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Artigo

Luzes Vivas na Escuridão: Fatos e Casos


Bechara, E. J. H;* Viviani, V. R.
Rev. Virtual Quim., 2015, 7 (1), 3-40. Data de publicação na Web: 25 de outubro de 2014
http://www.uff.br/rvq

Living Light in the Darkness: Facts and Stories


Abstract: This article concerns the public dissemination of various aspects of the
biology, chemistry, ecology and technology of three families of bioluminescent insects
of the order Coleoptera, commonly named beetles: Lampyridae, fireflies; Elateridae,
click-beetles; and Phengodidae, railroad worms. We embrace here their occurrence in
theà B azilia à e ados ,à fieldà ehavio à a dà la o ato à o se vatio s,à he i alà
mechanisms of color modulation, the cooperation between Luciferase and superoxide
dismutase to regulate the redox balance, the biotechnology of Luciferases, and the
ag ifi e tàa dàu i ueàspe ta leàofàtheà lu i ousàte iteà ou ds .
Keywords: Bioluminescence; Coleoptera; luciferase.

Resumo
Este artigo visa à divulgação pública de vários aspectos da biologia, química, ecologia e
tecnologia de insetos bioluminescentes pertencentes a três famílias da ordem
Coleoptera, popularmente conhecidos como besouros: Lampyridae, vagalumes;
Elate idae,àpi ila pos;àeàPhe godidae,à t e zi hos .àOàa tigoàa o daàpa ti ula e teà
sua ocorrência nos cerrados brasileiros, observações de seu comportamento em
campo e laboratório, os mecanismos químicos de modulação da cor, a cooperação
entre Luciferase e superóxido dismutase para regular o balanço redox, a biotecnologia
das Luciferases eàoà ag ífi oàeàe lusivoàespet uloàdosà upi zei osàlu i osos .
Palavras-chave: Bioluminescência; Coleópteros; Luciferase.

* Universidade de São Paulo, Departamento de Química Fundamental, Instituto de Química,


CEP 05588-900 São Paulo-SP, Brasil.
ejhbechara@gmail.com
DOI: 10.5935/1984-6835.20150002

Rev. Virtual Quim. |Vol 7| |No. 1| |3-40| 3


Volume 7, Número 1 Janeiro-Fevereiro 2015

Revista Virtual de Química


ISSN 1984-6835

Luzes Vivas na Escuridão: Fatos e Casos


Etelvino J. H. Bechara,a,* Vadim R. Vivianib
a
Universidade de São Paulo, Departamento de Química Fundamental, Instituto de Química,
CEP 05588-900 São Paulo-SP, Brasil.
b
Universidade Federal de São Carlos, Campus Sorocaba, Departamento de Física, Química e
Matemática, CEP 18052-780, Sorocaba-SP, Brasil.
* ejhbechara@gmail.com

Recebido em 25 de outubro de 2014. Aceito para publicação em 25 de outubro de 2014

1. Introdução à bioluminescência
2. Funções biológicas e cores da bioluminescência
3. Diversidade química das luciferinas
4. O sistema luciferina/luciferase e mecanismo da reação da bioluminescência de
coleópteros luminescentes
5. Ligases versus luciferases: Uma proposta para a evolução da bioluminescência
6. Comunicação sexual nos coleópteros luminescentes
7. Quanto oxigênio é consumido para emissão de flashes?
8. A bioluminescência funciona como mecanismo auxiliar na desintoxicação do
oxigênio?
9. Os cupinzeiros luminosos do cerrado
10. Coleta, criação e descrição de espécies de insetos luminescentes
11. Aplicações tecnológicas da bioluminescência
12. E o futuro da pesquisa da bioluminescência de insetos no Brasil?

1. Introdução à bioluminescência noites escuras de lua nova, longe de


lâmpadas e lampiões acesos, encantando e
despertando muitas perguntas de crianças e
Nas noites úmidas e quentes de zonas adultos: Como se explica uma luz tão forte
tropicais e temperadas, miríades de besouros que não queima como o fogo? Por quê estes
luminosos povoam matas e charcos numa insetos emitem luz? Pode-se tirar algum
busca frenética pelo parceiro sexual para proveito do estudo deste fenômeno?
reprodução. É o voo nupcial dos vagalumes e O contraste entre luz – alusiva ao bem,
pirilampos, nitidamente perceptível nas conhecimento, verdade, santidade e vida - e

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a escuridão - sugestiva do mal, ignorância, Bioluminescência de cor azul por insetos é


medo, pecado e morte -, atiça a superstição e emitida apenas por larvas de moscas de
religiões dos povos desde tempos dípteros que habitam o teto de cavernas da
imemoriais.1 Não por outro motivo, o Sol foi Nova Zelândia e Austrália (Arachnocampa
erigido como o Deus supremo de povos spp, 480 nm) e barrancos dos Montes
antigos avançados como os egípcios, incas, Apalaches dos Estados Unidos da América
astecas e maias. Os vagalumes (fireflies) e (Orfelia, 460 nm).3 Não surpreende que luzes
suas larvas (glow worms) – aàluzà oàes u o à- tão vivas e coloridas, percorrendo todo o
são registrados nos escritos venerados dos espectro visível, tenham inspirado poetas,
indianos e chineses desde 1500-1000 AC, mas romancistas, pintores e músicos. Cassiano
estão ausentes na Bíblia, no Alcorão e no Ricardo, por exemplo, enaltece a luz intensa
Talmud, os livros sagrados dos povos do dos pirilampos em seu conto A Lanterna
Oriente Médio, essencialmente desérticos.1 Mágica, ao colocar na mão do Saci uma
Água e umidade - este é o primeiro requisito lanterninha de pirilampos para ele procurar o
de habitat para os insetos luminescentes. No sol da Terra, à noite, numa mata escura. A
Brasil, as primeiras referências a insetos propósito, uma caixa transparente com mais
luminosos aparecem na carta do colono de vinte pirilampos é capaz de iluminar toda
português Gabriel de Souza (1587) a D. Felipe uma sala.
II, rei de Portugal e Espanha, em que o
"... o próprio Curupira ficou com pena (do
primeiro trecho refere-seà aà vagalu es à
Saci) e lhe arranjou uma lanterna de
(lampirídeos) e o segundo, provavelmente a
pirilampos. Vá por aqui, direitinho, com esta
t e zi hos à fe godídeos :2
lanterna na mão, alumiando o caminho... e
Na Bahia se ia u s i hos, a ue os você encontrará o que procura! E ele saiu
índios chamam mamoás, aos quais chamam pelo sertão, procurando o Sol da Terra com
em Portugal lucernas, e outros cagalumes, uma lanterna de pirilampos na mão."
que andam em noites escuras, assim em
E Graça Aranha, impressionado pela
Portugal como na Bahia, em cujos matos os
variedade de cores emitidas por insetos
há muito grandes; os quais entram de noite
luminosos, descreve em Canaã:
nas casas às escuras, onde parecem candeias
muito claras, porque alumiam uma casa Os primeiros vaga-lumes começavam no
tôda... bojo da mata a correr suas lanternas divinas.
No alto, as estrelas miúdas e sucessivas
Ta se ia out os i hos a Bahia
principiavam também a iluminar... E os
muito estranhos, a que os índios chamam
pirilampos se incrustavam nas folhas, aqui, ali
buijejas, que são do tamanho de uma lagarta
e, além, mesclados com os pontos escuros,
de fogo ... Tem esse bicho uma natureza tão
cintilavam esmeraldas, safiras, rubis,
estranha que parece encantamento, e
ametistas e as mais pedras que guardam
tomando-o na mão parece um rubim, mui
parcelas das cores divi as e te as.
resplandecente, e se o fazem em pedaços, se
to a logo a ju ta e a da o o da tes... A esta altura, podemos nomear e
descrever com maior precisão as principais
É notável a impressão realçada na
famílias destes besouros luminosos. Eles
literatura mundial sobre a alta intensidade
estão classificados em três famílias principais
da luz emitida por estes insetos, a ponto de
(Figura 1):3-6 (i) Os vagalumes ou lampirídeos
alguns deles – os pirilampos (elaterídeos) –,
(Lampyridae), com uma ou mais lanternas no
permitirem a leitura de um texto, trabalhos
lado ventral do abdômen, as quais emitem
manuais ou uso como adereços. Outra
flashes de luz com duração de frações de
característica - a variedade de cores da luz-,
segundos e cores variando entre o verde-
do verde (538 nm) ao vermelho mais puro
amarelado ao amarelo (picos de emissão
(620 nm), passando pelo amarelo e o
entre 550 e 580 nm); (ii) Os pirilampos ou
alaranjado, também é ressaltada em muitos
elaterídeos (Elateridae), com um par de
textos literários e científicos.3

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lanternas no segmento distal-dorsal do lanterna cefálica de cor verde (Phengodes) ao


protórax (confundidos frequentemente com vermelho (Phrixothrix) - tal qual rubis, as
olhos), emissoras de luz verde (525-560 nm) uijejas àdoàGa ielàdeà“ouza? - e onze pares
quando caminhando, e uma lanterna amarela de lanternas lateralmente dispostas ao longo
ou alaranjada (560-585 nm) exposta durante do abdômen de cores verde, verde-
o voo, localizada ventralmente entre o amarelado, amarelo ou laranja, dependendo
mesotórax e o abdômen; e, (iii) Os trenzinhos da espécie. Os fengodídeos e alguns peixes
ou fengodídeos (Phengodidae), cujos machos das regiões abissais do mar (e.g., os peixes-
alados, com antenas flabeladas e élitros, dragão Malacosteus, Aristostomias e
apresentam lanternas dorsais de cor variada Pachystomias; emissões de cor azul e
entre o verde ao alaranjado, e cujas larvas e vermelha 705 nm) são os únicos seres
fêmeas, ápteras e larviformes, têm uma luminescentes que emitem luz vermelha.7

Figura 1. Exemplares das três principais famílias de coleópteros luminescentes: Lampyridae


(Macrolampis sp.) (A), Elateridae (Pyrophorus sp.) (B) e Phengodidae (Brasilocerus sp.) (C),
larva e adulto macho não identificado). Fotos: Vadim Viviani (UFSCar) e Sérgio Vanin (IBUSP)

Todos os besouros são insetos espécies), nem todas luminescentes; e 5%


holometábolas, isto é, têm metamorfose dos trenzinhos (19 espécies), ampliada
completa, definida pelas fases de ovo, larva, posteriormente para 30% (50 espécies) por
pupa e adulto e emitem luz ao longo de todo Wittmer9 e enriquecida recentemente por
seu ciclo de vida. Segundo Costa,8 o Brasil Viviani e Bechara10 (Tabela 1). Estima-se que
possui cerca de 350 espécies de vagalumes, as populações de elaterideos e fengodideos
representando 18% das espécies descritas no no Brasil devam representar no conjunto
planeta, cerca de 6% dos pirilampos (590 acima de 20% das espécies já descritas.

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Tabela 1. Distribuição de coleópteros bioluminescentes no Brasil e no mundo.8 *Segundo


Wittmer (1997).9 Nota: O número de elaterídeos inclui espécies não luminescentes
Brasil Mundo
Famílias
Gêneros Espécies Gêneros Espécies
Elateridae
81 590 (6%) 414 9.300
(pirilampos)
Lampyridae
31 350 (18%) 100 2.000
(vagalumes)
Phengodidae 19 (49)*
- 35 200 (170)*
(trenzinhos) (30%)

2. Funções biológicas e cores da bioluminescência, denominada


iofotog ese à oà s uloà XVII.à Esteà liv oà
bioluminescência abrange bactérias, dinoflagelados, fungos,
crustáceos, conchas, lulas, medusas, peixes,
vermes e insetos. Não surpreende o fato de
Os organismos bioluminescentes emitem que a bioluminescência seja mais frequente
luz para se comunicarem no escuro, tanto na escuridão das regiões abissais dos mares
entre indivíduos de uma mesma espécie e, com raras exceções, sempre de cor azul
(sinalização intra-específica) para, por (455-505 nm), enquanto os animais das
exemplo, fazer a corte e atração sexual ou camadas mais superficiais do mar (< 200 m) e
reunir as criaturas num bando, como entre águas costeiras emitem luz azul a verde (465-
animais distintos (sinalização inter-específica) 520 nm), matizando o ambiente fótico azul-
para atração de uma presa, repelir um esverdeado das camadas mais superficiais
predador, ou camuflar-se no ambiente fótico onde seriam camuflados, escapando
(Figura 2). São descritos e muitas vezes eventualmente de predadores.
observáveis belíssimos e curiosos exemplares
terrestres e marinhos de seres com luz Hoje, define-se a bioluminescência como a
própria, recentemente ilustrados e descritos emissão de luz visível fria por organismos
com linguagem acessível a não especialistas vivos, produzida por uma reação de oxidação
por Thérèse Wilson e John Woodland de uma substância sintetizada pelo próprio
Hastings (Biological Laboratories, Harvard animal, chamada genericamente de
University)11 num divertido e abrangente luciferina (o substrato), por oxigênio
livro, criativamente intitulado molecular (O2) ou, em raros casos, peróxido
Bioluminescence: Living Lights, Lights for de hidrogênio (H2O2), na presença de uma
Living,à à Luzà Viva,à Luzà pa aà Vive ,à à títuloà luciferase, nome genérico de uma enzima
este muito fiel ao significado da que catalisa a reação (Figura 3).

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Figura 2. Exemplares de seres bioluminescentes: A, cogumelo do fungo Mycena lucentipes,


do Vale do Ribeira, SP (cortesia de Cassius V. Stevani, IQUSP); B, larva de trenzinho, Phrixothrix
heydeni coletada na Fazenda Santa Cruz, MS.10 (copyright 1997 Entomological Society of
America); C, larva de díptera, Neoditomya farri, e emissão de luz azul por outra larva à direita
superior, encontrada na Jamaica12 (copyright 2007 Wiley-VCH); D, água-viva, Aequorea victoria
(cortesia Steven Hakkock, Monterey Bay Aquarium Research Institute): E, minhoca siberiana,
Fridericia heliota13 (copyright 2014 John Wiley and Sons)

luciferas S
LUCIFERINA + O2 OXILUCIFERINA 1 (fluorescente)

OXILUCIFERINA + hν450-620 nm

Figura 3. Equação geral da bioluminescência. A luciferina é oxidada por oxigênio gerando o


produto, oxiluciferina, no estado eletronicamente excitado. Este se desativa por emissão de luz
de cores que variam do azul ao vermelho. À esquerda, diagrama de Jablonski, ilustrando a
excitação eletrônica de moléculas por absorção de fótons, seguida de emissão de luz
fluorescente (do estado singlete, S1) ou fosforescente (do estado triplete, T1) de diversas cores,
na dependência da e e giaàdeàe itaç oàelet i aàΔ “1-S0)
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Lembra uma reação de combustão parcial subsequentemente desativada para o estado


de um combustível (a luciferina), exceto que normal, fundamental, por emissão de
na bioluminescência a energia das ligações fluorescência de outra cor.
químicas é convertida em fótons, em vez de
Fantástico e curioso é o fato de que a
liberada como calor numa chama. A luz é
bioluminescência dos besouros é produzida
emitida pelo produto da reação –
pela oxidação aeróbica de uma mesma
oxiluciferina – que é formada no estado
luciferina, porém, resulta na emissão de
fluorescente, denominado estado singlete
cores que variam do verde (540 nm) ao
eletronicamente excitado. As diferentes
vermelho (620 nm) em diferentes espécies.10,
cores da bioluminescência são determinadas 14-16
O espectro de bioluminescência dos
pela estrutura química da luciferina e
besouros luminescentes é determinado pelo
moduladas principalmente pela polaridade
espectro de fluorescência da oxiluciferina
do microambiente do sítio ativo das
excitada (oxiluciferina*) no sítio ativo da
luciferases.11,14 As cores podem ainda ser
enzima, cuja polaridade e interações com os
modificadas por filtros óticos internos e
amino ácidos de ligação do substrato e
proteínas acessórias para as quais é
catalíticos modulam a cor e intensidade da
transferida a energia da oxiluciferina
luz emitida (Figura 4).17
excitada. A proteína excitada é

Figura 4. Equação geral da bioluminescência de besouros (vagalumes, pirilampos,


trenzinhos). A reação enzimática é ativada por ATP e tem alto rendimento quântico de
iolu i es iaà ΦBL), possibilitando o desenvolvimento de vários e sensíveis métodos
analíticos dependentes do consumo de ATP. ATP é adenosina trifosfato (agente ativador),
áMP,àade osi aà o ofosfatoàeàΦBL in vitro é 45% (número de fótons emitidos por molécula de
luciferina oxidada)

Já no caso de celenterados, como a o produto excitado (celenteramida*)


Aequorea (uma medusa, emissora de luz transfere energia resultando na GFP
verde) e Renilla (um coral, também emissor fluorescente que emite a luz.11,18 Quando
de luz verde), a luciferina, denominada fotografada no escuro, a luz é fortemente
celenterazina, está associada a uma proteína verde, mas se iluminada a cor revelada é azul,
(GFP, green fluorescent protein), para a qual como mostrado na Figura 2.

In vivo (na presença de GFP e íons Ca2+):

celenterazina + O2 → celenteramida* + CO2


celenteramida* + GFPàà→àà ele te a idaà+àGFP*

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GFP*àà→ààGFPà+àluzàve deà à

In vitro (na ausência de GFP):

celenterazina + O2 → celenteramida*
ele te a ida*ààà→ààà ele te a idaà+àluzàazulà à

O isolamento, identificação, clonagem, tetrapirróis lineares em dinoflagelados e


mutação e aplicações do gene da proteína crustáceos; flavinas em bactérias e
GFP como repórter de expressão proteica em possivelmente fungos; e mesmo algumas
bioquímica, biologia celular e biotecnologia proteínas atuando como luciferinas
mereceram a outorga do Prêmio Nobel de associadas às luciferases, como no molusco
Química de 2008 a Shimomura, Tsien e Pholas (Figura 5).11,14,22 Esta variedade
Chalfie, o qual foi conferencista de abertura química de substratos sem relação estrutural
da Reunião Anual da Sociedade Brasileira de entre eles, estimada em mais de trinta, sem
Química (SBQ) em 2009.19,20 um esqueleto carbônico ancestral, comum a
todas as luciferinas, sugere que a
As luciferinas da maioria dos organismos
bioluminescência emergiu várias vezes de
bioluminescentes foram isoladas,
forma descontínua durante a evolução das
identificadas e, algumas, sintetizadas,
espécies.
enquanto suas luciferases foram clonadas e
inseridas no genoma de bactérias (Eschericia Para emitir luz, todas estas luciferinas são
coli), as quais, portadoras de propriedade oxidadas por oxigênio molecular ou, raras
luminogênica detectável por vezes outro oxidante como H2O2, gerando um
fotomultiplicadoras ultrassensíveis, são intermediário instável, rico em energia
utilizadas para marcarem e reportarem (geralmente um peróxido), que se decompõe
quantitativamente as propriedades de imediatamente no produto luminescente.
biomoléculas, poluentes, células ou mesmo
organismos superiores.19,21 Estas enzimas
encontram hoje crescente aplicação analítica luciferina + O2 → [i ter ediário] →
em biomedicina e biotecnologia, oxilu iferi a → oxilu iferi a + hν
possibilitando numerosas oportunidades de
análises por imagem.22
O rendimento quântico de
iolu i es iaà Φà=à elaç oàe t eà ú e oà
3. Diversidade química das de fótons emitidos/número de moléculas de
luciferina consumida), ou seja, a intensidade
luciferinas da luz emitida, depende do produto dos
rendimentos das três etapas básicas
consecutivas: (i) reação de formação de um
O isolamento e elucidação da estrutura i te edi ioà i oàe àe e gia ,à ii àfo aç oà
das luciferinas dos organismos do produto excitado (quimioexcitação
bioluminescentes revelaram grande eletrônica) e (iii) rendimento quântico de
diversidade química, inclusive aldeídos como fluorescência do produto final.19 É assim
nos anelídeos Diplocardia e Fridericia e no calculado pelo produto ΦBL = ΦInt à ΦQExc à Φà
molusco Latia; imidazolpirazinas em ΦF. Os rendimentos de bioluminescência de
celenterados, alguns peixes, lulas e ostras; vários organismos, avaliados in vitro, variam
benzotiazol em vagalumes e pirilampos; entre 10 e 50 %.

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Figura 5. Estrutura das luciferinas de alguns organismos bioluminescentes

A elucidação dos reagentes, etapas e desaparecia quando expunha as lanternas


rendimento quântico da bioluminescência e isadasàaoàv uoàouàaoàa à deflogisti ado à
dos vários sistemas luciferina/luciferase (sem oxigênio) e daí estabeleceu a primeira
consumiram muitas décadas e muito esforço, relação de natureza química entre peixes,
experimentação e criatividade. Muitos destes insetos e fungos luminescentes. Apenas dois
sistemas não foram completamente séculos depois foi confirmado que a
compreendidos até hoje, nem sequer bioluminescência resulta de uma reação
esclarecidas as funções biológicas da emissão sustentada por oxigênio molecular. A
luminosa, como é o caso de cogumelos descoberta dos outros ingredientes da
luminescentes. A pesquisa da bioluminescência - a luciferina (combustível)
bioluminescência continua a desafiar e e a luciferase (catalisador) - veio com Raphael
inspirar a expertise dos cientistas e a Dubois, em 1885.11 O fisiologista francês
despertar a curiosidade e encantamento das obteve um extrato do molusco luminescente
pessoas. A missão dos cientistas é desvendar Pholas dactilus, livre de células, onde
ao nível molecular os mistérios da natureza. detectou a presença de duas proteínas, uma
Neste contexto, vale trazer á tona a belíssima mais estável ao aquecimento que a outra,
e inspiradora escultura de Barrias intitulada respectivamente, o substrato luciferina e a
Nature Unveiling Herself Before Science, do enzima luciferase. No mesmo ano, Dubois
acervo do Museum of Fine Arts de Boston preparou e testou extratos frios e outros pré-
(USA), em que o artista evoca o aquecidos de lanternas de um pirilampo, o
desnudamento dos mistérios da natureza Pyrophorus plagiophthalamus.23 Oà e t atoà
pela Ciência através da remoção do manto f io ,à assu idoà o te à lu ife i aà
que cobre uma formosa jovem - a Natureza (termoestável) e a luciferase (termoinstável)
(Figura 6). somente emitia luz, embora ainda fraca, se a
eleà fosseà adi io adoà e t atoà ue te à i oà
Segundo Harvey,1 foi Robert Boyle, em
em luciferina e luciferase inativada pelo
fins do século XVII, ao buscar entender a
calor. Este experimento muito simples e
relação entre a Flamma Vitalis de animais
astuto foi o primeiro a estabelecer que a
luminescentes e o ar, percebeu que a luz
bioluminescência depende de uma luciferina
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(o combustível) e um catalisador (luciferase), bioluminescentes é utilizada até hoje como


além do oxigênio (oxidante). Esta estratégia etapa inicial da pesquisa da natureza química
deàp epa aç oàdeà e t atosàf ios àeà e t atosà da bioluminescência em organismos ainda
ue tes à pa aà i vestiga à oà siste aà em estudo.
luciferina/luciferase de seres

Figura 6.àEs ultu aà Natu eàU veli gàHe selfàBefo eà“ ie e ,àdeàLouis-Ernest Barrias, 1974.
Photograph © 2014 Museum of Fine Arts, Boston

Foi só nos anos 1940 que se descobriu adiantar que este fenômeno atrai a atenção
que, no caso da bioluminescência de de biólogos e químicos analíticos na medida
vagalumes e pirilampos, e mais em que ATP/ADP e NAD(P)H/NAD(P)+ são os
recentemente também das lulas dois metabólitos-chave que fazem as
luminescentes (Watasenia japonicus,à hota uà conexões bioenergéticas e biossintéticas
i , lula-vagalume em japonês), há a entre catabolismo e anabolismo das células.
participação essencial de adenosina trifosfato Justifica-se assim por que os sistemas
(ATP) para ativação do substrato. Verificou-se luciferina/luciferase de vários organismos
que a adição de ATP a uma mistura de bioluminescentes têm sido crescentemente
e t atoà f io à o à e t atoà ue te à esultaà utilizados no desenvolvimento de uma
na emissão de um flash intenso de luz.11 lucrativa variedade de kits e métodos
Neste ponto, é importante frisar que alguns analíticos in vitro e in vivo para identificação,
sistemas bioluminescentes requerem a quantificação e imageamento (células,
participação de co-enzimas, particularmente tecidos e órgãos) de eventos metabólicos que
a nicotinamida adenina dinucleótido (NADH) estão direta ou indiretamente associados a
e seu derivado fosforilado (NADPH), como é o ATP e NAD(P)H.19,20,25 Graças ao alto
caso de bactérias bioluminescentes e rendimento quântico das reações
fungos.24-27 Chegamos até aqui a um bioluminescentes, se comparadas às reações
conceito, ainda preliminar, da natureza qumioluminescentes, e ao desenvolvimento
bioquímica da bioluminescência, mas se pode de fotomultiplicadoras de detecção

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ultrassensíveis, comercializadas em )-cisteína. Se preparada a partir de D-(+)-


equipamentos chamados fotômetros, cisteína, a luciferina obtida é inativa. Décadas
luminômetros e câmaras de detecção, várias depois, reportamos a biossíntese de
centenas de métodos e kits analíticos estão luciferina de larvas do pirilampo Pyrearinus
descritos hoje com base apenas nas termittiluminans a partir de cisteína marcada
luciferases de vagalumes, bactérias e com átomo de enxofre radiativo (35S-L-
Aequorea, cobrindo uma faixa de cisteína),30 e mostramos15,16 que as luciferinas
concentração de substrato que desce à escala de várias espécies de elaterídeos e
de attomoles. fengodídeos são idênticas à de lampirídeos,
independentemente da cor da luz emitida,
fosse ela esverdeada ou vermelha.
4. O sistema luciferina/luciferase e O mecanismo da reação bioluminescente
mecanismo da reação da de besouros não foi ainda satisfatoriamente
bioluminescência de coleópteros esclarecido. É ainda discutível como se dá a
modulação da cor do verde ao vermelho da
luminescentes luz destes insetos já que a luciferina é a
mesma. A Figura 7 esquematiza o mecanismo
geral da reação bioluminescente de
A luciferina do vagalume Photinus pyralis vagalumes, onde a etapa de quimioexcitação
foi cristalizada e estudada pela primeira vez eletrônica do produto fluorescente envolve a
por Bitler e McElroy (1957)28 e sintetizada clivagem de um peróxido cíclico da classe de
apenas em 1961 por White e colab..29 Sua dioxetanonas, acompanhada da liberação de
estrutura química foi identificada como a de gás carbônico (CO2).32,33
um composto benzotiazólico derivado de D-(-

Figura 7. Mecanismo da reação de oxidação da luciferina de coleópteros luminescentes


catalisada pela luciferase, com consumo de ATP e O2

O esquema da Figura 7 indica que a (estado fluorescente). Os reagentes são os


luciferase atua consecutivamente como uma mesmos em todas as famílias de besouros
ligase, ao catalisar a adenilação da luciferina luminescentes e a cor da emissão, com picos
às custas de ATP, e uma dioxigenase, ao entre 520 nm, verde e 620 nm, vermelho, é
inserir a molécula de oxigênio na luciferina, modulada no sítio ativo da enzima.16,17
fo a doà u à α-hidroperóxido. Este sofre
A hipótese de formação de um
ciclização a uma dioxetanona (peroxilactona)
intermediário rico em energia, de natureza
que se cliva a CO2 e oxiluciferina excitada
dioxetanônica, na reação bioluminescente de

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Bechara, E. J. H; Viviani, V. R.

vagalumes foi esteada pela síntese da duas moléculas carbonílicas muito estáveis.36-
38
dimetildioxetanona, instável e A Figura 8 mostra a equação geral da
quimioluminescente, por Adam e Liu34 em termólise de dioxetanos a duas moléculas
1972 e corroborada por experimentos de carbonílicas, uma delas no estado
dupla marcação isotópica com 18O2 e H217O eletronicamente excitado:
dos produtos oxiluciferina e CO2, realizados predominantemente triplete (fosforescente)
por Shimomura e Johnson.35 Dioxetanos são se contém apenas substituintes alquílicos ou
peróxidos cíclicos de anel tetratômico, singlete (fluorescentes) com substituintes
portanto muito instáveis a princípio, já que se RO-, RS- ou R2N-, ou substituinte aromático
trata de compostos ciclobutânicos, com com baixo potencial de oxidação.
gulosà i te osà deà ⁰,à ligaç oà O-O muito
fraca (32 kcal/mol) e cuja clivagem produz

Figura 8. Decomposição térmica de 1,2-dioxetanos, gerando dois fragmentos carbonílicos, um


deles no estado eletronicamente excitado

Cálculos termodinâmicos muito simples quimiluminescência, já antevendo a


indicam que a entalpia da reação de elucidação de mecanismos de várias reações
termólise de dioxetanos localiza-se acima de quimio- e bioluminescentes e suas aplicações
100 kcal/mol, portanto suficiente para excitar analíticas, inclusive como ferramentas para
os elétrons de uma das moléculas-produto substituição de radio-imunoensaios por lumi-
(<<100 kcal/mol) e gerar luz visível por imunoensaios, mais baratos e seguros.19
desativação ao estado fundamental, um
Até os fins dos anos setenta já se sabia
fenômeno conhecido genericamente como
que a cor e intensidade da emissão de
quimioluminescência. Dioxetanos com quatro
vagalumes eram sensíveis ao pH, força iônica,
grupos simples (alquílicos ou aromáticos) no
presença de cátions divalentes, temperatura
anel são mais estáveis, cuja decomposição
e polaridade do meio.14 Todos estes fatores
pode durar horas ou anos à temperatura
são determinantes da estrutura
ambiente, e são fracamente emissivos devido
tridimensional e atividade de proteínas,
sua natureza ser predominantemente triplete
portanto, também das luciferases. Foi
(fosforescência).36-38 O primeiro dioxetano
inicialmente proposto que, no
sintetizado e estudado foi o
microambiente do sítio ativo da enzima, a
trimetildioxetano, por Kopecky e Mumford
energia de quimioexcitação eletrônica da
em 1969.39 Dioxetanonas, os intermediários
oxiluciferina, residente no intermediário
de reações bioluminescentes e
dioxetanônico hipotético, seria particionada
quimioluminescentes (na ausência de
entre duas formas possíveis de oxiluciferina-
enzimas catalisadoras), são naturalmente
produto: uma monoaniônica (cetônica, mais
muito mais instáveis que dioxetanos (>20
propriamente amídica) e outra dianiônica
kcal/mol versus <15 kcal/mol), devido à
(enolato) (Figura 7).32 A fluorescência da
ligação carbonílica no anel tetratômico, com
forma cetônica tem cor vermelha e aquela do
guloà deà ligaç oà deà ⁰.34,37 Estas
enolato, amarelo-esverdeado. A polaridade
descobertas dispararam pesquisas em vários
do microambiente do sítio ativo,
países à procura de dioxetanos que tivessem
determinada pelos resíduos de amino ácidos
altos rendimentos quânticos de
e conteúdo de água, afetariam mais

14 Rev. Virtual Quim. |Vol 7| |No. 1| |3-40|


Bechara, E. J. H; Viviani, V. R.

sutilmente a cor emitida em direção ao adicional. Outra proposta para explicar a


amarelo ou laranja. modulação da cor emitida pela luciferases
das três famílias de coleópteros
A exigência de desprotonação do grupo
bioluminescentes, ignorada atualmente, foi
fenólico da porção benzotiazólica da
formulada a partir de cálculos
luciferina para emissão de luz já havia sido
computacionais. Apelava para distorção do
demonstrada pelo colapso da
ângulo entre os dois anéis – o benzotiazólico
bioluminescência por prévia metilação deste
e o tiazólico – comprometendo a co-
grupo. Esta observação foi interpretada pela
planaridade dos anéis aromáticos e,
necessidade de transferência intramolecular
portanto, seu espectro de bioluminescência.
de elétron do fenolato para o anel
dioxetânico, desestabilizando-o ainda mais, A descoberta de que as luciferases nativas
para ocorrência da excitação da oxiluciferina, de lampirídeos são sensíveis ao pH, enquanto
segundo a hipótese mecanística de as de elaterídeos e fengodídeos não o são e
quimioluminescência cunhada por Schuster estudos de mutagênese e engenharia
o oà chemically initiated electron exchange genética realizados na última década no
he ilu i es e e CIEEL .40 Laboratório de Bioquímica e Biotecnologia de
Sistemas Bioluminescentes (UFSCAR, SP) com
As luciferases de vagalumes catalisam
luciferases clonadas a partir de mais de 10
inicialmente a lenta adenilação do grupo
espécies brasileiras de lampirídeos,
carboxílico da luciferina ligada ao sítio ativo
fengodídeos e elaterídeos, revelaram vários
da enzima às custas de ATPMg2+, com
resíduos e regiões da estrutura
liberação de pirofosfato, seguida de rápida
tridimensional das luciferases que modulam
remoção de próton ao carbono alfa da
as cores de bioluminescência.16,17,41-43 As
carboxila, inserção da molécula de oxigênio
luciferases oriundas de diferentes famílias de
ao carbânion resultante formando um alfa-
besouros são proteínas
hidroperóxido, o qual é ciclizado à
com 542-550 resíduos de aminoácidos. Elas
dioxetanona por ataque nucleofílico à
compartilham entre 45-50 de
carbonila com deslocamento de AMP e
identidade na sequencia de aminoácidos
clivagem imediata do intermediário
(estrutura primária).
peroxídico à oxiluciferina no estado
Dentro da mesma família de vagalumes, as
fluorescente e CO2 (Figura 7).36 Isto posto,
luciferases têm um grau de
como já mencionado, constata-se que a
identidade que varia de 60-99%, com massa
luciferase tem o duplo papel de uma ligase
molecular cerca de 60 kD. Identidade é
dependente de ATP e de uma dioxigenase.
definida pelo número de aminoácidos
A modulação da cor através de uma idênticos em relação ao número total de
conversão cetoenólica da oxiluciferina aminoácidos. No conjunto, estes resultados
exitada sofre, entretanto, severas críticas até mostram que ligeiras mudanças na
hoje:11 (i) a dimetilação do carbono vicinal à conformação do sítio-ativo das diferentes
carbonila da oxiluciferina impediria sua luciferases, causadas por diferentes
enolização, no entanto a luciferina aminoácidos, afetam a entrada de água e as
correspondente continua luminogênica na interações de resíduos de aminoácidos
região do verde; (ii) o perfil de pH da básicos em torno do grupo fenol da
distribuição espectral da bioluminescência oxiluciferina, modulando a cor da luz do
mostra sempre dois picos, em que apenas o verde ao vermelho (Figura 8). Em outras
emissor verde é sensível ao pH, o que exclui palavras, as luciferases têm dois domínios
equilíbrio químico entre as duas formas; (iii) a interligados por uma alça com oito
formação prévia da ceto-oxiluciferina, aminoácidos, com um ângulo entre as duas
emissora de fluorescência vermelha, para ser cadeias polipeptídicas que determina o grau
convertida na forma excitada do enolato, de polaridade do microambiente do sítio
emissor de luz maior energia, de cor verde- ativo que elas formam (teor de água) e
amarelada, requer energia eletrônica proximidade de resíduos básicos. Ângulo
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mais aberto, abrigando mais moléculas de (Figura 9). Estes estudos resultaram em
gua,à favo e e à aà eto -oxiluciferina considerável avanço na compreensão do
excitada, emissora de luz vermelha, e ângulo mecanismo de modulação da cor pelos
mais fechado, portanto ambiente mais insetos.
hid of i o,à e efi ia àaà e ol -oxiluciferina
excitada, com fluorescência verde-amarelada

Figura 9. Mecanismo de modulação da cor da bioluminescência de coleópteros


bioluminescentes. Painéis: Colônias de bactérias (Escherichia coli) transformadas com os
cDNAs das luciferases das duas lanternas de Phrixothrix heydeni (Phengodidae); espectros de
iolu i es iaàdasàduasà ol iasàdeà a t iasàe p essa doàasàlu ife asesà ve de-a a elada à
eà ve elha ;à eà hipot ti aà o ve s oà eto-enólica entre forma cetônica (fluorescência
vermelha) e enólica (verde-amarelada) no sítio ativo da luciferase, assistida por resíduos de
aminoácidos básicos.17 Copyright 1999 American Chemical Society

5. Ligases versus luciferases: Uma o papel do ATP é ativar a carboxila na forma


de um adenilado (anidrido misto), um
proposta para a evolução da excelente grupo de partida em ataques
bioluminescência nucleofílicos: à carbonila no caso da
luciferase, ou um tioéster nos casos de
proteínas e gliceróis, também um excelente
O mecanismo de ação da luciferase g upoà deà saídaà aoà ata ueà doà α-aminogrupo
assemelha-se muito às reações de formação do aminoácido a ser inserido na cadeia
da ligação peptídica de proteínas e da ligação crescente do peptídeo, ou do grupo hidroxila
de ácidos graxos a glicerol nos triacilgliceróis, do glicerol receptor do grupo acila.45 A
catalisadas por ligases (Figura 10).44-46 propósito, em anos recentes foi relatada a
Em ambos os casos – luciferase e ligase -, ação catalítica de luciferase sobre a acilação
de glicerol por ácidos graxos, permitindo o
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desenvolvimento de métodos analíticos para àquele da síntese de triacilgliceróis e é


a determinação de ácidos carboxílicos e consistente com o alto grau de homologia
triacilgliceróis em soro.47 Assim, o mecanismo entre a luciferase de insetos e as ligases
descrito de ação de luciferases sobre a (também chamadas de ATP sintetases) de
luciferina, um ácido carboxílico, assemelha-se microorganismos, plantas e mamíferos.

Figura 10. Reação de acilação de glicerol por ácidos graxos catalisada pelo complexo da
triacilglicerol sintetase ou pela luciferase de vagalumes. ATP, adenosina trifosfato; AMP,
adenosina monofosfato; PPi, pirofosfato

Considerando-se a similitude estrutural e Prof. Viviani e colaboradores na UFSCAR


funcional de luciferase e ligase, Viviani e clonaram o cDNA que codifica esta enzima
Bechara44 testaram o efeito da injeção de luciferase-like, e investigaram sua estrutura e
luciferina de vagalume em larvas do função. Concluíram que a atividade
coleóptero não luminescente Tenebrio oxigenásica das luciferases teria evoluído
molitor (Tenebrionidae) com o fim de, posteriormente à atividade ligásica mediante
eventualmente, validarem a hipótese de que mutações (mudança de aminoácidos
ligases deste besouro pudessem responder à constituintes do sítio-ativo) nesta enzima.46
oferta do substrato luminescente Esta descoberta permitiu também, através de
quimicamente adequado, já que a luciferina é técnicas de engenharia genética, desenvolver
um ácido carboxílico e seu produto de uma luciferase totalmente nova a partir de
oxidação é fluorescente. Sim, o corpo da uma ligase. Imaginamos então que qualquer
larva emitiu fraca luz vermelha e seus outro substrato carboxílico cujo produto de
extratos totais brilharam à adição de oxidação fosse fluorescente e substrato de
concentrações crescentes de ATP e luciferina luciferase poderia alimentar uma reação
ao meio reacional. Recentemente o grupo do enzimática luminescente na presença de ATP,
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Bechara, E. J. H; Viviani, V. R.

devido à presença ubíqua de ligases em lanternas), frequência (período de 1 a 10


células. Ou seja, as ligases seriam assim segundos) e duração dos flashes
p oto-lu ife ases ,àasàe zi asàa est aisàdasà (milissegundos) e padrão de vôo nupcial são
luciferases que se converteram em características de cada espécie. Machos de
oxigenases/luciferases ao adquirir a certas espécies competem entre si pelas
propriedade de catalisar a oxidação fêmeas e fêmeas de outras selecionam os
luminescente de um su st atoà p oto- machos para a cópula. Em outras, vários
fluo fo o àpo ào ig ioà ole ula . machos se amontoam entre pares engajados
no ato sexual na tentativa de conquistar-lhes
as fêmeas ou mesmo confundir os rivais com
6. Comunicação sexual nos pseudo-flashes característicos de fêmeas. Há
coleópteros luminescentes ainda femmes fatales de Photinus, Photuris,
Pyractomena e Robopus que imitam os
flashes de fêmeas de outras espécies,
atraindo os respectivos machos para devorá-
A atração, corte e cópula de vagalumes
los em seguida.
são espécie-específicas. São raros os
encontros sexuais mal-sucedidos, mas Evidentemente, a descrição de padrões
quando acontecem podem ser fatais aos tão complexos de comunicação sexual seria
machos. Deve-se ao biólogo americano James confiável apenas se se demonstrasse que o
Lloyd (Universidade da Florida, Gainesvile) a espectro de bioluminescência recobre pelo
maior parte do que se conhece sobre os menos parcialmente o espectro de
padrões de atração e corte sexual destes se si ilidadeà ti aàdoài seto,àouàseja,àeleà v à
insetos, inclusive as respectivas posições de a luz emitida pelo parceiro sexual, e se a
cópula determinadas ao flagrar e imobilizar corte ocorre apenas se o inseto é estimulado
os pares com cera derretida, seguido de para a cópula durante o vôo. Ou seja, se há
cortes anatômicos que desenharam a monta controle neural do sinal luminoso... o inseto
sexual.3,11 Há diferentes padrões de interação ue à seà ep oduzi !à E pe i e tosà
sexual, como, por exemplo: a fêmea é provaram que estes requisitos são atendidos.
sedentária, pousada sobre a vegetação, e Há muito se sabe que o vagalume perde a
pisca para o macho, atraindo-o, como no capacidade de emitir luz quando decapitados,
caso de vagalumes do gênero Lampyris; ou é embora suas lanternas ainda contenham
o macho em vôo que sinaliza e atrai a fêmea, luciferina, oxigênio, ATP e luciferase ativa, ou
como nos vagalumes dos gêneros Photinus, seja, há controle neurológico,3 hormonal,
Aspisoma e algumas Luciola. Nuvens de como será discutido posteriormente. Por
machos e fêmeas de Pteroptyx no sudeste da outro lado, recentemente demonstramos
Ásia sincronizam seus sinais, inspecionam e que o eletrorretinograma do elaterídeo
competem pelos parceiros. Milhares de Pyrophorus punctatissimus coincide com os
machos deste gênero pousam em árvores espectros de bioluminescência de suas
para que, possivelmente, seus sinais lanternas: verdes das duas lanternas
sincronizados e coletivamente intensos protorácicas e alaranjada da lanterna ventral,
atraiam a atenção das fêmeas.11 A exposta apenas durante o vôo nupcial ou
sincronização de sinais também é observada quando manipulados48 (Figura 11). Insetos
em algumas espécies americanas e não luminescentes enxergam apenas luz
constituem atrações turísticas. A cor (550 a ultravioleta. Portanto, o pirilampo vê a luz
580 nm), intensidade (número e tamanho das emitida pelo seu parceiro sexual.

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Figura 11. Eletrorretinograma (linha azul) e espectro de bioluminescência das lanternas


toráxicas (linha verde) e abdominais (linha laranja) do elaterídeo Pyrophorus punctatissimus. A
superposição do espectro de sensibilidade ótica com os espectros de emissão de luz confirma
que ambas as lanternas devem participar da atração e corte sexual destes insetos. Adaptada
da ref. 48. Copyright Springer 2010

7. Quanto oxigênio é consumido direção aos fotócitos, onde se liga


fortemente à citocromo oxidase das
para emissão de flashes? mitocôndrias, numerosas nos fotócitos,
deslocando o oxigênio molecular coordenado
ao íon férrico da enzima e interrompendo a
Outra questão fundamental – a cadeia respiratória. Consequentemente, há
disponibilidade de oxigênio na lanterna em um pico de alta concentração de oxigênio
concentração suficiente para sustentação do molecular que dispara seu imediato consumo
flash – foi resolvida parcialmente com a pelo sistema luciferina/luciferase dos
descoberta do papel do NO (óxido nítrico fotócitos e consequente produção de fótons.
para os biólogos e monóxido de Esta hipótese, entretanto, não resiste a várias
mononitrogênio para os químicos) neste críticas, entre elas:52 (i) a interrupção do
processo. O óxido nítrico é um gás que foi transporte de elétrons pelo NO também
ide tifi adoàe à à o oàoà fato à ela a teà cessaria a produção do ATP, necessário à
de ivadoà doà e dot lio à EDRF,à deà adenilação da luciferina, fase lenta da reação
endotelium-derived relaxing factor) que bioluminescente; (ii) a constante de ligação e
controla a pressão arterial, NO e de O2 ao íon de ferro da citocromo
independentemente por Ignarro e por oxidase é praticamente mesma o que implica
Moncada em 1987,49,50 mas só o primeiro foi em alta concentração de NO para competição
laureado com o Prêmio Nobel em Fisiologia e efetiva com O2, embora tenha sido
Medicina em 1998. Este gás controla a demonstrado cineticamente que a inibição da
pressão sanguínea através do relaxamento citocromo oxidase é favorecida por alta
das camadas musculares subadjacentes aos relação O2/NO; (iii) o NO é livremente
vasos sanguíneos e muitas outras funções difusível em todas as direções e deveria
fisiológicas, inclusive sustenta a ereção relaxar o calibre de outras estruturas dos
peniana. Assim foi explicado o mecanismo de fotócitos, alterando o fluxo de O2 nos tecidos;
flash do vagalume Photuris sp. por Trimmer:51 (iv) larvas de vagalumes emitem luz verde
O estímulo da proximidade do parceiro continuamente durante vários segundos, não
sexual libera um neurotransmissor – a flashes, para atração de presas, bem como as
octopamina – que induz a ativação da óxido lanternas torácicas de pirilampos e as laterais
nítrico sintase (NOS) nos terminais nervosos de trenzinhos para atração sexual; (vi) ovos e
junto às traquíolas, terminais da traqueia. O pupas de elaterídeos emitem luz
NO liberado pela enzima difunde-se em continuamente; e (v) não foi explicado como

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se dá a ativação da NOS por octopamina. Na inseto para a emissão de luz? Esta é uma
atividade farmacológica do óxido nítrico questão relevante frente ao fato de que seu
baseia-se o Viagra,53 um dilatador dos vasos destino principal é certamente a produção de
do tecido cavernoso do pênis, facilitando seu ATP na respiração e outra fração é utilizada
intumescimento, daí um artigo da Folha para oxidação de vários metabólitos,
Ci ia de “ão Paulo ter chamado o óxido catalisada por monoxigenases dependentes
ít i oàdeà Viag aàdosàvagalu es . de NAD(P)H e dioxigenases (Figura 12).
Quanto de oxigênio é consumido pelo

Processos Produtos
Respiração (> 85%) H2O, CO2, ATP, Calor
Oxigenases H2O2 (O2•-, HO•, ROOH)
Bioluminescência (? %) CO2, luz

Figura 12. Destinos biológicos do oxigênio molecular inalado por organismos


bioluminescentes: respiração, produção de espécies reativas de oxigênio (radicais e peróxidos)
e bioluminescência

Recebidos pelo EPR Center for the Study of local do oxigênio, uma vez que o oxigênio
Viable Systems da Dartmouth Medical School molecular é um diradical (triplete) e interage
(NH, USA), determinamos, via ressonância com o radical ftalocianina. Tão logo a larva foi
paramagnética de elétron (EPR), a queda da estimulada pela oferta de uma cupim-
concentração de oxigênio na lanterna operária, ela acendeu sua lanterna torácica e
torácica de uma larva do pirilampo constatou-se uma queda imediata de cerca
Pyrearinus termitiluminans durante a de 18% do oxigênio na lanterna, que foi
emissão de luz, ao ser provocada com a restaurado lentamente ao longo de pelo
oferta às suas mandíbulas de um exemplar de menos cinco minutos. Além disso,
cupim-operária, sua presa predileta nos verificamos que a difusão do oxigênio na fase
cerrados do Brasil central (Figura 13).54 gasosa requer cerca de 600 milisegundos,
enquanto nos tecidos (fase aquosa) demanda
Esta técnica in vivo é baseada no efeito
1300 segundos, sugerindo que a modulação
amplificador de oxigênio molecular da
dos níveis de oxigênio nos fluidos da traqueia
largura da banda do radical ftalocianina de
é o mecanismo que controla a mobilização de
lítio, cujos cristais foram pré-microinjetados
oxigênio para as lanternas.
na lanterna da larva. A largura da banda de
EPR responde linearmente à concentração

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Figura 13. Avaliação in vivo por EPR do consumo de O2 por larvas de Pyrearinus
termitilluminans durante emissão de luz. Adaptado da ref. 54, sob licença da Company of
Biologists Subscription Journals

8. A bioluminescência funciona 2 O2⦁- + 2 H+ →àO2 + H2O2


como mecanismo auxiliar na
desintoxicação do oxigênio? A proposta da ocorrência e papéis de
radicais livres em sistemas biológicos era até
então desacreditada, frente ao fato de que os
A partir da descoberta de McCord e radicais orgânicos identificados até então
Fridovich (1969) de que as cupreinas, eram geral e inespecificamente reativos.
proteínas ubíquas em seres aeróbios, tidas Havia a crença de que, dada à alta
como estocadoras celulares de cobre, reatividade e baixa seletividade química de
também catalisam a dismutação de um radicais e ao fato de que H2O2 reage com íons
radical livre – o ânion radical superóxido (O2⦁- de Fe2+ produzindo radical hidroxila (HO⦁),
) – caiu por terra o tabu de que radicais não altamente eletrofílico e reativo, o oxigênio
são produzidos in vivo.55 Estas proteínas molecular era uma faca de dois gumes:
foram denominadas superóxido dismutases provia simultaneamente vida e degeneração,
(SOD) e seus produtos identificados como ao causar lesões químicas comprometedoras
oxigênio e peróxido de hidrogênio (H2O2): da estrutura e função de biomoléculas
essenciais (proteínas, DNA, lipídios,
carboidratos). Sabia-se, entretanto, que, em

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contrapartida, enzimas antioxidantes como a (Figura 14).56 Experimentos posteriores à


própria SOD e a catalase e peroxidases descoberta das SOD mostraram a indução de
consumidoras de H2O2, além de moléculas altos níveis destas enzimas como resposta
antioxidantes de baixo peso molecular protetora, adaptativa, a desafios de células
(tocoferol, ascorbato, carotenoides, ou animais-modelo com oxigênio puro ou
bioflavonoides, etc.), são capazes de prevenir substâncias produtoras de radical superóxido
a formação desses radicais ou sequestrá-los (pró-oxidantes).

Figura 14. Redução parcial de oxigênio em etapas unieletrônicas, gerando sucessivamente


o ânion radical superóxido, o peróxido de hidrogênio, o radical hidroxila, extremamente
eletrofílico, e finalmente água. Enzimas e moléculas menores atuam como antioxidantes
garantindo o balanço redox celular adequado à homeostase, uma vez que as denominadas
espécies também participam de eventos biológicos cruciais ao ciclo celular

Outras proteínas e enzimas podem ainda organismo.57


reparar os danos químicos causados por
Em virtude destes fatos, muitos autores
radicais às biomoléculas, restaurando sua
propuseram no passado que a
atividade. Este delicado e crucial
bioluminescência poderia ter surgido durante
balanceamento entre produção e consumo
a evolução como uma válvula de escape para
de espécies altamente oxidantes (e.g.,
eli i aç oà deà e taà f aç oà t i a à doà
radicais, peróxidos, oxigênio singlete,
oxigênio, contribuindo assim com a
hipoclorito, etc.) nos tecidos de organismos
superóxido dismutase e outras enzimas
vivos, ou seja, a relação entre espécies pró- e
antioxidantes para manutenção de um
antioxidantes, costuma ser denominado
balanço redox saudável aos seres
est esseà o idativo à ou,à aisà p op ia e te,à
bioluminescentes.58 Esta hipótese foi
ala çoà edo .à Maisà e e te e te,à
refutada por Swartz59 com o argumento de
demonstrou-se que tais espécies não são
que, ao longo da evolução, quando a
necessariamente tóxicas ao organismo; ao
concentração de oxigênio no ambiente
contrário, são essenciais à sua proteção, por
alcançou altos níveis, o consumo deste
exemplo, ao oxidar e inativar bactérias
o ig ioà fútil à te iaà seà to adoà
invasoras durante sua fagocitose por
bioenergeticamente muito custoso e os
macrófagos e ao participar de vias
organismos teriam buscado outras vias de
sinalizadoras de eventos celulares vitais ao
desintoxicação do oxigênio, inclusive os

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insetos. Mesmo assim, decidimos insistir na de oxigênio, nos quais foi constatada indução
validação da hipótese de cooperação entre protetora de SOD.
luciferase e SOD para manter níveis
(ii) Como as larvas de P. termitilluminans
adequados de oxigênio e de seu produto
emitem luz mais intensa no protórax e
radical superóxido nas lanternas dos
mesotórax e menos intensas nos dois últimos
coleópteros luminescentes.
segmentos abdominais do que nos oito
Coletadas nos cupinzeiros e estocadas primeiros segmentos abdominais, os quais
individualmente em potes plásticos contendo são pouco luminogênicos, a interrelação
porção de terra das imediações dos intensidade de luz versus nível de SOD foi
cupinzeiros, larvas de Pyrearinus comprovada medindo-se os níveis da SOD ao
termitilluminans foram transportadas para o longo do corpo da larva: as atividades de SOD
laboratório no IQUSP, onde foram foram duas vezes superiores nos segmentos
alimentadas com operárias de cupins, para brilhantes, tanto torácicos como
60
observação e estudos bioquímicos. abdominais.
O conjunto dos resultados descritos a Outro teste realizado foi a comparação
seguir corrobora a noção de que a dos níveis das enzimas luciferase, SOD,
bioluminescência de insetos pode ter surgido catalase, citrato sintase e luciferina, entre
durante a evolução como um mecanismo outras, em larvas de P. termitilluminans
auxiliar de desintoxicação do oxigênio em submetidas à normóxia (ar) e hiperóxia
diferentes habitats e apropriada pelos insetos (100% de oxigênio puro durante 3 dias)
para comunicação intra- e interespecífica e (Tabela 2).61 O resultado final corroborou a
reprodução. hipótese de trabalho: sob hiperóxia, as
atividades de CuZnSOD (citoplasmática) e
(i) A pergunta inicial era se havia alguma
MnSOD (mitocondrial) foram cerca de duas
diferença nos níveis enzimáticos de SOD em
vezes maiores e aquelas de catalase,
coleópteros luminescentes e não-
luciferase e luciferina 50% mais altas. Não se
luminescentes. Constatou-se que extratos
constatou alteração das atividades de citrato
totais de larvas do elaterídeo
sintase mitocondrial (respiração) e lactato
bioluminescente Pyrophorus divergens têm,
desidrogenase (glicólise), mas houve redução
de fato, cinco vezes maior atividade de SOD
da atividade de succinato desidrogenase,
do que os extratos de larvas dos elaterídeos
sugerindo que a resposta metabólica ao
Chalcolepidus, Ischiodontus, Platycrepidus e
ambiente com oxigênio puro ateve-se à
Conoderus, todos eles sem luz própria.60 Por
bioluminescência e à produção excessiva de
outro lado, larvas do elaterídeo Pyrearinus
radicais superóxido. Além disso, ao
termitilluminans, residentes de túneis
acompanhar as atividades da SOD
normalmente aerados escavados em
diuturnamente durante três dias, verificamos
cupinzeiros (~20% de oxigênio), contêm
que o pico de atividade enzimática antecede
níveis de SOD três vezes mais elevados que
em horas o pico de emissão luminosa,
os elaterídeos Pyrearinus candens e P.
sugerindo preparação dos fotócitos para dar
candelarius, também luminescentes, cujas
cabo da produção excessiva de superóxido
larvas vivem em túneis construídos dentro de
durante a bioluminescência.62
troncos apodrecidos, onde a pressão parcial
de oxigênio é de apenas 2-5%. Portanto, a Estes três experimentos autenticam a
resposta à pergunta inicial foi positiva: noção de que luciferases podem ser
pirilampos luminescentes são mais ricos em coadjuvantes de SODs na proteção das
“ODà ueà seusà p i os à oà luminosos. A lanternas dos insetos luminescentes contra
disponibilidade de oxigênio no habitat produção excessiva de radicais e outras
reproduz experimentos antigos com animais espécies oxidantes geradas pelo oxigênio
de laboratórios, e mesmo microorganismos molecular.
facultativos, expostos a altas concentrações

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Bechara, E. J. H; Viviani, V. R.

Tabela 2. Marcadores de metabolismo radicalar e bioluminescência no protórax e


abdomen de larvas de P. termitilluminans expostas durante 72 horas em câmara com oxigênio
puro.61 SOD, superoxido dismutase (CuZnSOD, citoplasmática; MnSOD, mitocondrial); GSPx,
glutationa peroxidase. (a) unidades de atividade/mg proteina; (b) unidades de luz/mg
proteína. Uma unidade de luz produz um pico biometricamente equivalente a 0.02 Ci de 14C
em coquetel cintilante de PPO/POPOP; (c) nmol/mg protórax. ND, Não detectável. (*) p < 0.01.
Tabela adaptada da ref. 61. Copyright 1998 Elsevier

Enzima Protórax Abdômen


Controle Exposição Controle Exposição
a
SOD Total 33 ± 9 61 ± 2* 16 ± 3 27 ± 11*
CuZnSODa 18 ± 8 27 ± 10 5±2 11 ± 5*
MnSODa 15 ± 5 34 ± 12* 10 ± 3 16 ± 2*
Catalasea 33 ± 1 50,2 ± 0,3* 22 ± 2 23 ± 1
GSPxa 3,2 ± 0,4 2,8 ± 0,3 4,5 ± 0,5 5±1
Luciferaseb 2,0 ± 0,3.106 3,6 ± 0,5.106* 7,9 ± 0,5.102 9 ± 2.102
Luciferinc 1,6 ± 0,4 2,3 ± 0,2 ND ND

9. Os cupinzeiros luminosos do Juan de Puerto Rico, com ondas brilhantes


azuis (bioluminescência de dinoflagelados);
cerrado ii à osà g a desà a du esà deà pei es-
la te as à Photoblepharon sp), formando
grandes manchas luminosas verdes do Mar
Na região do Parque Nacional das Emas Vermelho; e (iii) os tetos de cavernas da Nova
(PNE, GO), localizado na confluência com os Zelândia (Waitomo Caves) pontilhados de
estados de MT e MS (Brasil), onde estão as pequenas luzes azuis (glow worms) emitidas
nascentes dos rios Taquari, que deságua no por larvas da díptera Arachnocampa.11
Pantanal, rio Araguaia, afluente do Infelizmente, nossos cupinzeiros luminosos
Amazonas, e Formoso, tributário do rio estão sendo extintos nos cerrados pela
Paraná e onde viveram tribos de Caapós, o agricultura mecanizada e nem sequer foram
cerrado apresenta um dos fenômenos mais suficientemente explorados turisticamente,
magníficos e grandiloquentes da com benefícios econômicos à população
bioluminescência do planeta: os campos de local, como são os casos da Baia
cupinzeiros luminosos (Figura 1).63,64 Fosforescente e as Cavernas de Waitomo.
Estes termiteiros suplantam em beleza e
ta a hoà i à aà Baiaà Fosfo es e te à deà “a à

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Bechara, E. J. H; Viviani, V. R.

Figura 15. Campos de Cupinzeiros do Cerrado (1988). Foto de Roberto Bandeira (Arquivo
Etelvino Bechara) na Fazenda Santo Antônio, Município de Mineiros, GO. Abaixo: Trabalho de
campo, ao entardecer, com remoção de pedaços de cupinzeiro com picareta para posterior
coleta manual de larvas e às vezes serrote, para moldagem dos túneis (larvas) e câmaras
(cupins) com poliestireno. Ao fundo, vê-se a Kombi para transporte da equipe e materiais de
coleta e, do outro lado da cerca, o campo já preparado para plantio da soja – prenúncio da
devastação do cerrado e extinção dos cupinzeiros luminosos

Foi no PNE e fazendas vizinhas que, inquilino dos cupinzeiros na sua fase larval.63
durante mais de vinte anos, com o suporte Havia relatos prévios destes cupinzeiros
científico de pesquisadores do Museu de brilhantes por naturalistas alemães desde o
Zoologia da USP (Dra. Cleide Costa) e século XIX e sua identificação e descrição
Instituto de Biociências da USP (Prof. Sérgio preliminar relatadas pelo doutorando Kent
Vanin), estudamos o elaterídeo Pyrearinus Redford da Harvard University, na época
termitilluminans descrito por Costa como pesquisando os tamanduás do PNE.65 Os

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Bechara, E. J. H; Viviani, V. R.

cupinzeiros luminosos, as cavernas com Defesa do PNE, que foi posteriormente


pinturas rupestres, as águas cantantes, o anexada a outra ONG similar da cidade de
belíssimo e profundo canyon da nascente do Mineiros (GO). Sabemos hoje que várias
Taquari, sobrevoado por araras, tucanos e espécies de coleópteros, principalmente de
majestosos urubus-reis, e nosso projeto de fengodídeos, foram extintas nas redondezas,
criação de um santuário ecológico de entre outros fatores, que queima das árvores
cupinzeiros luminosos dentro da Fazenda do cerrado para produção de carvão.
Santo Antônio (GO), com um laboratório
Tratando-se de um fenômeno noturno,
avançado de pesquisas multidisciplinares e
não nos surpreendeu que os próprios
pousada para cientistas e turistas (projeto de
habitantes das cidades vizinhas
um mestrando da FAU-USP), não foram
desconhecessem os cupinzeiros luminosos.
suficientes para convencer o proprietário da
fazenda e algumas autoridades municipais, De outubro a dezembro, na estação das
estaduais (MS) e federais (Câmara dos chuvas, quente, tão logo o sol se põe,
Deputados) da importância e impacto de um milhares de cupinzeiros, com até cerca de até
roteiro turístico na região e proteção dois metros de altura, ficam polvilhados de
ambiental. Apenas logramos trazer à tona na cerca de algumas centenas de pequenas luzes
mídia (jornais, MASP, Globo Ciência e Globo verdes, como um majestoso campo repleto
Rural) o até então esquecido PNE, ameaçado de árvores de Natal iluminadas (Figura
por caçadores clandestinos, agrotóxicos e 16).63,66
queimadas. Fundamos a Associação em

Figura 16. Os cupinzeiros luminosos do cerrado no Brasil central (MS, GO) (A-B). Insetos
adultos, macho e fêmea (C),66 larva e pupa (D) do elaterídeo Pyrearinus termitiluminans. Larva
expõe sua cabeça e tórax brilhante em janelas de sua malha de túneis internos para atrair
presas voadoras (cupins, formigas) e capturá-las (E-F). Fotos: Sérgio Vanin (IBUSP) exceto foto
D, cortesia de C. Stevani (IQUSP)

Os cupinzeiros, quando menores, são altos ficam disformes pela predação e


aproximadamente cônicos, se suas bases não invasão de ninhos de outras espécies de
são danificadas por tamanduás à caça de cupim em sua superfície. Foram identificadas
formigas e cupins. À medida que são mais espécies de vários gêneros de cupins –

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Bechara, E. J. H; Viviani, V. R.

principalmente Cornitermes, composição enzimática.67 Foram encontradas


Paracornitermes, Embiratermes e Spinitermes várias enzimas digestivas, entre elas, amilase,
(ordem Isoptera) – que hospedam as larvas elulase,à β-glicosidase e tripsina neste
luminescentes do elaterídeo em seus ninhos. lí uido,à e ua toà ueà a i opeptidase,à α-
Nem todos os cupinzeiros emitem luz, glicosidase e trealase foram detectadas no
segredo ainda guardado pela Natureza... intestino médio, todas elas com pHs ótimos
apenas aqueles de coloração castanho- na faixa de 6 a 8,5, portanto
avermelhada, em comparação com outros providencialmente próximos ao pH do
mais esbranquiçados (presença de alumínio conteúdo injetado nas presas. Tal como as
tóxico?). À primeira vista, pode parecer aranhas, as larvas acumulam presas em
estranho que os soldados dos cupins, digestão extracorpórea para, em seguida,
agressivos e protetores da megaprole da voltarem ao alimento para sugar uma sopa
cupim-rainha, tolerem a presença de de peptídeos, gordura e pequenos açúcares e
invasores, mas aventamos uma explicação completar a digestão no intestino médio.
para este fato a ser discutida posteriormente. Outra observação interessante é que algumas
das enzimas digestivas do Pyrearinus
Além dos cupins, construtores e em
termitilluminans têm peso molecular múltiplo
p i ípioà p op iet iosà doà i vel ,à eleà
das mesmas enzimas de outras espécies de
também residem formigas, larvas de
elaterídeos que habitam túneis de troncos
dípteros, besouros, aranhas, escorpiões,
apodrecidos. São, portanto, oligoméricas, o
lacraias, centopeias e opiliões, tornando mais
que sugere uma conquista evolutiva deste
excitante e arriscada a coleta manual das
Pyrearinus ao capacitar-se a residir num
larvas e pupas do Pyrearinus com o auxílio de
ambiente com maior oferta de alimento.
uma picareta para remover pedaços maiores
onde se escondem as larvas. A nuvem de insetos em torno dos
cupinzeiros chama a atenção dos demais
Após as chuvas vespertinas, sem vento
inquilinos do cupinzeiro – aranhas, lacraias,
frio e à medida que o sol se põe, pequenas
escorpiões – que saem de suas tocas para
luzes verdes começam a pipocar na superfície
caçar e eventualmente se reproduzir, os
dos cupinzeiros. São emitidas pelo protórax
quais por sua vez atraem outros predadores
brilhante das larvas exposto em orifícios
como sapos e aves noturnas (nota: quase
circulares da superfície, como janelas,
todo cupinzeiro tem no topo um ninho de
sustentadas pelo abdômen encaixado na
coruja).63 O espetáculo visual da superfície
saída de túneis por elas escavados e com
dos cupinzeiros nos lembra um banquete à
mandíbulas voltadas para cima. As centenas
velas da Roma antiga, com muitos comensais
de luzes atraem nuvens de insetos,
divertindo-se. A fauna da superfície dos
principalmente cupins e formigas alados, que
cupinzeiros também atrai pássaros diurnos. O
são capturados pelas mandíbulas da larva e,
excremento das aves é rico em sementes
em seguida, transportados para o interior do
que, no solo, após germinação, nucleiam a
cupinzeiro. As larvas retornam às suas
vegetação arbustiva de cerrado em torno do
janelas, brilham ainda mais intensamente,
cupinzeiro.68 A rica biodiversidade de animais
capturam outra presa, o que se repete pelo
que residem ou visitam o cupinzeiro foi
menos 10-12 vezes até conseguir boa
fielmente retratada numa aquarela da artista
provisão para seu jantar. Ao morder a presa,
plástica Isabel de Jesus, Franco da Rocha, SP
a larva regurgita seu conteúdo digestivo, um
(Figura 17).
líquido escuro de pH 7,3, que foi coletado em
laboratório e analisado para a sua

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Bechara, E. J. H; Viviani, V. R.

Figura 17. Aquarela da pintora naïf Isabel de Jesus retratando, em sua imaginação, a
diversa fauna dos cupinzeiros luminosos do cerrado (Coleção de Arte Naif de Etelvino Bechara,
SP). Os pontos amarelos sobre a superfície do cupinzeiro representam as lanternas as larvas do
pirilampo Pyrearinus termitilluminans

As raízes das plantas convidam roedores, solo.64 À medida que se desenvolvem, as


que por sua atraem cobras; quase todo larvas iniciam a escavação de pequenos
cupinzeiro tem um ninho de cobra na sua túneis na base do cupinzeiro em direção às
base, provavelmente escavado por tatus e partes superiores, como se estivessem
tamanduás. Esta longa e exuberante subindo na camada superficial da estrutura
cadeia/rede alimentar ainda espera biólogos do cupinzeiro. Daí notar-se, grosseiramente,
que a possam descrever sistematicamente um gradiente de larvas menores na base e
com maior precisão. Alguns espécimes de larvas maiores no topo do cupinzeiro.
fengodídeos também foram encontrados nas
Com o intuito de esclarecer como cupins e
proximidades dos cupinzeiros.
larvas do Pyrearinus convivem pacificamente
Elaterídeos adultos de Pyrearinus dentro do cupinzeiro, moldamos com
termitilluminans sobrevoam as proximidades poliestireno os domínios dos cupins e larvas
dos cupinzeiros para reprodução. As fêmeas de Pyrearinus.63 Para tanto, injetamos à
fertilizadas botam ovos, não na superfície dos noite, com o êmbolo da seringa sob forte
cupinzeiros como relatado por Redford,65 pressão, uma mistura de estireno e peróxido
mas no solo que circunscreve a base do nas janelas iluminadas de sua superfície
cupinzeiro. Isto é evidenciado pelo fato de, visando elucidar a estrutura dos domínios de
nos meses de março-maio, poder-se observar uma e outra espécie pelo poliestireno
um halo luminoso ao redor da base do solidificado no interior do cupinzeiro. Serrada
cupinzeiro produzido por miríades de uma porção do cupinzeiro, a mais rica em
minúsculas larvas luminescentes de larvas, e dissolvida a massa de argila do
Pyrearinus em estágios iniciais de cupinzeiro com soda quente, os moldes dos
crescimento, alimentadas pela microfauna do túneis e galerias revelaram o segredo desta

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Bechara, E. J. H; Viviani, V. R.

convivência pacífica entre cupins e pirilampos Constatou-se também que a janela surge de
(Figura 18): as larvas constroem um rede um túnel que se aprofunda 10-15 cm, faz
intrincada de túneis a cerca de 1-3 cm de uma curva em U (Figura 18A) e se bifurca na
profundidade - um complexo labirinto rede do labirinto (Figura 18C). Cerca de 1 a 2
desuniforme -, com diâmetro variado (0,1 a cm da saída, abre-se um largo átrio onde são
0,3 cm), interconexões e saídas para fora do acumuladas as presas capturadas no exterior
cupinzeiro, onde as larvas expõem suas e já preparadas para digestão completa,
lanternas para caçar (Figura 18AB). como se fosse uma sala de jantar.

A B

C D

Figura 18. Moldes em poliestireno da rede de túneis e câmara de alimentação das larvas de
Pyrearinus termitilluminans escavados dentro dos cupinzeiros luminosos.63 A. Vista geral da
rede intrincada de túneis, com seta apontando a curva em U do túnel que desemboca no
e te io à ja ela àdaàla va .àB.àVistaàdetalhadaàdaà edeàdeàtú eis.àC.àJu ç oàdeàdoisàtú eisàdaà
rede para formar a curva em U. D. Atrium (câmara de alimentação) onde a larva estoca suas
presas capturadas nas janelas sob digestão extra-corpórea. Este atrium em particular mostra
uma conexão com uma câmara de cupins, de onde pode predar suas operárias

O labirinto de túneis permite que as larvas (em laboratório, onívoras) e agressivas, a


migrem rapidamente para janelas do lado lanterna no abdômen terminal poderia
oposto do cupinzeiro não bafejados por funcionar como uma lanterna traseira de
vento, que dispersa as presas voadoras. Das alerta para outra larva atrás dela à busca de
dezenas de moldes obtidos, apenas um uma janela para caçar.
mostrou uma conexão que liga o átrio a uma
Durante o inverno, não há revoada de
galeria ampla de cupim (Figura 18D),
isópteros (cupins e formigas) e os cupinzeiros
sugerindo que eventualmente a larva pode se
permanecem apagados entre abril e agosto.
alimentar de operárias que distraidamente
Como as larvas se alimentam e obtêm água?
ae à aà salaàdeàja ta .àOà a i hoài ve soà
Esta é outra pergunta que merece
é pouco provável, pois a larva seria morta
investigação sistemática. Se, de fato, há
pelos cupins-soldados. Especula-se também
conexões entre os túneis das larvas e as
que, face ao fato das larvas serem carnívoras

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Bechara, E. J. H; Viviani, V. R.

câmaras dos cupins, onde transitam Represa Guarapiranga, Serra da Cantareira,


operárias, então poder-se-ia aventar que o Atibaia e Boracéia. Foi na Fazenda Olho
alimento é disponível. Mas qual seria o D’ãgua,à vizi haà à e aà doà PNE,à ueà D.à
sentido de predar na superfície do cupinzeiro Clarinda (Figura 19), uma parteira e tecelã
apenas durante as chuvas se há farto idosa, falou dos insetos que emitiam luz
sustento no interior do ninho dos cupins? vermelha à noite. Surpresos, pois seria a
Uma possibilidade que merece atenção é primeira indicação da ocorrência de
verificar se, nestas condições extremas, as fengodídeos na região, montamos uma
larvas entram em hibernação e sobrevivem armadilha de pano e logramos coletar
às custas das reservas energéticas machos de várias espécies desta família. Em
acumuladas durante as chuvas e de água outra fazenda, a Santa Cruz, de propriedade
metabólica obtida da degradação de trealose, de outra matrona idosa, D. Luzia, com a ajuda
um dissacarídeo formado entre duas de seus filhos e netos, obtivemos uma grande
u idadesà deà gli oseà ligaç oà α,α-1,1, açúcar coleção de vários gêneros e espécies de
não redutor). Nossos estudos preliminares, elaterídeos e fengodídeos. Interessante notar
ao analisar os conteúdos de glicose e trealose que as duas importantes protagonistas da
em larvas do Pyrearinus criadas em estufa nossa pesquisa de campo sobre insetos
climatizada nas condições de temperatura e luminosos chamavam-se D. Clarinda e D.
umidade, mostraram que esta é uma Luzia, nomes alusivos à luz. Os elaterídeos
hipótese plausível.69 Além de combustível de foram identificados pela Dra. Cleide Costa
reserva para a larva, a trealose é conhecida (MZUSP) e os fengodídeos pelo Dr. Walter
como um estabilizador da supra-estrutura de Wittmer (Museum of Natural History,
membranas biológicas e da conformação Basiléia, Suíça). Três novas espécies de
ativa, funcional, de proteínas, daí seu uso na fengodídeos foram nomeados Phrixothrix
conservação de células em cultura e órgãos viviani, em homenagem ao Dr. Vadim Viviani,
destinados a transplantes. Estas propriedades um dos autores deste relato, Euryopa
também explicariam o fato de ovos e larvas clarindae, um tributo à D. Clarinda, e Euryopa
de Pyrearinus, em laboratório, sobreviverem laurae para comemorar o nascimento de
acidentalmente por várias semanas sem que Laura, filha do outro autor. A interação
fossem umedecidos ou alimentados, mas cientista-sociedade é obviamente sempre
recuperando sua vitalidade quando fornecida bem-vinda, se não necessária, não só para
água. educar como também incorporar a sabedoria
popular, os conhecimentos tradicionais, à
Esta convivência de cupins com larvas do
construção da ciência.
Pyrearinus termitilluminans tipifica
claramente uma relação de inquilinismo, não Larvas e adultos de elaterídeos e
de simbiose, uma vez que o elaterídeo se fengodideos foram criados em laboratório,
beneficia da presença de cupins, seu inicialmente no MZUSP com a permissão e
alimento, mas não esclarece quais vantagens interesse de seu diretor, Prof. Paulo
teriam os cupins de hospedá-los. Vanzolini, e posteriormente no IQUSP, cujo
motorista José Sanches também teve papel
destacado na coleta dos insetos,
10. Coleta, criação e descrição de rapidamente incorporou conhecimentos e
espécies de insetos luminescentes práticas de coleta e identificação e quase se
torna um candidato a entomólogo amador.
As larvas de elaterídeos eram alimentadas
com operárias de cupins e as larvas e fêmeas
Nos cerrados em torno do PNE
deà fe godídeosà o à piolho-de- o a ,à u à
encontramos as maiores concentrações e
diplopoda. É interessante notar que, em
diversidade de coleópteros luminescentes,
laboratório, as larvas de P. termitilluminans
em relação à Mata Atlântica, como na
ti ha à e ia à doà a po.à Nosà f ascos
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Bechara, E. J. H; Viviani, V. R.

transparentes com terra onde eram criadas, seu tórax brilhante nas janelas dos túneis à
cavavam túneis e ao entardecer expunham busca de presas aladas.

Figura 19. Moradores e turistas no município de Costa Rica (MS), onde insetos de
lampirídeos, elaterídeos e fengodídeos foram coletados, com destaque para os dois idosos: D.
Clarinda, parteira e tecelã, e seu marido, Sr. Otaviano, caçador de onças tragicamente
fulminado por um raio

Fengodídeos adultos, tão logo traçados os de las Indias, tiveram descritos seu ciclo
espectros de bioluminescência, eram biológico completo.1
sacrificados e preparados extratos de suas
Esta foi uma grande conquista pois o
lanternas cefálicas e abdominais, pois
pareamento imediato de fengodídeos é
morriam poucos dias após a coleta. Larvas e
dificultado pelo enorme dimorfismo sexual
fêmeas de fengodídeos foram criadas em
dos insetos adultos: o macho é pequeno
laboratório até que algumas delas
(milímetros a 1-1,5 cm) e alado, enquanto a
depositavam ovos (Figura 20).10 Obviamente,
fêmea é larviforme, áptera, e maior (0.5-3
a variedade das cores da bioluminescência
cm) (Figura 1).
dos fengodídeos, do verde ao vermelho, são
um prato cheio para biologistas moleculares Elaterídeos adultos são mais resistentes
estudarem as relações estrutura-função já em laboratório, deles podendo-se coletar
que a reação enzimática é a mesma e as ovos nos frascos onde eram criados com água
diferentes cores abrem caminho para açucarada. Machos vivem até cerca de dois
clonagem de genes repórteres meses e fêmeas, três meses, e na fase larval,
multifuncionais. O sucesso na criação de cerca de dezoito meses. Observamos que ao
fêmeas fertilizadas de Phrixothrix heydenii longo de toda sua metamorfose, o elaterídeo
resultou na obtenção de machos e fêmeas Pyrophorus divergens emite luz.15 Especula-se
desta espécie de fengodídeo e, pela primeira que nas fases de ovos e pupas, dada à sua
vez, estes insetos, já documentados em 1535 imobilidade e suscetibilidade à predação,
por Oviedo em sua Historia General y Natural talvez a luz emitida sirva para distrair a
atenção ou afugentar um possível predador.

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Bechara, E. J. H; Viviani, V. R.

Larvas de Pyrearinus termitilluminans eram cor gradualmente deslocava-se do verde para


criadas às centenas em laboratório para o vermelho intenso. Se este fato deve-se à
estudos bioquímicos e os elaterídeos adultos inativação de isozimas do protórax de
de outras espécies, após traçados sua luciferases que eliciam cores mais
bioluminescência (e, poucas vezes, o avermelhadas, descritas por DeLuca e Wood
eletroretinograma), eram desidratados em em Pyrophorus plagiophthalamus, ou à
dessecador a vácuo com P2O5 e estocados em mudança do metabolismo para anaeróbico e
freezer para testes bioquímicos. Ao longo da consequentes alterações de pH e da
desidratação, notava-se que as lanternas do estrutura terciária da enzima, é uma questão
elaterídeo Pyrophorus ficavam acesas e sua em aberto.

Figura 20. Larvas e fêmea de quatro espécies de fengodídeos com lanternas de diferentes
cores: A, Brasilocerus impressicolor, larva; B, Mastinomorphus sp2, larva; C, Mastinomorphus
sp1, fêmea; D, Phrixothrix heydeni, larva.10 Copyright 1997 Entomological Society of America

11. Aplicações tecnológicas da quantificar ATP via bioluminescência.


Considerando que esta é a molécula
bioluminescência estocadora de energia nas células vivas, pode
ser mensurada e usada como marcadora em
uma pletora de amostras biológicas, inclusive
A luciferase e a luciferina de vagalumes biomassa e contaminação microbiológica de
são utilizadas há cerca de 50 anos como alimentos, água tratada, bebidas e
reagentes bioanalíticos.12 Como a reação medicamentos, entre outros. Após a
depende da presença de ATP, além de clonagem do cDNA (gene luc) que codifica a
oxigênio molecular, luciferina e luciferase luciferase de vagalumes, várias outras
têm sido empregados para detectar e aplicações que empregam este gene, e a

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Bechara, E. J. H; Viviani, V. R.

luciferase produzida, foram desenvolvidas. NanoLuc®Luciferase da Promega.


Entre estas, destaca-se o uso do gene da Notavelmente, algumas destas aplicações
luciferase em kits diagnósticos de envolvem o uso de luciferases que emitem
pneumonia, AIDS e metástese de tumores, e diferentes cores de bioluminescência
para auxiliar a indústria farmacêutica a oriundas de vagalumes brasileiros, como a
prospectar e desenvolver novas drogas larva do trenzinho, clonadas e desenvolvidas
terapêuticas como antibióticos e por Viviani e colaboradores na USP,
antitumorais.21 Outra área de aplicações Universidade de Shizuoka (Japão), UNESP e
analíticas emprega os genes de luciferases de UFSCAR.70,71 A Figura 21 reúne algumas
besouros em biossensores enzimáticos e aplicações analíticas do sistema
celulares destinados a detectar a presença de luciferina/luciferase de vagalumes.
poluentes e agentes tóxicos tais como metais
pesados em águas, por exemplo no kit

Análises clínicas - dosagem de metabólitos e enzimas que possam ser acoplados ao gasto
ou produção de ATP.
Análises microbiológicas - monitoração de contaminação microbiana de alimentos,
medicamentos, água tratada e amostras hospitalares.
Biotecnologia - uso do gene da luciferase (luc à o oà ge eà ep te à e à a t iasà
transformadas para produção de proteínas, enzimas e hormônios.
Outros - monitoração de fito- eà zoopla to ,à pes uisaà espa ial,à la te asà uí i as ,à
detecção de vírus, fungos e bactérias, etc.
Figura 21. Aplicações tecnológicas do sistema luciferina/luciferase de vagalumes para dosagem
de ATP em amostras biológicas e ambientais

Mais recentemente foi relatado o (Bioluminescence Resonance Energy Transfer)


desenvolvimento de nanobastões quânticos foram desenvolvidos com outras luciferases,
semicondutores como aceptores da luz por exemplo, do cnidário Renilla reniformes
emitida por uma luciferase mutante do (sea pansy,à i -do- a .à Va ia do-se o
lampirídeo Photinus pyralis, obtida por comprimento do nanobastão, luzes de
técnicas de biologia molecular, e acoplada diferentes cores são eliciadas, permitindo
covalentemente ao bastão, para intensificar o que luz azul-esverdeada possa ser convertida
sinal luminoso quando se adiciona luciferina em vermelho ou mesmo infravermelho, as
(Figura 22).72 Estes sistemas de transferência quais são particularmente úteis para
de energia a longa distância (transferência imageamento in vivo.
Föster), denominados BRETS

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Bechara, E. J. H; Viviani, V. R.

Bioluminescência artificial de
vagalumes 20 a 30 vezes mais
eficiente que a natural, em uma
estrutura de nanobastões
quânticos, contendo CdS (camada
externa) e CdSe (núcleo), aos
quais a luciferase está ligada.

Altera do o ta a ho do ú leo e o o pri e to do a o astão rod , é possível udar a


cor da luz gerada pelo nanobastão.

Figura 22. Bastões quânticos para optimização de transferência Foster da energia de luz
emitida por luciferina/luciferase de Photius pyralis (Lampyridade) e núcleo/capa
semicondutora de CdSe/CdSe (Bioluminescence Resonance Energy Transfer, BRET). Adaptado
da ref. 72. Copyright 2012 American Chemical Society

12. E o futuro da pesquisa da diversidade química das luciferinas e a


identificação do microambiente peptídico do
bioluminescência de insetos no sítio ativo das luciferases pavimentam o
Brasil? caminho para o desenho e síntese de
sistemas miméticos mais simples para
optimização dos sinais luminosos (cor e
Verifica-se crescente interesse e intensidade) e operação em ambientes
progresso na investigação da biologia e bases químicos e biológicos dos mais diversos.
moleculares da bioluminescência de
Os 25 anos de pesquisas dos besouros
organismos terrestres e marinhos, enquanto
luminescentes no cerrado brasileiro, nos
ciência fundamental e aplicada, no
deixou perplexos e de certa forma frustrados
desenvolvimento de sondas, sensores,
com tantas perguntas não respondidas. A
marcadores e mesmo fontes alternativas de
bela escultura do Museum of Fine Arts
luz. A era dos radio-imunoensaios, com as
(Boston) - Nature Unveiling Herelf before
descobertas dos mecanismos de
Science-, já citada no início deste artigo, está
bioluminescência e quimioluminescência de
metaforicamente destinada a continuar o seu
vários sistemas químicos e enzimáticos,
desnudamento para o deleite dos cientistas e
cedeu lugar aos lumi-imunoensaios, mais
a felicidade da humanidade. Quantas novas
baratos e seguros. Não resta dúvida de que a
espécies de coleópteros bioluminescentes

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Bechara, E. J. H; Viviani, V. R.

nos aguardam na Amazônia, Caatinga, Mata insetos e à bioluminescência em geral. Entre


Atlântica, Pampas, Pantanal e mesmo no eles, incluem-se os biólogos Cleide Costa
Cerrado? Existem insetos ou anelídeos (Museu de Zoologia, USP) e Sérgio Vanin
bioluminescentes nas cavernas brasileiras, tal (Instituto de Biociências, USP), o bioquímico
como documentado na Australásia e Estados Vadim Viviani (UFSCar, campus Sorocaba) -
Unidos? Quais os papéis das diferentes cores um dos autores deste artigo-, os químicos
das lanternas e padrões de atração e corte Cassius Stevani e Pio Colepícolo Neto
sexual em fengodídeos? Há processos de (Instituto de Química, USP), Marcelo Barros
extinção destes insetos em curso (UNICSUL, São Paulo), Moacir Torres (UDESC,
relacionados a defensivos agrícolas ou Lajes) e, muito recentemente, iniciando
ilu i aç oà a tifi ialà ueà to a à i visíveis à estudos de anelídeos aquáticos
os parceiros sexuais? Larvas e fêmeas de luminescentes, o químico Anderson
fengodídeos imobilizam suas enormes presas Garbuglio de Oliveira (Instituto
(diplopodas) por neuroinibidores presentes Oceanográfico, USP). Aguardamos
no líquido paralisante nelas injetado? O ansiosamente jovens talentosos, inspirados e
açúcar trealose desempenha algum papel decididos a aumentarem a população de
protetor (antioxidante, estabilidade de pes uisado esà ilha tes àe à ossoàpaís.
membranas e proteínas, fonte de água
metabólica) nas larvas de Pyrearinus
termitilluminans durante o período de Dedicatória
estresse hídrico (inverno)? Por que apenas
cupinzeiros marrom-avermelhados, e não os
cinzentos, hospedam o P. termitilluminans; Este artigo de divulgação é dedicado aos
alguma relação com a composição química pesquisadores do Biological Laboratories da
do solo, presença de alumínio tóxico, acidez? Harvard University, Prof. John Woodland
E a convivência entre larvas canibais de P. Wood à Hasti gsà eà D a.à Th seà Wilso ,à
termitilluminans e os cupins-soldados recém-falecidos. Ambos contribuíram
agressivos dentro dos cupinzeiros; alguma significativamente para a implantação das
relação simbiótica entre estes insetos? Qual o linhas de quimioluminecência e
papel dos cupinzeiros luminosos na bioluminescência no Brasil ao
nucleação de vegetação em torno do supervisionarem e acompanharem vários
cupinzeiro e que espécies vegetais são mais pesquisadores brasileiros, com generosas
disseminadas no cerrado? Quantos analitos doações de equipamentos e reagentes e
ou tecidos animais e vegetais poderiam ser contínuo incentivo e discussões científicas.
monitorados pelo sistema bioluminescente Entre eles, os dois autores deste artigo e Pio
destes insetos? Alguma possibilidade de Colepícolo, Luiz Henrique Catalani, Guilherme
amplificar a intensidade da luz emitida por Indig e Osvaldo Keith Okamoto, além de
nanotubos quânticos à base de luciferases, colaborarem com os Drs. Paolo Di Mascio,
dopados com íons de terras raras? E as Marisa Helena Genari de Medeiros e Cassius
crianças e população em geral, Stevani. O Prof. Woody Hastings distinguiu-se
especialmente do interior do Brasil, o quanto pelas pesquisas em bioluminescência
conhecem, protegem e valorizam a luz marinha, particularmente sobre as bactérias
biológica? Tribos tradicionais do Caribe fazem bioluminescentes simbiontes de peixes e o
seu uso há séculos, magnificamente dinoflagelado bioluminescente Goniaulax
retratado por Rugendas! Há longo caminho poliedra, além de elucidar a biologia
ainda a percorrer. molecular dos ritmos circadianos da alga
No caso específico dos besouros Goniaulax. A Dra. Thérèse Wilson deu
luminescentes, afortunadamente muitos contribuições seminais à síntese e
pesquisadores brasileiros deram propriedades quimioluminescentes de
contribuições importantes ao conhecimento dioxetanos e ao estudo das propriedades de
da biologia, bioquímica e ecologia destes oxigênio singlete.

Rev. Virtual Quim. |Vol 7| |No. 1| |3-40| 35


Bechara, E. J. H; Viviani, V. R.

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Bechara, E. J. H.; Colepicolo-Neto, P.;
Agradecemos ao Prof. Cassius Stevani (USP)
Viviani, V.; Barros, M. P.; Costa, C. Colors and
por disponibilizar foto inédita de cogumelos
biological functions of beetle
luminescentes, elaborar esquemas e
bioluminescence. Anais da Academia
organizar fotos, fazer a revisão deste artigo,
Brasileira de Ciências 1999, 71, 169.
colaborar nas coletas, e contínuo apoio e 6
Viviani, V. R. Luciferases: As enzimas da luz.
incentivo. Agradecimentos especiais aos
Ciencia Hoje 2004, outubro, 18. [Link]
nossos professores de Entomologia e diletos 7
Haddock, S. H. D.; Moline, M. A.; Case, J. F.
amigos, Cleide Costa (MZUSP) e Sérgio Vanin
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Biodiversidade do Estado de São Paulo.
coragem as pesquisas iniciais destes insetos:
Síntese do Conhecimento ao Final do Século
Pio Colepicolo Neto, Vadim Viviani (co-autor
XX; Brandão, C. R. F.; Cancello, E. M. eds.
deste artigo), Marcelo Barros e Moacir
(Joly, C. A.; Bicudo, C. E. M. orgs); FAPESP:
Torres. Também agradecemos vários
São Paulo, 1999, xviii.
pesquisadores brasileiros e estrangeiros que 9
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colaboraram nas pesquisas da
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Viviani, V. R.; Bechara, E. J. H.
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