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Coral É Coisa Séria - Regés Marth
Coral É Coisa Séria - Regés Marth
1° edição
2009
Coral é Coisa Séria
Por Réges Marth
Copyright 2009
ISBN - 978-85-909828-0-7
Organização e Revisão:
Verônica Bareicha e Mirian Duarte Santana Weige Marth
Revisão Final:
Mirian Marth
A g ra d e c imentos ............................ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
D e d ica tór ia ................................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 3
I ntr od u çã o .................................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 7
1. C omo Tu d o co m e ço u .............. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 1
2. O q u e é l ou vo r? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
3. V i agen s, fe sta s, eve ntos, a m igos e af i n s . . . . . 4 3
4. O E n sai o... ............................ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 7
5. Rep ertór i o - A influ ê n c ia d a mú s i ca. . . . . . . . . . . 9 3
6. O formato d o se u Co ra l.......... . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 0 9
7. O M aest ro, a p e le .................. . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 4 5
8. A O ração bê b a d a .................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 6 3
B i bliog r a fia ................................. . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 7 5
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Agradecimentos
G ostaria de agradecer ao tempo. Foi ele quem me possibilitou passar
dias à frente de diferentes corais como; o Jovem de Novo Hamburgo,
da Igreja da Floresta em Porto Alegre; o Coral Jovem do UNASP C2, do
Centro Universitário Adventista de São Paulo - Campus 2; o Coral Jovem
do IABC, do Instituto Adventista Brasil Central. Também as diferentes
escolas que atuei com professor de música e regente de seus corais.
Destas escolas tive o privilégio de formar 12 corais que estão em funcio-
namento até o presente momento da publicação deste livro. Em espe-
cial ao Coral Jovem do Rio que atualmente dedico, com muito prazer, o
meu tempo ao seu ministério.
Gostaria de agradecer também aos erros. Foram eles que, apesar de
todo o constrangimento e preocupação, causaram a reação necessária
para superação das adversidades, sem contar que grande parte das ex-
periências deste livro, foram escritas com base neles. Não posso deixar
de mencionar os projetos. Seus desafios e adrenalina foram o combus-
tível deste livro também.
Preciso mencionar algumas pessoas. Aos mestres Vandir Schäffer e
Ellen Boger Stencel por seus conselhos e suporte profissional e acadêmi-
co. Ao Pastor Eliezer Vargas por me ter convidado e confiado o primeiro
coral. Ao Pastor Elton Bravo por ser inspiração em fazer música sem
ser músico. Ao casal Isaias e Marta Manhaes, nos conhecemos a pouco,
mas nossa amizade tem sido solida em meio as desafios. Obrigado pelo
apoio. Quero ainda agradecer ao Elias Barreiro, presidente do Coral Jo-
vem do Rio e sua família. E um grande amigo e apoiador deste projeto.
Sinto que preciso agradecer a mais pessoas deste querido coral, porém
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os números se estenderia muito, e sei que ainda viveremos muita coisa
juntos. A minha revisora Verônica Bareicha, seu talento e motivação
tornaram este escritor corajoso o suficiente para terminar este livro. E
ainda, a Ruth Pimentel que diagramou este livro minuciosamente.
Quero ainda agradecer a Silvana D. Marth (in memória) que a mais de
uma década atrás me inspirou a anotar as dificuldades e necessidades
que passam os Corais, bem como sugestões e atitudes tomadas para se
manter um Coral, pois um dia elas seriam úteis. Ela estava certa e hoje
estão escritas na forma de um livro. Obrigado.
Por fim, como sendo o Alfa e o Omega, a Deus meu agradecimento
por cada fôlego.
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Dedico este livro...
A meus pais, Vilson e Esmeralda. Quem nasceu numa cidade pequena
há pouco mais de 30 anos atrás, onde a principal atividade é a agricultu-
ra, sabe que pra se ser alguém é preciso tornar-se médico ou continuar
trabalhando com os pais. Contudo, meus pais nunca viram a vida dessa
maneira. A sabedoria consiste em saber o que fazer com o conhecimen-
to, e vocês me ensinaram a ser livre. Livre pra fazer. Livre pra pensar.
Livre! As desvantagens às vezes são enormes, mas em todas elas vocês
foram presentes em amor, em ajuda, em consolo e em conselho. O que
mais desejo é honrá-los por toda a minha vida. Sinto-me orgulhoso por
meus pais serem as pessoas mais sábias que conheço. Amo vocês.
Aos meus irmãos, Rogério e Márcio. Sempre precisei de apoio para
construir a minha autoestima, e ainda mais nesse novo caminho como
escritor. Me impressiona o fato de vocês nunca deixarem de dizer que
daria certo, e sempre me erguerem em todos os momentos. Vocês são
os meus melhores amigos e isso, pra mim, é um privilégio. Amo vocês.
Ao primogênito, Henry. Somente Deus é testemunha de quantas
vezes você me manteve vivo. Por tudo que já passamos juntos você é a
pessoa mais forte do mundo. É o meu grandão! Te amo.
Ao caçula, Heitor. Você é o reencontro com a alegria. A casa cheia.
Ainda não consegue nem entender estas palavras, mas quando isso
acontecer, saberá que o tom de alegria deste livro, foi inspirado por
você. Te amo.
A minha bela, Daisy. Eu já havia desistido de muita coisa, e uma delas
era de amar. As palavras somem... Ficam pequenas quando penso em
você. Mais do que uma declaração de amor é um agradecimento por
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aceitar ser minha enquanto sou seu. Te amo.
Ao meu Deus. És único. És aquele que excede os meus sonhos. De-
téns o curso de minha vida, e neste, já por vezes me assombrei. Mas
hoje, louvo grandemente Teu nome por este livro, minha família aqui
apresentada, e especialmente por minha vida. Aceite Senhor minha
gratidão. Abençoe estas páginas. Te amo.
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Introdução
M inha intenção é partilhar com você algumas reflexões, sugestões
e as experiências vividas com a música, principalmente música Coral.
Meu objetivo é introduzir conceitos, dar informações, compartilhar fa-
tos que aprendi e julgo importantes para a formação de um Coral.
Para se ler Coral é Coisa Séria não é necessário conhecimento teóri-
co de música nem experiência. Esta não é uma leitura técnica. Embora,
você vá encontrar em suas linhas assuntos relacionados com a psicolo-
gia, neurologia e neurofisiologia, regência, técnica vocal e arte. Analiso
também um pouco de filosofia e teologia, e compartilho uma leve ex-
periência sobre como pensar como compositor e arranjador. Apresento
uma visão geral de um corista, regente e comunidade religiosa. Penso
que com esses elementos, podemos criar objetivos reais que mostrem
para onde estará indo o louvor a Deus.
E por que quero compartilhar essas coisas com você?
Sinceramente acredito que qualquer ser humano, por mais débil e
fraco que se apresente, em nome de Jesus é capaz de vencer a Lúcifer
através do louvor. Não posso concordar com afirmações do tipo: “Lúci-
fer era músico no céu e por isso ele sabe como distorcer a música”.
Esse tipo de declaração nos leva a uma posição defensiva. Para mim,
isso é comodismo, uma forma de nos acuar e fazer com que deixemos
de louvar a Deus.
Para tanto, é necessário que se valorize o seu conhecimento e a sua
cultura, não somente a minha. Será com a ciência que temos de Deus
e de nós mesmos que chegaremos a uma conclusão dos fatos que nos
cercam.
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Tenho certeza que, após esta leitura, entrar em uma igreja, sentar-se
e ouvir um Coral cantando será uma experiência espiritual com sobrie-
dade emotiva, razão e fé, e será melhor ainda se você estiver fazendo
parte do coro.
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Lembro de pegar minha “Ficha de inscrição” e ao preenchê-
la ficar pensando no motivo de se querer tanto cantar em um
Coral. Me questionei se valia a pena todo o nervosismo e so-
frimento pelo qual estávamos passando. Enquanto aguardava
a minha vez de entrar na pequena sala para ser testado vocal-
mente, ouvi as histórias mais incríveis e mirabolantes...
Como Tudo Começou
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24 I Coral é Coisa Séria I
violão! Aquilo era demais, e o ápice daquela experiência foi uma viagem
que fizemos até Porto Alegre para a FAMG1 , para participar de um con-
gresso. Isso foi inesquecível!
Mais tarde, eu e meu irmão mais velho fomos para o colégio interno, o
IACS (Instituto Adventista Cruzeiro do Sul), e lá, Coral era outra história.
Poucos lugares no mundo possuem o luxo de ter admiradores tão an-
tagônicos como os internatos. Alguns dizem que: “mudaram a sua vida
para sempre”, ou “foi a melhor coisa que me aconteceu”, e ainda “um
lar”, “uma oportunidade que eu agarrei”. Outros não conseguem olhar
com tamanho entusiasmo: “Só perdi tempo na minha vida”, “Hitler se
inspirou nos internatos para montar seus campos de concentração”, “se
pudesse colocaria uma bomba nessa escola”. Independente da opinião,
a verdade é que esse é um período extremamente marcante.
Ele marca por muitos motivos, e um deles é a música. Não importa a
cidade de onde vim ou nasci. Não importa o meu gosto musical, nem a
minha cultura. Nem minha religião e o quanto eu conheço a respeito de
Deus, todos podem cantar. Indiscutivelmente, todos querem entrar no
Coral. No caso citado, o Coral Jubal. Hoje, Coral Jovem do IACS.
Qual a razão?
Os alunos querem fazer parte do Coral para ficar juntos; amigos,
namorados, futuros amigos, futuros namorados. Também para viajar,
para ser admirado no internato como o ‘cara que passou no teste do
Coral’. Aliás, isso faz destes, quase que cantor ‘profissional’. Outro fato
interessante é que no início do ano, ao voltar para o Coral, os veteranos
contam histórias mirabolantes, como se fosse um livro ‘best seller’ de
aventura nunca escrito.
Com tudo isso em jogo, fomos lá, eu e meu irmão, fazer o teste. Toda-
via, os objetivos dos alunos eram muito diferentes dos meus...
O Primeiro Teste:
Isto foi num Sábado à tarde. Meu irmão mais velho, Rogério, estava
comigo na fila de espera. Ele era o próximo e já havia escolhido e trei-
nado o seu hino. Eu também: “Jesus Sempre Te Amo”, n° 290 do hinário
Cantai ao Senhor, em Fá Maior.
“É... Esse não é muito grave e ninguém o escolheu ainda”. – pensei
em voz alta.
Acho incrível que em todos os testes vocais que fiz e presenciei, os hi-
nos são sempre os mesmos. Naquele dia, com aquela escolha diferente,
esperava conquistar um pouco a simpatia do ‘meu’ carrasco musical.
“Próximo!”
E lá se foi o meu irmão.
O meu nervosismo por ele era grande, quase tanto quanto por mim
mesmo. Quando ele saiu não tive coragem de olhá-lo e fui direto para a
sala. Afinal de contas, não poderia me deixar abalar por nada.
A sala era improvisada. O professor entrou fechando a porta, dei-
xando trancada a vontade de fugir daquele confronto entre a voz e o
ouvido.
Nós nos cumprimentamos e falamos sobre coisas que não me lem-
bro, talvez pela minha ansiedade em terminar logo o teste. Comecei a
cantar. A voz falhou: “Será que devo dizer que estou rouco? Já sei; gripa-
do!... Ou talvez, estivesse sofrendo de laringite crônica momentânea, que
provavelmente passaria depois de alguns segundos, talvez até mesmo
após o teste?”
Antes que eu abrisse a boca, ele disse calmamente:
“Acalme-se meu jovem, é um simples teste de voz, não precisa ficar
nervoso, você está indo bem”.
Certo. Eu estava nervoso. Nenhuma desculpa daria certo, pois estava
na cara, ou melhor, na minha voz o meu nervosismo.
Cantei afinado. Fiz o teste de percepção. Sem problemas.
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34 I Coral é Coisa Séria I
Perguntas difíceis
detalhes? Não me deu o direito de ser o dono da minha vida? E por mais
que eu não cuide da minha vida, por maior que seja a irresponsabilidade
comigo mesmo, e acabe parecendo um ‘carro velho e mal cuidado’ eu
ainda sou criação dEle. Ainda assim tenho algo para oferecer a Deus: a
minha vida!” Essa ideia me deu uma nova perspectiva de louvor.
“Nós louvamos a Deus com a nossa vida”, ratificou o Professor Val-
decir Lima. Pense comigo: nós expressamos melhor nossa música lou-
vando com o que temos, seja isso bom ou não para os homens. Mas para
Deus é louvor, e é isso que ele quer. Se um dia eu despedaçar a minha
vida, arruiná-la ao último fio, como o ladrão na cruz, e não tiver nada para
Deus, ainda assim Ele me olha e diz: “você está vivo e isso é louvor!”
O mesmo se aplica ao Coral, não é diferente. O Coral está vivo e isso
é louvor! Podemos visitar asilos, orfanatos, arrecadar alimentos, realizar
vigílias, jejuar, pregar e uma infinidade de atividades... Você pode acres-
centar ou retirar o que quiser desta lista, mas jamais esquecer que um
Coral vive para louvar. Esta é sua missão. Este é o objetivo. Antes de en-
saiar, louve! Antes de cantar, louve! Antes de realizar algum projeto co-
munitário, louve! Antes de uma atividade social, louve! Qualquer coisa
que o Coral venha a fazer, antes, deve louvar.
Um dito popular reza assim: “Quem não sabe para onde navega
qualquer porto pode ser o seu cais”. Qualquer Coral que não saiba com
profundidade o seu objetivo; louvar a Deus; com certeza irá se apegar
a outras pequenas coisas que darão a aparência de se estar indo para
o porto certo. Eu mesmo já cometi esse erro, até alvo de batismo colo-
quei em um dos corais que regi. Na verdade, Coral nenhum converte ou
anima a sociedade J.A ou Escola Sabatina e, não é fazendo trabalho mis-
sionário que dará a certeza de se estar indo para o porto certo. Acredito
que a função mais próxima do Coral na igreja seja semear, e a mais pre-
cisa seja preparar o terreno para a semente.
I Coral é Coisa Séria I 41
Acho que alguns ficarão um pouco chocados com essa afirmação por
isso gostaria que você refletisse comigo:
Antes do Mar Vermelho se abrir, o povo de Israel estava louvando?
Não. Acho que eles estavam apavorados. Agora, logo após a vitória, eles
louvaram a Deus. Por quê? A reposta parece um tanto óbvia, mas será
que o louvor deles não estava mais para uma festa? Exatamente. Deus
quer que vivamos, e quando estamos alegres com as bênçãos que Ele
nos dá, temos mais é que comemorar!
Quando Paulo e Silas estavam na prisão cantando, à conversão do
carcereiro se deu pelos hinos dos apóstolos? Claro que não. E seu Coral
quer converter alguém pelos hinos? Não parece um pouco presunço-
so? O que realmente converteu o carcereiro foi o Espírito Santo que se
manifestou na prisão porque eles estavam ligados a Deus e motivados
pelo sacrifício de Cristo louvando, ou foi a música? O Coral não tem que
cantar para ‘converter’ mas para ‘convencer’. Não importa o motivo, a
vitória ou a derrota, a paz ou a guerra, o trabalho ou as férias, o Coral
precisa convencer que a nossa vida está ligada a Deus pelo sacrifício de
Cristo. Assim, o Espírito Santo estará pronto para operar maravilhas. Fa-
çamos disso o nosso louvor. Façamos da nossa vida; música.
Existem muitos motivos para as pessoas cantarem em
corais. Bom seria para o Maestro que todos fossem músicos.
Bom seria para o pastor que todos fossem missionários. Se-
ria ótimo para a igreja que todos fossem zelosos e fiéis a con-
gregação. A prefeitura seria beneficiada diante do batalhão de
pessoas que se disporiam a ajudar os mais carentes. Os pais
e nós, jovens, estaríamos seguros por estar numa festa sem
brigas e bebidas alcoólicas. Felizmente, jamais será assim. Por
isso, quanto mais diversos forem os motivos pelos quais as
pessoas procuram o Coral, melhor...
Viagens, festas, eventos,
amigos e afins...
I magine um lugar onde não se escuta o barulho de motores. Sem
buzinas ou horário de ‘rush’. Sem semáforos nem policiais de trânsito.
Imaginou?
Talvez você conheça uma porção de pequenas cidades, ou até vilare-
jos assim. Mas recentemente eu conheci a ilha de Paquetá, localizada a
apenas 15 quilômetros do centro da cidade do Rio de Janeiro.
Em minha opinião, o Rio de Janeiro é a cidade mais linda do Brasil.
Há muitos pontos turísticos e o povo carioca é de uma simpatia incom-
parável! Lembro-me de quando cheguei à cidade. Certo dia, estava indo
para o trabalho e fiquei na dúvida sobre o melhor caminho e pedi infor-
mação a um cidadão. Qual não foi minha surpresa ao ele se oferecer, por
cortesia, para entrar no carro e me conduzir até o destino. Veja bem, eu
estava esperto, o senhor que entrou em meu carro deveria ter um pouco
mais de 60 anos, não tinha nada nas mãos e estava fazendo uma cami-
nhada. Em qualquer lugar do mundo, aceitar um desconhecido em seu
carro numa cidade que você não conhece, é perigoso, sei disso. Contudo,
quero apenas demonstrar como é a índole do morador comum, do Rio
de Janeiro.
Outra vantagem, que percebo em morar aqui, é me sentir em férias
o ano inteiro. Para mim, casar uma cidade grande com muitas belezas
naturais é um privilégio raro! Aliás, este capítulo e muitas outras partes
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46 I Coral é Coisa Séria I
um probleminha”.
Olhei com ar de quem já ganhou e disse:
“Você precisa cortar o cabelo. O ensaio é na próxima sexta-feira e
você precisa estar com o cabelo cortado, ok?”
“ ‘Vixe’... Preciso mesmo?” - Questionou ele.
“É uma norma da igreja”. - Respondi me esquivando da responsabili-
dade, mas por dentro cantando vitória. Fui me colocando em pé, já indo
na direção da porta para chamar o próximo. Apertei a mão dele e disse
até logo.
“Próximo!”
Terminei os testes.
A semana passou e chegou o primeiro ensaio. Todos estavam eufóri-
cos, pois o Coral contava com um bom número de coristas e os planos
para o ano eram muito promissores. Enquanto as pessoas entravam
para o ensaio, fiz questão de cumprimentar o máximo possível de coris-
tas. Foi quando percebi uma pessoa diferente junto dos tenores. Rapida-
mente perguntei para a secretária.
“Escute, quem é aquele lá no meio dos tenores com a cabeça quase
raspada?”
“Não lembra?” – Ela me respondeu como se já estivesse esperando
a pergunta.
“Não!” – Respondi impaciente.
“É o Rossano, só que ele cortou o cabelo. Eu nem acredito que ele fez
isso. Na verdade, ninguém sabe por que ele está aqui, já que está desli-
gado das coisas da igreja”.
Mas eu soube. Deus tocara o seu coração, e ele estava atendendo a
um convite divino.
Confesso mais uma vez, que tenho aversão de mim mesmo ao lem-
brar minha atitude com Rossano. Ele nem imagina que isso aconteceu.
I Coral é Coisa Séria I 51
música, mas também pelo “amor de Cristo que a cada dia mais brilha, e
chegará ao dia em que será dia perfeito” (I Pedro 1.19).
Com isso, termino este tópico dizendo que, a amizade dentro do Co-
ral pode ser a mola propulsora do trabalho missionário. “Os que experi-
mentam o amor de Cristo não podem ficar ociosos na vinha do mestre.
Verão oportunidades para ajudar aos outros a se aproximarem de Cristo.
Participando do amor de Cristo, trabalharão pela salvação de outros.
Que toda a pessoa imite o Modelo, e se tornem todos missionários no
mais alto sentido, ganhando pessoas para Jesus” (The Youth’s Instructor,
20 de Outubro de 1892).
“Vós sois minhas testemunhas” (Isaías 43.10).
O Maestro
Quando pensei neste item, não fazia ideia de que tantas pessoas
prestavam atenção a ele. Talvez, por ser músico e apaixonado por minha
profissão, não tenha percebido isso acontecer comigo, mas conversando
com alguns amigos eles me contaram de coristas que estavam dispostos
a tudo para se aproximar de um Maestro e poder dizer: “canto em tal
Coral, o meu Maestro é ‘fulano de tal’”.
Já mencionei que trabalhei no UNASP c2, e vou contar mais uma ex-
periência desse período. Estudei naquela instituição em 1993, e tenho
ótimas lembranças da Universidade. Entretanto, naquela época a músi-
ca ainda estava engatinhando, assim como toda a instituição. Porém,
no ano de 2000 tudo já era diferente, inclusive no aspecto musical. Uma
das diferenças era que o Maestro Lineu Soares já estava trabalhando no
UNASP c2. Como sabemos, ele é conhecido como compositor e produ-
tor. Para minha surpresa, em 2000, tive o privilégio de ser convidado
para reger o Coral Jovem. Vi que alguns alunos do Ensino Médio esta-
58 I Coral é Coisa Séria I
Está na moda gravar CD. E agora, os DVD’s. Sabe se lá, onde vamos
parar quanto à forma de registrar música nos dias tecnológicos em que
vivemos... Muitos se incomodam quando alguém aparece com este as-
sunto. Afinal, o que há de especial em gravar? Muita coisa. Como esta-
mos falando mais especificamente de Coral de igreja, sem sombra de
I Coral é Coisa Séria I 59
bom. Entretanto, não se preocupe com isso, sempre haverá alguém para
criticar o seu trabalho. Assim como sempre existiu o ‘sabe tudo’. Há algo
que poderá ajudar no processo de gravação de um CD; se você não é
produtor ou arranjador, peça ajuda a um. Diminuirá em muito a sua dor
de cabeça e suas ideias serão melhoradas. Pela experiência que esse
profissional tem, ele só enriquecerá o seu projeto.
Ao se fazer um projeto desses, um grande problema é o custo. Tive
experiências dolorosas com patrocinadores e colaboradores que se
ausentaram no momento prometido. Muito cuidado! Planeje-se, or-
ganize estratégias para buscar os fundos necessários para uma grava-
ção de qualidade e não permita que a falta de planejamento financeiro
transforme um projeto de bênçãos, em uma dor de cabeça contínua.
O Coral Jovem do Rio também adotou uma estratégia interessante
na confecção do seu primeiro DVD – Sonhos. Com o aumento maciço
no número de ensaios e tendo a obrigação de saber todas as músicas
na ponta da língua, porque não dá pra ‘voltar’ uma imagem errada, foi
adotado um percentual de presença obrigatório. Lembro-me de que o
Coral tinha no começo do ano 120 coristas, mas somente 78 alcançaram
o mínimo de presença nos ensaios para participar da gravação do DVD.
Também a unidade que se formou, causada pelo excesso de reuniões
e pela grandiosidade que significou este projeto, foi extremamente po-
sitiva. Contudo, não faltaram as desavenças e queixas durante todo o
processo. E é importante que isso aconteça, porque talvez, em alguma
dessas queixas se perceba um erro que será solucionado há seu tempo.
Tudo isso é normal. E se as críticas forem feitas com ética, tornam-se até
necessárias.
Se você quer deixar o trabalho de seu grupo registrado, seja auda-
cioso! Olhe além! Planeje e execute o projeto com perfeição nas datas e
nos prazos. Meu desejo é que Deus abençoe o seu projeto.
I Coral é Coisa Séria I 61
tre irmãos. Eu também não consegui suportar o transtorno que essa di-
vergência causou dentro do Coral, e por consequência, me afastei do
mesmo. Quando essas pessoas perceberam o que fizeram, também não
assumiram o Coral, e tudo ficou largado a mercê de quem quisesse. Por
que isso? Por uma simples questão de ser alguém o diretor, e não estar
numa diretoria.
Mas Deus é incrível! Se Ele quer alguma coisa, não há homem que o
impeça. Da mesma forma é quando Ele não quer. Este Coral permanece
firme com seu trabalho. E até onde eu saiba tais pessoas nunca entra-
ram na diretoria.
Outro aspecto que quero abordar é que nunca haverá unidade numa
diretoria. Embora seja ambivalente, essa falta de unidade é saudável. Con-
tudo, quando você tem uma diretoria que trabalha todo o tempo em lado
oposto ao do Coral, o desgaste é imenso e poderá ser destruidor também.
Veja; o líder não trabalha a partir das suas dificuldades, e sim, pelas
suas qualidades em agregar as pessoas e ser audacioso com o Coral.
Uma boa dica pra saber quem no seu Coral tem esse perfil é lembrar o
que Lao Tsé disse sobre liderança:
"O sábio não se exibe, e vejam como é notado. Renuncia a si mesmo
e jamais será esquecido”.
Então pense: o seu líder, ou você, é mais falado ou mais lembrado?
Desenvolva os dons
seu projeto. Não limite seu Coral a música. Evite focalizar uma estratégia
somente. Desenvolva os dons. Seja uma luz e não a esconda dentro de
uma igreja, coloque-a no alto do monte. Que Deus dê sabedoria para
você reger a sinfonia de talentos que estão à disposição em seu Coral.
Oito ensaios para saber uma música é pouco? Seria o ner-
vosismo, ou a expectativa o causador do esquecimento da
letra e da música? O que eu, como Maestro, poderia fazer
nos ensaios e durante a apresentação para ter resultados
mais eficientes? Porque os ensaios são frustrantes mas tudo
dá certo na apresentação? Qual o problema com o meu
ensaio? Como ensaiar um Coral?
O Ensaio
69
70 I Coral é Coisa Séria I
Tudo bem que era música nova, mas havíamos ensaiado, estávamos
exaustos de repetir e ainda assim alguns estavam mais perdidos do que
‘ratos em queijaria’.
Chegou a nossa vez de cantar.
O Coral subiu no palco. Cantou sem erros. Tive o privilégio de colher
os frutos do esforço através do reconhecimento de colegas e demais
profissionais que estavam no evento, mas... Eu estava extenuado.
O desgaste nas duas semanas que anteviram o evento fora muito
grande, principalmente os instantes antes da programação. Isso me fez
refletir sobre o problema. Surgiram perguntas que precisavam urgente
de respostas: “será que eles não gostaram da música? Porque não de-
coraram? Porque demoraram a aprender? Oito ensaios para saber uma
música seria pouco? Seria o nervosismo, ou a expectativa o causador
do esquecimento? O que eu, como Maestro, poderia fazer nos ensaios e
durante a apresentação para ter resultados mais eficientes? Porque deu
certo na apresentação? Qual o problema com o meu ensaio?”
Na verdade, a pergunta que resumiria todas é a seguinte: “como en-
saiar um Coral?”
Não foi fácil para mim, responder a esta pergunta. Este assunto é
importantíssimo para os músicos; especialmente os regentes; e existe
pouco material com comentários ou estudos. Cheguei à conclusão de
que ainda existe muita coisa a se aprender sobre como ensaiar.
Então, tive que percorrer um caminho extenso, onde a leitura me
roubou um longo tempo, todavia compensador. Nessa ‘viagem’ em
busca de respostas, naveguei por ‘águas diferentes da música’ que, aju-
daram muito na elaboração dos ensaios. Adentrei por conhecimentos
tais como neurofisiologia, pedagogia, gestão de pessoas e propaganda.
À medida que ia aprendendo alguns conceitos básicos dessas áreas, tra-
duzia-os para a música e tentava aplicá-los aos ensaios.
I Coral é Coisa Séria I 71
Neurofisiologia
“O pensamento é o resultado da estimulação de diferentes partes do
córtex ao mesmo tempo”. 1
Minha pesquisa teve início baseando-se na ideia de que o pensamen-
to deveria ocorrer de maneira frenética durante o ensaio. Porém, mais
tarde, analisando o córtex, descobri que a memória é mais importante
e que esta se assemelha em muito com o pensamento. De qualquer for-
ma, tanto o pensamento como a memorização das músicas, ocorrem no
córtex.
Para ser mais prático, podemos descrever que o córtex é ‘constituído
pelas camadas de neurônios situados imediatamente abaixo do osso do
crânio, formando um arco que sai logo por trás da testa, abrange o topo
e os lados, e termina onde a cabeça e a nuca se juntam, conforme você
1 Oliviera, Maria Aparecida Domingues de. Neurofisiologia do Comportamento. Pág.
102; Editora da Ulbra; 1999.
72 I Coral é Coisa Séria I
2 Ratey, Dr. John J. O Cérebro. Um Guia Para o Usuário. Pág.32 e 33; Editora Objetiva;
2001.
I Coral é Coisa Séria I 73
Uma dica
Pedagogia
A Curiosidade
Liderança e Disciplina
13 Marques Belisário. Revista Vida e Saúde; Ano 68, N° 11; Novembro de 2006
I Coral é Coisa Séria I 83
Acho que é uma boa hora para você pensar, refletir sobre como anda
a sua liderança e disciplina. Existem várias maneiras de uma pessoa con-
seguir a liderança de um grupo. No caso do regente, a liderança passa a
ser do tipo ‘especialista’. Essa liderança é conferida ao regente por que
ele é o especialista, o profissional que detém o conhecimento e a habili-
dade de conduzir o Coral a interpretação de uma peça musical. Esse tipo
de liderança tem a vantagem de ser democrática, mas é preciso esforço
para conquistá-la.
Conheço corais onde o pianista ou mesmo os coristas poderiam reger
melhor que o Maestro. Mas a capacidade de liderança dele sobre o
grupo fala mais alto do que a sua qualidade musical. Por quê? Simples...
Ele conquistou a confiança do grupo.
Às vezes uso esta frase nos ensaios: “Se eu errar, errem comigo!”
Tenha certeza do que você está fazendo. Estude música. Treine a
regência. Decore a letra e as dinâmicas. Peça ajuda para quem tem mais
experiência e, principalmente: seja humilde. Se for preciso, peça descul-
pas. Essa liderança pega o coração das pessoas e você ganha de brinde
a disciplina do Coral.
Falando em disciplina... Este assunto costuma ‘dar muito pano pra
manga’... Alguns colegas de trabalho fazem ensaio sem nenhum ‘piu’.
Sinceramente, eu não sei como eles conseguem. Não faço o tipo que
gosta de bagunça no ensaio. Contudo, não consigo entender porque
exagerar no silêncio, se os cantores não recebem nada para estar ali. Al-
guns estão vindo de casa, ou direto do trabalho ou da escola, e precisam
ficar parados como se estivessem na mira de um carrasco?
O melhor exemplo de disciplina e liderança de ensaio que presenciei
não foi de um músico. E confesso... Tenho lutado para realizar ensaios
com a qualidade do trabalho que vi.
Lembro com carinho, a primeira vez que assisti o Coral Jovem da Igre-
84 I Coral é Coisa Séria I
Você pode aproveitar algumas destas dicas para não deixar o en-
saio com um ‘buraco’, um tempo ocioso. Se o ensaio para, torna-se ma-
I Coral é Coisa Séria I 85
Marketing
Reflita...
Quero usar a ideia do escritor Max Lucado, em seu livro Moldado por
Deus. Ali ele fala sobre o marketing de Jesus.
“O movimento de Jesus estava destinado a falhar desde o início.
Para começar, só participavam 12 homens. Incrivelmente poucos,
quando levamos em consideração que o país deles tinha uma popula-
ção de quatro milhões. Além disso, a maioria era ignorante e pobre. Tra-
balhadores braçais, incultos demais para iniciar um motim que pudesse
mudar alguma coisa.
Poucos, se é que alguns haviam viajado para além das fronteiras de
seu país. Não tinham experiência nem cultura. Sua nação se encontrava
dominado por outros. O povo estava cansado. O governo cheio de cor-
rupção. Sua religião era praticamente superficial.
A estratégia do movimento foi sem dúvida desastrosa. Não esta-
beleceram uma sede. Ninguém fez uma pesquisa em nível profissional.
Os planos foram todos impulsivos. Os líderes nem sequer conseguiam
concordar com a definição exata da sua missão.
Além de tudo o movimento não era prático, mas sim desanimado,
I Coral é Coisa Séria I 89
95
96 I Coral é Coisa Séria I
Mas meu amigo; música é muito mais que isso. Pense comigo; nada
do que Deus criou é simples. Pegue a folha de uma árvore e você terá
uma infinidade de pequenos detalhes, compondo o todo. Detalhes invi-
síveis ao olho humano, mas trabalhados harmoniosamente por um cria-
dor poderoso. Vou além... O nosso corpo, a nossa mente está repleta
desses detalhes. Já pensou em quantas habilidades você tem? Em quan-
tas coisas pode fazer? Por exemplo: dirigir e cantar ao mesmo tempo.
Isso sem falar nos talentos como pintar, escrever, interpretar e tantos
outros. O que quero dizer é que somos criaturas inteligentes, ricas e
complexas. Então, como podemos fazer música de forma pobre, repeti-
tiva, comum?
Querido amigo, se o repertório do seu Coral se encontra dentro des-
tas características e conceitos, é preciso uma revisão de ideias, urgente-
mente!
Mas chega de ver as coisas somente do ponto de vista negativo, va-
mos à prática.
A música que você escolheu, ou está para escolher, é pobre nos ele-
mentos de harmonia, melodia, ritmo e poesia? Se for, a minha primeira
sugestão não é jogá-la fora, e sim, reescrever ou dar um novo arranjo,
uma nova cara para ela. Porém, se não tiver conserto, aí sim, jogue fora.
“Mas por quê? A falta de ‘qualidade’ nesses elementos musicais atra-
palha?” Na verdade, não. A questão vai além do gosto musical. Estamos
falando que a falta de elementos musicais mais trabalhados, mais pen-
sados, deixa a capacidade de ‘influência musical’ do seu repertório, se-
veramente prejudicada. Uma prova disso é que existem músicas simples
que fazem sucesso, porém foram muito bem pensadas. Tiveram uma
I Coral é Coisa Séria I 99
razão em seus detalhes mais comuns, deixando para nós uma música
que impregna a mente e o coração. Essa é a magia da música! E é exa-
tamente aí que, descobrimos que ela não é neutra. Os bons músicos
correm atrás desse tipo de música.
Outro cuidado que precisamos ter é o bom senso. Algo raro. Se o
domínio técnico fosse tão eficiente, todos iriam se encantar com a
música erudita. Mas é na busca pela qualidade que ouvimos muitos de-
sastres musicais.
A sensibilidade divina
música que Deus irá aceitar. “Que é o homem para que tanto o estimes,
e ponha nele a tua atenção?” (Jó 7.17) “Somos nada, somos pó” (Salmo
103.14). Muitas vezes, subimos ao púlpito de nossas igrejas para minis-
trar o louvor e achamos que Deus está aceitando. “Mas, será?” “Como
saber?” “Por um acaso não estamos enojando a Deus com a nossa busca
pela qualidade?” “Deus precisa do nosso louvor?” Essas perguntas sem-
pre me soaram muito difíceis. Tornam-me um nada, mas é o que sou e
o que tenho. Nada.
Quando partimos do princípio que, somos nós que precisamos de
Deus, somos nós quem precisamos do louvor, somos nós quem temos
de conhecer uma nova música, somos nós quem precisamos ouvir
e obedecer, fazemos uma grande descoberta. É o nosso contato com
Deus que poderá nos fornecer o repertório que precisamos para cantar.
E este virá com toda a qualidade musical, com toda a aprovação do Coral
e do público. E claro, com todo o poder de Deus. É diferente quando o
Senhor escolhe o repertório, pois Ele capacita o músico nessa escolha e
as músicas passam a ter uma influência positiva sem limites para quem
procura adorar a Deus através do louvor.
Recentemente, tive o privilégio de estrear como regente de um dos
corais de referência no Brasil. Como era a primeira apresentação do ano,
procurei preparar o Coral com o maior esmero técnico possível porque
sei que, Deus é um Deus perfeito e gosta que façamos tudo conforme as
nossas forças. Planejei e procurei pôr em prática o quê a experiência me
ensinou. Mas... As coisas não estavam dando muito certo. Meu planeja-
mento foi ruindo... Primeiro; a banda que iria acompanhar o Coral, não o
fez. Segundo; a pianista oficial teve que viajar e tivemos que substituí-la,
e em cima da hora nunca é bom. O terceiro ponto é que era início de
semana de oração e não tivemos como organizar a posição do Coral à
frente da igreja e nem como passar o som.
I Coral é Coisa Séria I 105
berá se a música é a certa para o seu repertório. Ore. Escute outras opi-
niões. Procure conselhos de músicos, pastores, irmãos e de seus coris-
tas. Seja sensível a resposta do público. Procure sempre o melhor para
Deus, e acredite-me; o seu repertório será um repertório de sucesso!
Que formato o seu Coral vai ter? E a liderança? Quem esco-
lher e por quê? Organização e planejamento. Duas palavrinhas
importantes para o trabalho de um Coral alcançar sucesso.
Desde as fichas para o teste vocal até as vocalizes no ensaio,
tudo deve ser preparado com carinho e antecedência.
O formato do seu Coral
111
112 I Coral é Coisa Séria I
dela existir. Por exemplo, o custo ou a despesa com fotocópias das par-
tituras. E havendo mensalidade, qual o valor e a data limite para o paga-
mento da mesma.
Também é importante definir já nas primeiras reuniões um projeto
mais arrojado e apresentá-lo ao Coral. O objetivo não é motivar, pois
todo o início ou recomeço, já tem motivação por si só, mas sim, aplicar
esse projeto em dois ou três meses após o início do trabalho.
Quando recomecei as atividades do Coral Jovem do IABC, lancei o
desafio de uma viagem meses após o primeiro ensaio. Loucura! No en-
tanto, sabia que era possível, pois eu tinha uma estratégia. A razão é
porque nos dois primeiros meses geralmente trabalhamos duro na cons-
trução do repertório do Coral. Depois desse tempo são realizadas so-
mente pequenas apresentações nas proximidades. É normal, por essas
razões, uma queda no rendimento e na motivação. E, uma boa viagem
pode ser o motivador para todo o semestre. E quer saber? Deu certo.
Então, sugiro a você: construa um projeto que seja possível realizar.
Um projeto que motive o corista a investir tempo, dinheiro e paciên-
cia. Bem como os mantenha animados nos demais projetos, em todo o
tempo.
Teste Vocal
Aos veteranos:
O que mais lhe marcou neste Coral no ano anterior? ________________________________
Qual a música que você mais gosta do repertório? Por quê? ___________________________
Que sugestão você daria para melhorar o trabalho do Coral? __________________________
mens. Por exemplo, num Coral de 100 vozes procuro ter 35 sopranos, 30
contraltos, 20 tenores e 15 baixos. Mas, não é uma regra. Aliás, uma regra
que sempre funcionou comigo é durante o teste, marcar em uma folha
separada, as pessoas que passaram no teste, anotando na sua voz se a
afinação é ótima ou média – colocando os não tão afinados como ava-
liação média. E por quê? Porque assim consigo visualizar e consequen-
temente equilibrar os resultados, e ainda, trabalhar com a “compensação
de qualidade”, ou seja, se já tenho um número bom de baixos, no entan-
to eles são fracos, surgindo baixos de qualidade eu aumento o número
para tentar equilibrar os extremos. Gosto também de aproveitar as vozes
Mezzo e Barítono para equilibrar um pouco mais, já que estas vozes são
versáteis e no estilo gospel, do momento, são muito adaptáveis.
Outro assunto que ‘dá pano pra manga’ quando se conversa com
profissionais de música, na área de Canto, é sobre a definição das vozes.
Não são poucos os casos em que ao chegar num Coral, após os testes vo-
cais, foi preciso trocar uma pessoa de voz. Se usarmos a ideia das vozes
mezzo e barítono como ‘coringas’, isso não seria praticamente um pro-
blema. Contudo, às vezes acontecem erros drásticos. As tabelas que se
tem na música formal também não ajudam muito. Só para exemplificar,
nós conhecemos 1° tenor e 2° tenor. Na verdade, deveríamos conhecer
no mínimo os seguintes tenores: contra tenor, tenor ligeiro, tenor lírico
e tenor dramático. São em torno de 25 tipos de classificação de voz. Por
isso, às vezes, a gente ‘bate a cabeça’ ao tentar definir quem canta o
quê. Complicado não é?
Então, os padrões de extensão vocal que estou habituado a usar são
os seguintes:
I Coral é Coisa Séria I 123
Soprano: Lá3 (A3) ao Dó5 (C5) natural até o Lá5(A5) com falsete ou
voz de cabeça.
SOPRANOS
Mezzo: Sol3 (G3) ao Si4 (B4) natural até o Fá5 (F5) com falsete ou voz
de cabeça.
MEZZO
Contralto: Mi3 (E3) ao Lá4 (A4) natural até o Mi (E5) com falsete ou
voz de cabeça.
CONTRALTO
Tenor: Lá2 (A2) ao Lá4 (A4) natural até o Dó4(C4) com falsete ou voz
de cabeça.
TENOR
Barítono: Fá2 (F2) ao Sol4 (G4) natural até o Dó4 (C4) com falsete ou
voz de cabeça.
BARITONO
Baixo: Mib2 (Eb2) ao Mi4 (E4) natural até o Sol4 (G4) com falsete ou
voz de cabeça.
BAIXO
124 I Coral é Coisa Séria I
Discutir sobre este assunto, por vezes é mais complexo do que se ima-
gina, pois cada voz possui o seu DNA. É única. Sendo assim, cada indi-
víduo deve ser motivado a cantar sempre da melhor maneira possível.
Tendo estes dados em mãos, você estará pronto para escolher os
seus coristas e começar, ou recomeçar, com o ‘pé direito’. Não se es-
queça de valorizar o resultado do teste. Exponha a lista de aprovados
em um lugar bem visível, divulgue na internet, faça um ‘barulho’!
Igualmente é interessante você ter contato pessoal com os aprova-
dos, talvez com um cartão, ou uma carta, contendo o nome e a voz de
cada um. Se quiser, deixe mais atraente o material, coloque a foto do
corista como se fosse uma carteirinha; valorize o material humano que
você tem!
através da voz, diz muito sobre quem é ela. “A voz é a expressão sonora
da personalidade do indivíduo e o reflexo de seu estado psicológico”1.
Acredito que o maior desafio da técnica vocal em corais não seja o
aquecimento da voz, mas a expressão dela. É muito complicado esse
processo, por isso sugiro a seguinte estratégia: comece aquecendo a voz
com diferentes vocalizes, pois sabemos que um atleta que não faz aque-
cimento muscular antes de entrar para a competição, corre um sério
risco de lesão muscular. O mesmo acontece com um ‘atleta da voz’. O
aquecimento diminui a índices relevantes os problemas de rouquidão,
dores e calos nas pregas vocais. É importante fazer um simples e famoso
vocalize: ‘lá, lá, lá’.
Dicas:
ombros, tórax, e clavícula. Esse movimento também faz com que o dia-
fragma seja levemente pressionado para dentro. Não é uma boa opção
por limitar a quantidade de ar a ser inspirado e diminui a capacidade de
controle de saída do ar.
2 – Respiração Diafragmática: É quando ‘enchemos a barriga’ de
ar, estamos empurrando o diafragma para baixo e consequentemente
usando somente o abdômen para a respiração.
3 – Respiração Intercostal Diafragmática: Ela é, basicamente, a jun-
ção das duas formas de respiração, evitando apenas o movimento da
clavícula. Essa é melhor maneira de se respirar no momento de cantar.
Devemos, então, entendê-la.
Nessa respiração, você inspira usando toda a capacidade muscular
do tórax e do abdômen, e controla o processo de esvaziamento com o
músculo diafragma.
Explicar a respiração intercostal diafragmática é fundamental, mas
não adianta saber na teoria, é preciso prática. Tenho percebido que mui-
tas pessoas sabem de tudo sobre a respiração intercostal diafragmática,
porém nunca sentiram o próprio diafragma trabalhando.
O problema é que apesar de o diafragma ser um músculo passivo
de controle, ele faz parte do sistema nervoso parassimpático. Ou seja,
ele sofre influência mais do sistema nervoso que trabalha automatica-
mente, como por exemplo, o coração. Porém, até certo ponto, podemos
manipulá-lo, assim como manipulamos nossa respiração. Querendo pa-
rar de respirar conscientemente podemos fazê-lo, porém na hora em
que faltar o ar querendo ou não, o sistema nervoso parassimpático
ordena a respiração. Por esse motivo a respiração diafragmática é um
pouco difícil de acontecer. Mas não se desespere; preste a atenção em
alguns exercícios que o ajudarão em muito, e mãos à obra.
Em primeiro lugar vamos localizar e sentir o diafragma. Vou tentar dar
I Coral é Coisa Séria I 129
Exercício de Respiração
1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 1 2 3 4 5 6
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 1 2 3 4 5 6
7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18
Repita o mesmo exercício, e você verá que dessa vez não houve pro-
blema. O que este exercício nos mostra não é caso inspire melhor, con-
seguirá realizar o exercício. Na verdade, o nosso cérebro, após a primei-
ra experiência, calcula o tempo e a quantidade de ar de que precisa para
realizar o exercício completo. Isso revela a importância de definir no
ensaio, os momentos de respiração nas frases musicais, e enfatizá-los.
Porque dessa forma, o cérebro estará decorando o quanto de ar será
preciso inspirar, e o quanto e como será expirado.
Outro exemplo prático é pegar um verso Bíblico e colocar ritmo nas
palavras. Todos irão recitar o verso sem pausa para respirar. Com o pas-
sar do tempo vão aumentando a intensidade do exercício deixando o
ritmo das palavras mais lento.
Os famosos exercícios de ‘tsi’ também são bem-vindos. Faça sequên-
cias rítmicas, como no exemplo abaixo:
1. O famoso Lá, Lá, Lá. Deverá ser executado com auxílio do piano,
subindo e descendo tonalidades de meio em meio tom. Para trabalho de
I Coral é Coisa Séria I 137
La, la la la la la la la la Piano Lá la la la
la la la la la Piano La la la la la la la continua...
A e i o u o i e a Piano A e i o
u o i e a Piano A e i o u o i continua...
A e i o u o i e a Piano A e i o
u o i e a Piano A e i o u o i continua...
La, la la la la la la Piano Lá la
la la la la la Piano La la la la la continua...
La, la la la la la la Piano Lá la
I Coral é Coisa Séria I 139
La, la la la la la la Piano Lá la
6. Meio tom: um exercício simples e muito útil. Cuide para que seja
executado lentamente e o mais afinado possível.
la la la la la Piano La la la la la continua...
Lá la la la la la la la la Piano Lá la la la
la la la la la Piano La la la la la la la continua...
La la la la
7. Vi, vi, vi: trabalha com o som mais nasal. Deve ser executado rapi-
damente.
Vi vi vi vi vi vi vi vi vi Piano Vi vi vi vi
vi vi vi vi vi Piano Vi vi vi vi vi vi vi continua...
Ma mi ma mi ma mi ma mi ma Piano Ma mi ma mi
ma mi ma mi ma Piano Ma mi ma mi ma mi ma continua...
9. Brem, prim: ajuda a sentir a vibração na face. Além disso, sua se-
quência ascendente de notas vai até a quarta, reforçando um trabalho
de percepção.
Brem prim brem prim brem prim brem prim brem Piano Brem prim brem prim
brem prim brem prim brem Piano Brem prim brem prim brem prim brem continua...
Zi u zi u zi u zi u zi Piano Zi u zi u
I Coral é Coisa Séria I 141
Zi u zi u zi u zi u zi Piano Zi u zi u
zi u zi u zi Piano Zi u zi u zi u zi continua...
Na o na o na o na o na Piano Na o na o
na o na o na Piano Na o na o na o nacontinua...
Dó ré mi fá sol lá si dó dó Piano Dó ré mi fá
O único cuidado que você precisa ter é não exigir demais das vozes.
Geralmente, os corais de igreja são feitos de pessoas que não são
cantores profissionais e a falta de cuidado no aquecimento e trabalho
técnico vocal poderá prejudicar imensamente a voz dos cantores, refle-
tindo em rouquidão, ou efeitos como voz ‘rachada’ e cansada.
Peça também para que os coristas façam uso abundante de água, e
inclusive, levem uma garrafinha com água para o ensaio.
Anime-se!
saio, e peça que a diretoria fique para conversar sobre o feedback deles
com relação ao Coral, nesse primeiro ensaio.
Anime-se. É o começo, ou recomeço, de um ano certamente, repleto
de bênçãos!
Maestro, você é a pele do seu Coral! Maestro, coloque-se
na situação de pele! Seja o elemento de união entre os órgãos
para uma forma estética bela. Ouça todo o Coral, suas quei-
xas, seus elogios. Transpire, proteja, sinta!
O Maestro, a pele
T alvez você já tenha reparado que procuro começar cada assunto com
uma experiência ou um fato para introduzir a ideia e situá-lo melhor no
conteúdo, mas desta vez, quero fugir a regra. E como...
“Assim como carne, intestinos e vasos sanguíneos estão encerrados
em uma pele que torna a visão do homem suportável, também as agi-
tações e paixões da alma estão envolvidas pela vaidade, ela é a pele
da alma” (Nietzche).
Não se incomode em ler de novo e refletir.
Já falamos muito sobre as diferentes estruturas que tornam o Coral
um ‘organismo vivo’. Dissecamos cada órgão, mas ainda falta um que
protege, envolve e modela todos os demais. Não é que seja o mais im-
portante, e jamais o será, porém é o que mantém todos unidos e esta-
belece a forma que o Coral terá.
Assim como a pele protege e envolve os órgãos, ela também é res-
ponsável pelo tato, transpiração e manutenção do calor dentre suas
principais funções. Uma pele enrugada, manchada, com cravos e es-
pinhas, doente, representa muito mal o organismo que a compõe. Da
mesma forma, ela deve ser coerente com seu organismo. E não adian-
tam plásticas, maquiagens, roupas lindas e de grife, tratamentos de em-
belezamento da pele que essas formas de ‘disfarces estéticos’ sempre
são revelados pelo tempo e pela ‘saúde dos outros órgãos’.
Qual é o seu tipo de pele? Que sinais existem na sua pele? De tra-
147
148 I Coral é Coisa Séria I
pele ressecada, fria e pálida que com o tempo, o organismo que a com-
põe adoecerá com manchas e feridas de ressentimentos. Sabe, as pes-
soas hoje não reagem mais como há 10 anos. Ninguém mais quer partici-
par de ambientes com atitudes tão autoritárias e autoafirmativas.
Maestro, seja pele! Domine as suas vaidades da alma e as do seu
Coral também. Mas não uma pele que não sabe se impor! Ser como o
exemplo anterior é ruim, mas ser o inverso é pior ainda. A insegurança
deixa exposto o corpo.
com calma, diga que prefere fazer do seu modo, que vai seguir como
está ensinando por tal e tal motivo. Depois, continue o ensaio como
você planejou.
Trabalhei num Coral onde um corista tinha este perfil. Adorava me
questionar e provocar com conversas extremamente ruidosas, polêmi-
cas. Eu o observei. Percebi que sua intenção era uma repreensão em
público. Todavia, fiz exatamente o contrário. Não dei valor às coisas que
fazia e dizia. Quando tinha alguma observação, eu o escutava com muita
atenção e respondia calmamente, explicando que sabia o que estava
fazendo e onde queria chegar. Imediatamente seguia o planejado. Por
fim, ele desistiu. Escolheu sair do Coral e isso aconteceu naturalmente,
sem termos tido nenhuma discussão.
O mais importante é saber o que se está fazendo. Para isso: prepare-
se! Estude! Chegue ao ensaio antes e esteja atento a tudo!
Porém, algumas circunstâncias precisam de um pulso um pouco mais
firme. Vivi um caso em que trabalhando na renovação de um repertório,
um corista questionava todas as mudanças, a tal ponto que foi preciso
me impor mais. Veja, só me impus porque sabia que a diretoria e o Coral
já estavam fartos com as interrupções e questionamentos que ele fa-
zia. A história que relato a seguir, não é motivo de jactância. É apenas
um exemplo de uma situação extrema em que tive que tomar uma pos-
tura enérgica. Em um dos ensaios, esse corista argumentou arrogante-
mente:
“Réges, olha só, nosso Maestro anterior fazia de outra maneira nessa
música porque ficava melhor”.
O sangue me subiu a cabeça e não me contive:
“Réges, é para os íntimos. Aqui sou o seu Maestro. E, por favor, o
Maestro anterior está em tal cidade trabalhando com tal Coral. Com
certeza, você será bem recebido lá. Agora, estando aqui, será conforme
152 I Coral é Coisa Séria I
coristas que não tiveram a mesma sensação com outros maestros. Já ouvi
pessoas me dizerem que preferem outro Maestro a mim, não por causa
da minha competência ou não, mas simplesmente por que gostavam mais
do outro. Simples assim. Nem Jesus agradou a todos, não acha um obje-
tivo muito grande querer que o Coral o respeite em cem por cento?
O meio termo procura o equilíbrio. Neste caso, o Maestro ideal é
aquele que protege, transpira, aquece e modela o Coral, que tem seus
objetivos bem claros e definidos, independente se isso desagrada a al-
guns. Se você quer ter sucesso como Maestro, faça isso; proteja cada
coristas dando a eles segurança na sua regência, certeza na voz que
estão cantando, sendo aberto a dúvidas de coristas e firme na criação
artística da música mostrando claramente qual o objetivo. Um Maestro
que transpira carregando o estrado (tablado), o som, ajudando na orga-
nização dos departamentos, trabalhando de ‘sol a sol’, e por fim, estando
sempre alegre e motivado. Essas duas últimas atitudes, principalmente,
mantêm o Coral aquecido. Um bom Maestro sabe dar não a sua ‘cara’
ao Coral, mas a ‘cara’ dos coristas. É claro que o estilo musical de cada
Maestro aparece, mas quando falamos de modelar o Coral e oferecer
beleza, estamos falando de segurança e identidade. Um Coral que gosta
do som que a união produz e tem a cara do Maestro.
“Ei Réges, você sabe que nosso Coral ficou sem Maestro?” – Abor-
dou-me uma jovem senhora.
“Ah é? Não sabia, não. Por quê?” - Perguntei.
“A pessoa que estava regendo se desentendeu com a diretoria. No
último ensaio disse para todo o Coral que ficar lá na frente ‘balançando
as mãos’ qualquer um faz, que ele queria ser mais, e a diretoria do Coral
154 I Coral é Coisa Séria I
não deixava. Queria liberdade total nas decisões do Coral, e como isso
não era possível, optou por sair!” – Respondeu-me.
Fiquei indignado! Não sei quanto a você, mas em todos os corais que
participei como corista, o Maestro ‘balançava as mãos’ e fazia toda a
diferença. Aliás, quando cantávamos sem ele, nunca saía com a mesma
qualidade. Qualquer um pode ‘balançar as mãos’ na frente do Coral, me-
nos aqueles que sabem o que significa isso. Não há outra maneira de
fazer o seu coro cantar conforme o ensaio se você não souber lembrá-
los na apresentação. No terceiro capítulo falamos da memória ‘priming’.
Você lembra? Aquela que acontece com uma dica, seja de algumas no-
tas na partitura, seja algumas palavras num poema. Pois é, a memória
‘priming’ pode ser o gesto do Maestro também.
Por diversas vezes, tive de reger o Coral estando ao piano. Não é igual.
Falta garra no cantar, exatidão nos cortes, a dinâmica é quase nula e
a tensão é muito maior. Na verdade, quando se está regendo fazemos
muito mais do que marcar o andamento e os cortes corretamente. É
importante que saibamos de algumas atribuições do Maestro a começar
pelo gestual. Essa movimentação acontece com o corpo todo, por isso
vou começar falando sobre o trabalho sem as mãos.
Postura - tecnicamente, os pés devem estar levemente afastados.
Quando um pé fica a frente do outro pode demonstrar insegurança,
mas há controvérsias nessa postura, pois ela também pode ser de tran-
quilidade. Particularmente altero a posição dos pés de acordo com a
música. Quando for alguma música de grande dificuldade, mantenho-
me alinhado com os pés levemente afastados. Em peças mais simples,
ritmadas, fico mais a vontade como se quisesse ‘combinar’ com o estilo
da música.
O corpo deve ficar ereto transparecendo um porte elegante. Tenha
cuidado para a sua postura não acabar sendo diferente da do Coral. Um
I Coral é Coisa Séria I 155
Binário:
1 2
Ternário:
1 2 3
I Coral é Coisa Séria I 157
Quaternário:
1 2 3 4
Composto Binário:
1 e e 2 e e
Composto Quaternário:
1ee2ee3ee4ee
Cuide para que seus gestos sejam discretos tanto para o público como
para o Coral. Não há mérito em grandes movimentos. Por essa razão a
batuta é indicada nos casos onde o Coral é muito grande, e fica difícil
para todos perceberem os movimentos do Maestro. A batuta torna-se
uma extensão do braço, evitando assim movimentos bruscos.
Outro detalhe: evite conversar com o Coral durante a música. A fala
deverá ser o último recurso. O cantar junto pode ajudar na questão da
letra, principalmente em músicas que os coristas não estão totalmente
seguros no texto. Porém, ao cantar junto, você não conseguirá ouvir as
outras vozes, portanto, limite o uso do canto.
Piano, Banda e Orquestra - a relação do Maestro com outros músi-
cos instrumentistas é por vezes muito melindrosa. Volta e meia existem
pequenas resistências por gostos pessoais em relação ao arranjo, anda-
mento e até mesmo na dinâmica. Acontece muito de o pianista saber
mais que o Maestro. Sendo assim, geralmente é ele quem dita o anda-
mento, o clima da música e dependendo da maneira como toca, influên-
cia na dinâmica também. Quando a situação é inversa, gera problema
com o desempenho do Maestro que acaba se preocupando muito com
o piano e pouco com o Coral.
Em qualquer situação a conversa sempre é o melhor caminho. O
Maestro deve procurar a solução. Uma sugestão é definir as funções e
limites de atuação de cada um, nunca com arrogância ou autoridade,
mas com respeito ao colega de profissão.
Um pouco diferente é a relação do Maestro com uma banda, pois
geralmente os instrumentistas não recebem nada por este trabalho, seja
do tamanho ou da forma que for. Como várias pessoas se dispõem a
acompanhar o Coral , é importante que o Maestro saiba valorizar seus
músicos tratando-os de forma diferente. Não estou falando de criar uma
sessão de privilegiados do Maestro, mas sim, do próprio Coral ter um
I Coral é Coisa Séria I 159
donada e não existia um Coral. Jim possuía pouca experiência como Pas-
tor, Carol era muito tímida e sabia somente o básico de música. Carol
Cymbala nunca havia sonhado em dirigir um Coral, e sabia que não tinha
condições técnicas para fazê-lo. Ela não fazia ideia de que um dia, pos-
suiria qualidades de compositora e teria postura de liderança perante
220 coristas.
O The Brooklyn Tabernacle Choir é hoje uma referência mundial na
música gospel com Carol Cymbala sendo a Maestrina.
O que eu quero dizer com esta história?
No começo do capítulo anterior comentei que estava preocupado
com aqueles que não possuem experiência ou conhecimento em música
e estão dispostos a começar um Coral em sua igreja. É uma grande res-
ponsabilidade ser maestro. Porém, observe o exemplo de Carol Cym-
bala. Quando Deus chama, Deus capacita.
Se você está com medo de aceitar o desafio de ser Maestro de um
Coral, mas Deus não o está deixando em paz, não se preocupe, Ele pro-
verá todas as coisas. Faça a sua parte. Estude. Ore. Trabalhe. Seja hu-
milde. Não desanime. Corra atrás. E acredite: Deus fará maravilhas por
e com você.
Agora, não se deixe levar pelo pensamento de que o Maestro só ‘ba-
lança as mãos’ na frente do Coral. Isso é limitar o próprio Coral. Prepa-
rar repertório, ensaio, recital, pianista, banda, solistas, não me parecem
pouca coisa também. Um ditado antigo muito usado pelos gregos reza
assim: “Deixai-me fazer as canções de uma nação, que pouco me im-
porta quem faz as suas leis”1.
Reflita na sua condição de Maestro. De tudo que se foi falado neste
livro, à pessoa que mais tem poder de influência sobre o Coral é o Maes-
tro. Cabe então, uma reflexão do tamanho desta responsabilidade.
E... Mãos à obra, Maestro!
1 Grout, Donal J e Palisca, Claude V. Historia da Música Ocidental; Pág 21; Editora
Gradiva
“Todo o ato, toda a ação de justiça, misericórdia e be-
nevolência, produz música no céu”. (Ellen White)
A oração bêbada
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braços dados ou não’. Mas detendo o poder da música nas mãos, Deus
quer que você a use para a salvação. Fica fácil perder o primeiro amor e
colocar os seus pés no caminho dos palcos, da fama, do estrelato!
O maior aliado do músico, membro da diretoria do Coral, Pastor,
corista é a música. Com tudo, também é o seu maior inimigo.
Transforme cada ato da sua vida em um ato para a salvação de al-
guém.
Aprendi que Deus fez um mundo perfeito e deu de presente para o
homem, e este mundo era lindo. Aprendi que Deus dá o mesmo valor à
música do que dá a todas as outras coisas que ele criou. Aprendi tam-
bém que, após a queda de Adão e Eva, os esforços divinos estão todos
voltados para a salvação de cada um de nós, pois Ele não quer que ne-
nhum de nós se perca. E Deus quer que, eu aprenda que tudo o que está
ao meu redor é para a minha salvação e para a salvação de outros.
Cada palavra escrita na Bíblia é para a nossa salvação.
Cada tijolo, cada banco, cada microfone de uma igreja são para a
nossa salvação.
Cada departamento da igreja é para a nossa salvação.
Cada Coral é para a nossa salvação.
Cada música é para a nossa salvação.
Perceba que existe um todo, e este é a nossa salvação.
Olhe para a sua vida em todos os aspectos, exclua a música e você
perceberá que Deus ainda está tentando salvá-lo. Exclua o Coral, e Deus
ainda continuará com inúmeros projetos atuando em conjunto para a
nossa salvação.
Olhando desta forma, percebi que somente uma coisa mais me in-
teressava.
“Senhor, quero produzir a música do céu aqui na terra! Quero canções
que ajudem mais pessoas a se decidir por Cristo. Quero um Coral que sai-
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