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A ECONOMIA BRASILEIRA. No Contexto Da Crise Global
A ECONOMIA BRASILEIRA. No Contexto Da Crise Global
A ECONOMIA BRASILEIRA
no contexto da crise global
artigos de
Adriana Nunes Ferreira
Carolina Troncoso Baltar
Daniela Magalhães Prates
Daniela Salomão Gorayeb
Geraldo Biasoto Junior
José Roberto Afonso
Júlio Sergio Gomes de Almeida
Luciana Portilho
Luis Fernando Novais
Marcos Antonio Macedo Cintra
Maria Cristina Penido de Freitas
Marina Sequetto
Maryse Farhi
Rafael Fagundes Cagnin
Fundap
1a. edição
São Paulo, 2014
Coodernação Editorial
Fernando Ortega de Sousa Carneiro
Projeto Gráfico e Capa
Newton Sodré
Edição de Texto e Revisão
Marcos Henrique Monteiro Martins
Maria Eloísa Pires Tavares
Newton Sodré
Vera Carvalho Zangari Tavares
Editoração Eletrônica
Juhmco Hanada
Newton Sodré
Normalização Bibliográfica
Ana Cristina de Souza Leão
Norma Batista Nórcia
Ruth Aparecida de Oliveira
Catalogação na Fonte
Elena Yukie Harada
ISBN 978-85-7285-151-0
CDD – 330.981
Sumário
Prefácio, 7
Marcos Antonio Macedo Cintra
Apresentação, 15
1. Ver, por exemplo, Sader (Org.), 2013; Ipea/SAE (2010); Ipea/SAE, CGEE/MCTI/Rede Desenvolvimen-
tista (2013); Fiesp (2013); Iedi (2012); AKB (2013); Bacha e Bolle (Orgs.), 2013; FPA (2013).
2. The Economist, apud Carta Capital, 2010, p. 40 e 47-48: “a inovação frugal não se restringe ao redesenho
de produtos; ela exige repensar todos os processos de produção e modelos de negócios. As empresas têm de
reduzir custos para atingir mais consumidores, e precisam aceitar margens de lucros restritas para ganhar em
volume. Três formas de reduzir custos vêm sendo consideradas as mais bem-sucedidas. A primeira é tercei-
rizar cada vez mais. (...) A segunda maneira de economizar é usar tecnologias já existentes de formas novas e
criativas. (...) O terceiro caminho para reduzir custos é utilizar técnicas de produção em massa em áreas novas e
surpreendentes, como a medicina. (...). A inovação de negócios no mundo emergente chegou ao ponto em que
todos os avanços individuais se transformam em algo maior do que a soma das partes. Assim como os círculos
de qualidade e a entrega just-in-time do Japão fizeram parte de um novo sistema chamado de ‘produção en-
xuta’, a inovação às avessas e a produção frugal dos emergentes são parte de uma nova linha de administração
de negócios. (...) As empresas estão partindo das necessidades de algumas das pessoas mais pobres do mundo
e, para atender a essas necessidades, estão redesenhando produtos e até processos inteiros de fabricação. Isso pode
incluir uma mudança na definição do que é um cliente, de forma a abarcar todo o tipo de gente que até então
vivia excluída da economia de mercado. Significa cortar custos até o osso e eliminar todas as funções de um
produto ou serviço, preservando apenas o essencial”. Em outra reportagem, reitera: o BroadGroup – que de-
senvolveu novas técnicas de pré-fabricação, possibilitando a construção de arranha-céus rapidamente –, “em
janeiro de 2012, construiu um hotel de 30 andares em apenas 15 dias” (VAITHEESWARAN, 2013, p. 49).
3 Da mesma forma como a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapaii) – com atua-
ção nas áreas de inovação industrial – procura reproduzir a experiência exitosa da Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Maryse Farhi
Introdução1
2. Importa aqui ressaltar que a crise da década de 1930 não foi um episódio de dez anos de declínio econô-
mico contínuo, mas sim constituída por dois períodos recessivos distintos – agosto de 1929 até março de
1933 e maio de 1937 até a Segunda Guerra Mundial. Entre essas duas recessões, ocorreu um período de
recuperação econômica que, entretanto, foi insuficiente para impedir que a taxa de desemprego permane-
cesse acima dos 10% nos EUA (BERNANKE, 2000).
3. Essa atuação assumiu formatos distintos conforme os países: os EUA concederam empréstimos aos bancos,
enquanto, na Inglaterra e na Irlanda, o Estado assumiu o controle acionário dos bancos.
4. No caso dos mercados, a atuação dos governos foi relativamente uniforme e consistiu essencialmente em
garantir a solvência dos títulos privados.
5. Inicialmente, 12 países aderiram à UME, também conhecida como zona do euro. Atualmente, 17 estados
membros da União Europeia utilizam o euro como moeda: Bélgica, Alemanha, Estônia, Irlanda, Grécia,
Espanha, França, Itália, Chipre, Luxemburgo, Malta, Holanda, Áustria, Portugal, Eslovênia, Eslováquia e
Finlândia. Os estados membros da União Europeia que não adotaram a moeda única são Bulgária, Repú-
blica Checa, Dinamarca, Letônia, Lituânia, Hungria, Polônia, Romênia, Suécia e Reino Unido.
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França Alemanha Italia Espanha Portugal Reino Unido Grécia (eixo da direita)
Fonte: Bloomberg.
Gráfico 2. Evolução do PIB dos países europeus: Alemanha, França, Inglaterra, GIIPS.
Variação anual (%), em relação ao ano anterior
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-8,0
Zona do Euro Reino Unido Alemanha França Itália Espanha Portugal Grécia
6. Com a livre movimentação de capitais instituída pelo Tratado de Maastricht, os países menos desenvolvidos da
zona do euro tinham consideráveis déficits em transações correntes, financiados com crescente endividamento
bancário externo, tanto público como privado, bem como fluxos de investimento estrangeiro de portfólio,
originários dos países membros superavitários que alimentaram espirais ascendentes de preços de ativos, dando
origem a bolhas imobiliárias, tais como as da Irlanda, Espanha, Holanda e Grécia (FREITAS, 2009).
7. Jim O’Neill, presidente da Goldman Sachs Asset Management, afirmou em 2012, à Reuters, que se “An-
gela Merkel e seus colegas estivessem junto com o resto da área do euro [...] e se comportassem como uma
verdadeira união, essa crise seria concluída [naquele] fim de semana” (apud PETTIS, 2012).
Fonte: OCDE.
Nota: Os valores para 2012 são estimativas.
12. Segundo os cálculos da UME, essa parcela da dívida, em mãos de credores privados, representava 58%
da dívida pública total grega.
13. Os stress tests realizados pelo BCE nos principais bancos dos países membros da União Econômica e
Monetária Europeia, para medir sua resiliência em caso de choque adverso, não incluíram, em seus parâ-
metros, a desvalorização ou a possibilidade de default nos títulos públicos mantidos em carteira.
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Londres
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Fonte: Bloomberg.
Fonte: Bloomberg.
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jun./2007 a mar./2013
Dow Jones
S&P 500
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2013, seu valor mais baixo desde meados de 2007 (Gráfico 4).
Tabela 2. Formação bruta de capital fixo – variação % sobre o mesmo período do ano anterior –
2007 a 2012
Países 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Fonte: OCDE.
Nota: Os valores para 2012 são estimativas.
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Zona do Euro Alemanha Irlanda Grécia Espanha França Itália Portugal Reino Unido EUA
16. O BCE é a única instituição europeia em que as decisões não precisam ser tomadas por unanimidade.
17. Em dezembro de 2011, a autoridade monetária europeia lançou mão das chamadas “operações de refinancia-
mento de longo prazo” (Long-term Refinancing Operations, LTRO), por meio das quais emprestou dinheiro aos
bancos, com taxas de juros de 1% ao ano por um prazo de até três anos. A primeira rodada foi realizada em 21
de dezembro de 2011, quando 523 bancos tomaram € 489 bilhões; a segunda, em 28 de fevereiro de 2012, com
empréstimos de € 529 bilhões a 800 bancos. Com essas operações, os ativos no balanço do BCE registraram
significativo aumento – atingindo € 3 trilhões – e ultrapassaram os do balanço do Fed (US$ 2,9 trilhões). Por
meio deles, vários países em dificuldades ressuscitaram o mecanismo de financiamento de suas dívidas, vigente
antes da ruptura dos acordos de Bretton Woods, mediante empréstimos bancários ou da compra de seus títulos
pelos bancos nacionais. Com recursos emprestados pelo Banco Central Europeu (BCE), os bancos, inclusive
os que estão com balanços fragilizados, adquiriram esses títulos, aceitos como garantia pela autoridade mone-
tária. Os Estados dos GIIPS passaram a depender dos empréstimos bancários, para mantê-los funcionando,
num momento em que os investidores privados não tinham certeza sobre a sua solvência.
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Bélgica
Suécia
França
Espanha
Áustria
Grécia
Chipre
Luxemburgo
Grã-Bretanha
Portugal
Holanda
Irlanda
Alemanha
Itália
Dinamarca
Média EU
Malta
18. Ao solicitar o resgate, o ministro das Finanças de Chipre, Vassos Shiarly, rejeitou a possibilidade de que o
país fosse forçado a sofrer as medidas de austeridade radicais como as da Grécia, mas admitiu que houvesse
“alguma repercussão negativa”.
19. Essa rejeição sensibilizou a opinião pública, mas também uma parte das figuras de destaque no mundo
político e econômico europeu. Em verdade, a rejeição foi tão geral que oficiais da UME passaram, um por
um, a negar que tivessem participado em sua elaboração.
Considerações finais
Referências
AGLIETTA, Michel. The European vortex. New Left Review, London, n. 75, p.
15-36, May/June, 2012.
20. Uma dívida pública financiada por recursos domésticos é muito mais estável que as financiadas por
recursos externos e, sobretudo, as denominadas em divisas. Nesse caso, inexiste a questão da taxa de
câmbio, e o reembolso dessa dívida pode, no limite, ser efetuada por emissão monetária do banco
central.
Introdução1
Ao longo dos seus dois primeiros anos de mandato (2011 e 2012), o governo
da presidente Dilma Roussef obteve resultados econômicos positivos, dentre os
quais se destacam a redução do diferencial entre as taxas de juros doméstica e
internacional, em razão da queda sistemática da meta da taxa básica de juros a
partir de agosto de 2011 (de 12,5% a.a. em julho de 2011 para 7,25% a.a. em
outubro de 2012), a diminuição do déficit fiscal nominal (no acumulado do ano,
de 2,55% em dezembro de 2010 para 2,47% em dezembro de 2012) e da dívida
líquida do setor público (de 40,1% do PIB em dezembro de 2010 para 35,1% do
PIB em dezembro de 2012), a desvalorização do real (R$ 1,87/US$ em dezembro
de 2011 e R$ 2,04/US$ em dezembro de 2012) e a queda da taxa de desemprego
(de 6,4% em maio de 2011 para 4,6% em dezembro de 2012).
Em compensação, não obstante a nova combinação de preços-chave (juros e
câmbio), mais favorável ao crescimento, e os sucessivos estímulos fiscais, monetá-
rios e creditícios, introduzidos a partir do segundo semestre de 2011, resultados
negativos também foram verificados, tal como a forte desaceleração do cresci-
mento (em relação ao patamar alcançado em 2010), condicionada pela evolução
adversa da economia internacional, que comprometeu, especialmente, o desem-
penho da indústria. Na sequência de uma vigorosa expansão em 2010, quando
1. Os autores agradecem os comentários de Júlio S. Gomes de Almeida (Unicamp), Geraldo Biasoto Jr. (Uni-
camp) e Carlos E. G. Cavalcanti (Fundap/SP), isentando-os de eventuais erros e omissões.
2. O conceito de “regime de política macroeconômica” refere-se aos objetivos e metas da política macro-
econômica, bem como aos instrumentos utilizados para alcançar esses objetivos, que incluem tanto as
políticas monetária e creditícia, cambial e fiscal, como os instrumentos de regulamentação financeira
(no caso do período analisado: medidas de regulamentação financeira prudencial, controles de capitais
e regulamentação dos derivativos cambiais). Contudo, mesmo utilizando um amplo leque de instru-
mentos (além das três políticas macroeconômicas convencionais), esse regime pode eventualmente não
atingir os objetivos almejados.
3. Vale lembrar que as políticas anticíclicas adotadas em resposta ao efeito-contágio da crise financeira
global foram eficazes, resultando num crescimento de 7,5% do PIB em 2010, mas também em pressões
inflacionárias.
Política monetária
6. A alta dos preços dos serviços refletiu tanto uma pressão conjuntural, devido ao forte dinamismo de alguns
setores em 2010, como uma mudança estrutural de preços relativos, associada à melhor distribuição da
renda. Ver nota 14.
7. Sobre as medidas de natureza macroprudencial de controle do crédito às pessoas físicas, ver Fundap (2011).
12,5%
Selic (a.a.)
7,0%
12,0%
Selic (a.a.) Selic (a.a.)
11,5% 6,0%
11,0%
5,0%
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IPCA
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9,5%
3,0%
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8. O Relatório de Inflação de março de 2011 explicita a estratégia do BCB, segundo a qual, “nas atuais
circunstâncias, a boa prática recomenda buscar uma convergência mais suave da inflação para a trajetória
de metas, à semelhança de estratégia adotada no passado pelo Banco Central. Nesse contexto, então, o
Copom ressalta que a estratégia de política monetária será implementada com vistas a conter os efeitos de
segunda ordem do choque de oferta e a garantir a convergência da inflação para a meta em 2012”.
10,0%
8,0%
6,0%
4,0%
2,0%
0,0%
10. A partir de 4 de maio de 2012, por força da Medida Provisória n. 567, os novos depósitos na caderneta
de poupança passaram a ter remuneração equivalente a 70% da meta da taxa de juros Selic, quando essa
for igual ou menor a 8,5% ao ano. No caso de patamares superiores a esse percentual, os saldos de novos
e antigos depósitos continuam sujeitos à regra anterior de remuneração (TR + 0,5% a.m.). Para maiores
detalhes, ver Fundap (2012b).
11. A Circular n. 3.563 revogou a exigência de capital adicional para as operações de empréstimos ao consu-
mo com prazo máximo de 60 meses (ainda que tenha sido acompanhada de elevação do requerimento de
capital para as operações de crédito ao consumo com prazo superior a cinco anos). Por meio da Circular
n. 3.512, a autoridade monetária também desistiu de elevar, de 15% para 20%, o percentual mínimo de
pagamento das faturas de cartão de crédito, determinado em junho de 2011.
Gráfico 3. Crédito total ao setor privado por natureza do capital: variação real em 12 meses (em %)
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Política cambial
14. Ainda que aquecimentos conjunturais de demanda tenham pressionado os preços dos serviços (em 2010,
por exemplo), o patamar elevado da inflação desse setor, nos últimos anos, tem como principal deter-
minante o processo de mudança de preços relativos, ensejado pelas políticas de redistribuição de renda
(especialmente a valorização do salário mínimo) e de combate à pobreza, bem como pela redução do
desemprego. Para uma análise detalhada da dinâmica recente da inflação, medida pelo Índice Nacional de
Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), ver, dentre outros, Martinez (2012); Martinez e Cerqueira (2013).
Gráfico 4. Taxa de câmbio nominal R$/US$ e principais medidas adotadas – jan./2011 a dez./2012
2,15 18/12 : aumento de US$ 1 bilhão para US$ 3
bilhões do limite de posição vendida em
2,10 16/3 : Exportadores câmbio dos bancos isento de compulsório
isentos de IOF nas
operações de hedge
2,05 1/12 : investimentos
estrangeiros de portf ólio cambial equivalentes a
em ações e em títulos 1,2 vez o valor exportado
2,00
nos 12 meses anteriores
privados, com prazo acima
4/12 : O prazo mínimo das
1,95 de quatro anos isentos de 12/3 : IOF de 6% operações para pagamento
IOF estendido para antecipado de exportações f oi
1,90 6/1 : anúncio do recolhimento captações externas ampliado de um para cinco anos
compulsório sobre posições vendidas de até cinco anos
1,85 no mercado de câmbio à vista
5/12: IOF de 6% voltou a
incidir somente sobre
1,80 4/4 : IOF estendido às 14/6 : IOF volta a incidir captações externas com
renovações de captações somente sobre prazo mínimo de um ano.
1,75 externas captações externas com
6/4 : IOF estendido às prazo de até dois anos
1,70
captações externas até dois
anos 27/7 : IOF de 1% sobre
1,65
posições líquidas vendidas
em derivativos cambiais 1/3 : Proibiçao de pagamento
1,60
superiores a US$ 10 milhões antecipado de exportações acima
de um ano
1,55
29/3 : IOF de 6% sobre 8/7 : Aumento do compulsório 29/2 : IOF de 6% estendido para
1,50 captações externas até um ano sobre posições cambiais captações externas de até três anos
vendidas
1,45
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Restrição Flexibilização
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Posição dos bancos (1) Intervenções BCB - Pronto
Intervenções BCB - Linhas de recompra Saldo do movimento de câmbio
15. Vários trabalhos, a partir de diferentes abordagens teóricas e empíricas, concluíram que as operações com
derivativos cambiais (com destaque para os contratos de dólar futuro da BMF&Bovespa) exercem influ-
ência decisiva na dinâmica da taxa de câmbio do real. Ver, principalmente, Dodd e Griffth-Jones (2007);
Farhi (2010); Kalternbrunner (2010); Prates (2010); Ventura e Garcia (2009); Rossi (2012).
16. Há dois tipos de currency carry trade. No primeiro, denominado de canônico, o investidor se endivida
na moeda de menor taxa de juros e aplica em ativos denominados na moeda de maior taxa de juros (em
inglês, moedas funding e target, respectivamente), sem neutralizar o risco cambial. Assim, o canonical carry
Gráfico 6. Mercado futuro de dólar: posições líquidas dos investidores (em US$ milhões) –
jan./2011 a dez./2012
250.000
150.000
50.000
-50.000
-150.000
-250.000
-350.000
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7/9/2012
27/1/2012
24/2/2012
23/3/2012
20/4/2012
18/5/2012
15/6/2012
13/7/2012
10/8/2012
5/10/2012
1/11/2012
16/09/2011
07/10/2011
07/01/2011
04/03/2011
01/04/2011
29/04/2011
27/05/2011
24/06/2011
22/07/2011
19/08/2011
04/11/2011
02/12/2011
29/12/2011
30/11/2012
trade (que envolve fluxos efetivos de divisas) diferencia-se de uma operação de arbitragem de juros, uma
vez que envolve uma aposta na variação cambial no período da aplicação (que pode ampliar ou anular o
ganho proveniente do diferencial de juros). Já no derivatives carry trade, o investidor forma uma posição
vendida na moeda funding e uma posição comprada na moeda target no mercado de derivativos cambiais.
Para maiores detalhes, ver Burnside et al. (2006); Gagnon e Chaboud (2007).
18. O primeiro leilão foi realizado em 21/12/2011, quando 523 bancos tomaram €489 bilhões, e o segundo
em 28/02/2012, com empréstimos de €529 bilhões a 800 bancos, totalizando cerca de € 1 trilhão.
19. Para maiores detalhes, ver capítulo 1.
20. Essas operações avançaram 48% em relação àquelas feitas no mesmo período em 2012 (de US$ 4,4 bi-
lhões para US$ 8,5 bilhões); com isso, sua participação no total do câmbio de exportação passou de 15%
para 22% no mesmo período. Ver Fundap (2012a).
15,0
10,0
5,0
0,0
-5,0
-10,0
-15,0
ago/2011
ago/2012
jul/2011
jul/2012
jan/2011
fev/2011
jan/2012
fev/2012
abr/2011
dez/2011
abr/2012
dez/2012
jun/2011
jun/2012
set/2011
set/2012
mai/2011
mai/2012
nov/2011
nov/2012
mar/2011
mar/2012
out/2011
out/2012
Colocações Resgates
21. Nas linhas de recompra, utilizadas pela primeira vez no último quadrimestre de 2008, o BCB contrata
uma venda de dólares com entrega para dois dias e, ao mesmo tempo, contrata com a mesma instituição
a compra de dólares com entrega para 32, 62, 92 dias, ou qualquer prazo acordado (assim, a posição de
câmbio do banco não se altera, porque existem duas contratações de natureza oposta, de mesmo valor).De
acordo com informação fornecida pelo BCB, em dezembro de 2012, esse instrumento foi utilizado devido
Política fiscal
à necessidade de liquidez em moeda estrangeira de caráter transitório, associada ao aumento das remessas
de lucros e hedges corporativos no final do ano.
22. Para maiores detalhes sobre a evolução das receitas e despesas fiscais no período, ver capítulo 8.
23. Considerando os fluxos acumulados nos últimos 12 meses, o montante do superávit fiscal – de R$
101,7 bilhões, acumulados em dezembro de 2010 pelo setor público – resultou do esforço fiscal conjun-
to: do governo federal, no valor de R$ 79,2 bilhões (77,9%); do Banco Central, no valor de R$ 519,9
milhões (0,51%); de estados e municípios, no valor de R$ 20,6 bilhões (20,3%); e das empresas estatais,
no valor de R$ 2,34 bilhões (2,3%). Em agosto de 2011, o superávit de R$ 149,5 bilhões (acumulado
em 12 meses) foi obtido da seguinte forma: R$ 118,8 bilhões do governo federal (79,5%); R$ 601,9
milhões do BCB (0,4%); R$ 29,1 bilhões de estados e municípios (19,5%); e R$ 2,1 bilhões de empresas
estatais (1,44%).
40
3,7
39
3,2
38
% do PIB
% do PIB
37
2,7
36
2,2
35
34 1,7
ago/11
ago/12
dez/10
dez/11
dez/12
fev/11
nov/11
fev/12
nov/12
jun/11
jun/12
jul/11
jul/12
set/11
set/12
abr/11
abr/12
mai/12
jan/11
mar/11
mai/11
jan/12
mar/12
out/11
out/12
Dívida Líquida do Setor Público (eixo esq.) Superávit Primário acum. 12 meses (eixo dir.)
24. Diante das medidas de desoneração fiscal de diversos setores, a meta de superávit fiscal foi cumprida por
meio de maior arrecadação, graças à elevação da carga tributária de 33,5% do PIB, em 2010, para 35,4%,
em 2012. Em 2012, a troca de ativos financeiros entre instituições públicas compôs a “contabilidade cria-
tiva” que permitiu o resultado fiscal primário do ano.
25 . A esse respeito, ver, por exemplo, o capítulo 8 desse livro; Afonso (2011); Barros e Afonso (2013).
27. Um conjunto de medidas adotadas no final de dezembro de 2012 permitiu que tais operações se con-
cretizassem: a Medida Provisória n. 600 permitiu ao Tesouro Nacional aumentar a concessão de crédito
extraordinário à Caixa Econômica Federal por meio da emissão de títulos, vender recebíveis da Usina de
Itaipu ao BNDES (cujo pagamento foi feito com ações de empresas privadas cotadas em bolsa) e ampliar
os subsídios associados ao PSI; o Decreto n. 7.880 autorizou o aumento de capital da Caixa Econômica
Federal por meio de ações da Petrobras e de outras empresas de capital aberto (tais ações tinham sido
recebidas pelo Tesouro do BNDES em troca dos recebíveis de Itaipu); o Decreto n. 7.881 permitiu que
o Fundo Soberano vendesse suas ações da Petrobras para o BNDES (autorizado desde 28 de dezembro a
declarar “dividendos intermediários”); e a Resolução n. 4.175, do Conselho Monetário Nacional, autori-
zou o BNDES a não abater de seu lucro as perdas obtidas com a queda do valor de mercado das ações de
empresas como a Petrobras e a Eletrobras (AFONSO, 2011; BARROS e AFONSO, 2013). .
28. Denominado oficialmente de Fundo Fiscal de Investimentos e Estabilização.
29. Setor público consolidado considera o esforço fiscal da União (Tesouro Nacional e Previdência Social),
estados, municípios, além do resultado do Banco Central e das empresas estatais (das três esferas de poder),
exceto Petrobras e Eletrobras.
30. A mudança na composição da dívida, com o aumento da participação dos compromissos indexados a
índices de preços e a juros prefixados e a queda da participação da Selic como indexador, ajuda a arrefecer
esse efeito positivo.
Balanço e perspectivas
34. A alíquota de PIS/Cofins de carnes, café, óleo, manteiga, açúcar e papel higiênico foi reduzida de 9,25%
para 0%. A de pasta de dentes e sabonete passou de 12,5% para 0%. Também foi zerada a alíquota de IPI
sobre açúcar e sabonete (que era de 5% antes da isenção) (DIEESE, 2013).
Referências
Introdução
1. Para uma análise da evolução dos demais componentes da conta corrente (serviços, rendas e transferências
unilaterais), ver Biancareli (2012).
2. Sobre o desempenho do comércio exterior brasileiro de 2003 a 2007, ver Prates (2006); Prates (2009);
Hiratuka, Baltar e Almeida (2007).
91
100
46 40
50 25 25 30
20 19
0
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
60
48
43 42
40 32 32
27 24
23
17
20
1
0
-1
-5
-20 -14
-20
-23 -26
-40
-35
-38
-60
2007 2008 2009 2010 2011 2012
Gráfico 3. Índice de demanda externa efetiva: variação % em relação ao índice no mesmo mês do
ano anterior
32 ,0
26 ,0
20,0
14 ,0
8,0
2,0
-4,0
-10 ,0
-16 ,0
-22 ,0
-28,0
jun./ 07
dez./ 07
jun./ 09
jun./ 11
dez./ 08
dez./ 09
dez./ 11
dez./ 12
jun./12
dez./06
dez./10
jan./06
jun./08
jun./10
jun./06
3. Para uma análise detalhada do efeito-contágio da crise sobre o comércio exterior brasileiro, ver Prates,
Cunha e Lélis (2011).
4. Ver capítulo 6.
15,0 12,5
9,2
10,0 8,0
6,0
0,0
-5,0
-10,0
-10,6
-15,0
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
80
60
40
jul/06
jul/07
jul/08
jul/09
jul/10
jul/11
jul/12
jan/06
jan/07
jan/08
jan/09
jan/10
jan/11
jan/12
dez/12
15
10 7,9
5,3
5 3,6
2,1
-2,4
-5
-5,8
-10
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
5. No primeiro trimestre de 2009, os preços das commodities iniciaram um novo movimento altista, condicio-
nado tanto por fatores estruturais (subjacentes do boom de preços anterior à crise global) – financeirização
do mercado de commodities e desequilíbrios entre a oferta e a demanda (associados ao efeito-China e à
crescente utilização de cereais na produção de biocombustíveis, dentre outros fatores) –, como por fatores
conjunturais, quais sejam: a política monetária anticíclica nos países avançados e a rápida superação do
efeito-contágio pelas economias emergentes. Para maiores detalhes, ver Prates (2011).
400
350
300
250
200
150
100
50
0
5/1/2004 5/1/2005 5/1/2006 5/1/2007 5/1/2008 5/1/2009 5/1/2010 5/1/2011 5/1/2012 5/1/2013
Todas Commodities Matérias-primas Industriais Alimentos Óleos & Gorduras Têxteis Metais Petróleo (WTI)
Gráfico 8. Índices de preço, quantum e valor das exportações (variação % acumulada no ano)
Preço Quantum
19,2 9,5
16,3 16,6 5,5
3,3 2,9
10,4
-0,3
-2,5
2,2 1,6
0,5 -10,7
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Valor
32,0
26,8
23,2
16,3 16,6
-5,3
-22,7
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
manda doméstica vazou para o exterior por meio das importações. As consequên-
cias adversas desse processo de forte penetração das importações já transparecem,
atualmente, na indústria brasileira6.
6. Ver capítulos 5 e 6.
Preço Quantum
21,8 37,0
14,3 22,0
16,1 17,7
6,9 8,2
3,9 8,9
0,9
-2,3
-11,1 -16,9
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Valor
43,4 42,3
32,1
24,1 24,5
-1,4
-26,2
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
7. Ver capítulos 5 e 6.
8. Sobre os determinantes da depreciação do real a partir de agosto de 2011, ver capítulo 2.
9. Vale lembrar que há sempre uma defasagem temporal entre as variações cambiais e a resposta das quanti-
dades exportadas (devido aos prazos dos contratos de exportação e importação, que variam de seis meses a
mais de um ano, e ao tempo necessário para alterar fornecedores, assim como a outros fatores).
10. Ver o capítulo 1.
Um estudo mais detalhado da balança comercial brasileira revela que seu su-
perávit tem sido preservado, fundamentalmente, devido ao saldo positivo do co-
mércio exterior de commodities primárias, que retomou, em 2010, a trajetória
ascendente observada no período anterior à eclosão da crise financeira e econô-
mica global. Todavia, apesar do crescimento considerável do superávit comercial
com commodities primárias, o déficit do conjunto dos demais produtos da pauta
comercial brasileira (registrado a partir de 2007) também aumentou a partir de
2010, mas num ritmo ainda maior, reduzindo o saldo comercial total do país.
Assim, a pequena retração, tanto do superávit em commodities primárias, como
do déficit com bens não commodities, foi um fenômeno conjuntural decorrente
do efeito-contágio da fase mais aguda da crise11 sobre os preços (sobretudo, das
commodities) e sobre a demanda externa por produtos brasileiros12 (Tabela 1).
Fonte: United Nations Commodity Trade Statistics Database (UN Comtrade). Elaboração: Grupo de Economia / Fundap.
11. Essa fase se estendeu da falência do banco Lehman Brothers, em 15 de setembro de 2008, ao primeiro tri-
mestre de 2009 (fundo do poço da recessão nos países avançados). Sobre as fases dessa crise, ver capítulo 1.
12. Sobre o efeito-contágio da crise sobre o setor externo brasileiro, ver Prates, Cunha e Lélis (2009).
Tabela 3. Saldo comercial brasileiro de manufaturados por intensidade tecnológica (em US$ milhões)
Intensivas
Petróleo e
em Trabalho Baixa Média Alta Não Total
Período Outros Insumos
e Recursos Intensidade Intensidade Intensidade Classificados Manufaturados
Energéticos
Naturais
Tabela 8. Comércio brasileiro de produtos intensivos em trabalho e recursos naturais – 2006 a 2012
2006 2008 2010 2012
158
150 132
114 111
99 104
100 88 86
70 75
52 52
50
28
15
0
-1
-10 -9
-16 -21
-25 -24
-30
-50 -37
-59
-100
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Conta Financeira Ingresso líquido de capitais estrangeiros Saída líquida de capitais brasileiros
15. Não será analisado, aqui, o efeito-contágio da fase mais aguda da crise sobre a conta financeira, que se con-
centrou no último trimestre de 2008. Sobre esse efeito, ver Prates, Bichara e Cunha (2009); Prates (2012).
Conta Financeira - 10.127 15.430 88.330 28.297 70.172 98.793 110.807 74.639
Investimento Direto 12.550 - 9.380 27.518 24.601 36.033 36.919 67.689 68.093
Fluxos Financeiros - 22.636 24.769 61.522 4.008 33.983 61.986 43.115 6.520
Investimentos de Portfólio 4.885 9.081 48.390 1.133 50.283 63.011 35.311 8.273
Outros Investimentos - 27.521 15.688 13.131 2.875 - 16.300 - 1.024 7.804 - 1.753
16. Dado o aumento da internacionalização das empresas brasileiras, nos últimos anos, parece mais apropria-
da a comparação do resultado obtido nas transações correntes com fluxo líquido de investimento direto
(em vez do investimento direto externo).
17. Em 2005, com a unificação do mercado de câmbio, foram eliminadas as restrições ainda existentes à saída
desses capitais (PRATES, 2006).
Gráfico 11. Fluxos de capitais de não residentes para os países emergentes (em US$ bilhões) –
2005 a 2012
1.400
1.237
1.200 1.118
1.108 1.084 1.080
1.000
775
800
679
647 649
600
400
200
-200
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011* 2012** 2013**
Vale ressaltar que, embora os fluxos de capitais de não residentes para as eco-
nomias emergentes não tenham atingido o pico do ciclo pré-crise, observado em
2007 (e não o atingirão até 2013, segundo as projeções do Institute of Interna-
tional Finance, IIF), o vale alcançado em 2010 (recorde, até o momento, do ciclo
pós-crise) foi somente 10,4% inferior àquele pico. Em contrapartida, no caso dos
fluxos globais de capitais, o valor recorde (até o momento) registrado em 2010
(US$ 6,1 trilhões) foi cerca de 50% menor do que o pico alcançado em 2007
(US$ 11,8 bilhões), segundo dados do McKinsey Global Institute (2013). Assim,
esses dados revelam que as economias emergentes ampliaram sua participação
nesses fluxos em função da interação dos fatores externos e internos mencionados
acima21.
21. O relatório do McKinsey Global Institute (2013) destaca também que, apesar de o estoque de ativos
financeiros globais ter mantido uma trajetória de crescimento após a eclosão da crise financeira global, em-
bora a taxas bem menores (atingindo US$ 225 trilhões contra US$ 206 trilhões em 2007, pico pré-crise),
houve, em porcentagem do PIB, um recuo de 43 pontos percentuais, de 355% para 312%.
23. No segundo semestre de 2012, também contribuiu para essa volatilidade as incertezas em relação
ao desempenho da economia americana devido à ameaça do chamado “abismo fiscal” ( fiscal cliff, em
inglês).
24. Apesar da desaceleração do crescimento da economia brasileira em 2011 e 2012, o mercado de consumo
sustentou um ritmo de expansão significativo. Para maiores detalhes, ver capítulos 5 e 7.
12%
10%
8%
6%
4%
2%
0%
jul/12
jul/11
nov/12
nov/11
out/12
out/11
set/12
set/11
f ev/12
f ev/11
jun/12
jun/11
jan/12
abr/12
ago/12
jan/11
abr/11
ago/11
mar/12
mai/12
mar/11
mai/11
dez/12
dez/11
13%
12%
11%
10%
9%
8%
7%
6%
5%
4%
3%
2%
1%
0%
jul/11
jul/09
jul/10
jun/11
jul/12
jun/09
jun/10
jun/12
out/09
out/10
out/12
jan/09
jan/10
jan/12
nov/09
nov/10
out/11
nov/12
jan/11
fev/11
nov/11
fev/09
mai/09
set/09
fev/10
mai/10
set/10
fev/12
mai/12
set/12
abr/09
abr/10
abr/12
mai/11
set/11
mar/11
abr/11
ago/09
ago/10
ago/12
ago/11
mar/09
mar/10
dez/11
mar/12
dez/09
dez/10
dez/12
Diferencial de juros CDS Selic - Meta Selic neutra de arbitragem Prêmio CDS Federal Fund rate
Essa rentabilidade, contudo, também foi afetada pelo segundo fator interno
que condicionou o ingresso líquido de capitais estrangeiros, qual seja: a estratégia
de gestão dos fluxos de capitais. É possível distinguir três fases dessa gestão ao lon-
go do ciclo de fluxos de capitais que emergiu em 2009 (Gráfico 14). Na primeira
fase, de janeiro a setembro de 2009, essa gestão ancorou-se, exclusivamente, na
política cambial, que optou pelo acúmulo de reservas (+5,1%) e, principalmente,
pela reversão da forte depreciação do real no último trimestre de 2008. Nesse
período, a apreciação cambial foi de 23,9%, a maior no âmbito dos países emer-
gentes, que reconduziu a taxa de câmbio R$/US$ para o patamar de R$ 1,77,
vigente antes da falência do Lehman Brothers, em 15 de setembro de 2008. Ou
seja, a equipe econômica do governo Lula optou por perseguir a mesma estratégia
adotada no período pré-crise27.
A segunda fase teve início em outubro de 2009, com a adoção de um controle
de capital – o IOF de 2% sobre investimentos de portfólio em ações e renda fixa
(Quadro 1) –, estendendo-se até setembro de 2010. Contudo, esse controle foi
muito tímido diante do fator de atração da economia brasileira (diferencial de
juros, não somente elevado, mas em alta – Gráficos 12 e 13). Nesse período, os
27. A aquisição de moeda estrangeira pelo BCB, no âmbito de um regime de flutuação suja, não é incompatí-
vel com a tendência de apreciação da moeda doméstica. A trajetória da taxa de câmbio nesse contexto de-
penderá da política cambial adotada, que diz respeito aos objetivos, às metas e à estratégia de intervenção
da autoridade monetária no mercado de câmbio. Para maiores detalhes, ver Prates (2010).
2,20
300
2,00
US$ bilhão
250
R$/US$
1,80
200
1,60
150
1,40
1,20 100
jul/11
jul/09
jul/10
jul/12
jun/09
jun/10
out/11
jun/12
fev/11
jun/11
nov/09
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out/09
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jan/09
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fev/09
jan/10
set/10
fev/10
jan/12
set/12
fev/12
jan/11
set/11
abr/09
abr/10
abr/12
ago/11
abr/11
mai/11
mar/11
ago/09
ago/10
ago/12
mai/09
mai/10
mai/12
dez/11
mar/09
mar/10
mar/12
dez/09
dez/10
dez/12
Reservas cambiais Taxa de câmbio nominal - final de período
28. Cálculos próprios a partir dos dados de fluxos de capitais de não residentes do IIF e de ingresso líquido
de capital estrangeiro para o Brasil, disponibilizado pelo BCB.
160
110
60
10
-40
jan-06
jan-07
jan-08
jan-09
jan-10
jan-11
jan-12
nov-09
nov-06
nov-10
mai-07
nov-07
mai-08
nov-08
nov-11
nov-12
mai-06
mai-09
mai-10
mai-11
mai-12
mar -06
mar -07
mar -08
mar -09
mar -10
mar -11
mar -12
jul-07
jul-09
jul-06
jul-08
jul-10
jul-12
jul-11
set-09
set-12
set-06
set-07
set-08
set-10
set-11
Ingresso líquido IDE Investimentos de portfolio Outros investimentos Fluxos financeiros
15
10
-5
-10
jan -12
jul -12
jan -11
jul -11
nov -12
jan -10
jul -10
nov -11
jan -09
jul -09
nov -10
nov -09
mai -12
mai -11
mai -10
mai -09
mar -12
mar -11
mar -10
set -12
mar -09
set -11
set -10
set -09
A terceira fase, que se inicia em outubro de 2010, teve como principal caracte-
rística a adoção de uma regulação mais ampla dos fluxos de capitais, envolvendo
controles de capitais e instrumentos de regulamentação prudencial (Quadro 1 no
final deste capítulo) que, conjuntamente, integram os instrumentos de gestão dos
fluxos de capitais, nos termos de Epstein, Grabel e Jomo (2003)29. Após a eleva-
29. Esses instrumentos referem-se somente às medidas que têm impacto no fluxo de divisas. Assim, não
incluem as iniciativas direcionadas ao mercado de derivativos cambiais, que constituem, da perspectiva
aqui adotada, instrumentos de regulação dos derivativos cambiais. Devido ao papel fundamental desse
mercado na formação da taxa de câmbio brasileira, somente após a imposição do IOF sobre o excesso de
posições vendidas em derivativos cambiais, em julho de 2011, o processo de apreciação cambial foi conti-
do. Para maiores detalhes, ver capítulo 2.
30. Para uma análise detalhada dessas mudanças, ver capítulo 2.
31. Ademais, o impacto das técnicas de gestão dos fluxos de capitais sobre a trajetória de apreciação cambial
foi atenuado pelas operações com derivativos cambiais, que somente foram efetivamente atingidas em
julho de 2011, quando foi adotado o IOF sobre posições vendidas excessivas.
32. O FMI (IMF, 2011) descreve alguns mecanismos de arbitragem regulatória utilizados após as medidas
de outubro de 2010.
33. Vale lembrar que a linha divisória entre investimentos de portfólio e IDE é muito tênue: são classificadas
como “investimento direto” as aquisições por não residentes que resultem na propriedade de 10% ou mais
das ações com direito a voto de empresas residentes, enquanto as participações abaixo desse percentual são
consideradas “investimento em portfólio” (ações).
34. De forma geral, o movimento de arbitragem regulatória contamina as seguintes atividades de destino do
IDE: Serviços financeiros e atividades auxiliares; Seguros, resseguros, previdência complementar e planos
de saúde; e Atividades imobiliárias.
35. Para argumentos contrários a essa hipótese, ver Dib (2011).
36. Corrêa et al. (2012) mostram o aumento da volatilidade dos fluxos de IDE após a adoção dos controles
de capitais, o que pode ser reflexo, exatamente, da contaminação desses fluxos por operações de natureza
financeira.
37. Baumann e Gallagher (2012), em um estudo econométrico sobre o impacto dos controles de capitais
adotados pelo governo brasileiro entre outubro de 2009 e dezembro de 2011, concluíram que esses ins-
trumentos regulatórios contribuíram para mudar, do curto para o longo prazo, a composição da entrada
de capitais externos, sem no entanto afetar o volume dos fluxos de capitais externos. Já Chamon e Garcia
(2013) concluem, a partir de testes econométricos, que esses controles tiveram efeito em termos de seg-
mentação dos mercados – o que transparece nos diferenciais entre os preços de ativos similares negociados
nos mercados onshore e offshore –, mas com um impacto limitado na trajetória da taxa de câmbio do real.
Contudo, as diversas medidas adotadas possivelmente ampliaram o impacto da queda da taxa de juros
básica, a partir de agosto de 2011, sobre essa trajetória.
38. Para maiores detalhes sobre essa mudança, ver capítulo 2.
Considerações finais
39. Sobre a relação entre o sistema de comércio internacional e os controles de capitais, ver Gallagher e Stan-
ley (2013). O caso brasileiro é analisado em Paula e Prates (2013).
40. O passivo externo de curto prazo é a soma da dívida externa de curto prazo com o estoque de investimen-
to de portfólio (em ações e renda fixa) no mercado financeiro doméstico.
Gráfico 16. Indicadores de solvência externa e passivo externo líquido do Brasil – 2006 a 2012
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8,00 7,73
700
6,56 6,72
7,00
6,00 600
6,00 5,78
Indicadores de solvência
500
Estoques
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4,40
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4,00
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Finalmente, vale destacar que o novo perfil do passivo externo bruto de curto
prazo, composto exclusivamente pelo investimento de portfólio no país, é rele-
vante mais do ponto de vista da liquidez do que da solvência externa, que reflete
a vulnerabilidade externa no médio e longo prazos (ver Gráfico 17). Como essa
vulnerabilidade depende da evolução do passivo externo líquido e da capacidade
da economia em questão de gerar divisas, o indicador fundamental na análise da
situação de solvência externa de um país (ou de sustentabilidade, como preferem
alguns autores44) é a relação passivo externo líquido/exportações. Isso porque, nos
países periféricos, como o Brasil, as exportações são a fonte de geração autônoma
de divisas, necessárias para amortizar esse passivo. Assim, deve ser motivo de pre-
ocupação a perda adicional de dinamismo das exportações no primeiro trimestre
de 2013, que contribuiu para o déficit comercial de US$ 5,1 bilhões (contra um
superávit de US$ 2,4 bilhões no mesmo período de 2012) e para o déficit de US$
24,8 bilhões nas transações correntes, recorde da série histórica do BCB, que se
inicia em 1947.
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4,00 3,5
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2,8
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1,50
1,00
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jan/06 jan/ 07 jan/08 jan/09 jan/10 jan/11 jan/12
Referências
A migração, por investidores não residentes, de aplicações em renda variável e ações para
aplicações em renda fixa está sujeita ao fechamento de novo contrato de câmbio (câmbio
7/10/2010 Controle de capital
simultâneo), impedindo que os investidores deixem de pagar a nova alíquota de IOF para renda
fixa.
Nova elevação da alíquota de IOF, agora de 4% para 6%, para aplicações em renda fixa, por
18/10/2010 Controle de capital
investidores não residentes.
Recolhimento de depósito compulsório (em reais) de 60% do valor das posições vendidas em
Regulamentação câmbio, assumidas pelos bancos, que exceder o menor dos seguintes valores: US$ 3 bilhões
6/1/2011
prudencial ou o patrimônio de referência (Nível I). A medida entrou em vigor em 4/4/2011. Objetivo: trazer a
posição vendida dos bancos no mercado à vista para US$ 10 bilhões.
Imposição de IOF de 6% sobre as captações externas de até 360 dias (as captações externas
29/3/2011 Controle de capital
com prazo inferior a 90 dias já eram tributadas com alíquota de IOF de 5,38%).
IOF de 6% passa a incidir também sobre empréstimos externos com prazo de até dois anos,
6/4/2011 Controle de capital sobre repactuação e assunção de dívidas, e sobre empréstimos intercompanhias sob o mesmo
prazo.
Mudança nas regras de recolhimento compulsório (em reais) sobre posições vendidas em câm-
Regulamentação
8/7/2011 bio. Percentual de 60% passa a incidir sobre o montante que exceder o menor dos seguintes
prudencial
valores: US$ 1 bilhão ou o patrimônio de referência (Nível I).
Alíquota de IOF sobre investimentos estrangeiros de portfólio de ações (2% desde outubro
de 2009) volta ao patamar de 0%. Também foi zerada a alíquota de IOF (até então de 6%) sobre
1/12/2011 Controle de capital
aplicações por não residentes em títulos privados de longo prazo com duração acima de
quatro anos.
Jun./2012 Controle de capital IOF voltou a incidir somente sobre operações com prazo de até dois anos a partir de junho
IOF de 6% voltou a incidir somente sobre captações externas com prazo mínimo de um ano
Dez./2012 Controle de capital
(como vigente até março de 2011) .
Introdução1
1. Esse capítulo está baseado em notas técnicas elaboradas pelos autores no âmbito do Grupo de Economia
da Fundap e contempla informações até o final de fevereiro de 2013.
3. Os bancos pequenos e médios também foram afetados pela fuga para segurança dos investidores institu-
cionais e dos grandes investidores individuais que, aproveitando a liquidez diária dos CDBs, transferiram
suas aplicações para instituições consideradas mais seguras, como os bancos públicos e os grandes bancos
privados. Esses últimos, entretanto, também não passaram ilesos pelo período de turbulência. Bancos
como Itaú, Unibanco e Votorantim, que realizaram operações de derivativos de câmbio com as empresas,
sofreram elevada pressão de caixa devido às chamadas de margens de garantia na Bolsa de Mercadorias e
Futuros (BM&F). Enquanto Itaú e Unibanco se fundiram no final de 2008, o banco Votorantim vendeu
participação no capital para o Banco do Brasil, em janeiro de 2009.
4. Os bancos exerceram preferência pela liquidez adquirindo títulos públicos federais que, além de baixíssimo
risco, lhes asseguraram alta rentabilidade. O prazo relativamente curto do crédito bancário no Brasil favoreceu
esse movimento de realocação de portfólio, característico da administração ativa dos balanços pelos bancos.
5. Para uma análise crítica da gestão da crise de liquidez pelo BCB, ver Freitas (2009).
6. Sobre a evolução do crédito corporativo após o aprofundamento da crise internacional, ver Fundap (2008),
Prates e Freitas (2010) e Freitas (2011).
7. O PEC foi lançado em dezembro de 2008, com vigência prevista de seis meses. Em maio de 2009, o pro-
grama teve sua vigência prorrogada até dezembro de 2009 e suas condições de prazo e juros, melhoradas.
Para maiores detalhes, ver Fundap (2009).
8. Este artigo utiliza a antiga metodologia do BCB para divulgação dos dados de crédito, uma vez que as infor-
mações segundo a nova metodologia, apresentada em fevereiro de 2013, cobrem apenas o período posterior
ao ano de 2007. Continuam válidos, então, alguns esclarecimentos sobre a metodologia empregada pelo
BCB até dezembro de 2012. O volume total de crédito do Sistema Financeiro Nacional inclui operações de
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SF Público SF Privado SF Estrangeiro Crédito Total do SFN
aversão ao risco dos bancos privados representou uma janela de oportunidade para
a ampliação e diversificação da base de cliente. Já o BB expandiu fortemente suas
operações de crédito aos setores de comércio e serviço (FUNDAP, 2009 e 2010).
Apesar da atuação dessas duas instituições, a taxa de crescimento do crédito
corporativo com recursos livres despencou de 45,5%, em outubro de 2008, para
1,6% em dezembro de 2009. A taxa de crescimento da principal modalidade
de crédito livre à pessoa jurídica, o crédito de capital de giro, viu-se reduzida
seguidamente, passando de 73%, em novembro de 2008, para 18,7%, em abril
de 2010. Com isso, o crescimento real do crédito livre total do sistema finan-
ceiro desacelerou-se, passando de 29,5%, em setembro de 2008, para 5%, em
dezembro de 2009, na comparação em 12 meses (Gráfico 2). Esse desempenho
foi, contudo, favorecido pela desaceleração mais suave do crédito à pessoa física,
passando de 22,3% para 14,2% no mesmo período, reflexo do impacto menos
intenso e transitório da crise no mercado de trabalho10.
Diante dessa evolução do crédito livre, fica evidente a importância do crédito
direcionado para evitar uma desaceleração mais expressiva do crédito total do sis-
tema financeiro11. Dentre os bancos com operações de varejo, destacou-se a atua-
ção do BB mediante repasses de recursos do BNDES à indústria, tanto às grandes
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Recursos livres Recursos Direcionados Total
12. Na modalidade BNDES-repasse, são os bancos públicos e privados que, atuando como agentes financei-
ros, avaliam e carregam os riscos subjacentes às operações de repasse dos recursos aos tomadores finais. Por
esse motivo, o saldo BNDES-repasse esteve sujeito, assim como o crédito livre, à postura mais conserva-
dora dos bancos privados.
13. Financiado com recursos do Tesouro Nacional, o PSI reduziu o custo final para o tomador dos financia-
mentos de investimentos em inovação, tecnologia e na compra bens de bens de capital, com vistas a elevar
a competitividade da indústria brasileira. Criado em 2009, o PSI foi prorrogado até dezembro de 2013.
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BNDES Direto BNDES Repasse Rural Habitação Outros
14. Sobre a evolução do financiamento habitacional entre 2005 e 2011, ver Cagnin (2012).
15. O empréstimo foi realizado em condições compatíveis com o enquadramento da operação como instru-
mento híbrido de capital e dívida, o que permitiu manter o Índice de Basileia próximo de 20%. De um
lado, pelas regras do BCB, a CEF pôde considerar a operação como parte de seu capital e, portanto, incluir
esses recursos no patrimônio de referência que serve de base de cálculo dos limites de empréstimo. Por outro
lado, essa solução evitou impacto fiscal para o caixa do governo federal, já que o empréstimo é uma transa-
ção dentro do próprio setor público. O mesmo tipo de procedimento foi adotado em 2012, como será visto
adiante. Para mais detalhes sobre os instrumentos de capitalização dos bancos públicos e suas relações com
as finanças públicas, ver capítulo 8, além de Afonso (2011) e Barros e Afonso (2013).
16. Entre janeiro e julho de 2009, a meta da Selic foi reduzida em cinco pontos percentuais pelo BCB.
17. Em abril, o governo federal promoveu a troca de comando no BB, com a demissão de Antônio Francisco
de Lima Neto da presidência do banco, em razão da sua resistência em cumprir a diretriz de redução dos
juros e spreads definida pelo controlador. Para essa decisão contribuiu, também, o fato de que, sob o co-
Gráfico 4. Evolução dos spreads para o crédito à pessoa física e à pessoa jurídica – jan./2008 a
dez./2012 (em %)
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mando de Lima Neto, o BB optou por não assumir o controle do Votorantim no início de janeiro de 2009,
adquirindo 49,99 % do capital da instituição.
18. A utilização dos bancos públicos como instrumento de política financeira anticíclica não se traduziu,
diferentemente do que vaticinavam os seus críticos, em deterioração da qualidade da carteira dessas insti-
tuições. A participação dos créditos com qualidade de risco normal vem crescendo desde junho de 2009
(ver Gráfico A2, no anexo ao final deste capítulo).
19. Nota-se que, diferentemente da inadimplência do crédito às pessoas físicas, a inadimplência das operações de
crédito às pessoas jurídicas pouco se reduziu, mas mudou de patamar ao longo do primeiro semestre de 2009,
passando de 1,7%, em novembro de 2008, para em torno de 4%, após outubro de 2009. O crescimento da par-
ticipação de pequenas empresas nessa modalidade de crédito explica, em boa parte, essa mudança de patamar.
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Desconto de duplicatas Capital de giro Conta garantida Financ. imobiliário
Aquisição de bens ACC Repasses externos
Gráfico 6. Crédito total ao setor privado por setor de atividade – jan./2008 a dez./2012
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Ainda que as operações com recursos livres tenham apresentado uma tendên-
cia relativa de arrefecimento do ritmo de expansão ao longo do primeiro semestre
de 2010, voltando a acelerar apenas no último trimestre do ano, as taxas de cresci-
mento desse tipo de crédito mantiveram-se em patamar elevado ao longo de todo
o período, em torno de 18% ao mês na comparação em 12 meses, em termos
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21. Replicando uma prática do comércio varejista, os bancos vinham, desde 2003, ampliando os prazos das
operações de crédito ao consumo, de modo a reduzir o valor das prestações e a viabilizar o aumento do
endividamento das famílias, a despeito das elevadas taxas de juros (FREITAS, 2007; FREITAS e PRA-
TES, 2009).
22. Sobre as medidas macroprudenciais, ver Fundap (2011).
demanda, o crescimento dos preços imobiliários bastante acima da expansão da renda contribuiu para re-
duzir a capacidade de compra das famílias, inclusive porque parte dos imóveis dos grandes centros urbanos
ultrapassou o limite de preço imposto às operações regulamentadas do Sistema Financeiro da Habitação
ou pelo programa Minha Casa Minha Vida. Do lado da oferta, o ano de 2011 explicitou inconsistências
das estratégias de expansão das maiores incorporadoras do país, gerando aumento do estoque de unidades
residenciais e, consequentemente, redução do nível de lançamentos de projetos. Além disso, é importante
notar o efeito estatístico ocasionado pelo forte crescimento do financiamento habitacional entre 2008 e
2010. Ver, a respeito, Fundap (2013); Cagnin e Novais (2013).
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Pessoa jurídica Pessoa física Total
24. Com o propósito de abrir espaço para o setor privado, o BNDES reduziu em 10 pontos percentuais sua
participação máxima nos financiamentos, e elevou de R$ 10 milhões para R$ 20 milhões o teto do valor
dos projetos que poderão ser repassados, em um ano, pelos agentes financeiros a uma empresa.
25. Essa arbitragem regulatória com a captação de recursos no exterior foi, contudo, neutralizada pelo gover-
no por meio do Decreto n. 7.457, de abril de 2011, que estabeleceu alíquota de 6% para as captações exter-
nas (novas e repactuações) com prazo de até 720 dias, de modo a encarecer o funding externo dos bancos.
26. A eliminação da exigência de capital adicional para as operações de empréstimos ao consumo com prazo
de até cinco anos (60 meses) foi acompanhada da elevação do requerimento de capital para as operações de
crédito ao consumo com prazo superior a cinco anos.
27. Para estimular o consumo, o governo federal concedeu, em dezembro de 2011, desoneração fiscal por qua-
tro meses (até 31 de março de 2012) para os produtos da chamada “linha branca” (geladeira, fogão e lava-
dora) e para massas (até 30 de junho de 2012) e prorrogou a desoneração de PIS/Cofins sobre trigo, farinha
de trigo e pão comum. Em janeiro de 2012, foi permitida a utilização de recursos do FGTS para a aquisição
de material de construção. Essa nova linha de crédito, cujo limite individual é de R$ 20 mil, terá custo
efetivo total de no máximo 12% ao ano (incluindo juros e encargos) e prazo de pagamento de até 120 meses.
28. O governo voltou a promover a redução seletiva de imposto mediante a concessão de desoneração fiscal a
vários setores da indústria, que sofriam os efeitos negativos da apreciação cambial.
29. A regra de remuneração da poupança foi alterada pela Medida Provisória n. 567, de 4 de maio de 2012,
convertida na Lei n. 12.703/2012. Essa modificação foi realizada porque se temia que a remuneração da
poupança, superior ao patamar da meta da Selic, promovesse uma migração generalizada dos recursos dos
fundos mútuos de investimento para os depósitos de poupança, dificultando a rolagem da dívida mobiliária
federal. Assim, estabeleceu-se um gatilho, pelo qual sempre que a meta anual para a taxa Selic for menor ou
igual a 8,5%, a remuneração adicional da poupança será de 70% da taxa Selic; caso contrário, esse adicional
permanece em 0,5% ao mês a ser acrescido à remuneração básica, dada pela TR (FUNDAP, 2012a).
Gráfico 10. Evolução do spread, da taxa de captação e da taxa de aplicação para o crédito livre
referencial – jan./2008 a dez./2012 (em %)
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30. É verdade que os cortes iniciais nos spreads bancários foram parcialmente compensados pela elevação
de determinadas tarifas bancárias, tanto pelos bancos públicos como pelos privados. Ao identificar essa
compensação, o governo federal também passou a coibir essa prática usando os bancos públicos como
instrumento de pressão.
31. O governo federal orientou igualmente o BB e a CEF a realizarem campanhas de educação financeira,
explicando o custo e as opções de crédito disponíveis no mercado.
90
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70
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Para viabilizar a atuação anticíclica dos bancos públicos, o governo federal vol-
tou a reforçar o capital dessas instituições em 2012. A CEF recebeu dois aportes
de capital sob a forma de transferência de ações de empresas, sobretudo da Petro-
bras e da Vale. O primeiro, no valor de R$ 500 milhões, ocorreu no final de 2011
e o segundo, da ordem de US$ 1,5 bilhão, no final de agosto de 2012. Em 20 de
800 50
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700
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35
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Valor financeiro (R$ milhões)
30
Número de contrato (mil)
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20
300
15
200
10
100
5
0 0
Fonte: Banco Central do Brasil. Base de dados do Relatório de Estabilidade Financeira, março de 2013.
Elaboração: Grupo de Economia / Fundap.
32. Alterada, em 28 de dezembro, pela Medida Provisória n. 600 e finalmente convertida na Lei n. 1.293,
em 2 de abril de 2013.
33. Desse total, US$ 1 bilhão foi captado com prazo de cinco anos, e o restante com prazo de dez anos.
37. A elevação, no final de 2010, do requerimento de capital mínimo de 11% para 16,5% nas operações de
crédito a consumo contribuiu para explicitar práticas fraudulentas em diversas instituições, como a suba-
valiação das provisões para a cobertura de inadimplência e a manipulação contábil em relação às cessões
de carteiras de crédito. Depois do caso do Banco PanAmericano, em outubro de 2011, o BCB decretou a
intervenção no Banco Cruzeiro do Sul, no início de junho de 2012, e sua liquidação no mês de setembro.
No mês de outubro de 2012, foi a vez de o Banco BVA sofrer intervenção. Todos esses casos têm dificulta-
do a captação de recursos no mercado pelos bancos de pequeno e médio portes.
38. Na nova série de inadimplência divulgada pelo BCB em fevereiro de 2013, a inadimplência média veri-
ficada nas operações de crédito ao setor corporativo com recursos livres subiu de 3,4 % em dezembro de
2011 para 3,7% em maio de 2012 e oscilou em torno desse patamar até o mês de dezembro. Já nas ope-
rações com recursos direcionados, em 2012, o patamar máximo de inadimplência de 0,7% ocorreu nos
meses de abril, outubro de novembro, retornado a 0,5% no final do ano.
39. Ver Valor Econômico de 7/11/2012 “Com medo de calote, bancos desaceleram repasses do BNDES”.
40. No início de abril, o governo federal anunciou um reforço do orçamento do PSI de R$ 10 bilhões, prorro-
gando-o até dezembro de 2013, e o aporte de R$ 45 bilhões ao capital do BNDES. Na mesma ocasião, dentre
outras medidas tomadas, foram reduzidas as taxas de juros dos financiamentos do setor automotivo (ônibus
e caminhões), de 10% para 7,7% a.a., e foram elevados os prazos (de 96 para 120 meses) e a participação
do valor do bem financiado (para 100%, para pequenas e médias empresas, e para 90%, no caso de grandes
empresas). Para o setor de bens de capital, as taxas de juros dos financiamentos caíram de 8,7% para 7,3%
para empresas de grande porte, e de 6,5% para 5,5%, para pequenas e médias empresas, e também foi elevada
a participação máxima do financiamento. No segundo semestre, novas medidas foram tomadas para reduzir
os custos do financiamento de longo prazo e, assim, incentivar os investimentos: em julho, a TJLP, referência
para os empréstimos do BNDES, foi reduzida de 6% para 5,5% a.a.; no final de agosto, a taxa de juros inci-
dente sobre as linhas do PSI caiu de 5,5% para 2,5% a.a., levando-a, em termos reais, a um patamar negativo.
Gráfico 13. Crédito com recursos livres por tomador – jan./2008 a dez./2012
(variação real1 em 12 meses, em %)
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A redução dos spreads bancários para as operações com pessoa jurídica, ainda
que tenha sido um pouco mais tímida, teve impactos positivos sobre a expansão
dos saldos de crédito livre. Uma das modalidades beneficiadas foi o crédito para
capital de giro. Na comparação em 12 meses, sua taxa real de crescimento saiu
de 9,9%, em fevereiro, para 14,3%, em junho, justamente no período de maio-
res cortes nas taxas de juros dos empréstimos, para, em seguida, se desacelerar
(12,2%, em dezembro de 2012) (Gráfico 5). A desvalorização cambial, verificada
a partir do final de fevereiro, contribuiu, entretanto, para expandir os saldos re-
Considerações finais
Referências
Gráfico A1. Evolução da taxa de juros (em % a.a.) e do prazo médios (em dias corridos) do crédito
livre – pessoa física e pessoa jurídica – jan./2008 a dez./2012
60,0 700
650
55,0
600
50,0
550
45,0
500
40,0 450
400
35,0
350
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300
25,0
250
20,0 200
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Prazo médio PF (eixo da direita) Prazo Médio - PJ (eixo da direita)
Taxa de juros PF (eixo da esquerda) Taxa de Juros - PJ (eixo da esquerda)
94 10
93 8
Risco Elevado- %
Risco Normal- %
92 6
91 4
90 2
89 0
dez/07 jun/08 dez/08 jun/09 dez/09 jun/10 dez/10 jun/11 dez/11 jun/12 dez/12
Público- risco elevado Priv. Nacional- risco elevado Priv. Estrang.- risco elevado
Público- risco normal Priv. Nacional- risco normal Priv. Estrang.- risco normal
11/3/2009 141ª Reunião do Copom Reduziu a meta Selic de 12,75% para 11,25% ao ano.
26/3/2009 Resolução n. 3.692 Instituiu o Depósito a Prazo com Garantia Especial (DPGE), por meio do Fundo Garantidor de
Crédito (FGC), para os recibos de depósito bancário de até R$ 20 milhões por aplicador, sem
liquidez diária, emitidos com prazo de, no mínimo, seis meses e no máximo cinco anos, com
teto para as captações por instituição financeira no valor máximo de R$ 5 bilhões.
23/4/2009 Resolução n. 3.717 Além dos RDB, o Conselho Monetário Nacional (CMN) autorizou a inclusão das letras de
câmbio no cálculo do limite de captação, definido como o maior valor entre o dobro do
patrimônio de referência de nível 1 (em 31/12/2008) e o montante de R$ 5 bilhões para cada
instituição financeira.
29/4/2009 142ª Reunião do Copom Reduziu a meta Selic de 11,25% para 10,25% ao ano.
10/6/2009 143ª Reunião do Copom Reduziu a meta Selic de 10,25% para 9,25% ao ano.
29/6/2009 Resolução n. 3.743 Reduziu a taxa de juros de longo prazo (TJLP) de 6,25% para 6% ao ano.
30/6/2009 Medida Provisória n. 465, Lançou o Programa de Sustentação do Investimento (PSI), que estabeleceu medidas de
convertida na Lei n. 12.096, incentivo ao investimento em bens de capital. A Medida Provisória n. 465 autorizou a União a
de 24/11/2009 conceder subvenção econômica ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES), em operações de financiamento no âmbito do PSI.
22/7/2009 144ª Reunião do Copom Reduziu a meta Selic de 9,25% para 8,75% ao ano.
28/4/2010 150ª Reunião do Copom Aumentou a meta Selic de 8,75% para 9,5% ao ano.
9/6/2010 151ª Reunião do Copom Aumentou a meta Selic de 9,5% para 10,25% ao ano.
21/7/2010 152ª Reunião do Copom Aumentou a meta Selic de 10,25% para 10,75% ao ano.
3/12/2010 Circular n. 3.514 Elevou o adicional do compulsório sobre depósitos à vista e a prazo, em vigor desde 2002, de
8% para 12%.
3/12/2010 Circular n. 3515 Elevou o capital mínimo para operações de crédito a pessoas físicas, com prazo superior a 24
meses, dos 11% então vigentes para 16,5% do valor da operação.
3/12/2010 Resolução n. 3.931 Definiu o cronograma de extinção dos depósitos a prazo com garantia especial do Fundo
Garantidor de Crédito (criados pela Resolução n. 3.692/2009), estabelecendo redução gradual
de volume em 20% ao ano entre jan./2012 e jan./2016.
Circular n. 3.513 do CMN Determinou a recomposição dos níveis de recolhimento compulsório sobre depósitos a prazo,
com a elevação dos percentuais de 15% para 20% e redução do limite máximo de dedução de
45% para 36% das compras de carteiras de crédito e depósitos interfinanceiros de exigibili-
dade do compulsório sobre depósitos a prazo.
19/1/2011 156ª Reunião do Copom Aumentou a meta Selic de 10,75% para 11,25% ao ano.
7/4/2011 Decreto n. 7.458 Elevou a alíquota de IOF sobre operações de empréstimo e de arrendamento mercantil de
1,5% para 3%.
2/3/2011 157ª Reunião do Copom Aumentou a meta Selic de 11,25% para 11,75% ao ano.
20/4/2011 158ª Reunião do Copom Aumentou a meta Selic de 11,75% para 12% ao ano.
8/6/2011 159ª Reunião do Copom Aumentou a meta Selic de 12% para 12,25% ao ano.
20/7/2011 160ª Reunião do Copom Aumentou a meta Selic de 12,25% para 12,5% ao ano.
31/8/2011 161ª Reunião do Copom Reduziu a meta Selic de 12,5% para 12% ao ano.
19/10/2011 162ª Reunião do Copom Reduziu a meta Selic de 12% para 11,5% ao ano.
11/11/2011 Circular n. 3.563 Eliminou a exigência de capital adicional para as operações de crédito ao consumo (Circular
n. 3.515) com prazos inferiores a 60 meses e suspendeu a elevação do percentual mínimo de
pagamento das faturas de cartão de crédito de 15% para 20%, que havia sido decidida em
25/11/2010 pela Circular n. 3.512.
30/11/2011 163ª Reunião do Copom Reduziu a meta Selic de 11,5% para 11% ao ano.
18/1/2012 164ª Reunião do Copom Reduziu a meta Selic de 11% para 10,5% ao ano.
7/3/2012 165ª Reunião do Copom Reduziu a meta Selic de 10,5% para 9,75% ao ano.
18/4/2012 166ª Reunião do Copom Reduziu a meta Selic de 9,75% para 9% ao ano.
21/5/2012 Reduziu o IOF para o crédito ao consumo para pessoa física, de 2,5% ao ano para 1,5% ao
ano.
21/5/2012 Reduziu as taxas de juros cobradas pelo BNDES nas linhas de crédito do PSI para aquisição
de caminhões e ônibus, bens de capital, exportação de bens de capital. Ampliou o prazo de
até 96 meses para até 120 meses para aquisição de caminhões.
30/5/2012 167ª Reunião do Copom Reduziu a meta Selic de 9% para 8,5% ao ano.
11/7/2012 168ª Reunião do Copom Reduziu a meta Selic de 8,5% para 8% ao ano.
26/7/2012 Resolução CMN n. 4.115 Alterou as regras de funcionamento do DPGE, aperfeiçoando e ampliando esse instrumento
de captação.
7/8/2012 Lei n. 12.703 Converteu em lei a Medida Provisória n. 567, de 3/5/2012, que determinou a simplificação
de procedimentos e a redução do custo cartorial da portabilidade dos financiamentos
habitacionais.
23/8/2012 Resolução n. 4.123 Alterou as condições de emissão das letras financeiras, mantendo o prazo mínimo de 24
meses, conferindo maior flexibilidade ao instrumento.
29/8/2012 169ª Reunião do Copom Reduziu a meta Selic de 8% para 7,5% ao ano.
29/8/2012 Reduziu de 5,5% para 2,5% as taxas de juros das linhas de crédito do PSI.
17/9/2012 Lei n. 12.715 Converteu em lei a Medida Provisória n. 563, de 3/4/2012, que permitiu às instituições financei-
ras, nos casos de renegociação de dívida, o reconhecimento da receita para fins de incidência
de imposto sobre a renda e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido no momento do
efetivo recebimento do crédito.
14/9/2012 Circular n. 3.609 Zerou a alíquota de 6% do compulsório adicional sobre os depósitos à vista e reduziu de 12%
para 11% a alíquota do compulsório adicional sobre os depósitos a prazo, que entrou em
vigor em 29/10/2012. Flexibilizou, ainda, a parte principal do compulsório sobre depósitos a
prazo: até 50% (e não mais 36%) desses recursos podem ser usados para o financiamento de
motocicletas e a compra de carteiras de crédito e letras financeiras dos bancos que, em julho
de 2012, tinham patrimônio de referência menor que R$ 2,2 bilhões e relações crédito/ativo
total e depósito a prazo/passivo total de, no mínimo, 20%.
10/10/2012 170ª Reunião do Copom Reduziu a meta Selic de 7,5% para 7,25% ao ano.
Fonte: Banco Central do Brasil e Ministério da Fazenda. Elaboração: Grupo de Economia / Fundap.
Introdução
2007 6,1 6,1 13,9 5,6 6,1 6,0 4,5 5,2 4,6 6,50 1,77 1,93
3º trim. 6,6 6,7 16,9 6,2 6,0 6,4 4,8 5,0 10,8 7,10 1,91 1,69
2008
2008 5,2 5,7 13,6 3,0 4,9 3,1 5,9 6,4 10,9 7,41 2,34 1,83
2009 -0,3 4,4 -6,7 -8,7 2,1 -9,5 4,3 6,4 -3,5 4,25 1,74 1,99
2010 7,5 6,9 21,3 10,1 5,5 10,3 5,9 7,6 7,4 4,57 1,66 1,75
2011 2,7 4,1 4,7 1,2 3,2 0,2 6,5 9,0 3,1 4,22 1,88 1,67
1º trim. 1,9 3,2 -2,1 -1,1 2,2 -3,4 1,2 2,8 0,4 4,29 1,82 1,77
2012
2º trim. 1,2 2,5 -2,9 -2,9 1,6 -4,1 2,3 4,4 3,3 2,94 2,02 1,96
2012
3º trim. 0,9 2,6 -3,9 -3,2 1,5 -3,6 3,8 6,3 6,4 1,87 2,03 2,03
2012
4º trim. 0,9 3,1 -4,0 -2,5 1,7 -2,8 5,8 8.7 7.1 1,33 2,04 2,06
2012
ties e a economia doméstica estava aquecida, o que abriu espaço para as indústrias
utilizarem ainda mais sua capacidade instalada e aumentarem a escala de produção,
mesmo com o acirramento da concorrência dos bens importados. As importações
cumpriam, naquele momento, a função de complementar a oferta doméstica, re-
duzir custos e impulsionar a modernização do parque produtivo por meio da aqui-
sição, no exterior, de máquinas e equipamentos; porém, já começavam também a
competir no mercado doméstico, substituindo a produção local4.
Esse quadro foi fortemente afetado após a falência do Lehman Brothers,
em setembro de 2008. De imediato, o aprofundamento da crise financeira in-
ternacional acarretou uma forte diminuição da liquidez no mercado financeiro
internacional, a paralisia nas linhas de crédito e a queda drástica no fluxo de
(IPA - indústria de transformação) subiu 10,8% até o terceiro trimestre de 2008 sem que isso impactasse o
IPCA, que se manteve próximo ao centro da meta (4,8%). A taxa de câmbio média situou-se na faixa de 1,69
naquele período (valorização de 12,4% em relação ao [índice de 2007), fator que ajudou a conter a inflação.
4. Para outros detalhes sobre os resultados financeiros das empresas, no período, veja o artigo de Almeida,
Jacob e Novais (2009).
25,0
16,6
20,0 19,2
16,6
15,0
10,0 8,3
6,6 7,2 6,7
5,9 5,7 6,1
3,9 4,4 3,6
5,0 3,3 3,1
2,1
0,0
- 0,3 - 0,7
-5,0 - 3,1
- 3,2
- 5,6 - 6,7 - 7,6
-10,0 - 9,1
- 8,7
-15,0
FBCF
Construção Civil
Serviços
Consumo do Governo
Indústria
Exportações
Extrativa Mineral
Importações
I/2008 II/2008 III/2008 IV/2008 I/2009 II/2009 III/2009 IV/2009
5. Segundo o Caged, entre abril e dezembro de 2009, foram criados, em termos líquidos (admissões – desli-
gamentos), cerca de um milhão de postos de trabalho no mercado formal, superando as perdas ocorridas
no auge da crise.
No plano mais geral, percebe-se que pelo menos três condicionantes agiram,
em 2009, como atenuadores dos impactos da crise global e alicerçaram, em 2010,
as condições de expansão. Diferentemente dos períodos nos quais a turbulência
do cenário internacional ocasionava a deterioração do balanço de pagamentos e
exercia forte pressão sobre a taxa de câmbio, o acúmulo de reservas no período
pré-crise serviu como um seguro, diminuindo a vulnerabilidade externa do país.
Mesmo assim, no último trimestre de 2008, o real se desvalorizou quando houve
saída maciça de capitais de investidores estrangeiros para cobrir prejuízos sofridos
com o aprofundamento da crise nos países centrais. A taxa de câmbio atingiu o
patamar de R$ 2,39 (média mensal), em dezembro de 2008 (desvalorização de
48,4% em relação à verificada em agosto daquele mesmo ano). Mês a mês, esse
movimento foi-se revertendo e, em dezembro de 2009, a taxa de câmbio tinha
voltado para a faixa de R$ 1,75, o que contribuiu para que, já no primeiro se-
mestre de 2009, as expectativas do mercado sobre a inflação se situassem abaixo
do centro da meta, dando credibilidade aos fundamentos da política econômica.
Dois outros fatores ajudaram a blindar a economia brasileira. A relativa solidez
das contas públicas no imediato pré-crise, com superávits primários em torno
de 4% do PIB, e a trajetória de queda das dívidas públicas bruta e líquida em
relação ao PIB, fatores que permitiram a sustentação do gasto público e criaram
“espaço fiscal” para a implementação de medidas anticíclicas. O terceiro elemento
que diferenciou o Brasil dos países centrais foi a relativa proteção das institui-
ções financeiras locais contra os ativos “tóxicos” que caracterizaram o ciclo de
Gráfico 2. PIB: Variação trimestral acumulada em quatro trimestres (em relação aos índices do
mesmo período do ano anterior) – 2010 (em %)
40,0
35,8
35,0
30,0
25,0
21,3
20,0
15,0 13,6
11,6 11,5
10,4 10,1
10,0 6,9
7,5 6,3 5,5
4,2
5,0
0,0
-5,0
FBCF
Construção Civil
Serviços
Consumo do Governo
Exportações
Extrativa Mineral
Importações
As empresas, ao perceberem que havia espaço para voltar a crescer e premidas pela
maior concorrência das importações, procuraram rapidamente recompor os seus esto-
ques de matérias-primas e de bens finais. Em 2010, a variação dos estoques acrescen-
tou 1,4 p.p. de contribuição ao crescimento a cada trimestre (ver, adiante, o Gráfico
3). Nesse contexto, as firmas voltaram a criar capacidade produtiva adicional, vislum-
brando, no curto e médio prazos, uma trajetória auspiciosa para o mercado interno.
A força e a composição dessa recuperação demonstraram como é possível sair
de uma situação de quase paralisia nas decisões de imobilização de capital em
8. A variação anualizada da taxa trimestral na margem com ajuste sazonal do consumo das famílias, segun-
do as Contas Nacionais, ultrapassou 10% nos segundo e terceiro trimestres de 2009 (11,6% na média) e
atingiu 10,1% no terceiro trimestre de 2010. Entre 2009 e 2010, o consumo das famílias avançou 6,9%.
2003
2004
2005
2006
2007
I/2008
I/2009
I/2010
II/2008
II/2009
II/2010
IV/2008
IV/2009
IV/2010
III/2008
III/2009
III/2010
Ano trimestre (acumulado no ano)
30,0
28,8
25,0
20,0
16,3
15,0
10,8
10,0 9,3 9,0 9,7
7,8
6,3 6,8 6,4
5,4 4,9 4,7 4,5
5,0 3,6 4,1 3,9
2,7 3,9 3,2 3,1 3,2
2,7 1,9
1,6 1,4 1,7
0,9 0,1 0,5 0,2
0,0
-0,8 -1,1
-2,3 -2,5
-5,0 -4,0
FBCF
Construção Civil
Serviços
Consumo do Governo
Exportações
Extrativa Mineral
Importações
I/2011 II/2011 III/2011 IV/2011 I/2012 II/2012 III/2012 IV/2012
5,8
5,5
4,4
3,8
0,0
-0,1 0,0
-0,4 -0,3 -0,3
-0,4 -0,6
-0,8 -0,7 -0,7
-1,1 -1,1 -1,1 -0,9 -1,0
I/2012
I/2011
II/2011
II/2012
III/2012
III/2011
IV/2011
IV/2012
21
20
19
18
17
16
15
14
I/2010 II/2010 III/2010 IV/2010 I/2011 II/2011 III/2011 IV/ 2011 I/2012 II/2012 III/ 2012 IV/2012
a preços do ano anterior 19,6 19,8 21,4 20,7 19,5 19,4 20,5 19,9 18,5 18,1 18,6 18,2
a preços de 2006 17,5 17,7 19,1 18,6 18,3 18,2 19,2 18,7 17,8 17,4 18,0 17,6
a preços correntes 19,2 19,2 20,5 18,9 19,5 18,8 20,0 18,8 18,7 17,9 18,7 17,4
12. Segundo o IBGE, o resultado da formação bruta de capital fixo deveu-se a: (i) retração de 9,1% das imo-
bilizações em máquinas e equipamentos (peso de 50%); (ii) aumento de 1,9% na construção civil (peso de
43%); e (iii) diminuição de 0,7% em outros investimentos (plantações permanentes, gado, dentre outros,
peso de 7%).
40,0
35,3 34,8
35,0
30,0
25,0
19,7
20,0
16,3
15,0 11,6 10,5
10,5 10,8 11,2
9,6 9,9 9,3 9,1
10,0 8,0 8,6
6,1 5,9
4,7
5,0 3,1 2,0
0,0
- 0,1
- 5,0 - 2,3
- 4,4
- 5,9
-10,0
FBKF
PIB
Serviços
Indústria
Comércio
Exportações
Agropecuária
Importações
Transformação
Extrativa Mineral
Consumo do Governo
I/2012 II/2012 III/ 2012 IV/2012
China
Indonesia
Chile
Índia
México
Rússia
Austrália
Turquia
África do Sul
EUA
Coreia do Sul
Japão
Canada
Brasil
Alemanha
Inglaterra
França
Zona do Euro
Espanha
Itália
Portugal
Grécia
-8,0 -6,0 -4,0 -2,0 0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0
2012 2011
Considerações finais
13. Essa postura do governo federal de manter as metas fiscais apertadas mesmo no cenário de baixo dina-
mismo é discutida no artigo de Serrano e Summa (2012). Há uma análise crítica sobre o papel da política
fiscal. Argumenta-se que diante da desaceleração da economia, em 2011, o governo flexibilizou a política
monetária, mas manteve a política fiscal apertada com a hipótese de que a queda da taxa básica de juros
depende da manutenção de um superávit primário elevado. Os autores avaliam que o ajuste fiscal em nada
ajudou a reduzir o processo inflacionário em 2011 e, posteriormente ao longo de 2012, o mix de política
econômica (manutenção do afrouxamento monetário, desvalorização cambial e política fiscal anticíclica
sem comprometimento da meta fiscal) não impactou positivamente o investimento privado e proporcio-
nou queda do investimento público. O artigo também faz uma avaliação crítica dos argumentos a favor do
ajuste fiscal permanente nas suas versões de fluxos e de estoques.
Referências
ALMEIDA, Júlio Sergio G.; JACOB, Cláudio; NOVAIS, Luis Fernando. O de-
sempenho econômico-financeiro das companhias abertas entre 2002-2007 e
no ano de 2008. In: BIASOTO JR., G.; NOVAIS, L. F.; FREITAS, M. C. P.
PIB (Preços de Mercado) 1,5 -4,2 -1,7 1,9 2,5 2,5 2,0 1,5 0,9 0,9 0,8 0,6 -0,1 0,1 0,1 0,3 0,4 0,6
OFERTA
Agropecuária 2,7 -2,9 -3,0 -1,5 0,3 4,3 4,4 1,4 -5,0 1,5 6,5 -3,6 1,4 2,6 -7,6 5,8 2,1 -5,2
Indústria 2,1 -7,6 -5,6 2,1 4,3 4,7 2,5 1,6 0,2 0,7 0,9 0,2 -0,8 -0,7 1,2 -2,2 0,8 0,4
Extrativa mineral 0,8 -8,2 0,6 1,5 1,8 0,1 9,9 1,9 1,1 -0,1 0,2 1,9 0,8 0,7 -1,3 -1,8 -0,4 1,4
Transformação 1,7 -10,7 -7,9 3,8 4,9 4,8 1,7 1,6 0,2 0,1 0,7 0,6 -2,2 -2,1 1,2 -2,5 1,5 -0,5
Construção civil 3,2 -5,3 -4,8 3,1 5,3 4,8 1,7 4,1 -1,4 1,7 1,0 0,9 0,3 0,9 1,0 -0,7 0,1 -0,5
Prod. e dist. eletr., gás, água 2,8 -0,0 -4,5 2,7 2,3 3,5 0,5 3,4 0,4 0,9 0,4 1,4 1,4 -0,1 1,1 1,7 -0,5 1,8
Serviços 1,3 -2,6 0,6 1,3 2,1 1,3 1,3 0,9 1,6 0,9 0,4 0,6 0,0 0,3 0,6 0,5 -0,0 1,1
Comércio 2,2 -7,7 -3,0 4,8 4,0 2,9 3,1 1,1 2,1 1,3 0,7 1,1 -1,1 0,6 0,8 -0,3 0,2 0,3
Transporte, armaz. e correio 0,5 -5,0 -4,0 1,1 3,3 3,7 2,6 1,2 1,0 0,6 1,2 0,4 0,1 -0,4 0,8 -1,1 0,1 2,1
Serviços de informação 2,6 1,0 -1,0 -0,6 0,0 0,7 1,0 1,7 1,6 0,0 1,6 2,4 -0,3 0,3 1,7 0,8 0,6 1,7
Inter. Finan., seguros, previdência 1,6 -2,1 4,4 2,5 1,8 1,7 3,1 2,3 3,2 1,7 -0,4 0,3 1,6 -0,4 -0,7 0,9 -0,6 1,0
Outros serviços 0,8 -1,5 2,0 0,4 1,9 0,9 0,4 0,8 1,3 1,0 0,4 0,5 -0,3 -0,1 0,5 0,9 0,6 1,8
Atividades imobiliárias e aluguéis 0,9 -1,3 2,4 0,4 0,7 0,5 0,2 0,4 0,4 0,6 0,2 0,2 0,3 0,5 0,1 0,4 0,4 0,4
Adm. saúde e educação públicas 0,7 0,4 1,0 0,4 0,9 1,4 -0,5 0,6 0,9 1,1 0,2 0,4 0,4 0,6 1,4 0,7 0,1 0,4
DEMANDA
Consumo das Famílias 1,8 -1,9 1,0 2,9 2,6 0,8 1,7 1,0 2,4 1,9 0,5 0,7 -0,1 0,9 0,9 0,7 1,0 1,2
Consumo do Governo 3,4 -3,6 3,8 -1,0 1,3 2,3 0,7 1,1 0,9 0,3 -0,2 1,8 -0,5 0,5 1,5 1,2 0,0 0,8
Formação Bruta de Capital Fixo 4,7 -10,3 -12,9 5,8 9,8 8,0 3,7 3,5 3,7 -0,3 1,8 0,9 0,1 -0,7 -2,2 -0,9 -1,9 0,5
Exportações -0,8 -8,0 -9,1 8,5 -0,7 -1,9 8,0 1,8 3,8 -0,5 -1,4 4,7 1,5 -1,1 0,8 -3,5 0,3 4,5
Importações 3,0 -6,5 -15,1 6,3 5,2 12,9 11,9 3,9 7,2 1,2 0,7 4,7 -0,4 1,1 0,8 -0,3 -7,5 8,1
14,0 TAILÂNDIA
12,0
10,0
TURQUIA
8,0
6,0 SINGAPURA
-14,0
-16,0
0,00 1,00 2,00 3,00 4,00 5,00 6,00 7,00 8,00 9,00 10,00 11,00
Fonte: National Accounts Main Aggregates Database, da ONU. Elaboração: Grupo de Economia / Fundap.
Nota: Dados em US$ a preços constantes de 2005.
do mercados mais nobres (manufaturas de maior valor agregado) em relação à produção e às exportações
de produtos básicos. Disponível em: < http://archive.unctad.org/Templates/webflyer.asp?docid=1966&in
tItemID=2510&lang=1&mode=highlights >
2. Este capítulo utilizou como base de referência um conjunto de estudos do Instituto de Estudos para o
Desenvolvimento Industrial (Iedi) voltados a uma agenda para o desenvolvimento brasileiro. Esses estudos
foram reunidos na publicação Contribuições para uma agenda de desenvolvimento do Brasil (INSTITUTO
DE ESTUDOS..., 2012). Ver: < http://retaguarda.iedi.org.br/midias/artigos/5088640611078c37.pdf >
3. Para uma discussão mais detalhada sobre o processo – causas e consequências – de internacionalização das
grandes corporações mundiais, ver: Sarti e Hiratuka (2010). A publicação traz os resultados do projeto
PIB (Perspectivas do Investimento no Brasil), coordenado pelos Institutos de Economia da UFRJ e da
Unicamp.
4. A Tabela 1 do Apêndice traz o ranking de maiores participações do VA da indústria de transformação
sobre o VA total. Em 1970, o Brasil ocupava a quinta colocação dentre os 31 países da amostra; em 2011, a
colocação do Brasil caiu para a 17º posição. Cabe destacar, também, a evolução da Alemanha, que ocupava
a primeira posição em 1970 (com 29,13%) caindo para o 11º lugar em 2010 (20,78%), na mesma base de
comparação. A China saiu da 22º colocação em 1970, para o 1º lugar em 2011.
Tabela 1. Participação do Brasil no valor adicionado mundial (total e por setor de atividade, por
períodos) – 1970 a 2011
Agropecuária, Indústria
Valor Transportes, Outros
Produção (inclui Indústria de Construção
Adicionado Serviços Armazenamento Serviços
Florestal, extrativas e Transformação Civil
Total e Comunicação NEA
Pesca Siup)
Média 1970-79 1,57 1,98 1,84 2,09 1,17 2,02 2,10 1,25
Média 1980-89 1,90 2,34 2,18 2,43 1,57 2,43 2,49 1,52
Média 1990-99 1,80 2,47 1,92 2,17 1,53 2,26 2,31 1,50
Média 2000-10 1,77 2,93 1,82 1,90 1,59 2,14 2,16 1,48
Fonte: National Accounts Main Aggregates Database, da ONU, Divisão de Estatística das Nações Unidas.
Elaboração: Grupo de Economia / Fundap.
Nota: Dados em US$ a preços constantes de 2005.
6,0 POLÔNIA
DO VA DA INDÚSTRIA DE TRASNFORMAÇÃO NO TOTAL DO VA
5,0
COREIA DO SUL
4,0
CHINA
3,0
2005 X 2011, EM PONTOS PERCENTUAIS
2,0
SINGAPURA
JAPÃO
1,0 MUNDO
EQUADOR
ALEMANHA TURQUIA PERU
0,0
TAILÂNDIA ÍNDIA
EUA
ITÁLIA MÉXICO ARGENTINA
-1,0 GRÉCIA FRANÇA CHILE
PORTUGAL REINO UNIDO FILIPINAS
ESPANHA COLÔMBIA
-2,0 AUSTRÁLIA BRASIL
VENEZUELA INDONÉSIA
VARIAÇÃO DA PROPORÇÃO
MALÁSIA
-3,0
-
CANADA
-4,0
-5,0
-6,0
-4,0 -3,0 -2,0 -1,0 0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0 9,0 10,0 11,0 12,0 13,0
5. A pior posição da indústria de transformação da Malásia e da Indonésia entre 2005 e 2011, na comparação
com o resultado do período longo (1970-2011), pode estar refletindo o inicio da reversão do processo de
deslocamento da atividade industrial para os países em desenvolvimento (PED) dentro das estratégias das
grandes multinacionais, que agora estariam alterando a gestão de suas cadeias produtivas e de valores, dada
a redução das vantagens comparativas em relação aos países de origem.
8,0
7,0
6,0
5,0
PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB)
4,0
3,0
2,0
1,0
0,0
- 1,0
- 2,0
- 3,0
- 4,0
- 12,0 - 11,0 - 10,0 - 9,0 - 8,0 - 7,0 - 6,0 - 5,0 - 4,0 - 3,0 - 2,0 - 1,0 0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0 9,0 10,0 11,0 12,0 13,0
INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO
Não é por acaso, então, que os resultados do PIB em 2011 e 2012 foram tão
ruins (respectivamente, 2,7% e 0,9%). A indústria de transformação permaneceu,
na comparação do acumulado em quatro trimestres, estagnada em 2011 (+0,1%) e
retraiu-se (-2,5%) em 2012, em relação aos anos anteriores. Ao menos três fatores
atuaram para isso: (i) a prolongada diluição dos estoques formados na passagem de
2010 para 2011; (ii) o acirramento da concorrência externa no mercado doméstico,
devido ao enfraquecimento das economias avançadas e, consequentemente, da redu-
ção da demanda mundial por produtos made in Brasil; e (iii) a redução do ritmo de
alta dos vetores que até então estavam impulsionando a demanda doméstica, quais
sejam: a expansão do crédito, da ocupação e do rendimento do trabalho assalariado6.
O debate sobre as vicissitudes do padrão de crescimento econômico do Bra-
sil deve considerar um ponto com grande atenção: para quem concebe que o
8. Segundo esse autor, nos estágios iniciais de crescimento, a agricultura seria a fonte autônoma de demanda
da indústria e, nos estágios posteriores, as exportações.
9. Mais especificamente, as três leis de Kaldor são: (i) o crescimento da produção manufatureira gera cresci-
mento do produto; (ii) o crescimento dessa produção gera crescimento da produtividade no setor indus-
trial (também conhecida como Lei de Verdoorn); (iii) a taxa de crescimento do setor manufatureiro gera
aumento de produtividade nos demais setores (Thirwall, 2005).
tude muito curta dos ciclos industriais. O setor registrou taxas elevadas apenas
em períodos breves, associadas a eventos notórios e “externos” à dinâmica in-
dustrial.
Assim, em 1994, o crescimento industrial, que chegou a 7,6%, decorreu do
estímulo à demanda doméstica proporcionada pelo Plano Real. Em 2000 e no-
vamente em 2004, os aumentos pronunciados de 6,6% e 8,3%, respectivamente,
corresponderam à saída de crises cambiais, como a ocorrida em 1999, e em 2002,
diante das incertezas acerca das diretrizes econômicas do país com a eleição de
Lula. O motor para a recuperação industrial, em ambos os casos, foi a desvalori-
zação da moeda, o que elevou a capacidade de exportação do produto manufa-
turado no Brasil. Em nenhum dos casos vistos acima o crescimento se sustentou,
seja devido à frequente ocorrência de crises externas no período – sobretudo entre
1995/2001 –, seja devido ao aumento da inflação ou ao agravamento da situação
das contas externas, ensejados pelo próprio crescimento econômico e combatidos
com elevação das taxas de juros.
20,0
15,0
10,0
5,0
0,0
-5,0
-10,0
-15,0
-20,0
-25,0
ago/10
ago/07
ago/08
ago/09
ago/11
ago/12
ago/13
fev/07
fev/08
fev/09
fev/10
fev/11
fev/12
fev/13
abr/07
abr/09
abr/10
dez/10
abr/13
dez/07
abr/08
dez/08
dez/09
abr/11
dez/11
abr/12
dez/12
jun/10
jun/07
jun/08
jun/09
jun/11
jun/12
jun/13
out/10
out/07
out/08
out/09
out/11
out/12
Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Elaboração: Grupo de Economia / Fundap.
Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Elaboração: Grupo de Economia / Fundap.
15. Sobre a evolução do mercado de trabalho brasileiro no período pós-crise, ver capítulo 7.
16. O CNDI é presidido pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e composto de 12
ministros, pelo presidente do BNDES e representantes das empresas e dos trabalhadores.
17. Nome pelo qual é conhecido o conjunto de instituições de interesse de categorias profissionais. Compre-
ende 11 instituições, como Sesc, Senac, Senai, Sesi e Sebrae, dentre outras.
18. De acordo com esses autores, nesse arranjo de política industrial, o planejamento e a coordenação ex-ante
das ações tornou-se difusa e se perdeu na teia de relações entre os ministérios. Assim, a colaboração entre as
empresas privadas e os organismos públicos fica a desejar e compromete o alcance das metas programadas.
19. As principais metas do PDP eram as seguintes: (i) aumento da taxa de investimento da economia bra-
sileira de 17,6% do produto interno bruto – PIB (R$ 450 bilhões) em 2007 para 21% do PIB (R$ 620
bilhões) em 2010; (ii) elevação do gasto privado em P&D de 0,51% do PIB (R$ 11,5 bilhões) em 2005 para
0,65% do PIB (R$ 18,2 bilhões) em 2010; (iii) ampliação da participação das exportações brasileiras nas
exportações mundiais de 1,18% (US$ 160 bilhões) em 2007 para 1,25% (US$ 208,8 bilhões) em 2010;
(iv) crescimento do número de micro e pequenas empresas (MPE) exportadoras em 10% em relação ao
número de MPEs exportadoras de 2006 (11.792 empresas). Para uma avaliação crítica de cada uma dessas
metas, ver Almeida (2009).
21. A chamada “desoneração da folha” consistiu em eliminar a contribuição previdenciária de 20% sobre a
folha para empresas de 15 setores industriais e instituir o recolhimento de um valor correspondente entre
1% a 2% sobre o faturamento líquido (dependendo do setor) para o INSS.
22. A portaria dos ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e do Desenvolvimento, Indús-
tria e Comércio Exterior (MDIC) regulamenta a margem de preferência adicional para equipamentos de
tecnologias da informação e comunicação que tenham sido desenvolvidos, a ser utilizada em licitações
realizadas pela administração pública federal, de acordo com os requisitos e critérios estabelecidos na
Portaria MCT n. 950/2006. Quando aplicada, a alíquota adicional de 10% eleva para 25% a margem de
preferência. Para produtos com PPB (Processo Produtivo Básico), essa margem é de 15%. De acordo com
o Decreto n. 7.903/2013, que regulamentou o benefício à produção nacional, a margem de preferência
adicional precisaria atender a requisitos e critérios definidos em ato conjunto dos dois ministérios. No do-
cumento, fica estabelecido que a fabricante deverá requerer à Secretaria de Política de Informática (Sepin),
do MCTI, e à Secretaria do Desenvolvimento da Produção (SDP), do MDIC, o reconhecimento da con-
dição de produto manufaturado nacional desenvolvido no país, que será comprovado mediante portaria.
Conclusões
Referências
ALMEIDA, Mansueto. Desafios da real política industrial brasileira do século XXI. Brasí-
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TRIA – IEDI. Contribuições para uma agenda de desenvolvimento do Brasil.
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do Investimento no Brasil, v. 2). Disponível em: < http://www.eco.unicamp.
br/neit/images/stories/arquivos/pib_sintese-industria_vfinal.pdf>. Acesso em:
8 out. 2013.
Tabela 1A. Participação do valor adicionado (va) da industria de transformação no total do valor
adicionado (dados em US$ a preços constantes de 2005)
Ranking Ranking
(%) (%)
1970 2011
Mundo 16,9 17,6
Fonte: National Accounts Main Aggregates Database, da ONU. Elaboração: Grupo de Economia / Fundap.
Gráfico 1. Brasil. Evolução do rendimento médio real, ocupação e massa de rendimento real das
6 RMs – variação acumulada em 12 meses
9,5
9,0
8,5
8,0
7,5
7,0
6,5
6,0
5,5
(Em %)
5,0
4,5
4,0
3,5
3,0
2,5
2,0
1,5
1,0
0,5
0,0
jul/06
jul/07
jul/08
jul/09
jul/10
jul/11
jul/12
nov/06
nov/07
nov/08
nov/09
nov/10
nov/11
nov/12
jan/06
set/06
jan/07
set/07
jan/08
set/08
jan/09
set/09
jan/10
set/10
jan/11
set/11
jan/12
set/12
mai/06
mai/07
mai/08
mai/09
mai/10
mai/11
mai/12
mar/06
mar/07
mar/08
mar/09
mar/10
mar/11
mar/12
10,0
10,0 9,3
(Em %)
7,9 8,1
8,0 6,7
6,0
5,5
6,0
4,0
2,0
0,0
1. As regiões metropolitanas (RMs) são: Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto
Alegre.
11
10 2006
9
2007
8
(Em %)
2008
7
2009
6
2010
5
2011
4
2012
3
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
91 90,0
90
89
88
87
Tabela 1. Brasil. Número de pessoas ocupadas em 6 regiões metropolitanas (em milhares de pessoas)
População
Ano Var. (%)
Ocupada
2006 19.926
Tabela 2. Brasil. População não economicamente ativa – 2006 a 2012 (em mil pessoas)
Part.
Ano Mulheres Homens Total Mulher Var. (%)
(%)
Gráfico 5. Brasil. Participação da Pnea que não gostaria de trabalhar no total da Pnea das 6
regiões metropolitanas – 2006 a 2012
92 0
90 ,0
88 ,0
86 ,0
Em %
84 ,0
82 ,0
80 ,0
78 ,0
76 ,0
set/ 11
set/ 12
set/ 09
set/ 10
set/ 06
set/ 07
set/ 08
jan/ 12
jan/ 10
jan/ 11
jan/ 08
jan/ 09
jan/ 06
jan/ 07
mai/ 12
mai/ 09
mai/ 10
mai/ 11
mai/ 06
mai/ 07
mai/ 08
Gráfico 6. Brasil. Pessoas não economicamente ativas, por grupos de idade nas 6 regiões
metropolitanas – 2006 a 2012 – Participação (%)
50 %
45 %
40 %
35 %
30 %
25 %
%
20 %
15 %
10 %
5%
0%
mai/ 06
mai/ 07
mai/ 08
mai/ 09
mai/ 10
mai/ 11
mai/ 12
set/ 06
set/ 07
set/ 08
set/ 09
set/ 10
set/ 11
set/ 12
jan/ 06
jan/ 07
jan/ 08
jan/ 09
jan/ 10
jan/ 11
jan/ 12
10 a 14 anos de idade
15 a 17 anos de idade
18 a 24 anos de idade
25 a 49 anos de idade
Tabela 4. Brasil. Taxa de desocupação das pessoas de 10 anos ou mais de idade por anos de estudo
– 2006 a 2012
Sem instrução e 8 a 10 11 anos
Anos
menos de 8 anos anos ou mais
Construção 3,9
Total 2,4
Gráfico 8. Brasil. Contribuição dos subsetores para o crescimento da população ocupada nas 6
regiões metropolitanas – 2006, 2009 e 2012
100 %
Outras atividades
20,0
21,0 22,9
80 % Outros serviços
10,5 14,9
11,4 20,4
60 % 16,2 30,8 Serviços domésticos
52,5
29,1 Adm pública, defesa, seg
40 % 20,9
34,6 social, educ, saúde e serv sociais
40,0 Interm finan e ativ imob, al e serv
20,2 12,9
20 % pres à empresa
12,4 13,2 12,2 Comércio, rep de veíc autom e de
4,2 19,4 16,8
3,5 7,2 objetos pessoais e domésticos
0% - 1, 7 - 4 ,0
- 6, 3 Construção
- 46,2
- 20 %
Ind extr, transf e prod e distrib de
2006 2009 2012 2006 - 2012 el, gás e água
- 40 %
Gráfico 9. Brasil– Contribuição dos subsetores para o crescimento da massa salarial real nas
6 regiões metropolitanas (em %)
100 %
4 ,0
13 ,5 4 ,7 16,0 16 ,6 Outras atividades
4 ,8 2 ,3 2 ,1
80 %
Outros serviços
- 20 %
Ind extr, transf e prod e distrib de el, gás e água 1.876 ,93
Educação, saúde e serviços sociais 7.171.343 8.538.882 8.627.018 2,3 0,3 9,2
Outros serviços coletivos, sociais e pessoais 2.982.014 4.083.424 3.537.846 2,2 -4,7 3,8
Serviços industriais de utilidade pública 7.369 7.752 7.965 4.984 17.854 7.670 8.317
Agropecuária, extr. vegetal, caça e pesca 6.574 21.093 18.232 -15.368 -25.946 50.488 -24.564
3. O capítulo 5 deste livro aponta que havia uma expectativa de retomada da economia brasileira, por conta
de um novo arranjo da política econômica do governo Dilma, o que poderia ter postergado os efeitos da
segunda fase da crise econômica mundial no mercado de trabalho brasileiro.
4. Sobre a importância do crescimento do consumo das famílias para o crescimento do PIB, ver: Fundação
do Desenvolvimento Administrativo (2011 e 2012).
2006/2011
Subsetor IBGE 2006 2008 2009 2011 Var. (%) ao
ano
Indústria de produtos minerais não metálicos 321.177 358.869 369.736 436.482 6,3
Indústria do papel, papelão, editorial e gráfica 360.367 385.555 386.324 408.132 2,5
Indústria têxtil do vestuário e artefatos de tecidos 874.488 955.408 966.764 1.024.960 3,2
Indústria de produtos alimentícios, bebidas e álcool etílico 1.573.336 1.785.904 1.857.422 1.831.404 3,1
Serviços de alojamento, alimentação, reparação, manutenção... 2.973.378 3.312.259 3.461.261 3.913.042 5,6
Agricultura, silvicultura, criação de animais, extrativismo vegetal... 1.357.230 1.420.100 1.427.649 1.483.790 1,8
90
80
Média 2005 = 100
70
60
50
40
30
20
2006 .01
2006 .04
2006 .07
2006 .10
2007 .01
2007 .04
2007 .07
2007 .10
2008 .01
2008 .04
2008 .07
2008 .10
2009 .01
2009 .04
2009 .07
2009 .10
2010 .01
2010 .04
2010 .07
2010 .10
2011 .01
2011 .04
2011 .07
2011 .10
2012 .01
2012 .04
2012 .07
2012 .10
Fonte: Ipea. Elaboração: Grupo de Economia / Fundap.
No entanto, o que nos interessa aqui são os efeitos de uma queda na relação
câmbio-salários sobre o mercado de trabalho. Pelo menos quatro se destacam e
causam preocupação:
• a partir de certo ponto da relação câmbio-salário, começa a ficar mais
interessante para a indústria local substituir homens por máquinas no
“chão de fábrica”, especialmente naqueles setores com mais facilidades de
importação de máquinas e equipamentos;
• em segundo lugar, para as empresas que possuem plataformas fora do
país, passa a se tornar crescentemente interessante deslocar plantas para
países com menores salários relativos – especialmente na Ásia;
5. A relação câmbio-salário é tomada como um indicador da competitividade das exportações dos países:
uma relação baixa, em geral, indica uma economia em que as exportações carecem de competitividade:
uma unidade de divisas compra poucas unidades de salários. As importações, em compensação, tornam-
se mais atraentes: é relativamente mais barato importar do que pagar salários internamente. Embora esse
seja apenas um dos muitos determinantes da competitividade de um país e de suas formas de inserção no
comércio internacional, não se pode negar que seja uma relação importante, especialmente para os setores
intensivos em mão de obra.
Gráfico 12. Brasil. Participação das pessoas ocupadas, por posição na ocupação, nas 6 regiões
metropolitanas – 2003 a 2012 (em %)
60 ,0
53 ,7
52 ,1
49 ,4 50 ,3
48 ,2
50 ,0
45 ,0 44 ,1 45 ,6 46 ,3
44 ,2
40 ,0
Empregadas - com
carteira de trabalho
% 30 ,0 assinada
20 ,0 Empregadas - sem
carteira de trabalho
assinada
10 ,0
Conta própria
0,0 (rótulo de dados
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 abaixo)
Gráfico 13. Brasil. Rendimento médio real, habitualmente recebido na atividade principal, por
posição na ocupação, nas 6 regiões metropolitanas – 2006 a 2012
150 ,0
140 ,0
Janeiro de 2006 =100
130 ,0
80 ,0
fev/ 10
dez/ 08
jun/ 12
jul/ 09
ago/ 06
mar/ 07
mai/ 08
abr/ 11
nov/ 11
set/ 10
out/ 07
jan/ 06
Em segundo lugar, mesmo que tenha ocorrido uma criação líquida de vagas
negativa (na qual o número de demissões é superior ao de admissões) nas faixas
salariais superiores a 2 SM no período analisado, isso não significa que o estoque
de emprego formal tenha sofrido redução nessas faixas. Nas faixas compreendidas
entre 2 SM e 15 SM, o que se observa é um crescimento do estoque abaixo da
média (Tabela 13). De forma consistente com o que ocorre no fluxo anual, as
faixas que crescem acima da média (31,7%) são as de remuneração de até 2 SM –
especialmente as de 1 a 1,5 SM (41,7%) e de até 0,5 SM (46,6%).
O último dos indicadores da qualidade dos postos de trabalho gerados aqui
considerado é a taxa de rotatividade da mão de obra. No Brasil, essa taxa é pre-
ocupantemente elevada, o que significa um mercado de trabalho caracterizado
por uma extensa gama de postos de trabalho com grande instabilidade, em que o
baixo tempo de permanência no emprego reduz sensivelmente as possibilidades
de aprendizado no local de trabalho e de ascensão profissional. A flexibilidade
3/4/2000 151,00
1/4/2001 180,00
1/4/2002 200,00
1/4/2003 240,00
1/5/2004 260,00
1/5/2005 300,00
1/4/2006 350,00
1/4/2007 380,00
1/3/2008 415,00
1/2/2009 465,00
1/1/2010 510,00
1/3/2011 545,00
1/1/2012 622,00
Tabela 13. Brasil. Estoque de emprego formal em 31/12, por faixa salarial mensal em salários
mínimos – 2006 a 2011
Gráfico 14. Brasil. Rotatividade anual da mão de obra ocupada – 2001 a 2010
48
46 ,4
46
44 ,7
44 43 ,9
42
ROTATIVIDADE
40 ,6
40 39 ,9
39 ,6
39 ,3
38 38 ,1
37 ,1 37 ,0
36
34
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
ANOS
Gráfico 15. Brasil. Relação entre salário médio dos admitidos e desligados –
2006 a 2012
94 %
93 %
92 %
91 %
90 %
89 %
88 %
87 %
86 %
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
7. Nessa chave interpretativa, encontram-se, dentre outros, Amadeo e Camargo (1996) e Gonzaga (2003).
Considerações finais
Referências
Introdução1
A política fiscal brasileira entre 2003 e 2013 pode ser dividida em dois perí-
odos bastante específicos. O primeiro é uma composição entre a herança do go-
verno Fernando Henrique Cardoso (FHC) e a influência do presidente do Banco
Central do Brasil (BCB), Henrique Meirelles, e do Ministro da Fazenda, Antonio
Palocci, no comando da política econômica do primeiro governo Luiz Inácio
Lula da Silva (Lula). O segundo período teve seus contornos iniciais nos últimos
meses do primeiro governo Lula, depois reforçados com o advento do Programa
de Aceleração do Crescimento (PAC); mas só se apresenta de forma plena a partir
do aprofundamento da crise mundial em 2008. Esse segundo período prevalece
ao longo do governo Dilma Rousseff (Dilma). A grande diferença entre os dois
períodos refere-se ao modo como é entendido o papel da política fiscal no regime
de política macroeconômica. Em verdade, essa diferença reflete uma mudança do
próprio entendimento das funções do Estado na dinâmica da economia.
A entrevista do secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, ao jornal Va-
lor Econômico, em abril de 2013, tornou clara a mudança de lógica na política
fiscal. A meta implícita da política fiscal, na primeira década deste século, foi a
evolução da dívida pública em relação ao Produto Interno Bruto (PIB). Agora,
1. Este artigo reproduz, em parte, argumentos e trechos do ensaio técnico “Sobre Fazer o Cumprimento da
Meta de Superávit Primário”, escrito em parceria com Gabriel Leal de Barros, para o Ibre/FGV, em feve-
reiro de 2013. Como de praxe, as opiniões são próprias e não das instituições citadas.
2. Em 29 de abril de 2013, Arno Augustin afirmou o seguinte, ao jornal Valor Econômico: “Estamos deixando
claro desde o início do ano que para 2013 e 2014, e provavelmente será essa a política do governo para 2015 e
2016, que o [superávit] primário vai ser sempre uma variável da economia e não mais da dívida pública em si”.
Fonte: Banco Central do Brasil e Secretaria da Receita Federal. Elaboração: Grupo de Economia / Fundap.
2013
2007 2008 2009 2010 2011 2012
(junho)
Empresas estatais federais 0,06 0,01 0,05 0,02 -0,01 0,02 0,01
Empresas estatais estaduais -0,01 -0,07 -0,08 -0,07 -0,04 0,04 -0,00
Empresas estatais municipais -0,00 -0,00 -0,01 -0,01 -0,01 -0,01 -0,01
Dois aspectos indicam que a política econômica trocou a política fiscal austera
pelo estímulo à demanda. Em primeiro lugar, é visível que o segmento ‘governo
federal’ (exceto Banco Central e INSS) foi responsável por grande parte da queda
no superávit primário, de 3,9% do PIB para 2,9% do PIB, entre 2007 e 2012,
passando a 2,6% do PIB no primeiro semestre de 2013. Em segundo lugar, o
governo federal voltou a permitir aos governos estaduais a obtenção de financia-
mentos junto às instituições oficiais de crédito. Premido pela forte contestação ao
Acordo da Dívida de 1997, o governo federal resolveu contornar a questão abrin-
do linhas de crédito aos estados, o que se espelha na queda do superávit primário
em 2012 (BIASOTO JR., 2011).
Tabela 5. Despesa do Tesouro Nacional – Acumulado de janeiro a junho de 2012 e 2013 (em R$ mil)
Variação
2012 2013
Nominal
RECEITA LÍQUIDA TOTAL 427.589,6 417.654,7 -2,3%
DESPESA TOTAL1 379.621,4 428.413,3 12,9%
Despesas do Tesouro Nacional 231.593,8 259.780,5 12,2%
Pessoal e Encargos Sociais2 89.525,5 96.317,7 7,6%
Custeio e Capital 140.983,1 162.245,0 15,1%
Despesa do FAT 14.189,2 17.333,8 22,2%
Abono e Seguro-desemprego 14.007,2 17.095,5 22,0%
Demais Despesas do FAT 182,0 238,3 31,0%
Subsídios e Subvenções Econômicas 7.838,2 6.230,4 -20,5%
Operações Oficiais de Crédito e Reordenamento de Passivos 5.737,5 3.938,8 -31,4%
Despesas com Subvenções aos Fundos Regionais 2.100,7 2.291,6 9,1%
Benefícios Assistenciais (Loas e RMV) 14.537,7 16.832,6 15,8%
Outras Despesas de Custeio e Capital 104.418,0 121.848,3 16,7%
Outras Despesas de Custeio 71.584,9 88.681,5 23,9%
Outras Despesas de Capital 32.833,1 33.166,8 1,0%
Transferência do Tesouro ao Banco Central 1.085,1 1.217,8 12,2%
Benefícios Previdenciários 146.399,2 166.740,8 13,9%
Benefícios Previdenciários – Urbano3 113.389,5 128.940,0 13,7%
Benefícios Previdenciários – Rural3 33.009,6 37.800,8 14,5%
Despesas do Banco Central 1.628,5 1.892,0 16,2%
RESULTADO PRIMÁRIO DO GOVERNO CENTRAL 48.061,8 32.304,1 -32,8%
JUROS NOMINAIS -82.250,0 -78.756,0 -4,2%
RESULTADO NOMINAL DO GOVERNO CENTRAL -34.188,3 -46.451,9 35,9%
Fontes: Secretaria do Tesouro Nacional (STN) e Ministério da Previdência Social.
(1) Apurado pelo conceito de “pagamento efetivo”, que corresponde ao valor do saque efetuado na Conta Única. A partir de
1/3/2012, inclui recursos de complementação do FGTS e despesas realizadas com recursos dessa contribuição, conforme
previsto na Portaria STN n. 278, de 19/4/2012.
(2) Exclui, da receita da Contribuição para o Plano da Seguridade Social (CPSS) e da despesa de pessoal, a parcela patronal
da CPSS do servidor público federal, sem efeitos no resultado primário consolidado.
(3) A apuração do resultado do Regime Geral de Previdência Social (RGPS) por clientela urbana e rural é realizada pelo
Ministério da Previdência Social, segundo metodologia própria.
0
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Embora seja quase senso comum que a evolução da Dívida Líquida do Setor
Público (DLSP) é função do superávit primário, é importante frisar que há outros
determinantes de sua dinâmica. A Tabela 7 mostra que, nos anos de 2011 e 2012,
a DLSP caiu 2,7% do PIB e 1,2% do PIB, respectivamente. No primeiro ano,
os juros nominais de 5,7% do PIB foram mais que compensados pelo superávit
primário de 3,1% do PIB, somado à expansão do PIB de 3,5% e ao ajuste cambial
de 1,6%. Esse último refletiu a desvalorização do real sobre o estoque liquida-
mente credor em moeda estrangeira.
Em 2012, as variáveis “extrafiscais” não foram tão favoráveis. A queda da dí-
vida líquida foi menor: 1,2% do PIB. A forte desaceleração do crescimento do
produto colaborou com 2,5% do PIB. Os juros nominais caíram do patamar de
5,7% do PIB para 4,9% do PIB, mas essa queda foi compensada pela retração do
superávit primário de 3,1% do PIB para 2,4% do PIB. Enquanto isso, o ajuste
cambial continuou sendo utilizado como redutor da dívida, em função da desva-
11. A utilização do Fundo Soberano no conceito de déficit até poderia ser realizada se fosse feito um esforço
teórico no sentido de contabilizar patrimônios do Estado ao cálculo das variáveis da política fiscal. Esse
movimento traria um padrão muito mais relevante ao cálculo do déficit, mas o governo federal não fez esse
movimento de releitura dos conceitos das contas públicas.
Dívida líquida total – saldo 1.508.547 36,4 1.550.083 35,2 1.580.271 34,5
Dívida líquida – variação acumulada no ano 32.727 -2,7 41.536 -1,2 30.188 -0,7
Fatores condicionantes1: 32.727 0,8 41.536 0,9 30.188 0,7
NFSP 107.963 2,6 108.912 2,5 65.935 1,4
Primário -128.710 -3,1 -104.951 -2,4 -52.158 -1,1
Juros nominais 236.673 5,7 213.863 4,9 118.093 2,6
Ajuste cambial2 -66.626 -1,6 -56.560 -1,3 -55.321 -1,2
Dívida interna indexada ao câmbio -3.405 -0,1 -3.171 -0,1 -2.966 -0,1
Dívida externa – metodológico -63.221 -1,5 -53.389 -1,2 -52.355 -1,1
Dívida externa – outros ajustes3 -9.097 -0,2 -5.011 -0,1 19.485 0,4
Reconhecimento de dívidas 487 0,0 -5.805 -0,1 88 0,0
Privatizações 0 0 0 0 0 0
Efeito crescimento PIB – dívida4 -3,5 -2,1 -1,4
PIB últimos 12 mesess em valores correntes* 4.143.013 4.402.537 4.579.954
12. A discussão sobre a retirada de empresas estatais produtivas não foi bem realizada no âmbito do governo
nem dos analistas econômicos. É importante frisar que os conceitos de déficit, geralmente usados em
momentos de crise, acabaram assumindo um escopo maior que o desejável e conceitualmente correto,
justamente pela situação de crise e descrédito. Numa estratégia de longo prazo, não há por que contabilizar
empresas que têm retornos positivos de seus investimentos e não dependem de recursos do Tesouro para
a sua sobrevivência.
13. A equalização cambial cumpre o papel de ressarcir o Banco Central das perdas envolvidas em operações
de swap e no carregamento das reservas, tal como instituído pela Medida Provisória n. 435, de 26 de junho
de 2008.
16. Para aceitar esse argumento, é preciso ignorar que tais títulos seriam parte dos meios de pagamento,
mesmo no seu conceito menos abrangente.
17. Ver Relatório de Gestão Fiscal da LRF, para o segundo quadrimestre, em: http://bit.ly/XOXSa9.
18. Serviços online até chegaram a noticiar isso em 27/12/2012, mas poucos notaram ou repercutiram o as-
sunto. O Globo OnLine comentou: “[...] De acordo com a Resolução n. 4.175 do Banco Central, 25% das
ações que o BNDES possui e que são classificadas como ‘disponíveis’ (papéis de longo prazo que não são
negociados no dia a dia do banco, mas que formam sua reserva e servem de esteio para o patrimônio líqui-
do do banco e seus empréstimos) não precisarão mais ser reclassificadas toda vez que houver uma variação
muito grande na cotação destas ações. Assim, o lucro do banco não será afetado com a recente queda nas
cotações das ações que predominam na carteira do BNDES: Petrobras e Eletrobras. Indiretamente, dizem
fontes, essas medidas podem até ajudar o resultado fiscal do governo, uma vez que o BNDES tem sido nos
últimos anos um dos maiores pagadores de dividendos ao governo, que entra em seu caixa, melhorando
suas contas. [...] Mas fontes do mercado confirmam que o impacto poderá ser significativo no resultado
do banco. No terceiro trimestre de 2012, o lucro do BNDES foi de R$ 2,043 bilhões, valor 21% inferior
ao registrado no mesmo período do ano passado (R$ 2,587 bilhões). No acumulado do ano, a queda no
lucro é ainda maior: nos nove primeiros meses o resultado foi de R$ 4,785 bilhões, 39,2% a menos que no
acumulado em 2011 até setembro (R$ 7,866 bilhões)”.
19 Ver Acordão TCU n. 3071/2012. Disponível em: http://bit.ly/UhjC0i
20. Ver balanços da Petrobras e do BNDES, respectivamente, ao final de setembro de 2012, em: http://bit.
ly/WM3piA e http://bit.ly/Vl2K6z
21. Segundo o BCB (http://bit.ly/mPJVtx), em outubro de 2012, a Caixa tinha R$ 25,1 bilhões de patrimô-
nio de referência – nível 1.
22. Ver matéria “O Risco de ter como sócio o governo”, publicada no jornal Correio Braziliense de 6/1/2013, disponibi-
lizado em: http://bit.ly/UAjc3Z.
23. Ver artigo publicado no jornal Valor Econômico, edição de 15/1/2013 – copiado, dentre outros, em: http://
bit.ly/1h5wymg
Observações finais
Referências