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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

DEPARTAMENTO DE ANTROPOLOGIA
PENSAMENTO ANTROPOLÓGICO CLÁSSICO NO BRASIL
Prof. Dr Livio Sansone
2017.1

FCH – Pensamento Antropológico Clássico no Brasil


Disciplina obrigatória – Carga Horária: 68 horas
Horário: 2 as e 4as, das 10.40 às 12.30 h.

EMENTA

Refletir sobre a Antropologia produzida no Brasil, analisando as perspectivas e paradigmas de


diversas escolas e a sua articulação com o contexto antropológico mundial.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO.

O conteúdo da disciplina abarcará o período de 1870 à Segunda Guerra Mundial e estará


dividido em 3 módulos.

MÓDULO 1. O povo brasileiro com problema: o paradigma racial em finais do século XIX na
Europa e no Brasil. Neste primeiro momento, trata-se de lembrar os paradigmas
interpretativos existentes na segunda metade do século XIX na Europa e Estados Unidos da
América e mostrar como, no Brasil, na contramão do que acontecia no continente europeu e
em norte-América, o paradigma racial foi mais importante do que o evolucionista. As reflexões
e idéias da chamada Geração de 1870 serão contextualizadas, enfatizando a importância do
surgimento da República e da abolição da escravidão. Além das aulas teóricas e expositivas,
este módulo contará com os seminários sobre autores fundamentais do período, tais como
Silvio Romero, Nina Rodrigues, Euclides da Cunha e Oliveira Viana.

MÓDULO 2. O povo brasileiro como solução: O relativismo cultural, regionalismo e


modernismo e o elogio da miscigenação. Em contraposição à geração de 1870, na obra
fundamental de
Paulo Prado, Sérgio Buarque de Holanda e Gilberto Feyre se critica o paradigma racial
(embora não consiga se livrar plenamente dele) e inicia uma transição do marco teórico da
raça para aquele da cultura, assim como da proposta política do branqueamento para o da
miscigenação. Este módulo abarca as transformações históricas que permitem a transição de
paradigmas, enfocando a relação do incipiente pensamento sócio-antropológico com as
vanguardas artísticas e literárias no Brasil e no resto da América latina. Ênfase especial será
dada à trajetória individual de Freyre. No mesmo, o seminário será sobre este autor.

MÓDULO 3. A institucionalização da Antropologia no Brasil: as décadas de 1930 e 1940. Este


módulo discute o momento em que a reflexão antropológica brasileira se institucionaliza
mediante a criação de escolas e faculdades de ciências sociais e humanas, assim como de
museus etnográficos, inexistentes até então. Apresentar-se-á a primeira geração de mestres
estrangeiros que irão desenvolver as pesquisas antropológicas posteriores, feitas por quadros
com formação específica e com critérios metodológicos antes ausentes. Discutiremos a
importância de autores estrangeiros que ficaram no Brasil por um longo período – Pierson,
Bastide, Willems –, os que passaram apenas uma temporada deixando, no entanto, profundas
marcas – Levi Strauss, Frazier, Turner, Herskovits, Landes –, assim como a importância de
autores brasileiros, tais como Arthur Ramos e Édison Carneiro. Em relação ao marco teórico,
veremos como este período está marcado pela escola de cultura e personalidade na
antropologia norte-americana, mantendo-se. Encerramos o curso com uma analise do
processo de criação dos primeiros museus etno-demo-antropológicos, propriamente ditos,
que corresponde a esta última fase. Alguns museus, coleções e memoriais serão visitados,
como parte das atividades.
A maior parte dos textos se encontram na internet ou estão disponíveis em pdf para os alunos.

FORMA DE AVALIAÇÃO

O resultado do(a) aluno(a) será o fruto da média ponderada das seguintes 3 notas:
 Nota relativa à participação individual na discussão dos 13 textos de leitura obrigatória
(cada texto terá o valor de 0,8 pontos).
 Nota relativa à participação em um dos seminários (a nota será coletiva desde que não
haja grandes discrepâncias no grupo).
 Nota relativa à prova escrita individual (aplicada ao final do semestre e envolvendo todo o
conteúdo da disciplina).
 Nota relativa ao relatório sobre as visitas aos museus e memoriais.

Observações:
 Todos os membros da equipe deverão falar.
 O data show só poderá ser usado para reproduzir as citações do texto que ilustrarão a
exposição das idéias principais do texto selecionadas pela equipe ou como pauta para
pontos a serem abordados. A exposição NÃO PODE SER uma leitura do slide.
 A exposição deverá ser dirigida aos colegas (e não só à professora): trata-se de
apresentar, expor, resumir e avaliar textos fundamentais para o conhecimento e uso
destes por parte dos colegas/ouvintes que não os leram, portanto, as equipes deverão
fazer um grande esforço didático.

CRONOGRAMA DE AULAS, DISCUSSÃO DE TEXTOS, SEMINÁRIOS E AVALIAÇÕES.

Apresentação do conteúdo da disciplina e das formas de avaliação. Formação de equipes

MÓDULO 1. O paradigma racial em finais do século XIX na Europa e no Brasil

As ideias de Sílvio Romero


Seminário sobre o texto de ROMERO, Sílvio. História da literatura brasileira. Rio de Janeiro:
José Olympio / Brasília: INL, 1980 [1888]. 1º. Volume - Contribuições e estudos gerais para o
exato conhecimento da literatura brasileira (cap. I – IX, p. 1-150) e Conclusões gerais (p. 267-
344). (pdf)

As ideias de Nina Rodrigues. Antropologia, criminologia positiva e raciologia


Seminário sobre o texto de RODRIGUES, Nina. Os africanos no Brasil. São Paulo:
Editora Nacional; Brasília: Editora Universidade de Brasília, 7ª ed., 1988. (Comentário
de Sílvio Romero, Introdução, do capítulo IV até o final (pdf); e As raças humanas e a
responsabilidade penal no Brasil. Salvador: Livraria Progresso Editora, 1957. Capítulo
III – VI (69-160) [livro de domínio público na Internet]

As ideias de Euclides da Cunha.


Seminário sobre o texto de CUNHA, Euclides. Os sertões. Edição crítica Walnice Nogueira
Galvão. São Paulo: Brasiliense, 1985. Parte 2: “O homem” (p. 130-255). (pdf)
As ideias de Oliveira Viana. Oliveira Vianna 1956. “Evolução da raça”, Evolução do Povo
Brasileiro Rio de Janeiro:: Olympio, 55-121. (pdf)

As ideias de Manuel Querino. Manuel Querino 1955. “ A raça africana e seus costumes na
Bahia”, em A Raça Africana, Salvador: Progresso, 17-44. (pdf)

Discussão de leitura obrigatória na qual é apresentada a discussão das ideias no Brasil entre
1870 e 1920.
SCHWARCZ, Lilia. “Usos e abusos da mestiçagem e da raça no Brasil”. Afro-Ásia, 18 (1996), 77
101. Disponível em WWW.afroasia.ufba.br

SCHWARCZ, Lilia. “Uma história de ‘diferenças e desigualdades’: as doutrinas raciais do século


XIX” In: O Espetáculo das raças. São Paulo: Companhia das Letras, 1993 (p.43-66)

ALONSO, Angela. Idéias em Movimento: A Geração de 1870 na Crise do Brasil-Império. São


Paulo: Paz&Terra, 2002 (Introdução p. 21 a 49).

Atividade: assistir o filme “Venus noire” e detectar e examinar o racialismo exposto nele.

MÓDULO 2. O povo como solução.

As ideias de Paulo Prado em Retrato do Brasil (disponível online).


http://www.iphi.org.br/sites/filosofia_brasil/Paulo_Prado_-_Retrato_do_Brasil.pdf

As ideias de Sergio Buarque de Holanda em Raízes do Brasil (disponível on line)


http://cei1011.files.wordpress.com/2010/05/raizes_brasil.pdf
Apresentação do filme Raízes do Brasil

As ideias de Gilberto Freyre em Casa Grande e Senzala. Rio de Janeiro: Editora Record, 29ª.ed.,
1994. Cap. I (p.3-87, IV e V (p.282-481) e Sobrados e mocambos. Vol. I: Cap. II (30-66), Cap. V
(152-262). (livros na biblioteca e pdf)

Discussão de leitura obrigatória


PALLARES-BURKE, Maria Lucia Garcia. Gilberto Freyre: um vitoriano dos trópicos. São Paulo:
Editora Unesp, 2005. (Cap. 3 – p. 249-327).

BOTELHO, André e SCHWARCZ, Lilia (orgs.). Um enigma chamado Brasil. 29 intérpretes e um


país. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
MÓDULO 3. A institucionalização da Antropologia no Brasil: as décadas de 1930 e
1940.

A contribuição de Arthur Ramos. A Antropologia na Bahia antes de sua


institucionalização: Édison Carneiro e Ruth Landes.
Seminário sobre Arthur RAMOS. O Negro Brasileiro. Rio de Janeiro: 5ª Ed., Graphia,
2001 [1934]. Introdução (p. 17-32), A religião jeje-nagô (p. 35-52) e A liturgia jeje-nagô
(p. 53-66), O sincretismo religioso (p. 114-152) e Introdução à segunda edição (Gilberto
Freyre) (p. XXXIX – LXXIII). (pdf)
http://www.brasiliana.com.br/obras/o-negro-brasileiro-1-v-etnologia-religiosa

Seminário sobre o texto de PIERSON, Donald. Brancos e Pretos na Bahia (estudo


de contato racial). São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2ª ed., 1971. Introdução
à segunda edição (29-65), Miscigenação (175-209), Raça e status social (213-271) (pdf)

Seminário sobre a influência do culturalismo norte-americano: Herskovits e a


aculturação.
HERSKOVITS, Melville. “Pesquisas etnológicas na Bahia”. Afro-Ásia, Salvador, N.4/5,
1967 (p.89-106). [pdf]
Livio Sansone 2012. “Franklin, Lorenzo e Mel no Gantois”. Revista Brasileira de Ciências
Sociais. On line no WWW.scielo.br

Seminário sobre o texto de BASTIDE, Roger. As Américas negras. São Paulo: DIFEL,
Edusp, 1974. Introdução (p.5-8), Cap. II (p.26-45), Cap. VI (p.120-140) e Cap. IX (p.178-
194).

Os primeiros estudos sobre os índios brasileiros: Nimuendaju e Roquette-Pinto.


ROQUETTE-PINTO, E. Ensaios de anthropologia brasiliana. São Paulo: Companhia
Editoria Nacional, 1933. Cap.II e III (p.15-35).
NIMUENDAJU, Curt. Mapa etno-histórico de Curt Nimuendaju. Rio de Janeiro: IBGE,
1987 (p.9-38).

Discussão de leitura obrigatória sobre a institucionalização da Antropologia no Brasil.


CORRÊA, Mariza. “Traficantes do Excêntrico. Os antropólogos no Brasil dos anos
30 aos anos 60”. RBCS, n.6, vol.3, fevereiro de 1988, p. 79 a 98.
As missões francesas: o caso de Lévi-Strauss. Discussão de leitura obrigatória
LÉVI-STRAUSS, Claude. Tristes Trópicos. Lisboa: Edições 70, 1979. Capítulo V
“Olhando para trás” (41-63).
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

Módulo 1.
ALMEIDA, Alfredo Wagner. Uma genealogia de Euclides da Cunha. In, VELHO, G. (org). Arte e
Sociedade: Ensaios de Sociologia da Arte. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 1977. (p. 88-
129). [pdf]
BERNUCCI, Leopoldo - Prefácio de CUNHA, Euclides. Os Sertões (Cem anos da 1a. Edição). São
Paulo: Ateliê Editorial, Imprensa Oficial, 2002. (p. 13-62).
CORRÊA, Mariza. As ilusões da liberdade. A Escola Nina Rodrigues e a Antropologia no Brasil.
Bragança Paulista, BO: EDUSF, 1998.
COSTA, Iraneidson Santos. “A Bahia já deu régua e compasso: o saber médico-legal e a questão
racial na Bahia, 1890-1940”. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em
História, Universidade Federal da Bahia, 1997.
LIMA, Nísia Trindade; SANTOS, Ricardo Ventura; COIMBRA Jr., Carlos E. “A Rondônia de Edgard
Roquette-Pinto. Antropologia e projeto nacional”; SANTOS, Ricardo Ventura. “Os debates
sobre mestiçagem no Brasil no início do século XX. Os Sertões e a medicina-antropologia do
Museu Nacional”. In: LIMA, Nísia Trindade e Sá, DOMINICHI Miranda de (orgs). Antropologia
Brasiliana. Ciência e educação na obra de Edgard Roquette-Pinto. Belo Horizonte/Rio de
Janeiro: Editora UFMG/Editora Fiocruz, 2008 (p. 99 a 121 e 123 a 145).
OLIVEIRA, Roberto Cardoso de e RUBEN, Guilhermo Raul (orgs) Estilos de Antropologia.
Campinas: Editora da Unicamp, 1995
RABELLO, Sylvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1967.
RAMOS, Artur. “Introdução”, “O problema do negro no Brasil“, “A religião jeje-nagô” e “A
liturgia jeje-nagô”. In: _______ O Negro Brasileiro. Rio de Janeiro: Graphia, 2001 ( p. 17 a 32,
35 a 52 e 53 a 66).
RODRIGUES, Nina. O animismo fetichista dos negros baianos. Rio de Janeiro: Fundação
Biblioteca Nacional/Editora UFRJ, 2006.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças. Cientistas, instituições e questão racial no
Brasil 1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
SCHNEIDER, Alberto Luiz. Sílvio Romero, hermeneuta do Brasil. São Paulo: Annablume, 2005
(p.11-44, 71-96).

Módulo 2.
ARAÚJO, Ricardo Benzaquen. Guerra e Paz. Casa Grande e Senzala e a obra de Gilberto Freyre
nos anos 30. São Paulo: Ed.34, 1994. [pdf]
BOTELHO, André e SCHWARCZ, Lilia (orgs.). Um enigma chamado Brasil. 29 intérpretes e um
país. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
LEITE, Dante Moreira. O caráter nacional brasileiro. História de uma ideologia. São Paulo:
Editora Ática, 5ª Ed., 1992.
RIBEIRO, Darcy. Gilberto Freyre. “Uma introdução a Casa Grande & Senzala”. Gentidades.
Porto Alegre: L&PM, 1997 (p. 7 a 90).

Módulo 3.
CORRÊA, Mariza. “Dona Heloisa & A pesquisa de campo”. In: _______ Antropólogas &
Antropologia. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003 (p.141 a 161).
LESTRINGANT, Frank . “De Jean Léry a Claude Lévi-Strauss”, Revista de Antropologia, USP,
2000, V. 43 nº 2. [pdf]
PEIRANO, Mariza. “Os antropólogos e suas linhagens”. In: CORRÊA, Mariza e LARAIA, Roque
(orgs) Roberto Cardoso de Oliveira. Homenagem. Campinas: Unicamp/IFCH, 1992 (p. 31 a 47).
LANDES, Ruth. A cidade das mulheres. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2002
PEREIRA, João Baptista Borges. “Emilio Willems e Egon Schaden na história da Antropologia”.
Estudos Avançados 8 (22), 1994. [pdf]
PEIXOTO, Fernanda. “Lévi-Strauss no Brasil: a Formação do Etnólogo”, MANA, 4 (1)78-109,
1998. [pdf]
_______ “A Nação Experimental - Lévi-Strauss e Tristes Trópicos”. Especial Caderno Mais!
Folha de São Paulo, 22 de maio de 2005. [pdf]
VOIGT, André Fabiano. “Emílio Willems e a invenção do teuto-brasileiro, entre a aculturação e
a assimilação (1940-1946)”. História: Questões & Debates, Curitiba, n.46, p.189-201, 2007,
Editora UFPR.
WILLEMS, Emílio. A aculturação dos alemães no Brasil. São Paulo/Brasília: Companhia Editora
Nacional / INL, 1980.

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