Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
PEPPER WINTERS
Agradeço a aqueles que começaram esta jornada comigo.
Obrigada por cada resenha, cada mensagem, cada vislumbre de
suas almas. Não faz diferença se este é o meu décimo livro ou o
meu centésimo, eu vou sempre amar cada leitor, cada sorriso, e
valorizar cada coisa maravilhosa que me foi proporcionada
através da escrita.
PEPPER WINTERS
“Aos 18 anos, eu tinha algumas moedas, mas o dinheiro não me
fez mais corajosa.
Aos 19 anos, eu tinha alguns dólares, mas isto não aliviou a dor
de ser vendida.
Aos 20 anos, eu tinha centenas de dólares, mas então eu o
conheci e fui salva.
Aos 21 anos, eu tinha milhares de dólares, mas tudo o que eu
queria era ser presa.”
***
***
PEPPER WINTERS
Tasmin foi morta no seu 18º aniversário.
Ela tinha tudo planejado. O início de uma graduação em psicologia, uma mãe que a
impulsionava para grandeza, e um futuro que qualquer um gostaria de ter. Mas
então seu assassino salvou sua vida, somente para vendê-la e mudar a sua história.
Elder saiu de uma situação na qual não tinha um centavo e se tornou podre de rico
através de uma reviravolta do destino. Sua vida de crimes e roubos ficou para trás,
mas não importa o poder que ele agora possui, não é suficiente. Ele tem um
objetivo a alcançar, e não vai parar até conseguir.
PEPPER WINTERS
Pennies (Dollars #1) é um ROMANCE DARK. Isto
significa que nele serão encontradas cenas difíceis de ler,
linguagem gráfica, e conteúdo sexual (escrito de forma implícita
e explícita). Por favor, não leia se o ato de se apaixonar por um
homem que se comporta como um monstro ao invés de
comportar-se como um cavaleiro de armadura branca ofende
você. Este não é um conto de fadas. Este é um abismo escuro
que deve ser escalado as cegas antes de chegar a luz. Além de
possuir um conteúdo dark, este livro é o primeiro de uma série
de cinco livros. Cada novela subsequente será lançada em
intervalos curtos (para que você não fique desesperada pelos
cliffhanger1), e cada um será um livro completo. Por favor,
lembre-se também de que nem todas as respostas serão dadas e
de que nem todos os personagens são o que aparentam.
Existem lobos em pele de cordeiros e cordeiros em pele de lobos.
Lembre-se disto.
Você foi avisado.
Não diga que eu não te contei.
Leia por sua própria conta e risco.
Assuma a responsabilidade de apaixonar-se por Elder Prest.
Você está pronto?
1 Recurso de roteiro utilizado para prender a atenção do leitor e fazê-lo continuar acompanhando a
história para testemunhar a conclusão dos acontecimentos.
PEPPER WINTERS
Você tem certeza?
Você tem realmente certeza?
Ok então... entre no mundo de pennies2 e dólares.
2 Moedas ou tostões.
PEPPER WINTERS
LIBERDADE.
Uma palavra tão modesta.
Ela carrega pouca importância para aqueles que a possuem.
Mas para aqueles que não, ela é a mais preciosa, estimada, e
carregada de esperança de todas as palavras existentes.
Eu acho que eu fui sortuda em conhecer a sensação da
liberdade.
Por dezoito anos, eu fui livre. Livre para aprender o que eu
quis, para fazer amizades com quem eu gostasse, e para flertar
com os garotos que passassem pelo meu precioso crivo.
Eu era uma garota simples com ideais e sonhos, encorajada
pela sociedade a acreditar que nada me machucaria, que
deveria me esforçar para conseguir uma excelente carreira, e
que ninguém poderia me parar. Regras me manteriam salva, a
polícia afastaria de mim todos os monstros e eu poderia me
manter inocente e ingênua em relação à escuridão do mundo.
Liberdade.
Eu a tinha.
Mas então, eu a perdi.
Assassinada, ressuscitada, e vendida.
PEPPER WINTERS
Eu fiquei presa por tantos anos.
Até o dia que ele entrou na minha jaula.
Ele, dotado de olhos escuros e alma negra.
O homem que desafiou meu dono.
E transformou meu aprisionamento em algo completamente
diferente.
PEPPER WINTERS
QUERIDO DIÁRIO,
Não, isto não soou bem. Uma expressão muito alegre para o
meu conto.
Querido Universo,
Muito vago.
Para ...
PEPPER WINTERS
Batendo o lápis quebrado na minha têmpora, eu fiz o
melhor que podia para me focar. Por semanas eu estive
confinada, da mesma forma que um animal de zoológico, sendo
aclimatada em minha nova jaula. Eu fui alimentada, vestida, e
recebi atenção médica para curar os danos causados pela
minha captura. Eu tinha uma cama com lençóis, uma privada,
e shampoo para o banho. Eu tinha o básico que todos os seres
humanos e não humanos precisavam para viver.
Mas eu não estava vivendo.
Eu estava morrendo.
Eles só não conseguiam notar isto.
Espere ... Já sei.
Inspiração me tomou quando eu consegui definir a
saudação perfeita para o destinatário desta triste carta. A
expressão era a única coisa perfeita neste horrível novo mundo.
Para Ninguém.
PEPPER WINTERS
EU TINHA DEZOITO ANOS quando eu morri.
Eu me lembro daquele dia melhor do que qualquer outro em
minha curta vida. E eu sei que você está revirando os olhos,
dizendo que isto só aconteceu há três semanas, mas acredite em
mim, eu nunca vou esquecer. Eu sei que algumas pessoas dizem
que certos acontecimentos têm impactos eternos na psique
humana, mas até então eu não tinha passado por nada do
gênero. Veja bem, Ninguém, eu acho que você me chamaria de
mimada. Algumas pessoas podem até dizer que eu mereço isto.
Não, isto é uma mentira. Ninguém desejaria isto a seu pior
inimigo. Porém de todas as formas, você é o único que sabe que
eu não estou morta. Eu estou viva nesta cela a espera de ser
vendida. Eu fui machucada, tocada e violada de todas as formas
que não envolvessem estupro, e fui despojada de tudo o que eu
costumava ser. No entanto para minha mãe? Eu estou morta. Eu
morri. Quem sabe se ela um dia saberá a verdade a respeito do
que aconteceu comigo.
PEPPER WINTERS
Por dias, tudo o que eu tinha para me entreter eram os
meus pensamentos caóticos, minhas memórias terríveis e o
pânico sufocante que me tomava ao imaginar o que eles tinham
planejado para o futuro. Mas isso foi antes de encontrar a
mastigada metade de um lápis embaixo da cama.
A descoberta foi melhor que comida ou liberdade; melhor
porque meus traficantes controlam meticulosamente estas duas
coisas. Eu não tenho poder para decidir quando vou tomar café
da manhã ou jantar, e não posso mudar o fato de que eu estaria
sendo vendida como um pedaço de carne para o maior lance.
Eu não posso controlar o fato de estar sozinha em um
quarto minúsculo que outrora tinha sido uma suíte de um
hotel, que teve suas instalações compradas para a realização de
estadias mais desagradáveis. As toalhas surradas possuem o
logotipo de algum estabelecimento antigo, e os tapetes tem
detalhes de ouro e bronze, indicando que a decoração do lugar
não foi trocada desde os anos setenta.
Há quanto tempo este lápis esteve escondido embaixo de
minha cama? Seriam estas marcas de mordida dadas por uma
criança impaciente enquanto esperava os pais para poder ir
explorar uma nova cidade? Ou alguma camareira o perdeu ao
arrumar a cama?
Eu nunca saberia.
Mas eu gostava de fantasiar, já que não tinha outra coisa
para fazer. Eu passei os meus agonizantes e chatos dias
PEPPER WINTERS
explorando todos os recantos da minha prisão. Eles quebraram
o meu espírito, acabaram com meu desejo de lutar, mas não
conseguiram acabar com meu instinto de sobrevivência. O
instinto que todos têm - pelo menos eu acho que sim.
Eu estive sozinha por tanto tempo até então, que não sei
como as outras garotas, que foram trazidas juntas comigo,
estavam lidando com a situação. Será que elas apenas se
deitam na cama esperando os acontecimentos futuros? Será
que elas estão encolhidas em um canto, rezando para que seus
pais as salvem deste pesadelo? Ou elas simplesmente aceitam a
situação, já que a aceitação é mais fácil que a luta?
No meu caso? Eu corri meus dedos machucados por todas
as paredes, todas as rachaduras, todos os quadros e todas as
janelas e fachadas. Eu me arrastei pelo chão, procurando por
algo que pudesse me ajudar. E quando eu pensei em ajuda, eu
não sei se eu queria algo para usar como arma para poder
escapar ou se eu queria algo para acabar com meu sofrimento
antes que ele começasse de verdade.
Eu levei dias investigando cada centímetro deste quarto.
Mas tudo o que eu pude encontrar foi este pedaço de lápis meio
mastigado. Um presente. Um tesouro. A ponta de grafite estava
quase no fim, e não demoraria muito até que ele precisasse ser
apontado, mas eu me preocuparia com isso outro dia. Eu me
tornei mestre em ignorar minhas preocupações e necessidades.
PEPPER WINTERS
A única coisa que eu não pude encontrar foi papel. Não nas
gavetas da mesa e nem no armário embaixo da televisão
estragada. O único material no qual eu poderia escrever era
papel higiênico, e o lápis não aceitou bem esta ideia, rasgando o
suave tecido ao invés de marcá-lo com suas linhas prateadas.
No entanto, eu estava determinada a deixar algum tipo de
nota para trás. Alguma parte de mim que esses bastardos não
tinham tomado e nunca tomariam.
Respirando profundamente, eu ignorei minhas condições
atuais e segurei o lápis de forma mais firme. Olhando a porta
para me certificar de que estava sozinha, eu estiquei com mais
precisão o pedaço de papel para facilitar o ato de escrever, e
continuei o meu relato.
PEPPER WINTERS
Eu não sei se alguém além de você, Ninguém, vai ler esse
relato, mas se por acaso sim, eu espero que esta outra pessoa
esqueça o que eu estou prestes a admitir. Eu sou filha única de
uma mãe solteira. Eu amo minha mãe. Realmente amo.
Mas se eu sobreviver ao que está prestes a me acontecer, e
se por algum milagre, eu me tornar livre novamente, eu vou
manter essa parte para mim mesma quando eu recontar minha
experiência no purgatório.
Eu amo minha mãe, mas eu a odeio.
Sinto falta da minha mãe, mas eu nunca quero vê-la
novamente.
Obedeci a minha mãe, mas eu quero amaldiçoa-la por toda a
eternidade.
Ela é a única que eu posso culpar.
A única responsável por eu ter sido transformada em uma
prostituta.
PEPPER WINTERS
Dois dias se passaram.
PEPPER WINTERS
Eles vieram para mim na hora do jantar. Em vez do habitual
arroz empapado e frango ou do ensopado aguado, que eram
empurrados para mim através do buraco na parede, a porta se
abriu.
A porta se abriu!
Pela primeira vez em semanas.
Eu tenho estado tão sozinha neste lugar, contando apenas
com espelhos encardidos que me mostravam o reflexo de
alguém desesperada por companhia, que esta visita alegrou
meu coração. Quando eu fui capturada, eu tinha um curvilíneo
corpo adolescente, seios empinados e barriga arredondada. Meu
cabelo castanho tinha sido tingido de cor chocolate graças a
uma visita exclusiva do meu cabelereiro, arranjada pela minha
mãe, que queria que eu ficasse linda para um evento de
caridade.
O mesmo evento no qual eu fui sequestrada.
Antes, meus pensamentos eram todos superficiais e giravam
em torno do que fazer para emagrecer e do como me maquiar
como as modelos, usando tutoriais do Youtube. Apesar da
minha aparência mimada, eu era inteligente e tinha acabado de
ingressar numa prestigiosa universidade para estudar
psicologia – do jeito que minha mãe queria. Seguindo seus
passos e cumprindo seus planos para minha vida.
PEPPER WINTERS
Agora, minha aparência e pensamentos parecem ser de uma
garota completamente diferente. Não mais uma adolescente,
mas uma mulher. Meu cabelo desbotou e voltou para seu tom
normal de castanho escuro. Minha estrutura corporal perdeu
suas curvas graças ao cardápio de baixa caloria ao qual eu
tinha acesso.
Se eu tivesse minha liberdade eu seria feliz. Eu consegui
tudo o que eu queria. Eu estava mais magra e já não me
importava com tinturas de cabelos e moda. No entanto, eu odiei
minha transformação porque ela era outra marca do meu
aprisionamento.
"Venha". O homem estalou os dedos.
Ver outro ser humano me trouxe certo alívio. Algo intrínseco
dentro de mim necessitava de companhia – mesmo que essa
companhia fosse minha desgraça. Mas eu não conseguia ver
seus olhos, sua boca e seu nariz. Ele era um fantasma, uma
caricatura, uma face escondida por uma máscara veneziana
preta e branca de um palhaço com lágrimas correndo por sua
face.
Seriam lágrimas de pesar por mim? Ou apenas uma
gozação?
Eu caminhei em direção a ele, odiando o traço de obediência
que eles incutiram em mim nos primeiros dias de cativeiro. As
marcas dos machucados desapareceram, mas a lição foi
aprendida.
PEPPER WINTERS
Mas então, eu parei, olhando os relatos escritos no papel
higiênico.
O relato da minha história.
Eu não tinha mais nada de valor. Os trapos que eu usava
de tantas mulheres traficadas anteriormente não eram meus.
Os travesseiros nos quais eu chorei até dormir não eram meus.
Minha vida não era mais minha. O desejo de manter meus
pensamentos rabiscados não tinha sentido, mas eu me recusei
a deixar ainda outro pedaço de mim para trás.
Se eu tenho que passar por este novo tormento, o meu
passado servirá como talismã, que me lembrará de que eu ainda
estou respirando, e se eu posso respirar eu posso escrever, e
quando eu escrever, eu encontrarei alguma liberdade no ato.
"Agora, garota!" O homem entrou no quarto, sua estrutura
imensa pronta para me machucar.
Antes que ele pudesse me agarrar, eu corri até a mesa e
peguei os pedaços frágeis da minha vida. Os segurando
firmemente, eu dei a volta em torno dele e saí do quarto.
Saí do quarto!
Eu estou fora da quarto.
A familiaridade do meu já conhecido espaço foi embora no
momento em que eu caminhei descalça em direção ao corredor
adornado com o mesmo tapete de cor ouro e bronze. Os passos
pesados do meu captor ressoaram atrás de mim.
PEPPER WINTERS
Ele não me agarrou ou me forçou a andar mais devagar. Ele
sabia tão bem quanto eu que não existia nenhuma escapatória.
Eu fui vendada ao ser conduzida para este lugar, mas uma vez
dentro do edifício, eles me deixaram ver livremente.
À medida que passávamos por salas fechadas como em
qualquer outro hotel normal, eu me preparei para o que viria a
seguir.
PEPPER WINTERS
Eu não quis olhar para mim mesma, porque o estado do meu
corpo não retratava a situação da minha alma.
Sim, eu parecia quebrada.
Sim, eu obedecia implicitamente.
Mas por dentro, de alguma forma, reuni todas as partes de
mim que eles tinham quebrado e as colei, criando assim, algo
que passei a estimar. Eu estou mais forte agora do que quando
cheguei pela primeira vez. Eu não sou mais aquela menina
chorosa que foi despida sem cuidado e asperamente lavada por
mãos raivosas, e que foi depois catalogada como um objeto
juntamente com outras mulheres. Agora eu fiquei calada,
porque aqui ninguém pode me ouvir.
Dessa vez, ninguém poderia usar meus lamentos contra
mim. O silêncio era uma arma que eu poderia manejar melhor
do que o pânico. E se isso significava que eu nunca proferiria
uma palavra novamente até que eu encontrasse a liberdade,
então que assim seja.
O homem que me acompanhava, pressionou o botão para o
quarto andar.
A julgar pelos números nas portas de quartos pelos quais
passamos, eu deduzi que eles tinham me alocado no décimo
segundo andar. Quantas meninas estavam trancadas por trás
dessas portas? Quantos andares abrigavam mulheres cativas à
espera de serem vendidas?
PEPPER WINTERS
A descida foi um pouco rápida demais, a gravidade me
causou um aperto no estômago. Prendi a respiração quando o
elevador se abriu novamente, revelando uma plataforma de
desembarque idêntica.
O homem cutucou-me entre as omoplatas.
Eu andei para frente. Sem tropeçar. Sem implorar. Sem
uma pergunta ou pedido de explicação.
Não havia nenhum ponto.
PEPPER WINTERS
até o ponto de me fazer esquecer a sensação do vento em minha
pele e dos raios do sol em minha face.
Eu seria permitida a sair do hotel?
Para quê?
PEPPER WINTERS
Ele se inclinou para perto de mim, cheirando a fritura e
cerveja. "Não pense em fugir." Inclinando a cabeça, ele afastou-
se enquanto duas outras meninas entraram no espaço. "Ah,
companhia."
O encarregado das recém-chegadas apontou para seus
correspondentes sacos de roupa na parede oposta. Seus
vestidos eram de cor preta e de cor cinza. "Preparem-se, vocês
duas."
PEPPER WINTERS
mas porque eu já sabia a resposta: rizadas frias, zombarias, e
as frases enigmáticas destinadas a aterrorizar ao invés de
consolar.
Não, eu não faria nenhuma pergunta.
Infelizmente esta minha convicção não alcançou a menina
loira de cabelo embaraçado que estava mais perto de mim,
usando um vestido rosa bebê. “Por que vocês estão fazendo
isto? O que vai acontecer conosco?”
O homem com a máscara veneziana olhou para o homem
com a máscara de leão. Juntos, eles avançaram sobre ela,
empurrando-a contra a parede de azulejos. Eles preferiram
intimidá-la com sua aura de perigo a machucá-la fisicamente,
mostrando que eles nos feriram no início de nosso cativeiro para
nos controlar, mas agora, nós valemos mais incólumes.
Afinal, quão boa seria uma mercadoria se ela está feia e
machucada?
"Eu já te disse. Você vai ser vendida, anjo bonito”. Disse o
homem com a máscara de leão ao acariciá-la na bochecha.
"Você vai ser escolhida por alguém e comprada, e quando o doce
dinheiro cair em nossas mãos, você irá embora. Tchau tchau.
Não será mais nossa preocupação".
A outra menina, uma ruiva com o cabelo opaco, se
desequilibrou, gemendo silenciosamente.
Como elas não sabiam? Se elas passaram a mesma
quantidade de tempo que eu passei trancada sozinha, deveriam
PEPPER WINTERS
ter imaginado que algo assim aconteceria. Talvez, eu tenha lido
muitos livros dark ou assistido muitos programas policiais na
televisão. De qualquer maneira, eu não era estúpida, e eu
definitivamente não era ingênua mais.
Assim como eu nunca voltaria para a universidade para
terminar o meu curso de psicologia, essas meninas nunca
voltariam para suas vidas. Ao contrário de mim, que culpava
minha mãe por essa bagunça, elas poderiam culpar um mau
namorado ou decisão idiota de beber muito e confiar na pessoa
errada.
Não importa o que nos trouxe até aqui, estávamos na
mesma jornada. Apenas com destinos diferentes, a serem
determinados por quem nos comprasse.
Afastando-me das lágrimas das meninas e da zombaria dos
captores, eu despi meus shorts e camiseta, coloquei as folhas de
papel higiênico com meus preciosos relatos no balcão, e me
dirigi para um chuveiro. Não havia portas ou cortinas. Minha
nudez continuou a mostra, enquanto eu entrei na água e passei
shampoo sem cheiro no cabelo.
Estar nua na frente de estranhos teria me petrificado de
medo há um mês.
Agora isso já não me é importante, já que eu não posso
controlar quem me olha ou toca ou até mesmo, evitar o estupro
e a destruição.
PEPPER WINTERS
Não pense sobre isso.
PEPPER WINTERS
obedientemente pegando uma cabine, se desfazendo em
lágrimas enquanto se banhavam.
Esta não foi uma limpeza simples ou preparação.
Este foi um batismo para o Inferno.
PEPPER WINTERS
PARA NINGUÉM,
PEPPER WINTERS
Então, NINGUÉM, tudo começou como uma noite normal.
Arrumei-me no meu quarto em frente ao da minha mãe. Eu calcei
os sapatos de saltos baixos que ela tinha escolhido, usei o
vestido modelo de um ombro só que ela tinha selecionado, e
entrei no táxi que ela tinha arranjado.
Eu era grata por ser incluída em algo já que normalmente não
era o caso.
Eu me orgulho da minha mãe. Respeito-a, tenho temor por
ela... Mas não a adoro. Ela me amava, mas não tinha tempo para
crianças tolas, mesmo que a criança tola pertencesse a ela. Ela
se certificou de que eu amadurecesse rápido para poder me virar
sozinha, enquanto ela lidava com adultos agressivos
diariamente. Ela vendeu seus serviços ao Estado para livrar a
sociedade de psicopatas e pedófilos.
Ela tratava a todos como cobaia, examinando nossas mentes
‒ quando eu fazia algo errado ela sempre exigia explicações ao
invés de me repreender. Exigia sempre relatos articulados ao
invés de falas confusas e emocionais.
Meus amigos me chamavam de louca por confiar nas
orientações da minha mãe. Mas eu era uma boa menina, uma
filha exemplar, uma criança guiada por uma mulher que ganhava
a vida desvendando os segredos da mente humana. Ela me fez
acreditar que eu tinha o mesmo dom, e que era meu dever ajudar
aqueles sem tal habilidade.
Ela me fez o que eu era.
PEPPER WINTERS
Eu acho que tenho que ser grata por isso, porque, sem ela e
sua educação rígida, eu estaria em um canto chorando como as
outras meninas estão fazendo no momento, a espera do que está
por vir. Eu sou grata à mulher que me pariu por incutir em mim
essas habilidades de sobrevivência, mas isso não significa que
eu posso perdoa-la um dia.
Das 21h00 até a meia-noite, eu estava segura. Eu misturei-
me com os homens de ternos e conversei com as pessoas,
representando minha mãe e seu negócio, portando-me de acordo
com suas exigências.
Somente então, por volta daquela hora mágica, quando as
regras relaxam e o cansaço aparece debaixo da obscuridade
divertida, encontrei um homem. Enquanto minha mãe intoxicava
os benfeitores com sua inteligência e charme, ganhando
generosas doações para sua instituição de caridade para o bem-
estar mental das pessoas no corredor da morte (por que alguém
gostaria de fazer uma doação neste caso, eu não tinha ideia), um
homem misterioso chamado Sr. Kewet flertou comigo.
Ele riu das minhas piadas adolescentes. Ele se entregou aos
meus caprichos infantis. E eu caí em cada truque maldito de seu
arsenal covarde.
Enquanto as outras pessoas evitaram esse homem,
instintivamente notando que nele havia algo mau, eu fiz de tudo
para que ele se sentisse confortável. Eu não dei ouvidos à voz em
PEPPER WINTERS
minha cabeça que me disse para ficar longe dele; em vez disso,
eu coloquei em prática a regra de ‘Não julgue. Ouça.'
Minha mãe me ensinou errado.
Ela me fez simpatizar ao invés de ter medo.
Ela me fez acreditar em ser boa em vez de reconhecer o mal.
Eu dancei com meu assassino.
Eu sorri quando ele me encurralou lá fora.
Tentei acalma-lo enquanto ele me ameaçou.
E quando suas mãos se apertaram em torno de minha
garganta e ele me estrangulou, eu ainda acreditava que poderia
redimi-lo.
Ele me matou na varanda do salão de baile a poucos metros
da minha mãe.
E enquanto isso tudo estava acontecendo, eu ainda achava
que ele era o único que precisava de salvação, não eu.
PEPPER WINTERS
Mas o homem com a máscara veneziana retornou, cruzando
os braços sobre sua grande massa de músculos não tonificados.
Mesmo sua voz era identificável, sem nenhum sotaque algo que
indicasse sua origem. Sem características faciais ou pistas
raciais, eu não tinha ideia do local ao qual eu havia sido
transportada ou em qual país eu estava.
Amassando o papel com um punhado de parágrafos
rabiscados, eu o coloquei dentro do corpete bordado do meu
vestido. Meus dedos traçaram os bordados do vestido até chegar
a minha garganta. Mesmo agora, as marcas de dedos eram
visíveis. Ser estrangulada foi uma morte dolorosa. E que deixou
vestígios em forma de dores e contusões, que estão sempre lá
como um lembrete do que me aconteceu toda vez que olho em
um espelho.
Ele tinha me matado. Eu não tinha sido capaz de pará-lo.
Então, por que ele não poderia ter me deixado morta?
Por que aquilo não foi o fim, em vez de apenas o começo?
PEPPER WINTERS
destino amável. Na minha lógica inquietante, achei que se
alguém pagar caro por mim, mais bem tratada eu seria.
PEPPER WINTERS
também concedida uma imagem de inocência, que no meu
entendimento, era a razão pela qual os meus traficantes
escolheram essa cor para meu vestido. Meu cabelo parecia mais
brilhante; meus olhos verdes maiores, minha pele mais bonita.
A menina vestida de preto parecia dura e mais velha,
enquanto a ruiva em cinza parecia desbotada e já implorando
por uma sepultura.
Se estivermos prestes a adentrar um covil de lobos, eu não
quero já estar cheirando a sangue antes da luta. Estreitando os
ombros, eu passei pelo guarda e segui os passos do Máscara de
Leão.
Silenciosamente, eu segui os nossos algozes liderando a
triste linha de escravas pelo corredor, para dentro do elevador, e
então para o segundo andar.
Lá, comoção nos recebe com sons de conversa, risos
masculinos, e música suave de um piano.
Fazia tanto tempo desde que eu escutei música ou senti
calor humano que eu me perdi. Esquecendo minha necessidade
de permanecer distante e intocada, eu parei bruscamente.
Minha falha me rendeu um golpe na cabeça ao ser empurrada
para frente por Máscara de Leão.
Eu me senti fraca pela primeira vez desde o meu primeiro
espancamento, quando eu tentei resistir e sofri uma lição.
Eu senti os olhares de todos na sala.
Olhares famintos.
PEPPER WINTERS
Olhares insanos.
Olhares terríveis, cheios de luxúria.
Todos espiando por trás de máscaras.
Um foco de luz, proveniente de uma brilhante bola
prateada que inundava o espaço com luzes intermitentes, foi
colocado diretamente acima de nós. O piano parou de tocar
enquanto as duas meninas e eu caminhamos para o centro do
que costumava ser uma pista de dança sob a orientação de
nossos guardas.
Isto era um leilão. Completo com um pódio para inspeção e
um leiloeiro e seu martelo. As duas meninas com as quais eu
tinha tomado banho soluçavam em silêncio, ao serem alinhadas
em uma procissão de outras mulheres. Mulheres que viveram
no hotel comigo, mas eu nunca tinha visto. Mulheres de todas
as idades e etnias, todas roubadas de seu lugar de direito e
tratadas como gado.
Meus amigos não iriam realmente sentir minha falta porque
eles não me entendiam. Eu não tinha namorado para se
lamentar por mim, nenhum pai para vir em minha busca. No
que diz respeito a amigos e familiares, eu não tinha muito.
Eu suponho que isso facilitou o meu desapego do desejo de
amar e ser amada, sabendo que eu nunca sentiria tais coisas
novamente. Mas também doeu mais porque se pelo menos eu
tivesse tido essas coisas, eu poderia dizer que eu tinha vivido
PEPPER WINTERS
brevemente; que eu não tinha considerado minha liberdade
como garantida.
Agora, tudo o que eu conheceria era cativeiro.
A sala se silenciou quando um homem entrou no local,
vestindo um smoking perfeito e uma máscara preta, com um
microfone próximo aos lábios.
"Sejam bem-vindos, senhores, ao QMB, também conhecido
como Quarterly Market of Beauties." Apontando na direção das
mercadorias, ele disse: "Como vocês podem ver, temos uma
grande variedade para vocês hoje à noite."
Uma por uma, ele apontou para nós.
Nós éramos as únicas sem máscaras na sala.
Uma por uma, nós encolhemos para dentro de nós mesmas.
Doze foram contadas antes de mim.
Eu era a sortuda número treze.
Ou era a azarada número treze? Tudo o que eu precisava
era de um gato preto, de passar por baixo de uma escada, e de
ser amaldiçoada por uma bruxa para completar minha
maldição.
O homem caminhou orgulhosamente como se ele tivesse,
pessoalmente criado todas e cada uma de nós. Se ele estava no
comando de nossa destruição total e de nossa reconstrução em
nada, então talvez ele tivesse. Talvez ele nos fez suas e tinha
pleno direito de nos vender, já que não éramos mais nós
mesmas.
PEPPER WINTERS
"Como de costume, temos uma variedade de belezas
disponíveis para o seu prazer. Todos vocês tiveram tempo para
ler os arquivos e ver as fotos que fornecemos.”
PEPPER WINTERS
ver. Eu não tinha penas ou diamantes para esconder o meu
verdadeiro eu, mas eu tenho força de vontade.
Estou feliz.
PEPPER WINTERS
mente, bem no fundo e foi esquecida enquanto eu piscava com
as luzes brilhantes e ouvia o discurso mais degradante.
"Eu vou pagar cem mil."
"Eu pago duzentos."
"Eu cubro a todos e dobro o lance." A sala engasgou em um
suspiro ao mesmo tempo em que uma silhueta de um homem
alto e magro entrou na pista de dança. "Quatrocentos mil
dólares pela menina de branco."
Meu coração mais uma vez tentou construir um pára-
quedas e escapar. Esse foi o lance mais alto da noite.
Ele me deu nojo.
Como ousam decidir o meu valor? Decidir o que minhas
companheiras escravas valiam. Vidas humanas não deveriam
ser vendidas.
PEPPER WINTERS
Mas agora ... aqui, prestes a ser vendida, eu tinha algo a
dizer.
Gesticulando, eu olhei para o homem indistinto que
desejava me possuir. Minha voz soou macia e pura, o único som
feminino em um ninho de homens.
"Dou um milhão. Deixe-me comprar-me, senhor, e eu vou
esquecer que tudo isso aconteceu.”
As meninas compradas, já entregues a seus novos senhores,
engasgaram de surpresa. Minha audácia podia encurtar a
minha vida ou prolongá-la. De qualquer maneira, foi uma
proposta consciente e voluntária de minha parte.
Eu não tenho um milhão. Minha mãe poderia ter se ela
vender nosso apartamento de dois quartos em Londres. Mas,
assim como eu ignorei as outras preocupações, ignorei esta
também.
Dinheiro era apenas dinheiro.
Moedas adicionadas a notas e notas adicionadas a maços,
formando centenas.
No final, as lindas notas impressas serão inúteis porque a
inflação roubará seu valor numérico, tornando aqueles que as
possuem infelizes.
Minha vida, por outro lado, aumentaria em valor, ficando
mais sábia e mais rica em experiência quanto mais tempo eu
sobrevivesse. Eu era um investimento, não um passivo. E eu
investiria tudo o que tenho para ser capaz de ter um futuro.
PEPPER WINTERS
O homem se aproximou, sendo iluminado de forma que sua
silhueta se transformou em massa física. Seu cabelo loiro sujo
era a única coisa visível por trás de uma principesca máscara
de Lord Inglês. "Você está fazendo uma oferta por si mesma?"
Sua voz tinha sotaque estrangeiro, mas eu não consegui
identificar de qual local. Mediterrâneo, talvez?
Ergui meu queixo, o pódio me fazia mais alta que ele então
eu olhei para baixo como se ele fosse meu servo e eu sua
rainha.
Eu iria governar ele. Eu nunca iria me curvar.
"Está correto. Eu sou muito cara para você. Um milhão de
libras, não dólares. Um lance alto sobre o seu montante
patético".
O leiloeiro se atrapalhou, claramente sem saber o que fazer
com essa mudança de eventos. Seu papel no jogo era fazer
dinheiro. A venda de mulheres era altamente lucrativa, mas se
ele poderia ganhar mais me vendendo para mim mesma, ele se
importaria em quebrar algumas regras do negócio?
Ele seria pago de qualquer maneira.
Ignorando o homem em sua máscara de Lord Inglês, eu
enfrentei o carrasco, implorando para que o meu lance fosse
aceito. "Um milhão, senhor, e eu vou embora e nunca
mencionarei essa situação."
E as outras meninas?
PEPPER WINTERS
Minha mãe me repreenderia pela vergonha e culpa que eu
senti ao pensar em deixar as mulheres vendidas. Mas ela
também ficaria orgulhosa porque eu tinha escolhido um
caminho com determinação e convicção. Algo que ela disse que
sempre me faltou.
PEPPER WINTERS
"Vendida!" Gritou o leiloeiro. "Para o Sr. Máscara de Lord
por um milhão e quinhentas mil libras."
*****
Para Ninguém,
Essa foi a última vez que falei. A última vez que eu perdi. A
última vez que eu soube o que era não viver com dor a cada dia.
Daquele dia em diante, eu era Pimlico a Muda, a Mulher Sem
Voz em Branco.
Não importa o que o homem fez para mim, eu não quebrei.
Não importa a surra que ele me deu ou a punição sexual que
empregou, eu permaneci em silêncio e forte.
Eu gostaria de dizer que eu encontrei uma maneira de
escapar. Que corri. Que eu estou escrevendo isso para você de
uma loja de café pitoresca em Londres com um namorado bonito
na minha esquerda e um melhor amigo à minha direita.
Mas eu nunca fui boa em mentir.
Esta novela em papel higiênico nunca vai ser ficção.
Esta é a minha autobiografia, para que um dia, quando o
meu valor for esgotado, e cada centavo que meu mestre pagou
por mim for descontado, alguém se lembre da escrava muda que
suportou tanto.
Talvez então, eu seja livre.
PEPPER WINTERS
Em vez de contar o que eu tinha perdido e nunca mais
veria, preferi contar o que eu tinha.
Isso me manteve ocupada enquanto a transação de venda
era completada, a sala se tornou vazia à medida que cada
comprador vitorioso levava sua posse para casa, e meus braços
foram puxados para trás, amarrados por um fio grosso em torno
dos meus pulsos como uma espécie de anel de casamento
bizarro.
Eu não disse uma palavra quando fui vendada, sendo
mergulhada na escuridão, e nem dei um pio enquanto mãos
dominantes guiaram-me do salão de baile, preenchido com calor
e notas de piano, para corredores que eu não podia ver, e
através de um vestíbulo que eu nunca testemunhei.
Uma conversa suave aconteceu enquanto eu era empurrada
como uma fugitiva para dentro da parte de trás de um carro, o
meu vestido branco e um lenço ainda me decoravam como um
brinquedo premiado saído da prateleira.
Eu não sabia se era um Honda acabado ou um Maybach
caro que me transportava do Hotel de tráfico sexual para uma
PEPPER WINTERS
pista privada. Eu não tinha permissão para ver ou tocar ou
mover-me sem o auxílio das duas mãos de quem tinha me
comprado.
Ele não falou comigo. Eu não falei com ele. E o pessoal em
torno de nós não precisava falar, porque eles foram orientados e
obedeciam explicitamente.
Entrei em uma estrutura que eu creio ser um jato
particular, sendo guiada com empurrões suaves por um
corredor, antes de me sentar em um assento desconhecido. Pelo
menos, afastada do ambiente estéril daquele hotel, eu tinha o
que eu precisava.
Fragmentos e sensações da vida me cercaram. O ar da
cidade no meu rosto, ouvir os sons da civilização quando eu
estava sendo conduzida pelas ruas, passando por pais
desavisados e amantes passeando, e agora... eu estava sentada
no couro mais macio que se possa imaginar com as minhas
costas bloqueadas, pulsos amarrados, e sem visão.
Essa situação aumentou os meus sentidos livres restantes.
Eu senti um aroma de licor, um cheiro forte de canela e caviar,
e um consegui identificar a essência de uma loção pós-barba.
Ao longo do meu aprisionamento, eu não tinha tentado
libertar-me sendo estúpida. Eu nunca discutia (não após o
espancamento de boas vindas) e nem uma vez recusei as
refeições tinham sido servidas. Todas essas ideias ridículas de
PEPPER WINTERS
passar fome e lutar com palavras foram removidas nas
primeiras horas de chegada.
Nestas novas circunstâncias, eu não deixaria de ser sábia.
Eu não gritaria ou choraria ou tentaria fazer amizade com o
meu carcereiro. Em vez disso, gostaria de permanecer em
silêncio e forte e nunca ser idiota, recusando qualquer que seja
o sustento que este homem queira me dar.
Eu precisava de toda a saúde e determinação para que eu
pudesse me agarrar.
Bolhas geladas de champanhe foram encostadas aos meus
lábios.
Eu não tinha provado nada tão acentuado em um tempo
muito longo. Minha boca se abriu, e eu tomei um gole.
A taça foi removida após precisamente dois goles, os
motores do jato privados foram acionados, alguém me colocou o
cinto de segurança em mim, e a voz de um piloto desconhecido
anunciou que estávamos prontos para a descolagem.
Eu gostaria de saber para onde estávamos voando.
Eu gostaria de saber quem era este novo adversário.
Eu gostaria de saber quanto tempo eu resistiria antes que a
máscara que eu tinha posto no pódio caísse. Uma máscara de
papel dura pouco tempo antes de ser destruída pela umidade. E
quanto a uma feita de pura teimosia e rebeldia? Quanto tempo
ela duraria?
PEPPER WINTERS
Mas querer não é poder, então eu não tinha escolha a não
ser sentar na minha cadeira enquanto decolávamos. Meus
ouvidos estalaram com subida íngreme, e ninguém murmurou
uma palavra por um longo tempo. Ninguém se mobilizou para
me soltar ou devolver-me o dom da visão, também.
Minutos se tornaram horas, e eu esperei que o homem
falasse. Relaxei tanto quanto eu podia assumindo uma postura
introspectiva, mantendo-me sã mentalmente e me preparando
para a próxima etapa.
Eu sabia que isso iria acontecer desde que o bastardo que
tinha me estrangulado e me revivido ao fazer Ressuscitação
Cardiopulmonar. Eu não tinha ninguém em quem confiar mais.
Ninguém para me dizer o que fazer e como agir. Todas as ações
seriam unicamente minhas. Qualquer que seja a dor ou os
maus tratos que podem ou não estar no meu futuro, eu tenho
que segurar minha própria mão, enxugar minhas próprias
lágrimas, e encontrar conforto em meus braços, não importa
quão sangrentos eles estarão.
Essa constatação me aterroriza, mas também me encoraja.
Porque eu só tinha que cuidar de mim mesma. Estando
sozinha, eu poderia ser egoísta. Eu poderia evitar emoções e
tornar o meu coração tão mudo quanto minha boca.
As outras meninas vendidas seriam esquecidas, então eu
não me preocuparia com sua existência. Minha mãe seria
ignorada, então eu seria a única responsável por mim.
PEPPER WINTERS
Era a única maneira que eu tinha de sobreviver.
À medida que mais minutos se passaram, o tempo de
viagem foi suficiente para que duas comissárias de bordo
servissem o homem e eu, e o piloto a anunciou que tinha outra
hora de vôo obtida, meus nervos lutaram uma batalha perdida.
Mesmo com meus pensamentos positivos, eu não conseguia
parar o cronometro em minha cabeça, mostrando a contagem
regressiva para o evento seguinte que eu teria que superar.
Tentei manter a calma ‒ para evitar fazer perguntas. Mas
tudo que eu queria era saber quem eu teria de suportar,
enquanto planejava minha fuga.
Quem era esse bastardo que tinha comprado uma vida?
O que ele esperava de mim?
E quantas vezes ele realizou esta mesma transação?
"Vamos tirar as apresentações básicas para fora do
caminho, não é?"
Eu congelei quando a voz do homem quebrou o silêncio
estagnado. Sua escolha de falar neste momento causou arrepios
na minha espinha, quase como se ele tivesse ouvido meus
pensamentos.
Será que ele espera que eu fale sem vê-lo? Sem assistir a
sua linguagem corporal e pegando muito mais informações do
que eu faria se ele me mantivesse vendada?
PEPPER WINTERS
Eu tinha prometido não voltar a falar. Sempre. Mas, neste
caso, seria benéfico para mim, não para ele. Eu permito-me três
palavras. Uma dieta escassa de sílabas antes de voltar à fome.
"Desate-me em primeiro lugar."
Por um longo momento, ele não respondeu. Em seguida,
senti o leve roçar de seu terno quando ele se inclinou para
frente e afastou meus ombros do assento. Minha pele se
arrepiou sob seu toque, eriçada de ódio.
Fazendo o meu melhor para afastar-me, contorci-me para a
borda da cadeira de couro, segurando meus pulsos para torná-
lo mais fácil. Com uma serra rápida, as demoníacas cordas ao
redor minha pele caíram, seu aperto sendo guardado para outro
dia.
A venda saiu dos meus olhos, concedendo um pouquinho de
alívio da dor de cabeça causada por sua demora.
No momento em que fui libertada, vi o homem reclinado na
cadeira.
Pisquei, lutando contra o clarão de, finalmente, ter a visão
novamente. Ele estava sentado de frente a mim, e não no
assento ao lado como eu pensava. Ele tinha tirado a máscara, e
ao reconhecer o seu olhar, eu queria colocar a venda de volta e
perder todos os sentidos.
Eu não quero ver, ouvir, tocar, ou Deus me perdoe nunca
quero provar este homem.
PEPPER WINTERS
A máscara de Lord Inglês que ele usava tinha sido muito
amável para o monstro que se escondia embaixo dela.
Lutando para manter meu rosto firme e ilegível, eu inclinei
meu queixo. O desejo de barganhar e fazer perguntas formava
uma mordaça em torno de minha garganta.
Eu estava grata.
Ele não merecia nenhuma palavra a mais de mim. Ele
merecia ser fuzilado e que eu dançasse seu túmulo.
Antes quando a vida era segura e minha única preocupação
era qual programa de TV eu deveria assistir quando não
conseguia dormir, eu fazia maratonas de séries policiais,
documentários forenses e investigações criminais. Eu amava
identificar o suspeito antes que ele fosse apresentado em cena,
observando as características mostradas pelo teste de DNA e as
comparando com cada assassino em potencial na tela.
Na maioria dos casos, o assassino teria a aparência de
qualquer outro vizinho ou amigo da família. Jovem ou velho,
rico ou pobre, eles eram apenas uma pessoa qualquer.
Uma pessoa com maldade dentro de si.
No entanto, quando a câmera se aproximava de suas faces
quando era apresentada a eles a punição na conclusão do show,
eles sempre tinham algo em comum.
Seus olhos.
Algo em seus olhos revelava a verdade, assim como os deste
homem fizeram.
PEPPER WINTERS
Algo estava faltando. Eu não queria dizer uma alma, porque
eu não sabia exatamente o que era uma. Mas também poderia
ser algo muito pior. Um impostor. Não o suficiente humano de
sentir compaixão e empatia. Pessoas que matam e estupram
eram demônios de coração frio, sedentas de dor.
Eu tinha sido vendida a esse demônio.
Ele sorriu, mostrando os dentes brancos quadrados em um
rosto bronzeado. Seu cabelo loiro escuro indicava uma
característica sueca ou talvez norueguesa. Ele tinha a mesma
estrutura óssea dos europeus esguios com um longo nariz,
maçãs do rosto pronunciadas, e olhos azuis penetrantes.
Imaginei que ele teria trinta e tantos anos. Uma idade em
que ele poderia ter sido meu pai se tivesse um filho jovem.
Espere…
PEPPER WINTERS
Inclinando-se para frente, ele afundou os dedos nas minhas
rótulas. Ninguém nunca tinha me atingido lá antes, mas sentir
as unhas se afundarem rapidamente através do cetim do meu
vestido e se agarrarem em torno dos ossos que protegiam
minhas articulações, de repente me fez entender como joelhos
eram partes vulneráveis. Fáceis de serem arrancados do lugar.
Engoli em seco, congelando no assento.
"Meu nome é Alrik Asbjorn. Para você, eu sou Mestre A.
Você entendeu?" Seus dedos me apertaram mais forte.
Meus lábios permaneceram colados, recusando-se a falar.
Eu tinha poder sobre minha fala, mas não sobre meu olhar.
Meus olhos estavam vidrados com dor que ele estava me
proporcionando.
"Não tem nada a responder?" Sua mandíbula aperta quando
ele afunda ainda mais os dedos nos meus joelhos. "O que
aconteceu com a menina que deu o lance de um milhão para si
mesma? Eu gosto mais daquela postura de cadela.”
Desconforto agonizante atingia minhas pernas, mas eu não
cedi. Eu não podia. Se ele ganhasse esta batalha, então eu
perderia a guerra. Eu não poderia fazer isso comigo tão cedo.
“Tímida? Bem". Removendo a ameaça, ele se encostou-se de
volta no assento. "Você vai falar. Você verá."
O alívio em meus ossos pulsava com cada batimento
cardíaco.
PEPPER WINTERS
Vou fazer o meu melhor para que você nunca ouça a minha
voz novamente.
PEPPER WINTERS
Eu precisava sumir. Desaparecer.
Ele não parecia se importar com a minha falta de gritos e
choro. Esfregando as mãos, ele ficou calmo novamente.
Muito calmo.
Ele agiu como se estivéssemos em uma reunião de negócios,
discutindo uma transação benéfica para nós dois.
Eu queria ensinar-lhe o que seria benéfico: suas bolas na
minha mão esquerda e um mandado de prisão em minha
direita.
Alrik ‒ Que gostaria que o chamasse de Mestre A? (Idiota
sádico). Ele colocou a palma da mão sobre o queixo bem
barbeado. "É justo que eu te diga uma coisa sobre mim, já que
eu sei tudo o que há para saber sobre você." Alisando as unhas
em sua camisa, ele suspirou como se essa coisa toda fosse
chata para ele. "Vou levá-la para minha casa em Creta. Lá, você
vai fazer o que eu quero, quando eu quiser. Você não irá se
recusar a menos que você goste de agonia.” Seus olhos estavam
focados em mim sem misericórdia. "Porém talvez você goste de
dor. Você gosta, Pimlico? Responda-me; Não seja tímida. Você
gosta secretamente de ser ferida?”
Eu endureci enquanto ele acariciava meu joelho de novo,
ameaçando-me com a lembrança do que ele já tinha feito. "Seja
qual for o empoderamento que estar em silêncio te dá... pense
novamente." Sua mão tocou o meu vestido, o subindo até
minhas coxas.
PEPPER WINTERS
Não. Por favor, não.
PEPPER WINTERS
mim. "Você não vai perguntar o que você pode esperar em
troca?"
Cada instinto meu ordenou que eu acenasse com a cabeça.
Para responder de alguma forma. Mas eu lutei contra isso
também. Comunicação verbal e não verbal seriam sempre
proibidas. Assim como eu havia trancado quem eu era, eu iria
banir toda a memória de conexão sociável.
Ele resmungou baixinho. "Quanto mais você me desafiar,
mais você vai pagar quando chegarmos."
Chegarmos.
Longe da minha casa e mãe. Longe de tudo o que eu tinha
sido.
Eu podia controlar a minha resposta externa, mas eu não
conseguia controlar meu coração batendo loucamente em meu
peito.
Alrik suspirou profundamente, estalando os dedos para
mais uma taça de champanhe. Instantaneamente, uma taça
coberta de orvalho preenchida com licor espumante foi entregue
diretamente em sua mão estendida.
Desfrutando de um gole, ele disse, "Considerando que você
não vai perguntar, eu não vou contar. Mas só para você saber,
depois de uma semana, você vai estar de joelhos desejando ter
sido mais inteligente. Você dormir implorando para saber o que
te espera."
PEPPER WINTERS
Ele pintou um quadro horrível. Um futuro no qual eu não
queria ter nada a ver.
Alguns batimentos cardíacos trovejaram, fazendo meu peito
subir e descer e se esfregar contra os pedaços de papel
guardados no meu corpete, fazendo cócegas nos meus mamilos.
PEPPER WINTERS
Ele riu, gostando de ser o criador da brincadeira e da piada
que dará o tom da nova narração da minha vida. "Uma vez que
chegar lá, você vai perceber o quanto você está desperdiçando
minha abertura para conversar. Pobre Pimlico ... você realmente
deveria ter perguntado.
"E agora ... é tarde demais."
PEPPER WINTERS
"Este é o seu quarto."
Alrik empurrou-me para dentro da casa, barrando a porta
com seu corpo. Meus saltos brancos bateram sobre o piso
brilhante, afundando-se profundamente em um tapete de pele
de carneiro quando eu tropecei com seu toque.
Eu queria esfregar minha pele onde ele me tocou. Eu queria
lavar e lavar e lavar.
Nós chegamos há pouco tempo, passando das nuvens a
terra, concluindo a viagem em uma pista privada. Um carro com
motorista nos trouxe de lá para cá, e a casa resplandecente do
meu captor não fez nada para tornar a minha estadia mais
acolhedora.
No momento em que me arrastou para dentro, ele me levou
através do espaço, passando pela sala de jantar, cozinha, sala
de estar, e por uma escada que levava um piso que se
ramificava em duas direções. Ele tomou à esquerda, segurando
o meu pulso de forma firme, de modo a evitar que eu fugisse a
qualquer momento.
PEPPER WINTERS
Eu não tinha idéia de onde estava. Sem esperança de
escapar.
Eu perdi a conta de quantos quartos existiam no corredor
até que ele abriu uma porta branca e me jogou dentro do
cômodo.
Ou Alrik tinha um fascínio com a cor branca, ou ele não
estava inspirado quando decorou o lugar. As paredes eram
brancas, a cama branca, mesmo a penteadeira, mesas de
cabeceira e armário. Branco, branco, branco.
Meus olhos caíram para o meu vestido.
Foi por isso que ele me comprou? Porque eu tinha sido
preparado para venda em um vestido branco como a neve?
Eu caminhei na direção das cortinas de alabastro, que
escondiam uma vista de um país que eu nunca tinha visitado,
escondido na escuridão da noite.
Suas mãos se espalham como algemas enquanto marchava
em direção a mim. "É hora de recebê-la em sua nova casa, você
não acha?" Agarrando a frente do meu vestido, ele o abriu. Com
toda a força.
As pérolas bonitas e a costura intrincada fizeram o seu
melhor para resistir a tal tortura, mas as peças rasgaram-se
com um som alto.
Meus braços subiram automaticamente para evitar que o
vestido se abrisse. Não para proteger a minha decência, esse
PEPPER WINTERS
desejo tinha sido retirando de mim violentamente no hotel do
tráfico, mas para esconder os meus relatos em papel higiênico.
Mas era tarde.
As peças rabiscadas se espalharam sobre o tapete como
pequenos quadrados de miséria. Meu lápis mordido saltou livre
como uma lasca do meu coração. Eu queria pegá-los, mas não
adiantava mais. Ele os tinha visto, e não importava se eu os
escondesse ou os deixasse no chão, ele os roubaria de mim.
Isso é o que homens como ele fazem.
Eu tinha sido comprada para compartilhar sua vida
pervertida de qualquer maneira que ele bem entendesse. Eu não
iria chorar pelas minhas palavras reveladas, e eu não iria
implorar para que ele as deixasse.
Seus olhos se prenderam à bagunça no chão, um sorriso
sinistro contraiu seus lábios. "Bem, bem, o que temos aqui?"
Eu respirei fundo, o encarando com toda a força que me
restava.
Ele levantou uma sobrancelha quando ele se agachou para
pegar um pedaço. Lendo os rabiscos, ele olhou para cima. O
fato de ele se curvar diante de mim não me passou
despercebido. No entanto, eu não era tola o suficiente para
acreditar que a posição o faria vulnerável a mim. Ele, ajoelhado,
poderia me causar tanta dor, quanto comigo amassada e
chorando a seus pés.
"O que exatamente é isso?"
PEPPER WINTERS
Eu quebrei nosso contato visual, passando a olhar para a
parede pintada de branco. Nenhuma obra de arte. Nenhuma
personalidade ‒ um espaço preenchido por nada.
"Essa falta de respostas está ficando cansativa." Alrik
endireitou-se, empurrando um punhado das minhas páginas na
minha face. "Não quer me dizer? Bem. Então, você não precisa
mais delas."
Após recolher todas as folhas, ele dirigiu-se para porta. "Eu
sugiro que você durma um pouco, Pimlico, porque amanhã, sua
verdadeira recepção de boas vindas começa."
Para Ninguém,
PEPPER WINTERS
que alguém faz para mim. Tenho dezoito e sou uma virgem.
Risível, certo? Mas isso é o que acontece quando você vive no
meu mundo. Minha mãe me forçou a escolher os livros ao invés
de meninos e estudos ao invés de sexo. Quer dizer, se eu tivesse
encontrado um cara que eu gostasse o suficiente para querer
mais que alguns encontros com beijos molhados, suas regras não
teriam me parado. Mas eu não o encontrei. E agora, eu nunca
iria, porque essa escolha foi tirada de mim.
É estúpido não ter medo de seus punhos, botas ou correntes?
É ridículo que eu não tema paus, chicotes e equipamentos de
tortura? Tudo o que eu realmente temo é ele. Seu ... Pau.
Será que vai doer?
Será que vou sangrar?
Quem estará lá para falar comigo quando acabar e eu me
sentir diferente? Quando ele me forçar a passar de menina para
mulher? De adolescente a escrava? De uma pessoa livre para
uma quebrada?
Você, eu acho. Só você.
Até amanhã, Ninguém.
Durma bem, porque eu não vou.
PEPPER WINTERS
Para Ninguém,
PEPPER WINTERS
Para Ninguém,
PEPPER WINTERS
Alrik cortou meu cabelo há três noites. Ou eram seis? Eu não
sei. Tudo o que sei foi socar minha pele e chutar minha barriga
não foi suficiente para ele. Ele teve que cortar o cabelo que eu
usava para proteger meu rosto dele. Ele levou a minha proteção
com quatro recortes de uma tesoura de cozinha.
Ele me deixou com um corte horrível na altura da mandíbula.
Isso não me incomoda. Os fios cortados não podem me
enfraquecer, mas o fato de ele não arrumar o corte horrível
danificou minha crença de que eu poderia suportar o que o meu
futuro nos reserva.
Ao deixar-me desta maneira, ele mostra o quanto ele não se
importa.
Ele me chamou seu bem mais valioso.
Eu não pareço valiosa.
Eu sou o seu troféu a ser manchado e amassado para depois
ser envolvido em um manto de modo que o ouro se torne uma cor
bronze envelhecida, antes de ser enfiado em uma caixa e
esquecido. Eu tenho quanto tempo antes que de ser encaixotada,
Ninguém?
Eu realmente devo saber?
PEPPER WINTERS
Para Ninguém,
PEPPER WINTERS
Querido Ninguém,
PEPPER WINTERS
Há poder em escutar, em analisar, em observar. Alrik é uma
fossa profunda preenchida com o mal, mas ele me aprisionou.
Enquanto eu procuro maneiras de matá-lo, eu irei controlá-lo...
Pouco a pouco. Polegada por polegada, eu ganharei uma refeição
extra por ser educada. Eu irei minar a seus abusos por ser
obediente.
Ele não me quebrará
Ele nunca vai me quebrar.
E em breve, eu serei livre.
PEPPER WINTERS
Querido Ninguém,
PEPPER WINTERS
Eu quero morrer, porque isso é a última coisa que eu posso
fazer para ganhar.
Ele não teria mais de mim. Eu tiraria seu poder.
O suicídio pode ser a rebelião final e um ato que ele não
conseguiu evitar.
Você acha que tirar minha vida seria um ato de fraqueza?
Você acredita que eu resisti o suficiente? Eu já suportei ossos
quebrados suficientes para provar o meu desejo de continuar
vivendo?
Eu sou uma escrava, Ninguém.
Uma escrava de seus caprichos, mesmo enquanto eu
amaldiçôo sua própria criação.
Ele marcou-me, arruinou-me, e agora, ele está me partilhando
como se eu não valesse nada.
Eu tenho valor.
E eu finalmente tive o suficiente.
PEPPER WINTERS
QUERIDO NINGUÉM,
PEPPER WINTERS
machucar. Delírio, se eu não pudesse correr para a minha
sepultura.
Mas de alguma forma... Ele soube.
Um dia, as facas na cozinha estavam no lugar de sempre, me
tentando a usá-las; no outro, elas tinham desaparecido.
Os cordões de cortina, as ferramentas de uso doméstico,
eletrodomésticos, qualquer coisa que poderia ter ajudado no meu
suicídio desapareceu magicamente.
Ele fez isso para me manter fraca.
Mas não funcionou. Ele lembrou-me de que tenho durado
muito tempo. Eu posso durar mais tempo ainda. Por que eu
deveria morrer? Ele é o único que merece conhecer o seu criador e
pagar por tudo o que ele fez.
E ele vai pagar.
Eu vou me certificar disso.
Levou muito tempo, mas ele não suspeitou de minhas
intenções mais. Eu parei de lutar, eu... Obedeci. Mas não porque
ele me quebrou.
Ah não.
Eu obedeci, porque eu sou mais inteligente do que ele. Eu sou
paciente o suficiente para esperar o momento perfeito.
Não importa se eu me tornei mestre em dormir acorrentada,
em respirar amordaçada, em viver espancada.
Fiz coisas das quais eu me orgulho. Fiz coisas das quais eu
não me orgulho. Mas no final, nada disso importa.
PEPPER WINTERS
Senti coisas antes, Ninguém. Eu ainda acreditava em
fantasias como esperança e casa e felicidade. Agora, tudo o que
eu acredito é em dormência, na avaliação clínica de como
manipular o meu mestre, e na bomba-relógio dentro de mim que
poderia detonar a qualquer momento.
Foi-se a vaidosa adolescente que pensou que iria governar o
mundo. Meus ossos querem escapar de minha carne magra.
Meus olhos estão vagos e frios. O meu cabelo cresceu de novo em
um corte esfarrapado como o de uma boneca de pano.
Eu não me importo que ele tenha tomado tudo. Ainda há uma
coisa que ele nunca vai ter.
Dois anos sem uma palavra.
Minha voz é o seu santo graal e o meu último ‘foda-se’. Ele
nunca vai ganhar. Não que ele vá parar de tentar.
Nove meses atrás, Mestre A quebrou minha perna só para me
ouvir gritar. Ele ganhou esse round. Eu não pude me conter. E
sim, você ouviu esse direito. Parei de chamá-lo de Alrik quando
ele... Você sabe o quê? Não importa.
Tudo o que importa é hoje é o nosso aniversário.
Dois anos.
Será o nosso último aniversário.
Isso eu prometo a você.
*****
PEPPER WINTERS
"Ajoelhe-se, Pim".
PEPPER WINTERS
Ela é a minha arma.
No começo, saber que quando seu temperamento passava
de suave para agitado significava que ele preferia me chicotear a
me foder não ajudou em nada. Eu não poderia evitar o que ele
tinha planejado. Não importava se seu tom de voz me fazia
identificar o seu humor ou se ele me contava as tortura que
planejou.
Mas com o passar do tempo, essas coisas me serviram de
aviso. Eu me tornei mais forte, anestesiei o meu corpo, e vencia
apenas por respirar. Comecei a entender quem ele era além dos
chicotes e correntes e o achei incrivelmente insatisfatório. Ele é
o epítome de um covarde repugnante que me manteve na linha
por meio da violência.
Eu tinha entrado em sua casa acreditando que eu poderia
permanecer forte.
Isso foi antes do primeiro estupro.
Do primeiro espancamento.
Dos primeiros chutes, socos e chicotadas.
Minha desobediência durou mais tempo do que eu pensava,
mas tudo parou bruscamente quando ele me mostrou as fotos
do que aconteceu com sua última menina.
Morta.
Ele a matou.
No entanto, ao envolver outra corda em volta do meu corpo
para me segurar, ele murmurou que eu não iria acabar do
PEPPER WINTERS
mesmo jeito que ela. Ele tinha pagado o quadruplo por mim do
que ele pagou por ela. Eu realmente era seu brinquedo mais
caro, e mesmo que ele desejasse destruir meu espírito e
acorrentar-me a sua alma, ele não iria me matar.
Eu valia mais viva do que morta.
Foi uma conclusão terrível. E a minha rebeldia foi
rapidamente trocada por uma constatação interna. Quando eu
desviei os olhos em submissão, eu realmente neguei-lhe o
direito de me ler. Quando eu antecipei seu jogo colocando-me de
joelhos, eu recusei-lhe a oportunidade de me bater.
E quando ele me fez realizar tarefas, completamente nua,
minha mente se vestiu de uma roupa feita de retribuição e
vingança.
Eu teria uma chance de matá-lo. Apenas uma.
E mesmo se eu tivesse sucesso, eu não tinha nenhuma
garantia de que eu poderia escapar sem ser inteligente. Tudo
nesta casa estava ligado a um sistema eletrônico. Se eu o
matasse sem aprender esse código, eu morreria aqui. Recusei-
me a compartilhar uma cripta com este estuprador.
"Nós temos algo para comemorar. Você não concorda?" Ele
andou em volta de mim com o queixo estreito erguido. "Dois
anos, minha querida. Eu posso imaginar que na sua tenra idade
este é o relacionamento mais longo que você já teve.”
PEPPER WINTERS
Meu lábio superior se contraiu de nojo quando eu abaixei a
cabeça, olhando para o tapete de pele de carneiro.
Infelizmente, ele viu a minha injúria facial.
Seu punho atingiu o lado da minha cabeça. "Não me dê
uma atitude de merda, Pim! Não em nosso aniversário".
Eu caí para o lado, balançando a cabeça para afastar as
estrelas pulsantes, forçando o meu corpo de volta para meus
joelhos antes que ele me chutasse para que eu voltasse para
minha posição. Ignorando a dor de cabeça súbita, eu catalogava
seu humor. Tudo falava comigo nestes dias, e não apenas o seu
comportamento, mas o seu vestuário, o relógio que ele estava
usando, e até mesmo a maneira como ele arrumava o cabelo.
Tudo era uma pista do seu humor.
Enquanto ele passeava em torno de mim, tagarelando sobre
como sua viagem para a cidade foi boa e sobre um negócio
qualquer que deu certo, olhei para seus sapatos (mocassins
pretos significavam que ele estava despreocupado e confiante).
Olhei para as calças (jeans claro indicava que sua visita à
cidade não foi totalmente relacionada ao trabalho). Meus olhos
subiram ao seu pulso e vi berrante Rolex de ouro (hoje, ele
queria mostrar sua superioridade). Finalmente, eu olhei sua
camisa de manga comprida azul claro (descontraído, mas
formal). No entanto, o casaco de linho desabotoado não fazia
PEPPER WINTERS
parte do seu vestuário habitual (ele queria impressionar, mas
mostrar indiferença ao mesmo tempo).
Impressionar a quem?
PEPPER WINTERS
Por alguma razão, sempre que ele saia, ele tinha tanta
certeza de que eu nunca escaparia, ele não me atava como ele
fazia durante a noite. A primeira vez que ele me deixou sozinha,
eu tinha recrutado as facas da cozinha, até mesmo escondendo
algumas lâminas com a esperança de matá-lo em seu sono.
Mas quando ele voltou, ele sabia exatamente o que eu tinha
feito. Segurando meu cabelo, ele me arrastou pela casa,
recolhendo as três facas de açougueiro que tinha guardado em
esconderijos. Após confiscar o meu arsenal, ele me levou para
uma sala privada de segurança na garagem, escondida atrás de
um pedaço de placa de gesso, e revelou como ele sabia.
Cada polegada de sua propriedade era monitorada.
Como eu não vi alguma câmera?
Não havia pontos cegos ou cômodos não vigiados.
Na época, meu coração pegou uma pá e cavou um buraco
tão profundo e cavernoso dentro de mim para se esconder, que
eu temi que eu nunca me recuperasse.
Mas eu me recuperei. Porque eu não tinha escolha.
"Ah, Pim, não seja assim. Estive fora durante três horas...
certamente, você sentiu minha falta."
PEPPER WINTERS
No momento em que fiz contato com seus os olhos, ele
sorriu. "Ainda recusando-se a falar, eu vejo. Você pode apertar
os lábios, o inferno, você pode arrancar sua língua, mas eu a
ouço gritar para mim. Ouço suas réplicas, mesmo que você não
as diz em voz alta".
Eu te odeio.
Eu te odeio.
Eu te odeio.
Besteira.
PEPPER WINTERS
Eu não acredito em você.
Ele não faria isso. Ele não tinha compaixão e só vivia para
causar dor.
Na manhã da minha recepção, ele tinha me tirado o vestido
branco e nunca me deu de volta. Com o vestido roubado, eu não
tinha nada. Nenhuma roupa existiu para mim em qualquer um
dos armários de sua propriedade de doze quartos. Quando eu
tinha tentado pegar uma de suas camisetas, ele me bateu tão
forte, que evitei todos os espelhos do banheiro por semanas.
Sentir o abuso em mim era uma coisa. Ver as marcas na minha
pele era totalmente outra.
Após essa primeira iniciação, eu enlouqueci. Eu tinha voado
ao redor de sua casa como um pássaro psicótico preso em uma
gaiola. Eu abri cada porta, agarrei cada janela, e procurei por
uma fenda na fortaleza dessa casa, à procura de qualquer via de
escape.
Eu falhei.
No entanto, a minha luta não havia desaparecido.
Ele tentou me fazer falar. Ele se tornou... inventivo em sua
persuasão.
Mas eu não vacilei.
Se ele me falava, eu olhava para uma parede. Se ele me
levava para a cama, eu desligava minha mente. Se ele me jogava
PEPPER WINTERS
coisas ou me batia, eu segurava firme em minha alma até ele
terminar.
E cada vez, eu me erguia de volta.
Um passo em frente do outro ... até que um dia, eu iria
parar.
Mas naquele dia não era hoje.
Ou amanhã.
"Você sabe que coisa especial que eu planejei hoje à noite?"
PEPPER WINTERS
Ele poderia manter para si mesmo sua generosidade
bárbara.
Indo para o pequeno frigobar ao lado da penteadeira, onde
ele mantinha um estoque de cerveja para manter-se hidratado
ao gastar horas fazendo-me desejar que eu estivesse morta, ele
abriu uma garrafa de sua marca favorita e bebeu um longo gole.
"Uma coisa que você deve saber sobre esta noite, Pim, é esse
desgraçado não sabe quão único nosso amor é. É especial; você
entende?"
Levou tudo que eu tinha para não revirar os olhos.
PEPPER WINTERS
Minha mãe não ficaria orgulhosa.
Meus pensamentos não vão frequentemente para ela, mas
quando é o caso, eu me perguntava se ela havia se misturado
com o bastardo que tinha me levado. Se ela sorriu para ele,
pensando que ele estava lá pelo seu negócio, ao mesmo tempo
em que ele sorria com a intenção de meu sequestro para seu
lucro.
Qual foi a sua porcentagem no um milhão e meio que foi
pago por mim?
Quanto ele conseguiria por mim agora? Agora que eu estava
magra, abatida e roxa?
Mestre A se virou para mim.
Minha carne arrepiou com um mau pressentimento.
Tudo o que eu queria fazer era matá-lo e ir embora. Eu
precisava de uma boa notícia para contar a Ninguém. Mesmo ao
compartilhar a vida com o meu amigo de correspondência
imaginário, eu não poderia escrever a maioria das confissões.
Ele me machuca de forma mais brutal do que eu gostaria de
imortalizar em grafite. Ele poderia me corromper, abusar de
mim, e até mesmo me adular para falar, mas eu nunca iria dar
o que ele mais queria.
Minha voz.
Às vezes, ele me levou à beira da fala me estrangulando ou
me cortando, quase extrapolando meus limites e me fazendo
PEPPER WINTERS
falar. Mas, sentindo que, se ele me fizesse falar, eu seria inútil,
ele voltou a trás no último momento excruciante.
Após tal incidente, eu usei a minha força restante para
trancar a porta com meu armário ‒ para evitar que ele me
machucasse mais.
Ele tinha enlouquecido, agarrando um machado da
garagem, e cortando através do mobiliário imaculado.
E o que ele fez quando ele entrou...
Estremeci, incapaz de revivê-lo. Mas isso não impediu os
meus dedos de tocarem o meu pé onde cada metacarpo tinha
sido quebrado ao serem pisados e brutalizados.
"Levante-se. Tenho uma surpresa para você."
Surpresa?
Eu odiava surpresas.
Surpresa significava ser estrangulada.
Surpresa significava ser vendida.
Meus lábios se apertaram quando eu fiquei de pé.
Ele desapareceu do quarto só para voltar um segundo
depois com uma sacola. "Continue. Olhe o meu presente. Não
seja uma puta ingrata."
Se eu não tivesse feito um voto de silêncio, eu teria
amaldiçoado sua alma podre. Eu teria gritado o desejo de sua
morte repetidamente.
PEPPER WINTERS
Dando um passo hesitante, aceitei a sacola e olhei dentro.
Roupas.
PEPPER WINTERS
comigo. Eu não preciso de sua voz de menina quando eu sei que
você gosta de escrever."
Minha carne ondulou com indignação, ao mesmo tempo em
que uma gota carmim caiu da minha orelha mordida e pousou
no meu ombro.
Ele revirou os quadris, cavando seu pau em minhas costas.
"Lembre-se aquelas notas que roubei de você quando você
chegou... eles eram a leitura divertida. Eu quero mais. Eu quero
saber o que você sentiu quando eu te possuí. Quero saber tudo
o que você mantém escondido dentro desse pequeno cérebro de
muda."
Eu me forcei a não olhar por cima do ombro para o meu
esconderijo. Folhas e folhas de notas escritas para Ninguém
estavam escondidas tão maldito perto de onde estávamos. Eu
teria nada se ele as encontrasse.
Eu não conseguia respirar quando ele bateu meu rosto
contra um grande livro que descansava na borda da mesa. "Este
é outro presente, porque eu estou me sentindo como um Papai
Noel do caralho esta noite." Apertando minha bochecha no
diário ornamentado fechado, ele sussurrou, "Escreva minha
querida. Vamos ver o que você tem a dizer sobre mim.”
A nova caneta Mont Blanc ao lado das novas páginas me
pedia para usá-la como um arpão. Esfaqueá-la em seu olho e
festejar sua cegueira.
PEPPER WINTERS
Faça.
Mate ele.
Agora!
Maldito.
Dane-se!
Deixe-me ir!
Pontapé.
Pontapé.
Pontapé.
PEPPER WINTERS
Institivamente eu quero me encolher, mas a disciplina me
fez ficar reta e aceitar. Eu tinha a muito aprendido que tentar
evitar suas agressões só levava a outras.
"Você acha que é melhor que eu. Você não é!"
Pontapé.
Pontapé.
As minhas costelas gritaram. Meus pulmões se sufocavam.
Eu estava muito machucada.
PEPPER WINTERS
*****
Para Ninguém,
Eu me vesti, Ninguém.
Vesti a saia e a camisa polo e me fiquei me olhando no
espelho por um maldito tempo longo. Estou confusa por que ele
está fazendo com que eu vista essas roupas. Não é sexy. Elas
são folgadas, escondendo minha estrutura esquelética e todos os
hematomas e cicatrizes que ele me deu.
Mas por que ele faria isso?
PEPPER WINTERS
Por que esconder as marcas de seus feitos? Ele gosta delas.
Ele as chama minhas joias. Diz-me como generoso que ele é ao
me dar mais um colar ou pulseira ao me estrangular com a corda.
Ah, não, ele está me chamando.
Eu não quero ir.
Eu não tenho escolha a não ser ir.
PEPPER WINTERS
Existem múltiplas versões do Inferno.
A maioria era cheia de clichês e nada mais do que um
incômodo ‒ dramatizado ao extremo e tema de conversa para os
carentes de atenção. No entanto, algumas versões justificam o
nome.
Uma versão do termo remetia a um breve momento que
uma vida era rasgada, e as ruínas eram deixadas para quem
tem a coragem de pegar os pedaços sangrentos. Outra versão é
destinada especialmente aos desgraçados, oferecendo
retribuição para quaisquer atrocidades que eles tinham
cometido. Uma terceira correspondia à ação de um furacão,
trazendo destruição a todos aqueles em seu caminho,
merecedores ou não.
E, em seguida, houve isso.
A mentirosa, enganadora forma do Inferno onde cada
contração e cada vogal devem ser cuidadosamente escolhidas e
meticulosamente entregues, porque se o cuidado não existir, a
morte não era o pior castigo disponível.
Eu estava naquele inferno.
PEPPER WINTERS
Eu voluntariamente entrei na cova do demônio, e para quê?
PEPPER WINTERS
Meus lábios tremeram enquanto eu saí do meu carro e
acenei para Selix. "Eu não vou precisar de seus serviços hoje à
noite."
Meu guarda-costas, motorista, e faz-tudo, estreitou seu
olhar. Seu cabelo escuro em um coque no alto da cabeça
absorveu a luz do início da noite, seu o queixo bem barbeado e
fino. "Você tem certeza? Você sabe o que este homem é. Você fez
a pesquisa. Eu aconselharia a repensar sua-”
"Eu aconselho que você pare de tentar me dar conselhos."
Nós nos conhecemos antes que eu fosse alguém na vida.
Um inimigo que sofreu as mesmas dificuldades que eu. Quando
a minha sorte tinha mudado, eu o tinha arrastado da lama
comigo.
Afinal de contas, não havia melhor pessoa para empregar do
que um inimigo.
Se eu pudesse comprar sua lealdade e ganhar sua amizade
depois que tentamos matar um ao outro, nada poderia nos
separar. Nós tínhamos construído uma fundação em algo muito
mais forte do que a luz e felicidade. Nós fomos forjadas a partir
do mesmo mau.
PEPPER WINTERS
E por causa disso, eu não parava de lembrá-lo de que eu
poderia confiar nele com a minha vida, mas ele não era a minha
consciência. Não antes, nem agora, nem nunca.
PEPPER WINTERS
pesquisado, ele não saberia nada de verdadeiro sobre mim.
Somente as migalhas cuidadosamente definidas de
conhecimento inútil.
Ele não sabia o meu passado.
Ele não sabia minhas habilidades.
E ele não sabia o meu objetivo final.
Mas logo, ele o faria.
E, em seguida, a minha tarefa no inferno estaria completa.
PEPPER WINTERS
Esta noite foi diferente.
Eu não gosto do diferente.
Meu estômago doía de onde ele tinha me chutado. Minha
cabeça estava zonza por conta do seu soco. Minha orelha doía
por sua mordida. E isso era ele sendo gentil.
As lições de minha mãe sobre como ler agressores havia se
tornado uma ocupação de tempo inteiro. Eu já sabia o que
motivava homens como meu mestre. Eu roubei pedaços dele em
cada momento que ele olhou para mim ou me tocou.
Eu era a esponja para a sua maldade, absorvendo tudo o
que podia para meu benefício. No entanto, não importa as
pequenas vitórias que tive, as tragédias superaram os meus
triunfos.
Hoje à noite não seria um triunfo.
Eu podia sentir isso.
PEPPER WINTERS
A cada resposta que eu imaginei, eu tremia cada vez mais,
cada cenário pior que o outro. A casa parecia perigosa e
estranha, pronta para algo que eu não poderia me preparar.
Deixando meu quarto sem portas, eu desci as escadas.
Meus pés descalços não poderiam camuflar as sombras pretas e
azuis que marcavam a quebra dos meus ossos, nem esconder o
pigmento desnutrido da minha pele. Mas a saia branca, como se
flutuava em torno das minhas pernas, cobrindo minha nudez e
cicatrizes, pela primeira vez desde que cheguei a Creta.
Se isso era mesmo onde eu estava.
A gola polo sem cor agarrou minha garganta com seus
dedos de algodão, fazendo-me remexer e puxar a obstrução.
Ultimamente, ele tinha uma tendência a usar coleiras e
cordas, mantendo-me amarrada em posições terríveis.
Normalmente, essa posição acabava me estrangulando no fim
do seu divertimento. Isso me aterrorizava quando acontecia,
mas também contaminava às vezes quando ele não fazia.
Sempre que ele tocava meu pescoço, as lágrimas
instantaneamente desciam. Não importa o quão forte eu era,
isto se tornou um gatilho para terror em meu corpo.
E agora, ele tinha me vestido com roupas que me sufocavam
para o seu benefício.
Engolindo o meu pânico crescente, parei no meio da descida
das escadas.
PEPPER WINTERS
Eu não posso fazer isso.
PEPPER WINTERS
Ele era um covarde com uma viciosa e sadista veia de
motivação. Mas eu o manipulei da melhor forma que pude.
Entrei em sua cabeça. Eu não poderia evitar a sua ferocidade
diária, mas eu podia evitar a dor absoluta, ao ser inteligente.
No entanto, ser inteligente e subserviente veio com um
preço. Minhas ações de sobrevivência me fizeram viver e
respirar a existência de um escravo, e, ocasionalmente, apenas
ocasionalmente, o medo constante e infelicidade ganhavam.
Como estavam ganhando agora.
Os soluços me engoliram até que minha pele implorou por
alívio da roupa apertada. Eu queria despir-me e desaparecer.
PEPPER WINTERS
Sugando as lágrimas, eu fiz o meu melhor para endireitar a
espinha que a muito tinha se curvado sob a dominação e dor, e
voltei a descer as escadas.
Lentamente.
De forma muito lenta.
Mas não o suficientemente lento.
Meus dedos atingiram o piso inferior antes que eu tivesse
tempo de limpar a gota na minha bochecha. Minha garganta se
contraiu quando eu avancei todo o corredor até a sala de estar.
A gola da minha camisa me apertava, transformando o meu
medo em algo grosso e enjoativo.
Eu estava a dois segundos de me despir dos itens ofensivos
quando vi o hóspede do Mestre A pela primeira vez.
Meu primeiro pensamento foi... correr.
Seus olhos combinam com os dos homens que o rodeia.
Os olhos de um assassino, causador e dependente de dor.
Mas meu segundo pensamento foi... correr para ele.
Ele não me conhecia.
Mestre A não o governava. Ele poderia finalmente ser o
único a me libertar.
Ou me matar.
Qualquer opção me serviria porque, pela primeira vez em
muito tempo, eu me lembrei de como era ver um estranho. De
sentir esperança ao invés de forçar-me a permanecer forte.
PEPPER WINTERS
Meus joelhos vacilaram enquanto sua atenção permanecia
no grupo habitual de idiotas que se aproveitavam de mim, a
critério do Mestre A.
Ele não tinha me visto, pairando como um fantasma
silencioso contra a parede.
O intruso sentava-se tenso, como uma espada a espera de
ser desembainhada, olhando para os três homens no sofá
oposto.
Mestre A nunca tinha me apresentado aos animais que
tinham abusado de mim, mas eu sabia seus nomes. Eu
conhecia os seus gostos bárbaros. E eu sabia que eles eram tão
ruins quanto o resto.
Darryl, Monty, e Tony descartaram minha presença no
segundo que olharam em minha direção. Eu não era nada para
eles. Nada, assim como o lustre de cristal sobre a mesa da sala
de jantar, ou como o vaso sobre o aparador no hall de entrada.
Eles me viram, podendo até me apreciar por um breve
momento, mas depois eu não era importante.
Eu apenas desejei que eu não fosse importante o suficiente
para não atrair seu interesse sexual quando o álcool flui, e
Mestre A dá a ordem para fazerem o que diabos eles quisessem.
O idiota doente se satisfez com seus amigos me
machucando, os três de uma só vez. Ele se sentou ali se
masturbando enquanto eles-
PEPPER WINTERS
Pare!
Quem é ele?
PEPPER WINTERS
Mestre A reparou em mim, vindo da cozinha com uma taça
de champanhe. Ele não bebia muitas vezes, e eu quase recuei
em surpresa quando ele passou a delicada taça para mim.
Beijando meu rosto, ele olhou para o estranho antes de
sussurrar no meu ouvido. "Nosso convidado não tem
conhecimento de nossos pequenos jogos, minha doce Pim? E se
você sabe o que é bom para você, você não vai dar-lhe qualquer
razão para descobrir.”
De costas para o seu hóspede, ele sutilmente traçou uma
linha sobre sua garganta em uma ameaça.
Eu não sei se isso significava que ele mataria o recém-
chegado ou a mim.
Roubando o champanhe dos meus dedos sem uma única
gota espirrar na minha língua, ele passou um braço em volta de
mim e me transportou para o homem.
Quanto mais me aproximei, mais intrigada ficava.
Ao contrário de Mestre A e os seus homólogos loiros, este
homem era uma mancha negra no meio das compleições
europeias.
Seu cabelo era mais preto do que o preto, parecendo um
derramamento de tinta sobre a morte de uma noite perfeita. Seu
olhar combinava as profundezas de carvão, escondendo tanto,
mas levando tudo em redor.
Imaginei que ele saiu da adolescência há um tempo e estava
no fim dos vinte anos, talvez uns trinta, trinta e poucos anos.
PEPPER WINTERS
Ele era o que minha mãe costumava chamar de "etnia confusa."
Ele não era como eu, que poderia identificar suas raízes nos
anglo-saxões e vikings. Ele foi um desencontro de origens
étnicas exóticas.
Ele era bonito e estava olhando diretamente para mim.
Encarando como se ele não esperasse que uma menina
estivesse aqui; uma escrava que já tinha verdadeiramente
esquecido o mundo exterior.
Abaixei meu olhar, encorajando um pedaço de cabelo a
ocultar os vestígios de contusões na minha bochecha.
Eu não fui a qualquer lugar ou vi nada novo em dois anos.
Até este homem.
Parando diante do estranho que se sentava ereto no sofá,
mestre A resmungou: "Eu pensei trazer mais uma para o jantar
se você não se importa." Enterrando as unhas no meu cotovelo,
ele sorriu cordialmente. "Esta é a minha namorada, Pimlico."
O homem levantou uma sobrancelha, chamando minha
atenção de seus cabelos e olhos para o resto do seu rosto
simetricamente masculino. Seu nariz exalava autoridade na
medida sem ser demasiado grande. Seu queixo era quadrado
suficiente para expor cada aperto de seus dentes, e sua
garganta poderosa o suficiente para revelar cada gole,
ondulando com nervos e músculos.
Meus olhos seguiram seu pescoço, seguindo os contornos de
sua pele impecável que desaparecia debaixo de uma camisa
PEPPER WINTERS
cinza escuro com o colarinho desabotoado. Ele usava
casualmente um blazer preto, como se ele tivesse o colocado no
último minuto enquanto fazia compras na Armani ou Gucci, e
suas longas pernas o fazem uma cabeça mais alto do que
Mestre A, que por sua vez era muito mais alto do que eu.
Só que, onde o Mestre A me fez sentir pequena e indefesa,
este novo homem... Não o fez.
Eu não poderia descrever o sentimento.
Eu tinha ouvido muitas vezes as minhas amigas da escola
mencionar algum tipo de reação “beije-me” quando elas
conheceram seus namorados, mas eu nunca senti.
Meu coração me traiu quando o homem inclinou a cabeça,
seus olhos nunca deixando os meus. Ele se movia como um
líquido, como se tivesse o poder de afogar a todos com apenas
uma gota ou erradicar paisagens inteiras como um tsunami.
Eu não conseguia respirar quando ele se inclinou para
frente em um ligeiro arco, estendendo a mão. Cada movimento
foi fluido e aperfeiçoado, sex appeal o contornava como uma
névoa fina.
Eu vacilei.
Por que ele olhava para mim como se eu valesse alguma
coisa? Ele não podia ver que ele iria ficar em apuros se o Mestre
A considerasse eu tinha recebido presentes que não eram
devidos?
PEPPER WINTERS
Meus ombros se curvaram quando eu olhei para os azulejos
brancos sob os meus pés.
Mestre A aproximou-me de seu lado com um aperto de
aviso. "Aperte a mão do Sr. Prest, Pim".
Apertar?
PEPPER WINTERS
Eu não vou fazer nada.
Interessante.
Não era uma farsa; ele realmente não queria que este
homem soubesse.
Meu coração fez o seu melhor para livrar sua mortalha de
morte e encontrar esperança mais uma vez. Por muito tempo,
ele tinha embalado sua escada e paraquedas, se preparando
para lutar uma guerra para me manter viva, e seguindo as
fodidas regras. Mas agora, ele sacudiu a poeira e os detritos de
batalha, brilhando em um carmesim hesitante.
Se eu me lembrasse de como usar a minha voz, eu poderia
ter informado este misterioso Sr. Prest que ele tinha acabado de
entrar em uma prisão de sexo. E que ele voluntariamente fez
PEPPER WINTERS
amizade com estes animais que me compartilharam e ferem,
sem na alma gritando silenciosamente dentro de mim.
Mas dois anos era muito tempo.
E dizer uma palavra me era tão estranho quanto ser livre.
Abaixando sua mão não apertada, o Sr. Prest fez uma
careta. Seu olhar dançou por mim, com seu rosto escondendo
seus pensamentos, mas sendo incapaz de impedir as dúvidas.
Assim como eu queria saber quem ele era, ele queria me
conhecer.
Lutei contra a vontade para soltar meus olhos, mas a
intensidade feroz em que ele me estudou concedia coragem ao
invés de despojá-la. Eu nunca tirei meus olhos dos seus quando
seu olhar negro observou a minha postura tensa, notou os
meus mamilos visíveis através da polo branca, e se fixou no
meu braço onde Mestre A me agarrava firmemente.
Seus lábios se apertaram ao mesmo tempo em que uma
conclusão transpareceu em seu rosto.
Eu queria aplaudi-lo. Dar-lhe um prêmio mínimo por
perceber que nem tudo era o que parecia.
Mas então, a constatação na qual ele chegou foi descartada
de seu rosto, quando ele sorriu de modo tão frio, tão mal e tão
sórdido, assim como Mestre A e seus associados. "Olá, Pim".
Pim.
PEPPER WINTERS
Simplesmente, ele encurtou o meu nome como se me
conhecesse.
Meus braços cruzados se apertaram.
PEPPER WINTERS
Este estranho pode ser a única coisa nova em dois anos que
veria antes de morrer. Eu nunca mais inalaria a fragrância de
uma flor ou provaria uma gota de chuva em minha língua.
Engoli em seco quando um ataque de pânico iminente se
aproximava. Durante um ano e meio, eu tinha sido capaz de
controlar a minha histeria. Mas alguns meses atrás, eu tinha
sofrido uma quantidade tão grande de horror e desespero, que
Mestre A foi forçado a chamar um médico particular (que não
fazia perguntas) para garantir que eu não estava morrendo de
insuficiência cardíaca. Eu tinha sido diagnosticada como
severamente deprimida com tendências a ter ataques de pânico.
Eu estava grata por um diagnóstico, mas cheio de ódio que
a forte adolescente que eu tinha sido, agora era nada mais do
que uma emocional em ruína ‒ não importando quão corajosa
eu me forcei a ser.
Mestre A me segurou mais forte, sibilando no meu ouvido.
"Controle-se, Pim. Você não vai ter um ataque na presença do
nosso convidado."
Se eu pudesse controlá-lo, eu iria obedecer. Não havia nada
de bom em revelar o quão profundo o meu medo é.
Mas quando o desespero e a falta de ar se agarraram a mim,
eu fui tomada.
Engolindo, eu arranhava o algodão que se apertava em volta
da minha garganta.
PEPPER WINTERS
Eu não posso respirar.
Preciso de ar.
Eu preciso correr e correr e correr.
Eu não posso.
Eu não posso.
Pare!
Faça parar!
PEPPER WINTERS
Mestre A congelou, olhando por cima do ombro. Com um
aperto raivoso, ele me girou para enfrentar o desconhecido. "Não
se preocupe. Isto não é da sua conta."
Oh Deus.
Dois anos.
Dois longos anos.
PEPPER WINTERS
Eu me abaixei, segurando o peito, fazendo o meu melhor
para manter a minha alma dentro do corpo. Quando eu estou
presa em um episódio, minha cabeça ruge, meu coração
enlouquece, e tudo que eu quero é morrer. Parar o horror e
tornar-me calma novamente parecia ser algo impossível.
PEPPER WINTERS
Ignorando Mestre A, que ainda lutava para me manter em
pé e não ajoelhada no chão como eu queria, Sr. Prest
murmurou duramente, "Pare com isso."
Eu queria gritar. Clamar. Falar. Para mostrar a ele que eu
era algo humano, e não um objeto que ele poderia comandar.
Mas eu murchei sob seu olhar pesado, me curvando ao aperto
doloroso do meu dono.
Ser repreendida não era novidade. As únicas palavras
dirigidas a mim consistiam em comentários sarcásticos, ordens,
e xingamentos. Por isso, não me chocava que esse estranho agia
da mesma forma que os outros. Nenhuma palavra gentil ou
piedade. Sem empatia ou capacidade de ver além das mentiras
e compreender a verdade.
E mesmo se ele compreendesse... Por que ele deveria se
importar?
Eu não era nada para ele.
Apenas um brinquedo rebelde que rapidamente tornou-se
cansativo e pronto para ser substituído.
Mestre A me balançou, sibilando no meu ouvido. "Você
ouviu o nosso convidado. Pare com isso." Puxando-me mais
perto, ele disse algo que apenas eu ouvi. "Você acha que esse
comportamento ficará impune? Boba, boba, Pim. Hoje à noite, a
suas costas serão desfiadas. Cicatrizes em cima das cicatrizes.”
Eu convulsionava, livrando-me do seu aperto e
escorregando para o chão.
PEPPER WINTERS
Não! Não! Não!
Recomponha-se.
Respire!
PEPPER WINTERS
Depois de tanto tempo sem roupas, eu estava mais
confortável nua. Eu não podia suportar nada e ninguém me
tocando.
Tocar, assim como falar, havia se tornado um tabu. Era algo
que só trazia dor. Não prazer.
Mestre A me colocou bruscamente de pé, com as mãos
ferozes e inflexíveis debaixo dos meus braços. "Que porra é essa
que você fez?" Seu temperamento era como uma nevasca, me
cobrindo de granizo e gelo.
Eu tremi, esperando pelo congelamento ártico.
Mas o Sr. Prest avançou. Retirando o seu blazer, ele ignorou
o meu mestre enquanto envolvia o material sobre a minha
forma seminua. Eu vacilei, temendo o menor toque.
Mas nada aconteceu.
Ele me deu seu casaco, ainda quente e cheirando a algo
ricamente inebriante e exótico, mas ele fez tudo isso sem me
encostar um dedo.
Eu congelo.
Eu me afogo.
O ato de bondade quase me causou outro ataque de pânico.
Eu relaxei sob o casaco, estranhando a sensação de calor
que me envolvia.
Um batimento cardíaco exigiu: Tire isso!
PEPPER WINTERS
O próximo lembrou-me do que minha carne tinha
esquecido. Ele lembrou-me de como era bom ser protegida. Não
... não o tire.
"Tire isso dela, Sr. Prest," Mestre A rosnou. "Ela vai subir e
se vestir com as próprias roupas, não vai, Pim?"
Com o que?
PEPPER WINTERS
tatuagem com caracteres japoneses que formava uma pulseira
em torno de seu pulso. "Ela pode ficar com ele."
Mestre A olhou-me furiosamente, cravando as unhas no
meu ombro enquanto ele me conduzia em direção à escada.
"Não. Ela não pode".
"Por quê?" Sr. Prest perguntou encostado no batente da
porta, sem tirar os olhos negros de mim.
"Porque eu disse isso." Mestre A me empurrou em direção à
escada. "Ela vai descer novamente assim que se trocar."
Eu tropecei, a jaqueta larga esvoaçava como uma nuvem
nas minhas costas.
Sr. Prest abaixou o queixo, nos observando com uma feição
sombria. "Eu quero ouvir isso dela."
Mestre A congelou. "O que?"
Sr. Prest apontou na minha direção. Sua postura fluida e
graciosa indicava tédio e desinteresse, mas deixava transparecer
uma veia de mortalidade e perigo. "Dela. Eu quero ouvir isso
dela."
Eu girei para enfrentar o homem, absorvendo toda a
brancura em volta dele. Fizemos contato visual antes que eu
lembrasse qual era o meu lugar e olhasse para o chão.
Mestre A passa os dedos duramente por seu cabelo loiro.
"Você não entende, Elder. Ela não fala."
PEPPER WINTERS
Sr. Prest respondeu sorrateiramente. "Não acho que
podemos nos chamar pelo primeiro nome, Alrik. Eu certamente
não dei esta liberdade a você".
Minhas costas enrijeceram. Ninguém falava com Mestre A
assim e ficava impune.
Mas o impensável aconteceu.
Mestre A engoliu sua réplica raivosa, balançando a cabeça
respeitosamente. "Claro. Desculpe-me." Aproximando-se do Sr.
Prest, ele acenou por cima do ombro. "Talvez, devemos começar
a noite novamente. Temos uma boa refeição planejada. Vamos
jantar ... Devemos começar? "
"Não" Sr. Prest não se moveu da porta. "Eu quero saber o
que diabos está acontecendo."
Os olhos do Mestre A se arregalaram.
Se eu não estivesse com tanto medo do homem ser
castigado, eu teria apreciado essa mudança de eventos. Mas eu
sabia que em última análise seria eu a pessoa a pagar o preço
quando o estranho fosse embora.
"Nada está acontecendo."
Sr. Prest inclinou a cabeça, com um sorriso frio nos lábios.
"Mentiras. Eu não faço negócios com mentirosos."
"Eu não estou mentindo."
"Então, a deixe falar." Os olhos do Sr. Prest se fixaram em
mim novamente. "Pimlico ... Diga-me. Você quer manter o meu
casaco ou você prefere usar as suas próprias roupas?" Seu
PEPPER WINTERS
olhar se desviou para a saia branca desagradável que eu usava,
que mal escondia nada. "Você tem gosto estranho pela moda,
mas não vou julgar. Você pode vestir o que quiser. Não que seja
o meu papel mandar em você.” Sua careta pousou em Mestre A.
"Mas também, não cabe ao seu namorado dizer-lhe como se
vestir."
Seu sotaque provocou a minha mente, lembrando-me de
viajantes ricos e lugares estrangeiros. A maneira como ele disse
'namorado' me fez endurecer.
Eu tinha razão.
Ele entendeu a situação. Ele viu através das besteiras
contadas e sabia o que eu era.
Meu coração pulou em um oceano de lágrimas. Por que isso
me dói tanto? Ser vista pelo o que eu era? Por este estranho
nunca me conhecer como a feliz e confiante Tasmin, mas como
a derrotada e feia Pimlico?
"Responda-me", disse Prest. "Meu casaco ou suas próprias
roupas?"
A questão não me incitou a respondê-lo. Após dois anos de
mudez, uma pergunta banal já não tinha tal poder. Minha
laringe não se preparou para falar. Meus pulmões não inflam
para conversar.
Eu não tinha vontade de vocalizar.
Meu corpo ficou tenso quando eu me concentrei na
mandíbula e na garganta poderosa do Sr. Prest. Eu acho que ele
PEPPER WINTERS
tinha sangue estrangeiro em algum lugar em sua linhagem. Não
era uma parte forte de suas características, mas seus olhos
eram amendoados demais para serem estritamente Europeus.
Nós três ficamos em um silêncio tenso.
Sr. Prest lentamente exalou, seu temperamento ofuscando
Mestre A, transformando a nevasca branca em um tufão escuro.
"Fale."
Mestre A riu. "Eu tentei lhe dizer."
"Dizer-me o que?"
"Ela não fala." Mestre A acenou na minha direção como se
eu fosse uma mercadoria com defeito que só serve para ser
torturada. "Ela é muda."
"Por escolha ou por uma condição médica?"
PEPPER WINTERS
Mas que monte de bestei-
Eu queria ficar com raiva, mas eu não senti nada mais que
uma desgostosa aceitação.
Será que o Sr. Prest acreditaria nele se eu arrancasse o
blazer e revelasse minhas costas e coxas machucadas, e as
queimaduras de cigarro nas nádegas? Ou seriam necessárias
evidências mais profundas, como as horríveis lesões internas
causadas por itens não consensuais que foram empurrados
para dentro do meu corpo?
PEPPER WINTERS
Sr. Prest fez uma pausa, olhando-me de cima a baixo. "Eu
não acredito em você. Ninguém se automutila a esse ponto."
Seu rosto sombrio. "E acredite em mim, eu sei."
PEPPER WINTERS
Porém, o Sr. Prest rapidamente disse, "Pare".
Virando-me de frente, ele agarrou meu pulso e me tirou fora
da escada.
Não!
PEPPER WINTERS
Mestre A me empurrou contra a parede. Ele fez isso de uma
maneira que demonstrou autoridade e quase proteção contra
um desconhecido agressivo em nossa suposta casa feliz. No
entanto, o Sr. Prest viu a verdade através da minha postura
instável, a procura de algo firme para me segurar.
Agarrando o meu braço livre enquanto eu lutava para ficar
em pé, Sr. Prest rosnou, "Você. Comece a falar. "
Mestre A lutava para me segurar, uma batalha de posse em
minha carne. "Deixe ela ir."
"Se você deseja concluir nossa transação, você vai calar a
boca." A voz de Sr. Prest tornou-se um sussurro assustador.
"Pense bem, Alrik. Compartilhar a sua namorada é um preço
muito alto a pagar por aquilo que você realmente quer?"
Lentamente, um brilho calculista preencheu o olhar azul
aquoso do Mestre A. "Compartilhar?" Ele riu, levantando uma
sobrancelha em minha direção.
Para quem não o conhecia, aquele denotava indecisão. Para
mim, que tinha sido compartilhada todo santo dia durante
anos, aquele olhar era uma ameaça. Uma afirmação de que
antes que a noite terminasse, Elder Prest me provaria, usaria, e,
finalmente, me destruiria com seu ódio da mesma forma que ele
me destruiu com sua bondade.
"Você está certo." Mestre A me soltou sem resistência.
Eu ricocheteei para frente, caindo contra o corpo esculpido
do Sr. Prest.
PEPPER WINTERS
No momento em que eu fui esmagada contra ele, eu recuei.
Com ele não foi diferente.
Ele fez o mesmo.
E eu não tinha vontade de estar perto dele ou de qualquer
homem.
Mestre A estufou o peito, cruzando os braços. "O
compartilhamento é um requisito oficial para completar o nosso
negócio?"
Meu cabelo indomado pairava sobre o meu rosto enquanto o
Sr. Prest me manobrava ao redor de seu corpo, colocando-me
atrás dele. Seu braço me segurou firme, me mantendo presa
atrás de suas costas duras. "Você realmente é um doente
fodido".
Energia e poder inexplorado percorreu sua espinha quando
ele riu, me infectando com qual seja a loucura que ele sofria.
Porque ele tinha que ser louco.
Ele me protegeu do Mestre A, ao mesmo tempo em que
discutia me compartilhar como requisito de uma transação
comercial.
PEPPER WINTERS
senso de obediência para sobreviver, eu aprendi que
antagonizar alguém sem motivo não era inteligente.
Mestre A estendeu as mãos. "Isso é algo bastante ofensivo
para dizer. Eu não estou te julgando. Então, eu apreciaria se
você não me julgasse.”
Olhando para trás, minha pele arrepiou ao ver que Darryl,
Tony, e Monty haviam se reposicionado às costas do Sr. Prest,
prontos para lhe mutilar ou matar caso ele ameasse seu amigo.
Fechei os olhos, deliberadamente evitando que viria a
seguir.
No entanto, eu tinha subestimado o Sr. Prest.
Quase como se sentisse o ataque iminente, ele deu um
passo para trás, obrigando-me a mover-se com ele até que ele
entrou na sala e girou para enfrentar os três homens,
prendendo-me contra a parede.
Ele os enfrentou enquanto Mestre A se juntou a seus
cúmplices do mal.
Mr. Prest apertou sua mandíbula, seus olhos cerrados e
escuros. "Vamos começar de novo. Com a porra da verdade."
Puxando-me de atrás de suas costas, ele me colocou ao seu
lado. "Ela é uma prostituta".
Eu tremi com essa palavra.
Eu odiava essa palavra.
PEPPER WINTERS
Ela remetia a coisas tristes e quebradas. Mas eu não era
isso. Eu era uma filha, um estudante, uma amiga. Eu era
inteligente. Eu tinha sido bonita, uma vez.
Eu significava alguma coisa.
Mestre A compartilhou um olhar com Tony antes de sorrir.
"Ela é mais do que uma prostituta. Eu a comprei. Negócio
justo."
"Então, ela é uma escrava." Sr. Prest disse a frase como
uma afirmação, sem questionamentos. De alguma forma, ele
sabia o tempo todo o que eu era no segundo em que me viu.
Não…
PEPPER WINTERS
Meus olhos voaram para o Sr. Prest, esperando
ardentemente que a proposição o abominasse. Que preferiria ir
embora a lidar com essas pessoas terríveis e me levaria com ele.
Mas o tenso impasse terminou quando ele aceitou o aperto
de mão do Mestre A, sorrindo friamente.
"Isso é mais a minha cara." Desfazendo o aperto, o Sr. Prest
passou o braço sobre meus ombros. "Por que você não disse
isso antes?"
Não ...
PEPPER WINTERS
ESTE LUGAR fedia a mentiras e enganos.
E isso era muito, já que geralmente eu era a pessoa que
mais tinha a esconder.
Este idiota passou pela maioria dos meus canais de
investigação, mas a minha pesquisa não tinha revelado uma
namorada morando ali.
Definitivamente não uma namorada muda.
PEPPER WINTERS
Ao me distanciar de Pimlico, eu não podia negar o calor em
minha carne causado pela fragilidade de seus ossos. Eu não
conseguia desviar o olhar da translucidez de sua pele, que
parecia um mapa de veias azuis e artérias vermelhas.
Mexendo minhas mãos, eu dei outro passo.
Ele começou a ofegar, e não como um flerte, mas com medo.
Isso não era uma coisa boa.
Não de acordo com meus conhecimentos.
Ao longo dos anos do meu domínio, eu tinha ganhado um
nome que pavimentou a estrada de tijolos dourados que levava
ao núcleo deste mundo doente e torcido.
Kaitou.
Ladrão fantasma.
Em primeiro lugar, porque eu era um batedor de carteira,
ladrão, e mestre de cinco dedos.
Em segundo lugar, porque, em vez de roubar objetos,
comecei a roubar vidas.
Mas apenas as vidas daqueles que me deviam ou daqueles
muito fracos, sem utilidade.
PEPPER WINTERS
Algo sobre ela ficou sob minha pele, na forma de uma
curiosidade intolerável.
De onde ela veio?
Há quanto tempo ela está aqui?
E há quanto tempo ela queria morrer?
O olhar em seus olhos era um convite clássico para a morte.
Dei mais um passo para longe da escrava.
Só para garantir.
Vi força nela, mas eu também provei seu desejo pelo fim.
Uma vez que alguém cultivava pensamentos suicidas em sua
alma, eles não desapareciam, lentamente, corrompendo a
pessoa até que ela encontre novamente o desejo de viver ou
ceda e deixe a morte reclamá-los.
Eu tinha subestimado Alrik Asbjorn.
Ele manteve esta mulher viva por quem sabe quanto tempo,
mesmo quando o seu desejo de morrer ecoava com cada
batimento cardíaco.
Isso foi impressionante.
A emoção de saber que eu poderia fazer qualquer coisa que
quisesse a esta menina, sem repercussões, me dava nojo. Eu
poderia machucá-la, fodê-la, tratá-la com nenhum respeito. E
ela só poderia aceitar porque esse era o seu papel. Seu
comprado e vendido papel.
Eu poderia matá-la, e ela provavelmente iria me agradecer
por deixá-la livre.
PEPPER WINTERS
Talvez eu deva.
Talvez eu vá.
PEPPER WINTERS
Segurando o encosto da cadeira, olhei para trás vendo a
escrava se misturar ao ambiente, desaparecendo como uma
assombração.
A julgar pelo seu atual estado, eu diria que ela se tornou
mestre em aceitar a dor. Ela era como eu nesse quesito. E por
causa disso, ela ganhou meu interesse. Ela não era apenas uma
posse, mas um quebra-cabeça, pronto para ser decifrado.
Afundando-se de joelhos sobre os azulejos brancos duros,
ela inclinou a cabeça.
Mesmo com o meu blazer cobrindo o esqueleto austero, seu
corpo desnutrido ainda podia ser visto. Meu casaco parecia
cinco vezes maior do que ela. Seu cabelo parecia um esfregão
marrom nojento com nenhum estilo. Seus olhos verdes se
assemelhavam a um pântano, e sua pele deu a entender que ela
beirava o escorbuto.
Ela não estava saudável.
Por que ela não falava? E por que seus pensamentos
desafiadores gritavam muito mais alto do que suas palavras?
Como ela poderia permanecer tão impertinente ao tocar a
campainha da morte com os dedos ansiosos?
Rasgando meu olhar, eu olhei para os hóspedes indesejados
em torno da mesa. Alrik assegurou-me, quando combinamos a
reunião, que seria apenas ele e eu. Não três outros desgraçados
e uma menina silenciosa.
PEPPER WINTERS
Eu faria sua vontade durante o jantar já que eu me recuso a
falar de negócios enquanto como, e nunca quando bebo, mas no
momento em que terminássemos de comer, eles teriam que sair.
Minhas costas ficaram tensas quando um pensamento
preocupante me sucedeu.
Ele pode ter envenenado a refeição?
Graças a minha pesquisa incansável, eu sabia que ele não
cozinhava e que o seu chefe particular fornecia iguarias todas
as noites. Eu teria que confiar que ele não adicionaria óleo de
rícino ao meu prato principal puramente por causa de seu ego e
do que ele queria de mim.
Se Alrik, por alguma decisão imbecil, tentar me despachar,
em vez de fazer negócios, eu estava preparado.
Ele não seria o primeiro a tentar me matar.
E ele não seria o último.
No entanto, a trilha de cadáveres deixados em meu caminho
constantemente crescia à medida que eu provava para todos
que era invencível.
Sentando-me, eu reajustei a meus talheres, correndo meus
dedos ansiosos sobre a faca serrilhada. Eu poderia assassinar a
todos nesta sala antes que um grito fosse proferido.
Talvez eu deva.
Talvez eu vá.
PEPPER WINTERS
Antes que a noite termine.
Alrik permaneceu de pé, abrindo sacos de comida gourmet e
servindo-nos com cada prato: bok choi com molho de ostras,
pato a Pequim, macarrão Cingapura e wontons.
Os aromas transformaram o espaço monocromático em algo
convidativo.
Finalmente, ele sentou-se na cabeceira da mesa e sorriu.
"Comam. Apreciem."
Enquanto ele arrumava o guardanapo, olhei de novo para a
menina.
Ela não se mexia. A cabeça dela permaneceu baixa, com os
olhos fixos em um pontinho na frente dela.
Pegando meu garfo, eu apontei para ela. "Você não alimenta
a sua escrava?"
Alrik sorveu uma parte do macarrão, não mais tentando
esconder a verdade. "Ela é alimentada quando se comporta. Ela
sabe disso." Ele levantou a voz para que a menina pudesse
ouvir. "E hoje à noite, ela não o fez. Esse episódio desagradável
de antes não é tolerado." Ele sorriu, esfaqueando um pedaço do
pato. "Ela vai comer amanhã."
Eu concordei.
Um animal de estimação impertinente deve ser punido.
Mas ela não é apenas um animal de estimação.
Ela é um ser humano, e eu ainda não terminei de
inspecioná-la.
PEPPER WINTERS
Eu preciso dela mais perto.
PEPPER WINTERS
Lentamente, ele colocou seus talheres na mesa e olhou para
sua puta. "Pimlico, pegue um prato e se junte a nós. Eu mudei
de ideia. Você pode comer esta noite”.
Eu não me virei para vê-la, mas seu suspiro atingiu a
minha nuca, me fazendo tremer. Era muito fácil. A caça era
muito divertida. Assim como o roubo. O truque para realizar um
grande assalto era ganhar a confiança de sua vítima em
primeiro lugar.
PEPPER WINTERS
perguntar para saber que eles também tinham abusado desta
menina. Eles foram responsáveis por alguns dos hematomas e
cicatrizes que decoravam seu corpo.
Alrik suspirou, revirando os olhos. "Bem, sente-se, Pim.
Porra, não fique parada aí como uma aberração."
Instantaneamente, ela se moveu e se sentou graciosamente
na cadeira ao meu lado.
Não sei se esta ação foi algo intencional ou subconsciente,
mas o fato de que ela escolheu sentar perto de mim me causou
sentimentos estranhos. Metade de mim queria acariciar sua
bochecha e prometer que enquanto ela usasse o meu casaco eu
a protegeria. Enquanto a outra metade queria ver quão bonitas
suas lágrimas ficariam caindo em seu jantar.
Retirando o meu olhar de seu rosto triste, eu peguei seu
prato vazio e substituí pelo meu intocado e cheio.
Ela respirou fundo, quando eu coloquei a comida mais
próxima a ela.
Eu não falei. Eu não precisava.
Ela sabe o que eu ofereci e aceitaria ‒ se soubesse o que era
bom para ela.
O garfo de Alrik caiu na toalha de mesa, manchando-a com
o molho de alho e óleo. "Espere... ela comer um sanduíche. Não
há o suficiente para tod‒."
Eu levantei a mão e o interrompi. "Eu não estou com fome.
Ela está. Problema resolvido."
PEPPER WINTERS
Além disso, havia poder em não comer quando os outros
sim. Eu teria liberdade para observar e analisar. Eu poderia
fazer perguntas e investigar o que desejasse enquanto eles
teriam que inconvenientemente engolir rápido e pensar em
respostas mentirosas ao mesmo tempo.
Sim, isto é perfeito.
Eu posso realizar um bom acordo ‒ algo do qual eu estava
precisando ‒ e também posso deixar esses homens com o pé
atrás.
Que comece o interrogatório.
PEPPER WINTERS
Eu não conseguia olhar para cima.
Os aromas da comida deliciosa fizeram a minha fome eterna
rugir.
Isto é real?
PEPPER WINTERS
Meus dedos tremiam em torno dos talheres enquanto eu me
forçava a lembrar da mecânica. Como eu poderia esquecer algo
tão simples como usar um garfo? E se eu não conseguisse me
lembrar, o que o Sr. Prest pensaria de mim?
PEPPER WINTERS
definitivamente nunca fui tratada como um ser humano por um
homem que ofuscava o Mestre A em todos os sentidos.
Eu me senti recompensada.
Eu me senti viva.
E eu odiei o Sr. Prest tanto quanto o agradeci por isso.
A cada bocado, eu esperei que o Mestre A começasse a
gritar e a jogar objetos em mim. Eu já sinto os chutes e o frio do
piso em meu rosto quanto ele me jogar no chão.
Este é apenas um ponto de bondade em um mundo de
tortura, onde ele me obriga a brincar de jogos terríveis e a fazer
coisas humilhantes.
A comida insípida deslizou até minha barriga, mas a riqueza
decadente dos temperos me fez mal. Meu sistema não estava
acostumado a tais opulências.
Mas eu não iria parar de comer.
Eu não podia.
Eu devoraria cada pedaço, sorveria cada molho, e depois
lamberia o prato se me fosse permitido.
Minha boca aguou com uma memória quase esquecida.
Lembrei-me do sushi e molho de soja; dos hambúrgueres e
batatas fritas. Parece que foi há muito tempo.
Eu realmente era capaz de ir aonde eu quisesse? Eu
realmente ria e era feliz?
Eu era tão ingênua.
PEPPER WINTERS
Mestre A levantou a taça de vinho, brindando ao Sr. Prest.
"À emocionantes empreendimentos e à novos amigos."
PEPPER WINTERS
O garfo balançou em minhas mãos. Eu vivo aqui há tanto
tempo, e ainda sim eu não consigo prever as ações meu
carcereiro. Imaginei inúmeras punições por desafiá-lo, mas eu
seria surpreendida. Como sempre. Mestre A era criativo em
tudo que fazia comigo.
"Quanto tempo se passou desde que você comeu?"
A pergunta me arrancou dos meus pensamentos. Pisquei,
estupidamente esquecendo o que eu era e levantei a cabeça
para olhá-lo diretamente.
Mr. Prest me encarou de volta. Seus olhos escuros não se
mexeram, fazendo o seu melhor desvendar todos os segredos
que me restavam. Apontando para o meu prato, ele disse: "Você
come como um pássaro, mas eu sei que você está morrendo de
fome."
Meu coração se apertou de preocupação. Muito tempo se
passou desde que alguém olhou para mim como uma pessoa,
em vez de uma boneca. Mas era tarde demais. Eu possuía
muitas marcas. Eu era mais um objeto do que qualquer outra
coisa nestes dias.
Olhei para Mestre A. A indignação em seu rosto não foi por
causa de algo que eu tinha feito, mas porque eu tinha atraído a
atenção de alguém que ele não queria me compartilhar.
"Não pergunte coisas particulares." Mestre A bateu a faca
sobre a mesa. "Eu cuido dela. Isso é tudo que você precisa
saber."
PEPPER WINTERS
Meu sangue ferveu de ódio pela nossa história. Por todas as
coisas monstruosas que ele tinha feito comigo.
Cuidou de mim?
Merda nenhuma.
Espere o que?
PEPPER WINTERS
punhos na mesa. "Porque ela é minha e quaisquer respostas
que você pensa que obtêm são mentiras."
"Você está com medo que ela me diga coisas sobre você que
atrapalhe nosso acordo de negócios."
"Ela não vai lhe dizer nada ‒ sejam coisas boas ou ruins."
Forçando-se a relaxar, Mestre A sentou-se novamente. "Mas
isso não vem ao caso. Você está certo. Eu ofereci Pimlico como
uma prova de amizade, e você tem total direito de fazer o que
quiser com ela. Qualquer coisa que garanta o nosso negócio."
Ele sorriu como um tubarão. "Nada mais importa."
Durante cinco dolorosos e longos segundos, o Sr. Prest não
aceitou a oferta de paz. Testosterona invadiu a mesa. Mas pelo
menos Darryl, Tony, e Monty ficaram fora da conversa.
"Às vezes, não é o que é falado que é a resposta verdadeira
Sr. Asbjorn" Murmurou o Sr. Prest. "E soube de todas as
respostas às minhas perguntas sem a sua escrava proferir uma
única sílaba."
Mestre A perdeu o interesse no jantar. "O que você está
dizendo?"
PEPPER WINTERS
Sr. Prest olhou para mim, seus olhos de carvão parecendo
predatórios. "Eu não estou dizendo nada. Assim como Pimlico."
Com graciosa precisão, ele segurou o meu pulso com dedos
fortes.
Eu endureci.
Ele escoava mais poder e perigo de sua mão esquerda do
Mestre A de todo o seu corpo loiro. Ele exalava uma autoridade
que me aterrorizava, mas que também me incentivava a me
aproximar com a esperança dele usar esse poder para me
proteger.
Mentiras.
Tudo isso.
PEPPER WINTERS
Minha respiração tornou-se superficial. Seu longo toque me
ameaçou. Eu não era estúpida de não reconhecer o quão
perigoso ele era, mas ele me passou uma sensação de
segurança também.
O seu toque sussurrou que se ele me machucasse ele me
faria bem ao mesmo tempo. Eu só não sabia como.
Ele era uma contradição. Um enigma. Algo fascinante que
eu não conseguia entender.
Lentamente, a atmosfera na mesa se acalmou
provisoriamente; os homens voltaram a comer.
Eu também. Afinal, eu não iria desperdiçar uma boa
comida.
Minhas papilas gustativas voltaram a funcionar, sinalizando
para o meu cérebro quão rico e delicioso era o pedaço de pato
que eu coloquei na boca.
Tony, Darryl, e Monty eram os brutos habituais sem boas
maneiras, e Mestre A manteve-se em seu melhor
comportamento. Mas ele não podia esconder o fato de que ele
odiava a minha posição na mesa.
Todo o alimento que eu estava comendo provavelmente seria
vomitado mais tarde quando ele chutasse o meu estômago.
Pensar sobre isso quase me fez parar de comer.
Mas não completamente.
Humildemente, eu deixei cair o meu olhar. E corajosamente,
comi outro bocado.
PEPPER WINTERS
Eu não poderia impedir o que ele faria comigo, mas eu daria
ao meu corpo todas as vitaminas e nutrientes possíveis.
"Eu mudei de ideia." O Sr. Prest disse calmamente,
inclinando-se mais para perto. "Eu quero saber mais sobre a
menina muda chamada Pimlico."
A voz dele.
Ela era como açúcar e doces; batatas fritas e chocolate.
Seu corpo me atordoou ‒ não porque ele era bonito, mas
porque a sua proximidade detonava todos os tipos de avisos no
meu sangue.
Dando uma rápida olhada, eu vi seus olhos enquanto ele
descaradamente me olhava. De onde ele veio? Qual era a sua
nacionalidade? Qual era seu país?
E quem o nomeou Elder?
Ele não era velho ou o líder de uma seita. Mas poderia ser
por tudo o que eu sabia.
PEPPER WINTERS
Nos primeiros meses, tinha sido difícil controlar o desejo de
me comunicar, quando ele me fazia uma pergunta direta. Foi
difícil não responder. Mas ao longo do tempo, ficou mais fácil.
Mesmo este lindo e perigoso estranho não iria quebrar minha
armadura de silêncio.
Dando outra mordida, eu deliberadamente olhei para baixo,
deixando-o ganhar o concurso de encarar, mas o fazendo perder
a batalha de me fazer falar.
O fogo queimando-me por dentro me manteve lutando
mesmo quando eu queria desistir. Eu sabia o quão ruim a
minha vida tinha se tornado, mas algo dentro de mim (oh, meu
Deus, era orgulho?) odiou que o Sr. Prest me visse como uma
menina magra, com cicatrizes, sem escapatória.
Ele nunca tinha me visto em um vestido, com cabelo
arrumado e com a maquiagem perfeita. Nunca me ouviu
responder aos professores com sagacidade e inteligência. Nunca
me viu dançar e entreter presidentes de instituições de caridade
e sondar a mente dos meus colegas como minha mãe tinha me
ensinado.
Quem eu era nunca existiu para o Sr. Prest. Ele só viu
quem eu sou hoje. Ele iria embora e para sempre se lembraria
de mim como uma escrava, não como uma menina livre.
Um pensamento zombeteiro invadiu a minha mente
enquanto eu mastigava o último pedaço do pato.
PEPPER WINTERS
Como se isto fosse verdade.
Ele vai se esquecer de você no minuto em que se afastar.
PEPPER WINTERS
tinha descartado Mestre A, e ninguém nunca, nunca deve fazer
isso.
Eu lutei contra o terror e infelicidade, mantendo o meu
olhar fixo sobre a mesa. No entanto, isso não me impediu de ter
um relance de Mestre A. Ele sorria malignamente, com uma
promessa velada de me fazer passar fome por muito tempo.
Seus três amigos sorriram, compreendendo ainda que eu
receberia outra punição, e que desta, eles seriam convidados a
participar.
PEPPER WINTERS
Isto é minha culpa.
Estúpida.
Tão estúpida.
Por quê?
PEPPER WINTERS
quando o Sr. Prest forçou a moeda em minha direção
novamente.
Ele não repetiu a frase.
Ele não precisava. Eu a ouvi em minha mente.
PEPPER WINTERS
O meu corpo que estava sofrendo com a indigestão por
comer a carne exótica, já antecipava a sofrimento dos chutes e
socos que estavam por vir.
Mantendo meus olhos voltados para baixo, eu
respeitosamente recolhi os recipientes vazios e enfiei os sacos de
papel debaixo dos meus braços. O blazer do Sr. Prest me
atrapalhava, mas até que ele o roubasse de mim, eu não iria
tirá-lo.
Ele era meu.
Mesmo que por pouco tempo.
Sr. Prest me observava a levar as embalagens para a
cozinha, as lavar, e as colocar na lixeira de reciclagem.
Voltando, eu fiz o meu melhor para ficar fora do alcance das
mãos dos homens enquanto eu coletava os pratos sujos.
Sr. Prest viu como Monty bateu na minha bunda e Darryl
pegou fios de meu cabelo para farejar dramaticamente. Mestre A
não notou seu convidado vibrando com raiva, e eu não lhe diria.
Eu me tornaria invisível novamente ao fazes os meus deveres de
servente.
Mestre A recostou-se na cadeira. "Então, agora que já
jantamos. Vamos discutir o negócio."
Sr. Prest colocou as mãos sobre a mesa, juntando os dedos
em uma pose de equilíbrio e poder. "Antes disso, eu tenho
condições a serem satisfeitas."
"Quais condições?"
PEPPER WINTERS
"Eu não discuto detalhes na frente dos outros." Inclinando o
queixo para os três estupradores, ele rosnou, "Eu quero que eles
saiam."
Darryl fungou. "Ei, perdedor. Estamos aqui para o nosso
amigo. Nós o apoiamos."
"Sim. Sem ‘nós’ sem ‘acordo’. Disse Monty cruzando os
braços.
Eu carregava a louça para a cozinha quando o Sr. Prest
levantou-se tão rapidamente que sua cadeira chiou contra o
chão. "Entendido."
Saindo da mesa, ele passou por mim. Seus olhos pretos
brilhavam com violência, flamejando ainda mais quando ele me
olhou de cima a baixo. "Mantenha o casaco."
Meu queixo caiu ao vê-lo se dirigir para a saída.
Eu queria gritar para que ele não fosse.
Eu não podia permitir.
Com ele aqui, eu não tinha que temer tanto a Mestre A. Eu
não tive tempo suficiente para descobrir se eu poderia usá-lo a
meu favor. Ele poderia me ajudar? Me libertar?
Não vá ...
PEPPER WINTERS
"Não faz isto, Elder. Você ganhou. Nenhuma companhia.
Apenas você e eu."
Mr. Prest parou com a mão na maçaneta da porta. Seus
ombros se mantiveram firmes. Eu não sabia se ele iria aceitar a
oferta do Mestre A ou simplesmente ia desaparecer.
Respirei fundo, fazendo tinir a torre de louças em meus
braços.
Finalmente, o Sr. Prest virou, cerrando as mãos. "Não me
faça lembrá-lo que não deve usar primeiro nome, Alrik. Esse é o
último aviso, porra. Quanto à nossa discussão, eu quero que
seja entre você, eu e ela." Seu olhar ardente se travou no meu.
Ah não…
Não não não.
PEPPER WINTERS
tivesse que saber das coisas ilegais nas quais Mestre A estava
envolvido.
Mas, claro, isso não deu certo.
Nada jamais dá.
Sr. Prest foi o único a me parar. "Fique, menina. E tome o
seu centavo. Você pode não ter vendido os seus pensamentos
tão barato, mas você não vai nos deixar até que eu diga.”
Meus olhos se viraram para Mestre A, procurando
permissão.
Sr. Prest pode ser o caçador de topo desta cadeia alimentar,
mas ele não era o meu dono. Não era com ele que eu iria viver
depois desta noite.
Mestre A cerrou os dentes, recebendo tapas de adeus de
seus amigos enquanto eles vestiam seus casacos para sair.
Raiva o envolvia, exalando do seu corpo como uma fumaça
tóxica. Passando a mão pelo cabelo loiro, ele grunhiu. "Porra,
tudo bem. Fique, Pimlico. Pegue copos e o bourbon.
"Sr. Prest e eu temos algo a discutir."
PEPPER WINTERS
Eu realmente odeio o sabor de bourbon.
Eu prefiro saquê, gin ou mesmo o absinto. Eu não era um
grande bebedor. Eu tenho minhas razões. E não bebi nada
alcoólico em quase um ano.
Mas um homem como Alrik acha que se deve beber álcool
ao fazer negócios, porque ele ainda era um maldito Neandertal.
Mas eu iria agradá-lo neste sentido, já que eu meus desejos
foram satisfeitos até agora.
A escrava não tinha se sentado, andando ao redor como a
porra de um beija-flor, reunindo copos, endireitando almofadas
brancas, e colocando pratos na máquina de lavar louça.
Alrik não parecia se importar. Ela não era apenas sua
escrava sexual, mas empregada doméstica também. Ele mal
tinha consciência dela, ficando feliz em deixá-la morrer de fome
e definhar.
Ele merecia sofrer por isto.
Dolorosamente.
Ao longo dos próximos dias, eu iria pensar em uma punição
criativa.
PEPPER WINTERS
O barulho da torneira na cozinha chamou minha atenção, e
vi quando a menina se molhou acidentalmente com a água.
Porra.
Idiota do caralho.
Eu tinha coisas para dizer, mas eu não iria começar até que
a menina se sentasse e parasse de se remexer. Eu não gostava
de distrações, e ela era uma distração, ainda que mínima.
Algo caiu ruidosamente atrás de mim antes de Alrik berrar:
"Pelo amor de Deus, Pimlico, vá sentar."
PEPPER WINTERS
Imediatamente, ela correu para a sala e ajoelhou-se no
tapete branco da mesa de café, retomando a mesma posição
curvada que tinha estado antes que eu a convidasse para
comer.
Ela não tocou o mobiliário, quase como se ela não fosse
permitida. Como um cão ruim que tivesse sido estapeado
muitas vezes por saltar sobre sofás arrumados.
Quanto mais eu descobria sobre esse desgraçado, mais eu o
desprezava.
Ignorando Pimlico enquanto ela estava amontoada no chão,
Alrik propôs um brinde. "Por estarmos sozinhos e sermos
capazes de discutir o nosso novo empreendimento."
"Não tão rápido."
Eu pensei que eu poderia beber essa merda, mas eu não
podia.
PEPPER WINTERS
dinheiro. O negócio era negócio. Mas quando os instintos
gritavam para ignorar o acordo e sair... Eu escutava.
Só que eu não queria ir.
Ainda não.
PEPPER WINTERS
era forte no interior, mas ela não tinha encontrado sua
liberdade apesar implorar por ela, o que a fez necessitada.
E eu me envolvo com necessitados.
Hum.
PEPPER WINTERS
Eu estive em torno de outros que se recusaram a falar.
Fazer um voto de silêncio não era tão incomum na minha
profissão (ou melhor, ex profissão), mas esta explicação não me
satisfez totalmente.
Principalmente porque eu não era um idiota como Alrik.
Sua escrava lhe obedeceu, mas ela o odiava com toda a
força. E de onde eu vim... Isto não era boa coisa. Se meu apelido
era Kaitou por conta do ‘Ladrão Fantasma’, o dela seria
Mokusatsu. Morte Silenciosa.
Ela absorvia tudo, apenas esperando por uma oportunidade
de acabar com a vida dele.
Boa sorte para ela.
Com base nesta breve interação que tive com eles, ela
merece a vitória em cima deste idiota rico excessivamente
mimado. Ela só tinha que perceber o seu poder e se
comprometer.
"Não é desgastante negociar." Eu apertei os dedos,
segurando a minha ira. "É cansativo negociar com pessoas não
confiáveis."
Alrik franziu a testa. "Olha, você sabia qual era o negócio
quando você chegou aqui. Você foi altamente recomendado. Não
me faça ficar arrependido de tê-lo convidado para a minha
casa.”
Eu sorri. Este idiota achava que ele era melhor do que eu.
Que ele poderia ganhar.
PEPPER WINTERS
Errado.
PEPPER WINTERS
Imediatamente, a menina colocou-se de pé e correu para o
meu lado.
Meu coração batia forte quando ela empoleirou-se como um
pássaro frágil no couro branco austero, suas coxas tensas ‒
pronta para voar se Alrik mudasse de idéia.
A julgar pela forma como ela manteve seu corpo de frente
para ele, achei que ele mudava de ideia frequentemente ‒ seja
para ofendê-la ou machucá-la.
Olhando para minha jaqueta arruinada com a manga
molhada e os pulsos pingando, pendurada em seus ombros de
forma desleixada, eu pedi, "Dê-lhe permissão para me obedecer
sem ter que passar por você." Eu olhei para cima, atraindo a
atenção e Alrik com o comando.
Faça.
PEPPER WINTERS
permitido. Mas eu não precisava da porra do Alrik para abrir as
portas para mim. Eu podia arrombar essas portas conforme a
minha vontade.
Não, essa menina me interessa mais do que Alrik jamais fez.
Ela vale o preço se tudo der errado.
Alrik encarou sua escrava antes de me dar um breve aceno
de cabeça. Ele não gostava de mim antes. Agora, ele me odiava.
Eu sorri friamente. "Você disse que eu poderia usá-la."
A menina tremia, seu corpo enviando ondas de temor ao
longo do sofá. Eu não tinha tocado nela ainda, mas todas
minhas terminações nervosas estavam sedentas de necessidade.
"Pimlico." Alrik inclinou-se para frente, sua mão branca
apertando com força o seu copo. "Obedeça ao Sr. Prest como
você me obedece. Entendeu? Faça o que ele quiser, sem
hesitar".
Eu lutei a emoção correndo pela minha espinha.
Pimlico olhou para mim, antes de deixar cair o olhar para o
chão. Ela não assentiu ou deu qualquer indicação de estar de
acordo.
Mas eu sabia que ela tinha ouvido, avaliado e aceitado os
novos termos.
O fato de ela não falar alimentou meu interesse ‒ não
porque eu queria seus segredos, mas porque ela me desafiou a
fazer o que meu professor tinha ensinado uma década atrás:
‘Ouça com todo o seu corpo, não apenas com seus ouvidos. Veja
PEPPER WINTERS
com todo o seu ser, não apenas com seus olhos. E julgue com
toda a tua alma, não apenas com a superfície.’
Eu nunca esqueci essa lição. Eu não era o tipo de pessoa
que aprendia algo e, em seguida, jogava o conhecimento no lixo.
Mas mesmo assim ela era uma boa revisão.
Eu queria ficar sozinho com ela. Para lhe fazer perguntas
que ela não iria responder, mas que eu ganharia a resposta de
qualquer maneira. Eu queria roubá-la para discipliná-la
conforme a minha vontade e não a deste idiota mentiroso.
Testando a sua obediência, Bati em minha coxa. "Chegue
mais perto."
Por um segundo, ela hesitou. Seus lábios se franziram, mas
ela apoiou a mão no sofá e se moveu.
Ela não chegou tão perto quanto eu queria ‒ já que sua
perna ainda criava um abismo entre nós ‒ Mas eu inalei,
fazendo o meu melhor para sentir seu cheiro.
Ela cheirava a nada.
Não, isso não era verdade.
Ela cheirava ao maldito desespero.
Querendo mudar sua opinião sobre mim, para provar
graciosamente que eu não era um cara tão ruim, eu descansei
minha mão em sua coxa.
Ela tremeu, mas permaneceu sentada, mesmo quando seus
olhos se estreitaram de fúria.
PEPPER WINTERS
Sua pele estava gelada sob o meu toque; sua saia branca
não oferecia propriedades térmicas.
Alrik nunca tirou o olhar lívido de mim enquanto eu a
acariciava com uma delicadeza, com a qual eu aposto que ela
não foi tocada em anos.
Em vez de relaxar, ela só endureceu ainda mais.
Se eu fosse um homem amável, eu teria removido a minha
mão e lhe permitido voltar para o seu lugar no chão onde ela
obviamente sentia alguma segurança.
Mas eu não era um bom homem.
Eu era um torturador. Um assassino. Um ladrão.
E eu queria roubar a sua coragem gota por gota.
PEPPER WINTERS
PALAVRAS E VOZES e negócios.
Há quanto tempo eu estou sentada aqui? Acorrentada por
amarras invisíveis a um homem que eu tinha que obedecer
absolutamente como meu mestre.
Fechei os olhos jargões e promessas vazias voaram através
da sala.
Eu não tinha ideia de qual era o negócio entre o Mestre A e
o Sr. Prest, mas o que quer que fosse valia mais de trinta
milhões de dólares e envolvia frases como ‘indetectável,
irrefutável, e de máxima segurança em termos de velocidade e
entrega. ’
Passou-se tanto tempo desde a última vez que eu ouvi uma
conversa normal, que isto acabou por me induzir a um estado
semi relaxado. Eu estava no centro das atenções, e os
comandos emitidos eram trocados entre estes dois homens e
não direcionados a mim.
Sutilmente, eu esfreguei os joelhos, onde contusões
constantes por ficar de joelhos marcavam minha carne. A saia
branca me incomodava por apertar as minhas costelas e barriga
doloridas da surra de mais cedo.
PEPPER WINTERS
Mesmo que este tempo de pausa fosse agradável ‒ não
importando quão agradecida eu estou por sentar em um sofá
depois de anos me rastejando no chão ‒ ele não seria de graça.
PEPPER WINTERS
Sr. Prest endureceu. "Você duvida da minha ética de
trabalho e contrato?"
"Não. Mas isto é um monte de dinheiro e um arranjo
sensível."
"Assim como todas as minhas transações. Discrição máxima
é exigida de ambas as partes. Não só eu." Sr. Prest ergueu a
sobrancelha, desconsiderando a acusação pomposa de Mestre
A. "Eu tenho a sua palavra de que você nunca mencionará o
meu nome ou a origem do armamento a bordo no momento da
entrega do navio?"
Hã?
O que é isso?
Mestre A tinha dito algo sobre o Sr. Prest estar no mar por
alguns meses e precisar de companhia feminina.
Ele era da Marinha? Vendia segredos de Estado e
espionagem?
Mestre A assentiu. "Claro. Mas apenas se os torpedos forem
indetectáveis por meio de radar".
PEPPER WINTERS
"Com o aumento da tecnologia nos dias de hoje, isso não é
totalmente garantido."
"E você tem certeza de que não é possível obter uma ogiva
nuclear. Eu pagaria a mais por isso."
"Eu disse que não trabalho com elas. Se você as quiser, não
será através de mim." A voz do Sr. Prest se tornou um rosnado.
"Mas você já está ciente desses termos." Seus olhos profundos
se voltaram para os meus, sugando a luz e vida de mim. "O que
você acha Pimlico? Quer ser presa em um barco, ao invés de em
uma mansão? Seu mestre aqui parece estar indo para a
guerra."
Um barco?
Guerra?
PEPPER WINTERS
Não vai funcionar.
O que?
O que estou procurando?
Como você sabe o que eu preciso?
PEPPER WINTERS
Mas se eu não o fizesse... A morte seria a única saída.
Ela tinha uma voz sedutora e calculista, prometendo um fim
à dor e sofrimento. Eu a tinha escutado uma vez e teria
obedecido a seus comandos se as facas não tivessem
desaparecido. Eu pensei que a minha fraqueza momentânea
havia passado.
Eu menti.
Os murmúrios de suicídio se escondiam nos ataques de
pânico, que me aconteciam sempre quando minha força
vacilava. Eu já não era inteira ‒ partes de mim se toram minhas
inimigas, querendo que eu morresse ao invés de sobreviver.
PEPPER WINTERS
Eu não me mexi quando o Sr. Prest manipulou as minhas
articulações, forçando o meu corpo a prestar atenção. No
entanto, quando os meus músculos se tencionaram a espera do
abuso e meu coração acelerou com o nervosismo, seu toque
passou de especulativo para calmante.
Sua respiração se tornou ofegante quando ele olhou para o
lugar no qual os nossos corpos se tocavam. "Eu não vou te
machucar."
Por favor.
Eu não ouvi isso antes.
PEPPER WINTERS
Minha carne se tornou quente e começou a formigar,
querendo mais do seu toque.
Traidor.
PEPPER WINTERS
Eu tremi quando a mesma mão que vibrava com a violência
me tocou novamente. Em um momento, ele era vicioso e cruel, e
no próximo, era sereno e tranquilizante.
Mestre A, levantou e serviu a si mesmo outra dose de
bourbon e a tomou. Seu ódio frágil o perfurava como cacos de
vidro enquanto ele se obrigava a manter a calma.
Mr. Prest não se importava. Sua atenção total voltou a mim,
se aproximando cada vez mais, pressionando o joelho contra o
meu.
Eu respirei profundamente quando sua cabeça se inclinou
em direção ao meu ouvido, fazendo com que seu aroma
inebriante e exótico tomasse meu nariz como um incêndio
florestal. Ele explodiu em meus pulmões e sobre a minha
língua, fazendo-me inspirá-lo e saboreá-lo de uma só vez.
"Diga-me, Pimlico, você gosta de ser tocada delicadamente
ou você está acostumada a uma mão mais forte?" Sua palma
espalhou-se ao longo da minha coxa, agarrando com força
suficiente para me fazer recuar.
Senti a queimação. Prendi a respiração, permitindo que os
receptores de dor se acalmassem e a dormência assumisse. Eu
usei esse truque muitas vezes.
Sr. Prest foi cruel e duro e dominante. Mas sob essa
escuridão, ele não poderia apagar completamente a estranheza
que espreita profundamente de dentro dele. Eu não sei se era
uma estranheza boa ou ruim, mas ele era diferente do Mestre A.
PEPPER WINTERS
Essa excentricidade me atraiu.
Mestre A sentou-se de volta para o sofá, nos olhando com
desdém. "Eu não sei por que você se incomoda. Ela não fala.
Bata nela, a machuque, sussurre, ou a corteje ‒ tudo surte o
mesmo efeito."
Sr. Prest acariciou o minha orelha com o nariz,
murmurando tão baixo que Mestre A não podia ouvir. "Você não
pode usar sua voz, pequena silenciosa, mas você fala do mesmo
jeito." A ponta de sua língua correu sobre a carne altamente
sensível do meu ouvido e desceu até o início da minha
mandíbula. "Quer saber o que você já me disse?" Sua mão se
arrastou mais para cima na minha perna, chegando ao lugar
onde eu mais fui ferida.
Eu passei pela minha adolescência apenas com um flerte
ocasional de um menino ansioso, que ganhou a minha
aprovação para chegar perto o suficiente para me tocar. E
então, eu me tornei mulher com um estupro brutal que
arruinou o sexo para mim eternamente. Tudo sobre o
acoplamento entre homens e mulheres era doente, sujo e
errado.
Nenhuma parte de mim, em qualquer circunstância, queria
ser tocada lá. Não por Mr. Prest, não por Mestre A, e certamente
não por qualquer um dos seus amigos covardes.
Eu o odiava por tomar liberdades. Eu não quero que minha
pele e meus sentidos respondam a seu toque.
PEPPER WINTERS
Eu queria ser insensível.
Indiferente.
E a audácia do Sr. Prest de me fazer sentir as coisas de
novo, de fazer o meu coração bater e meu paladar despertar,
não era justa.
Mas, pelo menos, meu corpo repelia a ele assim como a
qualquer outro homem.
Eu não senti arrepios. Minha boceta não se apertou; meu
sangue não esquentou. Meu espírito pode ter permanecido
firme, recusando-se a quebrar, mas Mestre A tinha quebrado o
meu corpo.
O sexo era revoltante.
O sexo era nauseante.
O sexo não era algo que fosse gostar um dia.
Eu tinha certeza disso.
Isso não impediu o Sr. Prest de passar a ponta dos dedos
entre minhas pernas. Sua voz ficou pesada e baixa. "Eu estou
acostumado com o silêncio, pequena silenciosa. Mas você não é
muito boa em esconder seus pensamentos, os seus olhos
falam."
Afastando-se, ele tocou meu queixo com os nós dos dedos.
"Quer que eu prove isso? Eu sei que você me odeia por tocar em
você, e você não pode parar a fúria em seu interior.”
Seus olhos se desviaram rapidamente para Mestre A, antes
de inclinar a cabeça novamente. Ele passava a impressão de
PEPPER WINTERS
que estávamos sussurrando segredos um para o outro. "Ele não
a vê como eu. Ele não a ouve como eu faço.”
Mestre A se levantou, claramente pronto para esta encerrar
esta reunião. "Eu acho que nós discutimos os principais
detalhes. O resto pode ser feito quando você liberar o contrato
para assinatura final”.
Sr. Prest entendeu a mensagem subjacente.
Vá embora.
PEPPER WINTERS
continuar sendo acariciada porque tinha se passado muito
tempo desde que alguém tinha. Feito isso Eu queria que ele me
libertasse.
No entanto, eu nunca consegui o que queria.
Mestre A se aproximou, encarando a mão do Sr. Prest na
minha coxa. "Você gosta de seu toque mais do que o meu, Pim?"
Sua voz era um estrondo perigoso. "Eu aconselho que você diga
que prefere a mim a esse estranho."
Ele me encarou.
Eu o encarei.
Não o respondi.
Ele não merece saber, mesmo que eu queria falar. Eu nunca
vou preferir a ele. Eu queria enterrar suas cinzas e fazer com
que todos os cães da vizinhança mijassem em sua sepultura.
Nesse quesito, sim, eu muito prefiro muito mais o toque do Sr.
Prest, mesmo que ele o fez sem permissão, em vez de ter
solicitado.
A raiva do Mestre A aumentou conforme o silêncio persistia.
"Houve bastante partilha por uma noite. Agora é necessário
relembrá-la de quem é o seu verdadeiro mestre. O que você
acha disso, minha doce Pim?"
Verdadeiro mestre.
Isso significava pontapés, chicotes, correntes.
Baixei a cabeça, mantendo o meu rosto encoberto.
Você me disse para obedecer-lhe.
PEPPER WINTERS
Raiva tomou o meu peito porque eu sabia que não
importava o que fosse acontecer com seu acordo de negócios, eu
estaria em um mundo de dor no momento em que o Sr. Prest
saísse.
Um pouco instável pelas múltiplas doses de bourbon,
Mestre A saiu da sala e foi em direção ao hall de entrada.
Meu coração apertou 'start' em um cronômetro imaginário,
contabilizando os segundos até que eu fosse machucada
novamente.
Um,
dois,
três,
quatro.
Por favor, não me deixe sofrer novamente.
PEPPER WINTERS
Não ousei olhar para cima. Mesmo sabendo que ele queria
que eu olhasse.
Ele tinha arrancado mais respostas de mim sem falar do
Mestre A tinha conseguido em dois anos. Tivemos um
entendimento tácito entre nós. A química reconheceu nossas
semelhanças e nos ligou. O que nos atraiu? Por que eu sinto
que o conheço de alguma forma?
PEPPER WINTERS
Mestre A aguardava com os braços cruzados. Eu nunca tinha
visto ele tão zangado com outro homem por me tocar.
"Vem cá, Pim." Mestre A estalou os dedos, puxando o fio
invisível em torno de minha garganta.
Instantaneamente, eu coloquei de pé minha estrutura
raquítica, mantendo a cabeça abaixada em sinal de respeito.
Apenas extrema servidão iria me salvar esta noite.
Neste momento o meu sangue já se congelou de terror. Meu
corpo chorou com o pensamento do que iria acontecer. A única
coisa que me encorajava a seguir em frente era o cheiro
inebriante e o calor do blazer do Sr. Prest.
Eu pertencia a uma besta. Mas se isso fosse verdade e
Mestre A era um animal, então o Sr. Prest era o domador. Ele
era o mestre com as gaiolas, as chaves e o poder. Ele tinha a
competência para chicotear os animais até que eles se tornem
submissos, para corrigi-los pelo mau comportamento, e forçá-
los a se agir contra os seus desejos básicos.
Eu não sabia o que era pior.
O animal ou o líder.
"Tire o casaco do Sr. Prest do seu maldito corpo sem valor,
Pim!" Mestre A gritou quando eu me aproximei, me fazendo
recuar.
Meus dedos correram para obedecer, puxando as lapelas
imaculadas e deslizando o material caro pelos meus braços.
Lamentei a perda de calor e conforto imediatamente.
PEPPER WINTERS
Sr. Prest levantou a mão. "Não, eu disse que ela poderia
ficar com ele." Seu olhar se tornou maligno ao olhar para o
Mestre A. "E eu quero dizer isso. Quando eu voltar em poucos
dias, espero vê-la com ele. Compreendeu?"
Mestre A engoliu sua ira, mas sem sucesso em esconder a
raiva em seu rosto. "Sim."
"Muito bem."
Voltando seu olhar perigoso para mim, Sr. Prest murmurou,
"Até a próxima, pequena silenciosa. Não estrague o meu
presente." Com uma última olhada, ele saiu da mansão branca.
A forma pela qual o Mestre A o chutou para fora
demonstrou uma falta de respeito.
A forma pela qual o Sr. Prest saiu demonstrou nenhuma
gratidão.
A guerra foi armada, e eu tive uma sensação horrível que
tinha sido por causa de mim.
Eu não o instiguei.
Eu não me comportei como uma namorada mimada
flertando com os conhecidos de seu amante para causar
problemas. Eu era apenas uma menina que implorava por uma
existência tranquila, e desejava desaparecer para nunca ter que
ver outro homem novamente.
A ira de ambos os lados formou uma unidade, esbofeteando
o meu corpo na medida em que a porta lentamente se fechava.
PEPPER WINTERS
Tal ira quebrar-me-ia, salvar-me-ia, e me faria desejar deixar a
morte.
Lutando contra um ataque de pânico que se aproximava, eu
mantive meus olhos na porção final da garagem.
A última coisa que eu vi, antes de tudo se dissolver em um
ataque de agonia, era o estranho terrível e suas costas
poderosas afastando-se de mim.
PEPPER WINTERS
NO MOMENTO em que o Sr. Prest saiu, eu dirigi-me para o
corredor e a escada.
Eu realizei o meu papel. Eu tinha sido o peão na transação
comercial do Mestre A.
Eu estava feita.
"Oh, Piiiimmm." A provocação do Mestre A soou atrás de
mim. "Onde você pensa que vai?"
Minhas costas se endireitaram e a adrenalina corre por
minhas pernas. Cada instinto meu gritou: ‘Corra!’. Corra e se
esconda o mais longe possível.
Mas eu não iria correr.
Eu nunca corri.
Isto era uma fraqueza, e eu era muitas coisas, mas eu me
recusei a ser uma covarde.
Inclinando o queixo, eu dei-lhe um olhar e continuei a
minha trajetória em direção ao corredor. O som de seus sapatos
no piso pareciam facas prontas para arrancar a minha espinha.
"Você sabe que não deve virar as costas para mim, Pimlico."
Apenas continue.
PEPPER WINTERS
Mais alguns passos.
PEPPER WINTERS
Eu já perdi o controle uma vez esta noite com o meu ataque
de pânico. O absoluto terror tomou o meu corpo frágil no pior
momento possível. Detesto pensar que o estranho me viu dessa
forma. Sem fôlego e azul.
Oh Deus.
PEPPER WINTERS
Mas ele continuou a me seguir calmamente pelas escadas,
observando as minhas ações.
Ele não estava com pressa para me castigar. Nós dois
sabíamos que não existia nenhuma alternativa diferente para
esta noite.
Ele acha que eu fui desobediente.
Eu não concordo.
A dor seria a mesma.
"Você está pronta para mais um presente de aniversário,
minha querida?" Sua risada era rançosa e maligna. "Eu acho
que você é a única que me deve um presente após eu deixar
você sentar no meu sofá. Não quero que você acredite que você
vale mais do que você é".
Ele estava tão perto. Minha velocidade aumentou um pouco.
Ele rosnou quando meus pés atingiram o último degrau.
"Correr não vai mudar o que está prestes a acontecer, Pim".
Suas palavras me atingiram como um empurrão de uma
mão fantasma entre as minhas omoplatas. Não era mais uma
batalha entre lento e rápido, forte ou fraco, corajoso ou manso.
Eu era uma guerreira veterana em combate. Mas eu também
era uma soldada derrotada que queria fugir das linhas inimigas.
Fuja!
PEPPER WINTERS
O instinto me instigou a fazer isso. A necessidade
animalesca de esconder-me não me deu outra opção. Eu não
conseguia impedir minhas pernas de correr, assim como eu não
consegui parar as batidas frenéticas do meu coração rasgando
em meu machucado peito.
Eu não deveria.
Eu seria punida.
Eu deveria lutar contra meu terror e ajoelhar-me. Como
sempre.
Mas eu não podia. Não dessa vez.
Eu fugi.
"Pim!" Ele me perseguiu. Assim como eu já sabia.
Minhas pernas frágeis transportaram o meu corpo magro do
corredor para o meu quarto. Não havia uma porta para ser
fechada e nem uma fechadura para ser trancada. Mesmo o meu
banheiro não tinha porta, não me sendo oferecida privacidade
em nenhum momento.
Eu acho que eu tive sorte por ter o meu próprio espaço, mas
isto foi apenas mais um elemento nos jogos do Mestre A. Não
importa o que eu faça, não há lugar onde eu possa escapar e me
esconder, ele sempre me encontra. Porque ele era o deus desta
casa, e eu era apenas sua prostituta.
Minha boca se abriu com um grito silencioso quando ele
apareceu na porta, ofegante com os olhos irritados. "Eu já não
te ensinei a não correr desse jeito assim que você chegou a esta
PEPPER WINTERS
casa?” Andando em minha direção, ele rosnou: "Será que esse
maldito idiota de algum modo desfez todos os meus
ensinamentos no segundo que ele tocou em você? É verdade?
Responda-me!"
Cada célula minha se encolheu, meu sangue secou e meu
coração parou de bater.
Derretendo no chão ladrilhado, eu implorei mais do que a
qualquer outro momento. Eu não me curvei com meu queixo
dobrado e ombros encolhidos. Atirei-me inteiramente no chão,
com os braços estendidos como eu tinha visto monges fazerem
em profunda oração, pedindo misericórdia, mas sabendo que
não iria obter qualquer.
"Isso não vai te salvar desta vez, cadela." Parei de respirar
quando ele pisou na minha mão esquerda, torcendo o pé, até
que minha pele cedeu.
Eu gritei mentalmente.
Dor.
Dor.
Dor!
Meu grito silencioso foi tão alto que fez meus tímpanos
sangrarem.
"Você gostou dele tocar em você, não é!? Não negue, porra.
Eu sei a verdade. "Ele pisava mais forte na minha mão,
PEPPER WINTERS
colocando todo o seu peso sobre os ossos minúsculos e
quebráveis. "Você acha que eu não percebi? Que eu não vi o
jeito com o qual você olhou para ele? Foda-se, Pimlico você é
minha!"
Gritei de novo, me afogando no som doloroso de agonia, mas
o quarto permaneceu em silêncio enquanto ele pisava de novo e
de novo, fazendo o seu melhor para quebrar os dedos delicados.
"Só porque você não fala não significa que eu não sei
quando você está mentindo para mim, porra!"
Clique.
PEPPER WINTERS
Desligar-me.
Isso não significa que eu poderia ignorar a latejante e
berrante agonia que ricocheteou pelo meu braço. O mantra só
me permite compartimentar e ficar alerta para antecipar o que
vem a seguir.
Ele deixou de esmagar a minha mão, para poder me chutar
nas costelas.
Lutei contra a vontade de me encolher. Mesmo que ele
tenha me chutado há apenas algumas horas e que as minhas
contusões anteriores se tornem mais doloridas, ou que eu tenha
um sangramento interno.
Tudo que eu podia fazer era permanecer reta e suportar o
seu abuso. Eu vou fazer o meu melhor para adormecer os meus
sentidos e aceitar as opções que eu tenho: ou eu sobrevivo a
esta noite, para depois lamber as minhas feridas em privado e,
finalmente, chorar abertamente, ou ele me mata e nada mais
será importante.
PEPPER WINTERS
coxa, então o meu joelho, panturrilha e tornozelo. "Diga uma
palavra e eu paro."
Não.
Nunca.
Esta batalha não era nova. Eu já a lutei muitas vezes antes.
No entanto, ele foi mais cruel esta noite, tudo por causa do Sr.
Prest.
PEPPER WINTERS
Não!
Que verdade?
Não há nenhuma verdade!
PEPPER WINTERS
Eu sou uma mulher.
E eu não sou sua.
Não importa por quanto tempo você me possuir, eu nunca vou
ser sua.
PEPPER WINTERS
Ele enfiou a cara na minha. "Mas você tinha que arruinar
tudo, não é porra?! Você tinha que ficar molhada para esse filho
da puta enquanto ele tentava me tirar milhões. Você teve a
audácia de deixá-lo tocá-la e gostar disso".
Afastando-se, ele passou as mãos instáveis pelo cabelo. Seu
tremor combinava com o meu, mas por razões completamente
diferentes. Eu lutei contra o terror com os últimos restos de
força que possuía. Ele estava bêbado da brutalidade e pronto
para agir.
Enrolando a corda em torno de sua mão, ele riu. "Sabe o
que eu acabei de perceber, doce pequena Pim?" Ele fez a corda
de chicote. "Eu percebi que se passaram muitos meses desde
que eu fiz você gritar."
O primeiro golpe me acertou no peito, criando um vergão
lívido instantaneamente.
Eu apertei meus lábios e olhei para o teto. Eu teria dado
qualquer coisa para afastar-me para o lado e enrolar-me em
uma bola. Eu tinha estado com ele por tempo suficiente para
saber qual era seu plano.
Não era algo bom.
Ele me chicoteou uma e outra vez, as minúsculas fibras
corda cortando a minha pele macia como uma lâmina afiada.
Filetes de sangue brotaram nos meus seios e baixo ventre.
"Lembra daquela noite ... quando eu quebrei o seu braço?
Você fez o som mais doce." Ele agarrou seu pau através da
PEPPER WINTERS
calça, antes de desfazer rapidamente o cinto, tirar a calça e
jogá-la no chão. Ele não usava roupa de baixo, e seu pau feio
saiu de uma moita de cabelo loiro. "Quando eu a ouvi gritar?
Porra, isso me deixou excitado."
Rasgando a camisa, ele subiu no colchão, nu, com apenas a
corda em suas mãos.
Eu desviei os olhos.
De agora em diante, eu não olharia para ele. Ele iria fazer o
seu melhor para fazer-me berrar. Ele me forçaria a assistir.
Ordenar-me a ouvir cada coisa depravada que ele dissesse. Mas
ele não poderia fazer-me ficar.
Quando seu corpo suado atacou o meu corpo enquanto a
corda grossa prendia os meus pulsos e tornozelos, eu disse
adeus a Pimlico e tornei-me Tasmin outra vez.
Eu afundei e afundei.
Voltei para um tempo mais feliz.
Cavando através do meu período de escravidão, minha
mente encontrou a inocência.
Onde nada e ninguém poderia me tocar.
PEPPER WINTERS
Quem é ela?
PEPPER WINTERS
tinha feito a minha mãe quando eu tinha sido um homem
melhor. "Bom. Organizar a reunião final para que possamos dar
o fora deste porto."
"Muito bem." Ele retirou-se do meu escritório, carregando a
pasta de papel pardo grosso cheio de esquemas e letras miúdas.
Eu não relaxei até que o ruído suave da porta sendo fechada
encontrou meus ouvidos.
No momento em que eu estava sozinho, eu plantei meus
cotovelos sobre a mesa e esfreguei o meu rosto.
Eu era muito ocupado para esta porra absurda.
PEPPER WINTERS
corporais. Coisas ruins aconteceram quando eu cedi aos meus
desejos.
Em breve.
Mais um dia.
PEPPER WINTERS
‒ mesmo fazendo coisas para sobreviver que não teria a
aprovação de muitos.
Antes que eu tivesse dinheiro ... a vida era fácil. Eu sabia
quem eu era. Eu sabia o que era. Mas então, o destino decidiu
me dar ouro em vez de sujeira, fazendo com eu me tornasse
alguém na vida.
Fui feito para ferir aqueles abaixo de mim, para manipular e
controlar. Então, por que diabos eu me sinto como se eu tivesse
esmagado um rato de sarjeta sob meu sapato quando eu havia
sido apenas bom e cortês?
Droga de mulher.
PEPPER WINTERS
Eu deveria estar feliz.
Mas eu não podia me livrar deste sentimento repugnante
como se eu tivesse feito algo do qual eu não poderia me
orgulhar.
Minhas mãos se fecharam em punhos. Eu não tinha dado a
ela a minha própria jaqueta, porra? Eu não tinha falado
cordialmente e me assegurado de que ela comesse?
Sim!
Então, por que não posso esquecê-la?
Ela deve ter ficado muito grata pela minha atenção. Tratei-a
muito melhor do que o seu mestre já fez algum dia.
O que lhe aconteceu nos dois dias desde que eu tinha
estado lá? Ela havia sido molestada outra vez? Bateram-lhe de
novo?
Não que isso importasse.
Eu tinha visto as pessoas terem os dentes arrombados e
ossos quebrados na rua. Eu tinha visto homens terem seus
dedos cortados em um restaurante cinco estrelas, onde chefes
da máfia não tinham medo de retaliação.
Eu vivia em violência.
Eu era violência.
Portanto, o pensamento de uma menina recebendo uns
tapas não devia malditamente me incomodar.
PEPPER WINTERS
Mas incomodou...
Alguém bateu na porta do meu escritório.
Virando-me, eu rosnei, "Entre".
Uma das empregadas entrou na ponta dos pés, carregando
uma bandeja com o almoço desconhecido sob uma cúpula de
prata. Ela não disse uma palavra, mas andava com confiança,
colocando a comida na minha mesa com um sorriso educado
antes de se retirar.
Ela movia-se com liberdade e felicidade.
Pimlico movia-se com a servidão e depressão.
Eu a quero.
PEPPER WINTERS
Porque um homem como eu nunca poderia ter uma
segunda chance.
Foi a minha lei mais inquebrável.
Amanhã, eu voltaria e completaria o nosso negócio.
Eu deveria estar animado por mais um negócio bem
sucedido.
No entanto, eu não poderia ligar menos para isso.
O que meu empolgou foi o pensamento de encontrar a
escrava e roubar seus segredos silenciosos.
PEPPER WINTERS
Dois dias se passaram.
Depois da surra, quando o Sr. Prest se foi, e Mestre A me
usou impiedosamente. Neste dia, ele me fez desejar que eu
tivesse sido mais corajosa e me matado o momento em que ele
me comprou. À noite, ele me fez dormir como um cão enrolado
no fim de sua cama, onde ele poderia me chutar em seus
sonhos e em seguida me estuprar quando acordasse.
Pela manhã, eu estava privada de sono e tremendo de
agonia residual.
Ele não chamaria o médico para cuidar da minha mão, e
depois de fazer o café da manhã, eu saqueei o armário médico
no banheiro do térreo, fazendo o meu melhor para corrigir-me.
Eu encontrei uns curativos e analgésicos ‒ não bons o
suficiente para corrigir o estrago feito ‒ mas melhor do que
nada.
Por que me dar ao trabalho?
Eu não fazia ideia.
Ele simplesmente me machucaria novamente e novamente.
Era inútil dar o meu corpo uma tentativa de sobrevivência
PEPPER WINTERS
quando a minha alma já tinha embalado suas malas e pulado
ao mar.
No entanto, quando eu enfaixei os meus dedos quebrados e
passei arnica sobre meus braços e pernas, minha mente vagou
para o Sr. Prest.
Ele tinha causado a minha dor.
Ele foi a razão pela qual Mestre A foi tão vil.
Eu nunca esqueceria isso.
Eu não queria ter nada a ver com seu blazer, seu cheiro
exótico, ou pensar em seus olhos negros e características
ferozes.
Ele não era nada para mim. Assim como eu não era nada
para o meu mestre.
A única graça foi que eu não tinha visto Darryl, Monty, ou
Tony desde a noite eles foram expulsos. Eu não acho que foi
porque o Mestre A precisava de um descanso de seus supostos
amigos, mas porque ele estava com ciúmes da atenção dada a
mim.
"Oh, Pimlicooo? Saia, saia, de onde quer que esteja."
Estremeci quando meu inimigo apareceu na cozinha.
"Ah, aí está você."
PEPPER WINTERS
Vindo atrás de mim, ele envolveu os braços terríveis volta do
meu corpo doloroso. "Senti sua falta."
Vá para o inferno.
Livre…
PEPPER WINTERS
Meu queixo levantou-se quando eu olhei para longe. Meus
dedos dos pés descalços cavavam os azulejos frios, encolhendo
o meu corpo nu sob seu toque. Desde a partida do Sr. Prest, eu
estava nua e todas as roupas desapareceram mais uma vez.
Em um momento, Mestre A me apertou, e no próximo, ele
me jogou em direção a pia, golpeando meu rosto com o punho.
"Eu perguntei se você foi uma boa menina, Pim. Responda-me."
Eu olhei através de lágrimas, olhos vidrados, segurando
minha bochecha ardente.
PEPPER WINTERS
Na hora do almoço eu tive o meu corpo empurrado e
pressionado no couro branco de seu sofá enquanto ele me
chicoteava.
E agora, era noite.
O pior momento.
Por anos, eu tinha mantido um pouco de dignidade. Eu
mantive o meu silêncio. Eu amaldiçoei com força e mantive o
queixo acentuadamente inclinado. E não importava o que ele
fazia, eu nunca deixei ele me quebrar. Mas ao fazer isso, fui
tomada por pensamentos de assassinato e fuga que poderiam
encher uma enciclopédia inteira.
Eu estava pronta para matá-lo ou ser morta.
Eu não poderia viver assim por mais tempo.
Eu queria sair.
Agora!
*****
PEPPER WINTERS
Eu tinha sido alimentada esta tarde, o que foi a primeira vez
em vinte e sete horas. Não que eu estivesse contando ou
qualquer coisa. A refeição consistia de restos de lasanha
servidos em meu recipiente de cão.
Foi uma das minhas pequenas vitórias. Eu tinha ganhado
na noite passada.
Eu antecipei seus planos, e com alguns olhares bem
colocados, mudei seu humor de volátil para sã. Ele ainda me
machucou, mas não tanto quanto ele tinha previsto. E hoje, ele
concordou que eu era uma boa menina.
Idiota.
PEPPER WINTERS
Ele me bateu na cabeça com tanta força que eu apaguei, e
ao acordar vi que ele me usou sem minha permissão.
Lambi meus lábios, correndo minha língua sobre a carne
rachada e ferida das gengivas. Na minha perspectiva, era a
melhor forma de preparar meu corpo para uma tarefa tão
desagradável. Na dele, era um gesto sensual, que indicava
vontade de chupá-lo.
Mestre A gemeu quando ele arqueou seus quadris para fora
do sofá, desfazendo seu zíper, e puxando para fora seu pau.
"Você se tornou tão talentosa nisso, minha doce Pim."
Agarrando o controle remoto ao lado dele, ele desligou os sons
de explosões e tiros, substituindo o filme por macios sons de
violino e piano.
Instantaneamente, eu tremi com repulsa.
Música clássica.
Intrinsecamente ligada a meu abuso. Eu não sabia se o
Mestre A era inteligente o suficiente para acorrentar minha
mente com música ao obrigar o meu corpo fazer coisas
abomináveis. Mas minha mãe teria ficado intrigada com seus
métodos. Ela ficaria louca para descobrir por que eu queria
explodir em lágrimas no momento em que a nota trêmula do
instrumento suave ecoou em torno de mim.
Encostando-se no sofá, Mestre A agarrou minha nuca,
guiando meu rosto para seu colo. "Estou tão feliz que você está
PEPPER WINTERS
se comportando novamente. Parece que a nossa pequena
conversa fez-lhe muito bem”.
Bing bong.
PEPPER WINTERS
de realizar minhas obrigações enquanto me refugiava na minha
mente e adormecia.
Empurrou-me para longe, sem remorsos por me derrubar
quando ele saiu do sofá, ajustando a sua calça jeans e fechando
a braguilha. "Se for aquela merda do Darryl, eu disse a ele que
era amanhã."
Porra.
PEPPER WINTERS
Deixei de observar o crepúsculo e me arrastei para o lugar
onde ele me disse para esperar.
Embalando a minha mão enfaixada, eu olhei para cima
quando Mestre A entrou na sala. Seu rosto tinha perdido o seu
desejo de antes, o substituído com aborrecimento gritante. Ele
jogou algo macio e branco em meu corpo nu.
"Porra! Eu esqueci que ele viria hoje."
Meu coração disparou até que eu prometi amarrá-lo se ele
não parasse.
Quem?
Quem está vindo?
PEPPER WINTERS
Oh, meu Deus, ele está de volta.
O maldito Elder Prest.
PEPPER WINTERS
Sr. Prest era apenas um homem. Um homem que eu não
gostava. Um homem que com apenas uma vista encheu o meu
mundo de dor.
PEPPER WINTERS
Você é mais forte do que isso. Você é melhor do que todos
eles.
Eu o proíbo.
PEPPER WINTERS
Meu coração continua a bater loucamente, mas eu ganho a
guerra. Meus olhos permaneceram firmes no chão.
O Sr. Prest avançou alguns passos, colocando as suas
longas e fortes pernas em um lugar que eu não desejava.
Pernas não eram tão ruins.
Eu poderia lidar com as pernas... Na verdade com os
tornozelos.
Até aí tudo bem.
Mas qualquer outra parte dele, eu não quero ver.
"Recebi. E enviei-lhe os esquemas e modelos do projeto." O
Sr. Prest tirou algo de dentro da pasta de couro que estava em
suas mãos, fazendo um barulho áspero. "Aqui."
PEPPER WINTERS
Se eu escorregasse e olhasse para cima, eu duvidava que eu
vivesse até amanhã. Mestre A considerava eu tinha algum tipo
de fascinação doente (ou era atração?) por este monstro que eu
não podia suportar).
PEPPER WINTERS
Eu mal podia respirar. O Sr. Prest de alguma forma roubou
todos os sentidos e os guardou com ele.
A batalha para manter a minha cabeça baixa tornou-se
cada vez mais difícil de vencer. Cada arrastar de pés e farfalhar
de suas roupas me instigava a dar uma espiada.
Uma espiada.
Eu não posso.
Respirando fundo, eu fiz o que eu nunca pensei que eu iria
fazer e foquei-me na música clássica, tentando ignorar o meu
fascínio repugnante pelo nosso visitante.
De bom grado deixei os instrumentos de cordas me
distraírem, mesmo que eles só me trouxessem pesadelos
geralmente.
Isso é Mestre A: um pesadelo. E algum dia, eu vou acordar e
será o fim.
Mover-me?
PEPPER WINTERS
Correr o risco de olhá-lo sem permissão?
Minha coluna tencionou em desobediência.
Quando eu não me movi, Mestre A baixou a voz. "Será que
você não me ouviu?" Empurrando meu joelho com o seu dedo
do pé, ele resmungou: "Vai!"
Meu corpo rosnou com muitas dores quando eu me levantei,
derrapando na cozinha. Milagrosamente, eu mantive meu
queixo dobrado e os olhos para baixo. No entanto, mesmo sem
vê-lo, eu senti o Sr. Prest me observando. O ouvi pensar em
mim.
Sua sombra espreitava o meu campo de visão enquanto eu
corria em torno da bancada.
Em nenhuma vez o Sr. Prest se dirigiu a mim. Ele não
brincou comigo como da primeira vez quando me deu um
apelido.
Ele não foi ameaçado pelo Mestre A, então por que não
estava sendo bom e gentil como foi da outra vez?
Eu não queria admitir, mas a sua frieza me doeu mais do
que um chute do meu dono estúpido.
Isto era cruel. Quando uma pessoa só recebe maus tratos,
ela não espera por algo melhor, mas quando uma pessoa recebe
carinho e cuidado e depois é abandonada é muito pior.
Foi este o objetivo do Sr. Prest desde o início?
PEPPER WINTERS
Mantendo o meu rosto coberto por meu cabelo, tanto
quanto possível, eu fui para a pequena despensa, onde uma
pequena adega estava localizada no chão.
Pressionando um botão prateado na parede, o alçapão se
abriu e uma garrafa de Bourbon que Mestre A havia selecionado
foi entregue automaticamente pelo sistema.
Agarrando o licor caro, eu tremia enquanto despejava em
taças a bebida.
Eu derrubei algumas gotas.
De costas rígidas. Esperei por uma repreensão.
Eu tinha deixado cair uma garrafa uma vez.
Eu só tinha estado com o Mestre A por um mês, e ainda era
rebelde. Eu não me recordo se eu a deixei cair por acidente ou
se foi de propósito.
Mas eu me lembro da punição muito bem. Ela envolvia os
cacos da garrafa quebrada e licor sendo jogado nos cortes que
ele desenhou em minha pele.
Eu chorei silenciosamente.
Mas eu não tinha dado a ele o que ele mais queria, a minha
voz.
Não que isso importasse. Ele tinha curado o meu jeito
desastrado nesta ocasião.
Ignorando a cicatriz no meu antebraço que marcava aquela
memória horrível, eu rapidamente limpei a bagunça e fechei a
garrafa.
PEPPER WINTERS
Eu guardei a bebida de volta a adega, servi os homens e
voltei para o meu posto, me ajoelhando aos pés da parede com
uma careta de dor mal disfarçada.
O Sr. Prest murmurou algo parecido com um ‘obrigado’,
com os olhos voltados para mim mesmo quando um barulho de
taças brindando cobriu o som da música.
Mas ele não disse mais nada. Nenhuma observação sobre as
minhas roupas ou tentativa de me fazer falar.
Ele me ignorou, concentrando-se em Mestre A.
Pelos próximos trinta minutos, eu mergulhei em minha
mente.
Eu fiquei muito mais feliz em ouvi-los falar do que ser
forçada a chupá-los. No entanto, após as últimas noites sem
dormir, eu lutava para combater a pesada nuvem de sonolência.
Eu lutei para não fechar os olhos, obrigando-me a não ficar
inconsciente.
Eu tinha feito isso uma vez: caí no sono quando eu estava
ajoelhada.
Darryl tinha sido o único a me punir naquela noite. Mestre
A o tinha incitado, dizendo como indisciplinada eu era e
precisava de uma dura lição.
Eu não tinha sido capaz de me mover por uma semana.
O zumbido baixo de vozes de repente parou.
Eu entrei em pânico.
PEPPER WINTERS
Adormeci e eles notaram? Eles me deram uma ordem e eu
estava cochilando?
Meu coração ficou enlouquecido. Quase saiu do peito
quando ouvi o Sr. Prest amaldiçoar baixinho. Meus ombros se
encolheram ainda mais quando ele finalmente resolveu me dar
atenção.
"Este vestido fica melhor em você do que aquela saia feia.”
Sua voz agiu como tesouras, cortando o vestido que ele tinha
elogiado, lambendo minha pele com ameaças afiadas.
Ele deslizou no sofá e sua sombra se aproximou de mim
enquanto o sol terminava de se pôr e as luzes automáticas se
acendiam.
Não olhe.
Não. O. Olhe.
PEPPER WINTERS
Então, por que eu ainda me sinto atraída por ele?
Magia?
Destino?
O que?
PEPPER WINTERS
O Sr. Prest apenas continuou a me encarar, como se
pudesse abrir minha cabeça e tirar dele os meus pensamentos
sem ter que ouvi-los da minha boca muda. Movimentando-se,
ele enfiou a mão no bolso.
PEPPER WINTERS
Eu não fiz nada!
Machuque-o, não a mim!
PEPPER WINTERS
Ao invés de levantar-se para sair, o Sr. Prest reclinou-se
confortavelmente no sofá. O grito do couro caro agiu como uma
interrupção na música terrível que ainda tocava. "Eu não vou
embora. Ainda não."
Quem se importa?
Por que ele insiste em irritar meu dono? Ele não se importa
comigo. Foi tudo um ato para irritar Mestre A e de alguma
forma obter melhores condições no acordo entre eles, seja qual
for.
PEPPER WINTERS
"Ela fez isso para si mesma." Disse Mestre A ao mesmo
tempo em que abria as pernas, numa posição ameaçadora. "Não
se preocupe com um pequeno acidente. Preocupe-se em
entregar o meu iate na porra do tempo certo."
"Oh, eu não me preocupo com coisas desse tipo." Disse o Sr.
Prest também assumindo uma postura agressiva. "Tenho
certeza de que sua compra será de alta qualidade, cumprindo
as mais rigorosas especificações, e entregue perfeitamente a
tempo."
Mestre A não tinha réplica para isto.
"Então, para garantir que eu cumpra a minha parte no
negócio, que tal responder uma simples pergunta?" Desviando o
olhar do Mestre A e encontrando o meu, o Sr. Prest disse:
"Conte-me."
Merda!
PEPPER WINTERS
vai mentir pra mim, sobre o motivo dela estar toda preta e
azul?”
Sua raiva crescente podia ser percebida em seu rosto tenso
e em testa franzida em linhas furiosas.
Ele estava me intoxicando.
Sua fúria era um cobertor quente, lembrando-me
brevemente o que era ser vista como algo de valor, em vez de
uma coisa estragada.
Meu queixo subiu e minha boca se abriu enquanto
continuávamos a nos olhar.
Ele lambeu os lábios como se algo não dito e não
reconhecido tivesse saído do seu corpo e alcançado o meu. Eu
não tinha escolha a não ser deixar a sua eletricidade corruptível
correr através de minhas veias, passar pelo meu peito, antes de
voltar para ele.
Quanto mais observávamos um ao outro, a ligação entre
nós se tornou mais espessa até que cada célula do meu corpo
ansiava por algo maior, mais forte, mais assustador e mais
seguro do que tudo que já me foi dado.
PEPPER WINTERS
Meu pescoço quis resistir, mas eu forcei-me a olhar para o
chão novamente.
Foi tão difícil quanto arrancar uma unha, mas consegui.
Isso foi apenas um instante antes de Mestre A se voltar para
mim e ver-me dócil e comportada atrás dele. "A mão dela? Não é
nada. Como eu disse, ela machucou a si mesma."
Sério?
Deus, isto é um cliché.
PEPPER WINTERS
Eu fiquei congelada esperando por mais perguntas do Sr.
Prest. Como ela caiu? O que você fez? Por que eu deveria
acreditar em suas mentiras?
Só que, não houve nenhuma.
Lentamente, ele grunhiu em concordância, e foi isso.
Movendo-se no sofá, o Sr. Prest fechou suas mãos. "Nesse
caso, o nosso negócio está completo."
O que? Não!
PEPPER WINTERS
Consegui manter minha cabeça abaixada, mesmo com a
minha mente cheia de maldições e insultos dirigidos a ele pelo
seu jogo horrível. Ele me fez pensar que sentiu algo especial
entre nós e me fez acreditar que eu valia a atenção de alguém.
Estúpida, Pim.
Estúpida, estúpida, estúpida!
Nada!
PEPPER WINTERS
A voz régia e profunda do Sr. Prest rasgou através do meu
manto de depressão. "Ela ainda tem o meu casaco?"
Sim.
E você não pode tê-lo de volta.
Porque eu vou queimá-lo, enquanto pensao em você.
Não me faça ir, seu estúpido. Isso é meu para fazer o que
diabos eu quiser.
PEPPER WINTERS
Mr. Prest riu baixinho, arrastando a antecipação. "Esta
cláusula deverá ser fácil para você. Algo que você não terá
nenhum problema em cumprir já que você ofereceu tal coisa
quando eu estive aqui da última vez."
Não.
Pare.
Sr. Prest fez contato visual comigo, sabendo muito bem que
eu sabia o que ele estava prestes a solicitar, e não poderia dizer
nada sobre isso, tendo que obedecer mesmo que levasse a
minha morte.
Por que isso me aterroriza tanto?
Eu passei os últimos dias pensando na morte, a dele, a
minha e de todos.
PEPPER WINTERS
Eu deveria estar feliz sabendo que depois desta noite,
Mestre A me mataria. Eu só posso esperar que seja rápido ao
invés de uma longa e agonizante tortura.
PEPPER WINTERS
Ele puxou tufos feios de cabelo, me penteando, acariciando
e me preparando para o que tinha planejado.
Eu tremia por uma razão completamente diferente.
Mestre A engasgou. "De jeito nenhum."
O toque do Sr. Prest voltou ao meu couro cabeludo. Engoli
um gemido quando ele mais uma vez me acariciou. A maneira
pela qual ele fazia isto não era sexual, era mais como um
caçador com sua presa; um domador com sua égua derrotada.
"Você se ofereceu para compartilhá-la. Você disse que eu
poderia fazer o que quisesse." Reunindo mais do meu cabelo, ele
puxou um pouco, forçando meu corpo a se levantar do chão e
me sentar ereta pela primeira vez em meses. Minha caixa
torácica decorou o vestido apertado como as teclas de um
xilofone e os meus mamilos endureceram sob o tecido.
Ele me segurou lá como uma estátua. "Eu aceito a oferta."
O temperamento de Mestre A tornou-se mais quente, mais
proeminente e mais louco a cada segundo. "Essa parte do
negócio não está mais em ofer-"
"Está, se você quer que a transação seja completada." A voz
do Sr. Prest se assemelhava a um machado, cortando através
do ar. "Quero ela só para mim. E eu a quero por uma noite
inteira."
PEPPER WINTERS
O ar desapareceu da sala. Entrei em um portal onde o
pânico governava com tempestades e furacões.
PEPPER WINTERS
coração. Não importava. Nunca iria acontecer. Mestre A nunca
iria deixá-lo me ter por uma noite inteira.
Ninguém tinha feito isso.
Ninguém.
PEPPER WINTERS
Meu corpo sofreu um espasmo enquanto eu respirava
audivelmente, odiando o modo como a minha pele se aqueceu a
ser disputada. Eu nunca pensei que eu ia ser tão querida, tão
desejada‒ mesmo que fosse por razões terríveis, eu era valiosa
por um segundo.
"Eu paguei-lhe a porra de uma fortuna!"
"E eu quero algo mais."
"De jeito nenhum."
Os dedos do Sr. Prest se apertaram em volta da minha
nuca, me içando sem cerimônias para os meus pés. Eu não
podia lutar contra a pressão de sua forte aderência, algemada
inteiramente à sua mercê.
Ficar de pé não ajudou com o meu ataque de pânico
iminente. Eu vacilei no lugar enquanto o Sr. Prest me forçou a
olhar para ele. Meus olhos lacrimejantes abriram-se bebendo
seu rosto, como se ele pudesse garantir o futuro e não o fim.
Seu cabelo penteado, preto azulado, grosso, parecia um
poço de piche ‒ pronto para extinguir a minha vida. Seu olhar
escuro brilhou de raiva. "Sim. E eu vou te dizer o porquê." Sua
voz tornou-se um silvo. "Eu sei que você é a pessoa que bateu
nela. Eu sei que sua mão não se quebrou por cair da escada
maldita. E eu sei que a puniu pelas coisas que fiz da última vez
que estive aqui. Eu a quero. Você a trata como uma merda. O
mínimo que você pode fazer é a dar para mim para que eu possa
fazer o mesmo."
PEPPER WINTERS
Meus joelhos se dobraram.
Meu infantil sonho irrisório de finalmente ser tratada
cordialmente foi pulverizado.
Ele queria ... não dormir comigo ... mas me machucar?
Era assim que ele se divertia? Batendo em mulheres já
massacradas?
Minha raiva aniquilou o meu ataque de pânico, dando-me
um pilar para me sustentar enquanto arrastava o ar para meus
pulmões relutantes.
Como ele ousa!
Como esse maldito ousa barganhar o meu corpo, pelo
simples desejo de arruiná-lo ainda mais.
Porra!
PEPPER WINTERS
respeito ao nosso acordo." Ele estreitou os olhos. "Fazendo
negócios ou não. De qualquer forma, eu não vou embora sem
saboreá-la."
Saborear-me?
Mestre A sabia que foi derrotado. Seu olhar caiu sobre mim,
turbulento e possessivo. "Você não vai abandonar as instalações
com ela."
"Bem. Vou passar a noite aqui."
"Onde?"
"Ela tem um quarto?"
Mestre A suspirou. "Sim."
"Privado?"
Ele encolheu os ombros. "Não há nenhuma porta, mas sim,
privado o suficiente."
"Coloque a porta, dê-me a chave para que não sejamos
perturbados, e você tem o seu acordo."
Eu queria gritar e exigir que eles me vissem como um ser
humano. Uma mulher. Não uma transação a ser completada
para a noite.
Eles queriam me machucar.
Isso era tudo o que eu era para eles.
Ambos mereciam morrer.
PEPPER WINTERS
Mantendo meus lábios apertados, eu me enrolei os braços
em minha volta, protegendo meu peito frágil e mão quebrada.
Eu faria sexo hoje à noite.
Eu seria machucada esta noite.
Pelo Mestre A ou o Sr. Prest.
Já não fazia um pingo de diferença.
PEPPER WINTERS
.
"Tudo bem, porra!" Alrik olhou-me com todo o ódio que pode
evocar.
Ele tinha uma obsessão com sua escrava. Pouco saudável.
Perigoso. Uma obsessão que excluía a racionalidade.
E eu simplesmente redirecionei essa possessividade idiota
para mim mesmo, ao demandar a única coisa que eu jurei que
não iria.
PEPPER WINTERS
Que porra estou fazendo?
Isto não iria acabar bem. Era para eu obter as cópias finais
do contrato assinadas, dá-las para Selix para enviá-las para o
meu advogado, e partir em seguida.
Eu não deveria estar passando a noite com uma garota que
estava quase tendo um ataque de pânico porque eu tinha
reclamado ela por algumas horas. Eu não poderia confiar em
mim mesmo. Eu já tinha ido longe demais ao tocá-la.
Um homem como eu tinha regras por uma maldita razão.
Meus dedos apertaram-se. Obriguei-me a não prestar
atenção nos fios sedosos do cabelo dela contra a minha pele.
Seu crânio era tão pequeno sob o meu toque, preso pelas garras
que já tinham assassinado homens para lucrar e roubando de
quem me trouxe prejuízo.
Esfregando o rosto com as duas mãos, Alrik murmurou,
"Dê-me vinte minutos para encontrar a porta. Você vai recolocá-
la. Eu não vou ajudar, porra."
"Eu posso fazer isso." Eu engoli o meu temperamento. "E
não se incomode procurando. Eu não quero que você alegue que
não pode encontrá-la e para começar uma discussão
novamente." Olhando para Pim, eu sorri levemente. "Diga-me
onde ela está e Pimlico vai ajudar."
A escrava ficou rígida, seus ombros duros e afiados.
PEPPER WINTERS
Mais uma vez, o seu silêncio estava cheio de som. Se eu
fechasse os olhos e escutasse com todos os sentidos e não
apenas os meus ouvidos, eu seria capaz de pegar as maldições e
xingamentos que sem dúvida ela estava dizendo e os apelos
inconscientes de compaixão que saiam do seu corpo.
Apelos não funcionam comigo.
Nunca funcionaram.
Nunca iriam.
Alrik bufou, puxando algumas chaves em um aro prata do
bolso de trás. "Você não desiste, não é? Você quer uma noite
com ela? Bem. Acabe logo com isso, porra." Lançando o
chaveiro de metal para mim, ele rosnou, "Ela sabe onde está a
porta. Está em um lugar seguro com um monte de outras coisas
que ela perdeu o privilégio de usar."
Aproximando-se de Pimlico, que ainda estava segura por
mim, ele agarrou suas bochechas, beliscando forte.
Seus lábios formaram um arco inocente quando ele olhou
nos olhos dela. "Agora, minha pequena doce Pim. O Sr. Prest vai
se divertir com você. Assim como todos os nossos outros
amigos, entendeu? Eu não quero que isso aconteça, e nem você.
Então, pense em mim, e não se atreva a gostar de passar um
tempo com ele, porra.”
O corpo dela estremeceu quando ela lutou contra o instinto
de curvar-se e a obediência de ficar de pé.
Desviei o olhar de desgosto.
PEPPER WINTERS
Por que diabos eu tinha lutado por uma noite com esta
menina? Ela tinha sido abusada demais para me querer. Não
importava que eu a trataria melhor do que os idiotas que a
tinham arruinado. Em sua mente, eu era a mesma coisa:
alguém para tolerar, fantasiar a morte, e desligar a alma
enquanto era fodida.
Não tinha nada sexy em roubá-la.
Nada do que eu estava prestes a fazer era certo.
PEPPER WINTERS
Ele era malditamente louco; Tanto que nem sequer tentou
esconder que as contusões multicoloridas no corpo de sua
escrava eram de seus punhos. Alguns outros machucados a
vista, entretanto, pareciam marcas de outra coisa... de sapato,
talvez?
Meu olhar caiu para o meu próprio calçado ridiculamente
caro. De que cor sua pele ficaria se eu o usasse para marcá-la
da mesma forma? Será que seus hematomas seriam mais
bonitos? Será que eu seria mais suave ou mais brutal que seu
dono?
Tantas coisas para descobrir.
Se eu me deixasse ser um monstro como ele.
O que eu não faria.
PEPPER WINTERS
No entanto, será que eu poderia tomar a sua luta final,
sabendo que eu iria matá-la em troca? Isso era frio? Ou eu era
um maldito idiota egoísta, que iria usá-la sem o estômago para
matá-la depois?
PEPPER WINTERS
Lá, ela esperou com os olhos baixos, com o corpo virado
para uma jaula trancada onde três portas, bugigangas, caixas
de papelão, e outros apetrechos descansavam na penumbra.
"Essa é a porta?", Perguntei, passando-lhe as chaves para
desfazer o cadeado. A minha pergunta ficou no ar sem resposta.
Eu não recebi um retorno.
Não que eu esperasse um.
Hesitante, ela pegou o chaveiro oferecido, cuidando para
não me tocar.
Virando as costas, ela tentou um pouco antes de encontrar
a chave certa e abrir o cadeado. Seu estranho silêncio foi ainda
mais pronunciado na garagem sem vida.
Nenhum som veio de seus pés descalços, sem barulho de
respiração, nenhum farfalhar de roupas. Era como se eu
estivesse só.
Se eu não a tivesse tocado para me certificar de que ela era
de carne e osso, eu poderia pensar que ela era um fantasma.
Minha mãe a amaria pra caralho.
Não por causa de sua espancada e quebrada aura, mas
porque era muito raro alguém ser totalmente silencioso.
Meu pau endureceu quando a menina se dirigiu para as
três portas que descansam como guardas aposentados na
parede. Eu de onde eram as outras duas, mas ela estava ao lado
de uma branca lacada com marcas de machado e arranhões ao
longo de ambos os lados, sendo prováveis marcas de sua
PEPPER WINTERS
tentativa de manter o seu mestre fora do quarto e dele fazendo o
seu melhor para chegar até ela.
Imagens do que essa experiência deve ter sido me
invadiram. Ela encolheu-se e gritou quando Alrik conseguiu
abrir a porta? Ou tinha ela esperado deitada na cama já morta
de terror?
Porra.
Merda.
PEPPER WINTERS
Eu me distraí sentindo pena dessa espancada escrava, mas
ela não havia esquecido seu esmagador ódio dos homens.
Eu não desviei o olhar. Mas eu não me explicaria, também.
Eu a tinha como empréstimo por esta noite. Se eu quisesse
tocá-la, eu poderia. O fato de que ela afastou-se de mim
significava que eu poderia denunciá-la ao seu mestre e fazer
com ela fosse castigada.
PEPPER WINTERS
"Levante-se," eu murmurei. Mesmo que minha voz fosse
baixa, o vazio da garagem a amplificava, a tornando
proeminente.
Instantaneamente, ela se pôs de pé. Os estalos de suas
articulações e das cartilagens maltratadas dos seus ossos
pareciam um pequeno tiroteio.
"Não se ajoelhe. Não aqui."
Seu queixo se inclinou enquanto ela balançava no lugar.
Constrangimento caiu entre nós. Eu não estava acostumado a
isso. Eu nunca tinha comprado uma escrava antes. Eu estava
acostumado com pessoas fazendo o que eu queria, sem dizer-
lhes. Eu era malditamente ocupado para lidar com microgestão
de pessoas.
Ter esta menina respondendo a qualquer comando em
minhas mãos mostrou-me que eu não era tão mau quanto
pensava. Eu não quero dar-lhe uma tarefa que ela não tinha
escolha a não ser obedecer. Eu queria que ela usasse o seu livre
arbítrio e me escolhesse, independentemente das outras opções
dadas.
Suspirando pesadamente, quebrei a tensão levantando uma
sobrancelha para os utensílios espalhados por seus pés. Eu não
me importava com a bagunça. Eu só me preocupava com essa
garota louca e a raiva furiosa em seu olhar.
Ela me temia. O fedor do seu medo tomou todo o ambiente.
Mas ela me odiava mais do que receava.
PEPPER WINTERS
Será que ela acha que eu iria fazer com ela o que Alrik
fazia?
Ela tinha razão para pensar isso.
Eu ainda não estava certo do por que eu tinha demandado
uma noite com ela.
Seus olhos pousaram-se na faca grande de açougueiro aos
seus pés.
Meus lábios se curvaram, seguindo seus pensamentos.
"Você já tentou alguma vez?"
Seus ombros enrijeceram-se.
"Alguma vez você já tentou matá-lo?"
Um suspiro audível saiu dos seus lábios. Ela queria me
encarar, mas manteve a cabeça baixa.
Esquivando-me, eu peguei a faca, segurando-a pela lâmina,
em vez do cabo. Pressionando o punho de madeira em seu
estômago, eu sussurrei, "Toque-a. Pegue. Fique com ela.
Esconda-a e faça o que quiser com ela." Minha outra mão
envolveu o seu pescoço. "Use-a nele, mas não ouse usar essa
porra em mim."
Sua mão saudável não reivindicou a arma. Peguei seus
dedos, envolvendo-os ao redor do punho, e deixei a ir. No
momento em que o peso do objeto foi transferido de mim para
ela, virei-me e agarrei a porta danificada. Sem dizer outra
palavra, levei-a da gaiola.
PEPPER WINTERS
Pimlico respirou fundo, tremendo no lugar onde eu a tinha
deixado. Sua face foi tomada pelo medo, não de mim ou do
sexo, mas da faca. Ela deu alguns passos antes do seu desejo
ser cancelado pela lembrança de qualquer punição que sofreu
no passado.
Uma única lágrima rolou pelo seu rosto quando ela se virou
para pegar as facas e garfos espalhados, colocando a que eu
tinha dado a ela na caixa. Quando o espaço foi arrumado, ela
aproximou-se para mim sem se atrapalhar com o cadeado.
Droga.
PEPPER WINTERS
Seus olhos saltaram, mas ela cumpriu o meu comando.
Eu queria ouvir seus pensamentos. O que se passava em
sua mente? Ela estaria preocupada por achar que eu vá usar a
faca nela? Estaria esperançosa de que eu usasse a faca em
Alrik?
Seu silêncio era impecável, deixando-me ansiando
raivosamente por respostas.
Virando-me, eu carreguei a porta enquanto Pimlico
arrastava-se atrás de mim. O tilintar suave das chaves me fez
sorrir.
O barulho soava como um sino.
Um sino ao redor do pescoço de uma ovelha inocente indo
para o matadouro.
Eu só não sabia se eu era o carrasco cruel ou o pastor que a
resgataria.
PEPPER WINTERS
Nós estávamos sozinhos.
Meu quarto tinha uma porta.
Pela primeira vez em mais de um ano.
Meu banheiro ainda não tem uma, e eu podia ver o chuveiro
brilhante da minha posição ajoelhada nos pés da minha cama,
mas, pelo menos, o corredor estava escondido e a paz caiu,
ainda que brevemente, no meu quarto.
O Sr. Prest havia apontado para o tapete branco com uma
sobrancelha levantada quando eu tinha lhe mostrado que o
quarto era o meu. Ele tinha olhado ao redor do espaço
indefinido com uma decepção furiosa.
Eu não sabia por que ele estava com raiva. A decoração era
tão branda e dura que ninguém poderia achar que era muito
berrante.
No momento em que me ajoelhei no chão, Sr. Prest virou as
costas para mim e foi fixar a porta. Ele não podia fazer um
trabalho perfeito, sem as ferramentas necessárias para proteger
as dobradiças, mas a madeira nos impedia de visitantes, e ele
apoiou o aparador em frente a ela, dando-nos um elemento de
privacidade.
PEPPER WINTERS
Privacidade.
Estúpida, Pim. Você não mais está protegida aqui do que você
estava ao correr em torno da mansão.
Eu estou provavelmente ainda mais em perigo.
PEPPER WINTERS
parede ou duas, olhando para o teto, como se pudesse penetrar
no chão e ver no meu quarto. Ele não lidaria bem com a ideia de
eu ser usada em particular.
Ele havia sido banido.
Por que, oh por que, você não pegou a faca quando teve a
chance?
PEPPER WINTERS
Mas, pelo menos, quando ele invadisse o local (uma vez que
o seu temperamento explodir cansado de nos assistir), eu
poderia ter algo para me defender.
Eu seria punida por tudo, não apenas o pequeno lapso na
garagem.
Eu deveria estar horrorizada, medrosa, chorosa.
Só que eu estava esperando para ser livre por tanto tempo.
Se eu estava na véspera deste acontecimento, então que assim
seja. Esta noite, eu iria me libertar ou morrer.
As duas opções eram igualmente atraentes.
Minha atenção mudou-se para o Sr. Prest. Eu o odiava por
aquilo que aconteceu comigo, mas quanto mais tempo
estávamos juntos, mais minha trama evoluiu.
Ele pediu uma noite comigo, porque ele sentiu o mesmo que
eu.
Ele queria explorar o que era esta sensação crepitante que
existia entre nós.
A princípio, eu tinha planejado ignorá-lo, desligar-me, e
evitar o que ele faria para mim. Mas e se eu pudesse manipulá-
lo para me ajudar? Sim, ele tinha um contrato multimilionário
com o Mestre A que eu duvidava que eu pudesse arruinar...
mas valia a pena a chance.
Eu valia a pena.
Além disso, eu não conseguia deixar de estar curiosa a
respeito do homem que arriscou tudo para estar comigo.
PEPPER WINTERS
O Sr. Prest limpou as mãos na calça depois de tocar a porta
empoeirada. Minha atenção permaneceu quando ele tirou a faca
roubada e colocou-a no aparador bloqueando a entrada.
Ele pensou que me tinha para si mesmo.
Ele pensou que estava a salvo.
PEPPER WINTERS
Como um assassino, ele se aproximou da cama para se
sentar no colchão duro.
Minha cama era o único lugar que eu tinha lençóis para
cobrir-me. Mas, como sempre, Mestre A se assegurava de que
eu não tivesse o suficiente, nada quente para ter uma boa noite
de sono. Não que eu dormisse sem ser molestada no meu
próprio quarto muitas vezes, acontecia apenas quando eu
estava menstruada ou quando o Mestre A ficava doente.
Eu achava surpreendente que em todo esse tempo ele
contraiu gripe duas vezes, teve três constipações e febres,
passou mal duas vezes com dor de estômago (doenças pelas
quais ele me culpou), mas eu não adoeci nenhuma vez.
Mesmo no meu estado de desnutrição.
Movendo-se na cama, e inclinando-se contra a cabeceira
branca onde eu escrevia minhas notas a ‘Ninguém’, o Sr. Prest
deu um tapinha no espaço ao lado dele. "Vem."
Eu tenho um diploma em obediência, graças ao meu
treinamento. Eu poderia não estar na universidade como meus
amigos, mas isso não significava que eu não tinha obtido um
doutorado em cumprir ordens.
No entanto, não foi a submissão que me fez obedecer... Era
a astúcia.
Eu precisava aprender sobre este homem para que eu
pudesse enganá-lo, conquistá-lo e encontrar uma maneira de
usá-lo.
PEPPER WINTERS
Você vai me dar o que eu quero.
Você verá.
Mantendo a cabeça baixa, eu subi (tomando cuidado com a
mão quebrada) e mais uma vez ajoelhei-me com meu queixo
abaixado. Eu nunca tinha permissão para deitar-me por
completo. Meu corpo estava acostumado a ser enrolado e
amarrado, contorcido em qualquer posição que desse prazer ao
meu estúpido mestre.
Ciúme encheu-me quando o meu olhar caiu sobre as pernas
estendidas, longas e ágeis, cruzadas nos tornozelos com uma
confiança indiferente.
Ele não tirou os sapatos, e o couro preto absorvia a luz
escassa. Eles não eram brilhantes ou ostensivos, combinando
com seu estilo sóbrio e escuro ‒ acentuando seus profundos
olhos de ébano e seu cabelo cor de carvão.
Mudando um pouco, ele estendeu a palma da mão, onde
uma pilha de moedas de um centavo manchadas descansavam.
PEPPER WINTERS
"Eu não vou perguntar de novo, porque eu vejo agora seus
pensamentos valem mais do que meros tostões." Pegando uma
moeda que tinha saltado para trás em sua direção, ele a jogou
com o polegar, girando-a no ar. "Então eu vou fazer perguntas
sem oferecer uma recompensa. E você vai responder-me, porque
é o que deseja.”
De jeito nenhum.
Menina, ugh.
PEPPER WINTERS
Por que ele usa o meu nome? Mesmo que ‘Pimlico’ não fosse
meu nome de verdade.
Eu era tão insignificante que não merecia ser chamada da
forma correta? Será que ele acha que eu não dou digna de um
nome, devendo ser chamada por um adjetivo ou verbo?
Eu não me movi.
Não encolhi os ombros ou pressionei levemente a cabeça.
Meu corpo estava amordaçado, assim como a minha boca.
A voz do Sr. Prest pairava no espaço por muito mais tempo
do que o habitual. As palavras suaves eram como a fumaça de
uma vela apagada, ainda visível, mas enfraquecendo lentamente
quanto mais o tempo passava.
Quando a sílaba final foi extinta, ele murmurou, "Você não
gosta disso, não é?"
Gostar do quê?
PEPPER WINTERS
Eu me transformei em pedra. Você nunca saberá.
"De onde você vem?"
PEPPER WINTERS
rosnou, "Eu vou conseguir respostas que eu quero de você,
Pim".
Pode tentar.
PEPPER WINTERS
Quanto mais nos olhávamos, mais profunda a nossa ligação
desconhecida se tornou. A eletricidade maldita estava de volta,
fluindo sem limites, sibilando no meu sangue.
Nunca olhando para longe, seu dedo pressionando em meu
peito se tornou dois, depois três, depois quatro, até a sua mão
inteira pressionar o meu esterno.
Eu fiquei parada. Eu não podia me mover quando ele se
aproximou, com as narinas se dilatando, ao tocar os meus
seios.
Lágrimas brotaram. Em parte devido ao seu toque terno,
mas principalmente devido ao peso do seu olhar que me
empurrava profundamente no colchão. Meu coração não tinha a
menor chance, desistiu de tentar vencer e apenas tombou-se se
fingindo de morto.
"Você gosta disso?"
Seu sussurro quebrou o feitiço.
Não.
De modo nenhum.
PEPPER WINTERS
O Sr. Prest olhou para onde me tocava. Seu polegar roçou o
meu mamilo. A maldita coisa floresceu para ele.
Ver o brilho branco de seus dentes quando ele mordeu o
lábio mais duramente me fez ficar ainda mais arrepiada. Eu
nunca pensei que um homem mordendo o lábio seria tão
excitante.
Mas por Deus, era.
De alguma forma, ele me fez esquecer que eu não estava lá
por minha própria vontade ‒ que não estávamos em um
encontro e que não havia um proprietário louco a ponto de
estourar a porta no momento em que o Sr. Prest tentasse
dormir comigo.
Lembrar-me disso me fez congelar, acabando com todo o
desejo. A conexão que fluía do seu corpo para o meu cessou de
repente, como se eu a tivesse executado.
Afastando-me para trás, eu mantive meu queixo alto. Sua
mão deslizou do meu peito, caindo pesadamente em seu colo. O
silêncio tornou-se um inimigo em vez de um amigo quando a
nossa respiração caiu em um ritmo lento e esfarrapado.
"Você é diferente do que eu pensei que seria." Sua voz
lambeu onde seu toque tinha sido.
PEPPER WINTERS
Ele passou a língua sobre seu lábio, onde seus dentes
tinham beliscado. "Você sabe por que eu pedi uma noite com
você?"
Eu enrolei minha mão boa ao redor do meu corpo quebrado,
para protegê-lo, mas apertando um pouco demasiado duro.
Não.
PEPPER WINTERS
Com um leve sorriso, ele abriu seu blazer e tirou um
telefone celular fino do bolso do peito. "Quase esqueci."
Desbloqueando o dispositivo, ele discou um número, com os
olhos colados em mim enquanto quem ele ligava atendeu.
"Selix, não vou precisar do carro hoje à noite."
A resposta metálica soou, mas não consegui distinguir as
palavras.
"Sim, tenho certeza. Vou ficar a noite. Vamos partir na
primeira hora amanhã."
Liberte-me.
Eu não me importo se você me largar nas ruas.
Apenas ... me tire daqui.
PEPPER WINTERS
Um telefone.
A curta distância.
Poucos segundos se passaram enquanto eu ficava de boca
aberta.
"Acho que você não tem permissão para usar a tais coisas."
O Sr. Prest riu suavemente. "Ele não morde."
Eu tremi.
Quer dizer que... você não irá me impedir?
PEPPER WINTERS
Por um minuto sem fim, eu encarei o telefone. Tudo o que
eu precisava fazer era pegá-lo e discar. Eu poderia falar com
minha mãe depois de tanto tempo. Eu poderia finalmente
informar a alguém o que aconteceu comigo, pedir-lhes para vir,
e acabar com esse terror.
"Claro, que para usá-lo, você terá que falar." A voz do Sr.
Prest colocava obstáculos no meu caminho. "Está em suas
mãos, Pimlico. Fale e ganhe a sua liberdade. Ou não e o telefone
não terá serventia.”
Meus pulmões expandiram-se com raiva. Esse era o seu
jogo o tempo todo. Maldito seja ele. Ele quase ganhou. No
entanto... se ele me permitir fazer a ligação, e eu falar com
minha mãe ... Quem realmente ganha? Eu ou ele?
Nós dois.
PEPPER WINTERS
apareceu, disquei o número da minha antiga casa, cometi três
erros por causa de minhas mãos severamente trêmulas.
Eu tinha um telefone.
Eu estava a segundos de distância de falar com a mãe que
me enfiou nesta bagunça.
Minha garganta se fechou com o pensamento do do Sr.
Prest arrancando o celular das minhas mãos e rindo. Ou que o
Mestre A escolheria este momento exato invadir o quarto. O
pânico rodando. O que eu diria para a mulher que eu tinha
culpado por tanto tempo?
Eu esperei e esperei para a linha para se conectar.
Mãe...
Socorro.
Bip, bip...
PEPPER WINTERS
Não.
Não.
Não!
PEPPER WINTERS
BEM ESSA PORRA saiu pela culatra.
Eu não tinha planejado dar-lhe a opção de falar com o seu
passado, simplesmente aconteceu. Em um momento, meu
telefone era algo tão comum, uma ferramenta que eu usava a
cada hora, de cada dia. No próximo ele era como a porra do
elixir sagrado para esta criatura delicada, que tremia como se o
celular pudesse se transformar em um portal e levá-la para
longe.
Minhas mãos se fecharam em punhos apertados. "Para
quem você ligou?"
Sua cabeça afundou-se ainda mais no colchão. Um colchão
tão duro quanto uma pedra. Ela não era somente espancada‒
todo o seu corpo e rosto ostentavam marcas roxas‒ mas seu
único lugar de conforto garantia que a tortura fosse contínua.
Fiquei confuso tentando imaginar para quem ela ligou. O
pai? Irmão? Namorado? Quem diabos não tinha estado lá para
ela quando ela finalmente teve a oportunidade de pedir ajuda?
PEPPER WINTERS
Eu não tinha o direito de desprezar os entes queridos do seu
passado por não salvá-la quando eu estava prestes a fazer
exatamente a mesma coisa que todos os homens em seu
presente faziam. Eu deveria dar-lhe outra chance, deixá-la
chamar a polícia.
PEPPER WINTERS
Ele não o fez.
Lentamente, sua espinha se ergueu como uma maldita flor
tentadora, levantando os ombros, dobrando o pescoço, e
mostrando o seu rosto raivoso e triste.
Eu não tinha mentido sobre estar perto de outras pessoas
que não falavam a fim de ganhar talentos em outras áreas. Eu
tinha sido iniciado em tal sanção.
Desde o dia em que cheguei ao dia em que saí em desgraça,
os mestres nunca falavam esperando que nós soubéssemos
exatamente o que eles queriam. Eu aprendi outra língua,
tornando-me mais do que bilíngue, mas multilíngue,
compreendendo as nuances do movimento de sobrancelhas,
obtendo dicas em contrações musculares. Quanto mais ficava
em sua presença, mais utilizava essas habilidades.
Limpando a garganta, olhei ao redor do quarto. Não deixei
de notar o modo pelo qual ela ficou olhando para os cantos
superiores das paredes, enquanto eu prendia a porta. Existiam
câmeras e alarmes em toda a maldita casa, até mesmo nos
vidros das janelas.
Eu negociei uma noite ininterrupta, mas eu não iria
conseguir. Alrik não seria fiel à sua palavra. E o pensamento de
estar nu e com as bolas no fundo de sua escrava ‒ vulnerável e
passível de ser surpreendido ‒ não era algo que eu planejava
deixar acontecer.
PEPPER WINTERS
No momento em que Pimlico descansou na posição vertical
sobre os joelhos, eu disse: "Esqueça o telefone. Ninguém mais
existe, somente nós."
Seus olhos brilharam, mas impediu que seus pensamentos
se mostrassem completamente.
"Nesta sala, não há passado nem futuro, apenas o presente.
Tudo que você precisa fazer é se comportar, e eu vou tratá-la
melhor do que os outros."
Sua mandíbula se apertou.
"Não acredita em mim?"
A contração de seu queixo me deu a resposta.
"Você não tem que acreditar em mim. Eu vou provar isso."
Colocando-me de joelhos, eu imitei sua posição. Ao contrário
dela, minhas articulações não estalavam com relutância. Meu
corpo estava afiado, treinado e tratado como uma ferramenta de
valor inestimável, porque isso era o que ele era.
PEPPER WINTERS
Eu congelei enquanto o Sr. Prest se equilibrava de joelhos
diante de mim.
Seu terno farfalhou quando ele estendeu a mão e colocou as
mãos grandes sobre os meus ombros. Seus olhos caíram para
os meus seios como se a obstrução do vestido branco não
escondesse o que estava por baixo.
Eu fiquei tensa, esperando que ele me tocasse lá
novamente. No entanto, seus dedos apertaram os meus braços
esqueléticos, aumentando a pressão até que eu balancei a
contragosto.
Eu lutei com ele, fazendo o meu melhor para ignorar o seu
impulso.
PEPPER WINTERS
O quê?
Como uma mulher que não tem uma escolha?
Sem chance.
Me solte.
Eu parei de respirar.
Meus músculos travaram-se.
O seu toque levou-me me em um redemoinho de horror.
PEPPER WINTERS
Meus lábios se separaram para respirar, lutando duramente
para não afundar.
PEPPER WINTERS
seu mestre. Como eu disse antes, eu vejo mais do que ele faz.
Eu sei mais do que ele sabe. E eu ouço todas as recusas que
você pensa."
Levantando-se de joelhos, elevando-se sobre mim, ele
murmurou, "Eu sei que você tem medo de que eu te machuque
como ele e tire vantagem de você."
PEPPER WINTERS
Seus lábios se espalharam mostrando dentes brancos e
perfeitos. "Ah, finalmente... uma resposta." Sorrindo com frieza,
ele disse: "Eu adivinhei corretamente, não é?"
Não.
Sem acordo.
PEPPER WINTERS
"Você quer que eu continue apertando?" Seus olhos se
estreitaram enquanto meus dedos ficavam brancos com a perda
de sangue. "Porque eu vou se você não concordar."
Se eu fosse metade tão obediente como eu pensei que era,
gostaria de balançar a cabeça e deixar que ele me manipulasse
em tudo o que escolhesse. Mas algo sobre a maneira pela qual
ele me segurava me fez pensar em coisas que eu nunca tivesse
acesso.
Eu nunca gostei de sexo, beijos ou carícias.
Eu duvidava ‒ após passar por toda essa experiência ‒ que
algum dia fosse encontrar prazer em tais atividades. Eu sabia
disso nas profundezas da minha alma. Mas a forma como este
homem estranho me tocava me tornou desesperada e faminta
por coisas que eu não sabia que desejava. Coisas não
relacionadas ao sexo e dominação, mas a igualdade e amizade.
Deus, eu queria um amigo.
‘Ninguém’ me fazia companhia, mas meus rabiscos não
eram o suficiente.
Nada era suficiente.
Ele riu baixinho, seu polegar pressionando sobre o espaço
entre os ossos, onde artérias e veias fluíam. A pressão
aumentou quando ele avançou um, dois, três centímetros para
acima no meu braço, me fazendo tremer.
"Você vai me dizer o que eu quero saber."
PEPPER WINTERS
Meu corpo estremeceu quando seus dedos se enrolaram em
volta do meu cotovelo, me causando uma nova enxurrada de
arrepios.
"Você vai falar comigo."
Falar?
PEPPER WINTERS
Gemendo, ele recuou, segurando a testa da mesma forma
eu segurava a minha. "Droga."
Ouch!
Bem feito.
PEPPER WINTERS
O que ele estava tentando alcançar? Como eu poderia
antecipar o seu próximo jogo quando ele próprio não sabia o
que ia fazer comigo?
Eu me senti como um cachorro seguindo seu líder enquanto
eu copiava sua respiração profunda, me joelhando, e recuando
tanto quanto possível. No entanto, eu não conseguia parar a
sensação nervosa que ele tinha evocado dentro de mim. Eu não
queria ter nada a ver com o interesse latejante que era tão
estranho para mim como refeições regulares e sair ao ar livre.
"Lembre-se, Pim. Novas regras. O que você faz, eu faço. E o
que eu faço, você faz." Com os dedos elegantes, ele espalhou o
material caro de seu blazer para os lados, revelando camisa
preta que vestia por baixo. Lentamente, ele mexeu o tirou,
jogando-o para fora da cama como se ele não tivesse nenhum
valor, o tempo todo me olhando como se eu fosse uma sedutora
inestimável.
PEPPER WINTERS
Não importa que eu ache que ele é algo raro e confuso. O
fato dele encurralar a minha mente, forçando-me a ficar
presente não me incomoda. Mestre A apenas tomava. Ele me
dava a oportunidade de desligar os meus pensamentos e
abandonar o meu corpo ao seu bel prazer.
Sr. Prest não é assim.
Junto com a rebeldia, ele trouxe vida e consciência de volta
para o meu corpo, mesmo que esses sentimentos tenham me
levado a bater minha testa contra a dele e sentir um
formigamento indesejado na barriga, eu não poderia desligar a
minha mente porque a noite foi ao mesmo tempo longa e curta.
Em breve, tudo estaria terminado.
PEPPER WINTERS
A menos que o meu plano funcionasse e o Sr. Prest me
roubasse.
PEPPER WINTERS
Sua caixa torácica era visível. Sua carne aberta, revelando
um dragão escondido sob os ossos.
Mas era.
Meus dedos coçaram para tocá-lo, para inserir a minha mão
na câmara do seu peito e tocar o réptil que sibilava lá dentro.
Em algum lugar dentro de mim, eu sabia que não era real,
apenas um truque excelente. A tatuagem foi feita de modo
tridimensional, parecendo tão realista, que eu jurei que estava
olhando para dentro do seu corpo e testemunhava o coração
batendo na mesma frequência que o dragão exalava sua
fumaça, protegendo seu mestre como o porteiro para a sua
alma.
Sr. Prest não se mexeu. Sentado sobre os calcanhares, ele
permitiu minha inspeção enquanto eu balancei para frente,
presa na ilusão, pensando que se eu me virasse para a
esquerda ou para a direita, eu veria o seu baço, fígado e os rins.
A imagem era tão bem feita e profundamente detalhada, que eu
me contorci com o pensamento de ossos verdadeiros
pressionando contra mim sem estarem envoltos em carne
humana.
"Não é real." Ele passou a palma da mão sobre seu lado que
parecia cavernoso e aberto. Seus dedos não se mancharam de
PEPPER WINTERS
sangue ao tocar na caixa torácica exposta e nem foram
mordidos pelo dragão silvando em sua cavidade. "Vê?"
Soltando sua mão, ele apontou o queixo para minha forma
congelada. "O que eu faço, você deve fazer também." Sua
sobrancelha levantou-se, terminando sua sentença. “Retire a
sua roupa.”
Eu endureci.
Estar nua na frente dele não me assustava. A nudez era
apenas mais um código de vestimenta. Mestre A me ensinou
que não existem lugares particulares ou secretos em meu corpo.
Mas isso foi antes de ver a beleza dele, com ou sem adornos.
Tudo o que eu tinha para oferecer eram contusões
lamacentas e pele privada de sol.
O Sr. Prest abaixou o queixo, os olhos escurecendo.
"Obedeça."
A palavra ondulou de sua boca para os meus ouvidos.
Tornando-me irritada e atordoada.
PEPPER WINTERS
já teria me virado e me tomado sobre a cama no momento em
que a porta estava no lugar.
Ele não estava aqui para me levar rapidamente.
Ele não estava aqui para tomar alguma coisa física.
Pior?
PEPPER WINTERS
Qualquer confiança que ele tinha me concedido rasgou-se
em bolhas cheias de lágrimas.
Pior!?
PEPPER WINTERS
loucos foram, estava acabado antes que Mestre A invadisse o
lugar.
Ele olhou para o que ele acariciava. "Isso assusta você?"
Eu era bonita, muito tempo atrás, mas isso não quer dizer
que meu cabelo castanho escuro e olhos verdes me tornava
atraente para todos os garotos. No entanto, nesse ambiente, eu
poderia dizer com segurança que todos os homens me queriam.
Porque todos os homens que entraram em contato comigo eram
cães violentos, não me vendo como uma pessoa, mas como uma
representação: a liberdade de foder e ferir alguém sem
repercussões.
PEPPER WINTERS
Eu era uma escrava.
Eu não tinha nada próprio.
Minha autoconfiança era uma coisa frágil maltratada, e ele
tinha acabado de pegar o último pequeno pedaço dela restante e
pisou em cima.
Sugando uma enorme rajada de ar, o Sr. Prest esfregou o
rosto. "Abaixe os braços, deixe-me ver."
Obedeci imediatamente.
Ele queria se aterrorizar ainda mais, olhando para o meu
grotesco corpo?
Fique a vontade.
Vergonha?
PEPPER WINTERS
Este homem não tinha noção das regras e leis sobre as
quais eu vivia. Ele não tinha experiência em lidar com criaturas
compradas.
Isso acalmou minha raiva um pouco, sabendo que eu
poderia ser o pior que ele já tinha visto, mas ele não foi o pior
que eu já tinha encontrado.
"O que aconteceu com você?" Sua voz caiu para níveis de
sussurros.
Meus mamilos endureceram com o frio enquanto seus olhos
ardentes me mantinham aquecida.
Será que ele espera que eu diga a ele quando as respostas
estão todas ao seu redor?
Homem estúpido.
"O silêncio não vai salvar você de mim, Pimlico." O Sr. Prest
sentou-se, reclinando-se na cama novamente. Sua cabeça
descansou contra a cabeceira, seus movimentos suaves e sem
pressa. Sem tirar sua atenção de cima de mim, ele endireitou as
pernas e com dedos ágeis abriu as calças.
Engoli em seco.
O tilintar suave da fivela de metal soou alto quanto ele jogou
as extremidades de seu cinto para lados opostos e abriu o botão
antes do ruído duro de um zíper sendo desfeito encher a sala.
PEPPER WINTERS
"Você acha que eu não vou tocar em você só porque eu vi os
seus ferimentos?"
Meu coração tomou o controle, rugindo contra o meu peito
como um ferreiro forjando o aço.
"Você acha que eu sou um cara legal que irá tratá-la com
mais respeito do que os homens que marcaram você?" Ele
puxou o cós da cueca boxer preta de seu estômago tatuado,
inserindo a mão direita em suas profundezas. Sua mandíbula
apertou-se enquanto seus quadris se arqueavam um pouco,
abrindo uma folga para seus dedos se envolverem em torno de
si mesmo.
A maneira como seu rosto estava em profunda concentração
e seus dentes mordiam o lábio era a coisa mais excitante que eu
tinha visto desde que eu tinha sido assassinada e vendida.
"Eu não sou." Sua língua golpeou onde seus dentes tinham
mordido. "Eu não sou alguém que você pode foder. Quando eu
pedir alguma coisa, espero obtê-la. Imediatamente."
Uma onda súbita de medo e revolta me envolveu quando
sua mão se moveu em suas calças.
"Você tem uma escolha. Dá-me o que eu quero ou eu vou
levar o que eu quero." Ele sorriu asperamente, seus olhos
passando rapidamente ao redor do quarto, como se esperasse
uma surpresa a qualquer momento. "Sua escolha."
Pisquei.
PEPPER WINTERS
Eu não entendia este novo jogo. Ele já tinha me dito que
meus machucados mudavam tudo, que ele não me queria. Ele
poderia ter me levado no momento em que ele tinha me
roubado, então por que me ameaçar com o sexo quando ele
preferiria estar em uma cama diferente com uma menina
diferente?
Meu queixo pressionado contra o meu esterno, fazendo o
meu melhor para entender tal perplexidade.
"Olhe para mim." Sua voz ficou rouca enquanto sua mão se
movia, sussurrando com o pecado.
Beliscando minhas coxas para manter algum tipo de
dignidade, eu fiz o que ele pediu. Desta vez, eu não podia parar
o meu fascínio enquanto eu bebia tudo dele. Da forma como
seus lábios brilhavam, a seu estômago subindo e descendo e
sua tatuagem de dragão sob a ilusão ótica de costelas.
"Lembre-se, o que eu fizer, você faz."
Minha boca se abriu em choque.
PEPPER WINTERS
Por que eu iria querer me tocar?
Por que molestar essa parte de mim que já foi tanto
molestada?
Ele mordeu o lábio novamente, dessa vez sugando a carne
molhada em sua boca enquanto seu braço parava. "Você quer
que eu te trate como uma prostituta? Você prefere obedecer a
exigências humilhantes a responder a algumas perguntas
simples?" Sua voz soava como um rosnado. "Você vai aprender
a fazer escolhas melhores em breve."
Nossos olhos se encontraram antes que eu tivesse um
ataque de pânico que trancou os meus pulmões como um
parasita. Eu não posso acreditar que eu me senti mais segura
com este homem, que eu achava que ele era diferente.
Seu rosto se apertou com a frustração quando eu deixei cair
meus olhos, deixando que ele tivesse a autoridade.
"Diga-me de onde você veio. Diga-me quem te roubou e
como Alrik acabou com você. Dê-me isso e eu vou envolvê-la em
seu lençol e protegê-la nas horas restantes que temos juntos.
Não responda e você vai ansiar ter aceitado essa proposta. "
Eu tremi, odiando a forma como o meu corpo se encolheu,
tentando me fazer menor e invisível.
O tempo continuou a passar.
Finalmente, ele suspirou profundamente. "Falar vale muito
para você?" Ele tirou a mão de suas calças. "Nesse caso...
PEPPER WINTERS
vamos ver o quanto sua voz vale a pena quando todo o resto
está na linha."
PEPPER WINTERS
Eu era muitas coisas, mas um abusador, estuprador, e filho
da puta não faziam parte dos meus defeitos e falhas
abundantes.
Sim, eu tinha entrado na casa de Alrik pronto para tomar o
que lhe pertencia.
Sim, eu tinha intenções impuras de usá-la para o meu
prazer.
Eu mesmo me convenci de que ela não era o meu problema,
apenas um adoçante para o nosso negócio.
Mas então ela tinha tirado o vestido.
E eu simplesmente não podia fazê-lo, porra.
Como eu poderia ficar duro por uma menina que tinha tanta
força em seu coração, mas muito abuso pintado em sua pele?
Seu silêncio não era o desafio que eu acreditava. Sua mudez
não era coragem ou ousadia. Era a única maldita coisa que lhe
restava.
PEPPER WINTERS
Eu a tinha ameaçado com o sexo. Eu enfiei a mão dentro
das minhas calças, forçando-a a acreditar que eu transaria com
ela de qualquer maneira. Em vez de terror e desgosto, ela me
olhou com uma resignação fria. Ela vivia em um mundo de dor
e sexo forçado por tanto tempo, que isso era nada para ela. Algo
esperado e forçado enquanto ela permanecia escondida em sua
fortaleza em silêncio, oferecendo o corpo, a fim de manter a
mente.
Porra, isso ganhou o meu respeito.
Mas também me irritou.
Abordar o fosso de seus pensamentos não seria um ataque
simples, mas um cerco difícil.
Ignorando minhas calças abertas e peito nu, eu fiquei de pé,
mais uma vez ficando de joelhos. O aperto das minhas cuecas
boxer machucava meu pau. Mesmo sentindo repulsa por suas
contusões eu não consegui controlar o meu desejo.
Ou era aversão?
Não…
PEPPER WINTERS
Seus olhos me seguiram, escondendo o que ela pensava. A
única maneira de quebrar-la era confundi-la. Fazê-la correr em
círculos, a deixar no escuro e enfurecê-la. Então, talvez, ela
quebraria seu voto de silêncio e me daria o que eu queria.
"Eu pedi uma noite com você porque eu acreditei que era
como eu."
Ela congelou.
Ela já conheceu alguém que usou a honestidade em seu
benefício ao mesmo tempo em que escondia seu passado? Será
que ela se importava que eu identificasse os seus pensamentos
de suicídio por que sabia como eles eram? Que eu uma vez sido
tão ferido como ela, mas ganhei mais de quem tinha me
arruinado?
Ela não merece saber por que ela se recusou a compartilhar
uma única coisa em troca.
Pim encolheu-se mais ainda em sua posição ajoelhada. O
cabelo feio estava pendurado em volta do rosto, lançando
sombras sobre os olhos, impedindo-me de ver seus segredos.
PEPPER WINTERS
Quando eu estava morrendo de fome e vivendo nas ruas,
ninguém me deu uma jaqueta para manter longe a neve ou me
comprou uma refeição para garantir que sobrevivesse mais um
dia.
Eu fui uma inconveniência. Uma monstruosidade.
PEPPER WINTERS
Mantendo contato com os seus olhos, meus dedos
separaram partes de seu cabelo. Ela respirou fundo, quando eu
envolvi uma seção menor em torno da maior e prendi o seu
cabelo em um rabo de cavalo baixo.
"Pronto, em nenhum outro lugar para se esconder."
Sentando-me, eu olhava para ela, finalmente capaz de ver os
ângulos de suas maçãs do rosto, a aridez de sua mandíbula, e o
matiz azulado de sua pele maltratada.
"Você não pode me impedir de obter minhas respostas",
murmurei. "Então, eu desistiria se eu fosse você."
Seu queixo se levantou com altivez.
"Como você ainda está viva?" Eu ri. "Quando você é tão
agressiva?"
Seus olhos se estreitaram.
"Você acha que você se comporta e faz o que é esperado,
mas eu estive te observando." Deixei a minha voz baixar. "Eu
vejo você olhar para ele. Eu vejo o seu ódio. Eu sinto."
Seu olhar disparou para os cantos da sala, com os ombros
tensos.
Segui a sua preocupação. "Você espera que um visitante
indesejado apareça em breve, não é?"
Ela endureceu.
"Você está certa. Ele não permitirá que eu fique por muito
tempo." Eu olhei para a porta. "Eu não sei quanto tempo nós
temos, então eu acho que vou ter que trabalhar rápido."
PEPPER WINTERS
Seu corpo ergueu-se; seu estômago ferido vibrou.
"Eu não quero dizer que eu preciso te foder rápido."
Seus olhos bateram nos meus.
"Se eu te usar desse jeito, vai ser depois que eu aprender os
seus segredos. Não antes."
Um fantasma de um sorriso iluminou seus lábios.
Eu ri baixinho. "Você acha que manter seus segredos irá
protegê-la de mim?"
Sua expressão me agradou enquanto eu passava a mão pelo
meu cabelo e a vi lentamente relaxar com esta inquisição
estranha. "Segredos têm uma maneira de sair com as pessoas
certas pedindo, Pimlico."
De certa forma, eu estava feliz que ela não falava. Minha
própria história estava segura. Ela não iria descobrir as razões
pelas quais eu estava atraído por ela. Ela não saberia que eu
não poderia ir embora ainda porque eu vi o meu passado em
seus olhos.
Ela foi uma pequena interrupção no meu mundo. Meu
interesse por ela não tinha nada a ver com a sua beleza
danificada ou imensa coragem. Nada a ver com a silhueta do
que estava escondido entre suas pernas ou os mamilos rosados.
Eu tinha autocontrole.
PEPPER WINTERS
Eu vou provar isso.
PEPPER WINTERS
Eu a queria. Eu queria me soltar e fazer o que eu tinha
sonhado sobre a noite passada.
Mas eu não podia ... ainda não.
Eu tinha coisas muito mais importantes para fazer. Além
disso, tanto quanto a minha vida estava cheia de pecado (e eu
não me desculpo pelo o que eu sou), eu me recuso a ser como
Alrik. Ela tinha idiotas o suficiente em sua vida. Enquanto ela
pertencer a mim, ela aprenderia que um bastardo ainda podia
ser um cavalheiro.
Deitando de lado, apoiei-me no meu cotovelo e passei um
dedo pelo o seu lado nu. Seus mamilos duros viraram alfinetes,
enquanto seu estômago descolorido ficou ofegante por oxigênio.
Eu não disse uma palavra enquanto eu arrastava o meu toque
sobre uma costela, depois duas, aproximando-me mais perto de
seu peito.
A cada centímetro que eu subia, ela desligava um pouco
mais. Senti-a se afastando, deixando sua mente, usando
qualquer mecanismo que ela desenvolveu para suportar tais
torturas para levá-la para um lugar seguro.
Eu parei.
Ela não respirava.
"Relaxe."
Ela ficou mais tensa do que uma corda de violoncelo.
"Eu vejo que você não gosta dessa palavra."
PEPPER WINTERS
Sua cabeça virou-se, me permitindo ver os olhos
turbulentos, mas amotinados.
"Ou talvez, você não confia nessa palavra." Eu não podia
malditamente culpá-la. Retirando a mão do seu corpo,
deliberadamente coloquei um pequeno espaço entre nossos
corpos na capa. "Ok, vai ser do seu jeito. Sem mais toques. Mas
você me deve, Pim, e eu nunca me esqueço de uma dívida."
Sua testa se franziu.
Eu não sabia se era em negação ou confusão, mas eu
expliquei para ela de qualquer maneira. "A regra que lhe dei: o
que eu faço, você deve fazer. E o que você faz, eu preciso fazer."
Baixei a cabeça, roçando meu nariz sobre sua bochecha. "Você
esqueceu-se de que eu toquei a mim mesmo?"
O colchão balançou quando ela se afastou com os quadris.
Não era muito perceptível, mas eu notei.
E eu não estava feliz com isso, porra.
Se ela achava que poderia evitar que eu a tocasse entre as
pernas, ela não sabia que eu esperava obediência total.
"Você sempre se opõe aos homens em sua cama ou só
comigo?" Minha mão foi para cima, segurando em torno de sua
garganta. "Você já me fez quebrar a regra de não tocá-la. Não
me faça quebrar as outras regras que estão me mantendo na
linha esta noite."
Seus olhos se prenderam aos meus, cheios de incerteza e
pânico.
PEPPER WINTERS
"Ah, isto intrigou você." Afrouxando os meus dedos, eu não
ameacei estrangulá-la, apenas apertei suavemente, prendendo
sua mente em seu corpo, para que ela não voe livre. "Eu tenho
muitas leis que governam a minha vida." Mostrei-lhe os dentes.
"Quer saber algumas?"
Esperei que ela a acenar, piscar fazer algo que poderia ser
um sinal para sim.
Mas ela era muito boa.
Ou muito apavorada.
PEPPER WINTERS
Sombras tomaram os seus olhos, enquanto ela lutava para
superar o sentimento de pânico que a invadia por associar um
toque na garganta com alguma tortura que sofreu.
Tentando chamar sua atenção por outras coisas, perguntei:
"Quanto tempo você tem estado em silêncio? Estou bastante
impressionado. Você evitou as minhas pergunta e ignorou a
vontade de seu corpo de responder-me ‒ mesmo com o pequeno
deslize mostrando o seu pavor."
Seus lábios se franziram, desviando a atenção para sua
boca. De alguma forma, ela transformou o medo em teimosia.
Sua pele voltou a ter cor, queimando sob o meu toque.
Calor nos envolveu. O desejo venenoso e necessidade
intoxicante socaram-me no peito.
Eu não era o único que sentiu isso.
Os sentimentos ficavam mais fortes à medida que tentamos
ignorar sua presença.
Ela intrigou uma parte desumana de mim, embebedando-me
e enchendo-me com coisas complicadas.
Eu não tinha vindo aqui para conectar-me com ela. Eu não
tinha reivindicado ela se sentir. Eu a peguei para roubar seus
segredos.
Isso foi tudo.
PEPPER WINTERS
"Eu tenho uma proposta." Eu lambi meus lábios. "Você
responde a uma das minhas perguntas, e eu vou responder a
uma das suas."
Ela engoliu em seco, sua garganta trabalhando presa sob
meus dedos.
"Você não acredita que eu possa ouvir suas perguntas?"
Arrastando meu toque para seu esterno, eu empurrei em um
hematoma amarelado. "Eu posso. Assim como eu posso dizer-
lhe coisas sobre o seu mestre. Coisas que eu não tenho
nenhuma dúvida que você queria saber por um tempo. Você
sabe por que ele está deixando-me usá-la, mesmo quando isso o
irrita? Por que ele me permite reivindicar o seu bem mais
valioso? É porque você pode ser seu brinquedo favorito, por
agora, mas o que eu estou construindo para ele vale mais do
que uma menina, mais do que dinheiro, mais do que uma vida.
É um bilhete para o poder, e para homens como Alrik, essa é a
única coisa que importa."
Ela sacudiu-se, incapaz de esconder o seu choque.
Contorcendo-se como um peixe preso em um anzol, ela
levantou-se da cama. Fechando as pernas juntas, e agarrando
os joelhos quando se sentou, encostando-se contra a cabeceira
da cama.
PEPPER WINTERS
Eu apoiei-me nos cotovelos, sentando-me. "Isso não foi
muito inteligente." Agarrando o seu tornozelo, eu apertei os
ossos sombreados de preto em seu pé. "Eu não disse que você
podia se mover. Eu não vou te machucar, então não corra,
porra."
Sua mandíbula apertou-se, fazendo com que ficasse ainda
mais fascinado por ela.
Eu tinha exercido bastante o meu autocontrole esta noite.
Ela tinha acabado de me empurrar para a borda.
Pressionando o polegar contra o metacarpo que levava a seu
dedão do pé onde os ossos mal curados mostravam uma lesão,
eu disse: "Assim como ele quebrou sua mão, ele quebrou seu
pé."
Ela respirou fundo, e ao ver que o meu toque permaneceu
na ponta dos seus pés ela aproximou o tornozelo da perna. "Por
quê? Será que é para mantê-la na linha? Você é rebelde e
merecedora de tamanha crueldade? Ou ele é apenas um fodido
doente que ele brinca com você?"
Uma faísca raivosa se acendeu em seu olhar. Pela primeira
vez, eu não conseguia descobrir se ela estava chateada pela
minha implicação de que a punição era merecida ou aliviada
que eu decifrei o que Alrik era.
"Vou te dar a resposta correta. Eu sei que não é você. É ele.
Você não merece uma única contusão que ele lhe deu."
PEPPER WINTERS
Essa conexão maldita tornou-se mais espessa à medida que
ela parou de respirar. Seus olhos mergulharam nos meus e o
encantamento jogou em mim e ficou mais quente, firme e forte.
Não poderia ser autorizado a continuar.
Eu só tinha uma noite. Eu só queria uma noite.
Eu não iria machucá-la, mas eu iria roubar algo dela, e
então... Eu a deixaria.
Porque eu era a porra de um egoísta e não teria a força de
vontade para lutar contra o vício que ela rapidamente despertou
em mim por ela.
Meu polegar acariciou-a suavemente enquanto eu lutava
para conquistar o controle dos meus pensamentos dispersos.
"Eu tenho muitas perguntas para você, Pimlico. Questões que
não me importavam até agora. No entanto, a sua recusa a me
obedecer ao invés de me dissuadir fez o oposto." Eu sorri. "Só
me fez mais determinado."
Colocando-me de joelhos, eu puxei a sua perna. Eu não fui
gentil ou bondoso. Ela escorregou na cama, e no momento em
que ela estava deitada, eu agarrei a sua garganta novamente.
O pânico que eu tinha testemunhado na minha primeira
visita quando eu tinha dado a ela o meu casaco, revelou-se. Sua
respiração parou, incapaz de evitar o sentimento de pânico
sempre que eu tocava seu pescoço.
Se eu fosse um homem agradável, removeria a minha mão e
a tocaria em outro lugar.
PEPPER WINTERS
Mas eu já disse que tenho muitas falhas.
Ela teria que viver com elas.
Eu esperava que ela irrompesse em um ataque lutando para
se libertar, mas mais uma vez ela inspirava e expirava,
domando seu pulso disparado, controlando todo o corpo,
inclusive os olhos.
Porra, ela é muito mais do que eu pensava. Mais guerreira,
mais ferida, mais mulher.
Mas nada disso importava.
Eu ainda iria ganhar minhas respostas.
"Três perguntas." Deitando-me ao lado dela, eu sussurrei
"Farei três perguntas. Se você responder, eu vou deixá-la ir. Eu
não vou esperar algo mais."
Seus olhos se arregalaram quando a minha mão escorregou
de sua garganta para retomar a minha posição sobre o esterno.
"No entanto, se você não respondê-las, então eu vou esperar
tudo. Eu vou foder você, apenas porque eu posso. Vou tratá-la
como uma escrava, porque isso é tudo que você sempre vai ser,
se você não me deixar entrar em sua mente."
Eu a olhei diretamente nos olhos. Meu controle rosnou,
querendo se libertar. Mas eu tinha a disciplina o suficiente
apenas para ignorá-lo. "Primeira pergunta, faz quanto tempo
que você comeu?"
O rosto mostrou a sua surpresa.
PEPPER WINTERS
Eu ri baixinho. "Não é algo que você esperava que eu
perguntasse?"
PEPPER WINTERS
No entanto, eu não mataria Alrik tão rápido. Eu o faria
pagar por seus atos, o deixando viver a vida de Pimlico antes de
terminar com a sua.
O que ela diria se eu admitisse meu plano? Será que ela se
alegraria ou se esconderia? Eu tive um sentimento de que se ela
tivesse o poder de machucar o seu mestre, ela seria a única a
fazer o trabalho sujo. Ela não ficaria satisfeita com um estranho
o punindo.
Nosso silêncio mútuo foi preenchido com pensamentos de
vingança e o mínimo descongelamento em seu olhar me levou a
fazer outra pergunta.
Ela pode não saber, mas ela tinha acabado de perder.
Ela me deixou entrar.
Estúpida, garota estúpida.
"Quanto tempo faz que você foi livre?"
Seja qual for a abertura que ela tinha dado, foi encerrada
com o barulho de uma porta de aço. Seus olhos se fecharam
enquanto ela engolia.
"Meses ou anos?"
Ela não vacilou.
Estudando o seu corpo, contando as fraturas, as marcas de
pontapés e as contusões, eu respondi para ela. "Assim como
uma árvore revela a sua idade quando seu tronco é analisado,
assim faz o corpo, sem palavras."
Sua testa se franziu, mantendo os olhos fechados.
PEPPER WINTERS
"Eu acho que há alguns anos."
Raiva aqueceu meu sangue, não por causa de sua dor, mas
por sua recusa em responder. Tais questões poderiam fazer um
homem normal se importar e se arrepender de estar nesta
situação tentando furtar segredos de uma menina.
Mas eu não era um homem normal. Eu me importava... em
algum lugar dentro de mim. Mas eu passei pelo meu próprio
trauma, e ele tinha infectado a forma que eu via as outras
pessoas.
Eu não tive um salvador quando eu precisei de um.
Eu não tinha intenção de ser um salvador para alguém.
Quem se importava com essas perguntas genéricas? Eu
ganharia suas respostas através de outros meios. Ela me devia.
Era hora de pagar.
O pensamento de vê-la se masturbando engrossou o meu
pau.
Alrik estava certo sobre uma coisa. Estar no mar tornou
difícil encontrar alguém para foder ‒ a menos que eu fodesse
alguém da minha tripulação ou mandasse alguém trazer uma
acompanhante de helicóptero. No entanto, ambas as opções não
eram atraentes.
Não como esta criatura.
Em breve eu retornaria para o oceano. Já perdi muito
tempo.
"Chega de perguntas. Hora de me pagar, Pimlico."
PEPPER WINTERS
Seus olhos se ampliaram quando a minha mão espalmou-se
em seu baixo ventre, arrastando-se por sua caixa torácica,
passando pela curva do seu seio até sua clavícula proeminente.
Eu não parei de tocá-la, subindo até sua garganta, e
chegando às suas bochechas onde eu cavei meu polegar em um
lado, e os meus dedos no outro, puxando seu rosto para o meu.
Ela parou de respirar.
Eu a apertei com força, obrigando-a a prestar atenção e
ouvir todas as instruções.
"Abra suas pernas."
Seus dentes cerraram-se debaixo do meu aperto.
Minha mão apertou. "Faça."
Por um momento, ela brilhou com ódio, mas muito
lentamente suas pernas se abriram um pouco. Não o suficiente
para uma mão ou língua, mas o suficiente para vislumbrar o
que havia entre elas.
Meu pau transformou-se em pedra.
Balancei a cabeça, tentando me livrar do desejo e me focar
no controle e no eterno sentimento de vergonha, eu rosnei, "Eu
vou te soltar, mas você vai fazer tudo o que eu lhe digo.
Entendeu?"
Mesmo agora, eu ainda esperava um aceno de cabeça.
No entanto, Pimlico apenas olhou para mim não oferecendo
nenhuma confirmação ou recusa. Meus olhos caíram para os
PEPPER WINTERS
seus lábios, vendo a pele rosada rachada e lutando contra o
desejo diabólico súbito de beijá-la.
Eu quero muito beijá-la. Para forçar os lábios para se mover,
mesmo que não fosse falando.
Mas merda, isto era muito pessoal.
Eu estava autorizado a provar um pouco de tudo. Um
suspiro, uma noite, um orgasmo.
Mas um beijo ... Eu não podia fazê-lo.
Confiantes nos anos de treinamento em que Alrik a forçou a
obedecer, eu solto o seu rosto. O rabo de cavalo frouxo eu tinha
formado com seu cabelo espalhou-se na cama, enquanto ela
rolava completamente de costas e abria as pernas um pouco
mais.
"Boa menina," eu murmurei, traçando as contusões em sua
carne, que quase se pareciam como rosas em diferentes estágios
de crescimento. Algumas eram amplas e belamente desbotadas
e outras eram brilhantes e pequenas como um novo broto.
Pressionando uma marca violeta em sua pele, eu disse:
"Você se lembra da causa de cada uma delas? Ou você prefere
esquecer?”
Ela olhou para o teto enquanto eu seguia as pétalas de outro
machucado que já estava se desvanecendo em uma cor marrom
pálida. "Quanto mais eu estudo você, mais você me lembra um
rato."
PEPPER WINTERS
A ingestão aguda e repentina de sua respiração foi a maior
reação que eu tinha ganhado até agora.
Eu invadi o mundo onde ela guardava a sua voz. "Você não
gosta de ser chamada de um rato ou foi outra coisa que eu
disse?"
Seu queixo inclinou-se. Ela fechou-se novamente.
Muito tarde.
Eu tinha desbloqueado algo. Eu não sabia o que, mas eu iria
descobrir.
"Acho que vou chamá-la assim a partir de agora... ratinha.
Você é uma rata silenciosa e atormentada em uma gaiola. No
entanto, não importa quão pequeno e vulnerável um rato seja,
eles têm o poder de causar estragos quando aceitam o que eles
realmente são."
"Eles também têm dentes incrivelmente afiados." Levei os
meus dedos até sua boca, eu inseri a ponta de um em seus
lábios até chegar na umidade quente. "Diga-me, Pimlico, você
tem dentes afiados?"
Ela não abriu a boca ou me deixou-me tocar os seus dentes
caninos. Mas seu coração disparou, tornando seu pulso agitado
visível pela veia do seu pescoço.
Minha ‘pequena silenciosa’ tornou-se uma ‘ratinha
silenciosa’, o que lhe convinha pra caralho.
Ela virou o rosto como se estivesse lidando com uma
memória muito difícil.
PEPPER WINTERS
Cutucando seu queixo com os nós dos meus dedos, eu guiei
sua face de volta para mim à força. "Você não me conhece, mas
você precisa saber que, se você está na cama comigo, deve se
concentrar em mim e me foder."
Ela olhou-me com raiva.
Eu corri minha mão pelo seu braço direito e enrolado meus
dedos com os dela. "Você é destra?" Olhando para os dedos
quebrados eu sorri. "Porque se você não for, isto não vai dar
certo."
Sua sobrancelha se contraiu, mas não disse nada. De
qualquer maneira, ela faria o que eu quisesse e tocaria a si
mesma. Eu não me importava se precisasse esperar a noite toda
para isso.
Desenroscando meus dedos dos dela, eu os envolvi em torno
de seu pulso, guiando sua mão para sua boceta.
Ela endureceu quando eu coloquei a mão sobre ela,
escondendo o que eu queria ver. "Sua vez."
Apoiando minha cabeça na mão, eu olhava para ela.
"Continue. Toque-se como você faz quando está sozinha. Deixe-
me ver o seu prazer e ouvir os seus gemidos, eu quero assistir
você se foder com os dedos."
Ela recusou-se, retirando a mão da sua boceta para agarrar
a roupa de cama embaixo dela.
Minha raiva nublou os meus pensamentos. "Não desobedeça
a uma ordem direta, Ratinha silenciosa. Você tem que fazer o
PEPPER WINTERS
que eu faço, lembra?" Tomando a mão dela novamente, eu guiei
de volta para a posição.
Liberando-a, eu alcancei os seus joelhos, abrindo as suas
pernas mais amplamente.
No momento em que tive uma visão completa dela, eu engoli
um gemido. Eu tinha visto muitas mulheres em minhas
viagens; Eu tinha provado algumas e evitei outras, mas nunca
vi uma tão bonita como Pimlico.
Poderia uma mulher ser chamada de bonita lá em baixo?
Viciante e depilada, sim, mas bonita? Eu não sei porra, mas
Pim era. Tudo nela era delicado e pequeno, escondido, como se
quisesse evitar mais abusos, mas ainda feminino o suficiente
para ser atraente para o sexo.
Mordendo os lábios, eu enrolei o meu punho para me
impedir de tocá-la. Se eu a sentisse... seria o fim. Não haveria
nenhuma provocação ou aperitivo, apenas um maldito banquete
quando eu a fodesse uma e outra vez.
"Toque. Continue. Não seja tímida."
Como poderia uma escrava sexual ser tímida? Cada parte
dela era propriedade de outra pessoa. Eu não entendia o terror
repentino em sua face.
"Espere..." Fiz uma pausa. "Você já gozou antes, certo?"
Ela congelou.
Ah, porra.
PEPPER WINTERS
"Você ... nunca?"
Como eu deveria reagir a isso?
Ela apertou os olhos, tremendo, como se estivesse se
preparando para uma surra. Alrik a espancaria por uma coisa
dessas?
Eu iria?
Passei uma mão pelo meu rosto. "Você nunca teve um
orgasmo com outra pessoa? E sozinha?"
Seu corpo inteiro ficou vermelho com embaraço.
Sua resposta foi alta e malditamente clara.
Quantos anos ela tinha quando ela foi fodida pela primeira
vez? Certamente, em algum momento, ela teria gozado? Ou, no
mínimo, a curiosidade a teria forçado a se dar prazer por conta
própria?
Meu primeiro orgasmo foi quando eu tinha doze anos
enquanto eu dormia atrás de uma lixeira. Tinha sido a única
coisa boa em um mar de coisas horríveis. Depois disso, eu me
tornei um pouco viciado na breve, mas satisfatória, sensação de
prazer que eu poderia me dar.
Se Pim nunca tinha experimentado tal escapatória, como se
ela tinha sobrevivido todo esse tempo? Como não acabou
PEPPER WINTERS
consigo mesma e desejou um caixão sempre que Alrik a
abusava?
Maldição, esta noite se tornou muito mais complicada do
que eu tinha planejado.
Pelo menos, ela não moveu a mão neste momento.
Aproximei o meu corpo do seu, meu peito com o dragão
tatuado contra a sua nudez e coloquei uma das minhas pernas
sobre suas coxas, segurando-a para baixo. Observando o seu
olhar confuso, eu mais uma vez enrolei meus dedos com os dela
diretamente sobre sua boceta. "Você tem que fazer o que faço.
Mas, por agora, vamos fazer isso juntos."
Colocando pressão em seu dedo médio, a forcei a acariciar
seu clitóris. O calor de sua pele penetrou em mim, mesmo que
eu não estava tocando-a diretamente.
Meu pau endureceu até doer. Buscando alívio, eu me movi
contra o seu quadril.
Seus olhos saltaram.
Eu continuei a me mover, odiando que seu osso ilíaco afiado
cavou a minha ereção. "Eu vou te ensinar. Mas, para isso, vou
ter que usá-la de outras maneiras. Caso contrário, eu vou
enlouquecer."
Ela se esquivou enquanto eu forçava a mão mais para baixo,
encontrando sua entrada.
"Não, você não vai ter o controle. Não dessa vez."
PEPPER WINTERS
Respirando com dificuldade, eu disse para o meu quase
inexistente controle para permanecer firma. Isso iria testar os
meus limites. Ela iria testar os meus limites.
"Prepare-se para se tocar, Ratinha silenciosa. Eu vou
apreciar isto."
PEPPER WINTERS
PUTA MERDA, o que ele está fazendo?
Eu endureci quando sua mão forçava meu núcleo,
pressionando meu dedo do meio, não me dando outra opção
senão obedecer. Meus dedos ficaram quentes pelo contado com
sua grande palma.
Eu não conseguia parar de olhá-lo ao ver que ele estava
mordendo o lábio inferior. Ele tornou impossível evitar que cada
célula minha queimasse com a forma erótica pela qual ele
empurrava contra o meu quadril. Ele não tinha tirado as calças,
mas isso não impediu que o calor de aço de sua ereção me
marcasse.
Muita coisa estava acontecendo.
Muitos estímulos.
Eu não sabia em que focar: seu corpo imprensado junto ao
meu, a sua mão ordenando-me a sentir-me, ou o seu pau
obtendo prazer de mim de uma forma estranha.
Ele me fez claustrofóbica e arisca.
Eu quero correr!
PEPPER WINTERS
Mas, em seguida, tudo o resto desapareceu quando a ponta
do meu dedo entrou em mim.
Pare!
Agora!
PEPPER WINTERS
Era uma cicatriz dos maus tratos que eu tinha sofrido? Uma
lesão que nunca vai se curar totalmente? Seja o que foi perdeu
a importância quando ele me obrigou a afundar o dedo ainda
mais.
Sua voz profunda retumbou de seu peito ao meu. "Você
gosta disso?"
Se eu gosto disso?
Não, eu não gosto.
Eu duvido.
PEPPER WINTERS
para que assim possa pagar de alguma forma as coisas que eu
vou tirar de você.”
De jeito nenhum.
Sem chance.
Gozar?
Ha!
Solte-me!
Deixe-me em paz!
PEPPER WINTERS
Vai se foder!
PEPPER WINTERS
nome de roedor e até mesmo de puta ‒ e outros termos
degradantes.
Mas ratinha?
Como ele poderia chamar-me assim?
Como ele se atreve a usar algo que significou muito para
mim?
Rangendo os dentes, eu empurrei de lado as memórias que
faziam o seu melhor para emergir. Eu não poderia pensar sobre
ele nos últimos anos. Era extremamente difícil. Minha mãe não
esteve muitas vezes em meus pensamentos, mas pelo menos ela
ainda estava viva e felizmente não sabia o que tinha acontecido
com sua filha.
Meu pai, por outro lado, estava morto.
Ele estava no céu me olhando de cima, de luto por minhas
circunstâncias e vendo todas as coisas que fui obrigada a fazer.
Horror e auto piedade tomaram o meu corpo, eu não
conseguia respirar. Lutei para sentar-me e liberar a minha mão
da pressão do Sr. Prest e retirar a minha perna de debaixo da
dele.
Eu precisava de espaço.
Eu precisava bloquear certas memórias antes que
enlouquecesse.
Mas ele não me soltou. Sua coxa meramente apertou a
minha e seus dedos forçaram os meus a girar em volta do meu
clitóris. "Você odeia esse apelido mais do que ser chamada de
PEPPER WINTERS
garota." Sua boca se moveu, mas sua voz era silenciosa como
um sopro, quase apologética enquanto perseguia os meus
segredos. "Diga-me o porquê."
PEPPER WINTERS
Isso era verdade, mas eu sabia o que aconteceria se eu não
fizesse. Eu era inteligente o suficiente para escolher o caminho
menos doloroso. Com o Sr. Prest, eu não sabia o que ele faria
em retaliação.
E valeu a pena correr o risco da agonia, a fim de descobrir.
O Sr. Prest poderia não ter a coragem de me bater e me
deixar ir embora com ele, e eu poderia evitar dormir este
homem, o que por sua vez iria agradar mestre A, já que não
será o seu desejo me compartilhar.
Era um plano complicado... Mas ainda um plano.
Meus ombros levantaram-se da cama enquanto eu lutava de
forma mais forte do que eu fiz nos últimos anos.
Seu rosto escureceu enquanto surpresa destacou-se em
seus olhos. "Continue lutando e sua noite será dez vezes pior,
Ratinha silenciosa."
Encolhi-me, mas no meu estado selvagem, eu não focaria o
apelido. No entanto, engasguei enquanto seus dentes se
fecharam sobre minha clavícula sem piedade. Eu vacilei quando
sua língua rodou sobre a mordida de seus incisivos.
Eu não conseguia controlar o arrepio em meu corpo.
"Você ousa desobedecer-me?"
Sim, ouso!
Estou cansada disso!
PEPPER WINTERS
O focinho de seu dragão chiou onde sua caixa torácica
estava aberta quando ele segurou a minha forma contorcida.
Mas isso não iria me parar. Isso não me assustou. A única coisa
que poderia me aterrorizar era saber que não importa o que o
Sr. Prest fizesse comigo, nunca seria tão ruim quanto o que o
Mestre A faria.
Eu tinha que usar esse homem para ajudar ou provar ao
Mestre A, que era leal e submissa. Se ele me visse lutando... Ele
poderia ser mais gentil para mim. Se o Sr. Prest visse a minha
força, ele poderia me libertar.
Dois cenários advindos de um corajoso e imprudente
movimento.
Ele congelou, seguindo o meu olhar para a tatuagem e para
onde nossos corpos se encostavam. Seu rosto raivoso, incapaz
de esconder a frustração. Por estar tão confiante a respeito de
poder ler as minhas respostas silenciosas, ele nunca iria
entender que "rata" era o nome que ele nunca poderia chamar-
me sem me fazer odiá-lo por toda a eternidade.
A máscara impenetrável que ele usava (escondendo tudo o
que o fazia real) caiu por um segundo. Ele perdeu o tom de
empresário rude que projetava e tornou-se alguém fascinante e
desconhecido em seu lugar.
Estudou-me tão duro como eu o estudei.
Eu vi um homem com problemas de controle.
PEPPER WINTERS
Um homem acostumado ao mundo curvando-se aos seus
pés.
Mas também vi um homem que sabia o que era ser como eu.
Sem escolha, sem vida... sem esperança.
Então, como se lembrasse de que eu não era nada mais do
que uma prostituta que existia para satisfazer sua vontade, sua
máscara voltou ao lugar.
Seu toque me congelou.
"Você não pode dirigir toda diversão desta noite, Pimlico.
Esse é o meu trabalho."
Minha respiração ficou presa quando ele forçou meus dedos
a circularem o meu clitóris mais forte, fazendo-o pulsar com
eletricidade.
"Eu vou descobrir mais cedo ou mais tarde. Você vai me
responder. Mas, por agora, eu me recuso perder mais tempo."
Seu pau pressionava o meu quadril, pulsando sob suas
calças. "Eu quero estar dentro de você, mas para o seu bem, eu
vou esperar até que você esteja toda molhada." Seu nariz tocou
o meu. "Isso não é justo e agradável da minha parte?"
Agarrando minha mão quebrada com sua mão livre, ele a
prendeu acima da minha cabeça, restringindo-me. Fixada ao
colchão por seu punho, corpo e quadris, eu estava
completamente impotente, desesperada, e totalmente à sua
mercê.
PEPPER WINTERS
Engoli em seco quando sua garganta trabalhou forte, seu
cabelo caindo sobre um olho quando ele pressionava sua testa
contra a minha têmpora. "Você vai sentir um coisa boa, Pim.
Está tudo na sua cabeça." Seus dedos fizeram com que os meus
me esfregassem a partir do meu clitóris até a minha entrada e
voltassem novamente. O afago que senti era diferente desta vez,
menos estranho, mas ainda terrível.
Eu apertei os meus lábios para não soltar um gemido traidor
que se construía em meu peito. Não de prazer, mas em um
apelo.
Ele poderia machucar-me, forçar-me, exigir, mas eu não
gozaria.
Eu não posso.
Jamais.
PEPPER WINTERS
Eu tinha uma maneira de me proteger.
Eu minha mente viajaria enquanto ele estivesse devastando
o meu corpo.
E eu nunca iria pensar nele de novo, porque ele destruiu
quaisquer sentimentos que eu pudesse ter desenvolvido.
Corra…
PEPPER WINTERS
fui
embora.
PEPPER WINTERS
Ela ainda estava aqui.
Seu corpo quente ainda estava sob nossos dedos unidos.
Sua respiração ainda fazia cócegas meu peito. Sua presença
ainda me fazia duro.
Mas tudo o que a fazia Pimlico desapareceu.
Sua luta, a sua justa ira, sua confusão, força e coragem.
Tudo desapareceu.
Ela pode não saber sobre prazer. Ela só entende a dor. Mas
ela descobriu como proteger sua mente. Porra, se isso não me
intriga ainda mais. Se ficasse ainda mais interessado nesta
mulher, eu não seria capaz de ir embora quando o momento
chegasse.
Mesmo agora, nosso tempo estava acabando. Fiquei chocado
por Alrik não ter invadido o quarto enquanto eu a tocava. (Não
que eu tocasse diretamente, apenas a guiava na auto
exploração).
PEPPER WINTERS
O fato de que ele não tinha chegado ainda despertou os
meus alarmes internos.
Mas agora, eu tinha fodido tudo e perdido a menina e seus
segredos. A única coisa que eu podia fazer era trazê-la de volta
para mim antes que fosse tarde demais.
Libertando nossos dedos unidos, eu rearranjei meu pau
para não ficar com bolas azuis e sentei-me. A cama balançou,
mas Pimlico permaneceu olhando em branco para o teto.
Ela não vacilou quando minha sombra caiu sobre ela ou
enrolou-se em uma bola quando eu estendi a mão e acariciei
sua bochecha.
Ela simplesmente estava ali, esperando.
Se eu quisesse roubar desta escrava, eu teria que usar seu
condicionamento contra ela.
Eu não poderia fazer mais perguntas.
Eu teria que exigir respostas.
Foi o jeito que ela tinha sido ensinada.
A única maneira que ela responderia.
Passando as duas mãos pelo meu cabelo, eu descartei a
minha necessidade de oferecer-lhe algum prazer e sentei-me
mais ereto.
Meus lábios se separaram para lhe dar um comando para
retornar. Para exigir que ela saísse desse estado.
Mas algo me parou.
PEPPER WINTERS
Ela parecia tão inocente e tão extremamente cansada.
Olheiras profundas marcavam a sua face, enquanto a exaustão
oprimia os seus membros.
Eu tinha ido longe demais.
O mínimo que eu podia fazer era conceder a ela um
momento de descanso. Minha impaciência se desvaneceu
quando memórias suaves de cuidar de outra pessoa me deram a
capacidade de ser gentil.
"Role de lado", eu sussurrei, empurrando seu ombro.
Ela moveu-se obedientemente, mas não deu sinais de ter me
escutado.
Quando ela obedeceu, eu deslizei para cima da cama e me
reclinei contra a cabeceira mais uma vez.
Meu olhar se fixou na porta quando eu coloquei minha mão
sobre suas costas nuas. Ela não vacilou, não por confiar em
mim ou me aceitar, mas porque ela tinha deixado seu corpo
para trás.
Ela não se importava com o que lhe fazia, porque tinha me
impedido de afetar sua mente.
Quanto tempo tinha sido desde que ela tinha dormido com
segurança? Quanto tempo desde que sonhou com tempos mais
felizes?
A palma da minha mão moveu-se por vontade própria,
acariciando-a suavemente, garantindo conforto depois de
PEPPER WINTERS
oferecer nada mais que sofrimento. "Descanse Pim. Eu vou
cuidar de você.”
Eu não podia ver seu rosto, mas seu corpo permaneceu
tenso e imóvel.
Colocando um braço acima da minha cabeça, eu passei os
dedos através da cabeceira, preparando-me para acariciá-la
novamente que ela cedesse. Eu fiz uma careta enquanto meus
dedos tocaram algo macio dentro das tabuas da moldura.
Tentei descobrir o que era, mas Pim de repente se sacudiu,
soltando o suspiro mais pesado que eu já ouvi. Sua coluna e
músculos relaxaram, e ela aceitou as minhas carícias como se
fosse um presente.
A sua aceitação arrancou quaisquer outros pensamentos da
minha mente e me acomodei na minha tarefa de protegê-la o
tempo todo, a tocando com bondade.
Nos primeiros minutos, eu estava ciente de cada inalar e
exalar seu. Mas à medida que o tempo passava e nos
acostumamos um com o outro, eu achei reconfortante estar
perto dela.
Eu não tinha estado com outra pessoa, desta forma por
tanto tempo, que tinha esquecido o quão gratificante era cuidar
de alguém.
PEPPER WINTERS
Isso era verdade.
Cuidar da minha mãe e fazendo o meu melhor para corrigir
o que eu fiz, era a razão pela qual eu carregava tanta vergonha.
Família tinha expectativas.
Pimlico não tinha nenhuma.
Ela iria aceitar o que eu dava a ela sem descartar minhas
tentativas de generosidade. E, em troca, ela me fazia querer dar
mais.
Muito mais.
Minha mente vagou, e minha mão livre foi de encontro ao
meu bolso e a nota de dólar dobrada dentro dele. Eu não me
importava com o silêncio em outras pessoas, mas o silêncio em
meu redor não era uma coisa boa.
Memórias tinham um jeito de me encontrar quando as
coisas estavam muito calmas, tão fortes que eu apertei a nota
na mão esquerda sem nunca cessar as carícias com a minha
direita.
Ela se contorceu e suspirou novamente, caindo no mais
profundo no sono.
Enquanto ela dormia ao meu lado, não sabendo o tipo de
homem que eu era, mas confiando que eu faria o que tinha
prometido e a manteria segura, dobrei o dinheiro e deixei as
lembranças dolorosas e as escravas suicidas dormirem.
PEPPER WINTERS
Meu relógio de Minnie mostrava que eram 12h33 da
madrugada.
Minha mãe odiava que eu usasse essa coisa, dizia que eu era
velha demais para essas bugigangas infantis. Mas eu amava a
estampa e as correias desgastadas. Era tudo o que eu tinha dele.
O homem que me chamava de ‘ratinha’ desde que eu conseguia
me lembrar.
A memória do seu apelido para mim ressoava com cada
escala das mãos sobre as orelhas grandes da Minnie. O apelido
era derivado do meu próprio nome, que de alguma forma se
transformou em um personagem da Disney. Tasmin tornou-se
Min, que se tornou Minnie, que se tornou Ratinha. Eu tinha
muitos apelidos, mas apenas o meu pai me chamava de Ratinha
enquanto todas as outras pessoas me chamavam de Tas.
Ele morreu quando eu tinha sete anos.
Era por isso que eu nunca iria tirar o relógio, não importa o
quão juvenil ele fosse.
Eu nunca cresceria na perspectiva do meu pai.
Isso deixava a minha mãe furiosa.
PEPPER WINTERS
De acordo com meu relógio, eu estava nesta festa com ela
durante cinco horas, e queria ir para casa. Meus pés doíam,
minha barriga roncava, e estava sendo simpática com pessoas
que não mereciam.
Mas, então, o Sr. Kewet sorriu e perguntou se eu podia
acompanhá-lo na varanda; e estupidamente fui com ele, mesmo o
reconhecendo como um lobo.
Eu era a filha de uma psicóloga. Eu estava aqui para trocar
idéias seus clientes e endossar seus patrocínios. Eu não a
decepcionaria.
A conversa foi normal. Mr. Kewet elogiou meu vestido, cabelo
e sorriso. Então seus olhos caíram para o meu relógio Minnie
Mouse, e seu sorriso se tornou cruel. Ele não era mais um rico
homem mais velho, mas sim um assassino que me via como
presa.
"Por que uma menina tão bonita como você está usando uma
coisa tão feia?"
Arrepios de aviso se espalharam pela minha espinha quando
ele se aproximou. O desejo de fugir fracassou em minhas pernas
paralisadas, mas eu tinha sido ensinada a permanecer educada,
porém distante. "Significa muito para mim. Não é apenas um
relógio.”
"Tudo bem." Ele riu. "Nesse caso, eu vou guardá-lo para você
para mantê-lo seguro."
PEPPER WINTERS
Minha sobrancelha subiu. "Guardá-lo?" Eu não tinha a
intenção de dar a este homem o último presente do meu pai.
Colocando os dedos de forma protetora em torno da pulseira
vermelha e branca, eu balancei a cabeça. "Eu não vou dá-lo a
você."
"Oh, não é uma questão de dar." Um segundo as suas mãos
estavam ao lado do meu corpo. O próximo eles estavam na minha
garganta. "É uma questão de tomar."
Meus dedos subiram para arranhá-lo; minha boca se abriu
para gritar. Mas ele não me estrangulava suavemente e devagar.
O ato foi cometido com rapidez e força.
Suas mãos bloquearam a minha traquéia. As lágrimas que eu
derramei deram lugar à hipóxia e choque. Meus braços se
tornaram membros inúteis. Minhas pernas param de chutar e
amoleceram. Minha cabeça rugiu, e em um segundo eu estava
viva e respirando e no outro estava morta e depois... não estava
mais.
Mesmo quando eu fui levada para a garagem, com os lábios
vis nos meus soprando ar para dentro meu cadáver desinflado,
tudo que notei foi que o meu pulso estava nu.
Meu relógio se foi.
Minha infância foi destroçada.
Ele não só tinha roubado minha vida, mas o meu apelido, pai
e a felicidade também.
PEPPER WINTERS
*****
Adormeci com carícias suaves nos braços acolhedores das
memórias. Algumas boas, algumas ruins... Outras que me
fizeram lembrar que eu tinha sido uma garota uma vez e não
esta escrava a beira da morte.
Eu não tive palpitações com o pensamento de mais um dia
no inferno. Eu não me encharquei em suor frio desejando que
pudesse dormir e nunca mais acordar.
No entanto, não foi assim que acordei.
O pesadelo recorrente foi o que me trouxe a consciência,
meus dedos tatearam para meu pulso vazio, a aflição comum da
perda lacerando o meu coração, e a saudade esculpindo um
buraco na minha alma.
Mas nada disso importava quando um ronronar sensual
salvou o meu coração de se esfaquear ainda mais com o
passado, dando-me uma ordem para que eu pudesse me
agarrar.
"Volte, Pimlico. Agora."
Acordei completamente, trocando a angústia da noite em
que eu perdi a minha vida por um relaxamento contente,
mesmo estando deitada com um estranho em meu colchão
duro.
Por quanto tempo eu dormi? Por quanto o Sr. Prest me
deixou descansar? E quanto faltava para o Mestre A perder a
paciência e vir me buscar?
PEPPER WINTERS
Pisquei quando o Sr. Prest levantou-se. "Levante-se.
Imediatamente."
Finalmente, um comando que eu poderia obedecer sem
pensar duas vezes.
Eu não tenho estar plenamente consciente ‒ somente agir
automaticamente como uma escrava.
Desviando os olhos de sua tatuagem de dragão, sentei-me e
preparei-me para escorregar para o tapete.
Porém, a sua voz me fez parar no meio do movimento. "Não
vá para o chão. Fique em pé na cama. Segure a cabeceira se for
necessário."
OK…
PEPPER WINTERS
quando eu a usei para me equilibrar para me ajudar a subir na
cama.
Eu ousei olhar para ele.
Não importa a sua forma estranha de me atingir e suas
tentativas de roubar minha mente, eu ainda temia que ele fosse
surtar e agir como os outros homens. Ele tinha sido tão
estranhamente gentil em me deixar dormir, quando poderia ter
me usado para seu prazer.
PEPPER WINTERS
Apenas nos olhamos.
Eu, de pé como uma deusa caída, e ele, como um adorador
do diabo fazendo o melhor para encontrar a luz.
Os minutos se passaram, mas ele não parou de andar. Sua
mandíbula ficou tensa, a garganta trabalhou, e seu corpo se
contraiu enquanto ele trabalhava os seus pensamentos.
Quanto mais nos olhávamos, mais despertos ficávamos.
Qualquer que seja a química que existia entre nós tornou-se
contaminada ‒ diferente.
Minha ideia de usá-lo para me libertar parecia ridícula
agora que eu não estava tão apavorada.
Ele deveria ir embora antes do Mestre A matá-lo. Esta
palhaçada já foi longe o suficiente.
"Porra." Sua cabeça caiu para trás ao mesmo tempo em que
um rosnado baixo escapou de seus lábios. "Eu não tenho ideia
do que estou fazendo aqui."
Eu tremi com uma mistura de repulsa e fascínio.
Será que ele quer que eu me importe e simpatize com sua
confusão?
Eu não vou.
PEPPER WINTERS
recuar para me proteger, provando que não entendia a palavra
não, mesmo que eu nunca disse isso verbalmente.
Eu bufei, ignorando o desejo de cruzar os braços e apontar
o queixo para a porta.
PEPPER WINTERS
Sem porta para escondê-lo, continuei olhando.
Não que ele se importasse.
O que ele estava pensando enquanto eu dormia? Fosse o
que fosse tinha o levado ao seu limite.
Será que o Mestre A tentou entrar? O Sr. Prest fez algo que
eu não sei?
Tantas perguntas que não podem ser feitas em voz alta.
Após lavar o rosto, ele penteou o cabelo para trás com os
dedos e afivelou o cinto. Seus olhos negros misteriosos se
encontraram com os meus no espelho. Ele não deixou de me
observar enquanto secava as gotas finais em suas mãos usando
a pequena toalha ao lado da pia.
Ao entrar no quarto, ele se sentou no banquinho da
penteadeira que nunca usei. Ligando os dedos entre suas coxas,
ele se inclinou para frente, plantando seus pés no tapete
branco. "Venha aqui."
Eu quis me rebelar, mas eu lutei contra esse desejo.
O jogo dele estava começando a me intrigar, fazendo com
que o meu desejo de deixar o meu corpo desaparecesse,
obrigando-me a permanecer aqui com ele... Para o melhor ou
pior.
"Pim, venha."
Seu pesado timbre forçou as minhas pernas a se moverem.
Saltei da cama, escondendo a minha careta quando meu corpo
machucado tentou amortecer a ação.
PEPPER WINTERS
Ele sinalizou com dedo, me convocando mais perto. "Não
tenha medo."
Eu não fiz um som enquanto me movia nua e descalça para
ficar na sua frente.
Minha mão esquerda pendia quebrada ao meu lado,
enquanto a minha direita apertou-se em um punho, forçando-
me a esvaziar o meu corpo de toda a confusão e dúvidas, para
torná-lo emudecido.
O Sr. Prest olhou para cima.
Como ele estava sentado, eu estava mais alta. Mas não
acreditei por um segundo que teria algum controle do que
estava prestes a acontecer.
Sua voz era um sussurro sedutor. "Eu não vou forçá-la a
fazer algo que você não quer, mas quero que prometa que não
vai desaparecer novamente. Combinado?"
Não.
Sim.
Quem diabos é você?
"Você está confusa com o que fizemos juntos, mas você não
se importava tanto quanto você acha que deveria."
PEPPER WINTERS
Meus dedos do pé agarraram o tapete enquanto eu abaixava
a cabeça, esperando que ele não fosse capaz de me ler.
"Vendo como você não vai me dizer seus pensamentos, eu
vou lhe dizer os meus." Ele se mexeu um pouco no banco. "Eu
estou fazendo negócios com o Alrik porque ele tem contatos que
quero. No entanto, em minha pesquisa, descobri que ele é um
fodido doente que matou outras quatro mulheres, que segundo
ele foram suas amantes e nunca foi processado por isso. Ele
também assassinou a alguns homens, mas isso não é
importante para você. Quando analisei os relatórios de autópsia
das moças, as alegações de abuso de longo prazo foram
predominantes, mas ainda não foram suficientes para pegá-lo."
Ele estendeu a mão e passou o braço em volta do meu
quadril. "Ele vem de uma família rica. Seu bisavô era fabricante
de aço, seu avô investiu com sucesso no mercado de ações, e
seu pai morreu jovem, deixando tudo para ele. Ele jogou maior
parte da riqueza fora, e eu fiz a minha parte pegando uma boa
quantia da fortuna dele. No entanto, eu não sabia nada sobre
você. Ele a manteve escondida. E isso me irrita pra caralho. Na
minha linha de trabalho, eu preciso saber tudo o que há sobre
uma pessoa. Agora, sei mais do que suficiente apenas passando
um tempo com você.”
Ele olhava para onde ele me tocava.
PEPPER WINTERS
Meu corpo se arrepiou e ficou quente, sem saber se deveria
ficar feliz por ser tocado ou enjoado por estar preso por seu
toque.
"Eu vim aqui hoje à noite querendo transar com você. Mas
vejo agora que já tomei tudo o que podia do Alrik. Eu não vou
abusar de você também, porque mesmo parecendo idiota, eu
senti alguma coisa. Eu não entendo o que é, e não faz uma
porra de diferença, mas há algo entre nós.”
Minhas narinas se dilataram.
PEPPER WINTERS
"Porque perdi tudo o que me faz humano há muito tempo.
Eu envergonhei a mim mesmo. Não tenho nenhuma honra do
caralho, tomo e roubo das pessoas. E o ato de roubar, me dá
estímulo para viver. Então veja Ratinha silenciosa, eu não estou
aqui para ser um cavalheiro. Eu quero as minhas respostas, e
então irei embora e nunca mais olharei para trás."
Seus dedos apertaram uma contusão laranja causada por
um chute do Mestre A. "Eu quero você fora da minha mente.
Fora da minha cabeça. Eu fui claro?"
PEPPER WINTERS
Não é que eu não vou... é que eu não posso.
O que?
Não…
Certo, sim.
PEPPER WINTERS
Mesmo julgando as brincadeiras assassinas do Mestre A, ele
era tão ruim, talvez pior, do que o monstro a quem eu pertencia.
Isso doeu mais do que eu pensava.
PEPPER WINTERS
Ele não abusou do meu corpo, mas sim da minha mente.
Copiando minhas respostas em seu dever de casa, me
ludibriando a ajuda-lo a passar em seus exames.
PEPPER WINTERS
de falar quando estou na cama. No sexo é quando a verdade
vem à tona, independentemente do que tentamos esconder”.
Ir?!
Mas você não pode... Não até que eu descobrir como usá-lo
para me libertar.
PEPPER WINTERS
Fazer o quê, exatamente?
PEPPER WINTERS
Que porra você está fazendo?
E eu queria tudo.
Muito. Pra. Caralho.
PEPPER WINTERS
Mesmo que isso fosse errado, eu nunca ter outra
oportunidade novamente. Eu precisava saber como era antes de
sair pela maldita porta, sem olhar para trás. Depois disso, eu
iria embora. Não esperaria por Alrik invadir nosso santuário e
roubar de volta a sua escrava.
Ele poderia tê-la.
Ela era demais para mim.
Muito trabalho, muita tentação, demasiada dependência.
Fiquei contente que Selix tinha ficado por perto com o carro,
porque quanto mais cedo eu estivesse fora de aqui, seria o
melhor para todos.
Quando Pim alcançou meu lado, eu apontei para a cama.
"Sente-se."
Ao contrário de sua ferocidade anterior, ela obedeceu
imediatamente.
Suas coxas esconderam o lugar que ela tocou tão
indisposta, sua caixa torácica pressionado contra sua pele
enquanto ela respirava mais rápido com a incerteza.
Ela parecia tão malditamente bonita mesmo parcialmente
quebrada.
Pairando sobre ela, fiz uma pausa.
Se eu fizesse isso, eu estaria infringindo mais de uma lei no
meu mundo. Eu pagaria por este ato durante meses.
Mas se eu não fizer isso, eu sempre me imaginaria o que
teria sido, e eu não gosto disso, porra. Era um desperdício de
PEPPER WINTERS
tempo. Uma vez que eu precisava me dedicar ao meu império.
Eu tomaria esta última coisa dela e então... Tudo estaria
acabado.
Nunca afastando o olhar, eu me ajoelhei.
Ela engasgou quando nos ficamos da mesma altura e cada
selvageria dentro de mim disse para deitá-la e transar com ela.
Fazer o que eu quisesse.
Mas ela iria fugir como antes e perder-se profundamente
dentro de si.
E eu não queria reclamar seu corpo.
Eu queria a sua mente.
Ela era astuta e adaptável e esta era a única maneira que
eu poderia aproveitar um pedaço dela e fazê-la ficar.
Eu só não sei o quanto de mim mesmo eu iria dar no
processo.
PEPPER WINTERS
Suas mãos se levantaram.
Eu tentei me afastar, mas seus dedos fortes seguraram a
parte de trás da minha cabeça, me mantendo presa. O terror
familiar me congelou quando o botão para a dor apagou meus
sentidos. Eu não podia parar. Eu tinha sido brutalizada muitas
vezes para impedir o impulso de apagar a minha mente.
"Eu não vou te machucar." Sua respiração atingiu o meu
rosto. Sua promessa não fez nada para acalmar meus nervos. A
maneira como ele se ajoelhou diante de mim fez o meu coração
se envolver com arame farpado e sangrar. Com esta pequena
posição, ele me deu mais poder e mais respeito do que já
tinham me dado em toda a vida.
Ele me eviscerava.
Mas então seus lábios pousaram nos meus.
E o mundo parou antes de girar descontroladamente na
direção errada.
Eu não sabia o que fazer, como agir.
Devo me afastar?
Mordê-lo?
Ceder a ele?
PEPPER WINTERS
Eu congelo.
Fugir?
Esconder-me?
Sair do meu corpo?
Eu tremi.
Eu não podia fazer nada, porque seus lábios eram uma
coleira perfeita, me mantendo presa e tremente.
Em primeiro lugar, ele me desgastou com suas perguntas, e
agora, ele tinha finalmente tomado algo físico.
Um beijo.
Sua língua deslizou em minha boca.
Meu queixo arqueou-se por sua vontade própria,
desesperado por paixão, mesmo quando eu não sabia o que era.
Um calor borbulhante fluiu a galope pelo meu sangue.
Mestre A raramente me beijava, e quando fazia era
excessivamente molhado e ruim. Mas isto... Não havia nada de
errado com isso. Peculiar, definitivamente. Surpreendente,
absolutamente. Mas ruim, de forma alguma.
Meus lábios despertaram-se para um tipo diferente de beijo
de um tipo diferente de homem, mas por algum motivo, o Sr.
Prest parou.
Sua boca pairou sobre a minha, como um teste para ver até
onde ele tinha me empurrado, e empurrado a si mesmo. Seus
olhos brilhavam com a necessidade de parar. Mas os seus
lábios me chamaram para recomeçar e nunca cessar.
PEPPER WINTERS
Eu queria que ele parasse.
Eu precisava que ele parasse.
Mas uma parte microscópica de mim negava minhas
mentiras. Meu coração balançou, estendendo-se por mais
ternura, sabendo sem ser dito que esta seria a única vez em que
eu receberia uma coisa dessas.
Se eu não me deixasse aproveitar este momento, no qual um
belo estranho me dava algo que eu pensei que nunca teria,
então eu era uma idiota.
Eu queria isso.
Eu precisava disso.
Eu mereço isso.
PEPPER WINTERS
formigavam, e o feitiço que havia entre nós nos arrastou em seu
charme.
Ele deu um meio sorriso, bufando em impaciência. "Você
realmente não vai falar, mesmo sabendo que eu não sou como
ele."
Olhei em seus olhos, ignorando o desejo de responder.
Eu esperava que ele terminasse o beijo, se levantasse e se
afastasse. Mas seu olhar mergulhou no meu, desconsiderando a
minha rebeldia, e aceitando a minha atitude.
"Porra, você é forte." Seus lábios pousaram na minha boca
novamente.
Seus dedos apertavam o meu rosto, me segurando firme.
Seu domínio era reconfortante e uma armadilha.
A maior parte de mim queria correr.
Mas, quando a língua mais uma vez brincou em minha
boca, eu deixei de lado o que deveria e o que não deveria fazer.
Em dois anos, eu nunca me permiti pensar que estivesse
quebrada. Eu não estava quebrada. Eu ainda estava viva. Mas
eu sabia de algo que o Sr. Prest não fazia ideia.
Mestre A não se importaria que seu convidado não tivesse
dormido comigo. Ele não se importaria que nada tivesse
realmente acontecido entre nós. Ele ia me matar de qualquer
maneira.
PEPPER WINTERS
Eu tinha sido o seu troféu mais caro, mas esta noite foi
aquela em que outro homem me deixou marcada, e eu vou
passar da estante para uma caixa.
Para um caixão.
PEPPER WINTERS
Todo o controle foi drenado do meu corpo quando me
entreguei ao seu toque. Eu desisti completamente. Seja isso o
que for, eu não quero que acabe.
O beijo se tornou mais profundo, soltando faíscas enquanto
nossas bocas nunca mais paravam.
Eu me mexi inquieta, desesperada, quando minha atenção
foi levada por sua língua ágil na manipulação magistral.
Ele despertou em mim um sentido estranho, pelo qual eu já
não ouvia o mundo exterior, mas o meu interior.
Aquele que eu abandonei quando fui sequestrada e vendida.
O que era muito maior do que o universo que eu vivia.
Um fogo nos queimava lentamente, enquanto nossas bocas
se buscavam com fome passional. Não havia mais nenhuma
sincronização.
"Você sente isso, Pim?" Ele ofegava entre beijos. "Você sente
seu corpo preparar-se para mim?" Sua voz mudou para um
grunhido, seus lábios brutais na minha boca. "Merda, eu quero
você."
Minhas costas se curvaram enquanto ele me apertava em
seu abraço.
Algo aconteceu comigo.
Eu não estava mais no mesmo caminho.
Eu tinha saído dele.
Não, eu tinha sido arrastada dele. Por este homem.
PEPPER WINTERS
Este anjo pecador tinha de alguma forma se tornado o meu
defensor e libertador.
Eu não o conhecia.
Mas eu queria.
Ele tinha salvado minha vida, dando-me um segundo de
felicidade. Eu queria que ele permanecesse nela. Mas eu sabia
que não era possível.
Ele praticamente assobiou com o calor. Eu não conseguia
pensar quando ele olhava para mim assim, me beijado desse
jeito, roubando tudo de mim.
Sua língua deslizou prazerosamente ao longo meu lábio
inferior, fazendo-me desejá-lo tão imprudentemente. Eu queria
sua língua em mim, dentro de mim, me consumindo. Eu queria
todas as coisas que eu não entendia nem nunca pensei que eu
iria contemplar.
Seu olhar ameaçador ficou furioso, zangado, cheio de cobiça,
e muita luxúria. Ele gritava sexo. Mas não forçado. Sexo.
Consensual, algo desconhecido para mim.
Seu peito ondulava enquanto sua mão segurou o meu rosto
novamente. Sua barriga estava tensa, fazendo seu dragão e
chiar.
"Eu finalmente fiz você falar, Pim." O brilho em seu olhar
dançou com o conhecimento. "Seu corpo gosta de mim, mesmo
se você não gosta."
PEPPER WINTERS
Ondas de emoções desconhecidas me golpearam tão
perversamente como os punhos do Mestre A. Eu não sei por
que, mas nesse segundo, eu fiquei devastada ‒ não pelo prazer
que ele tinha dado, mas pela depressão que me atingiria quando
ele me deixasse.
Eu queria viver neste momento por toda a eternidade.
Eu queria encontrar a autoestima e felicidade nesta falsa
união. Eu queria companhia, mas por me fazer querer isso, ele
me fez fraca, porque agora eu queria o seu apoio, depois de
tanto tempo dependendo apenas de mim mesma.
Eu gostei dele.
Ele me beijou de novo, parando meus pensamentos e
obrigando-me a aceitá-lo em um nível mais profundo do que eu
jamais pretendi.
Eu já não era uma escrava.
Eu fui beijada.
Beijada.
PEPPER WINTERS
Aterrorizante?
PEPPER WINTERS
Algo quente e necessitado ganhou vida dentro de mim.
Desconhecido e hesitante, forte e confuso, mas focado.
Voltando-se para me encarar, ele pressionou a ponta do
dedo na minha testa. "Alguém já lhe deixou molhada apenas
falando com você? Dizendo o que vai fazer com você?
Detalhando explicitamente o que gosta sobre o seu corpo, sobre
os seus sons, seu gosto, seus gemidos?" Ele se aproximou com
sua voz máscula inebriando-me. "Sussurrando como o quanto
precisa estar dentro de você até que se derreta no primeiro
toque?"
Uau…
PEPPER WINTERS
Fiquei tensa quando o dedo deslizou de minha testa,
passando pelo meu nariz, até os meus lábios. "E sobre esta
primeira vez?" Sua cabeça abaixou-se, me beijando brevemente.
"Alguém já te beijou tão forte ao ponto de machucar? Alguém já
te beijou por horas, atormentando-a até que você esteja
implorando por seu pau?”
Deus, pare.
PEPPER WINTERS
Alguém já sugou seu mamilo tão forte que ele ficou inchado?
Alguém já te mordeu até que você implorou por misericórdia ou
colocou grampos em seus mamilos, fazendo você obedecer todas
as ordens?" Ele agarrou o meu mamilo, apertando apenas um
pouco.
Não…
PEPPER WINTERS
"Eu quero te dar tantas estreias." Ele se inclinou para mim,
os olhos cerrados, com a boca a milímetros da minha. "Eu a
quero"
O desastre começou.
A porta explodiu.
Um estrondo ruidoso soou quando as dobradiças cederam e
os painéis de madeira lascaram.
Não!
Os grunhidos de Tony rasgaram o silêncio enquanto ele
destruía a porta de entrada com um bastão de beisebol,
demolindo a única coisa que nos protegia.
Mestre A estava atrás dele, gritando instruções.
Meu coração disparou errante do provisório paraíso onde
estava e voltou para sua prisão.
Foi por isso que ele nos deu tanto tempo. Por isso que o Sr.
Prest teve o privilégio de deitar ao meu lado e sair ileso.
Mestre A tinha chamado reforços.
"Que porra é essa?" O Sr. Prest lançou-se de pé, com o
corpo pronto para uma luta. "Dê o fora. Eu não acabei."
Eu murchei quando o Mestre A invadiu o quarto. Em sua
mão, ele segurava uma arma.
PEPPER WINTERS
Eu nunca o tinha visto com o revólver preto, mas a maneira
como o segurava com confiança e precisão revelava que ele não
era um estranho para essas coisas.
Seu olhar analisou a minha nudez e a forma como a calça
do Sr. Prest estava aberta. "Você se divertiu com a porra da
minha escrava?" Ele inclinou a cabeça de forma
condescendente, olhando para mim. "Será que você se
comportou, Pim?"
Olhei para baixo, escondendo-me atrás do meu cabelo
emaranhado pelo sono.
Dê o fora, aberração!
PEPPER WINTERS
Não importa.
Acabou.
PEPPER WINTERS
O fato de que esperou por Tony para atuar como suporte
reafirmou que ele era um covarde. Ele não teve coragem para
tirar Sr. Prest por conta própria.
O cano da arma elevou-se, apontando diretamente para a
tatuagem de dragão.
Memórias do Sr. Prest me dizendo os assassinatos
cometidos pelo meu covarde dono enviou uma energia
catastrófica em minhas pernas. Eu sabia do meu destino. Eu o
aceitei. Mas eu não deixaria outra pessoa sangrar por mim,
mesmo que ele não fosse inocente do crime.
O Sr. Prest foi o único homem que tinha sido bom para
mim.
PEPPER WINTERS
O horror do que eu tinha acabado de fazer me atingiu com o
peso de um chumbo, fazendo-me afundar completamente com
medo.
A boca de Tony ficou boquiaberta quando seu olhar aguado
compreendeu o meu ato. "Puta merda".
Os olhos do Mestre A literalmente estalaram em sua cabeça.
Ele balbuciou em desgosto lívido, "Sai do caminho, Pim. Eu vou
lidar com você mais tarde.”
Aprumei os ombros, mesmo que a minha forma nua não
oferecesse proteção alguma. Ninguém me protegeria. Eu
morreria. Mas pelo menos o ciclo triste estaria terminado.
O terror habitual rolou através da minha espinha enquanto
eu lutava contra a vontade de se afastar-me e obedecer. Eu não
sei por que eu tentei proteger um homem com o dobro do meu
tamanho, com mais habilidades de se manter vivo do que eu.
Mas eu fiz.
Era minha última tentativa de ser Tasmin antes de Pimlico
desaparecer.
PEPPER WINTERS
escavaram a minha pele. "Não vá feri-la por um comando que
eu dei."
"Oh, ela vai ser bastante ferida. Não se preocupe com isso.
Tudo que você precisa se preocupar é levar a porra da sua
bunda para fora da minha casa. Agora mesmo!" O dedo de
Mestre A brincou no gatilho, apontando diretamente para a
tatuagem do Sr. Prest. Inclinando a cabeça para a bagunça que
Tony tinha feito na porta, ele gritou: "Quero você fora!"
"Não amanheceu."
"Não importa."
"Ela é minha até que eu vá."
"Errado." A mão de mestre A estava esbranquiçada em volta
da arma. "Ela é minha, imbecil. Eu não vou dizer de novo."
O Sr. Prest não se moveu. Ele simplesmente cruzou os
braços.
Eu fiquei na ponta dos pés atrás dele, querendo estar em
posição de tanto correr ou ajoelhar-me caso fosse necessário
fazer algo para acabar com esta situação tensa.
Mestre A mudou de tática. Seus olhos azuis sorriram
cruelmente quando ele apontou a arma para mim.
Eu endureci.
PEPPER WINTERS
"Você tem algo que eu quero Sr. Prest. Então se considere
malditamente sortudo, porque se não, eu teria atirado em você
no momento em que tomou a minha Pimlico. No entanto, você
também quer algo de mim."
Engoli em seco vendo a cena de um assassinato iminente.
O buraco sinistro da arma, por onde uma bala sairia para
me matar, me hipnotizava. Eu não conseguia desviar o olhar.
Se esta fosse à forma mais humana pela qual eu seria
morta, que assim seja. Eu ganhei o meu primeiro beijo de
verdade. Eu tinha sido bem tratada pela primeira vez em anos.
Se este é o epílogo da minha horrível história, eu estava bem
com isso.
Meus músculos relaxaram prontos para aceitar o rasgo
dilacerante do chumbo excruciante.
Faça.
Acabe com isso.
PEPPER WINTERS
O rosto do Sr. Prest tornou-se monstruoso. "Você mataria
sua própria escrava ao invés de me dar mais algumas horas?"
"Absolutamente." Sua resposta foi instantânea. "Então, o
que é que vai ser? Ela ou você. Fui tolerante o suficiente. Ela
precisa de uma porra de um chuveiro para livrar-se de sua
sujeira e, em seguida, um lembrete de quem ela pertence."
Talvez, esse era o plano do Sr. Prest? Fazer com que meu
dono atire em mim para que ele pudesse ir embora, sabendo
que eu não iria sofrer mais? Ele disse que não se importava
comigo, que todos têm demônios pessoais para suportar.
Era misericordioso me despachar desta forma.
PEPPER WINTERS
Mestre A veio na minha direção e capturando os meus
cabelos, aproximando-me dele. "Vamos ver o quanto ela
sangra?"
Sr. Prest deu um passo, esquecendo-se de si mesmo
enquanto a fúria revestia suas feições. "Tire as mãos de cima
dela."
A ameaça legal da morte apresentou-me contra minha
têmpora quando Mestre A grunhiu, "Minha paciência acabou."
Ele me bateu com a arma.
O objeto de metal atingiu o meu nariz.
"Diga adeus à prostituta. Mantenha a porra do seu iate, eu
não- "
"Pare!" o Sr. Prest deixou cair os braços, movendo as mãos
em sinal de rendição. "Não a mate." Seu olhar se fixou no meu,
cheio de amargura e pedindo desculpas. "Você acabou de
cometer o pior erro de sua vida, Alrik Asbjorn."
A arma bateu contra a minha cabeça. O hematoma
anestesiou o meu crânio, onde uma bala iria entrar e me matar.
"Errado, Elder. Você que cometeu. Dê-me o que eu quero ‒ o
que eu malditamente paguei ‒ e eu vou esquecer que essa
porra aconteceu.”
O Sr. Prest riu. O som aterrissou de forma agressiva no
chão, queimando com uma alegria gelada e promessas árticas.
"Essa é a quarta vez que você usa o meu nome."
Impulsionando-se para frente, ele retrucou, "Você me
PEPPER WINTERS
desrespeitou, Alrik e isso não é uma boa coisa para se fazer,
porra."
Apanhando o blazer e camisa do tapete, ele me deu uma
olhada. "Eu pensei que eu poderia fazê-lo. Eu pensei que eu
poderia vê-la morrer. Mas eu não vou. A vida é sua e não vou
intrometer-me mais."
Ele balançou a cabeça. "Um fim triste para as suas
primeiras experiências, Pim. Eu sinto muito."
O rosto vermelho de Mestre A fluía como lava enquanto
apontava a arma para o ar. "Fora!"
"Você vai se arrepender disso." Sr. Prest abaixou o queixo,
observando-o com olhos assassinos. "Eu vou fazer você
amaldiçoar tudo o que você é." Apontando o dedo para mim, ele
rosnou: "Não ouse machucá-la. A culpa é minha, não dela.
Deixe-me corrigir os meus próprios erros." Atirando-me um
último olhar ilegível, ele desapareceu pela porta.
PEPPER WINTERS
Tony o idiota que tinha me usado muitas vezes soprou-me
um beijo hediondo. "Faça o que ele diz, querida. Os jogos vão
começar logo que aquele bastardo se for." Ele se virou para sair,
depois parou. Uma gargalhada alta saiu dos seus lábios.
Curvando-se, ele pegou a faca que o Sr. Prest havia furtado da
garagem.
Meu coração se afundou ainda mais na areia movediça.
Merda.
O quarto me espremia.
PEPPER WINTERS
Infelicidade me tomou.
Lágrimas correram em minha garganta quando eu as proibi
sair pelos os meus olhos.
Fiquei grata que Mestre A tinha ido.
Mas eu gritei pelo buraco que o Sr. Prest deixou para trás.
Um buraco que tinha sido quente e quase contente por algumas
horas roubadas agora assobiava com os ventos fortes de um
medo cavernoso.
Será que ele realmente foi embora?
Sem um adeus?
Sem um...
O que?
Um agradecimento a você?
O que você esperava? Ele lhe deu prazer. Ele deixou-a dormir
em paz. Ele lhe deu mais presentes do que ninguém, e você
espera mais dele?
PEPPER WINTERS
No momento em que o Sr. Prest fosse expulso da casa,
Mestre A voltaria. E ele não teria a arma com ele. Ele teria
maneiras muito mais inventivas para me matar. Maneiras que
lhe dariam entretenimento e lazer.
Se ao menos ele tivesse deixado a arma em cima da cama.
Eu a teria pegado, mirado meu rosto, passado meus dedos
no gatilho, e dito adeus.
Eu trocaria qualquer esperança de ir para o céu por cometer
suicídio apenas para finalmente ser livre deste purgatório. Eu
receberia a morte com suas asas geladas, esperando que eu
tivesse pagado o suficiente por uma vida melhor.
PEPPER WINTERS
Para minha mãe, eu iria deixar minha coleção rara de selos
ingleses. Para minha amiga, Amanda, deixaria o meu DVD do
filme ‘Os amores de Anne’-
Pare com isso Ratinha. Apenas... Pare.
Eu estremeci.
Eu tinha me chamado de Ratinha assim como o Sr. Prest.
Eu passei muito tempo em minhas memórias, muito tempo com
um homem que me fez lembrar de uma outra vida.
Entrei em um estado de choque e horror, tropeçando para
sentar no colchão, mas caindo de joelhos em vez disso. Meu
coração deixou de pular como um tambor para bater como
castanholas e pratos.
PEPPER WINTERS
tirou do seu sistema. Ele beijou-me para se livrar de qualquer
feitiço que eu lancei sobre ele.
Ele não me fez outras promessas. Na verdade, seu único
juramento foi que ele iria me usar e depois me deixar.
Ele tinha cumprido esse juramento.
Eu não era dele.
Eu pertencia ao Mestre A, e contrato entre eles permanecia.
Lutando contra o abandono e a estupidez muito mais
doloridos do que quaisquer ferimentos abusivos eu tinha
sofrido, o meu mundo mais uma vez ficou escuro quando eu
fechei os olhos e me preparei para o meu fim.
Eu agarrei o lençol, puxando-o para me cobrir. No entanto,
algo caiu e vibrou com a brancura, aterrissando no chão ao
meu lado.
O choque de ver algo desconhecido interrompeu o meu
ataque de pânico.
O que é isso?
PEPPER WINTERS
estava na forma de uma pequena borboleta com asas e antenas
delicadas.
A luz verde da nota deu a ilusão das asas serem feitas de
fios e tinta enquanto o seu corpo encapsulava o valor numérico
do papel.
É tão bonito.
Ele.
PEPPER WINTERS
Eu não gostava da ideia de destruir a criação, mesmo que
fosse degradante, mas a curiosidade era muito maior. Peguei a
pequena borboleta, e a desdobrei para revelar o bilhete interno.
Rabiscado com caligrafia masculina estava escrito:
Era isso.
Sem promessas de voltar ou sugerir que iria pedir para me
passar um tempo comigo novamente. Ele teve sua noite e foi
honesto o suficiente para dizer que não capturei a sua atenção.
Suas palavras eram afiadas como farpas, injetando veneno
em meu coração.
Não o odeie.
Não morra com ódio.
PEPPER WINTERS
Eu tenho que escrever assim que nunca esquecerei.
PEPPER WINTERS
Como ele ousa me expulsar porra!
Será que ele acha que o nosso negócio iria continuar como o
planejado após tal grosseria? Será que ele realmente acha que
eu não iria cortá-lo em pedaços pela falta de respeito que ele
tinha mostrado?
Eu vou feri-lo pelo que ele tinha feito para Pim, mas eu o
mataria pelo que ele tinha feito para mim. A ninguém foi
permitida tal insolência intolerável.
Se ele tivesse me dado mais alguns minutos, eu teria aberto
a maldita porta pela minha própria vontade.
Eu sairia por causa de sua escrava.
Aquele beijo... Merda.
Eu nunca deveria ter feito isso.
Grande erro.
Enorme erro, porra.
E agora, Alrik tinha cometido o seu próprio.
O amanhecer tinha começado, mas eu queria sair desse
inferno branco. Tocá-la? Prová-la? Porra era mais do que eu
poderia manejar. Eu não tinha intenção de ficar sozinho com
PEPPER WINTERS
ela de novo, porque eu me conheço e sabia o que aconteceria se
eu fizesse isso.
Eu estava feliz que ela pertencia a outro.
Desta forma, eu não tinha como voltar para segundas
experiências.
Por um momento terrível, eu queria que ele a matasse.
Imaginei a bala rasgando o seu cérebro e a luz em seus olhos
apagando. Ela iria embora e eu ganharia absolvição.
Se ela estava morta, ela estava livre de mim e Alrik.
Eu estava tão perto de deixá-lo puxar o gatilho.
Mas mesmo que esta seria a coisa certa para tirá-la de seu
sofrimento, eu não tive a coragem de ter sua morte em minha
consciência.
Eu já tinha vergonha o suficiente para me devorar.
Eu não podia adicionar mais.
Não, eu a deixei porque ela não era o meu problema.
Sua vida ‒ não importando se era um inferno ou feliz ‒ não
era da minha conta.
PEPPER WINTERS
"Senhor?" Selix saltou do carro enquanto eu caminhei para
ele, vestindo a minha jaqueta. Os bolsos tilintaram com as
coisas que eu tinha pilhado quando fechei botão do meio. O
pobre cara (fiel à sua palavra) tinha passado a noite esperando.
Ele sabia que eu preferia fazer negócios por conta própria. Eu
poderia lidar com minha segurança se algo desse errado. Não
precisava dele para isso. Mas eu estava grato que ele estava
aqui para me levar para o mais longe possível da porra deste
lugar e Pim.
Porra!
PEPPER WINTERS
Nada está bem.
PEPPER WINTERS
QUERIDO NINGUÉM,
Eu não sei o que aconteceu.
Todas as minhas notas e confissões para você... Elas
desapareceram. Você as levou? Por favor, me diga que você as
pegou. Eu posso lidar com isso. Diga-me você está cansado de
que eu escreva para você, e você jogou tudo no vaso sanitário, ou
as queimou e jogou as cinzas pela janela.
Diga-me qualquer coisa, contanto que não seja que o Mestre A
as tenha encontrado.
Não me diga isso!
Elas estavam lá antes do café da manhã de ontem. Eu
chequei.
Eu não verifiquei na noite passada enquanto o Sr. Prest me
fazia companhia.
Mas agora, eu perdi você.
Eu não quero perder você!
Ah não. Eu posso ouvi-lo chegando.
Merda, Ninguém... E se ele-
PEPPER WINTERS
"Sua maldita putinha!" Mestre A entrou no quarto, pegou a
minha carta, e a rasgou em pedacinhos.
Meu coração gritou como se tivesse assassinando um
vivente amigo.
"Todo esse tempo, você tem escrito e escondendo isso de
mim!"
Pare!
Não me machuque.
Apenas me mate.
PEPPER WINTERS
Não é justo!
Nada disso é certo.
Por quê?
Como ele pôde?
PEPPER WINTERS
Enquanto você dormia. Quando você confiou nele.
Isso não é possível.
Era?
"O silêncio não vai manter seus segredos desta vez." Mestre
A disse, seu corpo tomado pela adrenalina. "Não precisa me
dizer onde eles estão. E eu vou vasculhar o seu quarto até
encontrá-las eu mesmo." Curvando-se, ele sussurrou, "E
quando eu fizer isso, a punição será a segunda coisa mais
dolorosa que você vai sofrer.”
Espere, segunda?
Qual é a primeira?
Que pergunta mais estúpida!
Oh Deus…
PEPPER WINTERS
Envolvendo as mãos sobre minha cabeça, eu tombei de
lado, mordendo minha língua para parar de chorar.
"Você pode evitar isso, se você me disser onde o resto está.
Vou te dar uma última chance.”
Vi estrelas quando os meus olhos dispararam ao redor do
meu quarto, fazendo o meu melhor para detectar as páginas
antes que ele pudesse.
Se o Sr. Prest as encontrou, por que ele iria levá-las? Talvez
ele não sabia o que eram e deixou-as no meu armário ou
abandonadas no chão? Era este o porquê do dólar borboleta,
para pagar por elas? Como pagamento pelos meus mais escuros
e profundos pensamentos íntimos?
PEPPER WINTERS
Para ler minhas emoções e rir? Rir da minha estupidez e
escravidão?
Ele disse que iria se esquecer de mim.
Por que então ter algo para lembrar-se de mim?
PEPPER WINTERS
Eu não quero saber.
PEPPER WINTERS
a porra do pau dele dentro de você, e manter o que você disse a
ele em segredo, pense novamente."
Envolvendo a corda grossa em volta do meu pescoço, ele
puxou forte. "Você vai me dizer o que aconteceu. Você vai porra.
Eu fui paciente o suficiente. Você falou com ele, não foi?" A
saliva voou de sua boca quando ele me arrastou do meu quarto
para o corredor. "Você quer que ele seja o seu mestre e não eu.
Você não pode negar isso.”
O tapete queimou minhas mãos e joelhos enquanto eu fazia
o meu melhor para acompanhá-lo, mas não consegui.
Meus dentes bateram juntos quando ele me puxou para
baixo da escada. Eu me desequilibrei, saltando para baixo
enquanto ele segurava a corda, me sufocando quando eu caí em
um amontoado na parte inferior. Minhas articulações berraram,
mas eu nunca deixei de lado minha borboleta dólar.
"Levanta porra." Puxando a corda, ele obrigou-me a ficar de
joelhos.
Eu folheava o almanaque da minha dor, vendo se havia
novas entradas a temer. Minha mão quebrada gritou, mas nada
mais parecia estar quebrado.
"Eu vou ensinar você."
Bing bong.
PEPPER WINTERS
Eu respirei fundo, incapaz de parar a torrente de lágrimas.
Ele voltou!
Graças por tudo o que é santo, ele voltou.
Espere. O que?
Quem está na porta?
Não!
Pare!
Tira isso!
Eu não posso mais fazer isso!
PEPPER WINTERS
para a sala, me arrastando atrás de si, cortando meu
suprimento de ar quando o laço apertou mais e mais.
Meus olhos saltaram com a pressão construída em minha
cabeça já latejante.
Puxando-me para o meio do espaço com empurrões fortes,
ele me amarrou à perna da mesa de café. "Fique."
Eu não conseguia parar a minha esperança satânica
quando ele desapareceu para atender a porta da frente.
PEPPER WINTERS
Tony se escondia na cozinha, observando-me com os olhos
nefastos. "Você está pronta para algum divertimento, Pim?"
Agarrei meu dólar dobrado quando vozes masculinas
chegaram aos meus ouvidos, ecoando com dois conjuntos de
passos.
"Estou feliz que você está aqui." Mestre A apareceu, sorrindo
para o amigo.
A última esperança estúpida de ser livre da dor evaporou.
Darryl.
"Ei, cara." Tony deslizou em direção a ele, dando um
tapinha em suas costas.
"Vamos ter uma festa, não é?" Darryl sorriu. "Onde está o
pequeno demônio?"
"Bem ali." Mestre A apontou na minha direção.
O olhar de Darryl caiu sobre mim, seus dedos se apertando
ao redor da mochila preta que carregava. "Olá, Pimlico. Eu
soube que você foi uma menina má." Seu cabelo loiro sujo
combinava com o Mestre A, tornando-os irmãos pelo pecado se
não pelo sangue.
"Muito, eu tenho que dizer," Mestre A murmurou. "No
momento em que o bastardo me entregar a minha compra, ele
está morto. Se eu não precisasse tanto do seu produto, eu teria
matado ele no segundo que ele entrou na minha casa."
PEPPER WINTERS
"O que é tão grandiosos assim que ele pode fazer, afinal?"
Tony limpou o nariz com as costas da mão. "É apenas um
barco."
Mestre A rosnou, "Não é apenas um barco. É uma cidade
flutuante. Não, é mais do que isso. É uma arca, seu idiota. E eu
preciso da merda da proteção."
Darryl sorriu. "Você finalmente ficará sem dinheiro, A? Os
tubarões agiotas vão vir atrás de você?"
"Não é da sua maldita conta." Mestre A de repente riu.
"Vamos apenas dizer que, os únicos tubarões que eu quero ao
meu redor são aqueles abaixo de meu iate totalmente blindado
onde posso acabar com eles."
"Boa." Tony deu uma gargalhada.
Suas vozes eram tão nauseantes como lâminas de barbear
no vidro.
Eu odiava esta parte. A antecipação do que eles fariam. A
facilidade da conversa entre amigos antes de me machucar
apenas por diversão.
Olhei para trás, vendo se Monty iria participar. Mas não
havia mais visitantes.
Eu deveria estar feliz. Hoje, eu só tinha de entreter três em
vez de quatro.
PEPPER WINTERS
Então, por que parecia muito pior?
"Certo, o suficiente de bate-papo. Vamos começar."
Desfazendo a corda em torno da perna mesa de café, Mestre A
içou-me na posição vertical com um puxão e me chutou na
coxa. No momento em que eu me encolhi, ele deixou o balançar
corda entre meus seios nus. "Eu não posso acreditar que aquele
bastardo tocou Pim. Ele tocou a minha Pim. Ele estava prestes
a transar com ela, o maldito idiota.”
PEPPER WINTERS
Eles amam esta parte ‒ me fazer esperar, construindo meu
terror.
Eles resmungavam e praguejavam muito baixo para que eu
compreendesse. Ocasionalmente, uma maldição fluía através da
sala, alargando meus olhos. Finalmente, quando a coceira da
corda grossa em volta do meu pescoço se tornou demais para
suportar, e os meus dedos ficaram brancos protegendo minha
borboleta dólar, Mestre A deu um tapa nas costas de Darryl.
"Sim, você está certo. Eu não queria, mas eu estou cansado de
dar-lhe tantas chances." Seu olhar encontrou o meu, escuro e
sem profundidade. "Ela não quer falar? Vamos lhe conceder
esse desejo."
O que?
O que isso significa?
PEPPER WINTERS
quando ele empurrou seus dedos dentro de você. Você pediu
por mais e para ele salvá-la." Sua mão disparou em meu cabelo,
arrancando mais alguns fios em sua indignação. "Responda-me,
Pim. Você falou com ele e não comigo!? "Uma risada maníaca
caiu de seus lábios. "Bem, não por muito tempo. Aquele
desgraçado Prest desapareceu. O nosso contrato está assinado.
E ele nunca vai vê-lo novamente e com certeza nunca mais
ouvi-la novamente.”
Cacarejando como um animal louco, ele estalou os dedos.
Darryl se aproximou imediatamente.
Eu me encolhi, olhando entre os dois homens e o item
horrendo na mão de Darryl.
Grandes tesouras.
Do tipo para cortar rolos de tecido ou peças de metal.
Engoli em seco.
Não…
PEPPER WINTERS
Seus joelhos prenderam meus quadris.
E o riso frio encheu meus ouvidos quando os dedos
rançosos arrombavam minha boca e apertavam a minha língua.
A voz de Mestre A sussurrou ao meu redor. "Você se recusa
a falar, minha querida doce Pim? Agora, você nunca mais vai
falar de novo."
PEPPER WINTERS
QUERIDO NINGUÉM,
É errado que eu ainda a odeio?
Depois de um ano de ser brinquedo de alguém, eu não
deveria abrigar maus sentimentos para aqueles que nunca me
machucaram. Eu deveria ser grata a minha mãe por me dar a
vida, mesmo que seja uma odiosa.
Eu tive sorte antes de ser vendida. Eu tinha sorrisos, escola e
segurança.
Mas isso acabou agora. E eu odeio não ter apreciado o que eu
tinha antes de ter sido roubada.
Ele tirou a minha virgindade antes que eu pudesse ter
quaisquer sussurros ou conversa pré-sexo com a minha mãe ou
risadas sobre namorados tolos. Não que ela fosse fazer tais
coisas. Mas agora, nós nunca vamos falar novamente. Ela não
me conhece mais. Ela não tem idéia do que eu vivi. Eu odeio que
ela não está lá para mim. Eu odeio que ela não me procurou e me
achou.
Eu odeio que eu não sou mais a filha.
Eu sou dele.
PEPPER WINTERS
Eu odeio que eu estou morta para ela, mas eu ainda estou
aqui.
Eu ainda estou aqui, ninguém.
Desaparecendo, desintegrando, em decomposição.
Mas ainda aqui.
QUERIDO NINGUÉM,
Hoje, ele quebrou um osso pela primeira vez. Você pensaria
que estaria mais amedrontada, mais dolorida. Mas eu não estou.
Eu esperava este momento desde que o Sr. Kewet me matou
a poucos metros da minha mãe. No minuto em seus dedos foram
em torno de minha garganta e ele roubou meu relógio, eu não
estava vivendo mais, era meramente um cadáver trazido de volta
à vida para servir.
Ele pode ter me ressuscitado, Ninguém, e salvo alguns anos
de batimentos cardíacos, mas eu morri naquele dia e não voltei a
viver.
Então, o que é um osso quebrado próximo à morte?
Não é nada.
Eu não sou nada.
Eu só quero que isso acabe.
*
PEPPER WINTERS
"Volte com o carro."
PEPPER WINTERS
mãe, sua saudade de seu passado, e como desesperador o seu
mundo tinha se tornado.
Meu coração (que tinha há muito tempo tinha se calcificado
às dificuldades dos outros) bateu para a dor que ela tinha
sofrido. Ela viveu mais do que ninguém deveria enfrentar.
No entanto, isso não alterava os fatos.
Eu tinha negociado uma noite com ela. Isso era tudo que eu
queria. Tudo o que eu poderia ter.
Então, quando ela se mexeu, e culpa me infestou por ler
seus pensamentos particulares, eu voltei a acariciar as suas
costas magras. Eu empurrei um punhado de suas páginas no
meu bolso do blazer porque não tinha outra escolha. Não era
certo roubar a única posse que ela tinha em um mundo onde
não tinha nada, mas era quem eu era.
Um ladrão.
Com questões mais profundas que não podia controlar.
Eu roubo porque eu adoro isso.
Mas também por outra razão.
Sua história era minha agora.
Eu justifiquei o roubo, traçando meus dedos sobre as
contas de sua coluna vertebral, após contusões e borrões, a
tratando com doçura depois de tanto tempo sem nenhuma. Eu
esperava que ela vacilasse e acordasse, mas ela enterrou-se nos
lençóis, murmurando inconsciente ao me dar tanta confiança.
PEPPER WINTERS
Eu tinha encontrado uma recompensa nisso. Que ela
procurou conforto em meu toque, mesmo que eu a peguei
emprestado de um mestre que a tratava como merda.
A partição entre Selix e eu deslizou com um zumbido suave.
"Senhor? Você acabou de dizer para voltar?"
Meus dedos se apertaram ao longo dos papeis macios, onde
Pim tinha derramado as suas confissões mais profundas. "Sim.
Agora."
"Mas... você vai perd-"
"Eu não me importo. Faça."
Cada polegada de mim desejava ir para casa. Sentir o mar
debaixo dos meus pés e deixar este descalabro de merda,
incluindo a noite que passei com Pim, para trás. Mas eu
também não podia ignorar que ela iria morrer por causa de
mim.
Teria sido mais amável do que outras coisas que ele poderia
fazer.
Eu tinha aceitado sua morte, acreditando que era a melhor
coisa para todos. Mas ela havia pagado demais. Ela merecia
algo melhor do que morrer tão extremamente jovem.
Ela valia mais do que uma sepultura.
PEPPER WINTERS
O que importa se ninguém me apoiou quando eu tinha
estado no fundo do poço? O que importa se ninguém me
ajudou?
Eu poderia ajudá-la.
Eu poderia fazer a coisa certa... pela primeira vez na minha
vida sem Deus.
Seu amigo imaginário, ‘Ninguém’, tinha cuidado dela até
agora. E se eu não pudesse protegê-la melhor do que uma
entidade fictícia, porra, que tipo de homem isso me torna?
Um covarde?
Coração frio?
Honesto sobre a natureza fodida do mundo?
PEPPER WINTERS
Mas por que eu iria comprá-la quando eu poderia levá-la?
Eu não deveria.
Eu deveria ir embora antes que eu a ferisse mais que Alrik
jamais poderia. Mas eu tinha mentido quando eu tinha dobrado
a borboleta origami com a minha nota dentro.
Eu não conseguiria esquecê-la até que eu tome o que eu
preciso dela. E o que eu preciso ainda não conquistei.
Uma vez.
A única vez.
Então, eu poderia vendê-la ou libertá-la. Uma coisa era
certa, eu não iria mantê-la por muito tempo. Não era possível
para um homem como eu.
Mas por pouco tempo...
"Sim, tenho certeza. Volte."
"Imediatamente, senhor."
Que se foda a ideologia de manter os negócios longe do
prazer
Eu era um ladrão.
E eu iria roubar a menina silenciosa e fazê-la falar.
PEPPER WINTERS
MEU CORAÇÃO estava em minha boca, saltando na minha
língua como se fosse um trampolim maldito, sem se importar
que as tesouras afiadas logo fossem cortar a única parte que eu
queria desesperadamente manter.
Era estranho que eu quisesse mais a minha língua do que
um dedo da mão ou pé?
Era errado que eu pensei em negociar outras partes pela
minha língua?
PEPPER WINTERS
Seus lábios se moviam, fundindo com a agonia dentro de
mim.
"Eu prometi a você que isso aconteceria se você não fosse
falasse comigo um dia, Pim. Isto é o que vai acontecer.”
Minha mão quebrada queimava enquanto eu batia no chão
e tentava o meu melhor para me esquivar. O dólar na palma da
minha outra mão não foi suficiente para tornar livre.
Minhas lutas se tornaram violentas. Mas havia dois homens
e uma de mim ‒ homens que tinham comido nas últimas vinte e
quatro horas e tinham músculos que não estavam atrofiados de
desnutrição.
Eu não tinha a menor chance.
Darryl sorriu enquanto abria e fechava a tesoura com um
floreio. As lâminas raspavam juntos em um silvo sinistro. "Você
está pronta?"
Não!
PEPPER WINTERS
A parte de mim que eu não tinha usado há muito tempo
estava no corredor da morte. Minha maldição de silêncio se
tornaria realidade.
Mesmo que eu quisesse, eu nunca seria capaz de falar
novamente.
Eu entrei neste mundo com o silêncio sendo minha arma. A
escolha de não falar.
Escolha agora que me seria tirada para sempre.
Como eu poderia dizer à polícia o que foi que foi feito para
mim, se eu não podia falar? Como eu poderia pedir ajuda?
Meu corpo tremia enquanto eu silenciosamente soluçava,
jogando minha cabeça, tanto quanto eu podia nos confins de
joelhos de Mestre A.
Por algumas horas, eu tinha estado na segurança do
controle de outro homem. Um homem que colocou Mestre A em
seu lugar. Por que, oh por que, não falei com ele quando tive a
chance? Por que eu fui tão teimosa? Tão medrosa?
Eu merecia isso.
Eu tinha sido tão estúpida.
E agora, eu nunca iria dizer outra palavra para o resto da
minha vida.
Pelo menos eu ainda tinha meus dedos. Eu poderia
escrever. Eu poderia continuar o meu livro.
PEPPER WINTERS
Anos de memórias roubadas.
Talvez isso, aqui, era o ponto em que eu desisto. Onde eu
admito que eu esteja quebrada. Talvez quando ele cortasse a
minha língua, eu iria morrer de perda de sangue, e finalmente
tudo teria acabado.
PEPPER WINTERS
Mestre A riu. "Sim, vá em frente, Pim. Uma palavra e eu vou
reconsiderar cortar a sua língua." Ele se inclinou e beijou minha
testa, o cabelo fazendo cócegas no meu nariz. "Se eu gostar de
sua voz, eu vou deixar você mantê-la."
O dilema era difícil.
Se eu fizesse isso, ele finalmente ganharia. Minha prisão
incluiria gritos e respostas às suas perguntas torturantes. Se
ele me levasse a proferir uma palavra agora, ele poderia fazer
isso outras vezes.
Ele nunca me deixaria ficar em silêncio novamente.
Ou eu poderia tornar a minha mudez real. Como um
seguidor devoto religioso renunciando a toda a riqueza
monetária ao entrar para um convento, já não é apenas
praticando a sua fé, mas tornando-se sua fé.
Eu ficaria muda não por escolha, mas por incapacidade.
Eu era vaidosa o suficiente para odiar o pensamento de não
ser perfeita? Ou forte o suficiente para aceitar o preço que eu
tinha que pagar para ganhar?
Os dedos de Mestre A beliscou minhas bochechas. "Decida,
Pimlico. Você tem dez segundos para decidir." Ele olhou para
Darryl. "Corte no um. Se ela tenta falar, solte a língua dela."
"Entendi, A."
Meu coração começou uma contagem regressiva, marcando
a cada segundo com dinamite como Mestre A disse: "Dez ..."
PEPPER WINTERS
Devo falar?
"Nove..."
"Oito…"
"Sete…"
"Seis…"
"Cinco..."
"Quatro…"
PEPPER WINTERS
Os dedos de Darryl apertavam, um sabor tênue de cobre
encheu minha boca, quando a unha cavou mais fundo,
puxando a minha língua para fora, tanto quanto possível.
Faça!
Uma palavra.
Que tal: Ajuda. Ou misericórdia. Ou por favor.
"Três."
Eu saturava meus pulmões com oxigênio, inalando forte
pela primeira vez, sabendo que eu iria finalmente transformar o
ar em ondas sonoras através da magia da engenharia humana.
"Dois…"
Eu balancei a cabeça, mostrando selvagemente nos olhos a
promessa de que eu iria falar.
Os homens fizeram uma pausa, sobrancelhas arqueadas,
mas Darryl não largou minha língua. "Vá em frente, Pim... um
pouco de barulho. Mostre-nos que você vai obedecer antes de
começar soltar sua língua.”
Um barulho era mais fácil do que uma palavra. Ele tinha
obtido pior de mim antes.
Obedeci.
O gemido esfarrapado levantou-se com ferrugem e mau uso,
uma vibração estranha no meu peito.
PEPPER WINTERS
Mestre A estava encharcando com meu o suor de terror.
"Boa menina. Você finalmente obedeceu." Beijando a minha
testa, ele sussurrou, "Mas que pena... Eu realmente não gostei
do som da sua voz."
Golpeando meu rosto, ele acenou para Darryl. "Um."
Ele cortou.
PEPPER WINTERS
O carro parou.
Saí.
A porta da frente estava trancada.
Eu usei minhas habilidades de ladrão para entrar em
segundos.
No instante em que entrei, o alarme estalou meus tímpanos
com um alerta estridente.
Eu ignorei, seguindo em frente pelos corredores
desprezíveis.
A casa branca zombou de mim quando eu irrompi da
entrada para sala.
E, de repente, eu já não vi branco.
Mas vermelho.
Lotes e lotes de vermelho.
Eu não parei para pensar. Eu não adivinhei. Eu deixei
aflorar os instintos que eu passei anos tentando esconder, a
raiva surda me tomar; a memória muscular assumir.
No meu passado sórdido, eu tinha feito coisas que me
evoluíram de ladrão para assassino, de assassino para carrasco,
de carrasco para ladrão de almas sem coração. Lutar sempre
PEPPER WINTERS
tinha sido mais do que apenas um hobby. Esteve no meu
passado por gerações. E por causa dos meus únicos defeitos
pessoais me tornei mestre nisso.
Minha mão formou uma lâmina, meus dedos firmes e
longos, juntos como um facão. Eu balancei a arma na jugular
do homem sentado em cima de Pimlico.
Ele tombou de lado, inconsciente em um único golpe.
Pimlico não se moveu enquanto o sangue se derramava em
sua frente, encharcando a sua nudez. Um par de tesouras
grandes caiu da mão do homem inconsciente, fazendo barulho
no chão.
"Que porra é essa!?" Alrik se levantou, deixando a menina
sangrando por todo tapete. Afastando-se, ele me deu a
oportunidade de me aproximar dela.
O homem que tinha derrubado a porta do quarto com um
taco de beisebol avançou para mim, balançando a faca que eu
pegado na garagem. "Seu louco! Você vai morrer.”
Normalmente, gostaria de me divertir com o idiota. Eu iria
brincar com a presa, lentamente a desgastando até que
implorasse para finalizar a luta.
Mas Pim precisava de mim.
Não precisava nem pensar.
Em um segundo, o homem estava esfaqueando ar, fazendo o
seu melhor para me atingir. No próximo, a faca foi torcida de
sua mão para a minha e o cabo foi enterrado em seu estômago.
PEPPER WINTERS
Ele gritou quando eu cortei suas entranhas antes de
arrancar a faca e apunhalar em seu coração.
Seu olhar perdeu o foco no momento em que o objeto
atravessou o músculo que o mantinha vivo. No entanto, isso
não impediu que seu corpo parasse de bombear o seu sangue
para fora e que seus intestinos desenrolassem quando ele caiu
no tapete.
Pimlico levantou-se, com os olhos tão grandes como luas
gêmeas.
O homem estava morto. Ele não valia mais a pena o meu
tempo.
Seu olhar encontrou o meu selvagem e agonizante. Sangue
descia como um rio de sua boca.
O que eles fizeram com ela? Que tipo de monstro faria uma
coisa dessas?
PEPPER WINTERS
Tudo o que me importava era ter certeza de que ela iria
sobreviver mais alguns minutos para que eu pudesse fazer o
que eu deveria ter feito no início, quando esse idiota me
contatou.
Matá-lo.
Dane-se o contrato.
Que se dane a porra do dinheiro.
PEPPER WINTERS
Ela fez uma careta, lágrimas misturando-se com a boca
sangrenta enquanto eu a obrigava a me mostrar o que tinha
sido feito.
A partir de experiências anteriores, eu sabia o que sangrava
tão copiosamente.
A língua.
E porque eu não era estúpido, eu entendi por que ele fez
uma coisa dessas. Ela se recusou a falar. Eu tinha o feito
suspeitar de que ela falou comigo.
Por que ela não tinha falado comigo?
Foi essa a razão? Porque ela sabia que eu iria embora e fez o
melhor para evitar a próxima brutalidade?
Isto era minha culpa.
Eu fiz isso.
PEPPER WINTERS
"Você vai ficar bem.” Pegando deitei-a no sofá branco, tendo
a satisfação suprema quando o carmesim escuro choveu sobre
as superfícies cristalinas. "Fique aqui. Eu tenho que terminar
algumas coisas.”
Alrik tinha desaparecido, mas barulho vinha da despensa
onde ele pegava tudo o que podia para fazê-lo seguro.
Eu o deixaria vir. Eu não iria persegui-lo para começar uma
guerra antes que ele estivesse armado.
Eu não era esse tipo de pessoa.
Ele queria uma luta.
Eu lutaria.
No entanto, o idiota que tinha cortado a língua de Pimlico
não merecia tal respeito.
Os olhos de Pim se travaram com os meus enquanto eu
caminhava em direção ao homem inconsciente e pegava a
tesoura ao lado dele. Toquei com o polegar a lâmina machada
com o sangue ainda quente da garota que eu não consigo tirar
da cabeça e segurei as alças.
Pim engasgou, segurando sua boca, tentando conter o
mórbido fluxo rubi.
Eu balancei minha cabeça. "Não engula. Basta deixá-lo
fluir. Eu vou cuidar de você. Apenas mais alguns minutos e
depois vamos embora."
Ir para onde?
Meu iate?
PEPPER WINTERS
Um hospital?
Eu decidiria quando fosse o tempo. Por agora, eu tinha
outras coisas em minha mente.
Ela não relaxaria. Como poderia com tal ferimento? Mas
seus saíram dos meus até a tesoura no meu punho.
Ela não falou, mas eu ouvi a sua pergunta através do arco
de sua sobrancelha e ódio cintilante em seu olhar.
PEPPER WINTERS
"Dê o fora da minha casa e eu não vou te matar". Alrik grita
confuso da cozinha, ambas as mãos sobre a pistola, os dedos
apertando o gatilho.
Ele ainda pensava que eu iria entregar a sua compra.
Mesmo depois disso.
Eu ri. "Se você fosse metade do homem que pensa que é,
teria atirado em mim."
Ele fez uma careta. "Eu sou o homem melhor, porque eu
não o fiz."
"Não, você é apenas um bastardo ganancioso que ainda
acha que o nosso negócio vai acontecer."
Ele empalideceu. "Eu paguei. Você concordou. Claro, que
vai acontecer. Eu preciso da porra do iate!”
"Precisar e merecer são duas coisas completamente
diferentes." Movendo-me no sofá, eu parei meus dedos
brevemente sobre a bochecha encharcada de sangue de Pimlico.
"Nosso acordo foi anulado no momento em que você mutilou a
jovem."
"Ela é minha para fazer o qu-"
"Como quiser." Levantando minha mão, eu pintei a minha
bochecha com o seu sangue, encharcando-me na dor da pessoa
que eu estava protegendo ‒ assim como os da minha linhagem.
Nós tínhamos lutado para imperatrizes e rainhas. Nós tínhamos
dado a nossa vida a serviço dos outros e vingamos aqueles que
tinham nos ofendido.
PEPPER WINTERS
Esta situação não era diferente.
Os ensinamentos que eu aprendi voltaram a minha mente,
fluindo como memórias mágicas através das minhas veias. Eu
senti falta da minha espada, mas minhas mãos serviriam neste
caso.
"Você foi longe demais desta vez, Alrik."
"Você não tem autoridade para me dizer o que eu posso e
não posso fazer."
"Sim." Eu me aproximei dele. "Eu tenho."
Seus braços tremiam. "Pense de novo."
O vacilo de seus músculos me deu todo o aviso que eu
precisava. Ele puxou o gatilho e outra bala quebrou o tecido do
ar com toda velocidade.
Eu abaixei-me sem esforço e, em seguida, avancei,
empurrando-o com o meu ombro, esmagando-o contra a
bancada da cozinha.
Todo o oxigênio em seus pulmões se extinguiu. O baque
sólido do mármore na sua espinha teve uma boa probabilidade
de deixá-lo aleijado.
Ele caiu de joelhos, apenas para recuperar o fôlego e voltar
a ficar de pé.
Não o ajeitou, depois de tudo.
PEPPER WINTERS
Meu cérebro desligou quando eu estendi a mão e arranquei
a arma incômoda de suas garras. Joguei-a no sofá ao lado de
Pimlico.
Imediatamente, ela se arrastou para ela, segurando a boca
com uma mão e fazendo o seu melhor para suportar o peso da
pistola preta com a outra.
Eu queria dizer a ela que eu ia protegê-la, ajudá-la, mas
minhas intenções não eram a de um homem gentil. Eu vim para
roubá-la não libertá-la.
Ela não precisava saber disso. Não até que eu a tivesse
exatamente onde eu queria. Não até que ela estivesse curada.
Alrik tentou atingir o meu rosto agora que ele tinha sido
despojado de sua arma.
Seu punho me socou apenas porque eu deixei.
A dor foi utilizada como energia no meu treinamento, dando
munição aos instintos animalescos quando o corpo era
ameaçado.
Eu poderia matá-lo rápido ou lentamente.
Se fosse por minha vontade, seria lento.
Mas Pimlico não iria resistir pelas horas que eu gostaria de
torturá-lo. Eu não tinha tempo para fazê-lo morrer de fome por
anos de abuso físico e mental. Ele estava se livrando muito fácil.
Mas agora, por causa dela, tinha que ser rápido.
Minha mão subiu para frente; meus dedos se atolando em
sua laringe.
PEPPER WINTERS
Ele engasgou.
Enquanto ele se dobrava, tentando respirar, eu agarrei seus
ombros e atingi seu rosto com meu joelho.
Com mãos assassinas, agarrei seu queixo, pronto para
quebrar o seu pescoço.
Fiquei decepcionado com o quão rápido três vidas foram
ceifadas. Esta expedição fria não me satisfez.
Mas isso não era sobre mim.
É sobre ela.
PEPPER WINTERS
Seus pés escorregaram sobre o assoalho, mas ele fez o seu
melhor para obedecer. "Você não tem que fazer isso. Você quer
mais dinheiro? Pegue tudo. Você a quer pode levá-la. Eu não me
importo."
"Não é sobre isso." Eu sorri. "É sobre karma e pagar por
aquilo que você fez. Se fosse por mim, você iria sofrer por
décadas, da mesma forma que você fez Pim e inúmeras outras
meninas sofrerem. Mas não temos esse luxo, por isso,
considerar-se com sorte.”
Pimlico nunca tirou os olhos de cima dele, seu dedo seguro
no gatilho. Ela engasgou enquanto mais sangue fluiu, forçando-
a a vomitar sobre o encosto do sofá. Enxugando as lágrimas, a
arma vacilou quando ela se esticou para atirar.
"Espere," eu pedi.
Arrastando Alrik em direção a ela, eu assenti e chutei a
perna dele para fazê-lo se ajoelhar-se e apertei sua cabeça
suada contra o cano da arma. "Agora, você pode matá-lo."
Ela suspirou, riachos escarlates manchando os seios nus. O
olhar que ela deu para mim era tão cheio de agradecimento,
alívio e vitória, que me fez encolher. Ela estava tomada pelo
ódio, após dois anos de tortura que sofreu.
Meu pau se endureceu, reconhecendo o conquistador dentro
dela. Foi por isso que eu não poderia esquecê-la. A razão que
me impulsionou a roubá-la.
Ela era única.
PEPPER WINTERS
Minha igual.
Mesmo que eu nunca fosse admitisse tais coisas.
"Faça, Pimlico. Mate-o." Minha voz rugiu com impaciência e
ganância. "Termine isso."
Alrik uniu as mãos em oração. "Espere! Pim... Doce e
pequena Pim. Não faça isso. Eu te amo!"
Ela cuspiu outra porção de sangue, salpicando por todo seu
rosto. Sua aversão disse a ele exatamente o que ela pensava do
seu assim chamado amor.
Alrik se contorceu, seu temperamento, mais uma o
colocando em apuros. "Por que, sua putinha? Eu vou chicotear
você tant-"
Meus punhos se cerraram com a vontade de surrar o
bastardo. Mas a raiva quente caiu sobre Pim, dando-me uma
fração de segundo de aviso para sair do caminho maldito.
Soltando Alrik, eu desviei para evitar um tiro incorreto ou
ricochete. Eu sacudi quando a arma explodiu.
O cheiro de enxofre bateu no meu nariz, quando o barulho
de uma bala encheu a sala de estar branca.
Por um segundo, Alrik ficou balançando onde eu o tinha
colocado.
Em seguida, ele caiu.
Atordoado e confuso, ele tropeçou enquanto suas mãos
subiram para segurar um buraco recém-formado na barriga.
PEPPER WINTERS
Pim o olhou. Choque fundiu com a descrença de que ela
finalmente o tinha reembolsado com dor.
Ele gritou: "Porra, você atirou em mim! Você me deu um
tiro."
Boom!
PEPPER WINTERS
Ela desmaiaria a qualquer segundo, eu estava chocado que
ela ainda não tivesse caído. Eu não queria que ela desmaiasse
sem vê-lo morto.
Ela precisava ver isso.
Recusei-me a deixá-lo escapar e assombrá-la.
Movendo-se no sofá, eu me ajoelhei ao lado dela e tomei as
suas mãos trêmulas nas minhas.
"Aqui, eu vou ajudá-la."
Alrik ilegível: "Não! Não faça isso!" Sangue foi expelindo por
sua bochecha quando ele fez o seu melhor para segurar ambas
as feridas.
Seus apelos não foram registrados enquanto eu guiava a as
mãos de Pim e apontava a arma diretamente para a testa dele.
"Vá em frente, Ratinha Silenciosa."
O corpo dela estremeceu ao ouvir o apelido, mas seu dedo
puxou o gatilho pela terceira vez.
PEPPER WINTERS
E eu não a deixaria se aprofundar no que tinha feito.
Eu tinha coisas mais importantes para me preocupar ‒ não
sobre a polícia, testemunhas ou outras coisas triviais. Não, algo
muito mais importante do que isso.
A mulher que eu viria a reivindicar estava morrendo.
Eu não podia permitir isso que até eu tivesse tomado o que
precisava.
Quase como se ouvisse os meus pensamentos, Pim deixou a
arma cair sobre o cadáver de Alrik, e desmaiou no sofá.
"Merda." Eu a peguei, carregando-a em meus braços e
subindo a sala.
Sua pele não tinha mais cor, parecendo azul e sem sangue
enquanto eu saia da sala. Não dei nenhuma atenção aos três
homens que ficaram no local em um lago de sangue. Eu estava
focado na mulher pequena, porém formidável nos meus braços.
"Fique comigo, Pim. Eu estou com você."
Ela não respondeu enquanto nós marchávamos pela sua
prisão e saindo pela porta principal, libertando-a da mansão
branca.
PEPPER WINTERS
ISSO DÓI.
Muito mesmo.
Era tudo que eu conseguia pensar. A única coisa que eu
poderia focar.
Derivei dentro e fora da escuridão.
Meu corpo queria afundar... Para afastar a dor. Mas minha
força de vontade tinha esperado muito tempo por isso.
Eu estou livre!
PEPPER WINTERS
com sangue quente me asfixiando e uma dor maior do que eu
pensava ser possível.
Eu não conseguia entender o que estava acontecendo.
Eu estava do lado de fora!
Longe da mansão branca pela primeira vez desde que
Mestre A cobriu o meu lance de um milhão por mim mesma.
O atrito das pedras sob os sapatos de Mr. Prest foram
abafados. A vista da casa de Mestre A no alto de um penhasco
com vista para o mar final era nebuloso. Eu queria beijar o
concreto da calçada e dançar no solo, onde brilhantes arbustos
verdes dormiam.
A Brisa. O sal. O guincho de aves marinhas. Tanto caos
depois de tanto silêncio.
E eu estava muito enrolada em agonia para aproveitar.
PEPPER WINTERS
Eu acabara de testemunhar um assassinato. Um tenebroso,
assassinato horrível.
Eu cometi um assassinato. Uma execução de vingança a
sangue-frio.
E eu gostei disso!
Eu não fiquei triste por suas mortes. Foi o karma.
Considerando, eles sofreram pouco. No entanto, eu não
conseguia descobrir o que viria a seguir. Será que o Sr. Prest
matará a mim também? Por que voltou? Como ele planeja que
eu o pague por este resgate?
Devo correr, gritar, implorar?
Eu não poderia fazer qualquer uma dessas coisas com o
meu corpo rapidamente morrendo, mas eu precisava saber,
para me preparar... Qual será o meu novo destino?
Junto com uma lavagem constante de sangue, eu lutava
para respirar. Minha língua tinha inchado até ficar do tamanho
de um navio de cruzeiro. Ela não deu ouvidos aos meus
comandos para se mover. Ela simplesmente sentou-se,
parcialmente cortada e agonizante, distraindo-me de tudo.
O Sr. Prest me levou até seu carro, ignorando o olhar
chocado de um homem com cabelo escuro parado em pé, com
os olhos dançando para cima e para baixo da entrada como se
esperasse que a polícia aparecesse a qualquer momento.
"Senhor…"
PEPPER WINTERS
"Sem perguntas." O Sr. Prest esperou até que o homem
abrisse o veículo, em seguida, entrou. Ele não falou de novo
enquanto me manipulava em seus braços, sentando-se ao
mesmo tempo em que me colocava em seu colo. Meu sangue
decorava sua bochecha onde ele tinha desenhado a marca de
guerra, se pintando como o diabo que eu suspeitava que ele
fosse, enquanto o vermelho fresco molhava sua roupa como
óleo.
Eu tremia de dor e frio.
Entendendo sem perguntar, o Sr. Prest deslizou-me no
couro preto (não mais um mundo de branco) e tirou seu blazer.
Colocando-o em torno de mim, sobre os meus braços, não se
importando com o meu sangue em suas roupas e carro.
Quanto sangue eu tinha perdido?
Quanto mais eu poderia me dar ao luxo de perder antes de
morrer?
Eu já me sentia tonta e fraca. Minha língua continuou a
inchar, bloqueando minha habilidade de engolir.
Por muito tempo, eu implorei pela morte.
E agora que ela estava tão próxima, eu não queria ir.
Eu estava livre.
Eu estava em um mundo de cores ao invés de preto e
branco.
PEPPER WINTERS
Se eu não estivesse tão confusa e tomada pela dor, eu
poderia me importar que este salvador, este anjo escuro, via-me
babando e de olhos vidrados. Ele me viu oscilar na beira da
inconsciência.
"Dirija, Selix."
O som abafado de uma porta se fechando aconteceu um
nano segundo antes que o carro arrancasse com os pneus
gritando.
"Para onde, senhor?"
"Phanton. Ligue antes. Diga a Michaels para estar pronto".
"Certo."
A divisória móvel subiu quando o Sr. Prest arrastou a
minha forma tonta para os seus braços novamente. Ele me
manteve segura, agindo como um cinto de segurança quando o
veículo entrou em curvas e desceu por estradas que eu nunca
tinha visto antes.
Respirando com dificuldade, ele passou a mão suja de
morte sobre o rosto, manchando-se de sangue na testa e queixo.
Encolhi-me em seus braços, tentando fazer desaparecer
todo o engasgar e líquido metálico.
PEPPER WINTERS
O Sr. Prest olhou para baixo, pegando meu olhar fora de
foco.
Eu não posso.
PEPPER WINTERS
Eu estava fraca e enjoada e não tive escolha, mas eu
obedeci porque eu acabara de testemunhar o que aconteceu
com aqueles que o irritaram. Ele matou-os tão rapidamente, tão
facilmente, como se fossem nada para ele.
Eu não queria ser nada.
Eu queria permanecer em suas boas graças. Lá, eu poderia
encontrar uma palavra gentil ou carinho suave. Eu não queria
mais violência. Eu já tive o suficiente por toda uma vida.
O Sr. Prest segurou meu queixo, seus dedos escorregando
no sangue pegajoso. "Ele mereceu morrer pelo que fez."
Eu concordo.
Ele mereceu morrer por centenas de coisas.
Medo?
Eu tenho medo de você.
Eu não sei o que é pior, você ou morte. E eu não sei como
obter respostas antes que seja tarde demais.
PEPPER WINTERS
Minhas pálpebras fecharam-se quando a escuridão gelada
roubou a minha consciência, cobrindo tudo por um momento.
Era a morte? Ou meramente o choque?
Eu estava vagamente ciente de Mr. Prest rosnando para seu
motorista, "Dirija mais rápido, Selix."
O carro deu uma guinada em seu comando, o motor
rosnando.
Alguns minutos se passaram.
Oscilei entre estar acordada e inconsciente.
Sua voz arrastou-me de volta; sua pergunta me fez abrir os
olhos.
"Você está grata? Que eu te salvei?”
Cansada, tão, tão cansada.
Eu o encarei.
Não.
Sim.
Obrigada.
PEPPER WINTERS
mandíbula para agarrar o meu pulso flexível forjando uma nova
algema, um novo mestre, uma nova vida na servidão. "Eu não
sou o herói desta história, Pimlico. Eu sou outro vilão. É melhor
que você se lembre disso."
Olhando para a bagunça que eu tinha feito e as amarras do
seu toque, meus olhos caíram na nota de dólar que ele me deu.
Eu de alguma forma consegui segurá-la enquanto minha língua
foi cortada e três vidas foram tiradas.
Ele notou também, roubando-a de meu aperto. O dinheiro
verde agora se assemelhava a um tie-dye3 macabro manchado
de vermelho sujo. "Você achou o meu origami."
É meu.
Eu não conseguia tirar os olhos da única coisa que me
restava.
Eu não me importava que fosse dinheiro. Eu só me
importava que fosse um presente e o queria mais do que
qualquer coisa.
Sentindo que eu precisava tê-lo de volta como uma criança
precisava de seu brinquedo favorito para se confortar, ele abriu
a palma da mão.
Agarrei-o.
"É seu. Vou te fazer outro quando estivermos em casa”.
Casa.
Onde era a casa?
PEPPER WINTERS
O que era Phantom?
Nuvens escuras encheram a minha cabeça com algodão e
tempestades. Minhas pálpebras caíram quando derrapei na
escuridão novamente. Porém, quando minha visão fraquejou e
eu me agarrei a lucidez, vi algo branco dentro do bolso do
casaco que eu usava.
Instantaneamente, o nevoeiro se dissipou.
Eu conheço isso.
Você os levou.
Você leu?
Riu deles?
Por isso que você voltou, porque você sentiu pena de mim?
PEPPER WINTERS
Estremeci, gostando dele e o odiando ao mesmo tempo.
Grata e confusa. Chocada e trêmula.
Seu sorriso foi áspero. "Você tem todo o direito de me olhar
assim. Peguei algo que para você é um tesouro, mas não vou
pedir desculpas." Suas pernas se moveram debaixo de mim. "Eu
não vou pedir desculpas porque eu acabei de roubá-la e isto não
é uma coisa boa."
Eu respirei fundo, engasgando com o sangue.
Por quê?
Por que não é bom?
PEPPER WINTERS
ameaças que prometia. "Estamos deixando este lugar e você
nunca vai ser encontrada. Você pertence a mim."
Seus lábios tocaram os meus, esfregando o meu sangue
entre nós. "Oh, e já que você é minha agora, você pode me
chamar de Elder."
PEPPER WINTERS
Eu sou péssima nisto. A parte mais difícil de escrever um
livro para mim é esta pequena seção no final. Eu vou agradecer
cegamente a todos com os quais eu já falei já que meu cérebro
nessas horas se torna um mingau. No entanto, devo dar um
épico agradecimento aos meus leitores beta: Amy, Vickie,
Tamicka, Katrina, Melissa, Yaya, e Celesha. Obrigada a Jenny
pela edição, Katrina por me manter sã, ao meu marido por me
manter alimentada, e a cada autor que sabe a dor e a alegria de
reescrever um livro seis vezes.
PEPPER WINTERS
Monsters - Imagine Dragons
Demon - Imagine Dragons
Skycraper - Demi Lovato
Defying Gravity - Idina Menzel
Time is runnig out - Muse
Last hope - Paramore
Safe and Sound - Taylor Swift
Bring me the horizon - Throne
Madness - Muse
PEPPER WINTERS