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Muita gente viu fotos das grandes manifestações que tomaram as ruas de
cidades da Polônia nas últimas semanas. Talvez se perguntem como é possível
que, durante uma pandemia, centenas de milhares de pessoas, principalmente
mulheres jovens, tenham saído para manifestar-se no que parece ter sido a
maior mobilização social do país desde o movimento Solidariedade na década
de 1980. O que levou as pessoas às ruas?
A ilegalidade quase total do aborto poderia ter sido prevista no clima político
atual da Polônia. O governo não previa, no entanto, uma resposta tão
multitudinária contra essa decisão. As últimas medidas tomadas pelo PiS e a
resistência frente a elas devem ser analisadas no contexto da guerra corrente
contra a “ideologia de gênero e LGBTI+”, que o governo polonês tem lutado nos
últimos cinco anos (desde que o Lei e Justiça ganhou pela primeira vez as
eleições presidenciais).
Para resumir, essas são algumas das suas últimas ações claramente contra a
igualdade: o ministro da Justiça ameaçou, em julho de 2020, retirar-se de forma
oficial do Convênio de Istambul [o instrumento do Conselho da Europa que
trata de prevenção e luta contra a violência às mulheres e as violências
domésticas] e Andrzej Duda, o presidente da Polônia, em sua campanha de
reeleição recente, afirmou em uma conhecida declaração que “LGBTI+ é uma
ideologia, não é gente”. Além disso, as ações do governo têm se agravado com o
tempo e, em agosto de 2020, a polícia atacou e prendeu ativistas LGBTI+ de
Varsóvia.
O cansaço, a ira e a raiva absoluta foram bem refletidas nos slogans. Entre os
mais populares, destacam-se “Cai fora” (Wypierdalać, em polonês) e “vá à
merda PiS” (J… PiS). Em todo o país, centenas de milhares de manifestantes,
em sua maioria mulheres jovens, tomaram as ruas portando cartazes com
dizeres como “Queria poder abortar o governo”, “Isso é guerra” ou “O inferno
para as mulheres”. Ao contrário do que se temia, o uso de linguagem vulgar não
afetou o propósito da luta. Ao contrário, como a escritora e acadêmica Inga
Iwasiów destacou: “Assim que começamos a ser vulgares, o outro lado começou
a nos escutar”.
Além do mais, nos debates políticos do país se produziu uma autêntica mudança
quase que da noite para o dia: organizações de mulheres com a All-Poland
Women’s Strike, que coorganizou os protestos pelo direito pleno ao aborto, e a
Abortion Dream Team, um coletivo de acompanhamento que ajuda as mulheres
a abortarem em suas próprias casas, que eram consideradas “muito radicais” até
para alguns setores do feminismo, e se converteram em um grande interlocutor
nos debates políticos convencionais, e atraíram a atenção dos principais meios
de comunicação. Agora já não são vistas como minoria radical ou extremistas
que devem ser silenciadas para que as posturas supostamente moderadas do
espectro político fiquem onde estão…
Mas o que realmente fez com que os protestos crescessem durante semanas foi a
enorme mobilização de jovens e sua determinação. Gente jovem de todos os
gêneros celebrou sua subjetividade política nas ruas, gritando palavrões ao
governo. Os que ficaram em casa, mostraram apoio a partir de suas sacadas,
janelas e pela internet. O compromisso dos jovens, que com frequência são
vistos como despolitizados e descomprometidos, foi uma surpresa. Sobretudo
porque, como geração, cresceram em uma realidade social marcada por uma
sucessão de governos, “progressistas” e conservadores — em função do apoio
político da Igreja –, defensores da militarização e do nacionalismo. Foi uma
revelação ver massas de jovens, imunes e indiferentes à retórica disciplinadora
de ameaça e medo do ministro da Educação, Przemysław Czarnek, que tentou
intimidar o alunato e o professorado com a advertência de que aqueles que
participassem das manifestações poderiam ser levados a juízo. Ou as palavras
de Jarosław Kaczyński, um dos líderes do PiS, que chamou à “defesa da Polônia
e das igrejas católicas” frente às forças que “querem destruir a Polônia” e
buscam “o fim da nação polonesa como a conhecemos”.
No cartaz preto, “Meu corpo, minhas regras”
Nossa era será lembrada pela marcha triunfante do autoritarismo e seu rastro,
em que a vasta maioria da humanidade passou por dificuldades desnecessárias e
os ecossistemas do planeta sofreram uma destruição climática que podia ter
sido evitada. Por um breve período — que o historiador britânico Eric
Hobsbawm descreveu como “o curto século 20” — as forças do establishment se
uniram para lidar com os desafios à sua autoridade. Foi uma fase rara, em que
as elites tiveram que enfrentar um leque de movimentos progressistas, todos
buscando mudar o mundo: social-democratas, comunistas, experimentos de
autogestão, movimentos de libertação nacional na África e na Ásia, os primeiros
ecologistas, radicais, etc.
E assim, pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial, o grande confronto
político deixou de ser entre o establishment e os diversos progressismos, para se
tornar um conflito entre diferentes partes do establishment. Uma parte aparece
como os baluartes da democracia liberal; a outra, como os representantes do
movimento anti-liberal.
Também sabemos que tudo isso custará pelo menos 10% da receita global, ou
quase 10 trilhões de dólares, anualmente – uma soma que pode ser facilmente
mobilizada, desde que estejamos prontos para criar instituições para coordenar
as várias ações e redistribuir as receitas entre o Norte e o Sul globais. Para
conseguir isso, precisamos invocar o espírito do New Deal original de Franklin
Roosevelt — uma política que teve sucesso porque inspirou pessoas que haviam
perdido a esperança de que existissem maneiras de direcionar os recursos
ociosos ao serviço público.
Sendo ainda mais ambiciosos, nosso plano comum deveria incluir uma União de
Compensação Monetária Internacional, do tipo sugerido por John Maynard
Keynes durante a conferência de Bretton Woods em 1944, apresentando
restrições bem elaboradas aos movimentos de capitais. Ao reequilibrar salários,
comércio e finanças em escala global, tanto a migração involuntária quanto o
desemprego involuntário diminuirão, encerrando assim o pânico moral sobre o
direito humano de circular livremente pelo planeta.
Claro, para que isso aconteça, nossa Internacional Progressista requer uma
organização internacional ágil. O problema das organizações que são capazes de
uma coordenação global é que elas, sorrateiramente, reproduzem em si
burocracias, exclusão e jogos de poder. Como podemos evitar que o
neoliberalismo e o nacionalismo autoritário destruam o mundo sem criar nossa
própria variedade de autoritarismo? Reconheço que é mais difícil encontrar a
resposta certa para essa pergunta sendo progressistas que rejeitamos as
hierarquias, as burocracias e as invasões do paternalismo. Mas temos o dever de
encontrá-la.
Caso eu esteja certo, mesmo aqueles progressistas que ainda nutrem esperanças
de reformar ou civilizar o capitalismo devem considerar a possibilidade de
olharmos para além do capitalismo — ou, na verdade, de planejar uma
civilização pós-capitalista. O problema é que, como meu grande amigo Slavoj
Zizek apontou, a maioria das pessoas acha mais fácil imaginar o fim do mundo
do que o fim do capitalismo.
Para combater essa falha de nossa imaginação coletiva, em meu livro mais
recente, intitulado Another Now: Dispatches from an alternative
present (“Outro Agora: despachos de um presente alternativo”), tento imaginar
o que ocorreria se minha geração não tivesse perdido todos os momentos
cruciais que a história nos apresentou. E se tivéssemos aproveitado o momento
de 2008 para uma revolução pacífica de alta tecnologia, que tivesse nos levado a
uma democracia de economia pós-capitalista? Como seria?
Uma economia avançada pode funcionar sem mercados de trabalho? Claro que
sim! Considere o princípio de a cada um funcionário, uma ação e um voto.
Alterar a legislação societária de modo a transformar cada funcionário em um
sócio igual (ainda que não igualmente remunerado), através da concessão de um
voto não negociável de uma pessoa-uma ação-um voto, é tão inimaginável e
radical hoje quanto o sufrágio universal parecia ser no século 19. Se, além dessa
transformação fundamental da propriedade da empresa, os bancos centrais
proporcionassem a todos os adultos uma conta bancária gratuita, passaríamos a
ter uma economia de mercado pós-capitalista.
Temos que pensar que a expressão “ruínas” se refere a algo que já é antigo mas
que, no entanto, não morreu. Uso o termo “ruínas” porque ainda vivemos no
neoliberalismo, o neoliberalismo não acabou, mas ele está em decadência.
Muitas coisas estão desmoronando ou se arruinando. No âmbito econômico, o
neoliberalismo dispersou e deslocou comunidades, as regulamentações estatais
desapareceram e muitas empresas locais foram substituídas por empresas
globais. Tudo isso fez com que milhões de pessoas no mundo todo tivessem sua
situação deteriorada, ficassem na precariedade. Nunca, desde a Grande
Depressão, a classe trabalhadora americana esteve em uma posição tão
vulnerável e com um futuro tão difícil. Essas são as ruínas econômicas do
neoliberalismo.
Mas a ruína vai para muito além da economia. É a ruína de uma forma de
organizar e governar que valorizava a moralidade tradicional como única forma
possível de organização: os mercados e a moralidade tradicional. As formas
livres e espontâneas de associação, a soberania dos povos, os projetos de justiça
social e igualdade, tudo isso é demonizado pelo neoliberalismo, que não busca a
liberdade, mas a imposição de um modelo de engenharia social. O
neoliberalismo é uma forma de totalitarismo. Assim, depois de quarenta anos
dessas políticas econômicas e forma de raciocínio, temos, em muitas sociedades
industrializadas, uma classe trabalhadora que se reconverteu a formas mais
baratas de trabalho, os salários foram reduzidos. O mesmo acontece com a
educação ou infraestrutura, que estão em frangalhos. Mas o neoliberalismo
também é responsável pela perda da confiança na democracia. É um ataque à
democracia em termos de justiça social, redistribuição, igualdade. Enquanto
isso, os mercados são subsidiados e a moralidade tradicional continua sendo
promovida.
A promessa de recuperar um mundo que não existe mais cria uma base
extraordinária para o autoritarismo. Um mundo estável, seguro, homogêneo,
organizado por valores cristãos e patriarcais. Meu argumento é que o
neoliberalismo é um dos berços das formas fascistas e autoritárias.
O próprio Trump incorporou esses valores. Com isso, ele reforçou aquele
conservadorismo refratário a um mundo mais aberto, mais diverso, mais
mutante; fortaleceu a ideia de que é possível se limitar àquelas vidas fechadas
dos subúrbios brancos. Mesmo se colocarmos o cristianismo de lado, por uns
instantes, podemos nos limitar apenas a essas vidas suburbanas brancas,
fechadas, e chamar isso de “América” e rejeitar todo o resto. Esse sentimento foi
fortemente intensificado, por um lado, pelo conservadorismo, mas também
pelos efeitos da desvalorização da educação no neoliberalismo. Para o
neoliberalismo, educação é formação para o trabalho; não o enxerga como uma
formação que joga luz sobre a humanidade, o mundo, a natureza ou a cultura.
Trata a educação simplesmente como forma de desenvolver o capital humano, e
essa perspectiva foi concretizada por meio do desinvestimento na educação
pública, especialmente no ensino superior, mas onde também as escolas foram
afetadas e sua qualidade caiu drasticamente. Isso agrava o problema da
população de classes trabalhadora e média que não vivem nos centros urbanos,
que não conhecem o mundo, não querem conhecer o mundo e se sentem
ameaçadas pelo mundo. E isso, por sua vez, exacerba o conservadorismo, o anti-
intelectualismo, a xenofobia e tudo o mais.
O trumpismo não foi derrotado. Trump foi derrotado e temos que celebrar esse
momento. E comemoramos. A dança nas ruas foi algo extraordinário. Nós,
norte-americanos, não costumamos sair para dançar assim, mas dessa vez sim,
fizemos uma coisa que é mais comum pra vocês [argentinos]: dançar na rua.
Comemoramos e dançamos porque essa figura específica do neofascismo, do
liberalismo autoritário, foi expulsa da presidência. Ele vai alegar e tentar de
tudo, mas terá que deixar seu gabinete presidencial. No entanto, o trumpismo
não foi derrotado, 70 milhões de pessoas ou mais votaram em Trump e muitos
deles estão inconformados por não terem vencido. Eles estão com medo, estão
convencidos de que o novo regime vai destruir suas vidas, seus valores, suas
igrejas e se apegam ao pouco que têm. Toda a formação antidemocrática, racista
e patriarcal que Trump ungiu e mobilizou ainda está bem viva. Ele ainda está
vivo não apenas graças à sua base, mas também porque Trump agora tem um
enorme controle sobre o partido da direita. E não posso mais chamá-lo
simplesmente de “conservador”, é um partido de direita. O próprio partido é
antidemocrático. Literalmente, eles estão tentando anular votos, estão tentando
manipular os distritos, para poder manter o controle do país, mesmo com uma
minoria dos votos. E eles estão em uma posição muito favorável para fazer tudo
isso. Então, temos um partido trumpista e suas bases que não foram derrotadas.
E há Trump. Estamos muito satisfeitos em tê-lo removido da presidência, mas
não há muito que o governo Biden possa fazer, com um Senado e uma Suprema
Corte republicanos nas mãos da extrema direita, então este não será o ensaio
para uma alternativa. Além disso, há o problema de que o que Biden representa
é um retorno ao centro, não uma saída para o caos do neoliberalismo.
Acho que o discurso contra o socialismo foi usado de forma muito eficaz pela
direita. Um dos presentes que o neoliberalismo deu ao conservadorismo, foi o
de continuar a demonizar o socialismo e a social-democracia, muito além do
“espectro” do comunismo representado pela União Soviética e até pela China. A
ideia, por exemplo, de uma política de estado responsável em torno da covid-19,
que impusesse distanciamento social, o uso de máscaras e os fechamentos
necessários para conter o vírus, foi acusada de ser socialista, totalitária. Reações
semelhantes suscitaram esforços para estabelecer um Programa Nacional de
Saúde que garantisse o acesso aos serviços para toda a população do país — este
também foi qualificado como socialista e totalitário. Essas reações não vêm do
velho discurso da Guerra Fria, vêm da demonização neoliberal do Estado de
bem-estar. Penso nas sociedades onde o sentimento de precariedade já era
muito grande, onde a ideia do estado força você a fechar o seu negócio por um
mês, ou fechar a escola por três meses, para conter o vírus, parecia catastrófica.
A direita chama essas ações do Estado de “socialismo” e responde dizendo:
“precisamos de liberdade”, “precisamos abrir nossos negócios”, “todos temos
direito de trabalhar”. Acho que tudo isso teve um grande poder de ressonância e
mobilizou muito os eleitores de Trump.
Qual seria, então, o conceito de liberdade capaz de fugir desses outros dois? O
mais importante para os norte-americanos — e não acho que seja
necessariamente o mesmo desafio que enfrentam os brasileiros, argentinos ou
chilenos, porque vocês têm uma tradição mais robusta em termos de socialismo
e social-democracia, tanto em termos intelectuais quanto num nível mais
popular — é que a esquerda possa explicar e fazer circular, em termos muito
simples, uma noção de liberdade que se conecte com o cerne do socialismo.
Uma noção de liberdade que envolva o livrar-se da carência, ser livres do
desespero e da precariedade, livres do desamparo de não ter moradia.
“Liberdade de”, mas também “liberdade para”: liberdade para realizar nossos
sonhos, e não apenas sobreviver; liberdade de escolher, não simplesmente de
abortar ou de com quem dormir – que é importante –, mas também de
construir vidas, construir comunidades e mundos nos quais todos tenhamos
vontade de viver. Se não trabalharmos imediatamente na ressignificação da
liberdade, para torná-la um conceito que afirme as visões da esquerda, para
afastá-la desse tipo de reiteração libertária, agressiva, antissocial e antiestatal,
perderemos essa batalha.
Porque muitas dessas pessoas das quais eu falo, que vivem na precariedade,
sentem que a liberdade é a única coisa que lhes resta, é a única coisa que
pensam que têm. Elas se sentem abandonadas e descartadas; com tanta coisa
acontecendo no mundo, se sentem bombardeadas por poderes que não
entendem; se sentem como objeto de desprezo por um mundo mais sofisticado
— e se apegam ao que chamam de liberdade, mas nós temos que ressignificar
essa liberdade. A liberdade deve criptografar não apenas a solidariedade e o
bem-estar social, mas também a capacidade de vivermos em um ambiente
sustentável e protegido que, atualmente, está sob enorme perigo. É assim que a
liberdade nos envolve e atinge. E é inútil dizer que recuperar a liberdade é
livrar-nos de algum peso, ou falar de liberdade apenas como abolicionismo, ou
liberdade como sinônimo de livrar-nos da polícia. Tudo isso pode até ser
verdade, mas não vai seduzir ninguém. O que seduz é a liberdade como algo
com o que se constrói a vida.
Uma etimologia comum não significa uma política coerente. Entre as liberdades
e o liberalismo, pode haver abismos, especialmente quando os liberais assumem
o programa de um neoliberalismo cujas políticas, amplamente rejeitadas,
precisam ser impostas por meios violentos.
O filósofo Grégoire Chamayou, autor de um livro importante sobre a genealogia
do “liberalismo autoritário” (A sociedade ingovernável, Grégoire Chamayou,
Ubu Editora, 2020), amplia seu trabalho de documentação e análise de uma
ideologia cuja gênese é necessário examinar sem o cacoete preguiço do “retorno
aos anos 1930”, para compreender como ela poderia estruturar o mundo
contemporâneo.
Este ponto é crucial, julga Chamayou, quando escreve que “o gesto conceitual
decisivo de Schmitt não consistiu apenas em colocar a exceção no centro da
soberania – o que era há muito tempo visto e comentado – mas também, e
sobretudo, a estender o campo desta exceção à decisão econômica”.
“Decretinismo”
Além disso, porque coloca sua crença em ordens e decretos de emergência com
soluções milagrosas à crise política. É o que Heller denomina “decretinismo”
(Dekretinismus). Palavra formada de “decreto” e “cretino”, ela se aplica,
segundo Chamayou “à estupidez de crer que um poder contestado pode impor
duradouramente sua vontade por meio de decretos presidenciais”. Para Heller,
o liberalismo autoritário não pode, portanto, ser nada mais que um momento
transitório que desemboca numa situação revolucionária ou no que ele designa
por uma “comunhão racial autoritária”.
Sabemos hoje o fim da história. Karl Polanyi, em A Grande
Transformação, resume-a nestes termos: “A obstinação com a qual, durante dez
anos críticos, os partidários do liberalismo econômico sustentaram o
intervencionismo autoritário, a serviço de políticas deflacionistas, teve por
consequência pura e simples um enfraquecimento decisivo das forças
democráticas”.
No início dos anos 1930, na Alemanha, “longe de ter constituído uma defesa
diante do nazismo, o liberalismo no poder abriu-lhe o caminho”, escreve
Chamayou, sem julgar que o destino estivesse “predeterminado”, nem esquecer
de mencionar um outro elemento-chave: “a linha política suicida do Partido
Comunista Alemão, ditada por Stálin”. Ao se afastar igualmente dos nazistas e
dos social-democratas, o partido bloqueou, na prática, qualquer frente comum
contra a ameaça fascista. “A partir daí, a sorte do mundo havia mudado”,
escreve o pesquisador.
Mas sem chegar a afirmar que estaríamos agora numa situação de “recidiva”,
para usar o termo do filósofo Michaël Fœssel, em relação ao que se produziu nos
anos 1930 na Alemanha, Grégoire Chamayou julga necessário associar “toda a
ambiguidade do neoliberalismo em sus relações diante do poder de Estado”, a
que assistimos hoje, “à emergência ou reemergência de formas de exercício do
poder de Estado que são ao mesmo tempo liberais em termos de programa
econômico e, em diversos graus, autoritárias no plano político”.
Mas, adiante, ele constata que, diante da vontade do Estado neoliberal, de fazer
aprovar a qualquer custo um programa econômica maciçamente rejeitado, é
“uma limitação aguda da democracia que esta agenda seja mais uma vez
preconizada”.
Esse debate está em curso desde a década de 1930, mas parece que o vento
esteja mudando a favor daqueles que defendem que a prioridade deva ser dada à
criação de valor de longo prazo, tirando a importância dos resultados de curto
prazo.
A atual desigualdade que reina nos Estados Unidos, explicou, está ligada
principalmente a uma reação à estagnação que começou nos anos 1970 e durou
muito tempo – fase em que a busca pelo lucro trimestral deu lugar ao
chamado short-termism, ou seja, a obsessão tóxica por resultados de curto
prazo.
Entramos em contato com Stiglitz depois do painel de Davos: ele nos disse que a
posição de Friedman “não se baseava em nenhuma teoria econômica”. Depois,
fez considerações sobre as origens desse debate.
Stiglitz respeitava Friedman (que morreu em 2006) por seu trabalho sobre o
consumo, que lhe rendeu o Prêmio Nobel. Escreveu isso em seu livro de 2012, O
preço da desigualdade, mas os dois tiveram várias discussões sobre a ideia de
livre mercado. “Lembro-me de longas discussões com ele sobre as
consequências das informações imperfeitas ou sobre os mercados de risco
incompletos; meu próprio trabalho e o de numerosos colegas mostraram que,
na presença de tais condições, os mercados geralmente não tinham um bom
desempenho. Friedman simplesmente era incapaz de entender os resultados
que emergiram ou não estava disposto a fazê-lo”.
Stiglitz observou que essa visão é baseada na negação de uma das crenças
centrais de Keynes.
A vitória de Friedman
“Se tudo isso tivesse levado a empresas mais eficientes e inovadoras, teria sido
uma coisa”, escreveu Stiglitz. “Mas, na realidade, os novos investidores
‘insistiram em ingressar nos conselhos de administração e pressionaram a
gestão das empresas para que seguisse políticas consideradas mais favoráveis
aos investidores [shareholder-friendly] de curto prazo (os acionistas) —
incluindo o aumento dos dividendos e das recompras de ações”.
O ganhador do Prêmio Nobel nos disse que este debate que já se arrasta há uma
década sobre como encontrar o equilíbrio entre criação de valor a curto e a
longo prazo está recentemente retomando força nos Estados Unidos devido à
política reprovável e aos odiosos conflitos de classe que decorrem da
desigualdade de renda; outro motivo é que as pessoas em posições de poder
estão observando o quadro geral e estão percebendo que algo precisa mudar.
O economista disse que, se é verdade que os CEOs não serão capazes de resolver
o problema da desigualdade sozinhos, também é verdade que o propósito para o
qual existem na sociedade é o de fazer crescer a economia, e cada vez mais CEOs
estão percebendo que precisam aportar algumas mudanças.
É por isso que, por exemplo, alguém como o CEO da BlackRock, Larry Fink, na
função de principal executivo da maior empresa de gestão patrimonial do
mundo, se sentiu no dever a se posicionar contra a obsessão pelo curto prazo.
Em uma carta aos CEOs das empresas de capital aberto no início deste ano, Fink
anunciou que a BlackRock só fará negócios com empresas que tenham definido
claramente estratégias de longo prazo que tragam algum tipo de benefício para a
sociedade.
“Se não tiver claro quais são seus objetivos, nenhuma empresa, seja de capital
aberto ou não, pode realizar plenamente seu potencial”, escreveu Fink. “Ela
cederá às pressões orientadas ao curto prazo para que distribua seus lucros e, ao
fazê-lo, sacrificará os investimentos realizados para o crescimento dos
funcionários, para a inovação e para as despesas de capital – investimentos
necessários para um crescimento de longo prazo. Permanecerá exposta às que
expressarão um propósito mais claro, mesmo que tal propósito apenas promova
a realização de objetivos mais limitados e de curto prazo.”
De acordo com Stiglitz, a carta de Fink e outras declarações similares feitas por
grandes empresas como a Unilever não são um convite a afundar na
autocomplacência e se congratular mutuamente, mas decorrem de uma
sensação de urgência – ou seja, a sensação de que existe a necessidade urgente
de abandonar a doutrina de Friedman.
“Como diz a Bíblia: ‘Não há nada de novo sob o sol’”, disse Stiglitz com uma
risada. “Mas o contexto hoje é novo”.
Até 2013 ou 2014 o Brasil tinha superávit primário, que era um dos cinco
maiores do mundo, e era política intocável no país. Os meios de comunicação,
absolutamente controlados pela burguesia, disseminaram ao longo dos anos a
ideia de que se o país não realizar superávit primário, não sobrevive. Claro que a
maioria da população nem sabe o que vem a ser “superávit primário” (que é
arrecadação menos despesas, desconsiderando os gastos com juros).
Por Ladislau Dowbor
MAIS:
Este texto é o quinto capítulo de:
> O Capitalismo se desloca, livro mais recente do autor
(Edições SESC).
> A obra está sendo publicada em partes, por Outras Palavras. Acesse:
Capítulo 1
Capítulo 2 [1ª parte | 2ª parte]
Capítulo 3 [1ª parte | 2ª parte]
Capítulo 4 [1ª parte | 2ª parte]
> Uma breve apresentação e uma entrevista com Ladislau Dowbor a respeito da
obra podem ser acessados aqui.
OS LIMITES DA RACIONALIDADE: AFINAL, O QUE SOMOS?
Não há como não considerar barbárie, nesta era de grande riqueza planetária,
deixarmos morrer cerca de 6 milhões de crianças, todos os anos, por falta de
acesso à comida ou à água limpa: sabemos onde essas crianças estão, temos os
recursos e o conhecimento de que custa muito menos remediar a situação do
que arcar com as consequências; no entanto, pouco ou nada fazemos. A
comoção mundial com o resgate de 12 crianças de uma caverna na Tailândia
mostra que podemos nos sentir solidários, mas é impossível não pensar que,
diariamente, morrem 15 mil crianças por falta de alimento, um problema cuja
solução não custaria quase nada e permitiria que se tornassem pessoas
produtivas. É o espetáculo que comove? Como podemos manter 850 milhões de
desnutridos, cifra que voltou a crescer, quando não só produzimos alimentos em
excesso mas os desperdiçamos de maneira absurda? Como podemos assistir
impotentes às famílias que se afogam no Mediterrâneo, à destruição ambiental,
às fraudes generalizadas praticadas por corporações ou governos equipados com
as mais avançadas tecnologias, manejadas por pessoas com formação superior e
ampla cultura geral? Podemos nos dotar de fantásticos avanços tecnológicos
para alcançar os nossos fins, mas os próprios fins estão profundamente
enraizados nas águas turvas dos nossos instintos, preconceitos, ódios, ainda que
frequentemente aflorem surtos de emocionante generosidade.
A questão é que não somos divididos entre pessoas boas e pessoas más, todos
nós contamos com amplos potenciais para o bem e para o mal. Curiosamente,
analisar os primatas nos fornece um espelho perturbador do nosso próprio
comportamento. Nascido em 1948 na Holanda, Frans de Waal se tornou um dos
pesquisadores mais respeitados na análise do comportamento dos primatas e de
seu forte viés ético. Depois de muitos livros sobre primatas, ele escreveu um
sobre “o primata dentro de nós”, traçando um paralelo muito interessante, por
vezes divertido e por vezes deprimente, entre nós e os outros primatas. A
verdade é que um grupo se separou dos símios há milhões de anos, gerando um
caminho evolutivo independente que permitiu o aparecimento do gorila, do
orangotango, do chimpanzé, do bonobo e, naturalmente, de quem aqui escreve e
de você que me lê. E esse grupo compartilha alguns comportamentos comuns.
Por exemplo, um dos meus primeiros choques culturais quando me mudei para
os Estados Unidos foi ouvir que uma mulher havia sido presa por amamentar
num shopping. Impressionou-me que isso pudesse ser visto como ofensivo. O
jornal local descreveu a sua prisão em termos morais, como se tivesse a ver
com decência em público. Mas, já que um comportamento materno natural
não pode fazer mal a ninguém, tratou-se apenas da violação de uma norma.
Por volta de dois anos de idade, crianças sabem distinguir entre um princípio
moral (“não roube”) e normas culturais (“nada de pijamas na escola”). Elas
passam a entender que quebrar algumas regras faz mal aos outros, mas
quebrar outras regras apenas viola expectativas. Esse segundo tipo de regras
é culturalmente diferenciado. Na Europa, ninguém pestaneja diante de seios
nus, que podem ser vistos em qualquer praia, mas, se eu dissesse que tenho
uma arma de fogo em casa, as pessoas ficariam muito perturbadas e se
perguntariam o que está acontecendo comigo. Uma cultura teme mais armas
de fogo do que seios, enquanto outra teme mais seios do que armas de fogo. As
convenções são frequentemente cercadas de solene linguagem de moralidade,
mas na realidade têm pouco a ver com ela4.
MOTIVAÇÕES E JUSTIFICAÇÕES
O tema, evidentemente, não é novo. Um dos livros de maior influência, até hoje,
nos Estados Unidos é An American Dilemma [Um dilema estadunidense], de
Gunnar Myrdal, dos anos 1940, que lhe valeu o Prêmio Nobel. É uma das
análises mais finas não dos Estados Unidos, mas do bom estadunidense médio,
de como cabem na mesma cabeça a atitude compenetrada no serviço religioso
da sua cidade, a profunda convicção da importância da liberdade e dos direitos
humanos e práticas como a perseguição dos negros. O livro é muito inteligente e
correto. Myrdal adverte que desautoriza qualquer uso da sua análise para um
antiamericanismo barato. O objetivo dele não é defender nem atacar, é
entender. Mas conclui que “o problema negro”, nos Estados Unidos, “é um
problema dos brancos”. A análise, naturalmente, poderia ser estendida para
muito além da mente estadunidense.
Haidt entra no coração das racionalizações. Sua visão é a de que buscamos mais
parecer bons do que ser bons.
O primeiro é o “cuidar” (care), que nos leva a evitar causar danos aos outros e
nos faz querer reduzir sofrimentos. Está dentro de todos nós. Ao ver um
cachorrinho ser maltratado, ficamos indignados, ainda que não gostemos de
cachorros. É um motor poderoso, que exige, inclusive, que as pessoas que
massacram ou torturam outras pessoas precisem “desumanizar” a vítima,
transformá-la em objeto fictício: é um terrorista, um comunista, um marginal,
um gay, uma puta, qualquer coisa que a rebaixe do status de pessoa,
permitindo o tratamento desumano. O garotão de classe média que ateia fogo ao
mendigo se sente, inclusive, mais “pessoa”. Está “acima”. O mendigo não é
pessoa, é mendigo. “Vai trabalhar, vagabundo.”
Um quarto vetor é o da lealdade (loyalty), que nos faz buscar adotar os valores
do nosso grupo, considerando traidor quem não os adota. Muito presente nas
Forças Armadas, o esprit de corps faz com que os militares jurem, com toda a
tranquilidade, que seus colegas não torturaram ou não estupraram, porque eles
se sentem leais aos companheiros. Essa lealdade supera, inclusive, a
consideração ética sobre o crime cometido, gerando um agradável sentimento
de pertencimento heroico ao grupo. Um filme famoso com Al Pacino, Perfume
de mulher, é centrado neste tema: um jovem universitário que testemunhou
uma pequena bandidagem dos seus colegas recusa-se a denunciá-los, ainda que
isso possa prejudicar o seu futuro universitário. O sofrimento dele permeia todo
o filme, justamente, porque é um rapaz profundamente ético.
Há uma experiência muito famosa que foi feita com estudantes universitários, a
quem funcionários vestindo jalecos, como se fossem médicos, chamaram para
dar choques elétricos em pessoas desconhecidas, com o argumento de que se
tratava de uma experiência científica. A maioria dos estudantes não se fez de
rogada.
Quando somos uma massa, em que todos fazem o mesmo, o que pode ser o
linchamento de um rapaz na favela, um estupro coletivo ou massacres numa
guerra? Numa gigantesca corporação, onde tudo se dilui, a ética se torna tão
diluída que desaparece. Ninguém gosta de se achar pouco ético. E nossas
defesas são fortes. Não posso deixar de citar o texto genial de John Stuart Mill,
de 1861, sobre a sujeição das mulheres na Grã-Bretanha da época, quando eram
reduzidas a palhacinhas decorativas e proibidas de qualquer participação adulta
na sociedade e na construção do seu destino. Ao ver a dificuldade de penetrar na
mente preconceituosa, Mill escreve:
A BANALIDADE DO MAL
Por que é tão importante isso? Porque a monstruosidade não está na pessoa, ela
está no sistema. Há sistemas que banalizam o mal latente em nós. Isso implica
que as soluções realmente significativas, as que podem nos proteger do
totalitarismo, do direito de um grupo a dispor da vida e do sofrimento dos
outros, estão na construção de processos legais, de instituições e de uma cultura
democrática que nos permitam viver em paz. O perigo e o mal maior não estão
na existência de doentes mentais que gozam com o sofrimento de outros – por
exemplo, skinheads que queimam um pobre dormindo na rua, gratuitamente,
pela diversão – mas na violência sistêmica exercida por pessoas banais.
O mal não está nos torturadores, está nos homens de mãos limpas que geram
um sistema que permite que homens banais façam coisas como a tortura, numa
pirâmide que vai desde aquele que suja as mãos com sangue até um Donald
Rumsfeld, que dirige uma nota ao exército estadunidense no Iraque exigindo
que os interrogatórios sejam harsher, ou seja, mais violentos. Hannah Arendt
não estava desculpando torturadores, estava apontando a dimensão real do
problema, muito mais grave. A compreensão da dimensão sistêmica das
deformações não tem nada a ver com passar a mão na cabeça dos criminosos
que aceitaram fazer ou que ordenaram monstruosidades. Hannah Arendt
aprovou plena e declaradamente o posterior enforcamento de Eichmann. Eu
estou convencido de que os que ordenaram, organizaram, administraram e
praticaram a tortura devem ser julgados e condenados. Mas o fato de eu
detestar torturadores não justifica eu me tornar um ignorante. O combate que
eu quero combater, o que dá resultados, é batalhar por um sistema em que
torturar seja inviável.
O segundo argumento poderoso do filme vem das reações histéricas dos judeus
pelo fato de Arendt não considerar Eichmann um monstro. Aqui, a questão é tão
grave quanto a primeira. Ela estava privando as massas do imenso prazer
compensador do ódio acumulado, da imensa catarse de ver o culpado enforcado.
As pessoas tinham, e têm hoje, direito a esse ódio. Não se trata de deslegitimar a
reação ao sofrimento imposto. O fato é que, ao tirar do algoz a característica de
monstro, Arendt estava tirando o gosto do ódio, perturbando a dimensão de
equilíbrio e de contrapeso que o ódio representa para quem sofreu. O
sentimento é compreensível, mas perigoso. Inclusive, amplamente utilizado na
política, com os piores resultados. O ódio, conforme os objetivos, pode
representar um campo fértil para quem quer manipulá-lo. E haja candidatos.
O filme é um espelho que nos obriga a ver o presente pelo prisma do passado.
Os estadunidenses sentem-se plenamente justificados em manter um amplo
sistema de tortura – sempre fora do seu território, pois do contrário teriam
certos incômodos jurídicos. Israel criou, através do Mossad, os centros mais
sofisticados de tortura da atualidade, nos quais se pesquisam instrumentos
eletrônicos que infligem uma dor que supera tudo o que se inventou até agora.
Soldados estadunidenses que filmaram com seus celulares a tortura que
praticavam em Abu Ghraib, no Iraque, eram jovens, moças e rapazes saudáveis,
bem formados nas escolas, que até achavam divertido o que faziam. Nas
entrevistas posteriores, a bem da verdade, numerosos foram os jovens que
denunciaram a barbárie, e houve até aqueles que se recusaram a praticá-la. Mas
foram minoria15.
2Ibidem, p. 171.
3Ibidem, p. 176.
4Ibidem, p. 202.
5Ibidem, p. 224.
9Ibidem, p. 159.
11Ibidem p. 297.
MAIS:
Em esforço para compreender em profundidade a
China, Outras Palavras publica série de textos do cientista político e geógrafo
brasileiro Diego Pautasso, que estuda o país asiático há 15 anos. Uma entrevista
com o autor pode ser vista aqui.
O artigo a seguir foi publicado originalmente no site Bonifácio.
Leia todos os artigos da série
Dito isso, para compreender no que consiste o Made in China 2025, cabe
recuperar a trajetória mais ampla da China, emblemática da tensa e
contraditória relação entre desenvolvimento e inserção internacional. A política
de Reforma e Abertura, de Deng Xiaoping, visava superar contradições do ciclo
de reconstrução nacional iniciado em 1949. O ajuste nas estratégias tanto de
desenvolvimento nacional quanto de inserção internacional incluíram
movimentações bruscas, como a aproximação político-diplomática entre China
e Estados Unidos da América na década de 1970, em plena Guerra Fria, num
contexto de recém superação dos sobressaltos da Revolução Cultural. Atos como
esse demonstram, com exatidão, que a política é, na maioria das vezes, mais
sinuosa do que pareceres pautados por juízos morais podem fazer crer.
Para tanto, o governo chinês não está focado apenas na inovação, mas em toda a
cadeia de produção e serviços modernos. O objetivo central é aumentar o
conteúdo de componentes e materiais nacionais primeiramente para 40%, até
2020, e posteriormente para 70%, até 2025. A estratégia do governo chinês
inclui políticas cujos objetivos são acelerar os esforços de transferência de
tecnologias e de requisitos de licenciamento e aquisição de empresas
estrangeiras estratégicas, bem como de diversas atividades de engenharia
reversa. É interessante observar as metas na indústria automotiva, setor em que
se entrelaçam tecnologias da informação, veículos autônomos, novas formas de
energia, dentre outros.
Infográfico 1
Fonte: MIIT, disponível
em: http://english.gov.cn/policies/infographics/2015/06/02/content_281475119391820.
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