Você está na página 1de 19

DIREITO PENAL I

DA LEI PENAL
• ATENÇÃO: Este material é informativo, foi retirado da bibliografia constante no plano de ensino e não exaure a matéria, servindo apenas Prof. Me. Elisandro Lotin de Souza
elisandrolotinsouza@gmail.com
como orientação e roteiro para estudos, sendo necessário, portanto, estudos complementares. (47) 9 8488 -6611
❖ O TIPO PENAL INCRIMINADOR – ESTRUTURA E ELEMENTOS CONSTITUTIVOS

❑ O tipo penal que, lembremos, possui o papel de criar infrações penais (gênero) e cominar-lhes penas ou medidas de
segurança, em regra, é estruturado da seguinte forma:

1. Título ou “nomen juris”: é a nomenclatura dada pelo legislador à determinada conduta considerada crime (lato sensu).
Exemplo: art. 171 do Código Penal – Estelionato, art. 121 do Código Penal – Homicídio simples, dentre outros.

2. Preceito primário: trata-se da descrição da conduta proibida. Ex.: art. 121 do Código Penal: “matar alguém”.

3. Preceito secundário: é a sanção penal prevista para determinada conduta. Ex.: no crime de homicídio simples
(art. 121 do Código Penal), o preceito secundário é “reclusão, de seis a vinte anos”.

❑ Outrossim, analisada a estrutura do tipo penal incriminador, cumpre abordar, a seguir, os elementos que o compõem:

➢ Elementos objetivos: são todos os componentes que não possuem qualquer referência com a vontade do agente,
apesar de estarem com ela envolvidos. Subdividem-se em:
✓ Descritivos: são passíveis de reconhecimento por juízos de realidade, ou ainda, pela simples constatação. Exemplo:
“matar alguém”, em que “matar” é eliminar a vida, “alguém” é a pessoa humana, portanto, não há necessidade alguma
de valoração ou interpretação para compreensão do tipo.

✓ Normativos: são desvendáveis somente por juízos de valoração. Exemplo: ao se analisar, no crime de ato obsceno
(art. 233, CP), o conceito de ato obsceno, é claro e evidente o juízo de valor. Neste diapasão, obsceno é, conforme
ensinamentos de Guilherme de Souza Nucci (2012, p. 200), “o que causa vergonha”, conotado de sentido sexual.

✓ Científicos, caracterizados por transcenderem o mero elemento normativo, cuja apreensão exige conhecimento do
significado estampado na ciência natural. A Lei nº 11.105/2005, no seu art. 24, pune o ato de utilizar embrião
humano em desacordo com o que dispõe o art. 5º da mesma Lei. Ora, a expressão destacada (embrião humano) não
demanda juízo de valor, bastando conhecer seu significado esclarecido pela biologia.
➢ Elementos subjetivos: são relacionados à vontade e à intenção do agente, sendo denominados de elementos
subjetivos especiais do tipo, eis que há tipos penais que os possuem e outros não. Exemplo: crime de prevaricação
(art. 319, CP), no qual deve o agente ter a intenção de satisfazer interesse ou sentimento pessoal. Isto posto, além do
dolo em “retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa em lei”,
deve haver a finalidade específica supramencionada.
INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL
❑ Interpretar significa estabelecer a vontade da lei, ou seja, o seu conteúdo e significado.

“Interpretar é explicar, esclarecer; dar o significado de vocábulo, atitude ou gesto; reproduzir por outras palavras um
pensamento exteriorizado; mostrar o sentido verdadeiro de uma expressão; extrair, de frase, sentença ou norma, tudo o
que a mesma se contém”. MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e aplicação do direito. 19. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2004, p.7.

❑ A interpretação sempre é necessária, ainda que a lei se mostre, inicialmente, inteiramente clara, pois podem surgir dúvidas
quanto ao seu efetivo alcance.

❑ No direito penal a interpretação pode ser classificada levando-se em conta o sujeito responsável pela sua
realização; os meios de que se serve o intérprete e no que diz respeito aos resultados obtidos.

➢ INTERPRETAÇÃO QUANTO AO SUJEITO (autêntica; judicial ou doutrinária)

▪ Interpretação autêntica ou legislativa: Tipo de interpretação feita pelo legislador visando esclarecer seu
significado de lei editada pelo mesmo. Possui natureza cogente, ou seja, não existem margem para qualquer outro
tipo de interpretação. Ex. Conceito de causa no art. 13 do CP; conceito de funcionário público no art. 327 do CP.

▪ Interpretação doutrinária ou científica: É a interpretação do texto lega feita pelos doutrinadores, escritores e
articulistas. Não possui força cogente.

▪ Interpretação judicial ou jurisprudencial: É a interpretação da lei feita pelos membros do poder judiciário. Sua
reiteração acaba por virar uma jurisprudência. Em regra, não tem força obrigatória, salvo em dois casos: 1. quando
constituir uma súmula vinculante (CF, art. 103-A, e Lei n. 11.417/06); 2. Quando, no caso concreto, já estiver
sedimentado a coisa julgada material).
➢ INTERPRETAÇÃO QUANTO AOS MEIOS OU MÉTODOS - Tipo de interpretação de que se serve o intérprete
para descobrir o significado da lei penal (gramatical e lógica).

▪ Interpretação gramatical (literal ou sintática): Tipo de interpretação que surge a partir da acepção literal
das palavras contidas na lei, desprezando quaisquer outros elementos que não os visíveis a partir de uma
rápida leitura do texto legal. E tida como a forma de interpretação mais precária, pois não se utiliza de
nenhuma técnica científica.

▪ Interpretação Lógica ou teleológica: É a interpretação realizada com a finalidade de desvelar a vontade


manifestada na lei, nos moldes do art. 5º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro. Tipo de
interpretação profunda, pois é realizada com maior cientificidade.

DECRETO-LEI N. 4.657/42 - Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro.

Art. 5o Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem
comum.

o No caso de uma interpretação lógica ou teleológica, o intérprete deve buscar todos os meios que
possui à sua disposição no sentido de buscar revelar a vontade da lei e, neste sentido, temos a
utilização de:
• Elementos históricos - evolução histórica da lei e do objeto por ela tratado;
• Elementos sistemáticos – análise da lei em compasso com o sistema em que a mesma esta
inserida;
• Elementos de direito comparado – análise da lei (tema da lei) a partir de outros países;
• Elementos extrajurídicos - análise da lei a partir de institutos que se encontram fora do âmbito do
Direito. Ex. conceito de veneno – relacionado à química ou mesmo questões ligadas à sociedade.
➢ INTERPRETAÇÃO QUANTO AO RESULTADO – Refere-se à conclusão extraída pelo intérprete (declaratória, extensiva
e restritiva).

▪ Interpretação declaratória (declarativa ou estrita): É aquela que resulta de uma sintonia entre o texto da lei e a sua
vontade. Aqui o intérprete não amplia nem restringe o alcance da lei, mas apenas entende o seu sentido literal.
Podemos citar o exemplo do art. 141, inciso III[5] do Código Penal que dispõe:
“Art. 141 - As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de um terço, se qualquer dos crimes é cometido:
(...) III - na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou da injúria”
As penas cominadas para os crimes de calúnia, difamação e injúria serão aumentadas de um terço, se qualquer
dos crimes for praticado na presença de “várias pessoas”. Ao interpretarmos o termo, chegamos a conclusão que
“várias pessoas” são um conjunto de três ou mais pessoas.
Isso porque existem situações, conforme o art. 155, parágrafo 4º, inciso IV do Código Penal, que a lei
expressamente prevê à presença de duas ou mais. Da mesma forma, por vezes exige também um mínimo de
quatro pessoas, ela utiliza a expressão de “mais de três”, de acordo com o art. 288 do mesmo código. Assim
natural que quando se usa do vocábulo “várias”, prevê três ou mais pessoas.

▪ Interpretação extensiva: É a interpretação feita no sentido de corrigir a fórmula legal que apresenta-se
excessivamente estreita. Em outras palavras, a lei disse menos do que desejava, sendo necessário uma interpretação
ampliativa de modo que o texto da lei possa ser amoldado à sua efetiva vontade. Ex. o art. 159 do CP fala em
extorsão mediante sequestro que também abrange a extorsão mediante cárcere privado. Outro exemplo é a
proibição legal da bigamia, prevista no artigo 235 do CP. Naquela ocasião, a lei também quis, de maneira implícita,
proibir a poligamia
▪ CUIDADO: “O princípio da legalidade estrita, de observância cogente em matéria penal, impede a interpretação
extensiva ou analógica da normas penais”
▪ RHC 85.217-3/SP, rel. Min. Eros Grau, 1º Turma, Dj. 02.08.2005.
▪ Interpretação restritiva: É a que consiste na diminuição do alcance da lei, concluindo-se que a sua
vontade, manifestada de forma ampla, não permite seja atribuída a ela (lei) todo o sentido que poderia
ter. A interpretação restritiva restringe o significado, sempre partindo da ideia que a lei disse mais do que
pretendia. Ex. artigo 28 do CP, que dispõe que a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou
substância de efeitos análogos, não excluiu a imputabilidade penal. Porém, a lei não atentou para o fato
de que uma das espécies de embriaguez (patológica) pode vir a excluir a imputabilidade penal, quando
interferir totalmente na capacidade do indivíduo.

➢ INTERPRETAÇÃO PROGRESSIVA. Interpretação progressiva, adaptativa ou evolutiva é a que busca


amoldar a lei à realidade atual, destinando-se a acompanhar a evolução e mudanças da sociedade,
evitando assim uma constante reforma legislativa. Em síntese, a interpretação progressiva busca o
significado legal de acordo com o progresso da ciência. Exemplo: Muitos entende que a Lei Maria da Penha
deve amparar o transsexual (homem que passou pelo procedimento clínico de mudança de sexo).

➢ INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA OU “INTRA LEGEM”: É a interpretação necessária a extrair o sentido da


norma mediante os próprios elementos fornecidos por ela. É a que se verifica quando a norma contém em
seu bojo “uma fórmula casuística seguida de uma fórmula genérica. É necessária para possibilitar a
aplicação da lei aos inúmeros e imprevisíveis casos que as situações práticas podem apresentar. O melhor
exemplo é o homicídio qualificado (CP, art. 121, § 2º), que primeiro apresenta a fórmula casuística no caput
do parágrafo e, em seus incisos, fórmulas genéricas, a serem preenchidas de acordo com o caso concreto.
➢ ANALOGIA.
▪ Não se trata de interpretação da lei penal (aqui, sequer existe uma lei a ser interpretada).
▪ Analogia é entendida como integração ou colmatação do ordenamento jurídico a partir de lacunas existentes.
▪ Também conhecida como conhecida como integração analógica ou suplemento analógica, é a aplicação, ao caso não
previsto em lei, de lei reguladora de caso semelhante.
▪ No direito penal somente pode ser utilizada em relação às leis não incriminadoras, em respeito aos princípios da
reserva legal e da legalidade.
▪ São espécies de analogia:
• Analogia in malam partem: É aquela pela qual aplica-se ao caso omisso uma lei maléfica ao réu, disciplinadora
de caso semelhante. Não é admitida, como já dito, em homenagem aos princípios da legalidade e da reserva
legal.

• Analogia in bonam partem: É aquela pela qual se aplica ao caso omisso uma lei favorável ao réu reguladora de
caso semelhante. É possível no Dto. Penal, exceto no que diz respeito as leis excepcionais, que não admitem
analogia, justamente por seu caráter extraordinário.

Você também pode gostar