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FLS - 6463 / FLP - 0471 - "Temas de Teoria Política Moderna"

Profa. Dra. Eunice Ostrensky


Aulas: Segundas-feiras, 14h-18h

1. Ementa
Este curso pretende explorar uma leitura retórica de alguns escritos políticos em circulação
entre os séculos XVI e XVIII. Para se esclarecer o que se entende por "leitura retórica", é
preciso, de saída, examinar alguns métodos de interpretação em história das ideias. Essa
precaução metodológica traz para o centro da análise, além do estudo de obras mais canônicas,
discursos políticos que não se encaixam nos ideais contemporâneos de sistematicidade e
cientificidade, e por isso lançam luz sobre certas práticas de interpretação de textos, construção
de teorias e mobilização de afetos necessária à ação política. Esse ponto de partida abre espaço
para a discussão de questões sobre a natureza do poder que só recentemente têm recebido mais
atenção, como o papel da mulher na teoria política moderna. Ao mesmo tempo, o exame da
bibliografia secundária visa a demonstrar o caráter polêmico e controvertido de conceitos
centrais utilizado pelos autores e autoras. O curso procura contribuir tanto para a formação de
pesquisadoras e pesquisadores, como de professoras e professores de ciências sociais.

2. Objetivos
O objetivo central do curso é permitir que alunas e alunos desenvolvam atividades de leitura e
redação dirigidas para teoria política, com base em distintos métodos de leitura de textos em
história das ideias. O objetivo secundário consiste em oferecer ferramentas conceituais que
permitam interrogar os pressupostos compartilhados pelas interpretações mais convencionais
em teoria política.

3. Justificativa
O curso está dividido em dois módulos conexos. No Módulo I, genericamente intitulado de
“Método e Retórica”, a finalidade é sistematizar questões metodológicas e conceituais,
questionando o tratamento das fontes primárias em história intelectual. Ao fim desse módulo,
pretende-se mostrar que a teoria política, pelo menos a que se desenrola na modernidade, possui
uma natureza eminentemente retórica, não havendo como entender os textos sem levar em
consideração as intenções de autores e autoras, seu público e suas estratégias de
convencimento. A teoria política se produz em meio a debates, que poderiam ser caracterizados
como variadas estratégias de legitimação e exercício de poder.
No Módulo II, discutem-se diferentes textos teóricos, que vão de panfletos a obras
sistemáticas. O objetivo é privilegiar uma análise sobre textos que tratam da produção de poder
e dominação, levando-se em conta também a iconografia que ampara ou deslegitima as
pretensões sobre o governo de homens e mulheres. Em particular, procuraremos documentar
algumas omissões e descrições dos supostos papeis femininos nos discursos escritos por
teóricos políticos; mas também nos moveremos, a partir disso, em direção à recuperação das
vozes das próprias mulheres, suas experiências nas margens do mundo eminentemente
masculino. Além de podermos ver, nesse itinerário, como operam as autodescrições masculinas
e as construções institucionais que derivam da construção da dominação (sobretudo do homem
sobre a mulher), é possível que tenhamos meios de apontar as tensões e conflitos inerentes a
diferentes discursos de teoria política, e é nesse momento que a discussão prévia sobre o
método pode se fazer mais útil.

Observação: Na medida do possível, será fornecida tradução para os textos da


bibliografia obrigatória examinados em aula.

4. Metodologia
O curso será desenvolvido na forma de aulas expositivas (online), leituras e análise da
bibliografia primária e secundária.

5. Avaliação
● 4 trabalhos de cerca 4-5 páginas (incluindo bibliografia e notas) sobre textos da
bibliografia primária e secundária, a serem entregues ao longo do semestre;
● apresentação de questões relativas ao texto a ser discutido na aula específica;
● participação nas discussões de aula.

6. Conteúdo
Módulo I (aulas 1 a 6)
A crítica de Skinner às leituras textualistas em história das ideias
Pocock: inovação e conceitos diacrônicos
A história dos conceitos de Koselleck
A virada retórica de Skinner
Hörnqvist e uma certa teoria da recepção

7. Leituras obrigatórias:

HÖRNQVIST, Mikael. Machiavelli and Empire. Cambridge: University Press, 2004, cap. 1,
pp. 1-37.
KOSELLECK, Reinhart. "Introduction and Prefaces to the Geschichtliche Grundbegriffe".
Contributions to the History of Concepts. 6: 1 (2011).
POCOCK, J. G. A. "O conceito de linguagem e o métier d'historien". In: Linguagens do ideário
político. São Paulo: Edusp, 2003, cap. 2. pp. 63-82.
SKINNER, Quentin. "Meaning and Understanding in the History of Ideas. In: Visions of
Politics. Londres: Cambridge University Press, 2001, vol. I, cap. 4, p. 57-89.
http://www.revistas.udesc.br/index.php/tempo/article/view/2175180309202017358
https://doi.org/10.5965/2175180309202017358
SKINNER, Quentin. "Moral principles and social change". In: Visions of Politics. Londres:
Cambridge University Press, 2001, vol. I, cap. 8, p. 145-147.

Módulo II (aulas 8 a 14)


Maquiavel: o cerco a Caterina Sforza por César Bórgia
Maquiavel: A Lucrécia romana e a Lucrezia florentina
As mulheres levellers na Revolução Inglesa
Hobbes: as representações que nos governam
Montesquieu: o governo do medo e seus simulacros
Mary Wollstonecraft: educação e liberdade das mulheres

Aula 15: discussão dos trabalhos de graduação

Leituras obrigatórias:
HOBBES, Thomas. Leviatã. São Paulo: Martins Fontes, 2003; Introdução, cap. 1, 2, 6, 8 e 10.
MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. São Paulo: Martins Fontes, 2004; cap. 3, 7, 20.
MAQUIAVEL, Nicolau. A Mandrágora
MAQUIAVEL, Nicolau. Discurso sobre a década de Tito Lívio. São Paulo: Martins Fontes,
2007; I, 16, 38; II, 24; III, 1, 3, 5,6, 11.
https://oll.libertyfund.org/titles/machiavelli-the-historical-political-and-diplomatic-writings-
vol-3
MONTESQUIEU, O Espírito das Leis. Livro V; Livro XVIII, cap. 18-21.
[Várias] A Remonstrance of the Shee-Citizens of London (21 August, 1647)
[Várias]. Women Will Have Their Will. Londres, 1648.
[Várias]. The Humble Petition of divers well-affected WOMEN, of the Cities of London and
Westminster, the Borough of Southwark, Hamblets, and Parts Adjacent. Affecters and
Approvers of the Petition of Sept. 11. 1648.
https://oll.libertyfund.org/titles/hart-tracts-on-liberty-by-the-levellers-and-their-critics-1638-
1660-7-vols
Wollstonecraft, Mary. Reivindicação dos direitos da mulher. São Paulo: Boitempo Editorial
[1792], 2016.

Bibliografia secundária

BEHUNIAK-LONG, Susan. “The Significance of Lucrezia in Machiavelli’s ‘La


Mandragola.’” The Review of Politics 51, no. 2 (1989): 264–80.
BERGES, Sandrine. The Routledge Guidebook to Wollstonecraft’s A Vindication of the Rights
of Woman. Routledge, 2013.
BENNER, Erica. Machiavelli’s Prince: A New Reading. OUP Oxford, 2013.
BOUR, Isabelle. " A New Wollstonecraft : The Reception of A Vindication of the Rights of
Woman and of The Wrongs of Woman in Revolutionary France". Journal for Eighteenth-
Century Studies (revue de la British Society for Eighteenth-Century Studies)
V.36. n.4, 2013, pp. 575-587.
BROWN, Wendy. Manhood and Politics. Rowman & Littlefield. New Jersey, 1988.
DURAN, Jane. Eight Women Philosophers: Theory, Politics, and Feminism. Urbana;
Chicago, University of Illinois Press, 2006..
HAIRSTON, Julia L. “Skirting the Issue: Machiavelli's Caterina Sforza.” Renaissance
Quarterly, vol. 53, no. 3, 2000, pp. 687–712. JSTOR, www.jstor.org/stable/2901494.

GINZBURG, Carlo. Medo, reverência, terror. Federico Carotti et ali (trad.). São Paulo:
Companhia das Letras, 2008.

KAHN, Victoria. Machiavellian Rhetoric: From the Counter-Reformation to Milton. Princeton


University Press, 1994.
MARTINEZ, Ronald L. “The Pharmacy of Machiavelli: Roman Lucretia in ‘Mandragola.’”
Renaissance Drama 14 (January 1, 1983): 1–43. https://doi.org/10.1086/rd.14.41917200.

MATTHES, Melissa. The Rape of Lucretia and the Founding of Republics: Readings in Livy,
Machiavelli, and Rousseau. Penn State University Press, 2000.

NAJEMY, John M. Between Friends : Discourses of Power and Desire in the Machiavelli -
Vettori Letters of 1513 - 1515. Princeton, N.J: Princeton University Press, 1993.

NAJEMY, John. “Machiavelli and Cesare Borgia: A Reconsideration of Chapter 7 of The


Prince. The Review of Politics, Vol. 75, No. 4 (2013): 539-556.

PITKIN, Hanna Fenichel. Fortune Is a Woman: Gender and Politics in the Thought of Niccolo
Machiavelli. University of Chicago Press, 1999.

POCOCK, J. G.A. The Machiavellian Moment: Florentine Political Thought and the Atlantic
Republican Tradition. Princeton University Press, 2003.

REBHORN, Wayne A. Foxes and Lions: Machiavelli’s Confidence Men. Cornell University
Press, 1988.

SAXONHOUSE, Arlene W. “Comedy, Machiavelli’s Letters, and His Imaginary Republics”.


In: The Comedy and Tragedy of Machiavelli. Vickie B. Sullivan (ed.). Yale University Press,
2000; pp. 57-77.

SKINNER, Quentin. Reason and Rhetoric in the Philosophy of Thomas Hobbes. Cambridge:
Cambridge University Press, 1996.

SKINNER, Quentin. From Humanism to Hobbes: Studies in Rhetoric and Politics. Cambridge:
Cambridge University Press, 2018.
VIEIRA, Mónica Brito. The Elements of Representation in Hobbes: Aesthetics, Theatre, Law,
and Theology in the Construction of Hobbes’s Theory of the State. BRILL, 2009.

WARD, James O. “Reading Machiavelli Rhetorically: The Prince as Covert Critique of the
Renaissance Prince.” California Italian Studies 2, no. 2 (2011).
https://escholarship.org/uc/item/4sc5s550.

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