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MARÍLIA
2016
SINARA LACERDA ANDRADE
MARÍLIA
2016
Andrade, Sinara Lacerda
A função social e a boa-fé objetiva como limites à produção
publicitária na sociedade de consumo / Sinara Lacerda Andrade. -
Marília: UNIMAR, 2016.
126f.
CDD – 342.233
SINARA LACERDA ANDRADE
_________________________________________
Prof.ª Dr.ª Mariana Ribeiro Santiago
Orientadora
__________________________________________
Prof. Dr. Elias Marques de Medeiros Neto
__________________________________________
Prof.ª Dr.ª Lívia Gaigher Bósio Campello
A todos aqueles que escolheram a docência
por vocação. Àqueles que, apesar de tudo,
acreditam que somente o conhecimento é o
caminho para ensinar aos filhos deste solo que,
efetivamente, não se foge à luta!
AGRADECIMENTOS
a) Pessoais
A Deus por sua presença constante em minha vida, pelos insights que são seguramente
atribuídos a seu Divino Espírito Santo e por acolher minhas angústias em noites insones.
À Eleny Lacerda Andrade e Laurie Teixeira de Andrade pelo altruísmo em
abdicarem de seus sonhos em detrimento dos meus, pelo mais belo e fiel amor, pelo exemplo
diário de retidão e pela obstinação em ter fé na vida, por tudo, sempre!
À Raquel Lacerda Andrade Piassa e Bethânia Lacerda Andrade Oliveira pela
compreensão com as reiteradas ausências em momentos que era aguardada a minha presença.
Ao Leonardo de Paula Caloche por seu inigualável companheirismo, paciência e
carinho durante todo esse processo e, principalmente, por optar permanecer ao meu lado
mesmo podendo voar, fly away!
À Gabriela Eulalio de Lima por dividir comigo todo o peso cognitivo e emocional
inerente à pós-graduação, por sua amizade, lealdade, resignação perante minhas falhas e
obstinação ante as minhas inseguranças.
À Mariana Santiago minha mais profunda gratidão por me encorajar a “sair da
caverna” e explorar o mundo, um novo mundo por ela apresentado, pelo despertar intelectual
e por sua atuação e influência polivalente em minha vida.
Ao professor Paulo Roberto de Souza Pereira por propiciar e incentivar a realização
de um dos maiores e mais íntimos sonhos que eu tinha na vida, por me ensinar que
conhecimento e sabedoria são melhores, quando acompanhados de generosidade e humildade.
Ao José Augusto Marchesin pelo ser humano ímpar que é, pela excelência no
trabalho desenvolvido e, sem o qual, o programa de pós-graduação da Universidade de
Marília não seria o que é hoje.
Aos amigos iluminados de sempre pela compreensão com minhas escolhas e aos que o
mestrado me presenteou, por dividirem as angústias e dificuldades, tornando tudo mais
suportável.
b) Institucionais
À Universidade de Marília - UNIMAR aqui representada por seu corpo docente que,
sem dúvidas, torna essa universidade diferenciada.
A todos os professores do programa de pós-graduação, todos sem distinção, por
sua doação e compromisso com nossa formação em especial, à estimada Professora Doutora
Mariana Ribeiro Santiago pelas orientações e empenho para com esta pesquisa, por seu
amor à docência e compromisso com seus orientandos e à Professora Doutora Samyra
Haydêe Dal Farra Naspolini Sanches por sua inestimável contribuição com essa pesquisa,
pela maneira delicada ao tecer suas imprescindíveis ponderações e pelo título desta pesquisa.
À Universidade do Estado de Minas Gerias - UEMG - responsável por minha
formação e atuação acadêmico-profissional.
À Ordem dos Advogados do Brasil - OAB - entidade de classe que represento e que
defenderei sempre com muito afinco e orgulho.
Ao MENDONÇA & LACERDA Advogados Associados e seus colaboradores,
clientes, estagiárias, associados, em especial, ao meu estimado sócio pela compreensão com
minhas ausências semanais e por me incentivar sempre, a prosseguir na luta por um Direito
mais equitativo a todos os jurisdicionados.
“Todas as vitórias ocultam uma abdicação”.1
1
BEAUVOIR, Simone Lucie-Ernestine-Marie Bertrand de. Mémoires dúne jeune fille rangée. Paris: Gallimard,
1958, p. 243 (tradução nossa).
A FUNÇÃO SOCIAL E A BOA-FÉ OBJETIVA COMO LIMITES À PRODUÇÃO
PUBLICITÁRIA NA SOCIEDADE DE CONSUMO
ABSTRACT: This research aims to examine the advertising production in the consumer
society proposing the implementation of the social function of the company and the objective
good faith, as a way to limit the abusive and misleading advertising. , Is used for both, as a
theoretical reference, the approach of the Polish Zymunt Bauman Sociologist, pointing the
premises of mercancia and consumer relations in the economic globalization, especially the
consumer and his constant search for satisfaction through consumption, nurtured mainly by
advertising. Analyzes a new perspective of advertising normativity through the
implementation of objective good faith and the social function of the company for both
manufacturers / suppliers, and for everyone involved in the production chain and also to
advertisers subjects, agencies and media . Explaining that, in cases of non-compliance with
transparency obligations and loyalty also embodied in the social function and objective good
faith applies to civil liability companies, analyzing which category will be attributed not only
to the manufacturer, but also to advertising subjects, agencies and media if elencando-finally,
the consequences of harmful use of misleading and abusive advertising and consumerism
funding mechanism to consumerism. The issue of development was given by national and
foreign literature, doctrinal and jurisprudential analysis, we used the deductive method with
the aim of responding to the released issue and achieve the expected scope, proposing that,
through good -f objective and the social function of the company, there will be a paradigm
shift for everyone involved in advertising production, making the least inductive
consumption, more transparent and rational.
Keywords: Consumer society. Advertising. Objective good faith. Social function of the
company.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................... 11
1 A ORIGEM DA SOCIEDADE DE CONSUMO SOB O ENFOQUE DA PÓS-MODERNIDADE .......... 15
1.1 AS PREMISSAS DO COMÉRCIO E DAS RELAÇÕES DE CONSUMO ................................................. 15
1.2 AS RELAÇÕES DE CONSUMO E A GLOBALIZAÇÃO ECONÔMICA ................................................ 20
1.3 O PAPEL DO CONSUMIDOR NA SOCIEDADE DE CONSUMO ........................................................ 254
2 O IDEAL PUBLICITÁRIO MEDIANTE A BOA-FÉ OBJETIVA E A FUNÇÃO SOCIAL ................... 29
2.1 PUBLICIDADE: DELIMITAÇÃO CONCEITUAL E ORIGENS HISTÓRICAS ................................... 321
2.2 A PUBLICIDADE ENGANOSA, ABUSIVA E O VÍCIO DE INFORMAÇÃO. ..................................... 443
2.3 A FUNÇÃO SOCIAL DA EMPRESA COMO PRINCÍPIO FUNDAMENTAL NA ORDEM
CONSTITUCIONAL E DIRETRIZ NORMATIVA DA ATIVIDADE EMPRESARIAL ............................. 610
2.4 PERSPECTIVAS SOBRE A APLICAÇÃO DA BOA-FÉ OBJETIVA COMO FORMA DE OBJEÇÃO E
ENFRENTAMENTO À PUBLICIDADE LESIVA .......................................................................................... 71
3 A RESPONSABILIDADE CIVIL DA EMPRESA NA PUBLICIDADE .................................................. 776
3.1. RESPONSABILIDADE CIVIL: QUESTÕES PRELIMINARES ............................................................. 77
3.2 ANÁLISE DA RESPONSABILIDADE CIVIL NO DIREITO COMPARADO: DIREITO ROMANO,
FRANCÊS, PORTUGUÊS ............................................................................................................................. 798
3.3 RESPONSABILIDADE CIVIL E SUAS ESPÉCIES NO DIREITO PÁTRIO ........................................... 85
3.4 RESPONSABILIDADE CIVIL DA EMPRESA E O DEVER DE INDENIZAR ....................................... 92
3.5 A RESPONSABILIDADE CIVIL SOLIDÁRIA DE SEUS SUJEITOS ANUNCIANTES: AGÊNCIAS DE
PUBLICIDADE E VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO. .............................................................................. 1032
CONCLUSÃO ................................................................................................................................................... 111
REFERÊNCIAS ................................................................................................................................................ 115
11
INTRODUÇÃO
para que haja uma mudança de paradigma, incutindo em todos os membros de uma relação de
consumo que se deve assumir uma responsabilidade incondicional pelo outro, que a minha
responsabilidade pelo outro está sempre um passo à frente da dele por mim.
Para a obtenção dos resultados pretendidos, utilizar-se-á como procedimento de
abordagem o método dedutivo. Quanto ao método de investigação, adotar-se-á o histórico, no
que concerne à interpretação normativa, utilizar-se-á o método sistemático e teleológico e,
como técnica de pesquisa, a bibliográfica e a documental, a averiguação se processará em
obras, revistas e documentários concernentes ao tema.
15
2
SARQUIS, Sarquis José Buiainain. Comércio internacional e crescimento econômico no Brasil. Brasília:
Fundação Alexandre de Gusmão, 2011, p. 18.
16
3
IANSEN, Marta. O início do escambo entre europeus e os índicos no Brasil. História & outras histórias.
Disponível em < https://martaiansen.blogspot.com.br/2012/08/inicio-do-escambo-entre-europeus-e-indios-no-
Brasil.html>. Acesso em: 21 out. 2016.
4
MARCOLIN, Neldson. Os reis dos mares: Portugueses realizavam as grandes navegações mesmo sem a
menor matemática conhecida nos séculos XV e XVI. 212. ed. São Paulo: Revista Pesquisa FAPESP, 2013, p. 87.
5
SOUSA, Rainer Gonçalves. História do Comércio. Brasil Escola. Disponível em
<http://www.brasilescola.com/historia/historia-do-comercio.htm>. Acesso em: 27 out. 2015.
17
vivendo exclusivamente de seus recursos, deve ser mitigada, pois havia certa especialização
na produção, sobretudo do vinho, o que indica a ocorrência de relações tanto entre os
domínios de um mesmo senhor quanto com o de outros proprietários. Nascia assim, as formas
de comércio existentes nos novos bairros denominados burgos e o surgimento das
corporações de mercadores.6
Essa transformação social importante ocorrida nos séculos XI e XIII passou a
desempenhar um papel central na atividade econômica propiciando o reaquecimento das
atividades comerciais. Tornando-se imprescindível a elaboração de normas que
regulamentassem as atividades comerciais. Ocorre que somente uma parcela muito pequena
da população estava diretamente envolvida com as atividades comerciais, porém esse
segmento social ganhava crescente importância, pois, as primeiras regras foram elaboradas
por esses comerciantes que, para atender a seus interesses, acabavam por privilegiar sua
própria classe.7
Em âmbito nacional, o crescimento populacional, a regulamentação da atividade
comercial e o capitalismo crescente proporcionaram uma mudança de paradigma. O problema
surge quando o desenvolvimento industrial e o surgimento da produção em massa não mais
condiziam com um código que permaneceu sendo aplicado até 1991, mesmo demonstrando
ser uma legislação inadequada para dirimir conflitos oriundos das relações de consumo.
Nunes elucida que não seria mais possível aplicar às relações comerciais o Código
Civil que entrou em vigor em 1917, pois a legislação não mais era condizente com as
demandas de produção em massa:
6
FRANCO JÚNIOR, Hilário. A idade média: nascimento do ocidente. 2. ed. rev. e ampl. São Paulo:
Brasiliense, 2001, p. 45.
7
Idem Ibidem, p. 49.
8
NUNES, Luiz Antonio Rizzato. Curso de direito do consumidor. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 42.
18
larga escala. Por óbvio, o Direito Comercial precisou ser o disciplinador também das
empresas comerciais.
Surge, assim, um sistema jurídico estatal cujo objetivo era disciplinar as relações
mercantis no lugar do antigo direito de classe, não mais disciplinado pelo viés dos
comerciantes, mas pelo “espírito da burguesia comercial e industrial, valorizando a riqueza
imobiliária com um Código Civil que atendia aos interesses da burguesia fundiária, pois
estava centrado no direito de propriedade”.9
Não havia um código específico que dispusesse sobre as relações de consumo, havia
somente legislações extravagantes que poderiam ser aplicadas por analogia às situações
consumeristas, como a lei que regulamentava os Crimes Contra a Economia Popular e a Lei
de Usura, a Lei Delegada de 1962 que assegurava a distribuição à população de produtos de
primeira necessidade e a Lei de Repressão do Poder Econômico que regulamentou várias
situações que posteriormente seriam consideradas como conquistas dos consumidores dentre
elas, a criação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica.10
Em 1990, com a edição do Código de Defesa do Consumidor, surgiu uma nova
modalidade de relação obrigacional qual seja: a de consumo. Oportuno elucidar que Ferreira
entende como consumo: “ato de negociar, vender, revender, comprar algo, em síntese são
todas as relações de negócios, o comércio é uma relação social que é singular ao homem”.11
A posteriori, com a promulgação do Código Civil de 2002, inspirado pelo Código
Civil Italiano de 1942, houve a unificação do Direito Privado anteriormente dividido em
Direito Civil e Direito Comercial, consagrando a teoria da empresa e promovendo uma
aproximação entre as relações civis e consumeristas. Prova disso é que a responsabilidade
objetiva foi elevada a um nível de paridade entre a responsabilidade subjetiva12, evolução
normativa que será abordada de maneira pautada no terceiro capítulo.
Antes as relações de consumo eram julgadas de forma análoga e regradas de maneira
ineficaz por um Código Comercial retrógrado e que não promovia garantias ao consumidor. O
objetivo inicial, com a promulgação do novo código, seria especializar a legislação e elevar a
relação negocial a um nível de colaboração mútua, entre fornecedor e consumidor.
9
NEGRÃO, Ricardo. Manual de direito comercial. Campinas: Bookseller, 1999, p. 28.
10
ABDO. Helena Najjar. Aspectos Jurídicos e o Código de Defesa do Consumidor: o direito do consumidor
aplicado aos dias atuais. INPG Faculdade Business School. São Paulo. Disponível em:
<http://www.sustentare.net/upload/entrance_quis/20071101084337.pdf>. Acesso em: 01 fev. 2016, p. 03.
11
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. 3. ed. Curitiba:
Positivo, 2004. p. 535.
12
COSTA, Carlos José Sampaio. Do ato de comércio à teoria empresa. Instituto dos Advogados Brasileiro.
São Paulo. 2016. Disponível em: <http://www.iabnacional.org.br/IMG/ppt/doc-5237.ppt> Acesso em: 03 fev.
2016. p. 02.
19
13
FRANCISCHINI. Nadialice. Elementos subjetivos da relação de consumo. In: Revista do Direito. 2012.
Disponível em: <http://revistadireito.com/elementos-subjetivos-relacao-de-consumo/#sthash.Y4B5KmbC.dpuf>
Acesso em: 03 fev. 2016.
14
Art. 170 da Constituição Federal: A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre
iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os
seguintes princípios: I - soberania nacional; II - propriedade privada; III - função social da propriedade; IV - livre
concorrência; V - defesa do consumidor; VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento
diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e
prestação; VII - redução das desigualdades regionais e sociais; VIII - busca do pleno emprego; IX - tratamento
favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e
administração no País. Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica,
independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei e Art. 81 do Código de
Defesa do Consumidor: A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida
em juízo individualmente, ou a título coletivo. Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar
de: I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza
indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato; II - interesses ou
direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de que
seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação
jurídica base; III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem
comum.
20
15
MARQUES, Cláudia Lima; MIRAGEM, Bruno. O novo direito privado e a proteção dos vulneráveis. São
Paulo. Revista dos Tribunais, 2011. p. 15.
16
TENDLER, Silvio. Globalização Milton Santos: O mundo global visto do lado de cá. Produção de Silvio
Tendler, Caliban, Brasil, 2011. 1min 23s.
17
PENA, Rodolfo F. Alves. Fases da Globalização. In: Geografia Humana. Disponível em:
<http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/fases-globalizacao.htm>. Aceso em: 08 fev. 2016.
21
18
LANGUER, André. A revolução tecnológica. In: Revista Vinculando, Ciudad de México. 2004. Disponível
em: <http://vinculando.org/brasil/conceito_trabalho/crise.html> Acesso em: 08 fev. 2016
19
TENDLER, Silvio. Globalização Milton Santos: O mundo global visto do lado de cá. Produção de Silvio
Tendler, Caliban, Brasil, 2011. 9min 21s.
20
[...] la sociedad de consumo ha destruido el medio ambiente. Ellos exterminaron a millones de peces, plantas
y animales. Ellos envenenan los mares, ríos y lagos. El aire contaminado. Ellos saturado la atmósfera de
dióxido de carbono y otros gases nocivos. Terminaron la reserva de carbono y gas natural y la enorme riqueza
de minerales sólidos. Ellos exterminaron nuestros bosques y destruyeron su. ¿Qué queda para nosotros? Es el
subdesarrollo, la pobreza, la dependencia, el atraso, la deuda y la incertidumbre. Para las sociedades
superdesarrolladas el problema no está creciendo, pero a distribuir. Y no sólo distribuir entre ellos pero,
distribuir entre todos. El crecimiento sostenible que hablar es imposible sin una distribución más equitativa
entre todos los países. Después de toda la humanidad es una sola familia y todos tienen la misma suerte. Antes
de la profunda crisis actual, nuestro precio es un futuro aún peor y no siempre resuelve tragedia económica
social y ecológica de un mundo que será cada vez más difícil de manejar. Algo tiene que hacerse para salvar a
la humanidad.[...]. RUZ, Fidel Castro. Discurso pronunciado en Río de Janeiro en la conferencia de
Naciones Unidas sobre medio ambiente y desarrollo. Disponível em:
<http://www.cubadebate.cu/opinion/1992/06/12/discurso-de-fidel-castro-en-conferencia-onu-sobre-medio-
ambiente-y-desarrollo-1992/#.Vq-TqVkYGZR > Acesso em: 01 jan. 2016.
22
multiplicação dos objetos, dos serviços e dos bens materiais. Os homens não se encontram
rodeados, como sempre acontecera, por outros homens, mas por objetos. O conjunto das
relações sociais já não é tanto o laço com seus semelhantes, mas sim com as coisas. Os
objetos não constituem nem fauna, nem flora; no entanto, sugerem a impressão de uma
vegetação perniciosamente proliferante.21
Embora a globalização demonstre que economicamente possua aspectos muito
positivos, Tendler, em seu documentário, aponta que se fizer uma análise é indispensável
visualizar a globalização econômica sob três aspectos, elucidando que:
Para aprofundar o estudo sobre o tema, o enfoque específico será sobre o mundo como
ele é, a globalização autêntica ou a globalização como perversidade. Nesse sentido, Silveira
Neto define seu conceito, elucidando os aspectos econômicos e sociais oriundos desse
processo:
21
BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo. Tradução de Arthur Morão. Lisboa: Edições 70. 2014, p.
14.
22
TENDLER, Silvio. Globalização Milton Santos: O mundo global visto do lado de cá. Produção de Silvio
Tendler, Caliban, Brasil, 2011. 9min 48s.
23
SILVEIRA NETO, Antônio. A ordem econômica globalizada e as relações de consumo – aspectos
relativos à proteção do consumidor. Prim@ Facie – ano 1, n. 1, jul./dez. 2002. Universidade Estadual da
Paraíba. Brasil. Disponível em: <periodicos.ufpb.br/index.php/primafacie/article/download/4293/3244>. Acesso
em: 21 jan 2016.
23
Assim, é possível verificar que o consumo não é o mesmo que consumismo. Porém, se
a intenção é compreender a questão do consumismo, sua dimensão e danos, primeiro, deve-se
entender o consumo. Este é verificado no momento em que o homem é movido tão somente
pelas suas necessidades puras e simples, refletindo uma coexistência do indivíduo com o
mundo, ou seja, uma ligação das suas necessidades com os objetos consumidos. O
consumismo, para tanto, é a prática reiterada, volumosa e, na maioria das vezes, desnecessária
do ato de consumir.
24
BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Rio de Janeiro:
Zahar, 2008, p. 38/39.
25
ALMEIDA, João Flávio de. O discurso da obsolescência: o velho, o novo e o consumo. São Carlos: UFSCar,
2014, p. 17.
24
29
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso especial n.º 691.738 – SC. Relator: Ministra Nancy Andrighi,
j. 12 maio 2005. DJ, 26 set. 2005. Disponível em: < http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/7196111/recurso-
especial-resp-691738-sc-2004-0133627-7/relatorio-e-voto-12944493>. Acesso em: 05 fev. 15, p. 07.
26
O homem é por natureza um ser insatisfeito. Desde os primórdios, quando não havia
comunicação escrita ou qualquer organização social, o homem já buscava incessantemente
realizar seus anseios. É fato que na pré-história essa busca era tão somente instintiva, afinal,
era necessário subsistir. Desde então, o homem relaciona-se diretamente com o meio
ambiente, retirando dele todos os recursos necessários para satisfazer seus desejos, e, mesmo
após a evolução das espécies, o homo sapiens sapiens permanece descontente e cada vez mais
obstinado por realizar suas cobiças, consolidando a estrutura do consumo.30
Arendt elucida que se, no século XX, houve a prevalência do homo faber, para
designar o homem contemporâneo como aquele que faz, fabrica, produz, um homem de vida
activa e não contemplativa como na Idade Média, um animal laboran, um homem que
privilegia o trabalho, seja como capitalista, seja como trabalhador, atualmente, vislumbra-se o
homo economicus et culturalis, do século XXI. Este é um consumidor, um agente econômico
ativo no mercado, na sociedade de consumo (de crédito e de endividamento) e, ao mesmo
tempo, persona com identidade cultural, específica e diferenciada.31
Intrinsecamente ao homem estão suas necessidades, analisando-as, Bustamante ilustra
que podem se subdividir em três tipos: básicas, culturais e do sistema produtivo. As
necessidades básicas são as indispensáveis à vida humana. Em contrapartida, as culturais
vinculam-se às necessidades de determinado povo, geralmente têm ligação com suas tradições
e, por fim, as do sistema produtivo, vão desde os insumos utilizados na produção ao consumo
dos bens produzidos.32
Impossível não admitir que, desde os primórdios, as necessidades básicas e culturais
existiram e sempre existirão, contudo, foram as essencialidades oriundas do sistema produtivo
que surgiram a partir da identificação e reconhecimento dos desejos humanos, momento em
que o consumo passou a ser condição existencial para a vida em sociedade, mais
especificamente na sociedade de consumo.
Bauman explicita que para conseguir posição social, além de adquirir mercadorias, é
preciso tornar-se mercadoria, pois em uma sociedade de consumo nem tudo tem valor, mas
tudo, inclusive o indivíduo, tem preço:
30
SANTIAGO, Mariana Ribeiro. Teoria da empresa: crédito introdutório. 10 abr. 2015, 30 mai. 2015. 6 f.
Notas de Aula. Digitado.
31
ARENDT. Hannah. A condição humana. 11. ed. Tradução de R. Raposo, revista por A. Correia. Rio de
Janeiro: Forense Universitária, 2010, p. 147.
32
BUSTAMANTE, Laura Perez. Los derechos de la sustentabilidad: desarrolo, consumo y ambiente. Buenos
Aires: Colihue, 2007, p. 9.
27
Em suma, para ser moral você precisa adquirir bens; para adquirir bens,
precisa de dinheiro; para adquirir dinheiro, precisa vender-se a um preço e
com lucro descente. Você não pode ser um comprador a menos que se torne
uma mercadoria que as pessoas desejem comprar. Por conseguinte, o que
você precisa é de uma identidade atraente, vendável. Você deve isso a si
mesmo – porque, CQD, você o deve aos outros.33
33
BAUMAN, Zygmunt. Danos colaterais: desigualdades sociais numa era global. Tradução de Carlos Alberto
Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar. 2013, p. 103.
34
DUBOIS, Bernard. Compreender o consumidor. Tradução e revisão de Francisco Velez Roxo. Lisboa: Dom
Quixote. 1998, p. 107.
35
TENDLER, Silvio. Globalização Milton Santos: O mundo global visto do lado de cá. Produção de Silvio
Tendler, Caliban, Brasil, 2011. 9min 48s.
36
BAUMAN, Zygmunt. O mal-estar da pós-modernidade. Tradução de Mauro Gama e Claudia Martinelli
Gama. Rio de Janeiro: Zahar, 1998, p. 10.
28
[...] a economia criou também a figura ilusória de que este ser livre e
racional, que seria o consumidor, ao realizar seus desejos no mercado, seria
ele, consumidor, o “rei” do mercado, aquele cuja vontade decidiria
sobremaneira a compra ou a recusa de compra de um produto.37
37
MANSTETTEN, Reiner. Das Menschenbild der Ökonomie – Der Homo Economicus und die Anthropologie
von Adam Smith. Freiburg: Karl Alberg, 2004, p. 268 e ss.
38
BAUMAN, Zygmunt. Danos Colaterais: desigualdades sociais numa era global. Tradução de Carlos Alberto
Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar. 2013, p. 94.
29
39
DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997, p. 143.
40
BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Rio de Janeiro:
Zahar, 2008, p. 51/52.
30
41
PACKARD, Vance. Estratégia do desperdício. São Paulo: IBRASA, 1965. 2. ed. 1965, p. 311.
31
Na década de 1990, Gessinger e Casarin elucidam o poder que a mídia, com destaque
à televisiva, exerce sobre o consumidor, analisando a então sociedade moderna pelo viés do
consumidor: “[...] propaganda é a arma do negócio. No nosso peito bate um alvo muito fácil.
Mira a laser, miragem de consumo. Latas e litros de paz teleguiada. Estou ligado a cabo, a
tudo que eles têm pra oferecer [...].”43
Defende Martinéz que a publicidade é considerada uma das principais incentivadoras
dos negócios jurídicos explicitando que:
42
BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo. Tradução de Arthur Morão. Lisboa: Edições 70. 2014, p.
157
43
GESSINGER, Humberto; CASARIN, Paolo. A promessa. In.: HAVAII, Engenheiros. Simples de Coração,
BMG: c1995. 1 CD. Faixa 5 (0:35).
44
MARTINÉZ, Sérgio Rodrigo. Publicidade de consumo e propedêutica do controle. Curitiba. Juruá Editora.
2001, p. 13.
32
Costa e Mendes ratificam que é por meio dos apelos persuasivos e aparato
argumentativo que a publicidade persuade um determinado auditório sobre a vantagem de se
escolher um produto ou serviço em detrimento de outro.45
A publicidade é o marco inicial do consumo, pois é por meio dela que o consumidor
passa a ter conhecimento do produto e serviço que estão à sua disposição e como o modo de
produção capitalista busca a obtenção de lucro, a publicidade torna-se indispensável à
sociedade de consumo. Ocorre que nessa mesma lógica a publicidade possui também um viés
salutar de cunho informativo, justamente por isso que é imprescindível que haja, uma
proteção especial e irrestrita ao consumidor vulnerável, estendendo o controle da publicidade
inclusive a nível internacional, como já ocorre com o tabaco.46
Objetiva-se com este capítulo demonstrar a possibilidade de implementar um modelo
senão ideal, pelo menos adequado, à produção publicitária nacional, consubstanciado no
princípio da boa-fé objetiva e da função social da empresa, que traçariam moldes de forma a
orientar e até mesmo limitar à produção publicitária, promovendo a percepção dos
consumidores quanto às estratégias nocivas da publicidade enganosa e abusiva, elucidando
que, tais princípios, se adequadamente implementados, promoveriam uma mudança de
paradigma significativa nesse lesivo cenário publicitário, propiciando um consumo menos
indutivo, mais transparente e racional.
45
COSTA, Maria I. L. da; MENDES, Marcília L. G. da Costa. A publicidade como ferramenta de consumo:
uma reflexão sobre a produção de necessidades. Disponível em: < http://www.bocc.ubi.pt/pag/costa-mendes-a-
publicidade-como-ferramenta-de-consumo.pdf>. Acesso em: 09 fev 2016.
46
BRASIL. Decreto nº 5.658. Promulga a Convenção-Quadro sobre Controle do Uso do Tabaco. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Decreto/D5658.htm>. Acesso em 10 jan. 2016.
33
designar-lhe definição, classificando-a, tão somente, como uma espécie de prática comercial e
condenando-a às penalidades da lei, quando comprovadamente nociva. Desta feita, torna-se
imprescindível analisar seu conceito.
Antes de se aprofundar na análise da definição e problemática da publicidade
enganosa e abusiva perante o descumprimento do princípio da boa-fé objetiva e da função
social da empresa, necessário se faz remontar as origens histórias da publicidade no cenário
mundial, bem como, suas primeiras aparições em âmbito nacional.
A publicidade, em um primeiro momento, era percebida como arte e/ou meio de
informação e só posteriormente ganhou ares de técnica de comunicação e caráter persuasivos.
Embora haja discussão doutrinária sobre o momento em que de fato surgiu o primeiro anúncio
publicitário, foi em meados do século XX que se pôde notar um evidente crescimento da
publicidade, pois somente com a difusão da informação, por meio da cultura de massas, seria
possível que a publicidade atingisse seu objetivo efetivo de persuadir o consumidor e
propiciar o consumo.
O consumo e a publicidade são parceiros desde as civilizações mais primitivas e os
tempos mais remotos. Há indícios históricos de que a primeira documentação sobre o tema foi
encontrada em um papiro egípcio, ainda conservado no Museu de Londres, que em um
anúncio publicitário relata a fuga de um escravo. Trata-se, provavelmente, do primeiro
anúncio escrito que se tem comprovação na História da Civilização. Diante disso, há três
milênios, já havia o que se poderia chamar de publicidade, tendo em vista que o escravo
tratava-se de um bem móvel, uma mercadoria e era negociado como um objeto qualquer.47
Embora consumo e publicidade andem juntos, o consumo, como explicitado e
desenvolvido no primeiro capítulo, remonta a pré-história, a arte publicitária, em
contrapartida, é mais recente e, conjuntamente às técnicas de marketing, passou a ter como
objeto central de estudo o comportamento e os anseios humanos.
Aponta Jacobina que, enquanto atividade organizada, a arte publicitária é recente, mas
entende de maneira divergente, elucidando que, no aspecto ideológico, a publicidade é tão
velha quanto o homem, que desde que passou a ter consciência de si, desenvolveu um
discurso ideológico visando à dominação cognitiva de seu semelhante.48
Independente de quaisquer aspectos, fala-se em publicidade comercial propriamente
dita após o surgimento da imprensa, apontando a Inglaterra como o berço da arte publicitária.
47
MALANGA, Eugênio. Publicidade, uma introdução. 4ª ed., São Paulo: Editora Edima. 1987, p. 15.
48
JACOBINA, Paulo Vasconcelos. A publicidade no direito do consumidor. Rio de Janeiro: Forense, 1996, p.
21.
34
Benjamin aponta o ano de 1477 como o marco do primeiro anúncio em inglês, publicado por
Willian Caxton, sobre livros religiosos, explicitando que somente a partir daí ocorreu um
desenvolvimento dessas atividades com a multiplicação dos jornais conhecidos como
mercuries.49
Mesmo havendo divergências históricas e formais sobre o surgimento da publicidade
aponta Jacobina que:
[...] anúncios oferecendo escravos negros para vender ou para alugar seus
serviços, professoras de francês para dar aulas em domicílio, remédios
contra a rouquidão, entre muitos outros que vão surgindo e mostrando o
aprimoramento da técnica de vender unida à arte na apresentação dos
anúncios, que passam a ser compostos de desenhos e reproduções gráficas
mais sofisticadas.53
49
BENJAMIN, Antônio Hernan Vasconcelos. O controle jurídico da publicidade. In: Revista do Direito do
Consumidor, nº 09, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 1994, p. 26.
50
Idem Ibidem, p. 22.
51
RAMOS, Ricardo. Do reclame à comunicação; pequena história da propaganda no Brasil, 3ª ed., São Paulo:
Editora Atual. 1985, p. 09.
52
GIACOMINI FILHO, Gino. Consumidor versus Propaganda. São Paulo: Summus Editorial, 1991, p. 29.
53
CAMPOS, Maria Luiza de Saboia. Publicidade: responsabilidade civil perante o consumidor. São Paulo:
Cultura Paulista, 1996, p. 203.
35
Eu era assim (figura de uma pessoa doentia). Cheguei da ficar quasi assim!
(figura de uma cabeça de caveira) Soffria horrivelmente dos pulmões, mas
graças ai milagroso Xarope Peitoral de Alcatrão e Jatahy, preparado pelo
farmacêutico Honorio de Prado consegui ficar assim!! (figura de um homem
são) Completamente curado e bonito. Esse xarope cura tosses, bronchites,
ashtmas, rouquidão e escarros de sangue. Preço do vidro: 1$500. Único
depósito na Capital Federal. J. M. Pacheco & Comp. Rua dos Andradas, nº
58.54
54
GIACOMINI FILHO, Gino. Consumidor versus propaganda. São Paulo: Atlas, 1991, p. 29.
55
Art nouveau é um estilo ornamental utilizado em arquitetura, decoração, joalheria, ilustração, que se
caracteriza pelo uso de linhas longas, ondulantes e assimétricas, muitas vezes apresentando elementos que
lembram formas da natureza, que posteriormente passou a ser incorporado nos anúncios em jornais e atualmente
a técnica artística é vastamente utilizada na publicidade em geral. Andréa Poshar. A influência estética dos
cartazes artísticos na publicidade moderna. Revista eletrônica temática. (NAMID) Núcleo de Arte, Mídia e
Informação Digital, do Curso de Comunicação em Mídias Digitais e do Programa de Pós-Graduação em
Comunicação - PPGC/UFPB 2007. Acesso em: 10 abr. 2016. Disponível em:
<http://www.insite.pro.br/2007/52.pdf>.
56
PERISCINOTO, Alex. Arte e propaganda. In: História da propaganda no Brasil. Coord. por Renato de
Castelo Branco, Rodolfo Lima Martensen e Fernando Reis. São Paulo, Instituto Brasileiro de Altos Estudos de
Comunicação Social IBRACO, T.A. Queiroz Editor, 1990, p. 123.
36
Revolução Industrial não deu origem apenas à produção em massa, mas também à cultura de
massas notadamente explorada pelos meios de comunicação.57
O contexto social da cultura de massas deu-se precipuamente no período de
desenvolvimento industrial e tecnológico da sociedade no século XX. De acordo com Adorno
e Horkheimer, esse conceito parte de uma perspectiva de que a cultura contemporânea confere
a tudo um ar de semelhança, em que a indústria cultural e seus produtos constituem um
sistema no qual fazem parte o cinema, o rádio e as revistas, sendo cada um coerente em si
mesmo e em conjunto, desta feita, houve uma multiplicidade de bens culturais que passaram a
ser produzidos e consumidos pelas diversas classes sociais.58
O consumo da cultura de massa se registra em grande parte no lazer moderno, na
medida em que o homem começa a ter mais tempo para o lazer, exemplifica Morin dispondo
que a semana de trabalho passa de 70 horas para 37 em 1960 nos Estados Unidos da América;
de 80-85 horas para 45-48 na França; muitas vezes em um dia suplementar de lazer é
acrescentado ao domingo.59
Os dados sobre o consumo na indústria do entretenimento são expressivos, Salles
mostra a importância do que denomina revolução silenciosa desta Nova Era. Aponta que, dos
cinco bilhões de habitantes do mundo, mais de dois bilhões já têm acesso à televisão; são
mais de três bilhões de pessoas com acesso ao rádio, e mais de três bilhões de pessoas com
acesso à mídia impressa. Dispõe que é gritante a presença da comunicação diversificada,
difusa e que a tecnologia tornou possível baratear, difundir e até banalizar.60
Elucida Ceneviva que a passividade do ouvinte de rádio ou do telespectador que não
precisa de qualquer esforço para se entreter com os meios de radiodifusão, diferentemente da
leitura de jornais e revistas, somada às técnicas de divulgação da imagem em cores,
aumentaram a possibilidade de incentivo ao consumo.61
Salles ainda aponta um dado contraditório no sentido de que, nos Estados Unidos da
América, cada pessoa já vê mais de cinco horas de vídeo, perto de 30% das horas de um dia.
Apesar disso, os Estados Unidos são o país onde os índices de leitura, o consumo de livros e
57
COMPARATO, Fábio Konder. A proteção do consumidor. In: Revista de Direito Mercantil nº 15/16, 1974
p. 92.
58
ADORNO, Theodor W.; HORKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1985, p. 19.
59
MORIN, Edgar. Cultura de massas no século XX; o espírito do tempo. 3. ed. Tradução de Maura Ribeiro
Sardinha, Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1975, p. 56.
60
SALLES, Mauro. O poder excitador da comunicação. In: Cadernos IBRACO, publicação do Instituto de
Altos Estudos de Comunicação, transcrição da palestra proferida no I Simpósio IBRACO, mar. 1991, n. 1, p. 16.
61
CENEVIVA, Walter. Publicidade e o direito do consumidor. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 1991, p. 28.
37
jornais estão nos níveis mais altos da história. No Brasil, já passa de quatro horas e meia por
dia o tempo que o brasileiro médio dedica à televisão.
Ocorre que é justamente no momento de lazer que o consumidor se expõe com maior
intensidade aos efeitos da publicidade, aponta Morin:
[...] o lazer moderno não é apenas privilégio das classes dominantes. Ele saiu
da própria organização do trabalho burocrático e industrial. O tempo de
trabalho enquadrado em horários fixos, permanentes, independentes das
estações, se retraiu sob o impulso do movimento sindical e segundo a lógica
de uma economia que, englobando lentamente os trabalhadores em seu
mercado, encontra-se obrigada a lhes fornecer não mais apenas um tempo de
repouso e recuperação, mas um tempo de consumo.62
62
MORIN, Edgar. Cultura de massas no século XX; o espírito do tempo. 3. ed. Tradução de Maura Ribeiro
Sardinha, Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1975, p. 56.
63
Idem Ibidem, p. 56.
64
JACOBINA, Paulo Vasconcelos. A publicidade no direito do consumidor. Rio de Janeiro: Forense, 1996, p.
25.
38
65
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. 3. ed. Curitiba:
Positivo, 2004. p. 1656.
66
CENEVIVA, Walter. Publicidade e o direito do consumidor. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 1991, p. 28.
67
COSTA, Maria I. L. da; MENDES, Marcília L. G. da Costa. A publicidade como ferramenta de consumo:
uma reflexão sobre a produção de necessidades. Disponível em: < http://www.bocc.ubi.pt/pag/costa-mendes-a-
publicidade-como-ferramenta-de-consumo.pdf>. Acesso em: 08 fev. 2016.
68
MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor. 3. ed. São Paulo. Revista dos
Tribunais, 1998, p. 673.
39
69
MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor. 3. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1998, p. 11.
70
American Association of Adversiting Agencies, Associação Americana de Agências de Publicidade (tradução
nossa) apud BENJAMIN, Antônio Hernan V; MARQUES, Cláudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe. Manual
de direito do consumidor. 6. ed. São Paulo. Revista dos Tribunais, 2014, p. 272.
71
ANDRIATTE, Aparecida Malandrin. Biografias Wilfred Ruprecht Bion. Federação Brasileira de
Psicanálise. Disponível em: < http://febrapsi.org.br/biografias/wilfred-ruprecht-bion/>. Acesso em: 09 fev. 2016.
40
Nesse sentido e com muita precisão, Harris dispõe como surge o desejo: “[...] como é
que começamos a ter ambições? Começamos ambicionando aquilo que vemos diariamente.”72
Por possuir esse caráter inerente à publicidade, a informação é considerada um
elemento material ou objetivo. Em contrapartida, como a divulgação caracteriza-se por ser o
escopo da publicidade, constitui-se como elemento finalístico.
Quanto aos elementos formativos da publicidade Benjamin aponta que:
72
HARRIS, Thomas. The Silence of the Lambs. 1991. Tradução de Antônio Gonçalves Penna. 12. ed. Rio de
Janeiro. Record. 2007, p. 159.
73
Sem sentido; contra-senso; (tradução nossa). Trata-se de gênero literário geralmente utilizado em contos de
fadas com a finalidade de entreter o público alvo com personagens que apresentam características físicas como
tamanho e forma peculiares. A espécie literária foi transportada para publicidade sendo vastamente utilizada na
publicidade infantil.
74
BENJAMIN, Antônio Hernan V; MARQUES, Cláudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito
do consumidor. 6. ed. São Paulo. Revista dos Tribunais, 2014, p. 272.
75
MARTINÉZ, Sérgio Rodrigo. Publicidade de consumo e propedêutica do controle. Curitiba. Juruá Editora.
2001, p. 78.
41
A Lei nº 4.680/65, em seu artigo 2º, definia a propaganda como qualquer forma
remunerada de difusão de ideias mercadoria ou serviços. Ocorre que referida lei foi revogada
após a promulgação do Código de Defesa Do Consumidor que passou a dispor claramente
sobre a publicidade, deixando a propaganda sem positivação. A publicidade tendo em vista
que é nosso objeto de pesquisa já foi cuidadosamente analisada demonstrando ter uma
finalidade comercial bem definida cujo objetivo é arrebatar o maior número de pessoas
possível.76
Contrariamente, a propaganda possui outras finalidades que não comerciais e/ou
econômicas. Seu escopo primordial é a propagação de ideais, juízos, opiniões, fazendo-se
oportuno, neste momento, analisar sua definição.
Na etimologia, o vocábulo propaganda tem origem no latim propaganda. Ferreira
define como a propagação de princípios, ideias, conhecimentos, teorias ou doutrinas que são
propagadas por meio de arte ou técnica de planejar constituindo um conjunto de atos para
criar, executar e veicular mensagens de propaganda.77
A propaganda, segundo Benjamin, possui um fim ideológico, religioso, filosófico,
político, econômico e social, e, por esse caráter não comercial, nem sempre há identificação
de seu patrocinador.78
De forma concisa, Nunes define que a propaganda é reservada tão somente para ações
políticas e religiosas, propagação de princípios, ideias, conhecimentos ou teorias.79
Já na visão de Ceneviva, propaganda é a arte ou técnica de informar ou notificar a
coletividade, comunicando-lhes fatos ou versões, que a fonte da divulgação deseja tornar
conhecidos.80
A Associação Brasileira de Propaganda define seu ramo de atividade como exercício
fundamental e indispensável à livre circulação de ideias, bens e serviços, enfatizando que a
atividade da propaganda no Brasil é base de existência do Estado Democrático de Direito.81
À luz das definições apresentadas resta evidente o caráter social da propaganda em
difundir ideais, crenças, princípios e ideologias, das mais diversas naturezas, abrangendo
76
BRASIL. Lei nº 4.680/65. Dispõe sobre o exercício da profissão de Publicitário e de Agenciador de
Propaganda e dá outras providências. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4680.htm>
Acesso em: 14 fev. 2016.
77
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. 3. ed. Curitiba:
Positivo, 2004, p. 1642.
78
BENJAMIN, Antônio Hernan V; MARQUES, Cláudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito
do consumidor. 6. ed. São Paulo. Revista dos Tribunais, 2014, p. 273.
79
NUNES, Luiz Antonio Rizzato. Curso de direito do consumidor. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p.109
80
CENEVIVA, Walter. Publicidade e o direito do consumidor. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 1991, p. 73.
81
ABP. Associação Brasileira de Propaganda (ABP). Disponível em: <http://abp.com.br/sobre-abp/> Acesso em:
12 fev 2016.
42
desde aspectos religiosos e morais até políticos, cujo objetivo primordial é tão somente a
difusão e propagação dessas sem vislumbrar perspectivas mercantis ou econômicas.
Cumpre-se, todavia, analisar que mesmo havendo finalidades opostas a publicidade e a
propaganda tem em sua essência a informação como elemento estruturante. A informação
como é inerente aos dois institutos possui caráter de imprescindibilidade, o que lhe concede
determinadas prerrogativas, a exemplo da norma que estabelece o direito à informação como
direito fundamental.
O artigo 5º, inciso XIV, da Constituição da República Federativa do Brasil, 82
estabeleceu de forma indistinta e irrestrita o acesso à informação, como afirma Moraes:
Ocorre que a forma como o direito à informação publicitária tem sido empregado
promoveu uma alteração ou supressão na boa-fé objetiva que deveria ser sua finalidade. A
norma positivada com o objetivo de fornecer a todos os cidadãos indistintamente qualquer
informação que lhes fosse imprescindível, na prática comercial, tornou o consumidor
possivelmente mais vulnerável, pois, o direito à informação deixa de ser instrumento de mero
informe, utilizando das técnicas desenvolvidas na publicidade e descumprindo preceitos como
a boa-fé objetiva e a função social, desperta no consumidor o desejo de aquisição de novos
produtos e serviços, deixando de cumprir com sua intenção inicial de informar.
Disso surge a necessidade de se pensar em uma nova abordagem jurídica ou, pelo
menos, tornar o ordenamento atual de controle da publicidade mais efetivo, tendo em vista
que somente o Código de Autorregulamentação Publicitária demonstrou não ser capaz de
promover e implementar a boa-fé objetiva e a função social como condições indissociáveis à
produção e veiculação publicitária.
Ressalta-se que leviano seria dizer que a atuação do CONAR em nada obsta a
veiculação de publicidade abusiva e enganosa ocorre que suas decisões não possuem caráter
82
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: [...] XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo
da fonte, quando necessário ao exercício profissional;
83
MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais: teoria geral, comentários aos artigos 1º a 5º da
Constituição da República Federativa do Brasil, doutrina e jurisprudência. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2000, p. 162.
43
Desse modo, observa-se que a atuação do CONAR, mesmo que em uma perspectiva
privada de autorregulamentação consultiva, conjuntamente com a atuação jurisdicional
repressiva e punitiva, consubstanciada pelo Código de Defesa do Consumidor, poderá de uma
maneira mais eficaz promover a proteção do consumidor e tonar o sistema já existente mais
efetivo, sendo absolutamente dispensável a criação de um novo sistema jurídico para dispor
sobre a publicidade em âmbito nacional.
84
PASQUALOTTO, Adalberto. Os efeitos obrigacionais da publicidade no código de defesa do consumidor.
São Paulo: Revistas dos Tribunais, 1997, p. 68.
85
BENJAMIN, Antônio Hernan V; MARQUES, Cláudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito
do consumidor. 6. ed. São Paulo. Revista dos Tribunais, 2014, p. 275.
44
86
GIACOMINI FILHO, Gino. Consumidor versus propaganda. São Paulo: Atlas, 1991, p. 29.
87
JACOBINA, Paulo Vasconcelos. A publicidade no direito do consumidor. Rio de Janeiro: Forense, 1996, p.
37.
45
Constante no art. 220, II e §4º da Lei Maior, ali exige-se que a lei estabeleça
meios que garantam a possibilidade, à pessoa e à família, de se defenderem
da propaganda de produtos práticas e serviços que possam ser nocivos à
saúde e ao meio ambiente [SIC]. Outrossim, o §4º restringe a propaganda
dos produtos ali elencados (tabaco, bebidas alcoólicas, agrotóxicos,
medicamentos e terapias) e o art. 221 garante que a propagação das
emissoras de rádio e televisão atenderá ao princípio do respeito aos valores
éticos e sociais da pessoa e da família. Tudo isso, combinado com o
princípio da defesa do consumidor, previsto em diversas passagens da
Constituição (ver art. 5º, XXXII, e art. 170, V), dão a necessária
fundamentação a tal controle.88
[...] é geral, quando diz algo que vale, ao mesmo tempo, para todos os
objetos que pertencem a uma determinada classe, sem nenhuma exceção. [...]
só poderá conotar o adjetivo “geral” às cláusulas gerais se, por este, se
estiver compreendendo que esta técnica permite, em razão da extensão do
88
JACOBINA, Paulo Vasconcelos. A publicidade no direito do consumidor. Rio de Janeiro: Forense. 1996, p.
97.
46
89
MARTINS-COSTA, Judith. A boa fé no direito privado: para um conceito de cláusula geral. 1. ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 304.
90
KHOURI, Paulo R. Roque. Direito do consumidor: contratos, responsabilidade civil e defesa do consumidor.
3. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 79.
91
DIAS, Lucia Ancona Lopez de Magalhães. Publicidade e direito. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2010, p.
98.
92
MARTINÉZ, Sérgio Rodrigo. Publicidade de consumo e propedêutica do controle. Curitiba. Juruá Editora.
2001, p. 208.
47
Não se exige que o consumidor seja efetivamente lesado, basta uma plausível
capacidade de induzi-lo a erro, ou que o anúncio publicitário crie no consumidor uma
potencial expectativa para que esta publicidade seja considerada enganosa. Dando ensejo à
aplicação, independente da repressão administrativa, das sanções penais dos artigos 66 e 67
do Código de Defesa do Consumidor, como também, as do artigo 7º, inciso III, da Lei.
8.137/90, que define os crimes contra a ordem tributária, econômica e contra as relações de
consumo.94
Nesse sentido, a 1ª Turma Recursal do Tribunal de Justiça do estado do Rio de Janeiro
condenou a ocorrência da publicidade enganosa oriunda da mera capacidade do anúncio de
induzir o consumidor em erro, visto que o fabricante/fornecedor possui o dever jurídico de
prestar informação, uma vez que os princípios de lealdade, transparência e boa-fé objetiva
devem integrar todas as fases da relação jurídica negocial. Dispõe que a ausência de
informação faz aflorar expectativas legitimas do interessado identificando-se como
publicidade enganosa. Conclui que o consumidor é detentor da garantia legal de informação
adequada e clara, estando protegido contra a publicidade enganosa e métodos comerciais
abusivos, a efetiva prevenção e reparação de danos e a inversão do ônus da prova, devendo o
fornecedor ainda na oferta e apresentação de produtos ou serviços assegurar informações
suficientemente claras sobre características, quantidade, composição e preço. 95
93
RODYCZ, Wilson Carlos. O controle da publicidade. Revista de Direito do Consumidor, São Paulo, n. 8.
out./dez., 1993, p. 65.
94
Seguem o teor das sanções: Art. 66. Fazer afirmação falsa ou enganosa, ou omitir informação relevante sobre a
natureza, característica, qualidade, quantidade, segurança, desempenho, durabilidade, preço ou garantia de
produtos ou serviços: Pena - Detenção de três meses a um ano e multa.§ 1º Incorrerá nas mesmas penas quem
patrocinar a oferta. § 2º Se o crime é culposo; Pena Detenção de um a seis meses ou multa. Art. 67. Fazer ou
promover publicidade que sabe ou deveria saber ser enganosa ou abusiva: Pena Detenção de três meses a um ano
e multa. Art. 7° Constitui crime contra as relações de consumo: III - misturar gêneros e mercadorias de espécies
diferentes, para vendê-los ou expô-los à venda como puros; misturar gêneros e mercadorias de qualidades
desiguais para vendê-los ou expô-los à venda por preço estabelecido para os demais mais alto custo.
95
BRASIL. Tribunal De Justiça Do Rio De Janeiro. 1ª Turma Recursal. Recurso Inominado nº
00180941220098190087-RJ. Relator: Andre Luiz Cidra. Data de Publicação: 10 mar 2011. Disponível em:
48
<http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/157527150/recurso-especial-resp-1329556-sp-2012-0124047-6>.
Acesso em: 28 maio 16.
96
DIAS, Lucia Ancona Lopez de Magalhães. Publicidade e direito. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2010, p.
100.
97
BENJAMIN, Antônio Hernan V; MARQUES, Cláudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe. Código brasileiro
de defesa do consumidor: comentado pelos autores do anteprojeto. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária,
2007, p. 281.
98
KHOURI, Paulo R. Roque. Direito do consumidor: contratos, responsabilidade civil e defesa do consumidor.
3. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 81.
49
99
DIAS, Lucia Ancona Lopez de Magalhães. Publicidade e direito. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2010, p.
161.
100
Idem Ibidem, p. 66.
101
Idem Ibidem, p. 162.
102
MARTINÉZ, Sérgio Rodrigo. Publicidade de consumo e propedêutica do controle. Curitiba. Juruá
Editora, 2001, p. 211.
50
incita toda e qualquer forma de violência, seja do homem contra homem, animais ou bens. A
publicidade antiambiental é aquela que atenta contra a ambiência, citando-se como exemplo o
anúncio de uma motosserra que o anunciante a teste em área de proteção ou em uma árvore
centenária e, por fim, a publicidade indutora de insegurança é o anúncio que induz o
consumidor a comportar-se de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde.103
Merece destaque e análise apartada a publicidade direcionada aos hipossuficientes,
visto que, as crianças possuem uma condição característica por serem pessoas em
desenvolvimento sem cognição formada, com déficit de julgamento e sem qualquer
experiência. Insta elucidar inicialmente que hipossuficiente são determinadas categorias de
consumidores, como idosos, crianças, silvícolas, doentes e rurícolas, enfatizando que a
hipossuficiência pode ser física, psíquica ou econômica.
A legislação consumerista, no §2º do artigo 37, concede proteção à criança e ao
adolescente contra a publicidade abusiva, norma que vai ao encontro dos valores e deveres
constitucionais estabelecidos no artigo 227 da Constituição da República, nesse diapasão o
artigo 71 do Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe a proteção da criança e do
adolescente contra o conteúdo inadequado da publicidade ou da programação de rádio e
televisão elucidando que as informações publicitárias e os produtos e serviços quando
direcionados especificamente às crianças devem observar a condição peculiar deste público-
alvo, sendo vedada a exploração de sua inexperiência ou de sua deficiência de julgamento.104
Nesse mesma diretriz, o Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária dispõe
que é lícito à publicidade utilizar símbolos próprios do imaginário das crianças, como animais
que falam, fadas e inclusive publicidade nonsense, respeitando-a em sua ingenuidade e
credulidade. Deve-se evitar, contudo, mensagens que levam a criança a se sentir diminuída ou
menos importante caso não consuma o produto ou serviço oferecido, ou que a leve a
constranger seus responsáveis, importunar terceiros ou promover comportamentos
socialmente condenáveis até mesmo para uma criança.105
103
BENJAMIN, Antônio Hernan V; MARQUES, Cláudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito
do consumidor. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014, p. 289.
104
MOMBERGER, Noemi Friske. A publicidade dirigida às crianças e adolescentes. São Paulo: Memória
Jurídica, 2002, p. 26 e ss.
105
JACOBINA, Paulo Vasconcelos. A publicidade no direito do consumidor. Rio de Janeiro: Forense, 1996,
p. 99.
51
Bittar dispõe que a publicidade abusiva é aquela na qual se atenta contra: “valores
essenciais da convivência social e as próprias pessoas em seus direitos substanciais à vida e à
segurança”.106
Justamente por esse aspecto, observou-se a necessidade se de efetivar a legislação que,
semelhante ao modelo constante no Código de Autorregulamentação Publicitária e no
ordenamento jurídico, regulasse verdadeiramente a publicidade por setores e características
próprias de cada tipo de serviço e respectivo público-alvo. Segundo Campos, isso já ocorre
em países mais desenvolvidos como a França, Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Grã-
Bretanha, Grécia, Irlanda, Itália, Portugal e Suiça.107
Calais-Auloy aponta que a publicidade é provavelmente uma das fontes mais
importantes de informação, mas também a mais perigosa, pois é destinada, prioritariamente,
mais a convencer do que propriamente a informar. Elucida ainda que na França em
determinados casos a legislação vai além de apenas vetar a publicidade abusiva: ela enumera
as informações que devem necessariamente figurar na publicidade, como em matéria de
crédito ao consumidor entre outras, a fim de tornar a publicidade mais informativa.108
Nesse sentido, importante explicitar que a informação prestada de forma adequada
trará ao consumidor maior segurança para exigir seus direitos, bem como, trará mais
efetividade à legislação vigente. Bittar, assim que publicado o Código de Defesa do
Consumidor, asseverou com certo otimismo que, com o advento da legislação consumerista a
maioria dos problemas oriundos das relações de consumo seriam extintos:
106
BITTAR. Carlos Alberto. O controle da publicidade: sancionamentos a mensagens enganosa e abusiva.
Revista de Direito do Consumidor. São Paulo: Revistas dos Tribunais, nº 4, p. 129.
107
CAMPOS, Maria Luiza de Saboia. Publicidade: responsabilidade civil perante o consumidor. São Paulo:
Cultura Paulista, 1996, p. 226.
108
CALAIS-AULOY, Jean. Droit de la consommation. 3. ed. Paris: Dalloz, 1992, p. 45.
109
BITTAR, Carlos Alberto. O advento do Código de Defesa do Consumidor e seu regime básico. In: Revista
de Direito do Consumidor. São Paulo: Revistas dos Tribunais, n. 2, 1992, p. 146.
52
110
ANVISA. Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução nº 26/15. Dispõe
sobre os requisitos para rotulagem obrigatória dos principais alimentos que causam alergias alimentares.
Disponível em: < http://adcon.rn.gov.br/ACERVO/Suvisa/doc/DOC000000000083199.PDF>. Acesso em 23
ago. 2016.
53
111
DIAS, Lucia Ancona Lopez de Magalhães. Publicidade e direito. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2010,
p. 35.
112
TAVARES, André Ramos. Direito constitucional econômico. São Paulo: Método, 2003, p. 134.
113
LOPES, Teresa Ancona. Nexo causal e produtos potencialmente nocivos: a experiência brasileira do
tabaco. São Paulo: Quartiner Latin, 2008, p. 116.
54
114
Nesse sentido, explicita Dubois que: “Se as motivações e a personalidade de um indivíduo, analisadas
anteriormente, se concretizam por vezes na compra e consumo, não se deve concluir daí que as forças internas
do ser humano são suficientes para explicar o seu comportamento. A razão é simples: o que um consumidor
compra, depende, para além de suas necessidades mais profundas, dos produtos e serviços disponíveis no seu
meio envolvente e do modo como os percebe. O mecanismo perceptual rege as relações entre os indivíduos e o
mundo que o rodeia e todo o conhecimento necessariamente adquirido através da percepção.” Dubois, Bernard.
Compreender o consumidor. Tradução e revisão de Francisco Velez Roxo. Lisboa: Dom Quixote, 1998, p. 53.
55
embalagens como dispõe a lei da rotulagem ou poderão ser objeto de propaganda, mas não de
publicidade.
O fato de a publicidade não ter como objetivo primordial o dever de informar não a
desonera, contudo, de elaborar um anúncio probo e adequado que informe de maneira
fidedigna tendo como critério a veracidade da informação e não omitindo dado relevante do
produto ou serviço anunciado, que não possua conteúdo discriminatório de qualquer natureza
e que não incite a violência ou explore o medo ou a superstição, cumprindo assim com a boa-
fé objetiva e a função social da empresa.
Sant’anna, Júnior e Garcia dispõem que a publicidade é instrumento de veiculação de
oferta, cujo fito é informar o consumidor em massa sobre determinado produto ou serviço, a
fim de promover sua venda e auferir lucro:
115
SANT’ANNA, Armando; JÚNIOR, Ismael Rocha; GARCIA, Luiz Fernando Dabul. Propaganda: teoria,
técnica, prática. 8 ed. ver. ampl. São Paulo: Cengage Learning, 2009, p. 61.
116
DIAS, Lucia Ancona Lopez de Magalhães. Publicidade e direito. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2010,
p. 35.
56
danos, para tanto, a legislação consumerista exige que a publicidade seja prestada de forma
clara, precisa, não abusiva e fidedigna.117
O Código de Defesa do Consumidor enfatiza e valoriza a comunicação na sociedade
de consumo, priorizando o dever de informar como meio de educar e prevenir danos futuros
aos consumidores. Zapata elucida que mais da metade dos artigos normativos inseridos na
legislação consumerista, sendo 44 de um total de 80 artigos, mencionam a expressão
informação.118
A legislação reitera a responsabilidade de todos os envolvidos no ciclo de criação,
circulação, divulgação e comercialização dos produtos e serviços, concedendo às agências
publicitárias, veículos de comunicação e vendedor um status de corresponsáveis pela
obediência e efetividade à boa-fé objetiva e a função social da empresa a fim de, com o
auxílio dos coobrigados, identificar com precisão a existência de eventual vício que ocasione
uma publicidade enganosa ou abusiva.
Com efeito, as peças publicitárias são expressões artísticas, que apresentam finalidade
essencialmente comercial. Conclui Carpena que “o objetivo comercial não macula o discurso
publicitário, pois constitui sem sombra de dúvida, expressão do pensamento e da criatividade
humana.”119
A publicidade goza de uma primordial característica econômica, pois, a comunicação
publicitária consubstancia-se como importante ferramenta para a dinâmica de mercado e para
a competição entre os agentes econômicos, nesse sentido dispõe Pasqualotto:
117
CAMPOS, Maria Luiza de Saboia. Publicidade: responsabilidade civil perante o consumidor. São Paulo:
Cultura Paulista, 1996, p. 289.
118
ZAPATA, Julio Cesar. Em defesa dos direitos do consumidor. O Estado de São Paulo, São Paulo, 27 ago
1991, p. 64. Disponível em: <http://acervo.estadao.com.br/pagina/#!/19910827-35749-nac-0064-pai-4-not>.
Acesso em: 21 abr. 2016.
119
CARPENA, Heloísa. Prevenção de risco no controle da publicidade abusiva. Revista Direito do
Consumidor, vol. 35, São Paulo: Revistas dos Tribunais, jul-set, 2000, p. 126.
120
PASQUALOTTO, Adalberto. Os efeitos obrigacionais da publicidade no Código de Defesa do
Consumidor. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 1997, p. 28.
57
serviços em relação aos de seus concorrentes e, assim, influenciar a preferência e escolha dos
consumidores.121
Segundo Campos, vício de informação é aquele que induz o consumidor a comportar-
se de forma prejudicial à sua saúde ou segurança, ou ainda, aquele contido na mensagem que
potencialmente gera uma expectativa falsa sobre o desempenho do produto ou do serviço, ou
abusar de sua confiança, ofendendo-o ou aproveitando-se de sua inexperiência e
ingenuidade.122
Nesse sentido o Superior Tribunal de Justiça em sede de Recurso Especial explicita
que a propaganda enganosa ou viciada na informação cria uma circunstância em que há
aptidão a induzir em erro o consumidor fragilizado, pois a venda de produto medicinal
destinado à cura de doenças malignas, cujo consumidor é portador, caracteriza-se pela
hipótese de estado de perigo. Explicita que a vulnerabilidade informacional agravada ou
potencializada, ocasionou a hipervulnerabilidade do consumidor, derivada do manifesto
desequilíbrio entre as partes. 123
Constata-se que o anúncio proposto pela empresa vai muito além de induzir o
consumidor a erro, o que já configuraria a publicidade como enganosa e a informação nela
contida como viciada, pois realmente induziu o consumidor, que se encontra em uma
condição de vulnerabilidade, acima do habitual, tornando-o hipervulnerável, visto que é
portador de doença grave e encontra-se em estado de perigo, ao adquirir o produto com a
plena convicção que obteria por meio do medicamento a cura do câncer, incidindo em
indenização cível e dando ensejo ainda à sanção prevista no artigo 66 do Código de Defesa do
Consumidor.
O produto ou serviço viciado na informação é aquele que apresenta falha, tendo em
vista, a forma inadequada, imprópria, ludibriosa ou incompleta, com que foi comunicado ao
público no anúncio publicitário, quando coloca em risco ou causa dano à saúde ou à
segurança, ou ainda, quando o desempenho do produto apresenta-se diverso ou aquém da
expectativa legítima do consumidor.
Nesse sentido, entende a 1ª turma do Tribunal de Justiça do Distrito Federal ao
condenar por vício de informação e propaganda enganosa o fabricante/fornecedor
121
BENJAMIN, Antônio Hernan Vasconcelos. O controle jurídico da publicidade. Revista do Direito do
Consumidor. n. 09, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1994, p. 33.
122
Idem Ibidem, p. 291.
123
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. 3ª Turma. Recurso especial n.º 1329556 SP 2012/0124047-6.
Relator: Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva. Data de Julgamento: 25 nov 2014, Data de Publicação: DJe 09
dez 2014. Disponível em: < http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/157527150/recurso-especial-resp-1329556-
sp-2012-0124047-6>. Acesso em: 28 mai. 2016.
58
124
BRASIL. Tribunal de Justiça do Distrito Federal. 1ª Turma Apelação Cível nº 1191116220078070001 DF.
Relator: Maria De Fátima Rafael De Aguiar Ramos, Data de Julgamento: 23 jun 09. Data de Publicação: 10 set
09. Disponível em: < http://tj-df.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/5437925/acao-ci-vel-do-juizado-especial-acj-
1191116220078070001-df-0119111-6220078070001> Acesso em: 30 jun. 2016.
125
ALMEIDA, Carlos Ferreira de. Os direitos dos consumidores. Coimbra: Livraria Almedina, 1982, p.180.
126
CAMPOS, Maria Luiza de Saboia. Publicidade: responsabilidade civil perante o consumidor. São Paulo:
Cultura Paulista, 1996, p. 291.
127
ALMEIDA, Carlos Ferreira de. Os direitos dos consumidores. Coimbra: Livraria Almedina, 1982, p. 182.
128
COELHO, Fábio Ulhoa. “Art. 28 ao 45. VVAA, Comentários ao código de proteção ao consumidor. São
Paulo: Saraiva, 1991, p. 151.
59
129
ALMEIDA, Carlos Ferreira de. Os direitos dos consumidores. Coimbra: Livraria Almedina, 1982, p. 182.
130
CALAIS-AULOY, Jean. Droit de la consommation. 3. ed. Paris, Dalloz, 1992, p. 33
131
NUNES, Luiz Antonio Rizzato. Comentários ao código de defesa do consumidor: Direito material arts. 1º
a 54. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 43.
60
132
FRANCO, Célia de Gôuvea. Indústria ouve consumidor e muda produtos. Gazeta Mercantil. São Paulo:
Caderno de Administração e Negócios, 09 maio 94, p. 01.
133
O movimento Põe no Rótulo “#poenorotulo” foi criado em fevereiro de 2014 com o objetivo de conscientizar
a população não-alérgica para a necessidade da rotulagem destacada de alimentos reconhecidamente mais
alergênicos. Como resultado dessa mobilização, a ANVISA iniciou processo de discussão de projeto de
normatização da rotulagem de alérgenos em alimentos, tendo promovido uma consulta pública sobre o tema em
meados de 2014, que resultou em mais de 3500 manifestações apresentadas pela sociedade e em maio de 2015,
promoveu uma audiência pública que reuniu diversos interessados no tema: sociedade civil, representantes da
OAB, do Governo e da indústria de alimentos, para discutir a rotulagem de alergênicos. A proposta de
regulamentação foi aprovada pela Diretoria Colegiada da Anvisa e publicada no Diário Oficial em 3 de julho de
2015. Disponível em: <http://www.poenorotulo.com.br/>. Acesso em: 23 ago. 2016.
61
empresas que cumpram com a boa-fé objetiva e a função social da empresa e atuem de forma
a exibir uma postura mercantil que vá além daquela exigida pela positivação normativa.
Ocorre que, muito difícil seria positivar uma conduta repressiva ao
fabricante/fornecedor antiético. Em um despretensioso sentir, acredita-se que a maneira mais
eficaz de promover uma mudança de paradigma de todos os envolvidos na cadeia produtiva,
seria incentivar o consumo de produtos que veiculem publicidade ética norteada pelos
princípios da lealdade e veracidade e como medida fundamental, implementar a todos os
envolvidos na criação publicitária: agências publicitárias e publicitários, o princípio da boa-fé
objetiva e da função social da empresa como um padrão de conduta a gerir à produção
publicitária.
afinal o Estado Liberal priorizava a liberdade sobre a igualdade, enquanto que o Estado Social
defendia a valorização da igualdade em detrimento da liberdade.134
Nesse contexto de Estado Liberal Dworking explicita que, a liberdade deve ser
interpretada no sentido lato sensu, pois o equívoco estaria na presunção de que o direito à
liberdade é mensurável. “Somente se a liberdade for definida de uma forma neutra é que se
pode suscitar a oposição entre a mesma e a igualdade, o que não ocorre quando a liberdade é
conceituada em função da igualdade”. É por meio da autonomia que a liberdade e a igualdade
são vistas em uma perspectiva de complementaridade e não de oposição, o que possibilita a
convivência entre os iguais direitos dos indivíduos que vivem em sociedade, transformando
essa coexistência em justiça social. 135
Inerente ao termo “liberalismo”, encontra-se um alto índice de polissemia, pois sua
formação e amadurecimento, enquanto doutrina econômica e ideologia social, deu-se ao longo
dos séculos XVII a XX. Esse período de alta ebulição social, política e econômica assistiu ao
surgimento do Estado Nação, à ascensão da burguesia, ao surgimento e predominância do
mercado como principal instituição política e econômica e à progressiva internacionalização
da economia e do comércio.136
O Estado Liberal possui como sistema econômico o liberalismo que defende
sobremaneira o livre comércio e a propriedade privada. O direito à propriedade seria um dos
dez pilares sobre liberdades econômicas, que fundamentam o liberalismo, dentre eles:
liberdade empresarial, liberdade de comércio, liberdade fiscal, tamanho do Estado, liberdade
monetária, liberdade de investimento, liberdade financeira, liberdade de governo e trabalho
livre, todos mensurados em pesos iguais. Defende-se a redução do poder político, sendo a
liberdade humana uma presunção universal. 137
O liberalismo objetiva a criação de um mercado autorregulado e imune a interferências
estatais de qualquer gênero. De tal modo que o direito à propriedade era tradicionalmente
absoluto, exclusivo e perpétuo. Absoluto, no sentido do poder garantido ao proprietário em
gozar e fruir de seu bem imóvel, da maneira que melhor entendesse. Exclusivo, por ter o
proprietário o poder de excluir terceiros da utilização da coisa, inclusive, o Estado, que não
poderia privar o proprietário de seu direito, exceto mediante indenização, quando expropriado
134
LOPES, Ana Frazão de Azevedo. Empresa e propriedade: função social e abuso do poder econômico. São
Paulo: Quartier Latin, 2006, p. 123.
135
DWORKIN, Ronald. Los Derechos en Serio. Tradução de Marta Guastavino. Barcelona: Editorial Ariel,
1999, p. 382-383.
136
POLANYI, Karl. A Grande Transformação: as origens de nossa época. Tradução de Fanny Wrobel. Rio de
Janeiro: Editora Campus Ltda. 1980, p. 163.
137
MELNIK, Stefan. Liberdade e propriedade. São Paulo: Instituto Friedrich Naumann, 2009, p. 13
63
138
SANTIAGO, Ribeiro Mariana. Princípio da função social do contrato. 2. ed. rev., ampl. e atual. Curitiba:
Juruá. 2008, p. 105.
139
LASKI, Harold Joseph. O liberalismo europeu. São Paulo: Mestre Jou, 1973, p. 172.
140
MORAES, Ricardo Quartim de. A evolução histórica do estado liberal ao estado democrático de direito e
sua relação com o constitucionalismo dirigente. Brasília: Senado Federal, Revista de Informação Legislativa,
ano 51, n. 204 out/dez, 2014, p. 275.
141
BONAVIDES, Paulo. Do estado liberal ao estado social. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 186.
142
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 16. ed. São Paulo: Malheiros, 1999, p.
119.
64
Assim, o Estado deixa de ser apenas o poder soberano para tornar-se um dos principais
responsáveis pelo direito à vida, concretizado por meio dos direitos sociais. Com a execução
de políticas públicas, confia-se ao Estado o poder de decidir, em nome de todos, o que é o
bem de cada um, por meio dos direitos sociais. Isso só pode ocorrer efetivamente quando o
pressuposto do Estado Social é a democracia, afinal, somente nesse sistema político seria
plausível a coexistência dos direitos sociais e da atividade empresarial.
Inserida nesse contexto em que a extensão das funções da empresa passa a ser
exigência mínima do Direito, a Constituição da República Federativa do Brasil coroou o
processo de redemocratização da política brasileira, incorporando em seu bojo o elemento
social. Do ponto de vista simbólico, ela representou a superação de um modelo autoritário e
excludente de Estado e sociedade, além de selar um novo começo na trajetória político-social
do país, articulando direitos e liberdades individuais com os direitos sociais, de modo a
propiciar segurança jurídica com igualdade social.143
Com efeito, o equilíbrio entre a liberdade empresarial e o igual direito à liberdade dos
demais membros da sociedade é extremamente delicado e envolve a questão de justiça social.
Daí porque os princípios da função social da propriedade e da empresa podem ser
considerados como uma forma que a Constituição encontrou de condicionar o exercício da
atividade empresarial à justiça social sem ter que recorrer a nenhum compromisso
previamente determinado.144
O primeiro confronto entre o pensamento liberal e a tendência socializante da época
atual ocorreu em detrimento da propriedade, sendo pacífica, atualmente, a concepção de que a
propriedade é um direito limitado. Desse entendimento por si só já seria possível deduzir
a função social do contrato e da empresa, uma vez que se trata de institutos ligados à
circulação da propriedade. Tendo em vista que a empresa é instrumento legal para o exercício
de iniciativas econômicas, nada mais coerente do que reconhecer a função social da empresa,
já que a própria Constituição de 1988 estabelece que a livre iniciativa deve ter um valor
social.145
Inequívoco assim que a justiça social e atividade empresarial não se anulam, a
presença de uma não elimina a outra. A tarefa do jurista é priorizar valores a serem tutelados
pelo direito frente ao caso concreto, avaliando as características intrínsecas e extrínsecas de
143
SARMENTO, Daniel. Direitos fundamentais e relações privadas. 2 ed. Rio de Janeiro: Lumen Juis, 2007,
p. 123.
144
LOPES, Ana Frazão de Azevedo. Empresa e propriedade: função social e abuso do poder econômico. São
Paulo: Quartier Latin, 2006, p. 199.
145
SANTIAGO, Mariana Ribeiro; CAMPELLO, Lívia Gaigher Bósio. Função social e solidária da empresa na
dinâmica da sociedade de consumo. Scientia Iuris, v. 20, 2016, p. 128.
65
casa situação que se lhe apresenta, de tal modo que, o princípio da função social da empresa
auxilia o aplicar do direito no sentido de tornar possível a convivência harmônica entre a
justiça social e a atividade empresarial, desde que, esta seja prestada de forma a garantir e
promover àquela.146
Explicita Tepedino que a Constituição da República de 1988 não é considerada como
o primeiro diploma legal a dispor sobre a função social, tendo-se em vista que o artigo 170 da
Carta Política de 1946, já estabelecia que o uso da propriedade seria condicionado ao bem-
estar social e a Emenda Constitucional de 1969, em seu artigo 160, inciso III, também
dispunha que a ordem econômica e social tinham por fim realizar o desenvolvimento nacional
e a justiça social, com base em princípios, dentre os quais o da função social da
propriedade.147
Em posicionamento divergente, Grau dispõe que é inquestionável o fato de que a
Constituição Federal é uma carta dirigente, tem-se que o conjunto de diretrizes, programas e
fins que enuncia a serem pelo Estado e pela sociedade realizados, confere a ela um caráter de
plano global normativo, do Estado e da sociedade. O seu artigo 170 prospera, evidentemente,
no sentido de implantar uma nova ordem econômica.148
A interpretação sistêmica deste dispositivo permite concluir que o exercício da
atividade econômica deve estar fundamentado na pessoa, ou seja, deve objetivar a garantia da
dignidade humana, para o alcance da justiça social. Ao eleger o valor social do trabalho como
fundamento da atividade econômica, pretende dignificar as condições de trabalho, ao efeito de
garantir a dignidade de toda a pessoa.149
No que concerne à função social da empresa, Lopes afirma que toda a construção
tecida acerca da função social do contrato e da propriedade se aplica integralmente à função
social da empresa que se constitui em um aspecto dinâmico do direito de propriedade. A
função social da empresa diz respeito às obrigações para com os empregados e consumidores
atividades que dizem respeito igualmente à sociedade, vez que geram diversas externalidades.
Frisa-se, por fim, que todos esses princípios estão conectados à função social da empresa,
146
CAMPOS, Maria Luiza de Saboia. Publicidade: responsabilidade civil perante o consumidor. São Paulo:
Cultura Paulista, 1996, p. 141.
147
TEPEDINO, Gustavo. Temas de direito civil. Rio de Janeiro: Renovar, 2008, p. 306.
148
GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica na Constituição de 1988: interpretação e crítica. 5. ed. São
Paulo: Malheiros, 2000, p. 153.
149
FALLER. Maria Helena Ferreira Fonseca. Função social da empresa & economia de comunhão: um
encontro à luz da constituição. Curitiba: Editora Juruá, 2013, p. 87.
66
ampliando os interesses que devem ser protegidos e atendidos por meio da atividade
empresarial.150
Dispõe Naspolini e Curi que não há na Constituição, previsão expressa de que as
empresas devam ter qualquer função social, tendo em vista que a única previsão existente
sobre o assunto no corpo da Constituição da República, o artigo 173, §1º, inciso I, diz respeito
à necessidade de a lei que instituir os estatutos das empresas públicas e das sociedades de
economia mista, dispor sobre a função social que estas instituições devam exercer.151
Salomão Filho aponta que no Brasil a ideia de função social da empresa também
deriva da previsão constitucional sobre a função social da propriedade. Estendida à empresa, a
ideia de função social é talvez uma das noções de mais relevante influência prática e
legislativa no direito brasileiro.152
Nesse aspecto, o Direito Civil dispõe a função social dos contratos, da propriedade e
extensivamente da empresa, estabelecidas como princípios fundamentais do Estado
Democrático de Direito no texto constitucional, evidencia a imprescindibilidade em ampliar a
todo o ordenamento jurídico fundamentos como a cidadania, soberania e a dignidade da
pessoa humana.
Os denominados direitos não patrimoniais elencados no caput e incisos do artigo 5º da
Constituição da República tais como: direitos sociais, intimidade, honra, imagem, e,
sobretudo, a dignidade da pessoa humana, são pilares do Estado Democrático de Direito, pois
consideram cada cidadão como indivíduo autônomo que possui plena liberdade para realizar o
seu projeto de vida, desde que não vedado por lei ou incompatível com o igual direito dos
demais indivíduos da sociedade.
A atual e crescente preocupação com a difusão dos dispositivos constitucionais
decorre em grande parte da intensidade com que os problemas econômicos passaram a definir
os valores da vida e se impuseram tanto ao cidadão como à sociedade encarnada na figura do
Estado moderno, que em nome de uma compreensão equivocada de desenvolvimento realiza
cotidianamente a suspensão de direitos fundamentais como saúde, informação, cultura,
150
LOPES, Ana Frazão de Azevedo. Empresa e propriedade: função social e abuso do poder econômico. São
Paulo: Quartier Latin, 2006, p. 123 e 198.
151
NASPOLINI SANCHES, Samyra. H D. F; CURI, Fábio Martins Bonilha. Direitos Fundamentais e os
Limites da publicidade dirigida ao público infantil em face da função focial da empresa. Prim@ Facie, v.
14, 2015, p. 12
152
SALOMÃO FILHO, Calixto; COMPARATO, Fábio Konder. O poder de controle na sociedade anônima.
Forense: Rio de Janeiro, 2005, p. 133.
67
153
SOUZA, Washington Peluso Albino de. Teoria da Constituição Econômica. Belo Horizonte: Del Rey,
2002, p. 182.
154
LOPES, Ana Frazão de Azevedo. Empresa e propriedade: função social e abuso do poder econômico. São
Paulo: Quartier Latin, 2006, p. 200.
155
ABREU, Jorge Manuel Coutinho de. Do abuso de direito. Ensaio de um critério em direito civil e nas
deliberações sociais. Coimbra: Almedina, 2006, p. 33.
156
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Ação Direta de Inconstitucionalidade nº ADI-QO 319. Rel. Min.
Moreira Alves. Disponível em: <http://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/14708060/questao-de-ordem-na-acao-
direta-de-inconstitucionalidade-adi-319-df> Acesso em: 02 jul. 16.
68
160
TEPEDINO, Gustavo. Temas de direito civil. Rio de Janeiro: Renovar, 2008, p. 13.
161
BARROSO, Luís Roberto. Neoconstitucionalismo e constitucionalização do Direito. O triunfo tardio do
direito constitucional no Brasil. In: SARMENTO, Daniel Antonio de Moraes (Org.); SOUZA NETO, Cláudio
Pereira (Org.). A Constitucionalização do Direito: fundamentos teóricos e aplicações específicas. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2007, p. 217.
162
FALLER, Maria Helena Ferreira Fonseca. Função social da empresa & economia de comunhão: um
encontro à luz da constituição. Curitiba: Editora Juruá, 2013, p. 93.
163
NALINI, José Renato. Sustentabilidade e ética empresarial. In: SILVEIRA, Oliveira da;
MEZZAROBA, Orides (Coord.). Justiça, empresa e sustentabilidade. Vol. 2. Empresa, sustentabilidade
funcionalização do direito. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011, p. 121.
70
conduta ético-moral que deveria reger os contratos, a função social da empresa, a fim de que
se alcance o dever de transparência na condução de todos e quaisquer negócios jurídicos.164
Ocorre que enfrentar a problemática da publicidade e seus efeitos na sociedade de
consumo, somente por meio de imposição legal consubstanciada na função social da empresa,
não tem surtido efeito tampouco, demonstrado a efetividade que propõe a legislação.
Esclarecer que não se está aqui menosprezando os consideráveis resultados já obtidos, mas
ocorre que, igualmente, não se pode enfrentar a discussão com um otimismo “Polianico” e
simplesmente considerar que os resultados conquistados já atingiram o patamar esperado e
exigido para que se alcance justiça social.
Também não há que se falar em tão somente arbitrar responsabilidade a um
determinado sujeito, seja fabricante-fornecedor ou qualquer outro membro da cadeia
produtiva ou agência publicitária. Para além de indicar um culpado, trata-se de uma atuação
conjunta entre todos os entes envolvidos direta ou indiretamente na comunicação publicitária.
Nesse sentido, sabiamente explicita Kosovski que a responsabilidade para com a sociedade
inclui o respeito e a ética para com os cidadãos. A responsabilidade não pode ser delegada,
delega-se autoridade – a responsabilidade é compartilhada.165
Um caminho plausível para que se alcance resultados efetivos a médio e curto prazo
seria implementar a ética na comunicação através do princípio da boa-fé objetiva, distribuindo
a responsabilidade ética entre todos os envolvidos na realização da comunicação como forma
de enfrentamento à publicidade lesiva e provável solução para relações e sociedade de
consumo.
164
O dever de informação encontra-se no Código de Defesa do Consumidor no artigo 6º, inciso III que dispõe
que: São direitos básicos do consumidor: [...] a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e
serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e
preço, bem como sobre os riscos que apresentem. Parte da doutrina entende que o inciso IV do mesmo artigo
menciona expressamente o dever de lealdade ao dispor sobre a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva,
métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no
fornecimento de produtos e serviços. Já no Código Civil nos artigos 421 e 422 é evidente o dever de lealdade e
confiança recíprocas entre as partes contratantes, respeitando-se a função social dos contratos, sobretudo como
princípio fundamental do Estado Democrático de Direito, esculpido no artigo 5º, inciso XXIII da Constituição de
República de 1988, ao dispor que a propriedade atenderá sua função social. Nesse sentido, Maria Helena Diniz
afirma que o art. 421 do Código Civil de 2002 “é mero corolário do princípio constitucional da função social da
propriedade e da justiça, norteador da ordem econômica”. DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil
brasileiro: teoria geral das obrigações. v. 2. 19. ed. ver. aum. e atual. de acordo com o novo Código Civil, São
Paulo: Saraiva. 2004, p. 36.
165
KOSOVSKI, Ester. Ética, imprensa e responsabilidade social in Ética na Comunicação. KOSOVSKI, Ester
(org.). 4 ed. Rio de Janeiro: Mauad, 2008, p. 27.
71
O presente tópico tem por escopo elucidar que por meio da função social da empresa
seria possível lançar uma tentativa de garantir melhor proteção à sociedade, no que tange ao
equilíbrio econômico e social, promovendo um controle mais eficaz sobre a publicidade.
Passa-se a repensar uma análise vindoura do plano publicitário em tempos pós-modernos,
apontando como perspectiva para a problemática publicitária o princípio da boa-fé objetiva e
da função social da empresa como um possível caminho para o enfrentamento da publicidade
enganosa e abusiva.
Importante esclarecer, preliminarmente, que a proposta de implementação da boa-fé
objetiva se restringirá ao âmbito empresarial e, em especial, sobre as agências publicitárias.
Primeiramente, por serem parte envolvida, produtora e responsável na relação de consumo e,
a posteriori, por estarem na condição de prestadoras de serviço e assim, responderem objetiva
e solidariamente pela criação publicitária.
Como já elucidado, o princípio da boa-fé surgiu primeiramente como norma de direito
no artigo 131 do Código Comercial de 1.850, tendo, em um segundo momento, previsão
expressa no Código de Defesa do Consumidor. Aponta parte da doutrina que à época da
vigência do referido Código, não se havia efetividade na aplicação da norma, justificando-se
que a realidade fático-normativa daquele momento não permitia a utilização deste preceito
nas relações de consumo ou atém mesmo nas relações comerciais.166
Theodoro Júnior aponta que a boa-fé objetiva, cláusula geral prevista no artigo 422 do
Código Civil, está intimamente ligada aos princípios da solidariedade e eticididade, invocando
assim, uma conduta ética de todos os contratantes.167
Explicita Rosenvald que o princípio da boa-fé objetiva apresenta-se como um padrão
de conduta jurídica a ser estabelecido:
166
Segue o teor do artigo no revogado Código Comercial: Art. 131 - Sendo necessário interpretar as cláusulas do
contrato, a interpretação, além das regras sobreditas, será regulada sobre as seguintes bases:
1 - a inteligência simples e adequada, que for mais conforme à boa fé, e ao verdadeiro espírito e natureza do
contrato, deverá sempre prevalecer à rigorosa e restrita significação das palavras; 2 - as cláusulas duvidosas
serão entendidas pelas que o não forem, e que as partes tiverem admitido; e as antecedentes e subseqüentes, que
estiverem em harmonia, explicarão as ambíguas; 3 - o fato dos contraentes posterior ao contrato, que tiver
relação com o objeto principal, será a melhor explicação da vontade que as partes tiverem no ato da celebração
do mesmo contrato; 4 - o uso e prática geralmente observada no comércio nos casos da mesma natureza, e
especialmente o costume do lugar onde o contrato deva ter execução, prevalecerá a qualquer inteligência em
contrário que se pretenda dar às palavras; 5 - nos casos duvidosos, que não possam resolver-se segundo as bases
estabelecidas, decidir-se-á em favor do devedor.
167
THEODORO JÚNIOR, Humberto. O contrato e sua função social. Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 20.
72
168
ROSENVALD, Nelson. Código civil comentado: doutrina e jurisprudência. In: PELUSO, Cezar (Coord.). 3.
ed. Barueri, São Paulo: Manole, 2009, p. 458.
169
TARTUCE, Flávio. A função social dos contratos, a boa-fé objetiva e as recentes súmulas do superior
tribunal de justiça. In: Revista científica da Escola Paulista de Direito (EPD – São Paulo). Coord. Giselda
Maria Fernandes Novaes Hironaka. Ano I. N. I. Maio/Agosto de 2005.
170
SANTIAGO, Ribeiro Mariana. Princípio da função social do contrato. 2. ed. rev., ampl. e atual. Curitiba:
Juruá. 2008, p. 104/105.
73
171
MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no direito privado. Sistema e tópica no processo obrigacional. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 412.
172
Marshall, Caroline. Tudo sobre publicidade. Tradução de Saulo Krieger e Lúcia Helena F. Sant’Agostino.
São Paulo: Nobel, 2002, p. 30-32.
173
ASA - Advertising Standards Authotiry, the UK’s independente regulator for advertising across all media.
Diponível em: <https://www.asa.org.uk/>. Acesso em: 17 jul 2016.
74
174
NEGREIROS, Teresa. Fundamentos para uma interpretação constitucional do princípio da boa-fé. Rio
de Janeiro: Renovar, 1998, p. 48/49.
175
MONTIBELLER-FILHO, Gilberto. O mito do desenvolvimento sustentável: meio ambiente e custos
sociais no moderno sistema produtor de mercadorias. 3. ed. Florianópolis: UFSC, 2008, p. 4.
75
fidedignas aos consumidores. Demostrando que, somente por meio da boa-fé objetiva e da
função social da empresa, estabelecidas como limites à produção publicitária, ocorrerá uma
mudança de paradigma, a fim de propiciar uma proteção maior ao consumidor e às relações
de consumo, estimulando e promovendo um desenvolvimento econômico e social.
Embora haja positivação normativa suficiente, a fim de implementar a boa-fé objetiva
e a função social da empresa no momento de criar o anúncio publicitário, como a proposta
promove uma nova releitura da produção publicitária, que por décadas vislumbrou
unicamente o lucro, essa perspectiva provavelmente ocorrerá de maneira paulatina e tímida.
Desta feita, até que tais princípios sejam efetivamente implementados, torna-se
imprescindível tutelar o consumidor, logo, quando a publicidade for comprovadamente
enganosa ou abusiva, será dever das empresas indenizar o consumidor pelos danos causados,
recorrendo para tanto, ao instituto da responsabilidade civil.
76
77
O léxico responsabilidade tem sua origem no latim spondeo, pelo qual se vinculava o
devedor, solenemente, nos contratos verbais do direito romano. Utilizar-se-á a acepção de
responsabilidade em seu aspecto puramente social, afinal toda e qualquer atividade que
78
acarrete prejuízo traz consigo um fato social, uma atividade humana. A responsabilidade
exprime a ideia de restauração de equilíbrio, de contraprestação de reparação de dano.176
Guimarães apresenta uma definição sobre a distinção existente entre responsabilidade
e seu aspecto civil, elencando que:
176
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 5. ed. São Paulo: Saraiva.
2010, v. 4, p. 19.
177
GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Dicionário técnico jurídico. 11. ed. São Paulo: Rideel. 2008, p. 494.
178
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil: rresponsabilidade
civil. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2006, 3v, p. 09.
179
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 5 ed. São Paulo: Saraiva.
2010, v. 4, p. 41.
180
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade civil: de acordo com Constituição Federal de 1988, 2.
ed., Rio de Janeiro, Forense, 1990, p. 06.
79
181
GELLIS, André; HAMUD, Maria Isabel Lima. Sentimento de culpa na obra freudiana: universal e
inconsciente. In: Psicologia USP, Brasil, v. 22, n. 3, p. 635-654, sep. 2011. ISSN 1678-5177. Disponível em:
<http://www.revistas.usp.br/psicousp/article/view/42144/45817>. Acesso em: 28 fev. 2016.
182
CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. 2. ed. São Paulo: Malheiros. 2000, p. 20.
183
CAMPOS, Maria Luiza de Saboia. Publicidade: responsabilidade civil perante o consumidor. São Paulo:
Cultura Paulista, 1996, p. 18.
80
sofrido, embora bárbara, era a solução comum a todos os povos a fim de promover a
reparação imediata do dano.184
A definição de responsabilidade civil está intimamente ligada à reparação, ao dever de
indenizar o dano causado, seja ele de natureza matrimonial ou moral. Ocorre que, diferente do
que acontece atualmente, a culpa ou dolo do agente eram irrelevantes para arbitrar o valor a
ser reparado. Nesse sentido, Diniz elucida que em um primeiro estágio não se levava em
consideração a culpa do agente causador do dano, bastando, somente, a ação ou omissão deste
e o prejuízo sofrido pela vítima para que aquele fosse responsabilizado.185 E continua,
elencando que, à época, os costumes regiam as regras de convivência social, levando os
ofendidos a reagir de forma direta e violenta contra o causador do dano. Essa ação lesiva do
ofendido era exercida mediante a vingança coletiva, caracterizada pela reação conjunta do
grupo contra o agressor pela ofensa a um de seus componentes.186
Essa retaliação, se não pudesse acontecer de imediato, sobrevinha desde logo, era uma
conduta legitimada pela Lei de Talião utilizada primeiramente pelos povos do Oriente Médio
que foram influenciando outros povos até chegar a Roma, do século V a.C., período em que
vigia a Lei das XII Tábuas, que simbolizavam outro progresso, propondo a reciprocidade
entre ofensa e castigo.187
Mesmo com os consideráveis avanços alcançados pelos romanos, eles jamais
chegaram a distinguir complemente a pena de reparação da ideia de punição, mas somente
com a Lex Aquilia foi possível realizar efetivamente uma mudança no que tange à
responsabilidade civil, atribuindo-a o elemento culpa. É o que se nota nas palavras de Dias:
[...] verifica-se que o conteúdo da Lex Aquilia se distribuía por três capítulos.
O primeiro tratava da morte causada a escravos ou animais, da espécie dos
que pastam em rebanhos. O segundo regulava a quitação por parte do fiador
com prejuízo do credor estipulante; regia casos de dano muito peculiares,
[...] sem, no entanto, entender que haja qualquer interesse em elencar tais
casos. O terceiro e último capítulo da Lex Aquilia merece maior atenção por
tratar do damnum injuria datum, de alcance mais amplo, compreendendo as
lesões a escravos ou animais e a destruição ou deterioração de coisas
corpóreas.188
184
LIMA, Alvino. Da culpa ao risco. São Paulo: Revistas dos tribunais, 1938, p. 10.
185
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 23. ed. São Paulo: Saraiva,
2009. v. 7, p. 11.
186
Idem Ibidem, p. 12.
187
NORONHA, Fernando. Direito das obrigações. 2. Ed. São Paulo: Saraiva, 2007. v. I, p. 528.
188
DIAS, José de Aguiar. Da responsabilidade civil. Rio de Janeiro, Forense, 1997, 10 ed. v. 1, p. 24.
81
Foi por meio da Lex Aquilia que iniciou uma mudança de paradigma no que se refere à
responsabilidade civil, atrelando-se a ela, ainda que de maneira tímida, verifica-se a
concepção do elemento culpa, propondo significativas transformações, pois se cogitava a
possibilidade de substituição de multas fixas por uma pena proporcionalmente aplicada ao
dano causado.189
Sobrevém a este período o da composição dos danos. O prejudicado passa a perceber
as vantagens e conveniências da substituição da vingança, pela compensação econômica. A
vingança é substituída pela composição a critério da vítima, subsiste como fundamento ou
forma de reintegração do dano sofrido, sem tampouco se cogitar, ainda, expressamente a
figura da culpa. Lima dispõe que, em um período posterior, a composição econômica deixa
de ser voluntária e torna-se compulsória:
Após a Lex Aquilia, foi somente no período de Justiniano, em 529 a 534 a.C., que
efetivamente o Direito Romano vislumbrou a concepção de culpa subjetiva, que, longe de se
assemelhar à noção moderna do instituto, apresentou exemplar contribuição às atuais
legislações, tanto que o léxico aquilia firmou-se de tal maneira em nosso ordenamento
jurídico que é hodiernamente utilizado para designar a responsabilidade extracontratual.191
Em contraponto a grande número dos estudiosos do tema, os irmãos Mazeaud, citados
por Dias, mencionam que no Direito Romano a noção de culpa sempre foi muito precária,
jamais tendo chegado a ser estabelecida como princípio geral ou fundamento da
responsabilidade, apesar da considerável evolução nesse sentido.192
Embora haja posicionamentos controversos sobre a discussão, origem e surgimento do
elemento culpa na definição de responsabilidade civil, Pereira encerra com maestria a
discussão, elucidando que independente se a noção de culpa manifesta-se expressamente no
texto da Lex Aquilia ou fora incorporada por ser elementar à responsabilidade civil, o que
189
Idem Ibidem, p. 19.
190
DIAS, José de Aguiar. Da responsabilidade civil. Rio de Janeiro, Forense, 1997, 10 ed. v. 1, p. 11.
191
Idem Ibidem, p. 19.
192
Idem Ibidem, p. 42.
82
199
LOPES, Miguel Maria de Serpa. Curso de direito civil, 5. ed. Rio de Janeiro: Biblioteca Jurídica Freitas
Bastos, 1989, v. 2, p. 328.
200
SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Direito civil responsabilidade civil. 2003, p. 101. A culpa in
abstracto caracteriza-se no momento em que o agente falta com atenção e cautela quando deveria tê-las
empregado na administração de seus atos. Resta configurada a partir de uma análise comparativa da conduta do
agente com a do homem médio, diligens pater familias dos romanos. Na culpa in abstracto avalia-se o dano sob
a ótica da transgressão daquilo que se espera de um padrão normalmente admitido. No direito civil brasileiro,
prevalece o critério da culpa in abstracto, devendo-se aferir o comportamento do agente pelo padrão admitido,
se este transgredir ao normal, poderá surgir o dever indenizatório. A culpa in concreto era apreciada de acordo
com as circunstâncias de cada caso, como na hipótese de culpa grave.
201
Ibidem, p. 20.
202
FERNANDES, Ernesto; RÊGO, Anibal. História do Direito Português: súmula das lições proferidas pelo
Excelentíssimo Professor Doutor Marcelo Caetano. Lisboa, Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa,
1941, p. 21. Disponível em: <http://www.fd.unl.pt/anexos/investigacao/3597.pdf>. Acesso em: 25 mar. 16.
203
Idem Ibidem, p. 26.
204
Idem Ibidem, p. 21.
84
Em 711, ocorre a invasão e domínio muçulmano com ideais islâmicos e sob a égide do
alcorão. Desta sorte, a sociedade religiosa é simultaneamente uma sociedade política, um
Estado universal, nesse contexto elucida Caetano:
205
FERNANDES, Ernesto; RÊGO, Anibal. História do Direito Português: súmula das lições proferidas pelo
Excelentíssimo Professor Doutor Marcelo Caetano. Lisboa, Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa,
1941, p. 62. Disponível em: <http://www.fd.unl.pt/anexos/investigacao/3597.pdf>. Acesso em: 25 mar. 16.
206
Idem Ibidem, p. 66.
207
Idem Ibidem, p. 131.
208
PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Tratado de direito privado. Rio de Janeiro: Borsoi. 1962,
v. 53, p. 366.
85
grupo, da coletividade, família e nação mantendo-se ainda, contudo, o humano como valor
maior.209
Nesse contexto de mudança de paradigma legal, o Código Civil Português de 1966,
influenciado pelo Código Alemão de 1900 e buscando atender à nova ordem no que tange à
responsabilidade civil, dispunha, em seu artigo 483210, que somente existiria a obrigação de
indenizar, independente de culpa, estritamente em determinados casos previstos em lei.211
Embora o novo Código não trouxesse expressamente garantida a proteção abrangida
pela responsabilidade objetiva, observa-se que, como dispõe Varela, a legislação cumpre seu
papel e visa refletir a tendência social do direito moderno, conciliando o respeito que a lei
deve à liberdade individual com as supremas exigências de uma ordem fundada na Justiça e
na reta convivência entre os homens, harmonizando os benefícios da iniciativa privada com os
deveres de solidariedade impostos pelo bem comum, pela paz social e pela segurança do
direito.212
Entende-se assim dever jurídico como toda e qualquer conduta determinada em lei.
Lei no sentido latu sensu, apresentada como regra, norma ou conjunto de normas.
Nas palavras de Cavalieri Filho, a violação de um dever jurídico originário configura
um ilícito civil que, quase sempre, gera um prejuízo a alguém, decorrendo daí um novo dever
jurídico, o de reparar o dano. Desta forma, a responsabilidade civil é um dever jurídico
sucessivo que surge para recompor o dano decorrente da violação de um dever jurídico
originário.216
Diniz dispõe que a responsabilidade civil nada mais é que a aplicação de medidas que
obriguem alguém a reparar dano moral e/ou patrimonial causado a terceiro em razão de ato do
próprio imputado, de pessoa por que ele responde, ou de fato de coisa ou animal sob sua
guarda, ou, ainda, de simples imposição legal.217
Ao se esboçar sobre a definição do instituto da responsabilidade civil, imprescindível e
oportuno torna-se abordar as espécies de responsabilidade abarcadas pela legislação, quais
sejam: as responsabilidades civil e penal, contratual e extracontratual e subjetiva e objetiva,
que além de possuírem atuação diversa estão positivadas também de maneira peculiar e serão
a partir de agora objeto de análise.
214
THOMAZ, Sandra Regina. Normas e princípios aplicáveis ao contrato internacional de trabalho. 30 ago.
13. 105 f. Dissertação de Mestrado – Pontifícia Universidade Católica. São Paulo. 30 ago. 13. Acesso em: 08
mar. 16. Disponível em: <http://www.sapientia.pucsp.br/tde_arquivos/9/TDE-2013-11-25T12:08:33Z-
14364/Publico/Sandra%20Regina%20Thomaz.pdf>.
215
BEVILÁQUA, Clóvis apud MICHAELIS, Dicionário de Português Online. São Paulo: Melhoramentos,
2009. Disponível em: <michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-
portugues&palavra=culpa>. Acesso em: 20 fev 2016.
216
CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2009, p. 02.
217
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 23. ed. São Paulo: Saraiva,
2009. Vol. 7, p. 200.
87
Tanto a doutrina como a jurisprudência nacional dispõem que não são passíveis de
reparação todos e quaisquer atos, mas somente aqueles que causarem danos a terceiros.
Assim, nas palavras de Venosa, somente haverá o dever de indenizar mediante uma conduta
antijurídica, elencando que o agente responsável deve ter praticado uma conduta contra o
Direito contratual ou Direito latu sensu:
Explicita Gonçalves que a Lex Aquilia começou a fazer uma sutil distinção entre
responsabilidade civil e penal e que, embora a responsabilidade continuasse sendo penal, a
indenização pecuniária passou a ser a única forma de sanção nos casos de condutas lesivas
não criminosas.219
Nesse sentido Gonçalves elucida que, inicialmente a reparação estava condicionada à
condenação criminal e apenas posteriormente, adotou-se o princípio de independência entre a
jurisdição civil e a criminal.220
A respeito da responsabilidade civil e penal dispõe Dias que, para efeito de punição ou
de reparação, isto é, aplicar uma ou outra forma de restauração da ordem social é que se
distinguem tais espécies. A sociedade toma à sua conta aquilo que a atinge diretamente,
deixando ao particular a ação para se restabelecer à custa do ofensor no statu quo anterior à
ofensa. Não porque não se impressione com ele, mas porque o Estado ainda mantém um
regime político que explica a sua não intervenção. Restabelecida a vítima na situação anterior,
está desfeito o desequilíbrio experimentado.221
Exemplifica Gonçalves que quando ocorre uma colisão entre veículos automotores, o
fato pode acarretar a responsabilidade civil do culpado, que será obrigado a pagar as despesas
com o conserto do outro veículo e todos os danos causados. Mas poderá acarretar, ainda, a
responsabilidade penal, se causou ferimentos em alguém configurando os crimes dos artigos
218
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos. 5. ed. São
Paulo: Atlas, 2005. Vol. 2, p. 508.
219
GONÇALVES, Luiz da Cunha. Tratado de direito civil em comentário ao Código Civil Português v. XII t.
II. 2. ed. atual. aum. e 1ª edição Brasileira. São Paulo: Max Limonad, 1957, p. 456.
220
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 5. ed. v. 4. São Paulo:
Saraiva. 2010, p. 41.
221
DIAS, José de Aguiar. Da responsabilidade civil. 10. ed. Rio de Janeiro, Forense, 1997, p. 08.
88
129, §6º ou, artigo 121, §3º do Código Penal. Isto significa que uma ação ou omissão pode
acarretar a responsabilidade civil do agente, ou a responsabilidade penal, ou ambas as
responsabilidades.222
Na responsabilidade civil, o interesse diretamente lesado é o privado. O prejudicado
poderá pleitear ou não a reparação, trata-se de um direito disponível, balizado na autonomia
da vontade. No caso da responsabilidade penal, o agente infringe uma norma de direito
público. O interesse lesado é o da sociedade, trata-se, inclusive, de direito indisponível. A
responsabilidade penal é pessoal e intransferível, respondendo o réu com a sua privação de
liberdade, por isso, o Estado deve estar cercado de todas as suas garantias, cabendo-lhe
reprimir o crime e arcar com o ônus da prova.223
Quando coincide a responsabilidade penal e a responsabilidade civil proporcionam as
respectivas ações, isto é, as formas de se fazerem efetivas: uma exercível pela sociedade;
outra, pela vítima; uma tendente à punição; outra, à reparação. A ação civil aí sofre, em larga
proporção, a influência da ação penal. Na esfera civil, a regra actori incumbit probatio,
aplicada à generalidade dos casos, sofre hoje muitas exceções, não sendo tão rigorosa como
no processo penal. Na responsabilidade civil não é o réu, mas a vítima que, em muitos casos,
tem de enfrentar entidades poderosas como as empresas multinacionais e o próprio Estado.
Por isso, mecanismos de ordem legal e jurisprudencial têm sido desenvolvidos para cercá-la
de todas as garantias e possibilitar-lhes a obtenção de ressarcimento do dano.224
A responsabilidade disposta no Código Civil é aquela que sobrevém de um ilícito
praticado por determinada pessoa, que por meio de uma ação; omissão voluntária; negligência
ou imperícia, ou cometido pelo titular de direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os
limites impostos pela razoabilidade, boa fé ou bons costumes que consiste na violação de
direito alheio e resulta em prejuízo, enquanto que, na esfera penal, é necessário que haja uma
perfeita adequação do fato concreto ao tipo penal, tendo em vista que a tipicidade é um dos
requisitos genéricos do crime.225
Assim certos fatos põem em ação somente o mecanismo recuperatório da
responsabilidade civil; outros movimentam tão somente o sistema repressivo ou preventivo da
responsabilidade penal; outros, enfim, acarretam, há um tempo a responsabilidade civil e a
penal, pelo fato de apresentarem, em relação a ambos os campos de incidência equivalente,
222
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 5. ed. v. 4. São Paulo:
Saraiva. 2010, p. 42.
223
SILVA, Wilson Melo da. Da responsabilidade civil automobilística. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 1980. p. 36.
224
DIAS, José de Aguiar. Da responsabilidade civil. Rio de Janeiro, Forense, 1997, 10. ed. v. 1, p. 10.
225
RODRIGUES, Silvio. Direito civil: responsabilidade civil. 19. ed. 4. v. São Paulo: Saraiva. 2002, p. 10.
89
226
DIAS, José de Aguiar. Da responsabilidade civil. 10. ed. 1. v. Rio de Janeiro, Forense, 1997, p. 08.
227
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 5. ed. v. 4. São Paulo:
Saraiva. 2010, p. 44.
228
Segue o teor dos artigos que disciplinam a responsabilidade extracontratual: Art. 186. Aquele que, por ação
ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito; Art. 188. Não constituem atos ilícitos: I - os praticados em legítima
defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido; II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a
lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente. Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo
somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do
indispensável para a remoção do perigo. Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a
outrem, fica obrigado a repará-lo; e seguintes. Quanto à responsabilidade contratual, eis o teor dos dispositivos
legais que a disciplina: Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e
atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado. Art. 390.
Nas obrigações negativas o devedor é havido por inadimplente desde o dia em que executou o ato de que se
devia abster. Art. 391. Pelo inadimplemento das obrigações respondem todos os bens do devedor. Art. 392. Nos
contratos benéficos, responde por simples culpa o contratante, a quem o contrato aproveite, e por dolo aquele a
quem não favoreça. Nos contratos onerosos, responde cada uma das partes por culpa, salvo as exceções previstas
em lei. Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se
expressamente não se houver por eles responsabilizado. Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior
verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir. Art. 394. Considera-se em mora o
devedor que não efetuar o pagamento e o credor que não quiser recebê-lo no tempo, lugar e forma que a lei ou a
convenção estabelecer. Art. 395. Responde o devedor pelos prejuízos a que sua mora der causa, mais juros,
atualização dos valores monetários segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de
advogado. Parágrafo único. Se a prestação, devido à mora, se tornar inútil ao credor, este poderá enjeitá-la, e
exigir a satisfação das perdas e danos.
90
229
VARELA, João de Matos Antunes. Direito das obrigações: conceito, estrutura e função da relação
obrigacional; fontes das obrigações e modalidades das obrigações. Rio de Janeiro: Forense, 1977, p. 10.
230
DIAS, José de Aguiar. Da responsabilidade civil. 10. ed. v. 1, Rio de Janeiro, Forense, 1997, p. 124.
231
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade civil: de acordo com Constituição Federal de 1988. 2. ed.
Rio de Janeiro, Forense, 1990, p. 77.
232
BRASIL. Lei nº 3.071/16. Promulga o Código Civil dos Estados Unidos do Brasil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L3071.htm>. Acesso em 13 jan. 2016. Eis o teor dos artigos: Art.
1.527. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar: I. Que o guardava e
vigiava com o cuidado preciso; II. Que o animal foi provocado por outro.
III. Que houve imprudência do ofendido; IV. que o fato resultou de caso fortuito, ou força maior; Art. 1.528. O
dono do edifício ou construção responde pelos danos que resultarem de sua ruína, se esta provier de falta de
reparos, cuja necessidade fosse manifesta. Art. 1.529. Aquele que habitar uma casa, ou parte dela responde, pelo
dano proveniente das coisas, que dela caírem ou forem lançadas em lugar indevido.
91
e a culpa, onde se pode revelar uma intensidade descrente de reprovação, ocorre que, a teoria
subjetiva adota o princípio da culpa como fundamento da responsabilidade, em contrapartida
a teoria objetiva, também conhecida como teoria da causalidade, a exclui, assim não havendo
culpa na modalidade subjetiva, não há que se arbitrar responsabilidade.233
A lei impõe, entretanto, a determinadas pessoas em situações específicas, a reparação
de um dano cometido independente de culpa, trata-se da denominada responsabilidade legal.
A responsabilidade nessa modalidade é analisada sob o viés objetivo, tornando-se
desnecessária a averiguação da ocorrência de culpa, pois não se leva em consideração, o
comportamento doloso ou culposo do agente concretizando-se apenas, com o dano e o nexo
de causalidade.234
Essas obrigações de reparar o dano causado por atividades não culposas interessam,
especialmente, a essa teoria da responsabilidade objetiva, visto que, essas obrigações, que
nascem sem ter a culpa como elemento integrador, ocorrem pela ausência da ideia de
confiança, solidariedade social, assistência e garantia que são de todo diferentes. Não se exige
a prova de culpa do agente pois em alguns casos ela é presumida em lei e em outros porque é
absolutamente dispensável.235
Dispõe Rodrigues que, em casos de culpa presumida, ocorrerá a inversão do ônus da
prova, cabendo ao autor provar somente a ação ou omissão e o dano resultante da conduta do
réu, visto que, sua culpa já é presumida. Assim atua culposamente aquele que causa prejuízo a
terceiro em virtude de sua imprudência, imperícia ou negligência, existindo, assim, infração
ao dever preexistente de atuar com prudência e diligência na vida social, surgindo a obrigação
de reparar o prejuízo causado a uma pessoa, por fato próprio, ou por fato de pessoas ou coisas
que dela dependam elucida, ainda, que vocábulo coisa pode ser interpretado extensivamente
abrangendo situações que envolvam semoventes.236
Explicita Nery que no Código de Defesa do Consumidor o caráter objetivo da
responsabilidade do fornecedor emana do texto do art. 6º, inciso IV, quando se exige que haja
o dever de indenizar, a ocorrência de dolo ou culpa do fornecedor, observa-se desta feita que,
233
CAMPOS, Maria Luiza de Saboia. Publicidade: responsabilidade civil perante o consumidor. São Paulo:
Cultura Paulista, 1996 , p. 18.
234
LOPES, João Batista. Perspectivas atuais da responsabilidade civil. RJTJSP, volume 57/14.
235
STARCK, Boris. Domaine et fondement de la responsabilité sans faute. Revue Trimes-trielle de Droit Civil,
Paris, Sireym 1958, t. 56, p. 476.
236
RODRIGUES, Silvio. Direito civil: parte geral. 34. ed. 1. v. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 311.
92
independente de qualquer que seja a natureza e origem dos danos causados ao consumidor,
serão indenizáveis a título objetivo.237
Observa-se, assim, que a legislação consumerista não adota a bipartição da
responsabilidade civil em contratual e extracontratual, primeiro devido a sua dificuldade na
caracterização, depois porque é fundada na aferição de culpa. Optou por abandonar a
responsabilidade extracontratual e a subsunção da conduta à culpa, para acolher a teoria do
contrato social direto entre qualquer partícipe da corrente de fornecimento de produtos e/ou
serviços e o consumidor.238
Angariando cada vez mais seguidores, a denominada teoria do risco cobre muitas
hipóteses em que o apelo às concepções tradicionais, da teoria da culpa, revela-se insuficiente
para a proteção da vítima. Essa teoria procura justificar a responsabilidade objetiva
explicitando que toda e qualquer pessoa que exerça uma atividade cria um risco a terceiro e
tem o dever legal de repará-lo, tal posicionamento confirma que responsabilidade da empresa
tem caráter objetivo, temática que será desenvolvida no tópico seguinte.
Como visto, hodiernamente, sequer a legislação ou a doutrina consumerista
condicionam a culpa aos pressupostos necessários para configurar o dever de indenizar. Desta
feita, necessário analisar a responsabilidade objetiva do fornecedor e seu dever de indenizar,
no que se refere à publicidade, encargo que se fará, posteriormente, sendo necessário
inicialmente abordar os aspectos doutrinários que envolvem a responsabilidade objetiva.
237
NERY JUNIOR, Nelson. Aspectos do processo civil no código de defesa do consumidor: revista de direito
do consumidor. v. 1, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1992, p. 212.
238
FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Manual de direito comercial. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2005, p. 597.
93
de risco como substituto do de culpa, e estabelece que aquele que cria o risco
e produz perturbações nas relações normais de direito deve arcar com as
consequências advindas em caso de dano.239
239
CAMPOS, Maria Luiza de Saboia. Publicidade: responsabilidade civil perante o consumidor. São Paulo:
Cultura Paulista, 1996, p. 118.
240
Mantiveram-se ainda, no Código Napoleônico, alguns resquícios do sistema responsabilidade que,
tipicamente, independe de culpa. É o caso da responsabilidade por atos de terceiros, quais sejam: pais,
empregadores, donos de animais e por fato da coisa. Desse modo, no século XIX vislumbrou-se determinadas
situações, que a responsabilidade civil prescinde do elemento culpa, fundando-se no dever geral de
guarda/vigilância. No Brasil, o primeiro diploma a tratar da responsabilidade objetiva é o Decreto nº 2.681/1912,
sobre a responsabilidade das empresas operadoras de estradas férreas com relação a danos causados aos
proprietários das áreas marginais. LIMA, Alvino. Da culpa ao risco. São Paulo: Revistas dos tribunais, 1938, p.
50.
241
BRIZ, Jaime dos Santos. La responsabilidad civil; derecho substantivo e derecho procesal. 3. ed. Madri:
Editora Montecorvo, 1981, p. 10.
242
NERY JÚNIOR, Nelson. Novo código civil e legislação extravagante anotados. São Paulo: Revistas dos
Tribunais, 2002, p. 725.
243
Eis seu teor: ressalvados outros casos previstos em lei especial, os empresários individuais e as empresas
respondem independentemente de culpa pelos danos causados pelos produtos postos em circulação.
94
244
DIREITO, Carlos Alberto Menezes; CAVALIERI FILHO, Sérgio Cavalieri. Comentários ao novo código
civil. v. XIII. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 182.
245
DIAS, José de Aguiar. Da responsabilidade civil. Rio de Janeiro, Forense, 1997, 10. ed. v. 1, p. 33.
246
BENJAMIN, Antônio Hernan V; MARQUES, Cláudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito
do consumidor. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014, p. 345.
247
CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 1999, p. 49.
248
CAMPOS, Maria Luiza de Saboia. Publicidade: responsabilidade civil perante o consumidor. São Paulo:
Cultura Paulista, 1996, p. 115.
95
o vendedor/comerciante, mas não contra o fabricante, com quem não tinha nenhuma relação
contratual, a mesma situação aplicava-se aos terceiros. Apenas em 1960 a jurisprudência
norte-americana defende a noção de responsabilidade objetiva do fornecedor inclusive perante
terceiros. A teoria propôs uma equiparação do fabricante ao vendedor, a quem é imputado um
dever geral de diligência, considerados os usos previsíveis de um produto e os riscos
esperados. É uma doutrina voltada tanto à reparação do dano quanto à adequação de um
padrão de conduta no mercado.249
Quanto ao risco propriamente dito, pode-se analisá-lo de forma concisa como: “a
somatória de probabilidades de ocorrência de situações potencialmente perigosas”. Ocorre
que, em sendo assim, demonstra-se insuficiente definir somente o risco de maneira isolada,
pois como já analisado anteriormente, a culpa tem papel de extrema relevância e, em virtude
disso, necessário foi desenvolver duas teorias com o objetivo de melhor classificar a
responsabilidade civil, a teoria do risco e a da garantia.250
A teoria do risco fundamenta-se na responsabilidade pela qual deve responder quem
causa dano a outrem no desenvolver de uma atividade da qual tire proveito ou lhe gere lucro.
Gonçalves explicita que essa teoria consolidou-se quando o direito francês acabou por
admitir, na responsabilidade complexa por fato das coisas, a chamada teoria da culpa na
guarda, a qual antes admitia a presunção juris tantum, (que admite prova em contrário), de
culpa por parte do agente e passou a aceitar a presunção juris et de jure (presunção absoluta,
não admitindo prova em contrário).251
Enfatiza-se, contudo, que existem determinadas situações cuja obrigação de indenizar
pode nascer de fatos permitidos por lei e não abrangidos pelo risco, como os atos praticados
em estado de necessidade, que mesmo considerados lícitos pelo artigo 188, inciso II do
Código Civil, obrigam seu autor a indenizar o dono da coisa, igualmente destacam-se as
atividades de consumo que não podem ser consideradas em sua universalidade como
atividades de risco e que nem por isso, a responsabilidade deixa de ser objetiva.
249
SANSEVERINO, Paulo de Tarso Vieira. Responsabilidade civil no código do consumidor e a defesa do
fornecedor. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 16
250
CHEVITARESE, Leandro; PEDRO, Rosa Maria. Risco poder de tecnologia: as virtualidades de uma
subjetividade pós-humana. Anais do seminário internacional de inclusão social e as perspectivas pós-
estruturalistas de análise social. Recife: CD-ROM, 2015, p. 8. Disponível em:
<http://brasil.campusvirtualsp.org/sites/default/files/Chevitarese.pdf > Acesso em: 20 mar. 2016.
251
GONÇALVES, Carlos Roberto. Comentários ao código civil. São Paulo: Saraiva. 2003, p. 308.
96
252
OROZIMBO, Nonato. Aspectos do modernismo jurídico e o elemento moral na culpa objectiva. Rio de
Janeiro: Revista Forense, n. 56. 1931, p. 15.
253
STARCK, Boris apud PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade civil: de acordo com Constituição
Federal de 1988. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1990, p. 282.
254
CAMPOS, Maria Luiza de Saboia. Publicidade: responsabilidade civil perante o consumidor. São Paulo:
Cultura Paulista, 1996 , p. 120.
97
espécie e dos menores de idade, explicitando que eles não tiram lucro, proveito econômico de
sua atividade danosa.255
Em contrapartida, outra parte da doutrina defende que há condições taxativas para
ausência da averiguação de culpa em casos específicos como a responsabilidade objetiva dos
pais pelos atos danosos de seus filhos menores; na responsabilidade objetiva da empresa nos
atos de seus empregados; na responsabilidade advinda de contrato de seguro, entre outras
limitadas em virtude da atuação humana. Contudo, uníssono demonstra ser a responsabilidade
objetiva da empresa no dever de indenizar sob o aspecto da legislação consumerista, aspecto
que acabou por influenciar também a legislação cível que foi promulgada posteriormente.
Em outro viés e, em contraponto às demais modalidades, a responsabilidade pela perda
de uma chance aponta para uma nova perspectiva da responsabilidade civil, visto que não há
em nosso ordenamento qualquer positivação normativa específica que abarque a
probabilidade de uma evidência, contudo, a doutrina e os tribunais pátrios têm demonstrado
considerável empatia com a teoria à luz do direito comparado.
Dispõe Savi que, na França na década de 1960, doutrina e jurisprudência passaram a
examinar com mais afinco a possibilidade de mensurar e quantificar, mediante estatísticas, as
expectativas de uma certeza. Vislumbrou-se a probabilidade de indenização de um dano
diverso daquele auferido como resultado final, ou seja, a perda da chance. Para os franceses, a
definição do conceito chance juridicamente, é a perspectiva de obter um lucro ou evitar uma
perda, justificando assim, a nomenclatura dada à teoria.256
Cavalieri Filho elucida que a teoria da perda de uma chance, perte d'une chance, deve
ser aplicada a casos concretos determinados. Àqueles que algum ato ilícito obstaculizou a
pretensão de uma certeza do requerente:
[...] deve ser aplicada nos casos em que o ato ilícito tira da vítima a
oportunidade de obter uma situação futura melhor, como prosseguir na
carreira artística ou no trabalho, arrumar um novo emprego, dentre outras.
Entretanto é necessário que se trate de uma chance real e séria, que
proporcione ao lesado efetivas condições pessoais de concorrer à situação
futura esperada.257
255
STARCK, Boris. Domaine et fondament de la responsabilité sans faute. Revue Trimes-trielle de Droit
Civil. Paris: Sirey, 1958, n. 56, p. 478.
256
SAVI, Sérgio. Responsabilidade civil pela perda de uma chance. São Paulo: Atlas, 2006. p. 3.
257
CAVALIERI FILHO, Sérgio. Responsabilidade civil. 4. ed. São Paulo: Ed. Malheiros. 2005. p. 91/92.
98
258
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 265.
259
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho. 5ª Região. Recurso ordinário nº 7330720135050014-BA.
Relatora: Léa Nunes, 3ª. Turma. Data de Publicação: DJ 05 dez 2014. Disponível em: <http://trt-
5.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/158336450/recurso-ordinario-record-7330720135050014-ba-0000733-
0720135050014> Acesso em: 26 mai 2016.
99
260
BRASIL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Apelação Cível n. 70037261146-RS. Relator: Artur
Arnildo Ludwig. 6ª Câmara Cível. Data do Julgamento: 25/08/2011. Data da Publicação: DJ 05 set 2011.
Disponível em:<tj-rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/21346666/apelacao-civel-ac-70046823233-rs-tjrs>. Acesso
em 25 mai 2016.
261
SAVI, Sérgio. Responsabilidade civil pela perda de uma chance. São Paulo: Atlas, 2006. p. 54.
100
concorreram para o seu advento e não seria justo que só uma arcasse com ele na
integralidade.262
Convergente a tal entendimento, Gonçalves dispõe que:
262
RODRIGUES, Silvio. Direito civil: parte geral. 34. ed. v. 1. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 315.
263
GONÇALVES, Luiz da Cunha. Tratado de direito civil em comentário ao código civil português. 2. ed.
São Paulo: Max Limonad, 1957, v. XII, t. II, p. 576 e ss.
264
MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil. 7. ed. São Paulo: Saraiva. v. 5, 1971, p. 414.
265
DINIZ. Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria geral das obrigações - de acordo com o novo
Código Civil. v. 2. 19. ed. ver. aum. e atual. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 35.
101
266
FONSECA, Arnoldo Medeiros da. Caso fortuito e teoria da imprevisão. 2. ed. rev. ampl. Rio de Janeiro:
Revista Forense, 1943, p. 147.
267
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil. v. 4, n. 52. São Paulo: Saraiva. 1975, p. 146.
268
BRASIL. Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Apelação Cível n.º 5.481/99 – RJ. Relator: Desembargador
Jorge Luiz Habib, j. 25 mai 1999. Disponível em: <http://tj-
pr.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/21454614/8096139-pr-809613-9-acordao-tjpr/inteiro-teor-21454615>. Acesso
em: 22 mai 16. p. 12.
269
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 5. ed. v. 4. São Paulo:
Saraiva. 2010, p. 213.
102
270
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 5. ed. v. 4. São Paulo:
Saraiva. 2010, p. 233.
271
BRASIL. Superior Tribunal De Justiça. 3ª Turma. Recurso especial nº 120.647-SP. Relator: Ministro
Eduardo Ribeiro, j. 16 mar 2000. DJ, 15 mai 2000, p. 156. Disponível em:
<http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/8291392/recurso-especial-resp-120647-sp-1997-0012374-0>. Acesso
em: 23 mai 2016.
272
FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Manual de direito comercial. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2005, p. 599.
273
BENJAMIN, Antônio Hernan V; MARQUES, Cláudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito
do consumidor. 6. ed. São Paulo. Revista dos Tribunais, 2014, p. 345.
103
274
AGUIAR JÚNIOR, Ruy Rosado de. (Coord.) Jornadas de direito civil I, III, IV e V: enunciados aprovados.
Brasília: 2012. Conselho da Justiça Federal, Centro de Estudos Judiciários. Disponível em:
http://www.cjf.jus.br/cjf/corregedoria-da-justica-federal/centro-de-estudos-judiciarios-1/publicacoes-1/jornadas-
cej/EnunciadosAprovados-Jornadas-1345.pdf.> Acesso em: 03 jun 16.
275
LISBOA, Roberto Senise. Responsabilidade civil nas relações de consumo. São Paulo: Revistas dos
Tribunais. 2001, p. 112.
276
CAMPOS, Maria Luiza de Saboia. Publicidade: responsabilidade civil perante o consumidor. São Paulo:
Cultura Paulista, 1996, p. 225.
105
Dispõe o artigo 4º que a Política Nacional de Relações de Consumo tem por objetivo o
atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, à saúde e à
segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida,
bem como a transparência e harmonia das relações de consumo. Analisando tais diretrizes,
Eros Grau elucida que:
[...] esta norma do art. 4º, realmente não cabe nem no modelo de norma de
conduta, nem no modelo de norma de organização. Porque, na verdade, ela é
uma norma-objetivo. Ela define o fim a ser alcançado. Essas normas que
definem fim – e que eu acho que não são programáticas, são normas de
eficácia total, completa, absoluta, inquestionável, indiscutível – começam a
surgir modernamente.277
277
Eros Grau, em comunicação apresentada no Seminário Internacional de Direito do Consumidor, realizado
na cidade de São Paulo, no período de 24 a 27 de setembro de 1990, citado por Benjamin. GRAU, Eros Roberto.
A Ordem Econômica na Constituição de 1988. 5. ed. São Paulo: Malheiros. 2000, p. 26.
278
DIAS, José de Aguiar. Da responsabilidade civil. Rio de Janeiro, Forense, 1997, 10. ed. v. 1, p. 299.
279
CENEVIVA, Walter. Publicidade e o direito do consumidor. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 1991, p.
105.
280
DIAS, José de Aguiar. Da responsabilidade civil. Rio de Janeiro, Forense, 1997, 10. ed. v. 1, p. 299.
106
281
DIAS, José de Aguiar. Da responsabilidade civil. Rio de Janeiro, Forense, 1997, 10. ed. v. 1, p. 300.
282
COELHO, Fábio Ulhoa. O empresário e o direito do consumidor. São Paulo: Saraiva, 1994, p. 291.
107
283
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso especial n.º 604.172 – SP. Relator: Ministro Humberto
Gomes de Barros, j. 27 mar 2007. DJ, 21 mai 2007, p. 568. Disponível em:
<http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/8932345/recurso-especial-resp-604172-sp-2003-0198665-8/inteiro-
teor-14100155>. Acesso em: 16 abr. 16, p. 07.
284
BENJAMIN, Antônio Hernan V; MARQUES, Cláudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe. Código brasileiro
de defesa do consumidor: comentado pelos autores do anteprojeto. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária,
2007, p. 365.
285
Segue o teor dos dispositivos, o § único do artigo 7º do Código de Defesa do Consumidor, inserido na parte
dos Direitos Básicos do Consumidor, dispõe que tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão
solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de consumo. Já o artigo 25, inserido na seção de
Responsabilidade por Vício do Produto e do Serviço, apresenta redação praticamente idêntica, e prescreve que
havendo mais de um responsável pela causa do dano, todos responderão solidariamente pela reparação prevista
nessa e nas seções anteriores.
286
GUIMARÃES. Paulo Jorge Scartezzini. Publicidade ilícita e a responsabilidade civil das celebridades que
dela participam. 2. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora dos Tribunais, 2007, p. 170.
108
287
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE AGÊNCIAS DE PROPAGANDA (ABAP) apud MALANGA, Eugênio.
Publicidade: uma introdução. 4. ed. São Paulo: Editora Edima, 1987, p. 87.
288
SAMPAIO, Rafael. Propaganda de A a Z. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003, p. 63.
289
DIAS, Lucia Ancona Lopez de Magalhães. Publicidade e direito. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2010,
p. 303.
290
Idem Ibidem, p. 304/305.
109
291
CAMPOS, Maria Luiza de Saboia. Publicidade: responsabilidade civil perante o consumidor. São Paulo:
Cultura Paulista, 1996, p. 289.
292
BRASIL. Tribunal de Justiça de Rondônia. 2ª Vara Cível. Apelação Cível nº 0009341-97.2015.8.22.0014.
Juíza: Sandra Beatriz Merenda. DJ, 24 ago. 2016. Disponível em:
<http://www.jusbrasil.com.br/diarios/documentos/377554966/andamento-do-processo-n-0009341-
9720158220014-procedimento-ordinario-26-08-2016-do-tjro?ref=topic_feed>. Acesso em: 26 ago 2016.
293
FERREIRA, Gezina Nazareth. O Caráter Punitivo do Dano Moral. In: Revista do Curso de Especialização
em Direito do Consumidor e Responsabilidade Civil da EMERJ, n 1. Rio de Janeiro: Escola da Magistratura do
Rio de Janeiro. 2012, p. 14.
110
294
BITTAR FILHO, Carlos Alberto. Dano Moral Coletivo. In: Revista de Direito do Consumidor nº 12. São
Paulo: Revista dos Tribunais, p. 44-62, out-dez. 1994.
111
CONCLUSÃO
de participação para o dano de cada responsável, pois perante o credor responderão por toda a
dívida e, posteriormente, analisada sua participação, poderão promover respectivas ações
regressivas.
Concluiu-se, por fim, que a publicidade é um mundo inteiro a ser percorrido e que a
abordagem levantada nesta pesquisa não tem qualquer pretensão de esgotar o tema, pelo
contrário, em proporções tímidas e despretensiosas, aponta, como perspectiva para o
enfrentamento da problemática publicitária, a implementação da função social da empresa e
da boa-fé objetiva a todos os envolvidos na cadeia produtiva, bem como a todos os sujeitos
publicitários, tendo em vista que no decorrer do estudo foi possível averiguar as mazelas
jurídicas e sociais que uma publicidade enganosa e abusiva podem causar às relações de
consumo e à sociedade como um todo.
Constatou-se que a publicidade, mediante suas técnicas persuasivas, promove discurso
coletivo e que, por isso, sua análise deve ser fundamentada, visto que os efeitos danosos de se
veicular uma publicidade lesiva vão muito além do inter partes, ou seja, dos danos causados
aos envolvidos na relação negocial. A publicidade abusiva e enganosa atinge toda a
coletividade e gera efeito erga omnes, por isso a necessidade de arbitrar responsabilidade civil
solidária a todos os sujeitos publicitários, a fim de dar mais efetividade à legislação já vigente,
promovendo o objetivo primário da legislação consumerista, a proteção do consumidor
vulnerável e, como consequência, alcançando um escopo secundário, primar pelas relações de
consumo, objetivando que se tornem mais equitativas e justas a todos os nelas inseridos.
115
REFERÊNCIAS
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civil e nas deliberações sociais. Coimbra: Almedina, 2006.
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117
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0198665-8/inteiro-teor-14100155>. Acesso em: 16 abr. 16.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso especial n.º 691.738 – SC. Relator: Ministra
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