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Crise e o esgotamento das políticas neoliberais

em todo o mundo
14 de maio de 2021, 16:12 h
   

 ...

 
Para entender a conjuntura nacional temos que lembrar que o
capitalismo atravessa a maior crise da sua história. A pandemia
da Covid-19 não provocou a crise econômica, apenas
antecipou e piorou um tsunami que já vinha se armando no
horizonte há bastante tempo. Não é só uma crise econômica, é
uma crise política brutal também do sistema capitalista. Mesmo
usufruindo de todas as vantagens de ser o principal país
imperialista da terra, os EUA enfrentam grandes contradições
internas, porque o seu modelo de desenvolvimento gera
grande desigualdade social. 

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Quase 30 milhões de pessoas nos EUA vivem na chamada


“insegurança alimentar”, não têm o suficiente para comer
(quase 10% da população). Além disso, os EUA têm 500 mil
pessoas em situação de rua (morando na rua ou em abrigos
públicos). A maioria são negros ou latinos. O fato de que os
EUA tenham um número tão grande na condição de pobreza,
representa uma verdadeira bomba relógio. Uma revolta geral
dos trabalhadores dentro do país imperialista mais rico do
mundo teria um efeito político, econômico e social,
simplesmente imprevisível. 

No mundo todo há uma série de acontecimentos que podem


ser considerados “fatores de crise”. A Colômbia parece ter
entrado em transe. O clima já era de muita insatisfação há
anos. Mas com o anuncio, há pouco mais de duas semanas, de
uma proposta de aumento de impostos, as manifestações
explodiram. A violência da polícia escalou, com saldo de quase
50 mortos até aqui e centenas de desaparecidos. Nada disso
conteve os protestos. Também não há expectativa de que irão
acabar tão cedo. No outro lado do mundo, explodiu uma revolta
da população palestina em Jerusalém, dentro de Israel.  Na
França é surpreendente o desgaste do governo neoliberal e o
crescimento da extrema direita. Não parece haver dúvidas que
são fatores de crise, em diferentes regiões do mundo, e que
estão extremamente interligados. São elementos muito
importantes, que revelam o esgotamento de um tipo de política
do sistema capitalista, que é a “política neoliberal”. 

Tem que entender a política do governo de Joe Biden, olhando


a situação no seu conjunto. O polo político que ele representa
está numa crise extraordinária. Ou seja, é uma crise gravíssima
nos partidos mais representativos da política do imperialismo.
Nos EUA esta crise não é uma possibilidade, ela é muito real.
O país está em grande polarização. Ou o governo faz alguma
coisa ou será varrido pela mobilização popular. E também pela
extrema direita, porque, apesar de ter perdido as últimas
eleições continua muito mobilizada, sob a liderança de Trump. 
O plano de Biden, que pretende injetar US$ 6 trilhões na
economia (quase 30% do PIB do país) não é uma ruptura com
a política neoliberal. Não se trata de uma guinada keinesiana
na política estadunidense, como desejam alguns analistas.
Apesar de serem medidas de grande envergadura,
reveladoras, inclusive, da profundidade da crise, não há
garantias que esta seja interrompida. A crise mundial é muito
significativa. O mundo parece estar caminhando para uma
situação de verdadeiro colapso político e econômico, como
poucas vezes se viu na história. 

Este quadro conduz à uma grande disputa geopolítica e


econômica, entre as potências, em todo o mundo. O Plano
Biden, por exemplo, em boa parte está relacionado à disputa
dos Estados Unidos com a China por mercados mundiais. Essa
disputa tende a se acirrar muito nos próximos anos, como a
postura agressiva do novo governo estadunidense demonstra.
Biden tem subido o tom contra os seus principais rivais e logo
no início de seu governo criticou Xi Jinping e Vladimir Putin por
não “acreditarem na democracia” e chamou os regimes destes
de autocracias. O pacote pressupõe um maior papel para o
Estado, especialmente para o governo federal, na crise. Seu
tamanho, também, é o reconhecimento da magnitude da crise e
da necessidade de uma política agressiva de investimentos
públicos, para tentar revertê-la. Os estrategistas do capital
internacional manobram há anos para a economia voltar a ter
um funcionamento “normal”, mas sem resultados, o que explica
também a ousadia das medidas que vêm sendo tomadas
desde o ano passado, ainda sob Trump.  
O problema dos EUA não é apenas uma brutal crise
econômica, mas também uma grande crise política. Para
começar os EUA estão extremamente polarizados
politicamente, já a algum tempo. Há protestos da população
negra, dos pobres, há protestos da extrema direita, inclusive
fascista. O medo dos setores dominantes, é o de que em algum
momento, a polarização represente um enfrentamento nas
ruas. As manifestações ocorridas no ano passado, a partir do
assassinato pela polícia do negro George Floyd, na intensidade
que se deram, não aconteciam desde a década de 1960. 

Com os planos recém lançados, claramente Biden inicia uma


temporada de acirramento das relações com China e Rússia. A
retomada dos investimentos públicos, é uma forma de competir
com o modelo de desenvolvimento econômico chinês. Há uma
avaliação, por parte do governo Biden, que a China está
ocupando um espaço econômico desproporcional ao seu
poderio geopolítico e militar no mundo. A história demonstra
que poderio econômico no mundo e poderio bélico são fatores
intimamente interligados.  O golpe recente no Brasil, aliás, em
boa parte motivado pela descoberta de novas jazidas de
petróleo, parece não deixar dúvidas sobre esse fato. 

Os montantes do plano estadunidense ficam muito aquém dos


investimentos mobilizados pelos chineses na chamada Nova
Rota da Seda. Lançado em 2013, com investimentos
estimados entre US$ 4 e US$ 8 trilhões, os chineses realizam
projetos de infraestrutura que se estendem por países da Ásia
Central, Sudeste Asiático, Oriente Médio, África e Leste da
Europa. A relação China X Estados Unidos vive um momento
importante, com tendência a ficar cada vez mais tensa, em
meio a uma série de disputas sobre comércio, direitos humanos
e as origens da Covid-19. Numa ação recente, os Estados
Unidos colocaram na lista negra dezenas de empresas
chinesas que afirmam ter ligações com os militares.  Biden vem
criticando a China por seus "abusos" no comércio e em outras
questões. Retornou com força também, e de forma articulada,
inclusive na grande mídia norte-americana, a hipótese de que o
vírus da Covid-19 se originou na China. 
por taboola
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produtos do Brasil

Os EUA precisam dramaticamente que o plano de recuperação


da economia funcione. Os indicadores de emprego por
enquanto não apontam firmemente para uma recuperação.
Além disso, há temores de vários analistas de retorno da
inflação. Está havendo um forte aumento dos preços de
commodities: agro, metálicas, combustíveis e de bens
industriais. Isso em meio ao imenso estímulo monetário que o
governo vem promovendo, o que agrava o risco de aumento da
inflação. Um dos riscos existentes, do ponto de vista do capital,
no caso de uma elevação da inflação, é crescer o movimento
dos trabalhadores para recuperação salarial. Potencial que
toda elevação de inflação carrega consigo. Os estrategistas do
império certamente temem muito essa possibilidade,
especialmente na atual conjuntura de polarização e
significativas manifestações de massa nos EUA.  

Política 'apaga fogo' de Biden não resolve crise


neoliberal nos EUA

A população continuará sem sistema de saúde pública, sem aumento


do miserável salário mínimo ou outros benefícios que são
reivindicados pelo povo e são a causa da gigantesca crise política
norte-americana
14 de maio de 2021, 17:27 h Atualizado em 14 de maio de 2021, 17:36
   

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Joe Biden (Foto:


Brian Snyder / Reuters)
 
por Juca Simonard

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Parcela da esquerda, brasileira e norte-americana, tem elogiado o


presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, por uma política de suposta
reversão do neoliberalismo no país. Alguns chegam mesmo a
apresentar o senhor da guerra como “progressista” e “democrático”,
“melhor que Donald Trump”. 

A capitulação política da esquerda é tanta que os que elogiam Biden


nem sequer criticam a retomada - com mais força do que Trump - da
política de rapina do imperialismo norte-americano. Bastou assumir o
poder que, fazendo jus ao apelido “senhor da guerra”, o presidente dos
EUA bombardeou a Somália e a Síria, tentou provocar guerra por
procuração contra a Rússia na Ucrânia, aumentou os ataques à China e
assim por diante. Isso tudo em apenas 100 dias no governo.

Alguns alegam que, apesar da política externa ser ruim, a política


econômica de Biden é boa. Isso, no entanto, não passa de ilusão típica
de uma esquerda imatura que vive à reboque do imperialismo.

Falência do neoliberalismo
É fato que a política neoliberal está em crise profunda, não só nos
EUA, como em todo o resto do mundo. Os programas anunciados pelo
presidente norte-americano, porém, não são uma reversão dessa
política, mas apenas formas de apagar o incêndio causado por ela. Um
recuo momentâneo em determinadas questões chaves, como o
desemprego e a renda para o povo não passar fome.

Em grande medida, este recuo se dá contra a vontade da burguesia e é


imposto pela situação econômica, social e política do país. Os Estados
Unidos estão em chamas. 

Crise econômica e social


Do ponto de vista econômico, os norte-americanos enfrentam uma
importante retração do PIB, de 3,5% em 2020. O pior resultado desde
1946, ano seguinte à Segunda Guerra Mundial, que devastou a
economia global. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central
(IBC-Br) teve queda de 1,59% em março deste ano. As ações nas
Bolsas das empresas do país também recuam, enquanto a inflação está
acima de 4%.

Isto é acompanhado por uma intensa crise social e política. Os pedidos


de auxílio-desemprego no país somam mais de 470 mil. As grandes
cidades industriais norte-americanas estão lotadas de moradores de
rua. Filas enormes de pessoas em busca de alimentação e moradia
viraram cenas comuns.

Polarização política
Da mesma forma, a situação política não é boa. Em 2020, o centro
político do imperialismo mundial foi agitado por manifestações
radicalizadas da população negra contra o extermínio causado pela
polícia. Houve enfrentamentos armados, incêndios a estabelecimentos
policiais, saques, mostrando que a população não está disposta a
aceitar a política repressiva do Estado.

Ademais, houve todo um movimento artificial do setor mais poderoso


da burguesia norte-americana para derrotar Trump nas eleições e,
assim, controlar o regime. Biden é resultado deste processo. Através
da política do “menos pior”, de intensas campanhas custosas (tanto do
ponto de vista institucional, quanto do ponto de vista comercial), dos
grandes meios de comunicação e, principalmente, de uma profunda
traição das direções de esquerda, Biden foi eleito. Um elemento tão
impopular que muitas das pessoas que foram coagidas pela
propaganda a votar nele já se arrependem.
Para impô-lo como nome do Partido Democrata, por meio da política
antidemocrática dos superdelegados, foi feita uma intensa manobra
para impedir que Bernie Sanders fosse o candidato. Por sua vez,
Sanders declarou apoio a Biden e traiu todo o movimento de jovens e
sindicalistas que o apoiavam como alternativa declarando.

São sintomas da crise do imperialismo norte-americano, que está


tendo dificuldade em manter o controle político do regime, cada vez
mais polarizado. Setores do Partido Democrata racharam para fundar
um novo partido, enquanto a extrema-direita, apesar da derrota
eleitoral, continua a crescer.

Estes sintomas são a causa do recuo da política neoliberal. A situação


impôs aos capitalistas, cujos mais poderosos apoiam Biden, um passo
para trás na política de ataques aos direitos do povo, para apagar as
chamas. Mas, diante disso, vale elogiar os programas de Biden? Uma
análise detalhada destes mostra que não.

Programa de Biden para infraestrutura


Como forma de amenizar o impacto da crise econômica, Biden lançou
o plano de infraestrutura como parte de seu programa para o
desemprego. Afinal, o financiamento de obras é fundamental para
ocupar mão de obra e aparece mesmo na política marxista, como o
Programa de Transição de Leon Trótski.

O projeto do governo norte-americano prevê uma injeção de US$ 2,25


trilhões durante oito anos para pesquisas, reconstrução de pontes,
rodovias, escolas, indústrias, entre outras coisas. O dinheiro será
oriundo de uma política de maior taxação das grandes fortunas, que na
realidade nem retorna às taxas anteriores aos imensos cortes de
Trump, que havia reduzido a taxação.

O programa foi outro fator de crise política. A ala esquerda dos


democratas criticou inicialmente o programa por não ser suficiente,
enquanto parte dos republicanos alegou que era muito caro e
criticaram o aumento dos impostos sobre os mais ricos.

Um dos pontos críticos da economia norte-americana é a profunda


degradação da infraestrutura do país, conforme relatório de 2021
publicado pela American Society of Civil Engineers (ASCE),
mostrando uma situação crítica em áreas como aviação, represas, rotas
navegáveis, saneamento, estradas, escolas, trânsito, apenas para citar
alguns exemplos.

Em seu podcast The Punch Out, o jornalista Eugene Puryear


denunciou que o plano do governo federal norte-americano não é
suficiente. “Quando se olha para o projeto, na verdade, ele não atende
à escala das necessidades no que se refere à infraestrutura. Tudo é
sobre quanto custa o plano em abstrato, não o que ele deveria ser
realmente referente às necessidades”.

Relatório da ASCE defende que, para resolver os problemas de


infraestrutura, seriam necessários US$ 2,5 trilhões injetados em 10
anos. À primeira vista, parece ser equivalente ao plano do governo,
que poderia até ser considerado melhor. Mas, na realidade, o
financiamento proposto pelo presidente dos EUA engloba muito mais
áreas do que as mencionadas pela associação de engenheiros.

Assim, na maioria dos casos, os setores abordados pela ASCE ficam


subfinanciados pelo programa de Biden. O governo propõe, por
exemplo, US$ 111 bilhões de investimentos em sistema de água,
enquanto a associação, US$ 434 bilhões; Biden quer colocar US$ 100
bilhões em escolas, contra US$ 380 bilhões propostos pelos
engenheiros. Em relação às pontes, dentre as quais, segundo
denúncias, várias podem desabar, a ASCE propõe um financiamento
de US$ 125 bilhões. Já o governo quer dividir US$ 150 bilhões entre
pontes e estradas. E assim segue.

Em 2019, essa política de descaso (que, como visto, não será resolvida
pelo subfinanciamento de Biden) levou ao incêndio em um dos
maiores patrimônios culturais da humanidade: a Catedral de Notre-
Dame, em Paris. No Brasil, exemplos de desastres como estes não
faltam - Museu Nacional, Centro de Treinamento do Flamengo,
Ciclovia Tim Maia, etc.

Sem dúvidas, este programa do governo vai amenizar a situação


caótica dos EUA, mas de forma alguma vai ser suficiente para
resolver a massa de desempregados do país e o estado falimentar da
infraestrutura.

Política contra o desemprego


Como parte do seu projeto econômico, Biden defendeu o Plano de
Resgate Americano, de US$ 1,9 trilhão, cuja a maior parte do dinheiro
vai para ajudar pequenas empresas e auxiliar as famílias mais pobres
com auxílio emergencial, extensão do seguro-desemprego e subsídio
integral até setembro dos planos de saúde empresarial dos
trabalhadores demitidos antes de março de 2021.

Mas o projeto social de Biden, no geral, já começa a mostrar sua


ineficiência e até suas mazelas. O presidente norte-americano já se
declarou abertamente contra o aumento do salário mínimo, que está
estagnado desde 2009 em US$ 7,25 / hora. Enquanto isso, entre
janeiro e outubro de 2020, os 10% mais ricos aumentaram seu
patrimônio em US$ 14 trilhões e, na última década, o 1% mais rico
teve acréscimo superior a US$ 20 trilhões.

Em outras palavras, o governo vai continuar favorecendo o


enriquecimento dos monopólios, enquanto mantém o salário do
trabalhador paralisado num valor que já era baixo nos padrões de
2009, sem a atual inflação preço dos produtos.

Ainda mais, em coletiva de imprensa, Biden deixou bem claro que os


trabalhadores precisam aceitar o salário de miséria ou perder seu
seguro-desemprego. Ele destacou que qualquer pessoa que não aceitar
um emprego perderá o auxílio. Isso apenas vai servir para coagir as
pessoas desesperadas a aceitarem qualquer ocupação, mesmo que seja
nas piores condições possíveis, favorecendo o rebaixamento do salário
médio de determinada categoria.

Digamos, por exemplo, que o salário médio de uma categoria seja


US$ 10 / hora. A coação de Biden fará com que os novos empregados
desta mesma categoria, geralmente desorganizada sindicalmente,
sejam pagos US$ 7,25 / hora - quase 30% a menos do que os outros.

As condições estão tão ruins que determinadas pessoas preferem o


seguro-desemprego a determinadas funções, pois se é para ter
péssimas condições de sobrevivência, em determinados casos, melhor
que seja recebendo menos, mas não tendo de trabalhar. Em outras
palavras, o governo está forçando parcela da população a voltar a
trabalhar por menos de um salário vital.
Não há condições desta política melhorar substancialmente as
condições de vida dos trabalhadores norte-americanos. E, como foi
argumentado inicialmente, este não é o plano, pois, desde a campanha
eleitoral, Biden se mostrou um ferrenho crítico de políticas sociais. 

Uma das principais exigências da população norte-americana é a


construção de um sistema público de saúde nos EUA, uma vez que
todo o sistema é privatizado no país. Biden, no entanto, não incluiu
esta política no seu plano e, na realidade, já demonstrou ser totalmente
contra. Da mesma forma, o democrata se opôs a resolver o problema
das dívidas universitárias decorrentes de um sistema de ensino
superior totalmente privado.

Política de voo de baixo alcance da esquerda


O Plano Biden só agrada os setores mais atrasados da esquerda, em
sua política de voo de baixo alcance e não resolve, em sua essência, a
crise social norte-americana. O plano de infraestrutura vai permitir
empregar mão de obra num nível inferior ao necessário, mas em
contrapartida vai permitir que as grandes empresas norte-americanas
ampliem sua renda a partir da renovação da infraestrutura interna.

A população continuará sem sistema de saúde pública, sem aumento


do miserável salário mínimo ou outros benefícios que são
reivindicados pelo povo e são a causa da gigantesca crise política
norte-americana. 

O cenário futuro prevê, então, a continuidade da falência do regime


norte-americano e, com a capitulação das direções de esquerda ao
governo e a ausência de um setor consciente forte para denunciar
Biden, a tendência é que a crise política seja novamente capitalizada
pela extrema-direita, como vem ocorrendo nos últimos anos.

A fúria transborda na Colômbia

As mobilizações na Colômbia criaram um precedente importante para


repensar o presente e recuperar a consciência de classe num país que
foi alienado de sua própria história
12 de maio de 2021, 17:07 h Atualizado em 12 de maio de 2021, 17:07
   

 ...

Multidão faz velório na Colômbia para


homenagear vítimas de repressão policial (Foto: Telesul)
 

Por Estefanía Martínez

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(Publicado no site A Terra é Redonda)

Na Colômbia, a proposta de uma reforma tributária profundamente


regressiva – que procura “salvar o Estado” do déficit fiscal em que se
encontra depois da crise – foi a gota d’água que transbordou o copo e
levou milhares de pessoas em diferentes cidades e territórios do país a
unir-se na massiva jornada nacional de greve na quarta-feira, 28 de
abril. Houve marchas em todas as cidades, incluindo municípios mais
distantes das fronteiras agrícolas e extrativas, em Choco, Meta,
Vichada e Arauca.

No meio da desproteção generalizada que vive a população


colombiana, com mais de 72 mil mortos por Covid-19, mais da
metade da força de trabalho no setor informal, 4 milhões de pessoas
desempregadas e um setor camponês abandonado à própria sorte, o
governo pretende aprovar uma reforma que resulte em mais impostos
para o Estado. Embora existam modelos de reformas tributárias de
caráter progressivo, que procuram tributar os lucros das empresas e
redistribuir a riqueza, a atual reforma na Colômbia é, ao contrário,
uma reforma regressiva com características de ancien régime: procura
fazer com que as massas paguem impostos indiretos, tributar os
salários dos trabalhadores e, ao mesmo tempo, exclui “a nobreza”, o
poder eclesiástico e a classe oligárquica capitalista de fazer o mesmo.
Procura também preservar o orçamento militar do Estado para manter
a política de controle territorial e assegurar o modelo de
desenvolvimento neoliberal que se baseia na propriedade e na
expropriação da terra. Não é de modo algum paradoxal que seja um
“Duque” que esteja por detrás desta reforma.

O caráter ilusório da igualdade e da solidariedade no regime neoliberal

O problema não é que a reforma “vai fazer todos pagarem impostos”,


como têm indicado algumas mensagens benevolentes que circularam
estes dias no Facebook e no Twitter, motivando pessoas de diferentes
setores sociais, partidos políticos, origens e religiões a unir-se ao
protesto contra a reforma tributária do governo. Ficou claro desde o
início, quando vazou a informação sobre o projeto de reforma, que ela
não pretendia tributar “todos”, mas apenas os não-ricos. A chamada
“Lei de Solidariedade Sustentável” é uma reforma tributária proposta
pela bancada uribista do atual governo para dar viabilidade às finanças
públicas no contexto da crise e manter a confiança dos investidores e
credores estrangeiros.

A palavra “solidária” é um eufemismo tomado das reformas atuais na


Alemanha, França, Espanha e Itália para denominar o imposto
“temporário” sobre a riqueza, que procura fazer os ricos contribuírem
um pouco para a reconstrução das economias pós-pandemia. Na
Colômbia, a lei propõe a criação de um imposto sobre a riqueza de 1%
para patrimônio superior a 4,8 bilhões de pesos (1,35 milhão de
dólares), e de 2% para patrimônio superior a 14 bilhões de pesos (4
milhões de dólares). Do mesmo modo, propõe a redução dos impostos
sobre o rendimento das empresas, a criação de impostos verdes para
mitigar as mudanças climáticas (por exemplo, a sobretaxa da gasolina,
o diesel biocombustível e o etanol, e os impostos sobre o plástico) e a
cobrança de contribuições aos trabalhadores dos setores público ou
privado que ganham mais de 10 milhões de pesos por mês (cerca de
2.765 dólares).

Segundo a CEPAL, na América Latina, os que estão entre os 10% dos


mais ricos possuem 71% da riqueza e pagam apenas 5,4% de impostos
sobre sua renda. Na Colômbia, os que estão entre o 1% mais rico
pagam menos impostos em proporção à renda, num percentual abaixo
da média regional. Portanto, embora a reforma possa parecer, à
primeira vista, uma reforma “progressista”, na verdade não é.

A reforma, na verdade, procura garantir que os ricos paguem menos,


concedendo-lhes dádivas para que abatam seu imposto sobre o
patrimônio do imposto sobre a renda, o qual, por sua vez, é fixado em
reduzidas taxas marginais (o que em outros lugares se chama o
“truque da taxa marginal”); por outro lado, o imposto não se aplica
aos lucros das empresas que, ao contrário, receberiam uma redução na
carga fiscal que seria assumida por um novo grupo de pessoas
obrigadas a declarar: a classe trabalhadora que ganha mais de 2,6
salários mínimos mensais (2,4 milhões de pesos, equivalentes a 663
dólares mensais).

Mas a parte mais regressiva da medida é a tentativa de aumentar o


IVA [Imposto sobre o Valor Agregado] de 16% para 19% sobre uma
série de produtos de consumo básico (tais como ovos, café e leite) e
sobre as tarifas de serviços públicos de energia, gás, água e esgoto. De
acordo com estatísticas oficiais, uma família necessita em média de
cerca de meio salário mínimo mensal para cobrir despesas com
alimentação e um pouco mais de um salário mínimo para cobrir outras
necessidades básicas, como transporte. Mesmo assim, este número
não inclui os elevados custos de saúde – dada a saturação do sistema
de saúde subsidiado e o custo dos medicamentos num país onde os
preços são fixados pelas multinacionais farmacêuticas – nem as
dívidas com o ICETEX [Instituto Colombiano de Crédito Educativo e
Estudos Técnicos no Exterior] para pagar o ensino superior privado
face à desfinanciação do ensino público.
por taboola

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Contudo, o governo pretende com a reforma que a maior porcentagem


(74%) do dinheiro arrecadado venha deste grupo de pessoas
consideradas “pessoas normais”, enquanto as empresas contribuiriam
apenas com 25% (o que não inclui as igrejas, um setor lucrativo que,
no entanto, o presidente Duque se recusa a tributar). Assim, esperava-
se a arrecadação de 25 bilhões de pesos (cerca de 6,85 bilhões de
dólares) adicionais ao orçamento para os próximos anos.

O presidente Duque defendeu a lei mesmo depois dos protestos


multitudinários que ocorreram em 28 de abril. Segundo ele, é a única
alternativa que permitiria ao país reduzir a dívida, aumentar as receitas
e estabilizar as contas fiscais no meio de uma crise econômica
provocada pela pandemia do coronavírus, mantendo ao mesmo tempo
os programas de bem-estar social. Ele refere-se com isso a programas
como a Renda Solidária, que fornece 160 mil pesos (menos de 45
dólares por mês) a 5 milhões de famílias colombianas, o apoio a
estudantes de baixa renda para que estudem em escolas e
universidades privadas e o apoio às pequenas e médias empresas para
que paguem o benefício aos jovens entre 18 e 28 anos. Estes
programas, que fazem parte do conjunto das políticas para a redução
da pobreza e da desigualdade, foram criados, contudo, para colocar
panos quentes no mesmo modelo de disciplina fiscal, com base nos
princípios da economia neoclássica que sugerem a retirada do Estado
da prestação de serviços sociais básicos. Em vez de restaurar a
gratuidade e assegurar a qualidade dos serviços públicos para melhor
enfrentar a atual crise sanitária, a proposta do governo é manter o
modelo neoliberal que beneficia uma minoria enquanto migalhas são
lançadas para a maioria.

A obsessão de Duque com o déficit fiscal e o crescimento

A “reforma solidária pós-pandemia” de Duque não oferece nada


diferente do pacote de políticas lançado em 2018, segundo a Lei do
Crescimento Econômico, que tinha sido construído seguindo ao pé da
letra as recomendações de organismos internacionais como o FMI e o
Banco Mundial e dos mandatos (ainda vigentes na Colômbia) do
Consenso de Washington: disciplina fiscal, cortes no gasto público,
liberalização financeira, liberalização do comércio, investimento
estrangeiro direto, privatização de empresas estatais. Esta lei procurou
reativar a economia e gerar confiança no investimento, após a
desaceleração regional experimentada, como consequência da queda
dos preços das matérias-primas em 2014. O governo Duque decretou
medidas de austeridade e cortes no gasto público, reduziu os impostos
para as empresas e estimulou os bancos. E isso refletiu-se num
crescimento do PIB de 2,7 pontos no final de 2018, o que resultou
no aumento extraordinário dos lucros do setor financeiro (11 bilhões
de pesos em 2019, com uma rentabilidade de 12%), enquanto o país
mergulhava na miséria e saía para protestar na marcha
multitudinária do 21N (que teve vítimas mortais) contra a já então
anunciada reforma tributária e outras reformas adicionais do sistema
de aposentadorias e do regime laboral.

Depois destes protestos, o governo tentou recuperar sua popularidade


e dar ao povo um “pequeno contentamento” com panem et circenses:
criou um dia louco de compras sem IVA durante a pandemia – que
ficou internacionalmente conhecido como “COVID Friday” – quando
milhares de pessoas saíram para se aglomerar em centros comerciais e
supermercados, alguns deles utilizando o subsídio da Renda Solidária,
para comprar coisas sem impostos e assim contribuir para aumentar as
vendas das grandes cadeias de lojas e supermercados. Isto não ajudou
a recuperar a popularidade, nem mesmo entre os ricos que se sentiram
“enganados” porque a reforma tributária inclui um imposto sobre o
patrimônio, quando o atual “Gobierno Nacional foi eleito com a
bandeira do braço forte contra a insurreição e a criminalidade, mas
especialmente porque baixaria a elevada taxa de imposto cobrada dos
empresários”.

Por que o governo está tão obcecado em reduzir o déficit fiscal e em


procurar novas fontes de financiamento para os programas de
subsídios à pobreza? Por um lado, existe o interesse em continuar
mantendo a base de apoiadores nas classes populares e assim
preservar o voto de direita na Colômbia, embora, como antecipou o
ex-presidente Álvaro Uribe (e líder natural do partido de direita
Centro Democrático), “a reforma prejudica o partido”. Por outro lado,
há a obsessão de Duque pela adesão aos princípios da economia
neoclássica em que se formou, segundo os quais são necessários uma
maior disciplina fiscal e uma redução do déficit para assegurar o
crescimento. Finalmente, existe a pressão e o compromisso de
financiar um grande número de projetos de infraestrutura que
deveriam permitir à Colômbia ser uma economia desenvolvida até
2035, para a qual o país precisava se mostrar como um local atrativo
para o investimento.

De acordo com o Índice Global de Competitividade criado no fórum


dos bilionários em Davos, a Colômbia ocupa o 104º lugar, numa lista
de 141 países, em termos da qualidade de sua rede viária de
infraestrutura, razão pela qual o governo Duque pretende utilizar uma
parte importante do orçamento público (3,3 bilhões de pesos) para
financiar as obras do Pacto Bicentenário: uma série de estradas,
conhecidas como “4G e 5G”, para melhorar o transporte de
mercadorias em diferentes regiões do país. Isto representa uma mina
de ouro em termos de contratos para os desenvolvedores e para os
capitais internacionais interessados em participar destes projetos. Para
além dos empreiteiros (entre os quais estão algumas empresas do
conglomerado cujo principal acionista é o magnata colombiano Luis
Carlos Sarmiento Angulo, um dos homens mais ricos do mundo com
uma fortuna próxima dos 12 bilhões de dólares), alguns setores
oligopolistas nacionais também se beneficiariam. O setor de cana-de-
açúcar, a federação de criadores de gado e as empresas do sindicato de
Antioquia, que por sua vez controlam as principais cadeias de
supermercados e indústrias de base, sem excluir as empresas
multinacionais que operam atualmente no país, também seriam
beneficiados.

A política de controle sobre o território e a população

Embora o setor oligopolista nacional consolidara-se na década de 60,


quando se desenvolveu o pacto entre a classe latifundiária e a classe
industrial nacional sob o modelo de industrialização por substituição
de importações (que naquele momento também lhes concedia
estímulos econômicos e isenções fiscais e apoiava o processo de
contrarreforma agrária), o atual modelo de acumulação consolidou-se
nos anos 90 com a reforma neoliberal de abertura econômica. Esta
última descentralizou as regalias e reduziu a participação do Estado
nos setores de produção e distribuição de energia, saúde e outros
serviços sociais básicos, mas manteve medidas protecionistas para os
setores oligárquicos. Desde então, o modelo de acumulação baseia-se
na exploração das classes urbanas através dos bens de consumo,
tarifas de energia e serviços públicos, que, por sua vez, foi possível
graças à forma como o campo e a força de trabalho rural são
exploradas: na Colômbia, o setor camponês produz 70% dos
alimentos, mas 1 % das grandes propriedades rurais concentram 81%
da terra.

Como bem salientou David Harvey em sua análise da acumulação por


espoliação, a expansão do capital na fase neoliberal baseou-se
na especulação, depredação, fraude e roubo de uma quantidade de
riqueza social que se tornou a nova base da acumulação. Estas
dinâmicas, que se assemelham às práticas de acumulação que Marx
considerou “primitivas” ou “originais”, não são de forma alguma uma
“fase” ou uma “exceção” própria da história da “dissolução da
sociedade feudal”. Tampouco  são uma exceção na Colômbia, onde o
modelo de acumulação se consolidou por meio da espoliação e do
deslocamento de milhares de pessoas de seus territórios (incluindo
camponeses, povos indígenas, populações afro-colombianas), onde
hoje se consolidam as grandes propriedades agrícolas com incentivos
(impostos baixos), para produzir óleo de palma, biocombustíveis,
concentrado de animais e carne para exportação.

Na mesma linha, o governo Duque dá prioridade, dentro do gasto


público do Estado, ao orçamento destinado à manutenção da guerra
interna (10 bilhões de pesos em 2018, sendo um dos países que mais
gasta na guerra). Na Colômbia, o controle social através de uma forte
política militar e uma grande força policial capaz de reprimir qualquer
ato de sublevação em massa permitiu-lhe consolidar-se como um dos
sistemas políticos mais estáveis da região. Isto inclui o dado de mais
de sete milhões de pessoas deslocadas internamente (atrás apenas da
Síria) e os assassinatos de civis em protestos. O gasto militar permite
também manter um controle de facto sobre a população e o território,
particularmente nas regiões que não têm acesso a quaisquer serviços
estatais. Em particular, a política militar de contrainsurgência
implementada na Colômbia continuou sendo uma estratégia-chave do
neoliberalismo para garantir a segurança das companhias petrolíferas
em áreas de controle da guerrilha e para preservar os interesses da
classe latifundiária (pecuaristas). De todo modo, é graças a esta
política que o Estado tem acesso a programas de ajuda internacional
para a luta contra as drogas que financiam a pulverização do glifosato
nos territórios das populações indígenas, independentemente dos
efeitos negativos comprovados que isso tem sobre a saúde e o
ambiente.

Neste sentido, a greve é também uma resposta ao recente assassinato


da governadora indígena Liliana Peña, no departamento de Cauca,
numa área produtora de coca, e aos assassinatos de mais de 1.100
camponeses, líderes sindicais, afro-colombianos e mulheres desde a
assinatura do acordo de paz de Havana entre o Estado e a guerrilha
das FARC em 2016. Um acordo que o governo tem ignorado. Ao
contrário, Duque procurou reforçar a abordagem militarista da política
que continua  acrescentando mais vítimas extrajudiciais aos chamados
“falsos positivos”, como foi definido o assassinato de civis disfarçados
de guerrilheiros e beligerantes apresentados como “baixas em
combate”,  durante a política da “Segurança Democrática” de Álvaro
Uribe Vélez.
Para onde irá a greve?

A revolta popular que deu origem à Revolução de Fevereiro de 1917


na Rússia começou em condições semelhantes às da Colômbia de
hoje: um regime autocrático e repressivo com uma economia
fundamentalmente agrária, uma elite latifundiária que controlava as
terras sob um sistema feudal abusivo e uma classe trabalhadora que
afluía à cidade atraída pelo crescimento das indústrias de capital
estrangeiro. No final da Primeira Guerra Mundial, o Império
afundava-se em crise, com uma situação de escassez de alimentos e
fome generalizada. Foi a repressão dos protestos ordenados pelo Czar,
que resultou na morte de centenas de manifestantes, o que levou à
fúria e à indignação, resultando na revolução.

Na Colômbia, existe um regime neoliberal repressivo que se baseia


num setor camponês explorado e encurralado por grandes
propriedades agro-industriais e numa classe urbana empobrecida,
maltratada e aglutinada, que deve pagar pelo acesso a bens e serviços
mais básicos enquanto  afunda-se no desemprego e na informalidade.
As condições estão reunidas, há fúria e indignação. Também houve
muitas vítimas e evidentemente ninguém quer que haja mais.

Seria a greve capaz de transformar toda a fúria, que agora transborda


nas cidades e nas barricadas, num verdadeiro movimento de massas,
capaz de derrubar o regime neoliberal, oligárquico e de exceção da
Colômbia, que submete as classes pobres urbanas, rurais e indígenas à
regra do sucesso de uns poucos? É muito cedo para saber. O que é
certo é que as mobilizações criaram um precedente importante para
repensar o presente e recuperar a consciência de classe num país que
foi alienado de sua própria história. A luta não é apenas contra a
reforma tributária, é também contra o modelo de acumulação e contra
as injustiças que certas instituições e indivíduos estão determinados a
perpetuar.

Tradução: Fernando Lima das Neves.

Publicado originalmente na revista Jacobin América Latina.

O futuro da pandemia

Apesar da afirmação da interdependência, torna-se patente que o


mundo compartilhado não é igualmente partilhado
14 de maio de 2021, 15:43 h Atualizado em 14 de maio de 2021, 15:56
   

 ...

Índios ianomamis
com máscaras de proteção facial em destacamento militar em Alto Alegre, Rondônia
01/07/2020 (Foto: REUTERS/Adriano Machado)
 
Por Judith Butler

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(Publicado no site A Terra é Redonda)

Independentemente de como assimilamos esta pandemia, nós a


compreendemos como global; ela deixa claro o fato de que estamos
implicados em um mundo compartilhado. A capacidade de criaturas
humanas vivas de afetar umas às outras é, por vezes, uma questão de
vida ou morte. Como são muitos os recursos partilhados de forma
desigual, e muitos também são aqueles que possuem apenas uma
pequena ou extinta fração do mundo, não podemos reconhecer a
pandemia como global sem enfrentar tais desigualdades.

Algumas pessoas trabalham para o mundo comum, fazem-no girar,


mas são, por tal razão, parte dele. Podem lhes faltar as propriedades
ou os documentos. Elas podem ser marginalizadas pelo racismo ou até
mesmo ser desprezadas como lixo – aquelas que são pobres, negras,
com dívidas impagáveis que bloqueiam o sentimento de um futuro
aberto.

O mundo compartilhado não é igualmente partilhado. O filósofo


francês Jacques Rancière se refere à “parte dos sem parte” – aqueles
cuja participação no comum não é possível, nunca foi, ou não mais
será. Afinal, não se pode possuir parcelas apenas de empresas e
recursos, mas também de uma noção de comum, uma sensação de
pertencer igualitariamente ao mundo, uma confiança de que ele está
organizado para assegurar o florescimento de todos.

A pandemia iluminou e intensificou desigualdades raciais e


econômicas ao mesmo tempo que aguçou os sentidos globais de
nossas obrigações com os outros e com o planeta. Há um movimento
com direção mundial, baseado em uma nova noção de mortalidade e
interdependência. A experiência da finitude está associada a uma
aguçada percepção das desigualdades: quem morre prematuramente e
por quê? E para quem estão ausentes a infraestrutura ou a promessa
social de continuidade da vida?

Essa percepção da interdependência do mundo, fortalecida por uma


crise imunológica comum, desafia a concepção de nós mesmos como
indivíduos isolados e encapsulados em corpos discretos, sujeitos a
fronteiras estabelecidas. Quem negaria, nesta altura, que ser um corpo
significa estar vinculado a outras criaturas vivas, às superfícies e aos
elementos, incluindo o ar que pertence a ninguém e a todos?

Nestes tempos pandêmicos, ar, água, teto, roupas e o acesso à saúde


são focos de angústia coletiva. Entretanto, todos eles já estavam
ameaçados pelas mudanças climáticas. O fato de alguém viver ou não
uma vida vivível não é uma mera questão existencial privada, mas
uma questão econômica urgente, incitada pelas consequências de vida
ou morte da desigualdade social: existem serviços de saúde, abrigos e
água limpa suficientes para todos aqueles que têm direito a uma parte
igual deste mundo? A questão se torna ainda mais urgente devido às
condições de precariedade econômica agravadas pela pandemia – que
expõe, também, a catástrofe climática em andamento como a ameaça à
vida vivível que ela é.

Pandemia é, etimologicamente, pandemos: todas as pessoas ou, mais


precisamente, as pessoas em todos os lugares, ou algo que se espalha
sobre ou através das pessoas. O “demos” são todos, a despeito das
barreiras legais que tentam separá-los. Uma pandemia, então, vincula
todas as pessoas por meio dos potenciais de infecção e recuperação,
sofrimento e esperança, imunidade e fatalidade. Nenhuma barreira
impede a circulação do vírus enquanto os humanos circularem;
nenhuma categoria social garante imunidade absoluta para todos
aqueles que inclui.
por taboola
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“O político, em nosso tempo, deve partir do imperativo de reconstruir


o mundo em comum”, argumenta o filósofo camaronês Achille
Mbembe. Se consideramos a espoliação dos recursos planetários para
o lucro empresarial, a privatização e a própria colonização como um
projeto ou um empreendimento planetário, então faz sentido conceber
um movimento que não nos envie de volta aos nossos egos e
identidades, nossas vidas isoladas.

Tal movimento será, para Mbembe, “uma descolonização [que] é, por


definição, um empreendimento planetário, uma abertura radical do e
para o mundo, uma respiração profunda do mundo em oposição ao
isolamento”. A oposição planetária à extração e ao racismo sistêmico
deve, portanto, nos trazer de volta ao planeta, ou deixar que ele se
torne, como que pela primeira vez, um lugar para uma “respiração
profunda” – um desejo que todos hoje conhecemos.

No entanto, um mundo habitável para os humanos depende de um


planeta florescente onde os humanos não estã no centro. A oposição às
toxinas ambientais não acontece apenas para que possamos viver e
respirar sem ter medo de nos envenenar mas, também, porque a água e
o ar devem ter vidas que não estejam centradas na nossa.

Conforme desmontamos as formas rígidas de individualidade nestes


tempos interconectados, podemos imaginar o papel menor que os
mundos humanos devem desempenhar neste planeta Terra de cuja
regeneração tanto dependemos – e que, por sua vez, depende de nosso
menor e mais consciente papel.

Quadro político se agrava, mas desfecho é imprevisível

“É difícil prever o que haverá pela frente”, destaca o professor


Roberto Moraes. “O Brasil, hoje é muito diferente do país de 2002,
em diversos aspectos. Precisamos superar o genocídio, o desmonte do
país e o atraso. É necessário mais que resistir”
13 de maio de 2021, 18:59 h Atualizado em 13 de maio de 2021, 20:51
   

 2

Pedro Guimarães e Jair Bolsonaro (Foto:


Reprodução/YouTube)
 
Por Roberto Moraes
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Há mudanças substanciais no quadro político no Brasil. 

A CPI trabalha com a apuração de dados crescentes das


(ir)responsabilidades do desgoverno, tanto na questão das vacinas,
quanto da ausência de gestão para proteção das pessoas. 

O desgoverno é fruto de um clã alucinado ombreado por milícias


digitais e territoriais e pelos generais do Partido Militar, mais
preocupados em duplicar seus salários e que não se importam com a
enorme massa de desempregados, famintos e excluídos. Estes tentam
sobreviver com o minúsculo auxílio emergencial, sofrendo as dores da
pandemia e da morte daqueles mais próximos e, em sua maioria, da
mesma classe social.

O descontrole da base desgovernada aumenta, se torna visível, e


parece refletir a percepção da população que, embora silenciosa, em
sua maioria, segue tentando se proteger do vírus e destes genocidas.

É difícil prever o que haverá pela frente. 

Os donos dos dinheiros no andar de cima, seguem satisfeitos com o


aumento dos seus lucros e com o acesso às empresas vendidas na xepa
das privatizações das estatais e concessões, onde o fluxo de dinheiro e
rentabilidade, prescindem de investimentos em instalações, apenas
adequações e reformas, pagas com crédito barato e subsidiado do
BNDES, mesmo que quase desmontado. Esses, também não
encontram o nome para o tal centro neoliberal.

A divisão de posição na população parece ter mudado de lado. Ainda


na população, os sinais são de uma maioria acompanhando tudo de
perto e querendo mostrar sua nova posição. Há preocupação e
ansiedade, mas há mais que fios de esperança. 

O Brasil, hoje é muito diferente do país de 2002, em diversos


aspectos. Precisamos superar o genocídio, o desmonte do país e o
atraso. É necessário mais que resistir. Sigamos em frente!

Bye, bye, Pinochet!

"Tanto tempo depois, Allende se vinga de Pinochet, a democracia se


vinga da ditadura", diz o jornalista Emir Sader sobre a vitória eleitoral
da esquerda nas eleições chilenas
17 de maio de 2021, 22:33 h Atualizado em 17 de maio de 2021, 22:35
   

 4

"Nova Constituição Agora" (Foto: TeleSur)


 
Foi um longo processo desde o fim da ditadura de Pinochet até estas
eleições. Foi uma longa transição, que restabeleceu a democracia
política no Chile, mas manteve a constituição imposta em pleno
estado de sítio – mesmo modificando-a em vários aspectos – e a
política econômica neoliberal.

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Uma coalizão entre o Partido Socialista e a Democracia Cristã foi a


responsável por essa longa transição – iniciada em 1990 e concluída
agora, mais de trinta anos depois. Até que, em 2019, uma série de
manifestações populares nunca vistas no Chile, iniciada com protesto
contra o aumento do preço dos tíquetes do metrô, sacudiu a aparente
tranquilidade da vida chilena. 

Iniciado com essa reivindicação, o movimento popular desembocou


na convocação de uma consulta que aprovou o chamado a uma
Assembleia Constituinte, com paridade de gênero e representação dos
povos indígenas. Foram agora eleitos os 155 parlamentares, que
elaborarão a nova constituição chilena, que será submetida a um
referendo da população, no primeiro semestre de 2022.

Os resultados estiveram à altura do terremoto das mobilizações de


2019, que só se detiveram pela chegada da pandemia. 

Primeiro resultado: derrota da direita. A frente que agrupou a todos os


partidos de direita, teve menos de 1/3 dos votos, a pior votação que
jamais teve. Um resultado coerente com o apoio de menos de 10% de
apoio do presidente Sebastián Piñera, derrota ele também.
O segundo foi a baixa votação da centro-esquerda, a aliança entre os
socialistas e os democratas cristãos. Ficou em terceiro lugar,
terminando com a polarização entre eles e a direita chilena.

A grande novidade, produto direto daquelas grandes manifestações,


foi a votação tanto da nova esquerda, expressa em partidos e frentes
novas de partidos – a Frente Ampla, considerada a grande vitoriosa,
quanto a votação do Partido Comunista e, principalmente, a votação
dos independentes, que puderam se lançar como candidatos
individuais. 

No seu conjunto, as forças progressistas terão cerca de 70% dos


representantes da Assembleia Constituinte. Finalmente, o Chile
poderá livrar-se da velha constituição pinochetista e do modelo
econômico neoliberal. O fantasma do Pinochet finalmente será
totalmente exorcizado. 

Foram eleitos também, pela primeira vez pelo voto direto,


governadores e prefeitos de todos os lugares do Chile.

Já não bastasse todas essas emoções, o Chile terá eleições


presidenciais em outubro deste ano. Em um clima ditado pelas
grandes mobilizações populares e pelos debates de fundo da
Assembleia Constituinte. Certamente haverá um candidato da direita,
um da aliança de centro-esquerda. No campo da nova esquerda, há
pré-candidatos da Frente Ampla e do Partido Comunista. Eles
discutem se manterão as duas candidaturas ou se farão uma consulta
no conjunto da esquerda, para decidir por um candidato único. 

Em qualquer dos dois casos, pela primeira vez o Chile poderá ter um
presidente que não seja nem da direita, nem da centro-esquerda.
Nestas duas últimas possibilidades, muito provavelmente no caso do
centro-esquerda e certamente no caso da nova esquerda, o novo
governo chileno se somará ao grupo de governos antineoliberais e
progressistas da América Latina, que conta hoje com o México, a
Argentina, a Bolívia e pode contar, a partir do próximo ano, também
com o Brasil.

O Chile que sair de todo esse processo será um novo país, depois de
uma nova constituição, que segue as orientações propostas por
Salvador Allende: “Que o povo pela primeira vez entenda que não é
desde cima, mas desde as próprias raízes da sua convicção, que deve
nascer a Carta Fundamental que lhe dará existência como povo digno,
independente e soberano.” Tanto tempo depois, Allende se vinga de
Pinochet, a democracia se vinga da ditadura.

Pazuello tem conexões empresariais mal explicadas, diz


Cristina Serra

"Conhecer o contexto do personagem em questão talvez ajude a CPI a


entender melhor seu papel no morticínio brasileiro", aponta ainda a
jornalista
18 de maio de 2021, 06:35 h Atualizado em 18 de maio de 2021, 06:50
   

 2
Cristina Serra (Foto: Agencia
Brasil)
 
247 – "No período em que esteve no ministério, pouco se soube a
respeito dele, além de uma suposta especialização em logística. Dois
sites, contudo, revelaram conexões empresariais do general no
Amazonas, justamente onde ele teria assumido um dos comandos
militares mais importantes do país se não tivesse ido para o
ministério", escreve a jornalista Cristina Serra, em sua coluna na Folha
de S. Paulo.

"O site Sportlight revelou que Pazuello se tornou sócio de uma


empresa de navegação quando já era secretário-executivo da Saúde. A
empresa pertence à sua família e tem relações contratuais com órgãos
públicos. O site De Olho nos Ruralistas mostrou a sociedade em mais
duas empresas com o irmão, Alberto Pazuello, figura barra pesada da
crônica policial de Manaus. Em 1996, foi preso por estupro e tortura
de adolescentes e acusado de participar de um grupo de extermínio.
Conhecer o contexto do personagem em questão talvez ajude a CPI a
entender melhor seu papel no morticínio brasileiro", aponta ainda a
jornalista.

Capitalismo brasileiro sonhado por Covas esfumaçou


17 de maio de 2021, 20:48 h Atualizado em 17 de maio de 2021, 20:57
   

 3

Bruno Covas (Foto: Reprodução/Instagram)


 

PSDB caminha para Lula


Bruno Covas(1980-2021), ex-prefeito de São Paulo, tinha muitos
sonhos, talvez o maior deles o que sonhava seu avô Mario
Covas(1930-2001), governador paulista, seu ídolo: construir e
consolidar o capitalismo nacional, mais, precisamente, o capitalismo
industrial paulista, mediante receita liberal, antigetulista, dependente,
com ideologia importada do império, segundo a qual a vocação do
Brasil, historicamente,  é a de ser permanentemente linha auxiliar do
sistema capitalista americano; essa sempre foi a pregação de FHC,
ideólogo tucano maior, teórico da dependência, na linha da Cepal;
para o ex-presidente social democrata do PSDB, que apoiou o
bolsonarismo contra petismo em 2018, a revolução getulista de 1930,
que lançou bases da construção do Estado nacional, contrariava e
contraria o aliado maior dos tucanos, os Estados Unidos, aos quais
presta serventia, desde sempre; o sonho do avô de Bruno Covas e do
PSDB, do qual foi um dos criadores mais destacados, era, portanto,
industrialização sem Getúlio.

Escravo da Doutrina Monroe


Sobretudo, os tucanos são adeptos maiores da Doutrina Monroe, de
1823, da América para os americanos, calcada, aliás, na ideologia
utilitarista-imperialista inglesa; um ano depois da Independência, em
1822, sob pressão de Londres e da libra esterlina, os americanos
lançaram essa doutrina imperial, para América Latina, como
imperativo categórico kantiano; ela batia de frente com os ideais do
Patriarca da Independência, José Bonifácio(1763-1838), que
alimentava, desde a chegada de Dom João VI, no Brasil, em 1808, o
sonho do Estado nacional soberano, para enfrentar o imperador
Napoleão Bonaparte; o império português seria, na pregação
bonifaciana, reorganizado no Brasil, para ser grande adversário do
ditador napoleônico, derrotando-o; o sonho de Bonifácio não se
consolidou, devido à Doutrina Monroe, que esmagou seu sonho
nacionalista, derrotado pelo poder das oligarquias agrárias
escravocratas, aliadas, primeiro, do império inglês, durante o reinado,
e, depois, dos Estados Unidos, a partir da vitória da República, no
final do século 19; desde então, sem chances de materializar a
geopolítica defendida por Bonifácio, encarcerado, no final da vida,
pelos oligarcas, o Brasil se distanciou da industrialização, retomada,
apenas, com a revolução de 1930, com os tenentes e Getúlio Varga ,
herdeiro ideológica de Bonifácio.

Capitalismo mercantilista colonizado


Contra ambos – Bonifácio e Getúlio, cultores dos mesmos ideais de
construção de um Brasil nacionalista soberano -, os oligarcas, na
Monarquia e na República, com a força financeira do café paulista,
mandando na República Velha, subserviente ao poder anglo-
americano, resistiram ao pensamento do Brasil independente; para
continuarem no poder e usufruírem da condição de grandes
exportadores para as maiores potências, Europa e Estados Unidos, os
oligarcas do café consideram-se linha auxiliar do desenvolvimento
dependente, teorizado, mais tarde, por FHC, para viabilizar-se
candidato algum dia com apoio de Washington; o jogo da dependência
oligárquica implicaria na importação preferencial da ideologia
mercantilista contrária à industrialização tão sonhada por Mario
Covas, na sua formação política social democrata; até hoje lê-se na
grande mídia, porta-voz do império, o ponto de vista imperialista de
que substituição de importação é atraso e não progresso, que livraria
efetivamente o Brasil da condição de colônia econômica e financeira
do império; Getúlio nadou contra a corrente mercantilista, na defesa
da industrialização, isto é, da substituição das importações, sendo, por
isso, considerado por FHC, promotor do atraso, não do progresso. A
história, agora, está a demonstrar o equívoco dos falsos diagnósticos
mercantilistas defendidos pelos industriais paulistas e seus ideólogos,
como FHC e sua teoria da dependência, essencialmente, antigetulista;
na prática, ela inviabilizaria o sonho de Mario Covas de construção do
capitalismo paulista com dinheiro emprestado dos bancos
internacionais a juros flutuantes em meio à liberação da total entrada e
saída de capitais. Covas parece que jamais lera os nacionalistas da
direita democrata europeia – bem como nacionalistas japoneses – de
que o capital, para industrializar o país, se faz em casa, mediante
política social democrata.

Plano Real antidesenvolvimentista


Os tucanos paulistas, na Era FHC, fizeram de tudo para enterrar
Getúlio, na tarefa de prestar serviço ao império, de modo a destruir
riqueza primitiva brasileira(matérias primas), associada à construção
industrial, embalada pela Petrobrás; com ela, Getúlio vislumbrava
metralhadora giratória nacionalista de conquista mundial pela
engenharia de serviços, especialidade desenvolvida pela ideologia
nacionalista intrínseca ao avanço da indústria petrolífera, capaz de
promover integração econômica nacional e latino-americana;  a
industrialização sem Getúlio, que os tucanos tentaram implementar,
equivocadamente, trabalhando para o império, na base da alienação
anti-construtivista, deu, na Era FHC, com os burros nágua; a rendição
tucana ao Consenso de Washington, imposto depois da queda dos
ditadores militares nacionalistas, foi o freio definitivo à pregação de
Mário Covas em favor da construção da industrialização soberana;
com o Plano Real de FHC, aprofundaram as bases do anti-
desenvolvimentismo dependente, hoje, repudiado por dissidentes
tucanos como André Lara Resende; a expressão maior da
macroeconomia do capitalismo dependente fernandino é a taxa de juro
praticada por FHC para promover financeirização econômica
especulativa para fortalecer o real fictício; os tucanos a fixaram em
patamar bem superior ao crescimento do PIB, cujo resultado, prático,
foi ultraconcentração de renda, desigualdade social, instabilidade
monetária crônica e fuga de capitais; com a promessa de falsa
industrialização jamais cumprida porque ela, na verdade, revelou-se
em seu contrário, em  antiindustrialização acelerada, os tucanos
migrariam da social democracia, que nunca exercitaram, para o
neoliberalismo, que o enterraram.

Retrocesso tucano e adeus ao poder


O tucanato neoliberal, que se antecipou ao ultraneoliberalismo de
Paulo Guedes, revelou-se atraso e retrocesso relativamente a Getúlio,
na medida em que acelerou desconstrução do Estado nacional; perdeu
sentido, com os tucanos, no poder, a máxima de Mario Covas de que o
que realmente faltava no Brasil era mais capitalismo liberal e não
nacionalismo getulista; com os tucanos e, na sequência, com os
bolsonaristas, apoiados, em 2018, por eles, o Brasil retrocede à
condição de colônia; os tucanos jamais chegaram ao poder, depois do
reinado de FHC – 1994-2002; disputaram e perderam 4 eleições para
o PT, de 2003 a 2014; na última, em 2018, caíram com menos de 2%
dos votos e buscaram aliança com a ultradireita para cumprir sua
missão história de entregar o petróleo e a maior empresa brasileira ao
capital externo, sem a qual a industrialização e o capitalismo sonhado
por Mario Covas são sonho de noite de verão; Bruno Covas viveu para
ver o sonho impossível de seu avô não se vingar, por trilhar , como o
avô, caminho antinacionalista, na tarefa de servir, até o fim,
subordinadamente, ao império americano; sua morte, tão jovem,
coloca o dilema de o PSDB ter de fazer um refluxo histórico: ajudar
Lula a novamente chegar ao poder ou desaparecer; FHC, anti-
negacionista bolsonariano, já antecipa apoio a Lula, o que, certamente,
faria Bruno Covas, como último ato para não enterrar de vez o PSDB
na lata de lixo da história, como verdadeiro inimigo da
industrialização brasileira.

Palestinos enviam carta ao Irã expondo crimes


israelenses

O líder da Revolução Islâmica no Irã, Ali Khamenei, tomou


conhecimento oficial nesta terça-feira (18), os crimes de Israel contra
os palestinos
18 de maio de 2021, 06:06 h Atualizado em 18 de maio de 2021, 06:50
   
 ...

Fontes
militares de Israel afirmaram que o país bombardeou Gaza mais de 600 vezes nesta
semana (Foto: REUTERS)
 
247 - O líder da Revolução Islâmica no Irã, Ali Khamenei, tomou
conhecimento nesta terça-feira (18), dos crimes de Israel contra os
palestinos, por meio dos bombardeios contra a Faixa de Gaza sitiada e
outros atos violentos do governo israelense na Jerusalém ocupada.

Em uma carta enviada a Khamenei, o chefe do Bureau Político da


Resistência Islâmica Palestina, Hamas, Ismail Haniyeh, descreveu a
brutalidade sionista contra os residentes do bairro de Sheik Jarrah em
Jerusalém, a mesquita de Al-Aqsa, Gaza e outros territórios ocupados,
informa a Prensa Latina.

Dada a escalada de agressões e crimes contra o povo palestino e a


violação dos santuários islâmicos, "advertimos que eles não ficariam
impunes", disse Haniyeh.

"A insistência em continuar sua hostilidade contra a nação, terra e


locais sagrados muçulmanos exigiu uma resposta decisiva e legítima
da Resistência na Faixa de Gaza", acrescentou.
Tel Aviv com armas internacionais proibidas, comete um massacre
contra os moradores de Gaza e realiza a repressão mais severa contra
os manifestantes em Jerusalém (al-Quds, em árabe), na Cisjordânia e
nos territórios ocupados desde 1948.

De acordo com relatórios recentes, os bombardeios israelenses


causaram mais de 200 mortes em Gaza, incluindo 61 crianças e cerca
de 1.500 feridos.

Minha conversa com um líder palestino e um judeu:


ouvindo reais vozes do conflito e rompendo o mar de
desinformação
17 de maio de 2021, 14:58 h
   

 ...

 
Desde que me conheço por gente sonho com a paz em Israel e
Palestina. Um Estado para cada povo, ambos soberanos e seguros,
vivendo em uma espécie de nação continental, semelhante à União
Europeia, que facilite comércio, turismo, e todo tipo de relação
positiva. Ainda assim, cada qual com sua independência e a beleza da
diversidade.

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Tenho só 38 anos de vida. Conheço mestres do ativismo progressista,


tanto judeus quanto palestinos, que escreveram a história da luta pela
Democracia, pela Justiça Social e pelos Direitos Humanos no Oriente
Médio ao longo de décadas. Esses irmãos e irmãs de “fé progressista”
esperam pelos dias de paz há mais tempo que eu. E ainda assim
seguem na luta diariamente e dispostos até o fim.

Infelizmente, como sabemos, os maus têm muita voz no mundo.


Presidem nações, lideram religiões, julgam em tribunais. Sobretudo o
início do século XXI escancarou as portas do horror, com figuras
como Trump, Bolsonaro, Netanyahu, Erdogan assumindo o poder
máximo em seus países, e muitos outros escalando o caminho em
direção ao mesmo. Desta forma chegamos a 2021 em meio a mais um
terrível conflito dirigido pelos senhores da guerra, nos quais quem
sofre são, como sempre, os civis e os inocentes. Judeus e palestinos se
agridem em grandíssima parte sem compreender que estão sendo
comandados por interesses que são opostos aos interesses de todos
eles, e que só trabalham em nome dos grandes poderes políticos que
governam o mundo.

Enfim, hoje, na era da informação, milhares de artigos e lives e


certamente milhões de comentários sobre o tema são veiculados na
internet – que, como disse Umberto Eco, “dá o direito de fala a legiões
de imbecis”. Nas redes sociais 99% do que se vê é propagação de ódio
e racismo seja contra os judeus ou contra os palestinos.

Mas não são só as redes sociais. Mesmo a mídia oficial faz em grande
parte (e digo até em sua maior parte, em minha opinião) um péssimo
trabalho, que caracteriza um imenso desfavor a todos os envolvidos no
conflito. Raramente vemos coberturas equilibradas que buscam de
fato trazer a verdade e a visão panorâmica dos complexos fatos que
envolvem este secular conflito. Muito incomumente traz-se judeus e
palestinos juntos a conversas, de maneira justa e equilibrada para
dialogarem ou mesmo discutirem. Quase sempre só dão voz a um ou a
outro.

E infelizmente preciso dizer que o Brasil está atrás neste sentido


também, se comparo com a Alemanha. Por aqui as mídias têm coberto
o conflito de maneira muito mais adequada, buscando de fato fazer
jornalismo, e não propaganda. As grandes mídias corporativas no
Brasil nem se comenta, sabemos sobre como elas são nocivas. Mas
mesmo as alternativas e progressistas têm muito a se desenvolver no
que diz respeito a tudo o que envolve Israel e Palestina. E essa falha
ficou ainda mais evidente neste atual conflito.

Bem, nós judeus progressistas, sempre em contato com os irmãos


muçulmanos progressistas, não temos dúvida sobre o que fazer
quando estamos em meio a uma situação de enfrentamento como a
que hoje presenciamos: nos aproximamos ainda mais. Sentamos à
mesa, nos lembramos com ainda mais veemência daquilo tudo que
acreditamos e lutamos por.

Assim, mostrando às mídias como se faz, ontem, tivemos o prazer de


organizar uma mesa virtual com um palestino e um judeu – idealizada
pela querida companheira de luta Cláudia Gibril, do Coletivo Estrela.
Os convidados eram o Dr. Mohamed Odeh (vice-presidente do
‘Comitê de Interação da OLP com a Sociedade Israelense’) e Davi
Windholz (escritor e ativista pela paz). Dr. Mohamed falava direto de
sua casa em Ramallah, Cisjordânia, Palestina; e Davi de Naharyia,
Israel.
Ambos progressistas, humanistas e com um currículo maravilhoso de
décadas de ativismo pela paz, estes são o tipo de pessoas que
realmente compreende o que ocorre por lá em seus mínimos detalhes.
Viveram e vivem na pele cada detalhe da questão. Seus filhos e netos
idem. Estudam, escrevem sobre o tema, vivenciaram tudo o que se
pode vivenciar nas veredas do ativismo pela construção da paz e do
entendimento. E entre si, ambos são amigos de longa data.

Assim, tive o prazer, ao lado de Cláudia, de moderar o papo. E neste


artigo trago algumas posições de ambos os líderes, mas sugiro
fortemente ao leitor ou leitora que assistam à live completa, disponível
no Youtube.

Para quem não sabe, a OLP é a ‘Organização para a Libertação da


Palestina’, representada aqui por Dr. Mohamed. E Davi é autor de um
dos projetos de paz que são cogitados entre judeus e palestinos que
esta desejam. 

Muito bem, vamos a alguns pontos:

Primeiramente, Dr. Mohamed explicou sobre aquilo que eu mesmo já


falei em lives e que qualquer um que compreenda sobre o tema, sabe:
Netanyahu e Hamas jogam no mesmo time. Ele diz:

“Não quero dizer que estão Hamas e Netanyahu estão coordenando


um com o outro, mas estão sim de acordo em seus interesses. Há um
cruzamento de interesses entre ambos os lados e os que sofrem as
consequência são os civis tanto de um lado como do outro. Sei que a
maioria do povo em Israel durante a semana esteve em seus abrigos
(antibomba) e os palestinos tiveram sua infraestrutura muito
destruída em Gaza e quase 200 mortos, a maioria civis. Temos uma
parte de mulheres e crianças mortas e não se sabe quantos edifícios
já foram derrubados. E creio que ao invés de construir pontes e
resolver o conflito, estão se construindo muros e destruindo as pontes
existentes.”

E Davi complementa:

“É incrível como a solução é tão fácil e ao mesmo tempo tão difícil


por causa da cegueira (por poder) de parte dos políticos israelenses e
palestinos. Não sei quem deu o nome a esta operação em Gaza, mas
ela se chama ‘Guardião das muralhas’. E ela representa exatamente
o objetivo do governo atual nos últimos 12 anos, que é manter estas
muralhas. São duas muralhas. Uma é a muralha psicológica, a
muralha do medo, da vítima, da raiva, do ódio, a muralha para
romper, aproveitar, manipular essas emoções através do que chamo
de ‘ideologia do medo’. Manipulam isto para se manter no poder. A
segunda muralha é a muralha física, que separa Israel da Palestina,
para que o povo em Israel não veja o que está acontecendo do outro
lado, na Palestina e com o povo palestino. A opressão, o domínio, o
apartheid, que está havendo do outro lado. Então no momento em que
eu estou em Tel Aviv ou na praia de Nahariya, se eu não vou a
Ramalah, se não vou à Palestina, não tenho a possibilidade de ver da
praia muito confortável, o que está acontecendo do outro lado.”

Ele prossegue relatando sobre as últimas frustradas tentativas de paz,


pouco antes do início da Era Netanyahu:

“Fazendo um ‘zoom out’ para setembro de 2008 quando Olmert (o


então primeiro ministro) renunciou, ele estava negociando com o
presidente Abbas (presidente palestino), e Abbas estava esperando
um mapa de Olmert, que pretendia dar quase 98% (das terras da
Cisjordânia), e Jerusalém como capital dos dois estados. E aí Olmert
renunciou por problemas de corrupção – em que não havia sido
condenado, nem havia sido posto em tribunal (coisa que Netanyahu já
está muito além). A partir deste momento se cortou toda a relação
com a Autoridade Palestina e se passou a fortalecer o Hamas. Uma
das situações é o dinheiro que o Hamas recebe do Catar, que o
fortaleceu desde 2014 tanto tecnologicamente quanto em quantidade.
Existe uma cooperação mútua de inimigos (Netanyahu e Hamas) e na
hora em que há algum problema, então estoura uma situação (como
este conflito).”

Dr. Mohamed prossegue então explicando sobre o Hamas:

“O Hamas não é um partido exclusivamente palestino. É um partido


da Irmandade Muçulmana, que tem uma hierarquia mundial e seu
programa pouco tem a ver com a Palestina. A Irmandade Muçulmana
foi criada em 1928 e desde então até 2006, e ganharam as eleições
palestinas, graças ao desgaste da Autoridade Nacional Palestina –
que tinha corrupção, que não conseguia alcançar nada político no
momento, e portanto era um desgaste ao povo palestino –, o povo
castigou a OLP elegendo o Hamas. E esta foi a primeira vez que a
Irmandade pôde governar em algum lugar, portanto não é fácil que
eles deixem o poder, nem por eleições, nem por nada. O dia em que
ganharam as eleições, em 2006, o chefe deles disse ‘A vida são três
dias: um dia para a OLP, que se acabou; um dia para o Hamas, que
começou; e o dia final do mundo’. Ou seja, não querem sair do
governo. Mas este não é o problema. Temos a possibilidade que nosso
povo eleja quem lhe representa. O problema é que eles (Hamas) estão
apoiados pela extrema-direita, o que é lógico, pois a extrema-direita
em todo o mundo se apoia. Não creia que os mortos lhes trazem
danos ou favores. Ele se pintam como os libertadores, que não são. E
nem importa a eles libertar a Palestina. Eles estão muito aliados
direta- ou indiretamente a Netanyahu, à Direita e à Extrema-direita
em Israel e dependem um do outro para seguirem governando. Creio
que Netanyahu está levando Israel à catástrofe ao se manter como
primeiro-ministro, pois os interesses de Israel não são os interesses
de Netanyahu. E os interesses da Palestina não são os interesses do
Hamas.”

Ele continua, salientando a importância do diálogo e do foco no


futuro:

“Davi sabe, eu como vice-presidente do ‘Comitê de Interação da OLP


com a Sociedade Israelense’, tenho visitado os lugares mais
longínquos de Israel, buscando pacifistas para dialogar sobre o
amanhã. Não olharemos para as narrativas tão antagonistas que
nunca podemos resolver. E o conflito não é um conflito religioso,
como o Netanyahu quer pintar. Durante toda a história, muçulmanos,
judeus, cristãos, conviveram. O conflito começa quando queremos
criar um estado para uma religião. Não quero discutir isso e nem é o
meu tema. Meu tema é: vamos olhar para amanhã, para os meus
filhos e para os seus, para encontrarmos uma solução, já que os
povos estão destinados a conviver e coexistir um com o outro. E
queremos resolver da maneira mais rápida possível, poupando
vítimas. E isso se dá através de pontes e não de muros, como disse
Davi.”
Indaguei Dr. Mohamed então sobre a questão das eleições palestinas,
que não se dão há cerca de 15 anos e recentemente foram mais uma
vez adiadas. Ele foi enfático em uma resposta muito interessante:

“Normalmente as urnas são o caminho para mudanças políticas. Mas


o caso palestino é muito especial. Estamos formando um país na
ocupação. Então as eleições para mim, pessoalmente, não querem
dizer muito. Por que vou eleger um representante do povo palestino
que para que se locomova de um ponto a outro necessitará a
permissão de um soldado israelense de 22 anos? Então para que me
servem essas eleições? Além disso, temos a OLP, o único legítimo
representante do povo palestino, que renovou sua direção política em
2018, e essas eleições se dão a cada cinco anos.”

Davi então complementa com relação à quantidade de pessoas que


querem paz e das que não querem, desmitificando o tema, e
explicando a toxicidade social e política em que a nova geração foi
obrigada a crescer:

“Pensa-se que eu e o Dr. Odeh somos minoria, somos utópicos. Mas


esta não é a realidade. De 60% a 65% do povo em Israel e na
Palestina são a favor de uma das quatro soluções (quatro propostas
de paz que envolvem dois estados). Por que se deu este levante
violento atual? Quem faz este levante? Se você vir todos os vídeos,
são todos jovens, que nasceram depois de 1995, que nunca viram uma
possibilidade de acordo de paz. Então para eles a única coisa que
existe é o ódio mútuo, que foi fomentado nestes últimos 20 anos.
Então temos que transformar isso. O Dr. Odeh e eu representamos
65% da população entre o Rio Jordão e o Mar Mediterrâneo. Mas
existe uma divulgação contrária a isto, como se nós fôssemos a
minoria.”

A conversa então se desloca à essencial questão dos EUA e de


influências externas. Em meio às dificuldades de internet na
Cisjordânia – toda vez que foguetes ou bombas voavam de um lado
para o outro, caía a conexão do Dr. Mohamed –, ele nos explica:

“Vocês sabem o que ocorreu nos EUA com as eleições do presidente


Joe Biden. Creio que os evangélicos queriam outra coisa, como o que
passou no Brasil com Bolsonaro. Israel – e estou falando do povo,
nunca dos governos – também é vítima, como os palestinos, deste
conflito que serve aos interesses estrangeiros. Creio que o mundo
ocidental quer essa divisão, quer que nós (palestinos) e israelenses
estejamos em conflito. Senão teriam nos obrigado a firmar um
acordo, como fizeram no Sudão, em Myanmar e outros países. (…) Se
os EUA quisessem atingir uma solução justa de acordo com a
legalidade internacional, creio que poderíamos fazê-lo amanhã
mesmo. Mas eles têm a hierarquia dos evangélicos – que também
partem de uma missão religiosa – e que querem que este conflito
exista. Querem que todos os judeus do mundo vão à Israel e à
Palestina histórica, para que venha o Cristo e não sei mais o que. É
uma lenda na religião que não serve para mim, nem para você, nem
para um israelense que está a dois quilômetros de mim. Portanto
sejamos mais realistas, com os dois povos buscando paz – mesmo que
os governos não queiram. Eu tenho ido a casas, a universidade e
inclusive aos jovens israelenses antes de se alistarem ao exército.
Falamos para nos entendermos. Isto tudo é muito complicado porque
há estas duas hierarquias extremistas. Uma parte está em Gaza e
outra em Netanyahu, que não querem nenhuma paz. Portanto repito,
a solução seria acabar com a extrema-direita na região. E com os
dois povos dispostos, teremos a capacidade de encontrar uma
solução. Não é complicado. Houve conflitos muito mais complicados
que este que já se resolveram. Podemos conviver uns com os outros
assim que os oportunistas não estiverem mais por aqui.”

Davi então levanta a importância da ajuda dos progressistas do resto


do mundo:

“Eu queria comentar sobre mais uma ponte. Nós falamos até agora
sobre as pontes em que eu e Dr. Odeh somos responsáveis. Somos
responsáveis por destruir as muralhas daqui e construir estas pontes.
Mas existe uma outra ponte, que você Jean e você Cláudia também
são responsáveis. Não só vocês, mas toda a diáspora judia e a
diáspora palestina e também todos aqueles não-judeus e não-
palestinos que são a favor da causa sionista ou da causa palestina de
se unirem. Todos os judeus e palestinos progressistas do mundo. E
todas as pessoas progressistas do mundo. De se unirem e
fortalecerem as áreas moderadas em Israel e na Palestina.

Ele segue, explicando sobre as questões da crítica a Israel e do


antissemitismo, e do boicote a Israel:

Dentro da comunidade judaica devemos combater esta linha de


Hasbara (esforço israelense de relações públicas para difundir no
exterior somente informações positivas sobre o país) da Extrema-
direita, esta linha de que tudo que é de Israel tem que ser apoiado,
porque tudo que é contra Israel é antissemitismo. Acabar com essa
linha. E os palestinos moderados têm que acabar com a linha da BDS
(órgão que incentiva o boicote a Israel). Têm que acabar com essa
linha que diz que não se pode cooperar com judeus progressistas, que
dizem claramente que são a favor de um Estado Palestino
independente ao lado do Estado de Israel. Cláudia me falou que há
manifestações em São Paulo sobre o conflito. Os comboios de carros
que fizeram passeatas no Brasil, deveriam ser comboios de carros de
judeus e de palestinos juntos com as bandeiras de Israel e da
Palestina em todos os carros. Ser contra a política racista de
conquista e de domínio e de apartheid sobre o povo palestino, não é
ser anti-Israel ou antissemita. E a mesma coisa do outro lado: o
apoio de palestinos não é aceitar a normalização do domínio de
Israel à Palestina, mas sim lutar juntos palestinos e judeus pela
formação do Estado Palestino.

Dr. Mohamed pede a voz então para concluir sua participação,


reiterando sua posição política:

“Eu digo a todos os que estão assistindo a este programa: o


representante do povo palestino e que reconhece o Estado de Israel é
a OLP. A OLP está disposta de uma maneira sem volta – é nossa
estratégia – a firmar uma paz duradoura com Israel e coexistir com
esta. Este é um lado. O outro lado é: antes os palestinos diziam que
atirariam os israelenses ao mar e os israelenses diziam que
mandariam os palestinos à Jordânia. Posso garantir que nem Israel
pode mandar os palestinos à Jordânia e nem os palestinos querem e
nem podem atirar os israelenses ao mar. Vamos olhar com fé e com
bons olhos a um futuro próspero.”

Davi depois também conclui apontando para a necessidade de não


somente fazermos a paz política, mas reformarmos toda a mentalidade
dos povos, através de uma nova Educação:
“A proposta de ‘two states, one homeland’ (dois estados, uma nação),
além de ser uma proposta de acordo político, ela é uma proposta
humana de reconciliação. A questão de criar uma relação entre os
povos, de mudar a ‘narrativa do inimigo’. Umas das primeiras coisas
que a gente pede neste nível, é mudar totalmente o material didático
tanto das escolas palestinas, quanto das judaicas (que hoje incitam
ódio e racismo.)”

Enfim, este é só uma breve síntese do que foi dito e conversado por
gente que realmente possui autoridade e legitimidade para falar sobre
o assunto. São pessoas assim que me dão e nos dão esperança. Mas
não uma esperança ingênua ou calcada em algo que não é factível.
Não, pelo contrário. Estas pessoas estão in loco, no meio do conflito,
fazendo exatamente o que deve ser feito e o que torna sua luta realista:
trazendo o diferente para dialogar, olhando para a Educação das novas
gerações e, como sempre, combatendo dia e noite a Extrema-direita,
tanto israelense quanto palestina.

Quanto aos “haters”, eles continuarão a se manifestar, assim como


também os agentes da desinformação, e os propagandistas (a favor de
ambos os lados) disfarçados de jornalistas, e os falsos progressistas
que na verdade fazem a agenda reacionária e direitista. Mas isso
pouco importa, e também pouco importam os comentários de ódio que
estarão abaixo deste meu artigo. O que importa é que quem pode e vai
realizar o histórico atingimento da paz entre Israel e Palestina são os
verdadeiros progressistas e humanistas no Oriente Médio e na
diáspora, que atravessam durante suas vidas todos os percalços
possíveis, mas perseveram munidos da confiança de que nossa meta é
possível e que quando nos livrarmos das forças disruptivas,
comemoraremos juntos a paz, a convivência e a vida.
Reforma Administrativa: ataque aos servidores e
retrocesso inconstitucional
17 de maio de 2021, 16:24 h
   

 1

 
A Reforma Administrativa do governo Bolsonaro, entre outras
perversidades, tem o objetivo de desestruturar o Estado. Trata-se de
mais uma ação que representa a falência do modelo neoliberal
empreendido por Paulo Guedes, que já demonstrou não ter
competência para gerir a crise econômica em que o Brasil se encontra.
O grande alvo é a demolição do Estado social e a subsequente
eliminação dos direitos duramente conquistados pelo povo brasileiro
nas últimas décadas. 

Outro alvo importante são os servidores públicos, definidos como


inimigos por Bolsonaro. Eles praticamente deixaram de existir, sendo
substituídos por modalidades precárias de contratação que retiram
direitos e reduzem brutalmente a qualidade dos serviços prestados à
população. O Brasil sofre diante da ameaça de comprometimento da
qualidade do serviço que chega até a população mais pobre. 

Retrocessos

A Reforma Administrativa, como aí está, possui fundamentos


fracassados e mexe em cláusulas pétreas da Constituição Federal. A
PEC 32/2020 faz um duro ataque ao artigo 37 da Carta Magna, que
trata dos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência na administração pública. Bolsonaro e sua
turma querem a criação do artigo 37-A, que cria “instrumentos de
cooperação” e abre espaço para a privatização dos serviços públicos. 

A todo custo, o governo deseja quebrar cláusulas pétreas elaboradas


pelos constituintes para estabelecer um modelo que remonta à
República Velha, com práticas clientelistas. Desejam controlar quem
serão contratados para executar serviços públicos, sem critérios
idôneos, mas caracterizados pelo “empreguismo” de outros tempos.  

A proposta também não resolve questões que diz resolver e o pior:


ameaça agravar problemas já enfrentados por servidores públicos. A
PEC 32/2020 possui medidas de caráter regressivo, repletas de
inconstitucionalidades e clientelismo, concebidas para desestruturar o
serviço público brasileiro. 

Entre os principais prejuízos que o governo Bolsonaro deseja


implantar, está a ausência de critérios para a definição das carreiras
típicas de Estado. Em outras palavras, servidores estarão à mercê de
oscilações na conjuntura política. O que eles chamam de
“modernização” é, na verdade, retrocesso! 

Outros pontos da Reforma ferem diretamente a impessoalidade ao


sugerirem o chamado “vínculo de experiência”, arbitrariedade que
desconsidera a capacidade técnica de quem tanto se esforçou para
passar em concurso público. O retrocesso continua com a
possibilidade de pessoas estranhas ao serviço público assumirem
cargos de liderança e assessoramento, uma porta de entrada para
indicações e loteamento de cargos. 
Desde a redemocratização, o direito à estabilidade nunca esteve tão
ameaçado. Mexer na estabilidade de quem passou em concurso
público é um golpe dos mais cruéis. A flexibilidade na dispensa de
servidores é mais um ponto da Reforma que precisa ser duramente
combatido, pois está sujeito ao subjetivismo e pode favorecer
perseguições e ameaças no ambiente de trabalho. 

Imagine o cenário caótico que seria instalado no país, pois em cada


futura crise econômica ou fiscal, os governos poderiam suspender o
atendimento à população em áreas básicas como saúde ou educação,
adotando a suspensão das contratações dos servidores ou até mesmo
com a redução da jornada de trabalho. Já pensou chegar no posto de
saúde ou na escola pública e não encontrar os servidores públicos
necessários para atender a população?

A PEC 32/2020 é mais um exemplo do delírio neoliberal de Paulo


Guedes, responsável pela falência econômica do Brasil. O ministro
que já perdeu a validade deseja sustentar a todo custo um modelo de
Reforma que tira atribuições do Congresso e dá mais poder a
Bolsonaro, que poderá extinguir órgãos e reorganizar autarquias e
fundações mediante decreto. 

Guedes, o verdadeiro parasita

Guedes ofendeu servidores públicos ao chamá-los de parasitas, mas


não seria ele o parasita de fato? Em mais de dois anos à frente de uma
das principais pastas do governo federal, o Posto Ipiranga revelou-se
incompetente e incapaz de retirar o Brasil da crise. Preocupar-se com
a Reforma Administrativa em plena pandemia é mais um acinte de um
governo que coloca o lucro à frente das reais necessidades do povo. 
A ladainha da Reforma Administrativa se junta à de tantas outras
(Previdência, Trabalhista) como solução para a crise, mas fica o
questionamento: crise pra quem? São 14 milhões de desempregados,
auxílio pífio de R$ 150 e inflação nas alturas. Não há dinheiro para o
povo, mas sobra para furar o teto constitucional e garantir aumento
salarial para Bolsonaro, Mourão e ministros em até 69%. Para se ter
noção do escárnio, o vice-presidente passará a ganhar R$ 63,5 mil! 

O Boeing, que iria levantar voo com a Reforma da Previdência, caiu


de bico em um país onde a fome atinge mais da metade dos lares e
atingiu déficit público de R$ 800 bilhões. O Estado Mínimo de
Guedes não induz e não protege, mas insiste em retirar mais direitos
dos trabalhadores! 

A verdade é que o cifrão do mercado fala mais alto na cabeça da


equipe econômica desse governo da morte. Discute-se uma reforma
que retira direitos trabalhistas, mas não se move uma palha para
auxiliar agricultores familiares que seriam beneficiados com a Lei
Assis Carvalho, vetada por Bolsonaro. Sem vacinas, a população
continua a se contaminar e a morrer aos montes. A estratégia genocida
ganha corpo e nos aproximamos das 500 mil mortes por Covid-19.  

A oposição no Congresso e as entidades que representam os


servidores precisam se mobilizar para barrar mais esse retrocesso cruel
e desonesto com os trabalhadores. Não há espaço para desmontes
autoritários. Com ou sem pandemia, valorizar os servidores é valorizar
o serviço que chega à população que mais precisa. Essa parcela
precisa de reconhecimento, de condições dignas de trabalho, e não de
recuos inconstitucionais.
Joe Biden recicla Franklin D. Roosevelt

Biden dá uma resposta defensiva à profundidade sem precedentes da


crise do capitalismo estadunidense e ao retumbante fracasso das
políticas ortodoxas
16 de maio de 2021, 15:38 h Atualizado em 16 de maio de 2021, 16:09
   

 1

Joe Biden discursa no


Congresso dos EUA (Foto: Reuters)
 
Por Atilio A. Boron

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(Publicado no site A Terra é Redonda)

Biden dá uma resposta defensiva à profundidade sem precedentes da


crise do capitalismo estadunidense e ao retumbante fracasso das
políticas ortodoxas

A reorientação macroeconômica do governo Biden deu origem a


inúmeras especulações sobre até onde iria o mandatário estadunidense
nessa nova direção. Uma leitura cuidadosa de seu discurso, proferido
perante ambas as casas do Congresso no 100º dia de seu mandato,
permite vislumbrar uma primeira resposta.

Biden disse que suas palavras tinham que ser interpretadas no marco
de uma tripla crise: “a pior pandemia do século, a pior crise
econômica desde a Grande Depressão e o pior ataque à democracia
desde a Guerra Civil”. Enfrentar estas ameaças não era algo que
pudesse ser feito com políticas habituais, mas exigiam criatividade e
esforços renovados. De seu discurso, depreende-se que é mais fácil
combater a pandemia, mais difícil atacar a crise econômica e mais
difícil ainda curar as feridas sofridas pela democracia estadunidense,
que, na opinião de muitos observadores dentro desse país, se degradou
ao nível de uma plutocracia voraz.

Deixemos a pandemia para outra ocasião, para nos concentrarmos nas


propostas econômicas. Há claramente um retorno ao New Deal de
Roosevelt, embora seja mencionado apenas uma vez ao longo das
dezesseis páginas de seu discurso, e não exatamente quando fala de
economia. Mas seus anúncios são um apelo a favor de uma vigorosa
reafirmação do papel do estado como redistribuidor de riqueza e
renda, como investidor em grandes empreendimentos em
infraestrutura e novas tecnologias, e como garantidor do
fortalecimento das camadas médias, filhas, por sua vez, do ativismo
sindical.

Porque, esclareceu ele, “a economia do gotejamento nunca


funcionou… e é hora da economia crescer de baixo para cima”. Os
números que ele citou para justificar esta mudança de paradigma
macroeconômico, que desaloja completamente os charlatães e
consultores econômicos que continuam propagando as falácias do
neoliberalismo em muitos meios de comunicação da Argentina, eram
bem conhecidos nos círculos acadêmicos e políticos de esquerda nos
Estados Unidos, mas quase completamente desconhecidos do público
em geral e até mesmo dos membros do Congresso. Por exemplo, a
diferença entre a renda do CEO de algumas empresas e o trabalhador
médio é de 320 para 1, enquanto no passado era uma já intolerável de
100 para 1, uma equação incompatível com o “sonho americano”.

Portanto, a triplicação desse hiato deve ser corrigida pelas políticas


públicas. Os bilionários ficaram ainda mais ricos com a pandemia e
utilizaram todos os mecanismos a seu alcance para evadir-se do
pagamento de impostos, que recaem sobre as camadas média e os
trabalhadores, uma afirmação que cabe como uma luva para descrever
a situação na Argentina. Daí sua proposta de estabelecer um imposto
de 39,6% sobre aqueles que ganham mais de 400 mil dólares anuais. É
inaceitável, disse Biden, que 55 das maiores corporações do país não
pagaram um centavo de impostos federais, apesar de terem obtido
mais de 40 bilhões de dólares em lucros. As ressonâncias
rooseveltianas de seu discurso aumentaram quando afirmou,
contrariando um credo muito difundido, que “Wall Street não
construiu este país. As classes médias que o fizeram. E foram os
sindicatos que criaram as classes médias”. Em seguida, solicitou ao
Congresso a rápida aprovação de uma legislação que respalde o direito
de organizar sindicatos, que havia sido severamente cerceado por
Reagan. Walmart e Amazon, para mencionar os dois casos mais
conhecidos, têm sido os porta-bandeiras da luta antissindical nos
últimos tempos e travarão duras batalhas contra as propostas de Biden.

Como podemos interpretar esta guinada tão significativa no discurso e


nas propostas legislativas apresentadas por Biden? Ele converteu-se ao
nacional-populismo, ao socialismo? Nada disso. É a resposta
defensiva à profundidade sem precedentes da crise do capitalismo
estadunidense e ao retumbante fracasso das políticas ortodoxas
promovidas pelo FMI e pelo Banco Mundial para enfrentá-la. E diante
do fiasco produzido pela redução de impostos para os ricos promovida
por Trump, que, previsivelmente, não surtiram o efeito desejado.

Mais do que de Biden, porém, a reação vem das alturas do aparato


estatal que, na tradição marxista, em ocasiões críticas desempenha o
papel do “capitalista coletivo ideal”. Ou seja, um sujeito que se eleva
acima de interesses corporativos ou setoriais mesquinhos e apela para
estratégias que protejam a classe capitalista em seu conjunto e o
capital como sistema econômico, ameaçados pela concorrência da
China e pela belicosidade da Rússia. Da primeira, por causa de seu
arrasador dinamismo econômico e seus grandes avanços tecnológicos;
da Rússia, por sua “ingerência maligna” na política norte-americana.
E ao falar das mudanças tecnológicas (com implicações tanto para a
defesa quanto para a vida cotidiana), Biden afirmou que os Estados
Unidos estão ficando para trás nesta corrida crucial com as
“autocracias” da China e da Rússia, que desafiam a liderança que os
Estados Unidos devem exercer no mundo, embora ninguém possa
dizer quem, como e quando lhe foi confiada tão elevada missão. Daí a
radicalidade das mudanças propostas.

Biden não é Roosevelt


"O balanço dos primeiros 100 dias de seu governo não deixa margem
para grandes ilusões", escreve o professor aposentado do Instituto de
Economia da Unicamp Plínio de Arruda Sampaio Jr
17 de maio de 2021, 16:39 h Atualizado em 17 de maio de 2021, 17:00
   

 ...

Joe Biden (Foto:


Reuters/Kevin Lamarque)
 
Por Plínio de Arruda Sampaio Jr. 

(Publicado no site A Terra é Redonda)

Pressionado pela crise política, social e sanitária colossal, pela


crescente dificuldade de conter a emergência da China no cenário
econômico internacional e pela urgência de deter o desastre ambiental
que ameaça o planeta, Joe Biden apresenta-se como o homem
providencial para deter a escalada da barbárie capitalista. Para tanto,
promete resgatar o papel do Estado norte-americano como artífice do
desenvolvimento capitalista, agente da coesão social interna e
guardião incontestável do mundo livre. A distância entre o que se fala
e o que se faz é abismal.

Para além da propaganda oficial, que procura caracterizá-lo como a


antítese de Reagan, uma inesperada reencarnação de Franklin
Roosevelt, o balanço dos primeiros 100 dias de seu governo não deixa
margem para grandes ilusões.

A diversidade identitária no comando dos postos estratégicos serve


apenas para camuflar o rigoroso controle do grande capital
monopolista e financeiro sobre o Estado. Os negros, latinos, mulheres
e lgbts que compõem a alta hierarquia do governo Biden vieram
diretamente dos quadros das grandes corporações ou são vinculados a
centros de estudos e consultorias estratégicas financiadas pelo grande
capital. Chama a atenção o grande contingente de auxiliares oriundos
do Conselho de Relações Exteriores, também conhecido como “Wall
Street Think Tank” (A cabeça pensante de Wall Street), dentre os
quais destaca-se a figura da vice-presidente, Kamala Harris. Em
poucas palavras, o alto comando de Biden foi treinado para procurar
soluções para os problemas do neoliberalismo por dentro do próprio
neoliberalismo.[i]

Para além da retórica progressista para agradar a base eleitoral e da


preocupação em diferenciar-se de Trump, o novo presidente dos
Estados Unidos, em suas primeiras iniciativas, limitou-se basicamente
a: mudar a política sanitária, incentivando o distanciamento social e a
vacinação em massa da população; restaurar a política externa do
governo Obama, reposicionando os Estados Unidos nos foros
internacionais multilaterais e revitalizando as ações ofensivas ao redor
do mundo; e reforçar a política de gasto público para mitigar os efeitos
devastadores da crise econômica, aumentando a dose do receituário de
política fiscal e monetária do FMI, que já vinha sendo aplicado pela
administração Trump.
Até o momento, a promessa de aumentar a tributação sobre as grandes
riquezas, as medidas de ajuda às famílias americanas e o plano de
investimentos em infraestrutura – projetos que compõem seu
programa de “Reconstruir Melhor” – não passam de belas intenções.
Quando examinadas com objetividade, as três iniciativas revelam-se
bem mais modestas e convencionais do que o alardeado pelos que
imaginam a administração Biden como uma ruptura com o
neoliberalismo e o início da transição para um capitalismo edulcorado
e ecológico.

A lei proposta pelos democratas para aumentar o imposto de renda de


quem ganha mais de US$ 400 milhões por ano apenas revoga as
reduções indiscriminadas dos anos Trump, recompondo o que existia
no fim do governo Obama. A elevação da tributação sobre ganhos de
capital na bolsa de valores e outras medidas direcionadas a eliminar os
aberrantes privilégios fiscais do 1% mais rico, medidas que de fato
representariam uma significativa inovação, dependem da improvável
aprovação da oligarquia que controla o Congresso Nacional.[ii]

O projeto de auxílio às famílias – Plano para as Famílias Americanas


–, orçado em US$ 1,8 trilhão, a ser gastos ao longo de 10 anos, não
vai além de uma política assistencialista – no estilo Bolsa Família e
PROUNI. A baixa prioridade dada às famílias pobres fica patente
quando se constata que os gastos anuais com elas representariam
menos de 1% do PIB – quatro vezes menor que o orçamento do
Pentágono em 2021. Ao invés de enfrentar as causas da pobreza – a
progressiva degradação do mercado de trabalho que aumenta o
desemprego estrutural e rebaixa sistematicamente os salários –, a
estratégia é administrar a pobreza, em claro reconhecimento da
impotência para eliminá-la.[iii]
Por fim, os investimentos na recuperação da infraestrutura revelam-se
muito aquém do necessário para recompor a cambaleante
competitividade internacional dos Estados Unidos e dar início à
transição para uma economia verde – seus dois objetivos primordiais.
As despesas de cerca de US$ 2,3 trilhões ao longo de oito anos
previstas no Plano Americano de Trabalho, o que equivale a um gasto
médio anual de US$ 290 bilhões (cerca de 1,2% do PIB), apenas
atenuariam a velocidade da decadência, mas não poderiam evitá-la e
muito menos deter a aceleração do aquecimento global. Na verdade,
tanto o declínio do império norte-americano como a escalada da crise
ambiental são efeitos inexoráveis da lógica perversa da arbitragem
salarial e depredação da natureza em escala global, impulsionada pelas
grandes corporações que comandam o governo Biden.[iv]

O abandono do neoliberalismo sanitário de Trump e o reforço das


medidas emergenciais de combate à recessão tiveram um impacto
imediato na vida dos norte-americanos. Nos 100 primeiros dias do
governo Biden, sob o efeito da política de vacinação em massa, as
infecções diárias por coronavírus foram divididas por cinco, e os
óbitos, por mais de quatro. O relativo controle sobre a epidemia de
coronavírus veio acompanhado de uma vigorosa recuperação
econômica. Turbinado pela injeção adicional de US$ 1,9 trilhão na
economia, o nível de atividade do primeiro trimestre registrou
expansão de 2,6% em comparação ao trimestre anterior, convalidando
a expectativa do FMI de uma expansão anual do PIB da ordem de
6,4%.

A reversão da recessão suaviza o impacto brutal da crise capitalista


sobre a vida dos trabalhadores, mas seria uma ilusão imaginar que o
ativismo fiscal e monetário da política econômica de Biden poderia
impulsionar um novo ciclo de expansão capitalista, como se alardeia
em muitos círculos saudosistas. A euforia dos anos vinte, após o fim
da recessão provocada pela gripe espanhola, não se repetirá. O
contexto histórico é outro.[v]

Sem liquidar o excedente absoluto de capital e sem abrir novas frentes


de inovação e difusão do progresso técnico, não há como
contrabalançar a tendência decrescente da taxa de lucro e desbloquear
a destruição criadora que impulsiona o desenvolvimento capitalista. E
mesmo que houvesse um ciclo de crescimento sustentável, não haveria
nenhuma razão para supor a possibilidade de uma relação virtuosa
entre acumulação de capital, geração de emprego e aumento de
salário.[vi]

O capitalismo do século XXI não é o do século XX. Sem colocar em


xeque a causa do problema – a livre circulação do capital em escala
transnacional – é impossível evitar seus efeitos deletérios.
Globalização dos negócios, instabilidade econômica, rebaixamento do
nível tradicional de vida dos trabalhadores, desigualdade social, crise
da democracia liberal, recrudescimento das rivalidades nacionais,
acirramento da luta de classes e depredação do meio ambiente são
processos inerentes ao capitalismo de nosso tempo.

Não há solução nacional para a crise que abala a economia mundial e


não há liderança internacional capaz de articular uma política
econômica minimamente coordenada para sua superação. O
capitalismo de nosso tempo, como dizia o filósofo húngaro István
Mészáros, tampa um buraco cavando outro maior ainda. Sem uma
insurreição dos trabalhadores contra a ordem burguesa e um programa
político que vá além do capital, colocando a urgência de mudanças
radicais no modo de viver e produzir, não será possível evitar a
escalada da barbárie capitalista.

Notas

[i] Para uma análise detalhada da formação acadêmica e articulação


ideológica dos trinta principais quadros de comando do governo
Biden, ver artigo de Laurence H. Shoup, “The Council on Foreign
Relations, the Biden Team, and Key Policy Outcomes”, no Monthly
Review, May 2021. (https://monthlyreview.org/2021/05/01/the-
council-on-foreign-relations-the-biden-team-and-key-policy-
outcomes/).

[ii] O exame sintético da proposta tributária do governo Biden


encontra-se em Sam Pizzigati, “President Biden’s Tax-the-Rich-Plan:
Just how Bold?”, 29 de abril, 2021. (https://inequality.org/great-
divide/president-bidens-tax-the-rich-plan-just-how-bold/).

[iii] O Plano Famílias Americanas de Biden encontra-se detalhado


em https://en.wikipedia.org/wiki/American_Families_Plan

[iv] A proposta de Biden de transição para uma economia verde é


comparada com a que havia sido formulada por Bernie Sanders
em https://newleftreview.org/sidecar/posts/whose-green-new-deal

[v] A diferença entre a situação econômica nos anos vinte do século


XX e a atual é examinada por Michael Roberts em seu artigo “The
roaring twenties repeated?”, de 18/04/2021. In:
(https://thenextrecession.wordpress.com/2017/03/09/learning-from-
the-great-depression/)
[vi] Os danos provocados pela crise do coronavírus e a gravidade de
seus efeitos de médio e longo prazos sobre o mercado de trabalho são
reconhecidos pelo próprio FMI em seu último relatório World
Economic Outlook: Managing Divergent Recoveries, April 2021,
especialmente capítulos 2 e 3.

A CPI não pode deixar passar crimes em branco.


Como Nuremberg não deixou

'O enredo desse filme, tristemente, teria como pano de fundo o


extermínio de mais de 400 mil de brasileiros e de brasileiras. Afinal,
quantas dessas vidas ainda seriam vida, caso o governo federal
houvesse sido competente, decente, responsável e minimamente
correto na hora que precisou?", questiona Gilvandro Filho
15 de maio de 2021, 16:10 h Atualizado em 15 de maio de 2021, 16:50
   

 11

Fabio Wajngarten e Omar Aziz na


CPI da Covid no Senado nesta quarta-feira (12) (Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado)
 
A simples tentativa, criminosa, de se fraudar a bula da
hidroxicloroquina, para mentir que o medicamento era eficaz contra a
Covid -19, já seria, de per si, motivo para todos os envolvidos saírem
dos seus cargos, todos muito bem pagos, direto para a cadeia. É algo
tão inimaginável em um país minimamente sério que foge à lógica do
cidadão comum, envergonha, enoja. Pode permear pensamentos de
fascistas enrustidos ou contumazes empenhados nos meios, sejam lá
quais forem, para atingir seus fins. Mas não pode caber em nenhuma
democracia.

A mudança na prescrição da cloroquina é só um dos crimes


perpetrados por um grupo marginal e inconsequente que tomou de
assalto o País, notadamente no setor de saúde. Como o boicote à
vacinação, por exemplo, que levou o Brasil à rabeira do ranking dos
países que tratam como deveriam a pandemia provocada pelo corona
vírus. Ou o péssimo exemplo das autoridades que deveriam combater
o mal, mas que o ampliam, promovendo aglomeração, incitando o
(seu) povo a atacar a ciência e o isolamento social. Ou, ainda, quem
desestimulou o uso da máscara, chamando-a de “coisa de marica” e
que tais, e entra no mesmo recheio desse bolo indigesto e letal.

Muita coisa ainda virá à tona em toda a sua crueza. A CPI da Covid-
19, tão propriamente tratada por “CPI do Genocídio”, está pondo a
limpo a matança brasileira, ou tem tudo para fazê-lo. As mentiras já
estão sendo desmascaradas. E as chicanas jurídicas dos covardes para
não se incriminarem podem e devem cair por terra.

A trama obscena e macabra que envolveu o “ministério paralelo da


Saúde”, outra abjeção criada em um governo igualmente abjeto, no
sentido de ditar regras na política de saúde, no Brasil, daria um filme.
Naturalmente, para ser exibido em horário impróprio a crianças e com
recomendação contrária a hipertensos. Nada mais imoral e violento.
Pior, mas muito pior, que filmes que tinham como personagens o
médico Joseph Mengele e outros expoentes da tropa de médicos e
cientistas a serviço do Terceiro Heich, na Alemanha nazista da
Segunda Guerra.

O enredo desse filme, tristemente, teria como pano de fundo o


extermínio de mais de 400 mil de brasileiros e de brasileiras. Afinal,
quantas dessas vidas ainda seriam vida, caso o governo federal
houvesse sido competente, decente, responsável e minimamente
correto na hora que precisou? Quer ação mais estranha do que um
governo botar pra negociar vacina com uma empresa gigante e
multinacional um secretário de Comunicação, um “aspone” preposto
de um pseudo-filósofo e um vereador desocupado cuja função é fazer
trela no trabalho do pai? Nenhum médico nesse negócio mal explicado
e suspeito…

Os profissionais de Medicina do governo envolvidos nessa ação


deletéria de desmonte da saúde brasileira deveriam perder, de logo,
suas credenciais e responder pelas vidas ceifadas, nos órgãos
corporativos médicos e na Justiça. Já os não médicos – sejam eles
ministros da Saúde, economistas, empresários, burocratas ou mesmo
filhos de governantes -, estes deviam seguir direto para a prisão e
enfrentar um julgamento sumário e sério. Nessa fase do filme, o
Tribunal de Nuremberg seria um bom roteiro a ser seguido.

A matança do povo palestino: o nazismo redivivo pelas


mãos de Israel
"O que existe, na realidade, é uma guerra etnocida promovida por
Israel para dizimar o povo palestino para, desse modo, devastar e
ocupar todo território ainda sob débil e cada vez mais precária
jurisdição palestina", diz o colunista Jeferson Miola
16 de maio de 2021, 01:52 h Atualizado em 16 de maio de 2021, 01:58
   

 6

(Foto: Reprodução)
 
Sob qualquer ângulo que se examine os conflitos que se sucederam
desde que em 1948 as Nações Unidas impuseram a implantação do
Estado de Israel na Palestina, em nenhum deles o sentimento será
menos vomitável que outro.

A matança que Israel está promovendo nestes dias é, neste sentido, um


degrau ainda mais abjeto da violência que aquela teocracia cometera
no período imediatamente precedente.

Em todo e qualquer quesito de poder e violência – mas em


absolutamente todos os aspectos: econômico, político, midiático e,
principalmente, bélico – Israel é inalcançávelmente superior à
espezinhada e indefesa Palestina.
O poderio israelense sobre a capacidade de ataque e de defesa
palestina é não menos que oceânicamente superior.

Por isso é falso afirmar que existe um “confronto entre Israel e o


Hamas”, como mente a mídia hegemônica.

O que existe, na realidade, é uma guerra etnocida promovida por


Israel para dizimar o povo palestino para, desse modo, devastar e
ocupar todo território ainda sob débil e cada vez mais precária
jurisdição palestina.

O ataque cruel e desproporcional de Israel ao Estado da Palestina, que


num único bombardeio matou 8 crianças dentre 126 adultos, é o ponto
culminante da estratégia sionista executada de modo permanente nas
últimas décadas para promover uma limpeza étnica sob o cínico
pretexto do combate ao “terrorismo do Hamas”.

Esta estratégia tem sido executada com perseverança ano a ano, passo
a passo, governo a governo – sempre com a conivência internacional,
principalmente dos EUA.

A ocupação forçada e ilegal do território palestino com colonos judeus


é a política oficial do Estado israelense, executada independentemente
do governo israelense de plantão.

Os sionistas transformaram o Estado Palestino em um imenso campo


de concentração ao estilo Auschwitz.

Israel detonou a integridade territorial da Palestina, uma nação mais


perfurada que queijo suíço. Um povoado palestino não se comunica
com outro povoado palestino sem passar por barreiras policiais e
alfandegárias israelenses!
Israel atua como um exército de ocupação da Palestina.

A matança étnica promovida por Israel reproduz os mesmos métodos


e conceitos que Hitler empregou contra os judeus nos anos 1933-1945.

Deste ponto de vista, portanto, a matança do povo palestino é o


nazismo redivivo pelas mãos de Israel sujas de sangue palestino.

É assombroso, por isso, que este crime racista esteja sendo outra vez
cometido sem que haja uma condenação dura e implacável de Israel
pelos crimes nazistas perpetrados contra o povo palestino.

A elite mundial e sua mídia hegemônica criminosamente silenciam,


mesmo depois da bomba israelense que destruiu a sede de uma
agência internacional de notícias em Gaza.

*** ***

Republico, a seguir, artigo que escrevi em 5 de agosto de 2014:

Em 2048 suplicaremos a Palestina

A estupidez avança irrefreável no território que já foi o Estado


palestino até 1948. Se os EUA e a Europa não atuarem decididamente
sobre Israel, a realidade evoluirá para a dizimação da Palestina.

O conflito do Oriente Médio é o principal do mundo, em torno do qual


giram as possibilidades de paz e estabilidade mundial. O mundo não
terá paz e tampouco será seguro enquanto subsistir aquela realidade:
em torno do conflito se articula um dos componentes bélicos
estruturantes da geopolítica do pós-Guerra.
Uma questão que diz respeito ao mundo inteiro, mas que,
paradoxalmente, sua resolução depende basicamente da ação de duas
potências: EUA e Europa, em especial a Inglaterra.

A ONU não somente não tem força e poder para aglutinar os


consensos necessários e impô-los na vida real, como sucessivas
resoluções desde 1967 são sistematicamente descumpridas por Israel,
com a cobertura dos EUA e da Europa.

Mesmo fora da lei internacional, Israel não só não sofre sanções,


como segue recebendo milionária ajuda norte-americana para o
massacre dos palestinos.

Essa “janela” no direito internacional tem permitido a Israel


desenvolver, ao longo das últimas décadas, a estratégia persistente de
expansão do domínio territorial às custas do direito de existência do
Estado palestino.

Atualmente, Israel ocupa uma área muitas vezes superior ao território


originalmente destinado para sua instalação em 1948. Com a invasão
territorial, reduziu quase 80% da superfície da Palestina e fragmentou
o país em duas áreas incomunicáveis – Gaza e Cisjordânia –, dois
Auschwitz afastados por centenas de quilômetros.

A atual estratégia israelense é guiada por uma política fanático-


religiosa. Nessa etapa, promove a guerra total; o massacre de
extermínio de parcelas significativas do povo palestino – matando-os
diretamente, ou aumentando a diáspora de um povo na sua maioria já
tornado apátrida.
Os palestinos assistem à devastação do país, da cultura e da sua
tradição. Suportam, ainda, a cínica imputação de que pretendem
destruir Israel, e que por isso são atacados. E, pura metáfora cruel, são
submetidos ao martírio mais abjeto que qualquer ser humano pode
sofrer, tal qual aquele perpetrado pelos nazistas contra os judeus.

O patamar atingido pelo conflito traz dificuldades consideráveis. A


realidade é desalentadora. É difícil vislumbrar solução aceitável e
passível de mediação. E parece improvável uma solução equilibrada e
justa.

A continuidade da dinâmica atual fará a situação descambar para o


terreno da imponderabilidade, um mergulho às cegas na barbárie. As
potências mundiais têm a obrigação de fazer algo imediatamente para
deter essa loucura.

A destruição material da Palestina é devastadora, e obviamente


marcará para sempre a história palestina, geração após geração. Mas a
humilhação, a dor, a segregação, os assassinatos sistemáticos de
homens, mulheres e crianças abrem feridas profundas e
ressentimentos que podem tornar irreconciliável a convivência entre
os dois povos.

O fanatismo religioso implode as possibilidades de paz com a loucura


de um Estado confessional. No atual estágio dos acontecimentos, é
duvidosa a viabilidade das alternativas historicamente cogitadas, que
tinham como premissa a coexistência pacífica de Israel e Palestina, de
palestinos e israelenses.

A proposta de um Estado e duas nações, por exemplo, há muito se


tornou incogitável. A criação de dois Estados para dois povos também
se torna remota, porque [1] requereria a restituição do mapa de 1967, e
[2] a desconfiança mútua ensejaria um altíssimo grau de militarização
e belicismo.

O futuro comporta, portanto, desfechos temíveis. A hipótese mais


otimista, paradoxalmente, é a da Palestina fragmentada em duas áreas
apartadas e debilitadas – Gaza e Cisjordânia – encravados no território
invadido por Israel. Ou, numa perspectiva radical, a derrota da
Palestina acompanhada do seu extermínio.

Se não houver um esforço verdadeiro e decidido para deter a espiral


destrutiva perpetrada por Israel, o século 21 ficará maculado com esse
bárbaro crime. Em 2048, no centenário da criação de Israel, a
Palestina então existirá somente nos livros de História.

O fanatismo delirante de Benjamim Netanyahu em nada fica devendo


ao de Osama Bin Laden. Ambos pertencem à classe dos monstros
terroristas.

Hora e vez do ronco das ruas para pôr fim ao governo


genocida de Bolsonaro

O fator Lula também reforça o ânimo da militância dos movimentos


sociais e da base petista que enxergam no ex-presidente uma
alternativa concreta para derrotar o bolsonarismo em 2022, diz o
colunista Milton Alves
16 de maio de 2021, 01:58 h Atualizado em 16 de maio de 2021, 01:58
   

 8

(Foto:
REUTERS/Bruno Kelly)
 
As manifestações dos moradores do Jacarezinho no Rio e os atos dos
movimentos contra o racismo na quinta-feira (13) indicam que uma
retomada das ruas começa a ganhar impulso entre as lideranças dos
movimentos sociais e de setores do ativismo de esquerda. Semanas
antes, os atos de 1º de maio, apesar de poucos numerosos, apontaram
o potencial combativo e a disposição de luta de vastos setores da
militância de esquerda.

O crescente desgaste e isolamento do governo Bolsonaro, ao lado do


avanço da pandemia de Covid-19, pressionam no sentido de uma
maior reação popular para deter a escalada do genocídio, da fome e do
desemprego que atingem milhões de brasileiros.

O presidente Bolsonaro, paulatinamente, sofre um processo de erosão


política, com novos fatos acentuando as dificuldades políticas do
governo da extrema direita: A redução brutal do auxílio emergencial,
a falta de vacinas e a sensação de descaso com o morticínio pela
pandemia, cada vez mais, evidenciado pelo trabalho da CPI da Covid
no Senado.
A pandemia só revelou, mais ainda, a face dura e cruel do
neoliberalismo de Bolsonaro e Guedes, que transformou a vida
cotidiana do trabalhador numa verdadeira roleta russa: ameaçado pela
Covid e a fome -, e sem políticas públicas que incentivem, de fato, o
confinamento social com remuneração, garantia do emprego e uma
assistência sanitária enquanto durar a pandemia de Covid-19.

A política sintetizada na palavra de ordem “fique em casa” não


corresponde aos anseios e às exigências do momento, a diretriz é
incapaz de enfrentar a demagogia discursiva do governo bolsonarista,
que se apresenta como um defensor da “economia e dos empregos”. O
que dialoga diretamente com o senso comum e desesperado de amplos
contingentes das massas de milhões de desempregados e dos
arruinados proprietários de pequenos negócios.

Na esquerda começa a surgir mais vozes demandando uma volta às


ruas para enfrentar de forma mais decidida o governo bolsonarista. O
presidente do PSOL Juliano Medeiros defendeu a necessidade da
mobilização de rua neste momento. “Chegamos ao limite. A voz das
ruas é o que falta para mudar a situação política no país. A tempestade
perfeita está prestes a se formar. Mas para que isso aconteça o
elemento popular precisa entrar em cena, demonstrando toda a sua
indignação com a matança em curso no país. Podemos vencer, se não
tivermos medo de ousar”, afirmou em artigo nesta semana.

O passo mais importante na direção de enterrar definitivamente a


política do “fique em casa” foi dado na 3ª Plenária Nacional de
Organização das Lutas Populares, impulsionada pelas Frentes Brasil
Popular e Povo Sem Medo, entre outras entidades. A reunião aprovou
um calendário inicial de lutas contra a privatização dos Correios no
dia 16, um ato em Brasília por reivindicações como a volta do auxílio
emergencial de R$600, chamado pela CUT no próximo dia 26, e um
dia nacional de lutas.

O fator Lula também reforça o ânimo da militância dos movimentos


sociais e da base petista que enxergam no ex-presidente uma
alternativa concreta para derrotar o bolsonarismo em 2022. A
polarização entre Bolsonaro e Lula é um dos traços marcantes da
conjuntura. Segundo as diversas pesquisas e sondagens, o ex-
presidente ganha de Bolsonaro em todos os cenários simulados.

A retomada das mobilizações pode desempenhar um papel decisivo na


luta pelo Fora Bolsonaro e para deter o desmonte do país, abrindo uma
perspectiva de uma saída pela esquerda da profunda crise econômica,
social e sanitária em curso.

É hora e vez do ronco das ruas para canalizar a indignação crescente


contra a política genocida de Bolsonaro.

*Ativista político e social. Autor dos livros ‘A Política Além da


Notícia e a Guerra Declarada Contra Lula e o PT’ (2019), ‘A Saída é
pela Esquerda’ (2020) e de ‘Lava Jato, uma conspiração contra o
Brasil’ (2021) – todos pela Kotter Editorial. Escreve semanalmente
em diversas mídias progressistas e de esquerda.

Pazuello pode ser a gota d'água para o fim do governo


Colunista Ribamar Fonseca afirma que o depoimento de Eduardo
Pazuello "pode ser a gota dágua, apesar do habeas corpus concedido
pelo STF que lhe permite ficar em silêncio". O general criou "um
problema maior para si mesmo", acrescenta. "Primeiro, a iniciativa
torna evidente o seu temor da CPI e, segundo, representa a confissão
de que tem algo a esconder", diz
17 de maio de 2021, 14:07 h Atualizado em 17 de maio de 2021, 14:07
   

 1

Eduardo Pazuello e a
CPI da Covid (Foto: Pedro França/Agência Senado | Edilson Rodrigues/Agência
Senado)
 
Se o Brasil conseguir sobreviver a Bolsonaro e a Artur Lira o próximo
Presidente da República, que não deverá ser o capitão, vai ter muito
trabalho para reconstruir o país. A destruição em todas as áreas
acontece tanto na órbita do Executivo quanto do Legislativo, o que
provavelmente levou Bolsonaro a dizer que “graças a Deus temos
Artur Lira na presidência da Câmara dos Deputados”. Na verdade,
eles formam uma dupla predadora que, atuando perfeitamente afinada
e contando com os votos garantidos pelo Bolsolão no Congresso,
estão destruindo as conquistas sociais, a educação – especialmente a
ciência -, as estatais, a floresta amazônica e, sobretudo, a alegria e a
dignidade do povo brasileiro. Se Bolsonaro conseguir passar pela CPI
da Pandemia e chegar até o final do mandato parte da população terá
sido ceifada pela Covid, outra parte terá sucumbido de fome, o
desemprego terá mergulhado outra parcela na pobreza absoluta e a
Nação terá regredido pelo menos 20 anos. 

Apesar dessa verdadeira hecatombe que desabou sobre o Brasil com a


eleição de Bolsonaro, a pior gestão em toda a História do nosso país,
surpreendentemente uma pequena parcela da população, segundo
registram as mais recentes pesquisas, ainda idolatra o capitão,
provavelmente porque não sentiu ainda os efeitos desastrosos do seu
governo. Além do maior índice de reprovação desde o início do seu
governo, Bolsonaro está atrás de Lula nas pesquisas de intenção de
votos, o que intensificou a atividade da sua fábrica de fakes, que
inundou as redes sociais com todo tipo de mentiras. Na realidade, é
fácil perceber que Lula e a CPI estão deixando Bolsonaro em pânico.
Com a derrota nas eleições de 2022 cada dia mais evidente, o capitão
já começa a falar em fraude, preparando o terreno para justificar o
resultado das urnas e fazer a mesma confusão realizada por Donald
Trump, seu ídolo e exemplo, quando perdeu o pleito para Joe Biden.
Ele não quer largar o poder e vai fazer tudo o que puder para manter-
se no cargo. 

Com o desenvolvimento da CPI da Covid, no entanto, as chances de


Bolsonaro conseguir a reeleição vão ficando cada dia mais distantes,
até porque não está descartada a possibilidade dele ser afastado do
cargo antes do término do seu mandato. O depoimento do ex-ministro
Eduardo Pazuello pode ser a gota dágua, apesar do habeas corpus
concedido pelo Supremo Tribunal Federal que lhe permite ficar em
silêncio. O general, na verdade, acabou criando um problema maior
para si mesmo ao ingressar com o HC no STF: primeiro, a iniciativa
torna evidente o seu temor da CPI e, segundo, representa a confissão
de que tem algo a esconder. Se responder às perguntas pode se
comprometer mais ainda e se ficar em silêncio estará confessando a
culpa sobre o conteúdo da pergunta. Aparentemente ele não tem saída,
mas pode ficar tranquilo quanto à possibilidade de  prisão: se o
presidente da Comissão, senador Omar Aziz, não teve coragem para
prender o ex-titular da Secom, Wanjgarten, muito menos terá coragem
para prender um general da ativa. 

De qualquer modo, qualquer que seja o desfecho do seu depoimento o


ex-ministro da Saúde terá sua imagem, já muito desgastada com a
desculpa esfarrapada do encontro com auxiliares contaminados pela
Covid para fugir da comissão, completamente destroçada, com
inevitável reflexo em suas atividades na tropa e, consequentemente, na
corporação. Ele será sempre visto como o general que se acovardou,
fugindo do embate com os senadores. Na verdade, a imagem dele
começou a derreter quando foi desautorizado publicamente por
Bolsonaro a comprar 46 milhões de doses da vacina Coronavac. E
revelou vergonhosa subserviência ao aceitar a humilhação dizendo
que “um manda e outro obedece”, provocando uma debochada
gargalhada do Presidente. Segundo rumores que circularam logo
depois, seus colegas de farda teriam dito que ele deveria ter se
exonerado do cargo naquele momento, rejeitando a humilhação.
Depois do seu depoimento é bem provável que Pazuello vista o
pijama.

O fato é que a CPI está apertando o cerco a Bolsonaro que, sem ter
para onde correr após fracassadas todas as tentativas para abortar a
instalação da comissão, passou a insultar o relator Renan Calheiros e,
também, o ex-presidente Lula, seu principal adversário nas eleições do
próximo ano. A sua situação deverá ficar mais delicada ainda com a
possível convocação do seu filho Carlos para prestar depoimento, pois
já ficou claro que o vereador se tornou uma espécie de ministro sem
pasta, participando ativamente das reuniões ministeriais e das
decisões. Diante desse panorama, o capitão só permanecerá no Palácio
do Planalto, após as conclusões dos trabalhos da CPI, caso o deputado
Artur Lira, desafiando todo mundo, permaneça sentado sobre os mais
de 100 pedidos de impeachment que se encontram na Câmara. Se o
parlamentar, porém não resistir às pressões Bolsonaro poderá ser
afastado do cargo até o fim do ano e os seus sonhos de permanecer no
Planalto se transformarão em pesadelo. 

Com Lira na presidência e R$ 3 bilhões do orçamento secreto para o


Bolsolão o presidente Bolsonaro vai poder aprovar tudo o que mandar
para a Câmara que, lamentavelmente, tem trabalhado contra os
interesses do país e do seu povo. A aprovação da proposta de novo
licenciamento ambiental, um retrocesso sem tamanho que só dará
prejuízos à Amazonia, felizmente poderá ser derrubada no Senado,
onde será submetida a debate público. A esperança é que esses
parlamentares-sabujos que estão legitimando as ações deletérias do
governo, eleitos na esteira de Bolsonaro, receberão o cartão vermelho
nas próximas eleições. São parlamentares de um mandato só, a
exemplo do próprio capitão. Alguns governadores, também eleitos na
onda antipetista que levou Bolsonaro ao poder, igualmente não
voltarão, a exemplo, entre outros, dos governantes de Minas, Rio e
Santa Catarina. O capitão, na verdade, sabe que o seu tempo de
Presidente, um aborto da democracia que não se repetirá sem a Globo
e a Lava-jato, está acabando e, por isso, o seu desespero. A sua
indústria de fakes está trabalhando a todo vapor, mas, por mais
convincentes, as mentiras não conseguirão segurá-lo por tanto tempo. 

Morte de Covas é revés para Doria

"O novo prefeito não tem a mesma sintonia com o governador. Além
de serem de partidos diferentes – Nunes é MDB – ele tem muito mais
afinidade com o presidente da Câmara Municipal, Milton Leite
(DEM), que agora se torna seu vice", escreve o jornalista Alex Solnik
17 de maio de 2021, 16:14 h Atualizado em 17 de maio de 2021, 17:00
   

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(Foto: Twitter/Divulgação)
 
Até ontem, poucos em São Paulo sabiam sequer o nome do vice de
Bruno Covas, mas, com a morte do prefeito, Ricardo Nunes vira peça
importante no xadrez político municipal, estadual e até nacional.

Covas era um aliado fiel do governador João Doria, no partido e fora


dele, e até mais do que isso: seu mentor. Não havia dúvida que o
apoiaria em qualquer circunstância, fosse para se reeleger, fosse como
presidenciável em 2022.
O novo prefeito não tem a mesma sintonia com o governador. Além
de serem de partidos diferentes – Nunes é MDB – ele tem muito mais
afinidade com o presidente da Câmara Municipal, Milton Leite
(DEM), que agora se torna seu vice.

Entre Doria e Leite seu coração ficará com o segundo, de quem vai
depender para aprovar projetos e evitar atritos com vereadores da
oposição.

Com quatro anos de mandato pela frente na maior e mais rica cidade
do país, Nunes se transformou em ativo político de primeira linha e
deverá ser alvo de disputa entre partidos com vistas à sucessão de
Bolsonaro.

Mais conservador e mais próximo ao bolsonarismo que ao tucanato,


venderá caro sua possível mudança para o PSDB, no que Doria vai
investir, sendo mais provável seu ingresso no DEM caso não fique no
MDB.

E o DEM, como já deixou claro seu presidente nacional, ACM Neto,


prefere se aliar ao diabo que a Doria.

Não faltavam obstáculos para o governador chegar à presidência da


República.

Agora ele tem mais um.

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