacidade dela. Mas como a menina muda
dormia ao meu lado, sua respiração tão silenciosa como tudo o
mais sobre ela, eu li algumas linhas.
E eu não pude parar.
Eu li sobre seu tempo no hotel de tráfico e mercado
chamado QMB. Eu aprendi que tinha perdido a virgindade com
aquele bastardo estuprador, Alrik. Eu li sobre seu ódio por sua

PEPPER WINTERS
mãe, sua saudade de seu passado, e como desesperador o seu
mundo tinha se tornado.
Meu coração (que tinha há muito tempo tinha se calcificado
às dificuldades dos outros) bateu para a dor que ela tinha
sofrido. Ela viveu mais do que ninguém deveria enfrentar.
No entanto, isso não alterava os fatos.
Eu tinha negociado uma noite com ela. Isso era tudo que eu
queria. Tudo o que eu poderia ter.
Então, quando ela se mexeu, e culpa me infestou por ler
seus pensamentos particulares, eu voltei a acariciar as suas
costas magras. Eu empurrei um punhado de suas páginas no
meu bolso do blazer porque não tinha outra escolha. Não era
certo roubar a única posse que ela tinha em um mundo onde
não tinha nada, mas era quem eu era.
Um ladrão.
Com questões mais profundas que não podia controlar.
Eu roubo porque eu adoro isso.
Mas também por outra razão.
Sua história era minha agora.
Eu justifiquei o roubo, traçando meus dedos sobre as
contas de sua coluna vertebral, após contusões e borrões, a
tratando com doçura depois de tanto tempo sem nenhuma. Eu
esperava que ela vacilasse e acordasse, mas ela enterrou-se nos
lençóis, murmurando inconsciente ao me dar tanta confiança.

PEPPER WINTERS
Eu tinha encontrado uma recompensa nisso. Que ela
procurou conforto em meu toque, mesmo que eu a peguei
emprestado de um mestre que a tratava como merda.
A partição entre Selix e eu deslizou com um zumbido suave.
"Senhor? Você acabou de dizer para voltar?"
Meus dedos se apertaram ao longo dos papeis macios, onde
Pim tinha derramado as suas confissões mais profundas. "Sim.
Agora."
"Mas... você vai perd-"
"Eu não me importo. Faça."
Cada polegada de mim desejava ir para casa. Sentir o mar
debaixo dos meus pés e deixar este descalabro de merda,
incluindo a noite que passei com Pim, para trás. Mas eu
também não podia ignorar que ela iria morrer por causa de
mim.

Ela já poderia estar morta.


Ele poderia ter atirado nela.

Teria sido mais amável do que outras coisas que ele poderia
fazer.
Eu tinha aceitado sua morte, acreditando que era a melhor
coisa para todos. Mas ela havia pagado demais. Ela merecia
algo melhor do que morrer tão extremamente jovem.
Ela valia mais do que uma sepultura.

PEPPER WINTERS
O que importa se ninguém me apoiou quando eu tinha
estado no fundo do poço? O que importa se ninguém me
ajudou?
Eu poderia ajudá-la.
Eu poderia fazer a coisa certa... pela primeira vez na minha
vida sem Deus.
Seu amigo imaginário, ‘Ninguém’, tinha cuidado dela até
agora. E se eu não pudesse protegê-la melhor do que uma
entidade fictícia, porra, que tipo de homem isso me torna?
Um covarde?
Coração frio?
Honesto sobre a natureza fodida do mundo?

Você poderia tê-la para si mesmo.

O pensamento não era novo. Ela era uma escrava, depois de


tudo. E eu era um rico maldito. Eu poderia comprá-la dele. Eu
poderia mantê-la trancada para usar sempre que eu quisesse,
sem me distrair da minha empresa.
A ideia era muito atraente.
Ela seria um animal de estimação.
Um invisível, animal desconhecido. Eu não teria que levá-la
para passear ou dar mimos especiais. Enquanto tivesse comida
e um lugar para descansar, ela teria uma qualidade de vida
muito melhor comigo do que ela jamais teria com Alrik.

PEPPER WINTERS
Mas por que eu iria comprá-la quando eu poderia levá-la?

Eu não deveria.
Eu deveria ir embora antes que eu a ferisse mais que Alrik
jamais poderia. Mas eu tinha mentido quando eu tinha dobrado
a borboleta origami com a minha nota dentro.
Eu não conseguiria esquecê-la até que eu tome o que eu
preciso dela. E o que eu preciso ainda não conquistei.

Quero transar com ela.

Uma vez.
A única vez.
Então, eu poderia vendê-la ou libertá-la. Uma coisa era
certa, eu não iria mantê-la por muito tempo. Não era possível
para um homem como eu.
Mas por pouco tempo...
"Sim, tenho certeza. Volte."
"Imediatamente, senhor."
Que se foda a ideologia de manter os negócios longe do
prazer
Eu era um ladrão.
E eu iria roubar a menina silenciosa e fazê-la falar.

PEPPER WINTERS
MEU CORAÇÃO estava em minha boca, saltando na minha
língua como se fosse um trampolim maldito, sem se importar
que as tesouras afiadas logo fossem cortar a única parte que eu
queria desesperadamente manter.
Era estranho que eu quisesse mais a minha língua do que
um dedo da mão ou pé?
Era errado que eu pensei em negociar outras partes pela
minha língua?

Pegue o meu dedo mindinho.


Não, meu dedo indicador.
Espera ... toma o meu dedão do pé.
Apenas não toque em minha língua!

Eu engasguei sob o peso de Darryl quando Mestre A moveu-


se sobre a minha cabeça para me segurar. Apertando meu
crânio entre os joelhos, olhou para mim, seu rosto de cabeça
para baixo.

PEPPER WINTERS
Seus lábios se moviam, fundindo com a agonia dentro de
mim.
"Eu prometi a você que isso aconteceria se você não fosse
falasse comigo um dia, Pim. Isto é o que vai acontecer.”
Minha mão quebrada queimava enquanto eu batia no chão
e tentava o meu melhor para me esquivar. O dólar na palma da
minha outra mão não foi suficiente para tornar livre.
Minhas lutas se tornaram violentas. Mas havia dois homens
e uma de mim ‒ homens que tinham comido nas últimas vinte e
quatro horas e tinham músculos que não estavam atrofiados de
desnutrição.
Eu não tinha a menor chance.
Darryl sorriu enquanto abria e fechava a tesoura com um
floreio. As lâminas raspavam juntos em um silvo sinistro. "Você
está pronta?"

Não! Não! Não!

Suas unhas cortavam a minha língua enquanto ele a


segurava firme, não deixando minha saliva lubrificar os dedos.
O pedaço de carne secava a cada segundo que ele a segurava.

Não!

PEPPER WINTERS
A parte de mim que eu não tinha usado há muito tempo
estava no corredor da morte. Minha maldição de silêncio se
tornaria realidade.
Mesmo que eu quisesse, eu nunca seria capaz de falar
novamente.
Eu entrei neste mundo com o silêncio sendo minha arma. A
escolha de não falar.
Escolha agora que me seria tirada para sempre.
Como eu poderia dizer à polícia o que foi que foi feito para
mim, se eu não podia falar? Como eu poderia pedir ajuda?
Meu corpo tremia enquanto eu silenciosamente soluçava,
jogando minha cabeça, tanto quanto eu podia nos confins de
joelhos de Mestre A.
Por algumas horas, eu tinha estado na segurança do
controle de outro homem. Um homem que colocou Mestre A em
seu lugar. Por que, oh por que, não falei com ele quando tive a
chance? Por que eu fui tão teimosa? Tão medrosa?
Eu merecia isso.
Eu tinha sido tão estúpida.
E agora, eu nunca iria dizer outra palavra para o resto da
minha vida.
Pelo menos eu ainda tinha meus dedos. Eu poderia
escrever. Eu poderia continuar o meu livro.

Mas meu livro desapareceu!

PEPPER WINTERS
Anos de memórias roubadas.
Talvez isso, aqui, era o ponto em que eu desisto. Onde eu
admito que eu esteja quebrada. Talvez quando ele cortasse a
minha língua, eu iria morrer de perda de sangue, e finalmente
tudo teria acabado.

Por favor, termine logo com isso.

Pode não ser tão indolor quanto à arma, mas daria o


resultado desejado.
A luta dos meus membros parou. Aceitar o inevitável,
porque eu literalmente não tinha mais nada. Eu não podia
ganhar. Eu nunca tinha sido capaz de vencer. Tudo o que eu
podia fazer era parar e aceitar.
Finalmente aceitar que Tasmin estava morta e Pimlico seria
também.
No momento em que parei de lutar, Darryl riu. "Finalmente
percebeu que você não pode parar isso, hein, prostituta?"

Você vai apodrecer no inferno.

Meus olhos se estreitaram quando ele puxou minha língua


ainda mais dos meus lábios.
Ele sorriu. "Que tal uma palavra para o seu mestre? Uma
pequena palavra..."

PEPPER WINTERS
Mestre A riu. "Sim, vá em frente, Pim. Uma palavra e eu vou
reconsiderar cortar a sua língua." Ele se inclinou e beijou minha
testa, o cabelo fazendo cócegas no meu nariz. "Se eu gostar de
sua voz, eu vou deixar você mantê-la."
O dilema era difícil.
Se eu fizesse isso, ele finalmente ganharia. Minha prisão
incluiria gritos e respostas às suas perguntas torturantes. Se
ele me levasse a proferir uma palavra agora, ele poderia fazer
isso outras vezes.
Ele nunca me deixaria ficar em silêncio novamente.
Ou eu poderia tornar a minha mudez real. Como um
seguidor devoto religioso renunciando a toda a riqueza
monetária ao entrar para um convento, já não é apenas
praticando a sua fé, mas tornando-se sua fé.
Eu ficaria muda não por escolha, mas por incapacidade.
Eu era vaidosa o suficiente para odiar o pensamento de não
ser perfeita? Ou forte o suficiente para aceitar o preço que eu
tinha que pagar para ganhar?
Os dedos de Mestre A beliscou minhas bochechas. "Decida,
Pimlico. Você tem dez segundos para decidir." Ele olhou para
Darryl. "Corte no um. Se ela tenta falar, solte a língua dela."
"Entendi, A."
Meu coração começou uma contagem regressiva, marcando
a cada segundo com dinamite como Mestre A disse: "Dez ..."

PEPPER WINTERS
Devo falar?

"Nove..."

O que eu deveria dizer?

"Oito…"

Que palavra vai me manter segura?

"Sete…"

Eu realmente quero que ele ganhe desta maneira?

"Seis…"

Quão rapidamente vou morrer se eu recusar?

"Cinco..."

Será que vou me afogar em meu próprio sangue?

"Quatro…"

Tome uma decisão!

PEPPER WINTERS
Os dedos de Darryl apertavam, um sabor tênue de cobre
encheu minha boca, quando a unha cavou mais fundo,
puxando a minha língua para fora, tanto quanto possível.

Faça!
Uma palavra.
Que tal: Ajuda. Ou misericórdia. Ou por favor.

"Três."
Eu saturava meus pulmões com oxigênio, inalando forte
pela primeira vez, sabendo que eu iria finalmente transformar o
ar em ondas sonoras através da magia da engenharia humana.
"Dois…"
Eu balancei a cabeça, mostrando selvagemente nos olhos a
promessa de que eu iria falar.
Os homens fizeram uma pausa, sobrancelhas arqueadas,
mas Darryl não largou minha língua. "Vá em frente, Pim... um
pouco de barulho. Mostre-nos que você vai obedecer antes de
começar soltar sua língua.”
Um barulho era mais fácil do que uma palavra. Ele tinha
obtido pior de mim antes.
Obedeci.
O gemido esfarrapado levantou-se com ferrugem e mau uso,
uma vibração estranha no meu peito.

PEPPER WINTERS
Mestre A estava encharcando com meu o suor de terror.
"Boa menina. Você finalmente obedeceu." Beijando a minha
testa, ele sussurrou, "Mas que pena... Eu realmente não gostei
do som da sua voz."
Golpeando meu rosto, ele acenou para Darryl. "Um."
Ele cortou.

PEPPER WINTERS
O carro parou.
Saí.
A porta da frente estava trancada.
Eu usei minhas habilidades de ladrão para entrar em
segundos.
No instante em que entrei, o alarme estalou meus tímpanos
com um alerta estridente.
Eu ignorei, seguindo em frente pelos corredores
desprezíveis.
A casa branca zombou de mim quando eu irrompi da
entrada para sala.
E, de repente, eu já não vi branco.
Mas vermelho.
Lotes e lotes de vermelho.
Eu não parei para pensar. Eu não adivinhei. Eu deixei
aflorar os instintos que eu passei anos tentando esconder, a
raiva surda me tomar; a memória muscular assumir.
No meu passado sórdido, eu tinha feito coisas que me
evoluíram de ladrão para assassino, de assassino para carrasco,
de carrasco para ladrão de almas sem coração. Lutar sempre

PEPPER WINTERS
tinha sido mais do que apenas um hobby. Esteve no meu
passado por gerações. E por causa dos meus únicos defeitos
pessoais me tornei mestre nisso.
Minha mão formou uma lâmina, meus dedos firmes e
longos, juntos como um facão. Eu balancei a arma na jugular
do homem sentado em cima de Pimlico.
Ele tombou de lado, inconsciente em um único golpe.
Pimlico não se moveu enquanto o sangue se derramava em
sua frente, encharcando a sua nudez. Um par de tesouras
grandes caiu da mão do homem inconsciente, fazendo barulho
no chão.
"Que porra é essa!?" Alrik se levantou, deixando a menina
sangrando por todo tapete. Afastando-se, ele me deu a
oportunidade de me aproximar dela.
O homem que tinha derrubado a porta do quarto com um
taco de beisebol avançou para mim, balançando a faca que eu
pegado na garagem. "Seu louco! Você vai morrer.”
Normalmente, gostaria de me divertir com o idiota. Eu iria
brincar com a presa, lentamente a desgastando até que
implorasse para finalizar a luta.
Mas Pim precisava de mim.
Não precisava nem pensar.
Em um segundo, o homem estava esfaqueando ar, fazendo o
seu melhor para me atingir. No próximo, a faca foi torcida de
sua mão para a minha e o cabo foi enterrado em seu estômago.

PEPPER WINTERS
Ele gritou quando eu cortei suas entranhas antes de
arrancar a faca e apunhalar em seu coração.
Seu olhar perdeu o foco no momento em que o objeto
atravessou o músculo que o mantinha vivo. No entanto, isso
não impediu que seu corpo parasse de bombear o seu sangue
para fora e que seus intestinos desenrolassem quando ele caiu
no tapete.
Pimlico levantou-se, com os olhos tão grandes como luas
gêmeas.
O homem estava morto. Ele não valia mais a pena o meu
tempo.
Seu olhar encontrou o meu selvagem e agonizante. Sangue
descia como um rio de sua boca.
O que eles fizeram com ela? Que tipo de monstro faria uma
coisa dessas?

Você fez pior.

Sim eu tinha. Eu não iria negar.


Mas nunca para uma mulher.
Nunca para uma mulher inocente.
Agachando-me, eu puxei-a para uma posição sentada,
embalando-a contra meu peito.
Eu não me importava com o sangue.

PEPPER WINTERS
Tudo o que me importava era ter certeza de que ela iria
sobreviver mais alguns minutos para que eu pudesse fazer o
que eu deveria ter feito no início, quando esse idiota me
contatou.
Matá-lo.
Dane-se o contrato.
Que se dane a porra do dinheiro.

Ele está morto.

Alrik ficou boquiaberto como uma carpa olhando para o


amigo morto, com as tripas enroladas no chão. Seu outro amigo
permaneceu inconsciente ao lado dele. "Seu filho da puta!"
Sacudindo a cabeça em negação, ele entrou na cozinha.
Eu não o deixaria ir.
O mais provável é que ele tivesse outra arma escondida em
algum lugar. Ele pensou que tinha poder sobre mim com uma
arma tão inútil.
Estúpido idiota.
Empunhar uma pistola não iria salvá-lo de mim. Balas não
tinham a menor chance com os métodos de abate que me
tinham sido ensinados.
Desconsiderando-o, eu investiguei a boca de Pimlico.
O sangue deixou tudo escorregadio e liso.

PEPPER WINTERS
Ela fez uma careta, lágrimas misturando-se com a boca
sangrenta enquanto eu a obrigava a me mostrar o que tinha
sido feito.
A partir de experiências anteriores, eu sabia o que sangrava
tão copiosamente.
A língua.
E porque eu não era estúpido, eu entendi por que ele fez
uma coisa dessas. Ela se recusou a falar. Eu tinha o feito
suspeitar de que ela falou comigo.
Por que ela não tinha falado comigo?
Foi essa a razão? Porque ela sabia que eu iria embora e fez o
melhor para evitar a próxima brutalidade?
Isto era minha culpa.

Eu fiz isso.

Mas, pelo menos, eu voltei para corrigir essa porra.


Pimlico lutava em meus braços enquanto eu segui avaliando
os danos à sua língua. Eu esperava encontrar um pedaço
cortado de carne, mas eu não tinha chegado tarde demais.
Ela tinha um corte em um terço do caminho através do
músculo.
Doeria. Continuaria sangrando. Mas ela não perderia o
poder da fala. E ela não morreria... Espero.

PEPPER WINTERS
"Você vai ficar bem.” Pegando deitei-a no sofá branco, tendo
a satisfação suprema quando o carmesim escuro choveu sobre
as superfícies cristalinas. "Fique aqui. Eu tenho que terminar
algumas coisas.”
Alrik tinha desaparecido, mas barulho vinha da despensa
onde ele pegava tudo o que podia para fazê-lo seguro.
Eu o deixaria vir. Eu não iria persegui-lo para começar uma
guerra antes que ele estivesse armado.
Eu não era esse tipo de pessoa.
Ele queria uma luta.
Eu lutaria.
No entanto, o idiota que tinha cortado a língua de Pimlico
não merecia tal respeito.
Os olhos de Pim se travaram com os meus enquanto eu
caminhava em direção ao homem inconsciente e pegava a
tesoura ao lado dele. Toquei com o polegar a lâmina machada
com o sangue ainda quente da garota que eu não consigo tirar
da cabeça e segurei as alças.
Pim engasgou, segurando sua boca, tentando conter o
mórbido fluxo rubi.
Eu balancei minha cabeça. "Não engula. Basta deixá-lo
fluir. Eu vou cuidar de você. Apenas mais alguns minutos e
depois vamos embora."
Ir para onde?
Meu iate?

PEPPER WINTERS
Um hospital?
Eu decidiria quando fosse o tempo. Por agora, eu tinha
outras coisas em minha mente.
Ela não relaxaria. Como poderia com tal ferimento? Mas
seus saíram dos meus até a tesoura no meu punho.
Ela não falou, mas eu ouvi a sua pergunta através do arco
de sua sobrancelha e ódio cintilante em seu olhar.

O que você vai fazer?

Inclinei o meu queixo, observando-a. "Eu vou matá-lo."


Esse foi o único aviso que lhe dei. Ajoelhando-me, eu
enterrei as lâminas pesadas através da garganta do homem que
havia ferido a mulher que eu ia roubar.
As tesouras eram afiadas.
Seu pescoço era macio.
Os dois se complementaram; o macio com o afiado.
Sua garganta se abriu, revelando as entranhas da
cartilagem e esôfago antes que o sangue jorrasse e juntar-se a
confusão de Pimlico em uma avalanche de vermelho.
Um tiro explodiu acima da minha cabeça, assobiando e
atingindo a grande janela oval atrás de mim.
O vidro quebrou, caindo, deixando a brisa do mar entrar no
espaço.

PEPPER WINTERS
"Dê o fora da minha casa e eu não vou te matar". Alrik grita
confuso da cozinha, ambas as mãos sobre a pistola, os dedos
apertando o gatilho.
Ele ainda pensava que eu iria entregar a sua compra.
Mesmo depois disso.
Eu ri. "Se você fosse metade do homem que pensa que é,
teria atirado em mim."
Ele fez uma careta. "Eu sou o homem melhor, porque eu
não o fiz."
"Não, você é apenas um bastardo ganancioso que ainda
acha que o nosso negócio vai acontecer."
Ele empalideceu. "Eu paguei. Você concordou. Claro, que
vai acontecer. Eu preciso da porra do iate!”
"Precisar e merecer são duas coisas completamente
diferentes." Movendo-me no sofá, eu parei meus dedos
brevemente sobre a bochecha encharcada de sangue de Pimlico.
"Nosso acordo foi anulado no momento em que você mutilou a
jovem."
"Ela é minha para fazer o qu-"
"Como quiser." Levantando minha mão, eu pintei a minha
bochecha com o seu sangue, encharcando-me na dor da pessoa
que eu estava protegendo ‒ assim como os da minha linhagem.
Nós tínhamos lutado para imperatrizes e rainhas. Nós tínhamos
dado a nossa vida a serviço dos outros e vingamos aqueles que
tinham nos ofendido.

PEPPER WINTERS
Esta situação não era diferente.
Os ensinamentos que eu aprendi voltaram a minha mente,
fluindo como memórias mágicas através das minhas veias. Eu
senti falta da minha espada, mas minhas mãos serviriam neste
caso.
"Você foi longe demais desta vez, Alrik."
"Você não tem autoridade para me dizer o que eu posso e
não posso fazer."
"Sim." Eu me aproximei dele. "Eu tenho."
Seus braços tremiam. "Pense de novo."
O vacilo de seus músculos me deu todo o aviso que eu
precisava. Ele puxou o gatilho e outra bala quebrou o tecido do
ar com toda velocidade.
Eu abaixei-me sem esforço e, em seguida, avancei,
empurrando-o com o meu ombro, esmagando-o contra a
bancada da cozinha.
Todo o oxigênio em seus pulmões se extinguiu. O baque
sólido do mármore na sua espinha teve uma boa probabilidade
de deixá-lo aleijado.
Ele caiu de joelhos, apenas para recuperar o fôlego e voltar
a ficar de pé.
Não o ajeitou, depois de tudo.

Oh bem, sem problema.

PEPPER WINTERS
Meu cérebro desligou quando eu estendi a mão e arranquei
a arma incômoda de suas garras. Joguei-a no sofá ao lado de
Pimlico.
Imediatamente, ela se arrastou para ela, segurando a boca
com uma mão e fazendo o seu melhor para suportar o peso da
pistola preta com a outra.
Eu queria dizer a ela que eu ia protegê-la, ajudá-la, mas
minhas intenções não eram a de um homem gentil. Eu vim para
roubá-la não libertá-la.
Ela não precisava saber disso. Não até que eu a tivesse
exatamente onde eu queria. Não até que ela estivesse curada.
Alrik tentou atingir o meu rosto agora que ele tinha sido
despojado de sua arma.
Seu punho me socou apenas porque eu deixei.
A dor foi utilizada como energia no meu treinamento, dando
munição aos instintos animalescos quando o corpo era
ameaçado.
Eu poderia matá-lo rápido ou lentamente.
Se fosse por minha vontade, seria lento.
Mas Pimlico não iria resistir pelas horas que eu gostaria de
torturá-lo. Eu não tinha tempo para fazê-lo morrer de fome por
anos de abuso físico e mental. Ele estava se livrando muito fácil.
Mas agora, por causa dela, tinha que ser rápido.
Minha mão subiu para frente; meus dedos se atolando em
sua laringe.

PEPPER WINTERS
Ele engasgou.
Enquanto ele se dobrava, tentando respirar, eu agarrei seus
ombros e atingi seu rosto com meu joelho.
Com mãos assassinas, agarrei seu queixo, pronto para
quebrar o seu pescoço.
Fiquei decepcionado com o quão rápido três vidas foram
ceifadas. Esta expedição fria não me satisfez.
Mas isso não era sobre mim.

É sobre ela.

Um som feral soou atrás de mim.


Eu congelei, olhando por cima do meu ombro.
Pimlico caída sobre as costas do sofá, sangue por toda
parte, as duas mãos segurando a arma. Ela balançou a cabeça ‒
a resposta mais extensiva que eu já tinha ganho ‒ enquanto
seus olhos caiam para Alrik lutando nas minhas mãos.
"Você quer fazer isso?"
Ela assentiu com a cabeça.
Ela estava muito agitada. Não seria capaz de apontar.
Mas eu não iria negar a única coisa que ela já me pediu.
"Tudo bem." Movendo o corpo de Alrik, eu o icei usando sua
mandíbula e apertando sua nuca, ameaçando quebrar seu
pescoço. "Parado, seu inútil saco de merda."

PEPPER WINTERS
Seus pés escorregaram sobre o assoalho, mas ele fez o seu
melhor para obedecer. "Você não tem que fazer isso. Você quer
mais dinheiro? Pegue tudo. Você a quer pode levá-la. Eu não me
importo."
"Não é sobre isso." Eu sorri. "É sobre karma e pagar por
aquilo que você fez. Se fosse por mim, você iria sofrer por
décadas, da mesma forma que você fez Pim e inúmeras outras
meninas sofrerem. Mas não temos esse luxo, por isso,
considerar-se com sorte.”
Pimlico nunca tirou os olhos de cima dele, seu dedo seguro
no gatilho. Ela engasgou enquanto mais sangue fluiu, forçando-
a a vomitar sobre o encosto do sofá. Enxugando as lágrimas, a
arma vacilou quando ela se esticou para atirar.
"Espere," eu pedi.
Arrastando Alrik em direção a ela, eu assenti e chutei a
perna dele para fazê-lo se ajoelhar-se e apertei sua cabeça
suada contra o cano da arma. "Agora, você pode matá-lo."
Ela suspirou, riachos escarlates manchando os seios nus. O
olhar que ela deu para mim era tão cheio de agradecimento,
alívio e vitória, que me fez encolher. Ela estava tomada pelo
ódio, após dois anos de tortura que sofreu.
Meu pau se endureceu, reconhecendo o conquistador dentro
dela. Foi por isso que eu não poderia esquecê-la. A razão que
me impulsionou a roubá-la.
Ela era única.

PEPPER WINTERS
Minha igual.
Mesmo que eu nunca fosse admitisse tais coisas.
"Faça, Pimlico. Mate-o." Minha voz rugiu com impaciência e
ganância. "Termine isso."
Alrik uniu as mãos em oração. "Espere! Pim... Doce e
pequena Pim. Não faça isso. Eu te amo!"
Ela cuspiu outra porção de sangue, salpicando por todo seu
rosto. Sua aversão disse a ele exatamente o que ela pensava do
seu assim chamado amor.
Alrik se contorceu, seu temperamento, mais uma o
colocando em apuros. "Por que, sua putinha? Eu vou chicotear
você tant-"
Meus punhos se cerraram com a vontade de surrar o
bastardo. Mas a raiva quente caiu sobre Pim, dando-me uma
fração de segundo de aviso para sair do caminho maldito.
Soltando Alrik, eu desviei para evitar um tiro incorreto ou
ricochete. Eu sacudi quando a arma explodiu.
O cheiro de enxofre bateu no meu nariz, quando o barulho
de uma bala encheu a sala de estar branca.
Por um segundo, Alrik ficou balançando onde eu o tinha
colocado.
Em seguida, ele caiu.
Atordoado e confuso, ele tropeçou enquanto suas mãos
subiram para segurar um buraco recém-formado na barriga.

PEPPER WINTERS
Pim o olhou. Choque fundiu com a descrença de que ela
finalmente o tinha reembolsado com dor.
Ele gritou: "Porra, você atirou em mim! Você me deu um
tiro."

Ela fez, mas não é suficiente.

Não era uma ferida mortal.


Eu não tinha intenção de deixa-lo aqui com qualquer
chance dele ser encontrado por paramédicos.
Dando um passo para frente, meus dedos doíam para
terminar o serviço.
Porém mais uma vez, Pim me surpreendeu.
Ela deu um sorriso vermelho horripilante, puxando o gatilho
uma segunda vez.

Boom!

O tiro entrou em sua bochecha.


Dois furos, mas ainda vivo.
Ela tinha perdido seu cérebro e coração.
Alrik gritou mais alto, não proferindo palavras concisas,
mas uivando para a sua vida.
Soluços tomaram o corpo dela quando a adrenalina mudou
rapidamente para estupefação.

PEPPER WINTERS
Ela desmaiaria a qualquer segundo, eu estava chocado que
ela ainda não tivesse caído. Eu não queria que ela desmaiasse
sem vê-lo morto.
Ela precisava ver isso.
Recusei-me a deixá-lo escapar e assombrá-la.
Movendo-se no sofá, eu me ajoelhei ao lado dela e tomei as
suas mãos trêmulas nas minhas.
"Aqui, eu vou ajudá-la."
Alrik ilegível: "Não! Não faça isso!" Sangue foi expelindo por
sua bochecha quando ele fez o seu melhor para segurar ambas
as feridas.
Seus apelos não foram registrados enquanto eu guiava a as
mãos de Pim e apontava a arma diretamente para a testa dele.
"Vá em frente, Ratinha Silenciosa."
O corpo dela estremeceu ao ouvir o apelido, mas seu dedo
puxou o gatilho pela terceira vez.

Bang! Três era o número de sorte.


Não houve gritos, nem pedidos de ajuda ‒ nada além do
silêncio latejante e o constante gotejamento do sangue caindo
no sofá.
Alrik passou de estuprador a cadáver, fazendo um favor ao
mundo ao deixar de respirar.
Ela não tripudiou sobre sua matança.
Ela não chorou ou questionou.

PEPPER WINTERS
E eu não a deixaria se aprofundar no que tinha feito.
Eu tinha coisas mais importantes para me preocupar ‒ não
sobre a polícia, testemunhas ou outras coisas triviais. Não, algo
muito mais importante do que isso.
A mulher que eu viria a reivindicar estava morrendo.
Eu não podia permitir isso que até eu tivesse tomado o que
precisava.
Quase como se ouvisse os meus pensamentos, Pim deixou a
arma cair sobre o cadáver de Alrik, e desmaiou no sofá.
"Merda." Eu a peguei, carregando-a em meus braços e
subindo a sala.
Sua pele não tinha mais cor, parecendo azul e sem sangue
enquanto eu saia da sala. Não dei nenhuma atenção aos três
homens que ficaram no local em um lago de sangue. Eu estava
focado na mulher pequena, porém formidável nos meus braços.
"Fique comigo, Pim. Eu estou com você."
Ela não respondeu enquanto nós marchávamos pela sua
prisão e saindo pela porta principal, libertando-a da mansão
branca.

PEPPER WINTERS
ISSO DÓI.
Muito mesmo.
Era tudo que eu conseguia pensar. A única coisa que eu
poderia focar.
Derivei dentro e fora da escuridão.
Meu corpo queria afundar... Para afastar a dor. Mas minha
força de vontade tinha esperado muito tempo por isso.

Ele está morto.


Eu o matei!

Eu não conseguia dormir agora.

Eu estou livre!

Mas, oh meu Deus, a agonia.


Os braços de Mr. Prest em torno de mim não poderiam
competir com o ardor doloroso em minha língua. O ar fresco
depois de dois anos trancafiada passou despercebido. O mundo
e todos nele eram nada enquanto eu vivia o inferno torturante,

PEPPER WINTERS
com sangue quente me asfixiando e uma dor maior do que eu
pensava ser possível.
Eu não conseguia entender o que estava acontecendo.
Eu estava do lado de fora!
Longe da mansão branca pela primeira vez desde que
Mestre A cobriu o meu lance de um milhão por mim mesma.
O atrito das pedras sob os sapatos de Mr. Prest foram
abafados. A vista da casa de Mestre A no alto de um penhasco
com vista para o mar final era nebuloso. Eu queria beijar o
concreto da calçada e dançar no solo, onde brilhantes arbustos
verdes dormiam.
A Brisa. O sal. O guincho de aves marinhas. Tanto caos
depois de tanto silêncio.
E eu estava muito enrolada em agonia para aproveitar.

Ele está morto.


Darryl também.
Tony.
Todos mortos.

O Sr. Prest fez o que eu tinha sonhado durante anos.


Mesmo este conhecimento estava mudo e não parecia real.
Eu precisava que a minha língua parasse de me afogar em
sangue, para que eu pudesse concentrar-me nesta nova
realidade.

PEPPER WINTERS
Eu acabara de testemunhar um assassinato. Um tenebroso,
assassinato horrível.
Eu cometi um assassinato. Uma execução de vingança a
sangue-frio.
E eu gostei disso!
Eu não fiquei triste por suas mortes. Foi o karma.
Considerando, eles sofreram pouco. No entanto, eu não
conseguia descobrir o que viria a seguir. Será que o Sr. Prest
matará a mim também? Por que voltou? Como ele planeja que
eu o pague por este resgate?
Devo correr, gritar, implorar?
Eu não poderia fazer qualquer uma dessas coisas com o
meu corpo rapidamente morrendo, mas eu precisava saber,
para me preparar... Qual será o meu novo destino?
Junto com uma lavagem constante de sangue, eu lutava
para respirar. Minha língua tinha inchado até ficar do tamanho
de um navio de cruzeiro. Ela não deu ouvidos aos meus
comandos para se mover. Ela simplesmente sentou-se,
parcialmente cortada e agonizante, distraindo-me de tudo.
O Sr. Prest me levou até seu carro, ignorando o olhar
chocado de um homem com cabelo escuro parado em pé, com
os olhos dançando para cima e para baixo da entrada como se
esperasse que a polícia aparecesse a qualquer momento.
"Senhor…"

PEPPER WINTERS
"Sem perguntas." O Sr. Prest esperou até que o homem
abrisse o veículo, em seguida, entrou. Ele não falou de novo
enquanto me manipulava em seus braços, sentando-se ao
mesmo tempo em que me colocava em seu colo. Meu sangue
decorava sua bochecha onde ele tinha desenhado a marca de
guerra, se pintando como o diabo que eu suspeitava que ele
fosse, enquanto o vermelho fresco molhava sua roupa como
óleo.
Eu tremia de dor e frio.
Entendendo sem perguntar, o Sr. Prest deslizou-me no
couro preto (não mais um mundo de branco) e tirou seu blazer.
Colocando-o em torno de mim, sobre os meus braços, não se
importando com o meu sangue em suas roupas e carro.
Quanto sangue eu tinha perdido?
Quanto mais eu poderia me dar ao luxo de perder antes de
morrer?
Eu já me sentia tonta e fraca. Minha língua continuou a
inchar, bloqueando minha habilidade de engolir.
Por muito tempo, eu implorei pela morte.
E agora que ela estava tão próxima, eu não queria ir.
Eu estava livre.
Eu estava em um mundo de cores ao invés de preto e
branco.

Eu não quero morrer.

PEPPER WINTERS
Se eu não estivesse tão confusa e tomada pela dor, eu
poderia me importar que este salvador, este anjo escuro, via-me
babando e de olhos vidrados. Ele me viu oscilar na beira da
inconsciência.
"Dirija, Selix."
O som abafado de uma porta se fechando aconteceu um
nano segundo antes que o carro arrancasse com os pneus
gritando.
"Para onde, senhor?"
"Phanton. Ligue antes. Diga a Michaels para estar pronto".
"Certo."
A divisória móvel subiu quando o Sr. Prest arrastou a
minha forma tonta para os seus braços novamente. Ele me
manteve segura, agindo como um cinto de segurança quando o
veículo entrou em curvas e desceu por estradas que eu nunca
tinha visto antes.
Respirando com dificuldade, ele passou a mão suja de
morte sobre o rosto, manchando-se de sangue na testa e queixo.
Encolhi-me em seus braços, tentando fazer desaparecer
todo o engasgar e líquido metálico.

Oh, Deus, por favor deixe a dor parar.


Por favor, não me deixe morrer.
Agora não.

PEPPER WINTERS
O Sr. Prest olhou para baixo, pegando meu olhar fora de
foco.

Feche seus olhos.


Você ficará mais segura assim.

Era um truque estúpido, fingir que ele não poderia me ver


se eu não pudesse vê-lo. Mas a minha perda de sangue e
estranha agonia vaporosa deu fundamentação sólida para as
fantasias lunáticas.
Aproximando-me ainda mais do seu corpo, minha pele se
arrepiou com intensidade quando senti o Sr. Prest abaixar a
cabeça, seu hálito quente patinando em meu rosto
ensanguentado. Durante muito tempo, ele ficou ali, imóvel e em
silêncio, esperando que eu abrisse os olhos.
Mas eu não podia.

Eu não posso.

Eu desejei ser cega, assim como muda. Surda também,


então eu nunca teria ouvido o som esmagador da minha língua
sendo cortada ou o som dos ossos se triturando quando ele
jogou Mestre A contra o balcão da cozinha.
Finalmente, sua paciência se esgotou. Tomando meu
queixo, ele levantou o meu rosto.

PEPPER WINTERS
Eu estava fraca e enjoada e não tive escolha, mas eu
obedeci porque eu acabara de testemunhar o que aconteceu
com aqueles que o irritaram. Ele matou-os tão rapidamente, tão
facilmente, como se fossem nada para ele.
Eu não queria ser nada.
Eu queria permanecer em suas boas graças. Lá, eu poderia
encontrar uma palavra gentil ou carinho suave. Eu não queria
mais violência. Eu já tive o suficiente por toda uma vida.
O Sr. Prest segurou meu queixo, seus dedos escorregando
no sangue pegajoso. "Ele mereceu morrer pelo que fez."

Eu concordo.
Ele mereceu morrer por centenas de coisas.

Eu não me movi. Nenhum aceno de cabeça, nem contração.


Nada.
Ele franziu a testa. "Eu sei que você me entende. Do que
você tem medo? Você está segura agora."

Medo?
Eu tenho medo de você.
Eu não sei o que é pior, você ou morte. E eu não sei como
obter respostas antes que seja tarde demais.

PEPPER WINTERS
Minhas pálpebras fecharam-se quando a escuridão gelada
roubou a minha consciência, cobrindo tudo por um momento.
Era a morte? Ou meramente o choque?
Eu estava vagamente ciente de Mr. Prest rosnando para seu
motorista, "Dirija mais rápido, Selix."
O carro deu uma guinada em seu comando, o motor
rosnando.
Alguns minutos se passaram.
Oscilei entre estar acordada e inconsciente.
Sua voz arrastou-me de volta; sua pergunta me fez abrir os
olhos.
"Você está grata? Que eu te salvei?”
Cansada, tão, tão cansada.
Eu o encarei.

Não.
Sim.
Obrigada.

Ele me encarou de volta, incapaz de parar de esperar por


uma resposta que nunca chegaria. Finalmente, ele bufou. "Bem,
você não deve estar."
Meu coração dançou.
O carro saltou sobre um quebra molas, pressionando
nossos corpos mais juntos. Seus dedos deixaram a minha

PEPPER WINTERS
mandíbula para agarrar o meu pulso flexível forjando uma nova
algema, um novo mestre, uma nova vida na servidão. "Eu não
sou o herói desta história, Pimlico. Eu sou outro vilão. É melhor
que você se lembre disso."
Olhando para a bagunça que eu tinha feito e as amarras do
seu toque, meus olhos caíram na nota de dólar que ele me deu.
Eu de alguma forma consegui segurá-la enquanto minha língua
foi cortada e três vidas foram tiradas.
Ele notou também, roubando-a de meu aperto. O dinheiro
verde agora se assemelhava a um tie-dye3 macabro manchado
de vermelho sujo. "Você achou o meu origami."
É meu.
Eu não conseguia tirar os olhos da única coisa que me
restava.
Eu não me importava que fosse dinheiro. Eu só me
importava que fosse um presente e o queria mais do que
qualquer coisa.
Sentindo que eu precisava tê-lo de volta como uma criança
precisava de seu brinquedo favorito para se confortar, ele abriu
a palma da mão.
Agarrei-o.
"É seu. Vou te fazer outro quando estivermos em casa”.
Casa.
Onde era a casa?

3 É uma técnica de tingimento artístico de tecidos.

PEPPER WINTERS
O que era Phantom?
Nuvens escuras encheram a minha cabeça com algodão e
tempestades. Minhas pálpebras caíram quando derrapei na
escuridão novamente. Porém, quando minha visão fraquejou e
eu me agarrei a lucidez, vi algo branco dentro do bolso do
casaco que eu usava.
Instantaneamente, o nevoeiro se dissipou.

Eu conheço isso.

Meus olhos se voltaram para o Sr. Prest.

Você os levou.

Minhas cartas à ninguém.

Como você ousou!

Enfiando o cabelo sujo de sangue atrás da minha orelha, ele


sorriu. "Sim, eu roubei seus relatos. Mas agora, eu roubei você,
então você pode tê-los de volta."

Você leu?
Riu deles?
Por isso que você voltou, porque você sentiu pena de mim?

PEPPER WINTERS
Estremeci, gostando dele e o odiando ao mesmo tempo.
Grata e confusa. Chocada e trêmula.
Seu sorriso foi áspero. "Você tem todo o direito de me olhar
assim. Peguei algo que para você é um tesouro, mas não vou
pedir desculpas." Suas pernas se moveram debaixo de mim. "Eu
não vou pedir desculpas porque eu acabei de roubá-la e isto não
é uma coisa boa."
Eu respirei fundo, engasgando com o sangue.

Por quê?
Por que não é bom?

Ele me resgatou. Eu estava viva por causa dele. Se ele me


quisesse morta, não precisava retornar.
Sua voz tornou-se um sussurro quando ele segurou meu
rosto. "Eu vou dizer que sinto muito por uma coisa."
Eu tremia enquanto seu polegar me acariciou docemente.
"Sinto muito pelo que eu estou prestes a fazer. Sinto muito
pelo que eu sou. Você vale tostões agora, mas eu vou fazer você
valer milhões. No entanto, o que eu espero em retorno será
impagável."
Seu rosto suavizou um pouco, incapaz de ocultar a
ferocidade que carregava. A calmaria que canalizava. As

PEPPER WINTERS
ameaças que prometia. "Estamos deixando este lugar e você
nunca vai ser encontrada. Você pertence a mim."
Seus lábios tocaram os meus, esfregando o meu sangue
entre nós. "Oh, e já que você é minha agora, você pode me
chamar de Elder."

PEPPER WINTERS
Eu sou péssima nisto. A parte mais difícil de escrever um
livro para mim é esta pequena seção no final. Eu vou agradecer
cegamente a todos com os quais eu já falei já que meu cérebro
nessas horas se torna um mingau. No entanto, devo dar um
épico agradecimento aos meus leitores beta: Amy, Vickie,
Tamicka, Katrina, Melissa, Yaya, e Celesha. Obrigada a Jenny
pela edição, Katrina por me manter sã, ao meu marido por me
manter alimentada, e a cada autor que sabe a dor e a alegria de
reescrever um livro seis vezes.

Eu também estou incrivelmente grata a todos que estão


lendo esta nova série. Desde o momento em que publiquei Tears
of Tess, eu tenho vivido um sonho e a cada dia acordo com
palavras na minha cabeça e letras se derramando dos meus
dedos, então envio grandes abraços a todos que tornam isso
possível.

Tenha um fabuloso resto de 2016 e espero que tenha


gostado de Pennies. Beijos.

PEPPER WINTERS
Monsters - Imagine Dragons
Demon - Imagine Dragons
Skycraper - Demi Lovato
Defying Gravity - Idina Menzel
Time is runnig out - Muse
Last hope - Paramore
Safe and Sound - Taylor Swift
Bring me the horizon - Throne
Madness - Muse

PEPPER WINTERS

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