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DOI: 10.1590/1413-81232014197.

09142013 2157

TEMAS LIVRES FREE THEMES


Descarte de medicamentos:
uma análise da prática no Programa Saúde da Família

Disposal of drugs: an analysis of the practices


in the family health program

Tatiane de Oliveira Silva Alencar 1


Carla Silva Rocha Machado 1
Sônia Carine Cova Costa 1
Bruno Rodrigues Alencar 1

Abstract The scope of this article is to discuss the Resumo Os objetivos deste artigo consistem em
perception of health workers in relation to the discutir a percepção dos trabalhadores de saúde
disposal of drugs and analyze how this practice em relação ao descarte de medicamentos e analisar
occurs in family health units in a city in the state como ocorre essa prática em Unidades de Saúde da
of Bahia. It involved a qualitative and explorato- Família (USF) de um município baiano. Estudo
ry study together with nurses, nursing assistants, qualitativo e exploratório, que teve como sujeitos
community health workers and pharmacists of enfermeiros, técnicos de enfermagem, agentes co-
Pharmaceutical Care and Health Surveillance. munitários de saúde e farmacêuticos da Assistên-
Semi-structured interviews were conducted with cia Farmacêutica e da Vigilância Sanitária. Rea-
systematic observation and use of previously-draft- lizaram-se entrevistas semiestruturadas e obser-
ed scripts and the content analysis method was vação sistemática com utilização de roteiros pre-
used for data analysis. The results showed poor viamente elaborados e utilizou-se o método análi-
understanding regarding proper disposal among se de conteúdo para análise dos dados. Os resulta-
the workers, dissonant practices in the implemen- dos apontaram pouca compreensão dos trabalha-
tation of the regulations and a lack of communi- dores quanto ao descarte adequado, execução de
cation between health surveillance and other práticas divergentes dos dispositivos legais e desar-
health services. The creation of effective strate- ticulação entre a vigilância sanitária e os demais
gies must involve the whole process from man- serviços de saúde. A elaboração de estratégias efeti-
agement to the prescription and use of drugs and vas devem envolver desde a gestão até a prescrição
requires further political, economic and social e o uso de medicamentos e requerem esforços polí-
participation. ticos, econômicos e a participação social.
Key words Medical waste, Drugs, Primary health Palavras-chave Resíduos de serviços de saúde,
care Medicamentos, Atenção primária à saúde
1
Curso de Ciências
Farmacêuticas, Área de
Farmácia Social,
Departamento de Saúde
Universidade Estadual de
Feira de Santana. Av.
Transnordestina s/n, Novo
Horizonte. 44.036-900
Feira de Santana BA Brasil.
tatifarmauefs@yahoo.com.br
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Alencar TOS et al.

Introdução diante da conjuntura mundial de prevenção de


possíveis riscos decorrentes da má destinação dos
A descoberta e o desenvolvimento de fármacos resíduos de diversos tipos, ao Estado brasileiro
em diferentes formas farmacêuticas possibilita- também coube a responsabilidade de intervir,
ram grandes transformações e avanços nas ati- mediante políticas públicas, para a formulação e
vidades de assistência à saúde, sendo o medica- implantação de estratégias, de modo a orientar
mento uma tecnologia bastante difundida e utili- sobre o manejo e o destino final dos resíduos de
zada. Contudo, na sociedade capitalista, o cresci- serviços de saúde. Assim, tanto o Ministério da
mento expressivo do mercado farmacêutico so- Saúde quanto o Ministério do Meio Ambiente
mado a um modelo de atenção à saúde focado estabeleceram regulamentações para o gerencia-
no tratamento de doenças, tornou o uso de me- mento dos resíduos gerados nos diferentes esta-
dicamentos progressivo e abusivo, expondo a belecimentos de saúde. Neste trabalho, porém,
população aos riscos relacionados ao uso irraci- daremos destaque apenas àquelas relacionadas
onal dos mesmos. aos serviços básicos de saúde.
Nesse contexto, a prática da medicamentali- A Agência Nacional de Vigilância Sanitária
zação da saúde é uma realidade de modo que as (Anvisa), por meio da RDC n° 306/2004 que dis-
regulamentações e normas que orientam o co- põe sobre o Gerenciamento de Resíduos de Ser-
mércio, a prescrição e o uso não têm sido sufici- viços de Saúde (GRSS), aprovou o regulamento
entes para minimizar os riscos e os prejuízos dela técnico para o gerenciamento de resíduos de ser-
decorrentes1. Dentre estes estão incluídos o acú- viços de saúde a ser observado em todo o terri-
mulo de medicamentos nos domicílios e tam- tório nacional na área pública e privada7. Já a
bém nos serviços de saúde, as perdas por valida- Resolução do Conselho Nacional do Meio Am-
de, e, ainda mais preocupante, o descarte inade- biente (Conama) n° 358/20058, dispõe sobre o
quado dos mesmos. Assim, para além das di- tratamento e a disposição final dos Resíduos de
mensões técnica, simbólica, econômica e políti- Serviços de Saúde (RSS) sob o prisma da preser-
ca2 que compreendem os medicamentos, eles vação dos recursos naturais e do meio ambiente.
também podem representar um problema am- Estes dispositivos legais classificam os resí-
biental em virtude dos contaminantes orgânicos duos de serviços de saúde em cinco categorias
oriundos destes resíduos. (A, B, C, D e E), que apresentam distintos mo-
No mundo todo tem sido identificada a pre- dos de tratamento e disposição final. Este artigo
sença de fármacos, tanto nas águas, como no trata especificamente dos resíduos do grupo B
solo, devido ao descarte indevido de medicamen- (resíduos químicos), no qual estão incluídos os
tos vencidos, parcialmente utilizados ou altera- de medicamentos, que podem apresentar risco à
dos, e da excreção de metabólitos que não são saúde pública ou ao meio ambiente, dependen-
eliminados no processo de tratamento de esgo- do de suas características de inflamabilidade, cor-
tos3. Porém, até o momento, não existem dados rosividade, reatividade e toxicidade7,8.
suficientes sobre os reais impactos e riscos que Fazem parte do grupo B os produtos hor-
os fármacos e seus contaminantes residuais re- monais, antimicrobianos, citostáticos, antineo-
presentam para a saúde humana e para o ambi- plásicos, imunossupressores, digitálicos, imuno-
ente4, sendo preocupantes, os possíveis efeitos a moduladores, antirretrovirais, quando descar-
longo prazo. tados por serviços de saúde, farmácias, drogari-
Há ainda o risco à saúde de pessoas que pos- as e distribuidores de medicamentos ou apreen-
sam reutilizar os medicamentos por acidente ou didos. Também inclui os resíduos e insumos far-
mesmo intencionalmente, devido a fatores soci- macêuticos dos medicamentos controlados pela
ais ou circunstanciais diversos. O consumo in- Portaria n° 344/98 e suas atualizações, resíduos
devido de medicamentos descartados de manei- de saneantes, desinfetantes, dentre outros7.
ra inadequada pode levar ao surgimento de rea- A RDC n° 306/2004 estabelece ainda que todo
ções adversas, intoxicações, dentre outros pro- gerador de RSS deve elaborar seu Plano de Ge-
blemas, comprometendo decisivamente a quali- renciamento de Resíduos de Serviços de Saúde
dade de vida e saúde dos usuários5. (PGRSS), contemplando as ações relativas ao
As indústrias e os serviços de saúde têm sido manejo dos resíduos sólidos, observadas suas
grandes geradores de resíduos. Porém, durante características e seus riscos, contemplando os
muito tempo, por falta de regulamentação sobre aspectos referentes à geração, segregação, acon-
o assunto, não foi dada destinação e tratamen- dicionamento, coleta, armazenamento, transpor-
tos corretos aos mesmos6. Nesta perspectiva, e te, tratamento e disposição final, bem como as
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ações de proteção à saúde pública e ao meio Resultados e Discussão
ambiente7.
Tais dispositivos legais e também as conjun- Percepção dos trabalhadores de saúde
turas social, política e econômica que caracteri- sobre descarte de medicamentos
zam o cenário mundial, cada vez mais exigem [...] não é o correto, viu, mas é o que a gente
dos governos e da sociedade a adoção de estraté- faz
gias e ações que impactem positivamente sobre
as questões ambientais. Assim, a discussão so- As perdas ou sobras de medicamentos são
bre o descarte de tecnologias diversas, incluindo comuns tanto nos serviços de saúde quanto nos
os produtos de saúde, especialmente os medica- domicílios, constituindo-se em um problema re-
mentos, deve ser pauta não só no espaço políti- sultante de diversas causas. Suas origens perpas-
co, mas também acadêmico e dos serviços de saú- sam desde a gestão de recursos e de materiais
de. Nesta perspectiva, e tomando como cenário envolvidos nos processos de aquisição de medi-
de estudo as USF, os objetivos deste artigo são camentos e demais insumos farmacêuticos, até a
discutir a percepção dos trabalhadores de saúde prática da prescrição e dispensação, a distribui-
em relação ao descarte de medicamentos; e ana- ção de amostras grátis e apresentações farma-
lisar essa prática nos serviços de atenção básica. cêuticas inapropriadas ao consumo exato, cor-
respondente à necessidade terapêutica dos indi-
víduos. Nos domicílios, podemos citar causas que
Metodologia encontram origem no uso irracional de medica-
mentos, falhas na adesão terapêutica, erros de
Estudo exploratório, com abordagem qualitati- dispensação nas farmácias públicas ou privadas
va9, realizado em Unidades de Saúde da Família e falta de educação sanitária dos usuários de
(USF) de um município baiano. Participaram medicamentos5.
como sujeitos os trabalhadores das USF de nível Desta forma, para o correto descarte destes
superior (enfermeiros), nível técnico (técnicos de resíduos de saúde, devem ser observados os crité-
enfermagem) e médio (Agentes Comunitários de rios específicos diante das propriedades caracte-
Saúde). Além desses, três farmacêuticos, traba- rísticas dos medicamentos, no intuito de evitar
lhadores da coordenação da Assistência Farma- danos ao meio ambiente, águas, solos e animais.
cêutica, da Vigilância Sanitária e da Central de Esses critérios estão explícitos na Norma Técnica
Abastecimento Farmacêutico. da ABNT nº 10.004/200411, na Resolução Anvisa
Como critério de inclusão, considerou-se que nº 306/20047 e na Resolução Conama nº 358/20058.
o sujeito deveria ser maior de 18 anos, ter o tem- Contudo, autores12 destacam a ausência de ori-
po mínimo de seis meses de atividade no municí- entação técnico-científica consolidada nos apara-
pio na função em que se encontrava e aceitar, tos legais existentes no Brasil, caracterizada por
livremente, participar da pesquisa. A delimitação uma escassa disponibilidade de dados e informa-
do número de sujeitos foi definida pela satura- ções com rigor científico no que tange às possibi-
ção teórica10. Os sujeitos foram identificados lidades de manejo e tratamento dos resíduos.
numericamente. No total, participaram 18 tra- Quanto à percepção dos trabalhadores so-
balhadores, sendo quatro Agentes Comunitári- bre o descarte de medicamentos, as falas seguin-
os de Saúde – ACS (E1 a E4), sete técnicos de tes remetem à existência de condições adequadas
enfermagem (E5 a E11), quatro enfermeiros (E12 e locais apropriados:
a E15) e três farmacêuticos (E16 a E18). Descarte de medicamentos é ter um local ade-
A coleta de dados ocorreu no período de abril quado pra descartar, não jogar em qualquer lugar
a julho de 2012, e foi realizada através das técnicas [...] (E2, agente comunitário de saúde).
de observação sistemática e entrevista semiestru- A forma com a qual esses medicamentos são
turada, para as quais foram utilizados roteiros desprezados depois do uso, ou as sobras, né, qual o
previamente elaborados. As entrevistas foram re- destino que a gente dá pra ele depois de parte do uso
alizadas e gravadas, mediante assinatura do Ter- [...] (E14, enfermeiro).
mo de Consentimento Livre e Esclarecido. Quanto às fontes de informações sobre o
Os dados obtidos através das entrevistas fo- descarte de medicamentos, as falas permitem
ram analisados com base no método de análise identificar que a mídia é o principal meio utiliza-
de conteúdo. A pesquisa foi aprovada pelo Co- do pelos trabalhadores.
mitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Temos a internet também, com blogs informa-
Estadual de Feira de Santana (UEFS). tivos, já tem algumas informações que eu tô sempre
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olhando [...]. Geralmente eles [as fontes de infor- você tem um solo contaminado, se tiver um rio
mação] pedem que a gente procure uma unidade e próximo pode afetar o lençol freático, tem pessoas
passe [entregue] o medicamento vencido, que aí a que tomam água de poço, água de rio, tem pessoas
unidade junto com a Secretaria Municipal de Saú- que plantam em certos locais, e então com certeza
de do município vai ver de que maneira eles vão vai ter um prejuízo pra saúde das pessoas, ou então
incinerar estes medicamentos. O que deve ser feito uma criança que esteja brincando num lugar. Hoje
de maneira correta dentro da lei, dos parâmetros tem pessoas que recolhem tantos lixos, então pode
legais [...] (E3, agente comunitário de saúde). contaminar as pessoas que trabalham com estes
Decorado não, mas já tive acesso [regulamen- produtos [...] (E1, agente comunitário de saúde).
tação para o descarte de medicamentos] [...]. No lixo corre o risco de algumas pessoas terem
Assisti uma reportagem [...] de um morador que contato com esse medicamento vencido e acaba-
descartou medicações de uso dentro de casa, no rem, por falta de orientação, de instrução, de infor-
lixo comum e alguma criança brincando ingeriu e mação, tomando esse remédio, fazendo o uso do
tava internada em hospital. E ele ia responder in- mesmo, podendo levar até ao óbito. [...] Tem com
clusive a crime sem intenção de matar [...] (E12, certeza o risco ambiental também, por isso que eu
enfermeiro). acho que o descarte que eu faço em casa tá errado
Já li a lei. [...] Eu sei que tem a regulamentação porque vai entrar direto em contato com as águas
para isso [...]. Eu já vi em uma revista uma maté- que vai para o rio, pro mar. Além de contaminar a
ria sobre o destino do lixo, o lixo que não pode ser cadeia marinha há também a contaminação do solo,
jogado no lixo comum [...] (E13, enfermeiro). né. Isso com certeza vai trazer alguns danos pro
Por outro lado, alguns trabalhadores revela- meio ambiente e acaba trazendo os danos pra gente
ram desconhecimento ou desinteresse sobre esse depois [...] (E3, agente comunitário de saúde).
assunto, conforme as falas seguintes: Riscos pro meio ambiente, que este tá claro, e
Nunca vi informações sobre descarte de medi- risco pras pessoas que não tem entendimento. Se
camentos em meios de comunicação [...] (E2, agente desprezar o medicamento em local inadequado tem
comunitário de saúde). o risco de crianças, ou até mesmo um adulto, por-
Não. Nunca me envolvi muito com isso não que com certeza tem várias pessoas que não sabe
[...] (E10, técnico de enfermagem). sobre o risco que tem tomar medicação vencida.
As falas apresentadas demonstram que a dis- Então, um grande risco. O medicamento vencido
cussão sobre este tema é incipiente no cenário pode fazer mal não só por tá vencido, mas assim,
observado, ainda que nos últimos anos essa te- uma medicação que a pessoa não tenha necessida-
mática tenha sido mais difundida pelos meios de de ou então que venha ter uma reação [...]. (E9,
comunicação e que, de modo mais abrangente, a técnico de enfermagem)
questão da sustentabilidade tenha se tornado pau- O entrevistado 3 revela que destina inadequa-
ta na agenda das discussões mundiais, a exemplo damente os medicamentos em desuso no seu
da Conferência das Nações Unidas sobre Desen- domicílio, mesmo tendo noções sobre os possí-
volvimento Sustentável, a Rio +20, ocorrida em veis riscos desta ação. Relato convergente com
junho de 2012, no Rio de Janeiro (RJ), Brasil. outros estudos ao apontarem que, de maneira
As experiências relatadas revelam ainda que geral, o descarte de medicamentos é realizado no
as informações não estão sendo discutidas entre lixo doméstico ou rede de esgoto em razão de
os membros da equipe de saúde da família, haja desconhecimento de informações sobre o desti-
vista que nenhum entrevistado fez referência a no correto, bem como pela carência de postos de
informações obtidas na unidade ou atividade re- coleta destes produtos13,14.
alizada pela Secretaria Municipal de Saúde, ainda As sobras de medicamentos, vencidos ou não,
que todos os trabalhadores tenham responsabi- que são lançados diretamente nas pias e vasos
lidade neste processo. Fato este que corrobora sanitários, chegam às estações de tratamento de
com a observação feita em campo, já que não foi esgoto na sua forma original, sem sofrer altera-
presenciada nenhuma ação ou comunicação for- ções do metabolismo no corpo humano15. Além
mal ou informal relativa à questão do descarte. da disposição dos medicamentos no esgoto ou
As falas também evidenciam que os traba- lixo doméstico, as outras principais vias de en-
lhadores têm noção dos riscos e prejuízos que o trada de fármacos no ambiente resultam da ex-
descarte inadequado de medicamentos provoca creção após administração, e através da remo-
à saúde dos indivíduos e ao meio ambiente. ção de medicamentos tópicos durante o banho16.
Tem lugar que enterram, mas não é recomen- Tais aspectos contribuem de forma mais acentu-
dado por causa da contaminação do solo. [...] Se ada para a contaminação ambiental. Estudos
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demonstram ainda que diversas substâncias não A prática do descarte de medicamentos
são removidas completamente durante os pro- [...] este é o padrão. Agora, se fazem eu não
cessos de tratamento de esgotos17,18. sei
Ainda que os trabalhadores das USFs tenham
demonstrado interesse e preocupação com o Compete a todo gerador de Resíduos de Ser-
tema, pouco tem sido feito pelas instituições ou viços de Saúde (RSS), seja público ou privado,
órgãos responsáveis (Secretaria Municipal da elaborar seu Plano de Gerenciamento de Resí-
Saúde, setores de Vigilância Sanitária e de Assis- duos de Serviços de Saúde (PGRSS) que consiste
tência Farmacêutica), no intuito de disponibili- no documento que aponta e descreve as ações
zar orientações e/ou possibilitar condições para relativas ao manejo dos resíduos sólidos, obser-
o descarte correto de medicamentos. vando suas características e riscos, contemplan-
Até agora a gente não teve nenhuma capacita- do os aspectos referentes à geração, segregação,
ção voltada pra essa área [descarte de medicamen- acondicionamento, coleta, armazenamento,
tos], da Secretaria de Saúde [...] (E3, agente co- transporte, tratamento e disposição final7.
munitário de saúde) A existência do PGRSS nas USF é relatada nas
Não. Nunca vieram dar nenhuma orientação falas a seguir:
não. Só falaram que não precisava mais enviar pra A gente aqui na unidade tem um protocolo de
eles [SMS] que eles não iam mais recolher [...] gerenciamento de resíduos [...] que é o que fazer
(E5, técnico de enfermagem). em cada caso. Falo de resíduos no geral, seja ele
Outras falas revelaram que existiu, em algum orgânico, contaminado. Então aí envolve desde
momento, um comunicado formal para as uni- agulha, seringa, frasco de vacina, até o que seria
dades de saúde sobre a responsabilidade pelo feito com os medicamentos, a unidade de saúde
descarte. atua neste tipo de resíduo [...] (E13, enfermeiro).
[...] o pessoal da farmácia [Assistência Farma- [...] O setor da AF [Assistência farmacêutica]
cêutica] mandou um oficio [...] informando que com a Visa [Vigilância Sanitária], a gente orientou
quando os medicamentos estivessem vencidos era e capacitou todas as unidades de saúde a confeccio-
pra contar, colocar lote, validade e embalar e dei- narem seu PGRSS e a partir do PGRSS eles vão
xar aqui [na USF], que esse descarte ia ser feito fazer a parte de segregação e depois destinar o lixo,
por eles [Assistência Farmacêutica] e não por nós ou lixo comum, ou lixo infectante ou a questão dos
[...] (E9, técnico de enfermagem). resíduos para serem incinerados. Todas as unidades
[...] depois veio este ofício, que o descarte pode têm e possuem, tem que ter né. Foi feita uma capa-
ser feito na própria unidade [...] (E11, técnico de citação em cima das normas estabelecidas pela An-
enfermagem). visa, pra segregar o lixo de acordo com aqueles gru-
As falas apontam para a falta de articulação pos, A, B, C, enfim. Nós confeccionamos o modelo
das informações quanto à responsabilidade pelo para eles seguirem esse modelo e a partir daí eles
descarte entre os próprios trabalhadores da uni- fazem a segregação pra depois destinar o resíduo
dade, já que os entrevistados revelam a existência para os devidos fins, a depender do tipo de resíduo
de documentos com informações divergentes. que foi segregado [...] (E16, farmacêutico da AF).
Conforme disposto na Resolução Anvisa nº De acordo a Resolução Conama n° 358, o
306/2004, o gerenciamento dos resíduos deve ocor- PGRSS deve ser elaborado por profissional de
rer em seus aspectos intra e extra estabelecimento, nível superior, habilitado pelo seu conselho de
desde a geração até a disposição final, incluindo as classe, obedecendo a critérios técnicos, normas
etapas de segregação, acondicionamento, identifi- de coleta e transporte dos serviços locais de lim-
cação, transporte interno, armazenamento tem- peza urbana, normas da Vigilância Sanitária e
porário, tratamento, armazenamento externo, co- legislação ambiental tendo por objetivo minimi-
leta, transporte externo e disposição final7. Ou seja, zar a produção de resíduos e proporcionar o
o descarte não poderia ser feito na própria unida- encaminhamento seguro e eficiente, visando pro-
de, como relatou o entrevistado 11, pois nela não teger o trabalhador, preservar a saúde pública e
havia, conforme foi observado, qualquer condi- os recursos naturais do meio ambiente8.
ção estrutural para realizar as etapas descritas na Contudo, o documento não foi visualizado,
referida resolução. Por outro lado, a fala do entre- nem estava disponível nas unidades de saúde que
vistado 9 expõe uma prática mais coerente, em que integraram o estudo. Nos setores de assistência
o setor de Assistência Farmacêutica seria a respon- farmacêutica e de vigilância sanitária, o PGRSS
sável pela destinação final dos resíduos. Prática esta também não foi verificado ao ter sido solicitado
não observada no cenário de estudo. no momento de coleta de dados. Apesar disso,
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algumas falas apontam que, em um momento imunomoduladores, antirretrovirais), bem como


no passado, houve a coleta de medicamentos nas resíduos de produtos e de insumos farmacêuti-
USF para o posterior descarte. cos sujeitos a controle especial, especificados pela
[...] Algum tempo atrás tinha uma empresa Portaria nº 344/98, a regulamentação sanitária
que vinha e pegava toda a medicação vencida e orienta que devem ser submetidos a um trata-
levava pra secretaria e lá eles manuseavam. Aí ago- mento ou disposição final específicos7,19.
ra não [...] (E6, técnico de enfermagem). As características específicas dos mais diver-
[...] A gente tenta devolver antes do medica- sos fármacos tornam complexa a compreensão
mento vencer pra eles darem pra uma unidade onde sobre o adequado descarte, que se torna ainda
tem uma maior rotatividade. [...] Mas quando mais difícil na medida em que evidenciamos pou-
vence, tinha uma empresa, eu não sei ainda se há ca clareza nos dispositivos legais. Neste sentido,
porque ela parou de passar nas unidades, se tiver destacamos a Resolução Anvisa nº 306/2004 ao
recolhendo, está recolhendo a nível central, por- explicitar que produtos ou insumos farmacêuti-
que aqui nas unidades ela não tem voltado mais. cos que, em função de seu princípio ativo e forma
(E14, enfermeiro). farmacêutica, não ofereçam riscos à saúde e ao
Diante da inexistência de um PGRSS, os traba- meio ambiente quando no estado líquido, po-
lhadores das unidades não têm uma informação dem ser lançados na rede coletora de esgoto ou
exata de como deve ocorrer o descarte final, men- em corpo receptor, desde que atendam as diretri-
cionando apenas a fatos passados quando ainda zes estabelecidas pelos órgãos ambientais, gesto-
havia uma empresa que coletava os resíduos. res de recursos hídricos e de saneamento compe-
Em relação à prática de descarte de medica- tentes7. Contudo, não deixa claro quais são, de
mentos vencidos, os trabalhadores expuseram fato, as substâncias que não oferecem riscos à
falas distintas: saúde, podendo levar a variadas compreensões
A gente mesmo não faz [o descarte]. [...] A pelos diferentes sujeitos e à inclusão neste grupo
orientação da gente é que ele [medicamento ven- de substâncias que não atendem a este critério. De
cido] fique arquivado na unidade. A gente coloca todo modo, nos serviços estas informações de-
numa caixa, identifica com lote e validade, pra ele vem estar claramente disponíveis no PGRSS.
ser destinado pela SMS. A gente não joga fora aqui Para superar a complexidade do descarte ade-
[...] (E14, enfermeiro). quado de medicamentos e promover uma prática
[...] Caso vença a gente tem que encaminhar correta e eficaz, exige-se capacitação e monitora-
pra secretaria através de ofício [...] (E15, enfer- mento contínuo. Ou seja, há necessidade de escla-
meiro). recimentos básicos e específicos para toda a equipe
Às vezes, a gente descarta no vaso sanitário e de saúde sobre, por exemplo, classes medicamen-
depois a gente coloca [o frasco] no perfurocortan- tosas, formas farmacêuticas e termos específicos
te. Porque eles não quiseram pegar mais pra levar dispostos nas legislações. Tais ações devem estar
pra secretaria, né, aí a gente tá fazendo assim. [...] E associadas às condições estruturais também ade-
quando é comprimido a gente desmancha pra que quadas para que o PGRSS seja exequível.
ninguém pegue a cartela e use, aí a gente joga no Outro aspecto questionado aos entrevistados
vaso sanitário [...] (E5, técnico de enfermagem). foi sobre a responsabilidade das atividades en-
Os depoimentos apontam, portanto, para a volvidas com o descarte dos resíduos nas unida-
descontinuidade do possível processo de coleta de des. Ainda que tenha sinalizado a presença de
resíduos existentes no município e, consequente- outros trabalhadores no processo do gerencia-
mente, para a adoção de práticas equivocadas, a mento dos resíduos, o enfermeiro foi o mais men-
exemplo do uso da caixa de perfurocortante para cionado, certamente pelo fato de este já assumir,
fins diferentes dos preconizados pela RDC Anvisa no cenário estudado, a gerência das unidades.
n° 306, que é acondicionar resíduos do grupo E Geralmente o enfermeiro que supervisiona, se-
(perfurocortantes ou escarificantes)7. Além disso, grega e aí a limpeza pública ou a empresa destina-
a resolução também dispõe que as embalagens da a recolher os materiais infectantes é que vão às
primárias (que acondiciona o produto) e materi- unidades e fazem o recolhimento, mas assim a pes-
ais contaminados devam ser tratados da mesma soa responsável por segregar, destinar, separar o
forma que as substâncias que os contaminaram. lixo com certeza é o enfermeiro [...] (E17, farma-
Em se tratando do manejo dos resíduos con- cêutico da CAF).
tendo substâncias com atividade medicamento- Na verdade, no descarte, a enfermeira que tem
sa (hormônios, antimicrobianos, citostáticos, que dar o aval dela, não é a gente [pessoal da far-
antineoplásicos, imunossupressores, digitálicos, mácia da USF]. Tipo assim, se tá vencido a gente
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tem que sinalizar pra ela, e daí ela fazer o descarte. isso, tiro da embalagem e jogo no banheiro [...]
[...] É responsabilidade da enfermeira [...] (E10, (E4, agente comunitário de saúde).
técnico de enfermagem). Se eu encontrar um medicamento vencido na
Contudo, outros trabalhadores apontam casa de alguém eu vou dizer que tá vencido, e que é
para divergências entre o setor de Assistência errado jogar no lixo e é errado jogar no vaso [sani-
Farmacêutica e Vigilância Sanitária quanto à de- tário]. Mas também eu ia dizer que eu não ia saber
finição da responsabilidade sobre o gerenciamen- o que fazer com a medicação. Eu sei que é errado.
to dos resíduos de medicamentos no município [...] Eu não ia trazer pra unidade porque a unida-
estudado. de aqui não recebe, porque não tem quem vem
[...] Quando você fala em segregar o lixo, o re- recolher [...]. Não tem um local que as pessoas pos-
síduo, você está envolvendo dois [setores]. Você sam devolver ou nas farmácias, já que eles vendem.
está envolvendo um setor base que é a Visa, não é E isso não é feito aqui no município. A prefeitura
nem a AF [...]. A AF agregou junto com a Visa esta em si deveria pegar este material pra ser incinera-
questão da capacitação porque dentro do PGRSS do. Deveria ter um local, uma caixa pra coletar e
tinha a questão de medicamentos para as unidades quando chegasse um certo ponto eles recolheriam
de saúde, entendeu? Então nós fizemos esta capaci- [...] (E1, agente comunitário de saúde).
tação. Mas se hoje você perguntar, quem é o res- [...] a gente observava que tinha bastante me-
ponsável pela fiscalização, pelo controle etc., etc., é dicamentos vencidos. E é aquela coisa, a gente só
a Visa [...] (E16, farmacêutico da AF). falava, olha, esta medicação está vencida, não pode
Todavia, em entrevista (cuja gravação não foi fazer uso. Mas e aí? O que fazer com ela? Não existe
autorizada) realizada com trabalhador da Visa um serviço [...] (E15, enfermeiro).
municipal (E18, farmacêutico da Visa), o mesmo A ausência de postos de coleta de medica-
relatou que apesar do setor orientar as unidades mentos e de orientação adequada é uma realida-
de saúde quanto ao seguimento do PGRSS, não é de no município. Fato que, além de favorecer o
responsabilidade da mesma fiscalizar o gerencia- descarte inadequado nos domicílios, impossibi-
mento e o descarte de resíduos de medicamentos lita o fornecimento de orientações adequadas
nestes estabelecimentos. Esclareceu, ainda, que a pelos agentes comunitários de saúde. Fato este
Visa é responsável por fiscalizar o descarte de também apontado por outros autores14 ao rela-
medicamentos realizado pela Central de Abaste- tarem que o descarte inadequado de medicamen-
cimento Farmacêutico (CAF) do município e que tos é feito pela maioria das pessoas por falta de
as unidades devem encaminhar para este local os informação e divulgação sobre os danos causa-
medicamentos impróprios para uso e que neces- dos pelos medicamentos ao meio ambiente, além
sitam ser descartados, mas não mencionou qual da carência de postos de coleta.
disposição final é dada a estes resíduos. Durante a observação nas unidades, eviden-
Tal relato por sua vez, diverge do que está ciamos a ausência de estrutura de coleta de medi-
estabelecido na Resolução Anvisa n° 306/2004, a camentos para descarte, tais como as caixas cole-
qual explicita a responsabilidade da Visa sobre a toras de medicamentos ou qualquer tipo de si-
fiscalização e orientação dos estabelecimentos de nalização ou indicativo de que havia coleta de
saúde quanto ao cumprimento do PGRSS7. medicamentos nas unidades ou local para segre-
As falas sugerem desarticulação entre a Vigi- gação de material vencido. Além disso, não havia
lância Sanitária, a Assistência Farmacêutica e os material educativo como folhetos ou cartazes
serviços básicos de saúde, denotando que o mu- sobre o assunto e nem mesmo foi visualizada
nicípio, de fato, não incorporou as diretrizes re- discussão na unidade, seja entre a equipe ou na
gulamentadas pelas resoluções pertinentes a este comunidade, sobre o descarte de medicamentos.
assunto, o que nos faz entender que a comunida- Ou seja, os usuários de medicamentos e mes-
de encontra-se desorientada e desassistida quan- mo os trabalhadores não sabem e não têm a
to ao descarte de medicamentos, já que não é de- quem recorrer quando há necessidade de descar-
senvolvida uma prática adequada no município. tar medicamentos. Estudo realizado em 2013 co-
Neste sentido, em se tratando do descarte de munga com essa análise ao revelar que o descar-
medicamentos vencidos nos domicílios, os agen- te de medicamentos foi uma das maiores dificul-
tes comunitários de saúde revelaram o modo dades relatadas pelos trabalhadores de saúde,
como orientam a comunidade. havendo, inclusive, perda constante de medica-
Às vezes eu pego [o medicamento vencido]. mentos e inexistência de PGRSS20.
Não, me dê que eu levo, eu jogo fora. [...] Aí eu O correto gerenciamento de resíduos é parte
olho e o que tiver vencido eu levo pra casa e faço da assistência à saúde, devendo ser garantida
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Alencar TOS et al.

pelos gestores e mantida pela equipe de saúde. senso, pois atinge diretamente os interesses eco-
Isso porque, antes do descarte propriamente dito, nômicos das indústrias farmacêuticas.
a gestão de medicamentos efetuada pelo setor da Tais discussões sobre medidas normativas
assistência farmacêutica, a prescrição correta e a para realizar o descarte de medicamentos e o cres-
dispensação orientada para o uso racional de cente número de postos de coleta são iniciativas
medicamentos também devem ser incentivadas. importantes na perspectiva da destinação ade-
As perdas de medicamentos devem ser evitadas quada de medicamentos pela população. Isso
continuamente, sob pena de estar possibilitando porque, de acordo com informações de um re-
prejuízos à saúde coletiva e também aos cofres presentante da Anvisa, em entrevista cedida à
públicos. Federação Nacional dos Farmacêuticos21, entre
Existem alguns exemplos positivos em mu- 10 e 28 mil toneladas de medicamentos são joga-
nicípios brasileiros. Em São Paulo, duas grandes dos no lixo ou no esgoto pelos consumidores a
redes de farmácias e todas as unidades básicas de cada ano. Problema este que poderia ser mini-
saúde da capital recebem os medicamentos trazi- mizado se não houvesse acúmulo de medicamen-
dos pela população21. No entanto, até o momen- tos nos domicílios.
to, a criação de postos de coleta nas farmácias Estudo sobre estoque domiciliar de medica-
privadas é voluntária. Na Bahia, foi criada uma mentos revelou que 98,8% das residências pos-
parceria entre farmácias e empresas privadas, suíam medicamentos em estoque, sendo que, do
Farmácias Populares do Brasil e Conselho Regi- total encontrado, 29,75% estavam vencidos27.
onal de Farmácia para a implementação de pos- Outro estudo apontou ainda que, entre os moti-
tos de coleta de medicamentos vencidos prove- vos que justificam a sobra de medicamentos des-
nientes dos domicílios para descarte22. Nos ser- tacam-se sua aquisição na forma farmacêutica
viços básicos do setor público, entretanto, não superior ao tratamento e a interrupção deste28.
há qualquer iniciativa neste sentido. Dados estes que apontam para a necessidade de
Campanhas como estas também foram ações voltadas ao uso racional e ao descarte res-
apontadas por outros autores como relevantes, ponsável dos medicamentos.
integrando um conjunto de outras estratégias que
podem implicar em um programa eficaz de reco-
lhimento de medicamentos e que foram aplica- Considerações finais
das em países como Canadá, México, Portugal e
Colômbia 23. Os resultados encontrados permitem inferir que,
No cenário nacional, tem-se a Política Nacio- apesar de o Brasil dispor de aparato legal, ainda
nal de Resíduos Sólidos, que foi implementada há aspectos pouco esclarecidos quanto ao trata-
através da Lei nº 12.305/2010 e do Decreto nº mento e disposição final e que implicam no não
7.404/2010 e que prevê o sistema de logística re- cumprimento dos mesmos. Além disso, identifi-
versa para restituição dos resíduos sólidos pelo camos desarticulação entre a vigilância sanitária
setor empresarial24,25. Esta é, contudo, uma dis- local e os serviços. Aspectos estes que têm impli-
cussão ainda conflituosa. Além desses instrumen- cado em pouca compreensão dos trabalhadores
tos legais, representantes de organizações de de- e na execução de práticas equivocadas.
fesa do consumidor, governo e indústria têm dis- Ao revelar as características do descarte de
cutido sobre a melhor forma de realizar o des- resíduos de medicamentos e inferir sobre as difi-
carte, por meio da criação do Grupo de Traba- culdades na implementação de um PGRSS, o es-
lho Temático de Medicamentos. tudo aponta para a necessidade de elaboração de
Em 03 de agosto de 2011, a Comissão de De- estratégias que devem envolver os gestores, os
senvolvimento Econômico, Indústria e Comércio trabalhadores e os usuários. Isso porque não
da Câmara aprovou o Projeto de Lei Comple- basta descartar corretamente, é preciso intervir
mentar n° 595/11, que acrescenta o artigo 6º à Lei sobre o conjunto de ações indutoras do uso irra-
n° 5.991/1973 para dispor sobre o recolhimento e cional de medicamentos, e assim minimizar os
o descarte consciente de medicamentos. Pela pro- estoques desnecessários no serviço e/ou nos do-
posta, farmácias, drogarias e postos de saúde se- micílios e as perdas de medicamentos.
rão obrigados a receber da população os medica- Estudos em serviços dos demais níveis de aten-
mentos, vencidos ou não, e os devolverão ao la- ção à saúde e também envolvendo usuários de
boratório que os produziu para que este promo- medicamentos são pertinentes e podem apontar
va o descarte26. Tal proposta encontra-se em dis- resultados ainda mais reveladores sobre a práti-
cussão e, certamente, não será fácil obter um con- ca do descarte no país, bem como aperfeiçoar as
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Ciência & Saúde Coletiva, 19(7):2157-2166, 2014


políticas e projetos já em andamento. Alcançar
êxito nessa prática requer, portanto, esforços
políticos, econômicos e a participação social.

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