Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Ao longo do seu processo cultural, o homem vem construindo objetos que facilitam seu dia-a-
dia e nesta atitude emprega seus fundamentos. Em tempos de concorrência acirrada, investir
nesta ferramenta pode ser uma alternativa para melhorar a performance de uma empresa.
Ivens Fontoura acredita que o “Bom Design” pode dar uma grande contribuição para a indústria
de ferramentais, melhorando a qualidade dos produtos e o lucro das empresas.
Mas Ivens não poupa críticas a seus colegas, afirmando que há um pouco de estrelismo em
relação à profissão. “Muitas vezes, as pessoas são convencidas a pagar muito por um projeto,
mas será que ele vale? O bom projeto é aquele que proporciona bem-estar e emoção ao
usuário, agrega valor, exige menos consumo financeiro e proporciona maior lucro”. Para os
casos mal sucedidos de investimento em design, Ivens acredita que o empresário pode ter
atribuído ao trabalho um custo sem relacioná-lo com o benefício, ou o projeto é ruim mesmo e
não proporcionou o benefício esperado. Porém, destaca, que na maioria das vezes, o
empresário brasileiro quer recuperar seu investimento e nem sempre isso é possível.
Salvador da pátria?
Com a experiência de anos trabalhando na área, Ivens afirma que o empresário não deve
buscar um “salvador da pátria”, o qual resolverá todos os problemas da empresa apenas com
design. Ele ensina que é preciso olhar para o mercado e descobrir se o produto concorrente
não tem mais qualidade, como por exemplo uma peça de plástico sem rebarba e que este
simples detalhe ajuda a vencer mais.
“O designer deve olhar para o concorrente, para saber o que ele faz melhor. Por que consegue
mais qualidade? Com certeza, ele foi mais competente na gestão”, conclui.
Por isso, ratifica que o designer é um profissional que precisa saber executar diferentes setores
e estabelecer harmonia entre a equipe.
Acredita que a experiência é a melhor credencial para selecionar um profissional da área. “Não
se admite um consultor que está começando na profissão. É preciso um profissional experiente
que, talvez, não faça o projeto, mas saiba analisar o produto, apontar defeitos e sugerir
melhorias”. Afinal, não se faz um consultor em poucos anos.
Lucro
Segundo o especialista, não são poucos os ganhos que o designer pode conferir a um produto,
pois o trabalho de um bom profissional pode significar desde economia de materiais até
condutas mais corretas do ponto de vista ambiental. Ivens exemplifica com o projeto de uma
cadeira vencedora do recente SalãoDesign Movelsul 2006 a Cadeira Cruz Latina, dos
argentinos Martin Javier Favre e Nestor Bortolotto. “Você monta a cadeira em 30 segundos
com um único parafuso. Se eu tenho um produto que precisa de oito parafusos e repenso,
redesenho e reduzo para cinco parafusos em cada produto, economizo três peças. Isso é
fantástico, um produto com menos componentes e com a mesma qualidade”, ressalta.
Acrescenta que ao especificar materiais para um processo, o designer deve considerar o fator
ambiental, sugerindo matéria-prima certificada e menos poluente e fornecedores preocupados
com o meio ambiente, resultando em ganho ambiental e imagem positiva para a empresa.
Esses recursos estão entre os que podem significar a diferença entre o sucesso e o fracasso
de um produto e, evidentemente, de uma empresa.
Em um breve vôo sobre a história, Ivens Fontoura cita o filósofo catalão Jordi Llovet, para
relembrar o real significado do design, tão ligado aos tempos modernos.
Explica que o termo vem do latim, designium (dar sentido às coisas). Redemonta à fase
naturalista da civilização, na qual havia um pequeno nível de transformação da natureza e o
objeto tinha apenas o valor de uso e o valor de signo (símbolo). Em seguida, veio a fase
inventiva que foi a superação da natureza pelo homem. E, finalmente a fase consumista, na
qual vivemos e que caracteriza o mundo Ocidental e a economia de mercado.
O termo design está no Oxford Dictionary desde 1588 onde é definido como “um plano
concebido pelo homem para algo que se pretende realizar..”Em outras palavras, o projeto, ou
seja, faz design aquele que projeta alguma coisa para ser usada como bem de consumo ou
bem de capital. “Quando o sujeito escolheu a melhor rocha (sílex) para amarrá-la em um
pedaço de madeira e fazer um machado, sem saber, estava fazendo design”. Quem é que
desenhou as sandálias do povo grego? Quem é que fez as armas e os escudos durante a
milenar história bélica da humanidade? Isto tudo é resultado do design”, afirma.
Mas foi a partir da Revolução Industrial – séculos XVII, XVIII e XIX que o desenho do produto
ganhou mais destaque. Segundo Ivens, as mudanças tecnológicas impuseram a substituição
da manufatura por um conceito industrial e a revolução industrial permitiu repetir um padrão
com mais facilidade e fidelidade.
Muita gente acredita que o design começou com a Revolução Industrial e depois foi se
arrumando com diferentes movimentos de reação e adaptação como o Arts and Crafts na
Inglaterra, o Art Nouveau na França, a Sezession na Áustria e o Deutsche Werkbund, até
chegar à escola de Walter Gropius, a Bauhaus (1919-1933) ou a HfG-Hoch-schule für
Gestaltung Ulm (1953-1968), ambas na Alemanha. No entanto, na opinião de Ivens, esses
movimentos apenas sistematizaram e atualizaram o conceito de design. “A Bauhaus, por
exemplo, fazia o que se pudesse imaginar: carros, casas, cutelaria, objetos de cerâmica e
vidro, luminárias, móveis e, até teatro. E felizmente divulgou esse novo conceito de uma forma
muito inteligente para a sociedade mundial”.
Ivens Fontoura – designer, crítico de design e professor das Universidades Católica (PUCPR),
Tuiuti (UTP) e Tecnológica (UTFPR) do Paraná. Mestre em Desing Industrial/ergonomia pela
Universidad Nacional Autônoma no México (UNAM) e doutorando em Universidad de Santiago
de Compostela, Espanha (USC). Escreve para a página Designdesigner no jornal. “O Estado
do Paraná”.
Ivens.fontoura@gmail.com