Você está na página 1de 12

Revista Ciência e Saúde Coletiva

Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva


cecilia@claves.fiocruz.br
ISSN (Versión impresa): 1413-8123
BRASIL

2005
Maria Raquel Gomes Maia Pires
POLITICIDADE DO CUIDADO E PROCESSO DE TRABALHO EM SAÚDE:
CONHECER PARA CUIDAR MELHOR, CUIDAR PARA CONFRONTAR, CUIDAR
PARA EMANCIPAR
Revista Ciência e Saúde Coletiva, outubro/dezembro, año/vol. 10, número 004
Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva
Rio de Janeiro, Brasil
pp. 1025-1035

Red de Revistas Científicas de América Latina y el Caribe, España y Portugal

Universidad Autónoma del Estado de México


1025

Politicidade do cuidado e processo de trabalho


em saúde: con h ecer para cuidar melhor,
cuidar para confrontar, cuidar para emancipar

Po l i ticity of care and work process in health:


knowing to take a better care , taking care
to confront, taking care to em a n c i p a te

Maria Raquel Gomes Maia Pires 1

Abstract Pol i ti ci ty of c a re is about handling the Resumo Pol i ti cidade do cuidado diz re s pei to ao
disruptive of the relation between help and power manejo disru ptivo da relação en tre ajuda e pod er
for the construction of the autonomy of su bje ct s . para construção da autonomia de sujeitos. Tal
Su ch co n ception is expre s sed mostly by the trihe- concepção se expressa principalmente pelo triedro
dron k n owing to take a better care , taking care con h ecer para cuidar melhor, cuidar para con-
to confront and taking care to emancipate, that, f ron t a r, cuidar para emancipar, que, em co n tex-
in social-historical spe cific co n texts and adapted tos sócio-históri cos espe c í f i cos e adaptado ao pro-
to the wo rking pro cess in health, can co n s ti tu te a cesso de trabalho em saúde, pode se constituir nu-
re o ri en ted referen ce of the domain rel a ti o n s . It is ma refer ê n cia re o rdenadora de relações de domí-
a theoreti ci a n - p h i l o sophical ref l e ction, ba sed in a n i o. Tra t a - se de uma ref l exão teórico-filosófica,
docto ra te thesis, wh i ch deepens the ambi g u i ty of fundamentada em tese de dou to ra d o, que apro-
the care, conceived su ch by the way of being sol- funda a ambivalência do cuidado, concebido tan-
idary, such as by becoming to be political. This ar- to pelo modo de ser solidário, como pelo vir a ser
ticle aims to indicate the appl i c a bility of the político. Objetiva - se indicar apl i c a bilidades à
politicity conception of the care in the scope of the co n cepção de pol i ticidade do cuidado no âmbi to
health professionals wo rking process, signaling do pro ce s so de tra balho dos profissionais de saú-
emancipatories potentialities. The first pa rt de, sinalizando poten cialidades em a n cipatórias.
m a kes a deep ref l e ction about the pol i city of c a r- A primei ra parte faz uma ref l exão aprof u n d a d a
ing in its ontol o gical, so cial and pol i tical dimen- sobre a politicidade do cuidado nas dimen s õ e s
sions, arguing about the tense relation existing ontol ó gicas, ep i s temológicas, bi ol ó gica e pol í ti c a ,
betwe en help and power which is present in the argumentando sobre a tensa relação entre ajuda e
ge s tu re of taking care . The se cond pa rt co n textu- poder presen te no gesto de cuidar. Na segunda,
alizes this theory in the unlike fo rm of o rga n i z i n g contextualiza-se essa teorização na forma desi-
and produ cing health care , pre sen ting the disc u s s gual de organizar e produzir cuidados em saúde,
1 Dep a rt a m en to de Serviço about the change of the attention model to the discuti n d o - se a mudança do modelo de atenção à
Social, Un ivers i d ade health. The third pa rt is ba sed in the emancipa- saúde. Na tercei ra , concl u s iva, fundamenta-se o
de Brasília.
Campus Un iversitário to ry tri h ed ron of caring and points emanci pa to ry tri ed ro do cuidar e apontam-se indicações em a n-
D a rcy Ribei ro, ICC indications to the wo rking pro cess of the profe s- ci pa t ó rias pa ra o pro ce s so de tra balho dos prof i s-
Cen tro, Sobreloja Sl - 4 3 2 , sionals. sionais.
Asa Norte , 70910-900
Brasília DF. Key words Care, Emancipation, Power Pa l avra s - ch ave Cuidado, Emancipação, Poder
m a i a p @ u o l . com.br
1026

In trodução en tre o apri s i on a m ento e a libertação do cui-


dar; c) tried ro em a n c i p a t ó rio do cuidar e pro-
A po l i ti c i d ade do cuidado re s i de na intr í n s ec a cesso de trabalho em saúde: i n d i c a n dodinâmi-
a m bivalência da ajuda qu e , sen do poder, tanto cas disru ptivas. Preten de-se apontar possibili-
domina como liberta fazeres humanos. A ca- dades emancipatórias para o processo de tra-
racter í s tica do cuidar, como gesto e ati tu de so- balho dos prof i s s i onais de saúde a partir da te-
lidária, inclina-se para pro teger e assegurar vi- se su prac i t ada (pesquisa te ó rica e pr á ti c a , cen-
da, direitos e cidadania. Porém, a relação fra- trada no uso da politi c i d ade do cuidado como
terna aí impulsionada também é opressora e referência teórico-analítica para a gestão de
su bju ga n te , uti l i z a n do-se de artifícios calcados políticas de saúde, que investiga se a gestão de
na solidari ed ade para manter-se em posição de programas prioritários para o SUS, como o
dom í n i o. Esta discussão integra a tese de dou- PSF, tem oportu n i z ado cen á rios propícios à au-
torado Politicid ade do cuidado como referência ton omia de su j ei to s ) . Para os prop ó s i tos de s te
em a n cipatória para gestão de pol í ticas de saúde: tex to, qual seja, indicar dinâmicas indutoras de
co n h e cer pa ra cuidar mel h o r, cuidar pa ra con- reordenamen to de poderes para a prática dos
fro n t a r, cuidar pa ra emancipar (Pires, 2004), prof i s s i onais de saúde , fundamentou-se pri n c i-
defendida no programa de pós-graduação em palmen te nas discussões que integram o refe-
Política Social da Un iversidade de Brasília, e rencial teórico e análise dos dados da referida
d i s c ute teoricamente o caráter dinâmico, tur- produção (doc u m en tos insti tu c i onais e traba-
bu l en to, su bvers ivo, po l í ti coe recon s trutivo do lhos premiados na II mostra nacional de pro-
cuidar, a partir das seguintes questões: Como dução em saúde da família, ocorrida em julho
um cuidado em i n en temente tutel a r, que sob revi- de 2004).
ve da pr ó pria dependência, poderia desencadear
ruptu ras emancipatórias a partir dessa mesma
proteção? Poderia uma relação protetora vir a se Politicidade do cuidado : cen tralidade
co n s ti tuir em impu l so criativo à insubordinação do po l í ti co para gestão da ajuda-poder
autônoma? Existiria dinâmica subversiva na
ajuda, típica relação de pod er? A po l i ti c i d ade do cuidado pode ser en tendida
A politicidade do cuidado, con cebida na como manejo político e reconstrutivo da rel a-
ambigüidade que a conforma, pode de s cons- ção dialética estabelecida entre ajuda e poder
truir assimetrias de poder a partir do triedro para a construção de autonomias de sujeitos,
conhecer pa ra cuidar mel h o r, cuidar pa ra con- sejam estes gestore s , t é c n i co s , prof i s s i onais de
f ro n t a r, cuidar pa ra em a n cipar (uma produção s a ú de , u su á rios dos serviços de saúde , família,
pr ó pria que será aprof u n d ada no decorrer de s- comu n i d ade , en f i m , cidadãos. Acerca da po l i ti-
te tex to ) . Arti c u l a n do saber, poder e ajuda, o c i d ade, adota-se a referência de Demo (2002a),
referi do tried ro aprofunda as dimensões ep i s- que a con cebe como habilid ade política huma-
temológicas, ecológica, on tológica e social do na de “s a ber pen s a r ” e intervir criticamente, nu-
c u i d ado, por meio da politicidade que lhe é in- ma busca imanen te por autonomia cre s cen te .
trínseca. Parte-se do supo s to que o ato de co- O en f ren t a m en to dos limites po s to s , sejam so-
nhecer, ou de com p ut a ç ã o / cogitação (Morin, ciais, econ ô m i cos, cultu rais ou bi o l ó gi co s , con-
1999), s en do po l í ti co e bi o l ó gi co (Ma tu rana & forma o cen tro nevr á l gi co e motor da politici-
Va rel a , 1997; Dem o, 2002b), e en ten d i do com o d ade humana. Para consolidar a idéia de pol iti-
forma natural de participar de um mu n do so- cid ade como razão humana fundamental, o au-
cial e historicamen te con form ado, instru m en- tor re sgata con h ec i m en tos da bi o l ogia para ar-
taliza confron tos e autonomias libertárias. O g u m entar soc i o l ogi c a m en te . A partir do en ten-
tried ro em a n c i p a t ó rio do cuidar, contex tuali- d i m en to bi o l ó gico da intrínseca mut a bi l i d ade
z ado na po l í tica pública e ad a pt ado ao proce s- do ser vivo, con s trói uma fundamentação te ó-
so de trabalho em saúde, pode se con s ti tuir nu- rica para o en tendimento da po l i ti c i d ade com o
ma referência capaz de democratizar podere s possibilidade de con s truirmos uma socied ade
por meio do fortalecimen to da autonomia de menos desigual, mais ética e justa. Advém tam-
sujeitos. Este argumen to é aprofundado nas bém desse autor uma referência import a n te so-
três partes que com p õ em este arti go : a) politi- bre igualitarismo (possível pela democratiza-
c i d ade do cuidado : cen tra l i d ade do po l í ti co pa- ção do poder) em oposição a igualdade (con-
ra a gestão da aju d a - poder; b) po l i ti c i d ades na trad i t ó rio porque este mesmo poder, s en do es-
forma desigual de or ganizar e produzir saúde: trutural, não de s a p a rece fac i l m ente). Na base
1027

desta discussão está a pulsação de uma pol itici- rais, tão irreveren tem en te caracteri z ados tanto
dade bi ol ogicamente plantad a, o que nos tor- pela termodinâm ica dos processos irreversíveis
na, a exemplo de outros seres vivos, (...) pro- (movimento de turbulência e revolução pre-
fundamente gregários e cooperativos, embora sen te no aqu ec i m en to das moléculas qu í m i c a s
prof u n d a m en te co m peti tivos (...)( 2 0 0 2 a ) . que gera dissipações irrepet í veis, singulares e
A partir do deb a te amplificado por Demo transform adoras na estrutu ra das mesmas), em
p a ra explicar a politicidade, e se distanciando Prigogine (1997), qu a n to pela autopo i ese ( a u-
de qu a l qu er fech a m en to determinista, é possí- ton omia ou auto - eco - or ganização dos proce s-
vel ob s ervar aspectos que sugerem uma inter- sos vivo s ) , em Ma tu rana & Va rela (1997), con-
relação dos fen ô m enos natu ra i s , sociais e his- substanciam um forte argumen to em favor da
t ó ri cos pre s en tes na re a l i d ade, quais sejam: 1) a politicidade .
politi c i d ade, a n tes de ser razão hu m a n a , l a teja O caráter disru ptivo, autopo i é ti co e irrever-
na matéria, estando pre s en te como dinâmica s í vel i n eren te aos seres vivo s , concebido de ma-
de recon s trução tanto nos processos vivo s , co- neira dialógica e dialética, fundamenta o argu-
mo nas movi m entações molec u l a res, atômicas men to da politi c i d ade do cuidado. Nesta dire-
e subatômicas que conformam os elemen to s ç ã o, a recon s trução da ajuda em prol da auto-
não orgânicos da natureza; 2) os animais são nomia do outro, calcada em relações de pode-
seres políti cos porque também se rel ac i onam, res po ten c i a l m en te su bvers ivas, pode con f i g u-
i n teragem , tensionam e transformam en tre si, rar um cuidar de cariz mais em a n c i p a t ó ri o. A
como se observa, por exem p l o, nas formas de a uton omia intr í n s eca dos sujei tos como poten-
a s s ociação en tre seres vivos estu d adas pela bi o- cial tra n s form ador, a histori c i d ade e dinamici-
logia (coopera ç ã o, mutu a l i s m o, competi ç ã o, dade de uma re a l i d ade com p l exa e imprevi s í vel
simbiose, s oc i ed ade , en tre outro s ) ; 3) esta po l i- configuram a idéia da politicidade do cuidado
ti c i d ade, no hom em, se com p l ex i f i c a , a s su m i n- como gestão intel i gen te da ajuda-pod er. É prec i-
do pec u l i a ri d ades pr ó prias do ser dialético qu e samente pela politicidade que o cuidado pode
s a be intervir pela recon s trução perm a n en te ; 4) se tornar em a n c i p a t ó rio ou de s con s trutor das
tal intervenção humana, no capitalismo, tem próprias estrutu ras que o su bju ga m . Trata-se de
i n ten s i f i c ado a face agre s s iva e desigual das re- redimensionar o cuidado como possibilidade
lações soc i a i s , s en do nece s s á rio o re sga te da di- ética da hu m a n i d ade, vi a bi l i z á vel pela ambiva-
m ensão ética dessa mesma po l i ti c i d ade, capaz lência intr í n s ec a . Tal inten to su gere um movi-
de for jar processos emancipatórios. m en to dialético no qual a relação de depen d ê n-
Ainda sob as de s cobertas da biologia, na cia acontece mais para construir autonomia
teoria da autopoiese, em Maturana & Va rela dos atores envo lvidos, que para manter-se em
(1997), o dinamismo das tra n s formações ope- si mesmo, como exercício autocen trado de po-
radas pela dinâmica e divers i d ade da or ga n i z a- der. Ou seja, significa cuidar para que po s s a-
ção do ser vivo impre s s i ona, a de s pei to de cer- mos ser capazes de reelaborar cada vez mais a
to fech a m en to estrutura l - f u n c i onalista pre s en- tutela e ex i gir cidadania, on de o “m eu” proj eto
te na con cepção de cl a usura opera cional da má- de auton omia só ex i s te como parte da auton o-
quina viven te. Seg u n do esta teori a , os proce s s o s mia co l etiva , saben do-a sempre rel a tiva.
produtivos e autônomos que con formam o ser O cuidado como gestão da ajuda-poder tem
vivo geram transformações dentro do sistema como fulcro central a dinamicidade tanto dos
( m á quina vivente), sendo o meio externo re s- processos históri co s , qu a n to da natu re z a , a s su-
ponsável apenas por perturbações menos ex- mindo-se aqui uma abord a gem soc i a l , eco l ó gi-
pre s s ivas. A cl a u su ra operac i onal atu a ria com o ca e ep i s tem o l ó gica do cuidar (Pires, 2002). Por
uma rede fechada de relações e produções do existir sobretudo na natu re z a , o cuidado faz
s i s tema, limitando a mudança apenas ao inte- parte da com p l eição dos seres vivos e da emer-
ri or da máquina vivente. Re s i d i ria aí a limita- gênci a dos processos cognitivos globais de uma
ção dessa teori a , uma vez que tais processos po- mente incorpo ra d a, ocorrendo em múltiplas e
dem desencadear mudanças não apenas den- diversas form a t a ç õ e s . Sobre essa última ex pre s-
tro, mas do sistema como um todo, numa pers- são, explica-se: distanciando-se da clausura ope-
pectiva mais dialética. Apesar dessa re s s a lva, a racional que outrora assinalava, e arti c u l a n do
cen tra l i d ade da auton omia dos fen ô m enos bi o- múltiplos saberes (psico l ogia cognitiva, fen o-
lógicos, assumida pelos autores como traço m en o l ogia e budismo), Va rela propõe que a re-
primordial e ineren te à vida, traduz a va n g u a r- f l exão precisa interrom per os padrões habituais
da dessa teoria. O pulsar dos fen ô m enos natu- de recorrência e progra m a ç ã o, mantendo-se
1028

atenta e aberta. Aberta às possibilidades dife- ceder a si mesma, envolvida por outros dois m o-
ren tes daqu elas con tidas nas repre s entações co- m en tos estrutu ra i s , o já ser- em e o ser- j u n to do
muns que as pessoas têm, a berta à vivência re- con ceito ôntico de c ura também permite cha-
f l ex iva prop i c i ada pela men te, a berta aos de s í g- má-lo de cuidado e dedicação, i ntegra ndo os com-
nios do caos e da incerteza, a berta às tra n s for- port a m en tos e atitudes humanas (Heidegger,
mações advindas da dúvida e do ac a s o, a tenta 2002). Bof f (1999), a poi a n do-se em Hei degger,
às possibilidades emancipatórias que podem recon h ece o cuidado como modo de ser essen-
advir desse estado de ausência de fundamen to, cial, como ethos humano e dimensão on tológi-
con form a n do o que ele den omina de en a ction. ca i mpo ss ível de ser totalmen te desvi rtuada. De-
A ausência de um fundamen to essen c i a l , de um fende que o cuidado entra na constituição da
com a n do único, de um sel f central e porto se- n a tu reza e do ser hu m a n o, s em o qual não ha-
guro das pulsões humanas, ao invés de ser con- veria a pr ó pria vida. Com o tom prof u n d a m en-
s i derado um aspecto negativo, é de s c ri tocom o te hu m a n o, f i l o s ó f i coe teo l ó gi co, propõe uma
prof u n d a m en te revel ador de condições libert á- ressignificação do cuidado, f u n d ado numa no-
rias, pre s ente na existência co-dependente da va é tica do humano e na co mpaixão pela terra.
própria vida. Por meio da enaction, os prati- A consistência teórica de Boff, a despeito de
c a n tes da aten ç ã o / consciência podem aumen- certa tendência esotérica tão po u co ambiva l en-
tar a capac i d ade de se estar a tento às prof u n d a s te , torna seu “saber cuidar” uma referência im-
ex periências advindas da con exão en tre corpo port a n te para as utopias hu m a n a s . O utro des-
e men te. taque oportuno é a crença de que o cuidado,
As s i m , s eja na turbulenta natu reza que bu s- em sentido irrestrito, re s i de na imanência da
ca su peração de equilíbrios pela irrevers i bi l i d a- vida e do humano, ad m i ti n do-se aqui uma ple-
de dos fen ô m enos (Pri gogine, 1997), na bi o l o- nitude incaptu r á vel apenas pela ra z ã o.
gia dos processos aut ô n omos ou na ex periên- Lon ge de se aden trar nesta seara filosófica,
cia vu l n er á vel da ref l exão oriunda da junção do por fugir aos obj etivos de s te tex to, c a be consi-
corpo com a men te, o cuidado, não sem con f l i- derá-las referências importantes para o elem en-
to, i n terage e tensiona seres por dinâmica in- to de ruptura presen te nas expressões do cui-
terna, inerente ao pulsar da vida. É precisa- dar – imanen te em possibilidades, transcen-
mente pelo con f l i to e incerteza pre s en tes no dente em desafios. Seja qual for a tendência pre-
gesto de ajuda que ele pode vir a ser uma for ç a ten d i d a , a capac i d ade revo lucionária do cuida-
revo lu c i onária, tradu z i n do-se em politicidade do ocorrerá menos pelo seu modo-de-ser qu e
su bvers iva. Com preen der o cuidado como vir a pelo seu modo - de -vir-a-ser. É principalmen te
ser, contrário de ser, contemporiza-o como pos- pelo que ainda não é, já sen do em si, que se po-
s i bi l i d ade de mudança ineren te às relações so- de argumentar em favor da em a n c i p a ç ã o. Ou, é
ciais. A liberdade manifesta na con cepção do prec i s a m en te pela dinâmica da liberdade , a pro-
vir a ser con stitui a potencialidade su bvers iva x i m a tiva de realizações e plena de de s ejos, qu e
do cuidado, expressa pela frivolidade, fugaci- as utopias libertárias se realizam (Bauman,
d ade e intrínseca tra n s i tori ed ade do fen ô m en o 2001). Ac reditar que as ações solidárias e reve s-
do poder. O cuidado visto na to t a l i d ade envo l- tidas de autori d ade , ou seja, fundadas em rela-
ve não só o modo de ser, e s trutura mais def i n i- ções de poder pr ó prias do su j ei to que ajuda o
dora e captu r á vel, como também o modo de o utro e define-se a si mesmo, podem prom over
vir a ser, característica que o torna dinâmico, a utonomias capazes de vir a reordenar desi-
perm e ado por volúpia e tensão dialéti c a . gualdade s , implica con ceber a centra l i d ade do
A este re s peito, a discussão em Heidegger po l í ti conas relações sociais estabel ecidas. É pe-
s obre o ser- n o - mundo i nclui a dimensão da cu- la mediação de intere s s e s , pela negociação ár-
ra /cuidado, que com p õ em a estrutura da pre - dua de proj etos, pela inten s i d ade da ágora pú-
sença ( con s tituição ontológica de hom em, ser bl ico / privado inerente às soc i ed ades hu m a n a s
humano e hu m a n i d ade). É na pre - sença que o que as pretensas liberdades tomam con c retu de .
h om em constrói seu modo de ser-no-mu n d o. O cuidado como a juda que se reel a bora na rel a-
Ass i m , segundo o filósofo da fen omenologia, o ção de poder estabel ec i d a , acon tece principal-
ser-no-mundo em sua essência é cura , en ten d i- mente pela politicidade do cuidar, entendida
da como condição estrutural de existência hu- t a n to pelo seu modo de ser solidári o, como pel o
mana. O n to l ogicamen te , cura não pode signi- seu modo de vir a ser pol í ti co.
ficar uma ati tu de especial para con s i go mesmo, O termoa j uda é discuti do por Gron em eyer
porque esta ati tu de já se caracteriza como pre- (2000), que, ao tentar uma definição te ó rica de s-
1029

ta palavra para o Dici onário do De senvolvi m en- o amparam são capazes de construir um con-
to, apre s enta-o como pod er el egante. A autora tra - i m p é rio tip icamente revo luc i oná rio. O me-
argumenta que a ajuda ao de s envolvimento, canismo de coerção utilizado opera no seio da
em especial aqu ela oferecida aos países do Ter- vida social, atuando em malhas intrincadas,
ceiro Mu n do, sempre se con s ti tu iu num mec a- s en do disperso e pouco loc a l i z á vel . A discussão
nismo de dom i n a ç ã o, em que a dissimulação e de bi opoder em Foucault (1985) lança as bases
ex trema discrição lhe foram sem pre atributos da teoria do impéri o, ou de como a gestão das
principais. (...) O poder el egante jamais é iden- forças do corpo foram, e conti nuam a ser, ex-
tificado como pod er. E ele é verd a d ei ra m en te el e- trem a m en te estra t é gicas para a ac u mulação ca-
ga n te quando, c a tivados pela ilusão de liberd a d e , pitalista. A articulação en tre a reprodução hu-
os que a eles estão submetidos negam, repetida- mana e o capital, ga ranti n do uma força produ-
mente, sua existência. É uma fo rma de manter o tiva dócil, foi o principal obj eto de interven ç ã o
cabresto na boca dos subordinados sem deixar do poder disciplinar do capitalismo indu s trial.
que eles sintam o poder que está dirigindo. Em A própria disciplina, tão formatada e institu-
suma, o pod er el ega n te não força, não reco rre ao cionalizada na era moderna, é (re ) d i s c utida
c a cete nem às co rren te s , simplesmente ajuda (...) atualmente como uma introjeção ineren te à vi-
( Gron em eyer, 2000). Como todo poder que se da soc i a l .
preza em manter-se forte, a a j uda a tua por me- O poder, situação estratégica complexa,
canismos camu f l a t ó rios, l a n ç a n domão de ape- permeada por disputa e sublevações num de-
los pretensamente morais para consolidar sua terminado contex to sócio-histórico, t a n to em
h egemonia. Afinal, qu em ousa desconfiar da- Foucault (1985) como em Hardt & Negri (2002),
quele que está a j ud a nd o o outro? Tome-se o ca- en c a rrega-se mais da vida do que da ameaça da
so dos micropoderes pre s en tes no processo de morte , d a n do-lhe acesso direto ao corpo bi o l ó-
trabalho em saúde. Como duvidar do médico, gico arti c u l ado intri n s ec a m en te com a história.
que além de deter o con h ec i m en to sobre o meu Pa ra Foucault (1985), é principalmente por
corpo e minha doença, prom ove o bem da mi- meio desta biopolítica, que negocia domínios
nha saúde a partir do seu saber- poder? (Fou- sobre a vida na história dos hom en s , que o sa-
cault, 1979). ber- poder tem se consti tu í do como um agente
O cuidado, apesar de bem mais amplo por de transformação da vida humana. Para o au-
envo lver aspectos ontológicos, eco l ó gi co s , so- tor, e referindo-se à história da sex u a l i d ade hu-
ciais, c u l tu rais e políti cos do ser vivo, tende a mana, o mesmo interd i to que mantém o corpo
ser mais bem com preendido no campo da as- disciplinado aos de s í gnios do capitalismo, su b-
sistência à saúde, uma vez que as profissões meti do às normas sociais que mantêm os cor-
têm progressivamen te disciplinado o cuidar em pos dóceis e hígidos para a reprodução do ca-
procedimen to s , tarefas, tecnologias, rotinas e pital, pode se contra por a estes com a n dos por
micropo l í ticas para cuidar das doenças (Merhy, uma mesma bi opolítica interna, libert a n do - s e
1997). Nesse caso, a ajuda como poder el ega n te da tutela por meio do cuidado de si, capaz de
a p arece em sua face mais velada, seja porque a for jar auton omias. Nessa linha de pen s a m ento,
en fermidade nos fragiliza diante da iminência e acom p a n h a n do as tra n s formações do capital,
da morte, seja porque a ajuda no campo da que hoje rom pe barrei ras físicas e terri toriais, o
s a ú de historicamen te sem pre se aproximou do poder igualmente se fragmen tou nos corpos
sacerdócio e da benevolência, legitimando he- humanos, perden do em unidade def i n i dora c a p-
gemonias sec u l a res que aprisionam corpo e turável, ga n h a n doem ex tensão irrepreen s í vel.
subjetividade das pessoas à lógica da divisão Assim, a pesar da coerção ex terna, hoje as pe s-
social do trabalho em saúde (Re zen de , 1989; soas obedecem ou não mu i to mais por dinâmi-
Pires,1989). ca interna, por uma bi opolítica que lhe é in-
De volta à mac ropolítica, e na tentativa de trínseca. É precisamen te sobre essa dimensão
arqu i tetar uma teoria de soberania para a nova política da vida das pe s s oas que o poder i mpe-
forma gl obal de econ omia capitalista, Ha rdt & rial age, por mecanismos internos de con tro l e
Negri (2002) defen dem que estaríamos viven- mediados pelo biopoder. Assim, ao contrário
do num Imp éri o. O Im p é rio difere do imperi a- do que se poderia su por, vi s to que no Im p é rio
lismo moderno que o antecede, pri n c i p a l m en- não ex i s te uma sede específica de poder, a po l í-
te , por não ter um centro único de poder defi- tica não desaparece , mas sim sua soberba a uto-
n i do, mas redes de poder que o su s tentam. Por n om i a. Em diálogo com esses autores, argumen-
o utro lado, as forças criadoras da mu l tidão que ta-se aqui por uma proposição disruptiva do c u i-
1030

dar, por um cuidado que se recon s trua sem pre c r í tica em relação à ex pressão mod el o, por re-
para cuidar mel h or, gerindo politicamente re- duzir politicidades libert á rias. Ou seja, m odel o
lações da ajuda-pod er. Pa ra a área da saúde em pre s supõe norma, pad r ã o, rigidez e certo fe-
especial, esse deb a te se insere na atual discus- ch a m en to ep i s tem o l ó gi co, inibi n do um diálo-
são sobre mudança do modelo assistencial em go mais aberto, d i n â m i coe recon s trutivo com
s a ú de , ou na busca de inovações e reconstru- o utras formas de produzir e organizar cuida-
ções do trabalho em saúde capazes de fortale- dos em saúde, inscritas na divers i d ade étnica e
cer a auton omia de su j ei tos, s ejam estes prof i s- c u l tu ral das pessoas. Para o que vem se discor-
s i onais ou usu á rios do sistema de saúde. ren do, e s te termo se refere apenas a uma deter-
m i n ada forma de or ganizar o cuidado, em ge-
ral vinculada à política de saúde oficial, qu e
Bu s c a n do politi c i d a des na forma por sua vez se insere no modo de produção ca-
desigual de organizar e produzir pitalista. Não significa dizer que seja a única ou
saúde: en tre o aprisionamen to a mais importante manei ra de cuidar, h a ja vis-
e a libertação do cuidado ta a diversidade de sabere s , pr á ticas e culturas
que com p õ em a realidade em saúde do país
A mudança do parad i gma assistencial em saú- (Weber, 1999).
de, uma das grandes lutas advindas do movi- O modelo assisten c i a l , cura tivo e hospitalo-
m en to da Reforma Sanitária, perm a n ece com o cêntri co envo lve a pe s ada indústria farm ac ê u-
utopia con c reti z á vel. Tal ideári o, fundado nos tica, de equ i p a m en tos e insumos tecnológi co s
princípios doutrinários do SUS (universalida- para o setor, gerando lu c ros e ac u mulação do
de, eqüidade e integralidade), sof re influência capital (merc ado). Pa ra a manutenção desta
das profundas mudanças que vêm ocorrendo forma de produzir cuidados em saúde, qu e
na economia e estrutura da sociedade (Offe, coi n c i de com a reprodução do sistema capita-
1991; Santos, 1997), nos valores e hábitos de lista, e s ti mula-se o con sumo de serviços e equ i-
saúde da população (consumismo e medicali- p a m en tos em saúde, bem como a medicaliza-
zação dos problemas sociais, em que as qu e s- ção dos problemas sociais da pop u l a ç ã o, qu e
tões de ordem públ i c a , como saneamen to bási- geram divi dendos para o setor privado. Por ou-
co e água tratada, são tomadas re s tritamente tro lado, o merc ado de trabalho que se abre ao
a penas sob a ótica da dimensão privad a , en f a ti- prof i s s i onal de saúde ex i ge ju s t a m en te o que as
z a n do-se o tratamento das en ferm i d ades com o u n iversidades estão pron t a m en te re s pon den-
fim em si (Fleury, 1997), além da própria for- do, ou seja , um prof i s s i onal espec i a l i z adoe tec-
mação e prática dos profissionais (tecnicista, nicamente competen te , embora alienado de
cartesiana, po s i tivista), inseri n do - s e , cl a ro, no s eu processo de trabalho (cuidar) e politica-
con tex to estrutu ral bem mais amplo de con for- m en te frágil (Pire s , 2001). Para além de qu a i s-
mação das relações de ajuda-poder nas po l í ti- qu er interpretações mais duras sobre a deter-
cas soc i a i s . minação do econ ô m i co sobre o social, i n com-
A referida mudança con s i s tiria em trans- p a t í vel com a complexidade da realidade qu e
cen der a abord a gem cura tiva, hospitalocêntri- se vem discuti n do (Morin, 2002), é preciso
ca, fragmentada em especialidades, fundada pri orizar a tensa correlação de forças que se es-
em processos de trabalhos rigi d a m en te dividi- t a belece na con formação das políticas sociais,
dos, a l i en ados e na hegemonia do médico so- capaz tanto de dom i n a ç ã o, qu a n to de su bl eva-
bre a equ i pe de saúde (Campos, 1992; Pires, ção emancipatória. A de s peito disso, é ineg á vel
1989). Em seu lugar, propõem-se abord a gens a influência do merc ado nas soc i ed ades capita-
interd i s c i p l i n a re s , com re sga te da integra l i d ade listas, h a ja vista as ex tremas de s i g u a l d ades so-
da aten ç ã o, cen trada na saúde , na comu n i d ade, ciais que se tem de en f rentar em tem pos de glo-
no fortalec i m en to das redes solidárias, na par- balização do capital.
ticipação social e na pessoa como sujeito do Para a mudança pretendida con s eguir ter
seu processo de saúde - doença, seja em nível in- ê x i to precisa mexer com o modo como vêm
dividual ou coletivo. Por modelo assistencial, s en do produzidas as ações e serviços de saúde
en tenda-se a forma com que o cuidado em saú- que, se historicamente vêm privi l egi a n doo ca-
de é produ z i do e se or ganiza na po l í tica de saú- pital, u r ge vo l t a r-se para o tra b a l h o. Ne s te sen-
de para aten der às nece s s i d ades da pop u l a ç ã o. ti do, a alienação do tra ba l h o, c a tegoria marx i s t a
Apesar do uso bastante con s a grado na litera tu- que busca apreender a ac u mulação do capital,
ra de saúde, m a n tenha-se aqui uma re s s a lva f i g u racomo discussão rel eva n te para en ten der
1031

como o cuidado à saúde, nas sociedades capi- su bj etivizando cada vez mais a coisa e coisifi-
talistas, vem sen do organizado, produzido e cando cada vez mais o sujeito, mais trági co se
acessado de manei ra desigual. Apesar de pro- torna o dilema da mudança, que tende a se
f u n d a m en te tra n s form ado e contem porizado, apre s entar con trad i tori a m en te como urgen te e
o trabalho abstra to (Marx, 1963) segue como invi á vel. Diante da iminência do impo s s í vel,
c a tegoria atual e rel eva n te para as explicações e surge a crítica ou o poder-pa ra ( conhecimen-
análises das po l í ticas sociais capitalistas. Não se to), o qu e s tion a m en to que tenta ir além da
preten de , repita-se, limitar a tensa e com p l ex a aparência, tra ç a n do as razões mais revel adoras
correlação de forças que se estabelece na con- do fen ô m eno cri ti c ado, que teria como obj eti-
formação da realidade, entendendo-a histórico - vo principal re sgatar a su bj etivi d ade dos su j ei-
e s trutural, uma vez que as estruturas se mod i- tos, recobra n do-lhe o que fora alien ado.
ficam na história (Minayo, 2001; Dem o, 2002b). Di a n te do desafio da mudança med i ada pe-
Afinal, a aposta num caminho único, seja fe- lo saber, faz-se necessário retornar à po l i ti c i d a-
chado ou aberto, não tem dado conta das cri s e s de do cuidado, numa ten t a tiva de antever indí-
epistemológicas, s ociais e econômicas pelas qu a i s cios libertários. Cuidar é mais que ato mec a n i-
se tem passado, n em tampouco dos dilemas é ti- z ado, ro ti n i z ado e alien ado de sen ti do, faz par-
cos da profunda de s i g u a l d ade em que a hum a- te da atividade criativa dos sere s , com pondo-
n i d ade se en con tra (Boff, 2003; Du s s el , 2002). lhe a estrutu ra de ser e vir a ser- n o - mu n d o, sen-
Tal digressão seria incom p a t í vel com uma tese do atitu de humana inscrita na esfera vital, su b-
cen trada na politicidade do cuidado, em que o jetiva e cultu ral das relações soc i a i s . O fazer hu-
cuidar, s en do relação que envo lve ajuda e poder, mano é permeado de cuidado, capaz tanto de
está inscri to na su bj etivi d ade das pessoas, inse- oprimir, qu a n to de libertar. O que Ho ll ow ay
ridas em con tex tos sócio-históri cos com p l exo s . chama de submissão do poder- f a zer ao poder-
O que se argumenta é qu e , apesar de algu- sob re, pode ser tradu z i do aqui como i n stituci o-
mas interpretações recoloc a rem em debate a nal iz ação do cuidado (Pires, 2002), significando
cen tra l i d ade do trabalho para a reprodução do o aprision a m en to do cuidar em normas, roti-
capital (An tunes, 2002), haja vista a tra n s mu- nas e técnicas que de s virtuam o cuidado de sua
tação e intensa flex i bilização dos meios de pro- existência criadora e reveladora (Heidegger,
du ç ã o, afirma-se que o trabalho perm a n ece es- 2002). A institu c i onalização do cuidado, tenso
s encial para a ac u mulação capitalista, em bora em disputas en tre o instituinte e o instituído,
c a l c ado mu i to mais na mais-valia rel a tiva, cen- ou entre a ação dos su j ei tos e a norm a l i z a ç ã o,
trada no conhecimen to, do que na mais-valia ten de a pri orizar a tutela em detri m ento da au-
absolut a , c a l c ada na força de trabalho humana. ton omia dos su j ei to s , i n s eri n do-se na lógica de
Se era assim no per í odo da revo lução indu s tri a l abstração do trabalho em favor do capital. O
estudado por Ma rx, continua sendo, embora cuidado institucionalizado, fra gm entado e ex-
prof u n d a m ente transmutado, no Império de torqu i do de su bj etivi d ades recon s trutivas, em-
Hart & Negri (2002). Ainda sobre essa qu e s t ã o, bora igualmen te rico em politicidades su bver-
e assumindo uma atualização polêmica do sivas, de certa forma vem su s ten t a n doum mo-
m a rx i s m o, Hollow ay (2003) aborda a alien a ç ã o delo de atenção à saúde inju s to e desigual, s ob
do trabalho sob o enfoque da transformação a forma da ajuda conformada em política de
do pod er- f a zer em pod er-sob re, defen den do que s a ú de tipicamen te capitalista.
o capitalismo se baseia não na propri ed ade das Lon ge do ex tremismo recorren te em con s i-
pessoas, mas na propriedade do fato. O qu e derar as políticas sociais ou como expedien te
Ma rx chama alien a ç ã o, ou ru ptura do hom em da ac u mulação capitalista, ou como direi to re-
em relação ao seu obj eto de trabalho, Holl ow ay distri butivo con quistado pelos trabalhadores
den omina de separação do fato em relação ao (e distante também da bipolaridade simplista
fazer. O processo de trabalho é tradu z i do com o expressa na hipótese do engodo ou na hipótese
fluxo social do fazer, s en do este ineren te aos da conquista denu nc i ada por Coi m bra (1987),
conv í vios hu m a n o s . A análise de Ho llow ay (a na critica que faz às análises marxistas sobre a
despei to de não explicitar como seria po s s í vel causação das políticas sociais na soc i ed ade ca-
mudar o mundo sem tomar o poder) consegue pitalista, apon t a n do o simplismo, a - h i s torici-
a profundar com pertinência o âmago da con- dade e compactação presen tes nas mesmas),
tradição capitalista, tradu z i do pelo apri s i on a- cabe re a f i rmar que é na totalidade desses doi s
men to do fluxo social do fazer. À medida que a processos que as re a l i d ades sociais e econ ô m i-
alienação das relações sociais se aprofunda, cas se fundam. As po l í ticas sociais sintetizam a
1032

contradição entre modo e relações de produ- fato de essa figura geom é trica ser form ada con s-
ção nas soc i ed ades capitalistas, con form a n do - titucionalmen te por três faces integradas, vi-
se historicamen te a partir das correlações de su a l i z adas em con ju n to, gera n do diversas ima-
forças estabel ecidas na arena po l í tica (Poulant- gens a depen der da posição e incidência do jo-
zas, 1985; Offe, 1991; Fa l eiros, 2000). Porém, go de luz e som bras po s s í vei s ) . Com tal propo-
repara n do bem, pode-se dizer que, a despeito sição, a r g u m enta-se em favor do con h ec i m en to
da osten s iva pre s ença da soc i ed ade civil na es- como forma natu ral de participar de um mu n-
fera pública de decisão em mu i tos con tex to s , a do soc i a l m en tefundado em relações de a j ud a -
correlação de forças en tre merc ado e bem - co- poder. Arti c u l a n do saber e poder, ou reconhe-
mum tem ocorrido com uma forte predomi- cen do que o cuidado é também uma forma de
nância do capital nas ações legitimadoras do con h ec i m en to capaz de for jar po s s i bi l i d ades li-
interesse públ i co. bertárias, pode-se ampliar a capacidade de con-
Falar em mudança do modelo assistencial fronto e reorden a m ento das assimetrias de po-
pre s supõe alterar a exce s s iva tecnificação que o der, emancipando por meio da mesma ajuda
c u i d ado sof re no processo de trabalho dos pro- que domina e su bju ga . De s con s truir progre s s i-
f i s s i onais em saúde, que, por sua vez, se insere vamente relações de domínios por meio de
nas correlações de forças que conformam as ações solidárias implica um resga te críti co da
políticas soc i a i s . Cuidar da saúde das pessoas, discussão sobre conhecimento e poder, que s em-
afinal, é mais que con s truir um obj eto e inter- pre foi tensa e dialética. Sobre tal qu e s t ã o, Mo-
vir tec n i c a m en te sobre ele, é interagir, en con- rin (1999) defen de a idéia de que o con h eci-
trar, a l i m entar a alma, con s i derar, recon s tru i r- men to tem uma voc ação em a n ci pa t ó ri a, de mo-
se, qu erer con s truir proj etos (Ayre s , 2001). Na do que qu a n to mais se con h ece e se com preen-
relação estabelecida no ato de cuidar, em que de , mais se é capaz de, recon h ecen do os limites
a juda e poder se con f rontam e se su peram nas do verdadeiro, ded i c a r-se à sua procura e, por
sínteses dos atos produzidos, ac redita-se que meio desse processo incessante de busca, em a n-
seja po s s í vel emancipar por meio da constru- c i p a r-se relativamente de certas con cepções.
ção de auton omias de sujei to s , saben do-as re- Di a n te do desafio da com p l ex i d ade do real, ur-
lativas e proce s su a i s . Pelo reconhec i m en to de ge ao con h ec i m en to ref l etir-se sobre si mesmo,
saberes como meio para forjar poderes ador- s i tu a n do-se e probl em a ti z a n do-se no exerc í c i o
mec i do s , ac reditando no fomen to de projetos proce s sual de aproximar-se da re a l i d ade.
c a p a zes de re s t a bel ecer corpo e subjetividade s Se tal conhecimen to pode ser visualizado
p a s teurizadas, e apo s t a n dono incapturável do como uma forma de participar da vida – e se o
viver hu m a n o, a ajuda pode em a n c i p a r-se da hom em é estrutu ra l m en te c u id ado como modo
tutela, produ z i n doefei to de poder mais iguali- de ser- n o - mu n d o junto dos entes intramunda-
tári o. Emancipar pela ajuda pode ser po s s í vel nos ( Heidegger, 2002; Bof f , 1999) –, o ato de
pelo tri ed ro emancipatório do cuidar – conhe- cuidar também pode ser con cebi do como for-
cer pa ra cuidar melhor, cuidar pa ra co n f ro n t a r, ma de con h ecer e reinventar cotidianos. Pa ra se
cuidar pa ra emancipar – no qual conhec i m en- cuidar uns dos outro s , numa propulsão tanto
to, poder e auton omia se ten c i onam para liber- criativa qu a n to dominadora, incorpora-se,
tar o fazer humano das amarras que o su c u m- a preende-se e interpreta-se a realidade. Ne s s e
bem , po ten c i a l i z a n do utopias con c retizávei s . e s p í ri to ampliado, en tenda-se con h ecim ento co-
mo dinâmica viva de produzir interpretações,
significados, críticas e formas de participar da
Tried ro emancipatório do cuidar re a l i d a d e. Con h ecer é recon s truir possibilida-
e processo de trabalho em saúde : des de conviver, atuar e interagir com o planet a ,
i n d i c a n dodinâmicas disruptiva s con ceben do a disru p ç ã o, o con f ron to e a provi-
sori ed ade como cerne. É a manei ra como a na-
A politicidade do cuidado está calcada na re- tu reza se mantém divers a , única e incaptu r á vel ,
con s trução da auton omia de su j ei tos por mei o recon du z i n do tempos, espaços e histórias de
da gestão da ajuda-poder. A defesa dessa con- forma não-linear e irredutível. Precisa-se, en-
cepção se fundamenta pelo que aqui se deno- t ã o, conhecer pa ra cuidar mel h o r, cuidar pa ra
mina tri ed ro em a n ci patório do cuidar: co n h e cer co n f ro n t a r, cuidar pa ra emancipa r, porque tal
pa ra cuidar mel h o r, cuidar pa ra co n f ro n t a r, cui- po l i ti c i d ade se ex pressa na intr í n s eca habi l i d a-
dar pa ra emancipar (a escolha da met á fora do de de cognição pre s en te na natu re z a , na cultu-
tri ed ro, mera m en te ilu s trativa , foi inspirada no ra e na história da hu m a n i d ade.
1033

Refletindo a humanidade da humanidade, tal, como das pulsões incontro l á veis e delin-
Morin (2002) diz que a condição do sujeito é qüen tes que integram o homo sapien s - d emens.
s eu egocentri s m o, en tenden do-o dentro de O cuidado é uma mediação cri adora en tre a ra-
princípios egoístas e altruístas ao mesmo tem- cion a l i d ade e a pulsão presente no afeto. Mi s to
po. Além do egocentri s m o, considerado cen- de estratégia, ruptura e subm i s s ã o, o cuidado
tral, a subjetividade comporta a afetividade, transita entre a hu m a n i d ade sapiens e dem en s,
pois o sujeito está também destinado po ten- u n i n do-as numa propulsão reor ga n i z adora de
c i a l m en te ao amor, à en trega, à amizade, à in- poderes con form ados. A po l i ti c i d ade do cuida-
veja, à ambi ç ã o, ao ciúme, ao ódio e à relação do con templa o potencial da mu d a n ç a , da de s-
com o outro, que se en con tra no âmago do eu . con s trução recon s trutiva, da ru ptu ra dos inter-
Sendo, ao mesmo tempo, fechado e aberto, o d i tos e su bl evações opre s s ivas, tendo por foco a
egocen trismo do sujei to con cebe o outro com o construção da auton omia, síntese de diversos
estranho e como parte, no sentido altruísta e modos de cuidar. Trata-se de uma autonomia
egoísta pre s en te na relação eu / o utro e na con- dependente ( Morin, 2002), porque não ex i s te
ju gação do nós, s eres hu m a n o s . As s i m , o su j ei- autonomia viva que não seja depen dente (do
to surge para o mundo na sua relação com o meio, da auto - or ga n i z a ç ã o, da en ergia vital, da
o utro, s em o qual o EU des apareceria. É na in- cultura, da história, da família, da sociedade,
tersu bj etivi d ade que o sujeito se ex pressa e se do Estado) ou polidependente. A liberdade do
def i n e , por meio dela produz-se con iv ê n c i a , co- su j ei toaut ô n omo ocorreria numa situação qu e
munhão e possibilidade de compreen s ã o. Ao comporte, ao mesmo tempo, ordem e de s or-
mesmo tempo, a qu a l i d ade de sujei to, que ga- dem, estabilidade e regularidade, certezas a
ra n te autonomia do indivídu o, pode ser sub- priori para que seja po s s í vel esco l h er e decidir
m etida por essa mesma su bj etivi d ade , pelo mes- num mínimo de desordem e risco. A autono-
mo âmago que lhe define como ser capaz de mia do indivíduo humano se funda na qu a l i-
ação, produ ç ã o, a uto - eco - or ganização. dade de sujei to que se auto - a f i rma oc u p a n doo
O ser humano é mimético, capaz de histe- centro do seu mundo, mas que comporta um
ria, loucura e po s s e s s ã o. Mas também é único, Nós (família, espécie, sociedade), uma inscri-
compreen s ivo, genero s o, almeja n te de paz e ção comunitária (família, pátria), hereditária,
tra n q ü i l i d ade. Essa turbulência hologra m á ti c a histórica e cultu ra l .
contém um cosmo interi or e integra um cosmo A politicidade do cuidado medeia o con-
su peri or, ori gem da pr ó pria vida. Esse circ u i to f ronto das tensões en tre razão e demência pre-
a berto e intem pe s tivo traduz-se na idéia de h o- sente nos sujeitos, podendo inaugurar novas
mo sapien s - d emens (Morin, 2002), capaz de ra- ordenações de podere s . Trata-se de argumen t a r
zão e demência, linearidade e ambivalência em prol de uma nova lógica do cuidar, em qu e
qu e , de maneira antagônica e complementar, se exerc i te uma ajuda que, sendo poder, tanto
con forma os su j ei tos humanos. E s tes são sábi o s su bju ga , como é capaz de libert a r. Si gnifica de-
e loucos, a despei to das ten t a tivas do parad i g- senvo lver uma epistem o l ogia dialética do cui-
ma moderno de planificá-los nos extremos da dado que ganhe em intensidade subversiva,
rac i on a l i d ade (Ba u m a n , 2001), como se ela não mesmo sen do relação de dominação. O cuida-
f i zesse parte das pulsões e afetividades do ho- do aqui propo s to con templa toda a ambi g ü i d a-
mo-sapiens-demens. Para Morin, a afetividade de e complexidade do sujeito discutida por
medeia a relação en tre o h omo sapiens e o ho- Mori n , fundamentando-se eticamen te na em a n-
mo demens, os componentes rac i onais e de- cipação dos sujeitos. A gestão da aju d a - poder
mentes do hu m a n o. Tal subjetividade se ex- para a emancipação de su j ei tos envo lve con h e-
pressa nas sen s i bi l i d ades po é ti c a s , estéticas, mí- cer pa ra cuidar mel h o r, cuidar pa ra co n f rontar,
ticas, rel i giosas e simbólicas. Exprime-se igual- cuidar pa ra em a n cipar, pois precisa-se en ten-
mente nos ge s tos de cuidado intersubjetivos der mais profunda e dialeticamen te a re a l i d ade
que os com p õ em, na ajuda em bebida de razão com p l exa para nela agir e cuidar, em nome de
e emoção que tanto pode dignificar, qu a n to uma ética mais justa, c u i d adora, igualitária e li-
su bm eter o outro às suas ambições. bertadora (Dussel, 2002). Ajudando para qu e
As pessoas são seres de cuidado e de des- os sujei tos conheçam melhor, u n i n do forma e
tru i ç ã o, de ajuda e de coer ç ã o, exprimem-se con te ú do, qu a n ti d ade e qu a l i d ade , razão e afe-
pela tensa disputa da loucura e sapiência que to, as ch a n ces e con quistas cidadãs podem ser
as en cerra . O ato de cuidar sof re pressões tanto alargad a s . Tal intervenção cuidadora e su bver-
da rac i onalidade em p í rica-práti co - i n s tru m en- siva pode fortalecer autonomias e qualificar
1034

enfrentamen to s , emancipando pela de s cons- referências cen trais para ori entar o processo de
trução progre s s iva de assimetrias de poder. trabalho dos prof i s s i onais de saúde , no âmbi to
Na ten t a tiva de indicar dinâmicas disru pti- do SUS.
vas para a forma desigual com que serviços e As sumir a politicidade do cuidado como
práticas de saúde vêm se or ga n i z a n do no con- referência analítica e proposição indutora de
tex to das políticas de saúde do Brasil, o cuida- mudança significa apostar numa ajuda qu e
do precisa ser dinamizado como uma prática pri orize a libertação de fazere s , descon s tru i n do
recon s trutiva da auton omia dos su j ei tos, de s de as amarras que o apri s i onam e po ten c i a l i z a n do
que se con s i dere a con ju n tura loc a l / gl obal e as en f ren t a m en tos de situações opre s s oras. Si gn i-
correlações de forças para qu a l qu er preten s ã o fica passar de técnico a agente públ i co de mu-
de mudança que se qu eira. Há de se inaugurar dança, de ad m i n i s trador de decisões a formu-
n ovas formas de com preen der, i n teragir e se re- l ador e indutor das mesmas, de paci ente a cida-
lacionar com o outro (saben do-o parte de mim), dão, de doente a pe s s oa humana, capaz tanto de
de s envo lven do ações mais parti l h adas de aju d a sapiência criativa, qu a n to demolição destrui-
e poder no campo da saúde . À luz desse deb a te , dora, mas na perfeita imperfeição que con for-
con s i derem-se as premissas do qu ad ro 1 com o ma o ser humano como vida.

Quadro 1
Tri ed ro emancipatório do cuidar e processo de trabalho em saúde : dinâmicas disru ptiva s .
Fa ce mais vi s í vel do tri ed ro Indicações emancipatórias
Co n h e cer para cuidar melhor • ref l etir sobre a con ju n tura capitalista em que as pr á ticas e cuidado à saúde se
• com preen der o con tex to sócio-histórico for jam, bem como a tensa disputa que se estabel ece entre o trabalho e o capital
no qual são geradas as relações de aju d a - poder no con tex to das po l í ticas sociais e, assim, com preen der-se ator rel eva n te para
na po l í tica de saúde , a m p l i a n doos obj etos a reprodução e disrupção das condições indignas e apri s i on adoras do seu
de ref l exão para além do en foque re s tri to processo de trabalho;
da doença. • estudar a en fermidade para além do en foque cl í n i coe ep i demiológi co, mas
como re su l t ado da mu l ti d i m en s i on a l i d ade dos processos saúde - doen ç a , pr ó prias
do uno/múltiplo humano;
• analisar o impacto das ações de saúde sobre a população para além da intenção
de perpetuar pr á ticas e discursos, investi ga n do com perspicácia o impacto
que os saberes da comu n i d ade poderiam ter sobre os processos de trabalho
dos prof i s s i onais de saúde ;
• ref l etir sobre a vu l n era bi l i d ade do planeta e da nece s s i d ade inequ í voca de se
cuidar mel h or da casa, do ethos ( Bof f , 1999) que acolhe a po l i ti c i d ade irreveren te
e transform adora da vida.

Cuidar pa ra co n fro n t a r • em vez de se utilizar redes de apoio e solidari ed ade como com pensação pela
• fortalec i m en to de auton omias indivi duais omissão do Estado diante das po l í ticas públ i c a s , articulá-las aos movi m en tos
e co l etivas na equ i pe de saúde e em sua relação sociais e às lutas co tidianas por cidadania e ren d a ;
com o outro, co l etivi z a n do con h ec i m en tos • utilizar as manifestações do saber popular para mobilizar rec u rsos estratégi cos
c a p a zes de dem oc ra tizar assimetrias de poder. da comu n i d ade na (re ) con s trução dos su j ei tos de / por direi to s ;
• modificar os modos de funcionar dos serviços de saúde parti n do não som en te
das tecnoc racias prof i s s i onais, mas em diálogo parti l h ado com as vivências
e con f ron tos da pop u l a ç ã o.

Cuidar pa ra emanci pa r • po tencializar e investir na forte penetra ç ã o, estabel ec i m en to de vínculos e poder


• gestão da aju d a - poder na micropo l í tic a de mobilização que caracteriza o processo de trabalho dos profissionais de saúde,
do trabalho em saúde, i n s erida em con tex tos uti l i z a n do-os como estratégias de mudança centrada no fom en to para
sócio-históri cos ri cos em correlações de for ç a s , a uton omias dos su j ei to s ;
c a p a zes de de s con s truir assimetrias de poder. • ampliar en foques e abord a gens, re s p a l d ados em outros sabere s , referências
técnicas e po l í ticas setoriais, que oti m i zem a integra l i d ade disru ptiva do cuidado
à saúde;
• ao invés de vo lu n t a ri s m o, ativismo po l í ti cocon s c i en te e dem oc r á ti co.
1035

Referências bibl i ográficas

An tunes R 2002. Ad eus ao tra balho? Ensaio sob re as met a- Merhy EE 1997. SUS e um de seus dilem a s : mudar a ge s-
morfo ses e a cen tralidade do mundo do tra ba l h o. 8a ed. tão e a lógica do processo de trabalho em saúde (um
Corte z , São Paulo. ensaio sobre a mac ropo l í tica do trabalho vivo), pp.
Ayres JR 2001. Su j ei to, intersubjetividade e práticas de 125-142. In S Fleu ry (org.). Saúde e democra cia – A
s a ú de. Revista Ci ê n cia & Saúde Col etiva 6(1):63-72. luta do CEBES. Lemos Editorial, São Paulo.
Bauman Z 2001. Modernidade líquida. Jorge Zahar Edi- Mi n ayo MCS 2001. Estrutura e su j ei to, determinismo e
tor, Rio de Ja n ei ro. pro t a gonismo históri co : uma ref l exão sobre a pr á x i s
Bof f 1999. Saber cuidar – Ética do humano. Voze s , Petr ó- da saúde co l etiva. Revista Ciência & Saúde Coletiva
po l i s . 6(1):7-19.
Bof f 2003. Ethos mundial – um co n sen so mínimo en tre os Morin E 1999. M é todo 3 – O conhecimento do conheci-
h u m a n o s. Sex t a n te, Rio de Ja n ei ro. m en to. Sulina, Porto Al egre .
Ca m pos GSW 1992. Reforma da refo rma – repensando a Morin E 2002. M é todo 5 – A humanidade da humanidade
s a ú d e. Hu c i tec, São Paulo. Sulina, Porto Al egre .
Coi m bra MA 1987. Será que o marxismo re s pon de à per- Offe C 1991. Algumas contradições do Estado social
gunta de como su r gem as políticas sociais?, pp. 44- m odern o, pp. 113-131. In Tra balho e Soci edade: pro-
65. In SH Abra n ches et al. Pol í tica so cial e co m ba te à bl emas estru tu rais e perspectivas pa ra o futu ro da so-
pob re z a. Jor ge Zahar Editor, Rio de Janei ro, ci edade do traba l h o. Ed. Tem po Un ivers i t á ri o, Rio de
Demo P 2002a. Pol i ticidade: razão humana. Ed. Papirus, Ja n ei ro.
Campinas. Pri gogine I & Stengers I 1997. A nova aliança – a meta-
Demo P 2002b. Co m pl exidade e aprendizagem – a dinâ- m o rfose da ci ê n ci a. Un B, Brasília.
mica não-linear do conhecimento. Ed. Atlas, São Paulo. Poulantzas N 1985. O Estado, o poder, o so cialismo. (Trad.
Demo P 2002c. S ol i d a riedade como efei to de poder. Cor- Rita Lima). 2a ed . Ed. Gra a l , Rio de Janei ro.
te z - In s ti tuto Paulo Frei re , São Pa u l o. ( Coleção Pers- Pires D 1989. Hegemonia médica na saúde e na enfer-
pectiva v. 6) magem. Corte z , São Paulo.
Dussel E 2002. É tica da libertação na idade da gl oba l i z a- Pires MRGM 2001. En fermei ro com qualidade formal e
ção e da excl u s ã o. Voze s , Petrópolis. pol í tica: em bu sca de um novo perfil. Dissertação de
Fa l eiros VP 2000. Política social do Estado capitalista. mestrado. Un iversidade de Brasília, Departamento
Corte z , São Paulo. de Serviço Soc i a l .
Fleury S (org.) 1997. Saúde e democracia – a luta do Pires MRGM 2002. Con cepções de cuidado emancipa-
C E B E S. Lemos Editori a l , São Paulo. t ó ri o : limites-po s s i bi l i d ades para as pr á ticas prof i s-
Foucault M 1979. Mi crofísica do pod er. Ed. Gra a l , Rio de s i onais no con tex to das po l í ticas de saúde do Brasil.
Ja n ei ro. Revista Ser Social 10:147-168.
Foucault M 1985. Hi s t ó ria da sexualidade I – A vontade Pires MRGM 2004. Pol i ti cidade do cuidado como refer ê n-
de saber. 7a ed. (trad. Maria Thereza CA e JA Guilhon cia emanci pa t ó ria pa ra a gestão de pol í ticas de saúde:
Al bu qu erqu e ) . Ed. Graal, Rio de Ja n ei ro. co n h e cer para cuidar melhor, cuidar pa ra co n f rontar,
Gronemeyer M 2000. Ajuda. In W Sachs. Dicionário do cuidar pa ra em a n cipa r. Tese de do utorado. Univers i-
Desenvolvimento: Guia para o Conhecimento como d ade deBra s í l i a , Dep a rt a m en to de Serviço Social.
Pod er. Voze s , Petrópolis. Re zen de ALM 1989. Saúde: dialética do pensar e do fazer.
Hardt M & Negri A 2002. Im p é ri o. (4a ed.). Record. Rio Corte z , São Paulo.
de Ja n ei ro-São Paulo. Sa n tos BS 1997. Pela mão de Al i ce – o so cial e o pol í tico na
Heidegger M 2002. Ser e tem po. Parte 1. (12a ed ) . Voze s , pós-modern i d a d e. 2a ed . Corte z , São Paulo.
Petrópolis. Va rela FJ et al. 2003. A men te incorpo rada – ci ê n cias co g-
Ho ll ow ay J 2003. Mudar o mundo sem tomar o pod er. Vi- n i tivas e experi ê n cia humana. Artm ed , Porto Al egre .
ra mu n do, São Paulo. Weber BT 1999. As artes de cuidar: med i ci n a , rel i gi ã o, m a-
Ma rx K 1963. O trabalho alienado, pp. 151-163. In Eco- gia e positivismo na Rep ú blica ri o - granden se – 1889-
nomia pol í tica e filosof i a. (trad . S í lvia Patrícia). Mel- 1928. UFSM, Santa Ma ri a . EDUSC, Ba u ru .
so, Rio de Ja n ei ro.
Ma tu rana HR & Va rela FJG 1997. De máquinas e seres vi- Arti go apre s en t ado em 25/10/2004
vos. Au topoiese: a organização do vivo. 3a ed. Artes Aprovado em 12/01/2005
Médicas, Porto Al egre . Versão final apre s en t ada em 23/03/2005

Você também pode gostar