Você está na página 1de 9

Universidade de São Paulo

Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas


Departamento de Ciência Política

FLS 6469 / FLP 0413 - "O populismo no pensamento político latino-americano"

Profa. Daniela Mussi

Aulas: Toda segunda-feira, 19h30-23h00


Início das aulas: 14 de setembro

1. Ementa

A partir da segunda metade do século XX, o populismo se converteu em um tema


comum entre os intelectuais latino-americanos, motivados pela necessidade de
analisar os elementos da política em países de formação econômica
subdesenvolvida. Mais especialmente, nasceu como objeto de reflexão de analistas
da emergência de regimes autoritários em contextos de crise das democracias em
todo o continente. Desde então, o termo não apenas não abandonou o léxico
político latino-americano como, nas últimas décadas, serviu não apenas como
chave negativa de análise da relação entre massas e política, assumiu contornos
claramente “positivos” entre analistas que sugerem o populismo como uma
alternativa para a democracia no Sul global. Mais recentemente, ainda, o otimismo
cedeu lugar a um novo ciclo de análises que tomam o populismo como conceito
para pensar o surgimento de lideranças, movimentos e partidos da chamada
“nova-direita”, na periferia e no centro do mundo. Conceito vivo, portanto, o
populismo será objeto deste curso de reconstrução e evolução do termo e do
conceito no pensamento político latino-americano.

2. Objetivos

Os três objetivos principais do curso são: a) oferecer aos estudantes uma base
histórica e analítica para que possam se mover no terreno de pesquisa e análise
do populismo no pensamento político latino-americano contemporâneo; b)
discutir formas rigorosas de combinar pontos de vista analíticos distintos e
mesmo contraditórios, considerados no interior de um movimento histórico de
circulação das ideias políticas ao longo do tempo; c) aprofundamento em
ferramentas de uma história das ideias políticas de tipo global/transnacional e em
sua contribuição para o pensamento e teoria política.

3. Justificativa

O populismo é um objeto recorrente das teorias políticas e também nas análises


de conjunturas na América Latina. Contudo, muitas vezes, a apreensão deste
conceito/fenômeno permanece limitada pela dificuldade de compreensão da
circulação, ou seja, dos significados que o termo adquiriu ao longo do tempo. A
disciplina se justifica, portanto, como oportunidade para que estudantes e jovens
pesquisadores possam aprofundar seu conhecimento histórico e teórico no
assunto em uma perspectiva de história do pensamento político.

4. Metodologia

A metodologia do curso consistirá de aulas expositivas, encontros online para


discussão dos textos e organização de seminários.

5. Avaliação

A avaliação será feita com base na realização de seminários dos textos (4 pontos),
participação nas atividades (1 ponto) e entrega de trabalho final (5 pontos)
6. Módulos

- Como estudar a tradução e circulação das ideias políticas?


- As origens do conceito de populismo
- Análises dos populismos latino-americanos
- Reflexões sobre o colapso dos populismos latino-americanos
- Análises da relação entre populismo e movimento operário
- Análises da relação entre populismo e democracia
- A tentativa de elaboração de uma teoria do populismo
- Análises da emergência do populismo do século XXI
- Análises da crise do populismo do século XXI
- Novas análises da relação entre populismo e democracia

7. Cronograma de encontros e leituras

Encontro 0. Apresentação do programa e da dinâmica do curso

Leitura obrigatória: o programa da disciplina

Encontro 1. Desafios para pensar e estudar o populismo

Leitura obrigatória:
DAMIN, Nicolás Javier; PETERSEN, Mirko. Populismo entre Argentina y Europa. Sobre
la transnacionalización de un concepto . Iberoamericana, a. 16, n. 63, pp. 15-32, nov.
2016.
FINCHELSTEIN, Federico. Returning Populism to History. Constellations, n. 21, v. 4, pp.
467–483, 2014.
Leitura complementar:
LA TORRE, Carlos de. Global populism: histories, trajectories, problems, and
challenges. In: LA TORRE, C. (ed.). Routledge Handbook Of Global Populism.
London/New York: Routledge Taylor & Francis Group, 2019. pp. 1-27

Encontro 2. As origens do conceito de populismo

Leitura obrigatória:
LACLAU, Ernesto. Populism: what’s in a name? In: PANIZZA, F. (ed.) Populism and the
mirror of democracy. London: Verso, 2005.
Leitura complementar:
HOFSTADTER, Richard. North America. In: IONESCU, G.; GELLNER, E. (eds) Populism:
its meaning and national characteristics. Londres: Weidenfeld and Nicolson, 1969, p.
9-27.
VENTURI, Franco. Introduzione. In: VENTURI, F. Il populismo russo. Torino Einaudi,
1952. v. I, p. VII-CXII.

Encontros 3 e 4. Análises do populismo na América Latina

Leitura obrigatória:
ARICÓ, Jose. El peronismo y los problemas de la izquierda argentina. In: ARICO, J.
Dilemas del marxismo en la América Latina. Buenos Aires: Clacso, 2018 [1965], p.
101-116.
BASURTO, Jorge. Populismo y movilización de masas en México durante el régimen
cardenista. Revista Mexicana de Sociología, v. 31, v. 4, p. 853-892, out./dez. 1969.
PORTANTIERO, Juan Carlos. Política y clases sociales en la Argentina actual. Pasado y
Presente, a.1, n. 1, p. 18-23, abr./jun. 1963.
WEFFORT, Francisco. Política e massas. In: COHN, G., IANNI, O. e SINGER, P. (org.).
Política e revolução social no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965a.
WEFFORT, Francisco. Raízes sociais do populismo em São Paulo. Revista Civilização
Brasileira, a. 1, n. 2, p. 39-60, mai. 1965b.
Leitura complementar:
GERMANI, Gino. De la sociedad tradicional a la participación total en America Latina.
In: GERMANI, G. Política y sociedad en una época de transición. 1971. pp. 195-216.
JAGUARIBE, Hélio. O que é o Adhemarismo? Cadernos do Nosso Tempo, n. 2, p. 139-149,
1954.

Encontro 5. Reflexões sobre o colapso dos populismos latino-americanos

Leitura obrigatória:
IANNI, Octavio. A política populista. A formação do Estado populista na América Latina.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975.
WEFFORT, Francisco. O populismo na política brasileira. In: O populismo na política
brasileira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978 [1967].
Leitura complementar:
IANNI, Octávio. A esquerda e as massas. O colapso do populismo no Brasil. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1978 [1966].
IANNI, Octávio. Populismo e nacionalismo. O colapso do populismo no Brasil. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1978 [1966], p. 53-118.

Encontro 6. Análises da relação entre populismo e movimento operário

Leitura obrigatória:
MURMIS, Miguel; PORTANTIERO, Juan Carlos. O movimento operário na origem do
peronismo. In: MURMIS, M.; PORTANTIERO, J. C. Estudos sobre as origens do
peronismo. Sã o Paulo: Brasiliense, 1973 [1971].
WEFFORT, Francisco. Origens do sindicalismo populista no Brasil (a conjuntura do
após guerra). Estudos CEBRAP, n. 4, abr. 1973.
Leitura complementar:
WEFFORT, Francisco C. Participação e conflito industrial: Contagem e Osasco (1968).
Cadernos CEBRAP, n. 5, 1972.

Encontros 7 e 8. Análises da relação entre populismo e democracia

Leitura obrigatória:
DI TELLA, Torcuato S. Populismo y reformismo. In: GERMANI, G.; DI TELLA, T. S.; IANNI,
O. Populismo y contradicciones de clase en Latinoamérica. México D.F: Ediciones Era,
1973, p. 38-82.
GERMANI, Gino. Democracia representativa y clases populares. In: GERMANI, G.; DI
TELLA, T. S.; IANNI, O. Populismo y contradicciones de clase en Latinoamérica. México
D.F: Ediciones Era, 1973, p. 12-37.
IANNI, Octavio. O Estado populista. In: IANNI, O. A formação do Estado populista na
América Latina. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975.
PORTANTIERO, Juan C.; IPOLA, Emilio de. Lo nacional popular y los populismos
realmente existentes. Nueva Sociedad, n. 54, p. 7-18, mai./jun. 1981.
Leitura complementar:
IANNI, Octavio. Populismo y relaciones de clase. In: GERMANI, G.; DI TELLA, T. S.;
IANNI, O. Populismo y contradicciones de clase en Latinoamérica. México D.F:
Ediciones Era, 1973, p. 83-150.
IANNI, Octavio. Classes subalternas e hegemônicas. In: IANNI, O. A formação do Estado
populista na América Latina. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975.

Encontros 9 e 10. A tentativa de elaboração de uma teoria do populismo

Leitura obrigatória:
LACLAU, Ernesto. Para uma teoria do populismo. In: LACLAU, E. Política e ideologia na
teoria marxista: capitalismo, fascismo e populismo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979
[1977] p. 149-204.
LACLAU, Ernesto; MOUFFE, Chantal. Hegemonía y radicalizacion de la democracia. In:
LACLAU, E.; MOUFFE, C. Hegemonía y estrategia socialista. Hacia una radicalización
de la democracia. Madrid: Siglo XXI, 1987, p. 245-318.
LACLAU, Ernesto. ¿Por qué los significantes vacíos son importantes para la política? In:
CAGGIANO, S.; GRIMSON, S. (orgs.) Antología del pensamiento crítico argentino
contemporâneo. Buenos Aires: Clacso, 2015 [1996], p. 85-98.
Leitura complementar:
ROBERTS, Kenneth M. Neoliberalism and the Transformation of Populism in Latin
America: The Peruvian Case. World Politics, v. 48, n. 1, p. 82-116, out. 1995

Encontros 11 e 12. Análises da emergência do populismo do século XXI

Leitura obrigatória:
ARDITI, Benjamin. Populism and democracy. Politics on the Edges of Liberalism.
Difference, Populism, Revolution, Agitation. New Delhi: Edinburgh University Press,
2007.
CANCLINI, Nestor. Preguntas sobre el nacional-populismo recargado. In: CAGGIANO,
S.; GRIMSON, S. (orgs.) Antología del pensamiento crítico argentino contemporâneo.
Buenos Aires: Clacso, 2015 [2004], p. 383-408.
LACLAU, Ernesto. La deriva populista y la centroizquierda latino-americana. Nueva
Sociedad, n. 205, set./out. 2006.
LEVITSKY, Steven; ROBERTS, Kenneth (eds). Latin America's Left Turn. In: LEVITSKY,
S.; ROBERTS, K. The Resurgence of the Latin American Left. Baltimore: Johns Hopkins
University Press, 2011.
REIS, Daniel Aarão Filho. O colapso do colapso do populismo ou A propósito de uma
herança maldita. In: FERREIRA, J. (org.), O populismo e sua história: debate e crítica,
Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, p. 319-377, 2001.
Leitura complementar:
KRASTEV, Ivan. The populist moment. Critique & Humanism, n. 23, p. 103-108, 2007.
LACLAU, Ernesto. A saga do populismo. In: A razão populista. São Paulo: Três Estrelas,
2013 [2005], p. 253-284.
PERUZZOTTI, Enrique. Populismo y representación democrática. In: LA TORRE, C.;
PERUZZOTTI, E. El Retorno del Pueblo. Quito: FLACSO, 2008, p. 97–125.

Encontros 13 e 14. Análises da crise do populismo do século XXI

Leitura obrigatória:
ARDITI, Benjamin. Populism as an Internal Periphery of Democratic Politics. PANIZZA,
F. (ed.) Populism and the mirror of democracy. London: Verso, 2005.
ARENAS, Nelly. El chavismo sin Chávez: la deriva de un populismo sin carisma. Nueva
Sociedad, n. 261, p. 13-22, 2016.
LA TORRE, Carlos de. Correa un populista del siglo XXI. In: CHERESKY, I. (ed.), ¿Qué
Democracia en América Latina? Buenos Aires: CLACSO Prometeo, 2012, p. 251–281.
Leitura complementar:
LA TORRE, Carlos de. In the Name of the People: Democratization, Popular
Organizations, and Populism in Venezuela, Bolivia, and Ecuador. European Review of
Latin American and Caribbean Studies, n. 95, p. 27-48, out. 2013.
LA TORRE, Carlos (ed.). The Promise and Perils of Populism. Lexington: University Press
of Kentucky, 2015.
LA TORRE, Carlos de; ARNSON, Cynthia. (eds). Latin American Populism in the Twenty-
First Century. Baltimore and Washington, DC: Johns Hopkins University Press and
Woodrow Wilson Center Press, 2013.

Encontro 15. O que resta da "nova modernidade populista"?

Leitura obrigatória:
FINCHELSTEIN, Federico. Fascism and Populism. In: LA TORRE, C. (ed.). Routledge
Handbook Of Global Populism. London/New York: Routledge Taylor & Francis Group,
2019. pp. 307-318
MOUFFE, Chantal. El momento populista. Por un populismo de izquierda. Buenos Aires:
Siglo XXI, 2018.
MOUNK, Yascha. A crise da democracia liberal. O povo contra a democracia: por que
nossa liberdade corre perigo e como salvá-la. São Paulo, Companhia das Letras, 2019.
Leitura complementar:
CORCUFF, Philippe. Juego de tronos o el devenir autoritario del «populismo de
izquierda. Nueva Sociedad, n. 282, jul./ago 2019.
MOUFFE, Chantal; MAZZOLINI, Samuele. Entrevista “La apuesta por un populismo de
izquierda” Nueva Sociedad, n. 281, p. 129-139, mai./jun. 2019.

Você também pode gostar