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Junguiana

v.38-2, p.9-20

Viveremos em um mundo mais anímico


após a pandemia?

Claudia Morelli Gadotti*

Resumo Palavras-chave
Partindo da ideia hillmaniana de afinidade en- Eros,
tre a alma e a morte, o presente trabalho faz um poder, alma,
questionamento se a experiência vivida durante a materialismo,
Brasil.
pandemia de Covid-19 poderá ser uma oportuni-
dade de um mundo mais anímico. Acreditando
que a alma em uma sociedade competitiva se
des-erotiza e fica refém do complexo de poder,
a questão que se levanta é qual seria o caminho
para esse resgate nesse momento de trauma co-
letivo. Para discorrer sobre isso, a autora amplifi-
ca o mito de Eros e Psique tentando, através de
sua dinâmica, compreender como a narrativa nos
orienta na busca de eros e, consequentemente,
de resgate da alma. O Brasil é o cenário onde se
desenvolve essa leitura e interpretação. ■

* Psicóloga clínica, Mestre em Psicologia Profunda pela Pacifica


Graduate Institute, CA, USA, membro analista da Sociedade
Brasileira de Psicologia Analítica (SBPA) e International Associ-
ation for Analytical Psychology (IAAP).
email: <clamgadotti@gmail.com>.

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Viveremos em um mundo mais anímico após a pandemia?

A poesia está guardada nas palavras – Para desenvolver essa reflexão, tenho como
é tudo que eu sei base um dos principais postulados da Psicologia
Meu fado é o de não saber quase tudo. Arquetípica de James Hillman (1976), o de que a
Sobre o nada eu tenho profundidades alma se aloja onde se encontram nossas maio-
Não tenho conexões com a realidade. res aflições. Trazemos conosco a todo o momen-
Poderoso para mim não é aquele que to a consciência e o sentido da morte. Dentro
descobre ouro. desse raciocínio, estaríamos nesse momento de
Para mim poderoso é aquele que descobre pandemia, vivendo um contexto propício para
as insignificâncias (do mundo e as nossas). o que Hillman (1976) denominou de cultivo de
Por essa pequena sentença me elogiaram alma, uma vez que a terrível vivência de dor e
de imbecil. morte pela qual passamos, mostra-se como uma
Sou fraco para elogios. oportunidade de aprofundamento na experiên-
cia dando-lhe consequentemente um significa-
(Barros, 2013, p. 374) do anímico. Submetidos ao triste espetáculo de
tantas mortes diárias estaríamos mergulhados
O conceito de arquetípico como qualifica- na mais rica fonte de alimentação anímica. Será?
dor de uma experiência atemporal, universal e Antes de começar esse raciocínio, é necessá-
profunda permite-nos compreender a vivência rio situar o que entendo por alma, termo tão am-
coletiva mobilizada pela pandemia de coro- plo como controverso. O conceito de alma dentro
navírus sob essa perspectiva. Assim como em da psicologia analítica nos remete inicialmente
outros períodos de crises mundiais, o que nos ao conceito de anima desenvolvido por Carl G.
chega nesse momento de trauma social é um Jung. Para Jung (1956) a anima é a contraparte
substrato humano com experiências bastante feminina inconsciente na psicologia consciente
semelhantes. Sentir-se atemorizado, solitário do homem. De forma simples e resumida, o ho-
e enlutado são algumas dessas qualificações mem vive na consciência um tipo de atitude mais
arquetípicas. No entanto, apesar de semelhan- racional enquanto a mulher tem uma atitude
tes, não são iguais. A metáfora tão difundida consciente emotiva e acolhedora. O trabalho de
pelas vias de comunicação de que estaríamos desenvolvimento da consciência seria, portanto,
no mesmo barco, não é de fato verdadeira como o de integrar esses aspectos contrassexuais in-
tantos já atestaram, especialmente em um lu- conscientes. “Da mesma forma que a anima se
gar com tantas desigualdades sociais como é transforma em um Eros da consciência mediante
o caso do Brasil. Além disso, a própria criativi- a integração, assim também o animus se trans-
dade da psique faz com que busquemos solu- forma em um Logos” (JUNG, 2014, par. 33). Con-
ções e significações próprias para problemas ceituação por si só datada, polêmica e facilmen-
coletivos, sendo que nossa individualidade te refutável. A definição tradicional junguiana de
vem dessa interpretação única que cada um de anima elaborada no século passado, com forte
nós faz de uma experiência arquetípica (HILL- influência da mentalidade sexista da época, mas
MAN, 1984). Refletir sobre a questão postulada também com claras notas da subjetividade de
no título desse trabalho será, portanto, a voz da seu autor, coloca a mulher como depositária de
minha individualidade. um tipo de consciência diversa da do homem:

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homens pensam, mulheres sentem. Embora co- até mesmo um certo frescor de esperança de que
locado de forma reducionista, foi essa dicotomia essa dimensão seria finalmente ampliada. Folha
que prevaleceu na teoria junguiana dos últimos de São Paulo, um dos mais importantes jornais
anos. Uma leitura mais minuciosa da obra de do Brasil, publicou uma pesquisa (SANT’ANNA,
Jung indica, no entanto, que o conceito de anima 2020) onde indagava a uma amostra de 2.056
já pode ser compreendido de forma mais ampla, brasileiros se eles acreditavam que se torna-
mesmo em seus escritos. A anima não apenas riam pessoas melhores depois da pandemia. Os
é a contraparte feminina no inconsciente do 73% dos entrevistados responderam que sim. A
homem, mas também é o “arquétipo da vida” resposta esperançosa deve-se provavelmente a
(JUNG, 1956, par. 678). Ao afirmar que a anima diversos fatores, mas o que me parece ter sido
“é a vida atrás da consciência que não pode ser um denominador comum aos sentimentos que
completamente integrada a ela, mas da qual a emergiram foi a impressão, nos primeiros dias
consciência emerge” (JUNG, 2000, par. 57), Jung de quarentena, de que o materialismo pragmá-
nos convida a uma leitura da anima como o pró- tico do mundo contemporâneo iria finalmente à
prio arquétipo da psique. No entendimento de falência com a necessidade imperiosa do isola-
alguns pós junguianos, como Suzan Rowland mento social. Mais do que recursos materiais,
(2002) ou o próprio James Hillman (1985), pen- a lógica do afastamento demandou que se po-
sar a anima sob perspectiva arquetípica não é tencializassem recursos humanos para vencer
compreendê-la apenas no seu aspecto contras- o coronavírus. A pandemia estaria mobilizando
sexual, mas sim entendê-la como universal e a necessidade humana de se relacionar amoro-
atemporal, como a própria definição de arquéti- samente, pois sem empatia e colaboração não
po enunciada por Jung (1986), não podendo ser sairíamos dessa situação emergente de saúde
atribuído apenas a um sexo. Nesse sentido, sim- pública. O vazio das ruas deu lugar a uma “epi-
patizo com a ideia de anima trazida por Hillman demia” de solidariedade entre vizinhos e a uma
(1976), conceito quase intercambiável com alma proliferação virtual de expressões artísticas com
e psique. Anima como alma, instância que nos mensagens de esperança e fraternidade. Com o
dá profundidade e significados às experiências consumo de insumos tóxicos reduzido, as águas
da vida, nosso campo psicológico em si. dos rios tornaram-se mais límpidas e o ar menos
Mas diferente de Hillman (1985) e sintônica poluído. As redes sociais tornaram-se a mesa
com Jung (2014) entendo também a anima vin- de confraternização de uma grande família que
culada a uma dinâmica matriarcal onde eros agora não mais se resumia aos familiares próxi-
prevalece sobre o poder. Anima como inclusão, mos de cada indivíduo, mas a todos os cidadãos
antídoto da competição selvagem e excludente. ao redor do mundo que, assim como cada um,
Anima como movimento de recolhimento e in- também estavam nas suas cavernas privativas
troversão, opondo-se ao chamado frenético do protegendo-se do inimigo em comum. A sombra
mundo externo rumo à realidade concreta. Ani- coletiva agora projetada no vírus tornara-se ex-
ma como guia de imersão no mundo imagético plícita e palpável. Num paradoxo típico da pós-
desenvolvendo nossa linguagem simbólica e, modernidade, nunca estivemos tão próximos a
portanto, psicológica. Assim sendo, será desse nossos irmãos ao redor do mundo quanto nas
feminino arquetípico, que aqui passo a denomi- primeiras semanas do isolamento. A tecnologia
nar de alma, que esse ensaio tratará. e a globalização tiveram um papel fundamental
O contexto gerado pela pandemia mobilizou nessa irmandade e, consequentemente, nessa
reflexões das mais diversas entre as quais a cons- esperança de um mundo mais anímico, criada
ciência do quão reduzido é o espaço cultivado no nesse primeiro período. Mas, o que realmente
cotidiano contemporâneo para a alma, trazendo clamava por mudança, a ponto de transformar-

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mos a agonia de milhares de mortes em esperan- sos filhos não podemos ceder, mas sim fazê-los
ça de um mundo melhor? obedecer, respeitando a ordem hierárquica de
Uma das hipóteses para essa expectativa poder. Também nas redes sociais busca-se o lu-
promissora no início do isolamento pode ser cro, no Facebook deseja-se receber um número
atribuída à sensação de que uma espécie de me- maior de likes, e no Instagram não basta ser fe-
mória coletiva do período da história da huma- liz, ostenta-se ser a mais feliz das pessoas. Até
nidade foi reativada, época em que o consumo mesmo a felicidade subordina-se à grande pri-
não guiava de forma onipresente os comporta- mazia capitalista. Convive-se diariamente com
mentos humanos. A experiência dessa imagem a asfixia da alma gerada por esse mercantilis-
inusitada originou a pergunta esperançosa se mo onde as palavras de ordem são entre outras
esse não seria o momento onde o capitalismo competir, vencer, acumular e excluir. Palavras
predatório teria finalmente se exaurido, encer- que reduzem o universo da alma. Assim como na
rando uma dinâmica anacrônica da qual somos síndrome respiratória causada pelo coronavírus,
todos cúmplices. Um sistema de funcionamen- também nos sentimos asfixiados com a falta de
to onde o homem contemporâneo age com os ar/alma (pneumo) que é o sopro da vida.
mesmos comportamentos de nossos ancestrais
que viviam em uma época de escassez, quan- (...) A palavra grega psyche tem um paren-
do a competição entre humanos caçadores se tesco muito próximo com esses termos,
justificava e a relação predatória se instalou. e está ligada a psycho, soprar (...) Estas
(RIBEIRO, 2019). A lei do mais forte era coerente conexões nos mostram claramente que os
com as condições precárias de sobrevivência nomes dados à alma no latim, no grego e
do homem paleolítico. A masculinidade bélica no árabe estão vinculados à ideia de ar
de Ares, com toda sua agressividade comba- em movimento, de ‘sopro frio dos espíri-
tiva, se fazia de fato necessária. Mas, hoje se tos’. (JUNG, 1986, par. 664)
observa homens caçadores guerreando entre si
num cenário de excesso e abundância de recur- Competir, vencer, ter e ser mais. O poder
sos. As defesas, antes criativas porque adapta- se sobrepõe a Eros. A educação de crianças,
tivas, tornaram-se destrutivas e incoerentes. os relacionamentos amorosos, as amizades e
No entanto, ao mesmo tempo em que a far- as múltiplas relações com o Outro se edificam
tura e o excesso nos definem enquanto homens sobre o poder, onde naturalmente haveria de
da pós-modernidade, também a má distribuição reinar eros. Importante relembrar que para Jung
desse potencial é igualmente verificada. No ce- (2013a) eros é entrelaçamento e relacionamen-
nário mundial, e fortemente no Brasil, os recur- to, diferente de Logos que é discriminação e de-
sos apesar de fartos não se disponibilizam a to- sapego. A lógica materialista e perversa desse
dos. O acúmulo de riquezas e a má distribuição capitalismo predatório inverte a natureza das
de rendas são os personagens principais dessa relações. Relacionamentos humanos de alteri-
novela que diariamente assistimos no cenário dade não dialogam com poder, mas se assim
capitalista. Somar e não dividir, excluir ao invés for, serão relações de submissão, dominação
de incluir, discriminar para diferenciar-se e as- e medo. O poder como força arquetípica legíti-
sim certificar-se cada um do seu valor. A sobera- ma deveria restringir-se a um determinado es-
nia capitalista é onipresente, levando seus man- paço nas relações humanas, mas extrapola sua
damentos, que imprimem medidas quantitativas abrangência derramando-se sobre todas as ou-
e hierárquicas, para todas as esferas do convívio tras esferas de trocas entre as pessoas. “O po-
humano. Nas relações amorosas não podemos der é um demônio tão grande, antigo e primor-
“estar por baixo”, ou “ser menos”. Com nos- dial quanto Eros” (JUNG, 1983, par. 42).

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Eros, subjugado pelo poder, desvia-se de seu mo do cotidiano precisa encontrar nas relações
caminho de aproximação criativa entre as pesso- amorosas sua maior expressão. No mito de Apu-
as, tornando-se ele mesmo um instrumento de leio, Psique precisa sair do desencantamento à
submissão, por exemplo, através das relações qual é jogada com a fuga de Eros e deve ir em
de prostituição e violência doméstica. Eros, a sua busca para finalmente pertencer ao mundo
força arquetípica que com suas flechas aproxi- dos Deuses.
ma as pessoas e une-se a Psique (à alma) não se A reflexão que se segue será, portanto, o de
faz presente, fazendo com que estejamos em um pensar a experiência da pandemia através do
mundo des-erotizado e consequentemente des- mito e seguir os rastros que o mesmo nos for-
-almado. No conto de Eros e Psique de Apuleio, nece para que Psique (alma) encontre Eros. A
Psique busca Eros e este se humaniza na união partir desse aprendizado, e nesse momento de
com Psique. A alma/psique sofre enquanto não uma vivência coletiva traumática, poderemos
encontra Eros. Dessa forma, em relação à inda- refletir: qual o caminho que o mito nos ensina
gação inicial, estar em um mundo des-erotizado, para que a alma, ao encontrar eros, possa “en-
cuja dinâmica predominante é a competição e o cantar” o mundo?
poder, é estar em um mundo onde a alma de fato Resumidamente, o mito relata a estória de
não encontra seu espaço. O progresso material é Psique, a filha mais bela de um rei que, orien-
um vírus que na sua eficiência burocrática para- tado pelo oráculo, a entrega para viver em um
lisa os pulmões da alma. Richard Tarnas (2007) castelo de riquezas ao lado de seu marido invisí-
assinala que diferente do mito do progresso, vel, o deus do amor, Eros. Apesar das ordens do
o mito da queda postula que o mundo ociden- marido de nunca conhecer sua identidade, Psi-
tal moderno encena uma tragédia, pois vive um que, instigada pela inveja das irmãs mais velhas
empobrecimento da vida humana, onde a alma de sua riqueza e conforto, acaba iluminando o
agoniza por se encontrar em descompasso com rosto do marido enquanto este dorme, desper-
o sagrado. O mundo desalmado e des-sacrali- tando o belo Eros com um pingo de óleo quente.
zado é um projeto que foi à falência, pois é um Ao perceber que foi traído, Eros foge do castelo
mundo sem recursos anímicos para lidar com as encantado deixando Psique desolada. Em seu
urgências humanas, por exemplo, num cenário desespero ela recorre à sua sogra, ignorando
de pandemia. que Afrodite era quem havia planejado seu rapto
por inveja de sua beleza. Dando continuidade ao
Admitir a modernidade significa declarar- seu plano contra Psique, Afrodite lhe impõe al-
-se voluntariamente falido. É fazer uma gumas tarefas para que possa encontrar Eros no-
nova espécie de voto de pobreza e de cas- vamente. Na primeira delas, Psique deve separar
tidade, e até mesmo renunciar – o que é e classificar vários grãos que estavam todos mis-
ainda mais doloroso – à aureola de san- turados, e apesar de ser uma tarefa impossível,
tidade que sempre exige a sanção da his- Psique consegue realizar, graças à ajuda de um
tória. O pecado de Prometeu foi ficar sem exército de formigas. Na segunda tarefa, a de re-
história. Neste sentido o homem moderno colher flocos de lã de ouro do dorso de carneiros
é pecador. (JUNG, 2013b, par. 152) violentos, Psique é orientada pela ninfa Cana a
colher as mechas de lã presas nos ramos das ár-
A alma do mundo (anima mundi) precisa ser vores assim que os animais adormecessem no
resgatada do seu sufocamento, de sua falta de frescor da tarde. Na terceira tarefa, Psique deve
ar, do enrijecimento de seus pulmões e, para levar à Afrodite um frasco de água do lago Estige,
isso, a troca erótica das psiques individuais é onde havia dragões saindo pelas cavernas late-
necessária. A alma trancafiada no materialis- rais. Com a ajuda de uma águia que a entrega um

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jarro da água, Psique é mais uma vez bem su- uma vez uma hipervalorização da matéria em
cedida. Ao perceber que Psique venceria todos detrimento à alma. Diferentemente das irmãs,
os obstáculos impostos, Afrodite lhe dá o golpe Psique apaixona-se não pelo que vê, isto é, a
final, pedindo-lhe que traga uma caixa com um aparência, mas sim pelo que sente e imagina
pouco da beleza de Persephone que se encon- ao lado do marido. Ao render-se às intrigas das
tra junto a Hades, no mundo dos mortos. Psique, irmãs, acreditando que seu amante poderia ser
com as instruções recebidas da Torre, consegue de fato um monstro, Psique é vítima da lógica
chegar a Hades e obter a caixa, mas não suporta materialista em que as mesmas estão inseri-
a tentação de ter um pouco da beleza para si e das. Como já mencionado acima, a sociedade
a abre. Ao abrir, o vapor que sai da caixa a faz pós-moderna, assim como Afrodite e as irmãs
desmaiar, mas Eros finalmente a resgata. Afrodi- invejosas, também se orienta por essa dialética
te acaba aceitando-a no Olimpo e Eros e Psique do poder através do desejo voraz de seus indi-
se unem em um laço eterno. víduos de se sobrepor ao outro. Esta devoção
O desenrolar do mito, que é a busca do à matéria e o consequente empobrecimento do
amor (Eros) pela alma (Psique), tem a inveja mundo imagético da alma na contemporaneida-
como mola propulsora: sentimento humano de é personificada nas imagens dessas mulhe-
que na sua polaridade criativa é um importan- res apresentando-se como uma dinâmica extre-
te caminho de conhecimento dos seus próprios mamente nociva ao cultivo da alma.
desejos projetados no outro, mas no seu as- Mas, quais os caminhos que o mito nos ofe-
pecto negativo pode tornar-se bastante nocivo rece para que nossas psiques se libertem desse
(BYINGTON, 2002). Na sua faceta destrutiva, a sufocamento e encontrem Eros nesse momento
inveja tornou-se um instrumento moderno de de asfixia coletiva? Como faremos para “respirar”
potencializar o valor de cada um no mercado melhor depois da pandemia de coronavírus? A
das redes sociais. Quanto mais desejo (inve- primeira orientação dada, ­o de separar os grãos,
ja) provoco no outro, mais valor é agregado à diz justamente da necessidade de discriminação
minha imagem pessoal. A lógica do poder no e colaboração. Não sairemos dessa massa con-
cenário pós-moderno alimenta-se da inveja. fusa de sentimentos e informações, que a crise
No mito é a inveja de Afrodite que instiga o mo- do Covid-19 desperta, sem a necessária precisão
vimento de Psique, numa expressão positiva de fatos e dados. A profusão de notícias falsas
de como esse sentimento pode nos mobilizar misturadas às informações fidedignas forma um
rumo aos nossos desejos. Mas, também é sua emaranhado confuso de conhecimento. A tarefa
inveja destrutiva e, posteriormente a das irmãs diária e o compromisso ético, que cada indiví-
em relação às qualidades e bens materiais de duo deve à sociedade são de, nesse momento,
Psique, que a afasta de Eros. Se por um lado discriminar o joio do trigo. A ignorância pulveri-
a deusa da beleza indica uma valorização à zada é prejudicial a toda coletividade.
estética e à sensualidade (BARCELLOS, 2019) A colaboração é a outra solução dada pelo
por outro também indica um apego à superfi- mito para que se enfrentem as múltiplas variá-
cialidade da aparência e à rivalidade. Barcellos veis que se apresentam em relação à doença.
ressalta a relação de Afrodite com seu amante A experiência da pandemia explicita os limites
Ares, o deus da guerra. Ambos são competitivos da dinâmica competitiva e perversa e o quanto
fazendo com que o par Afrodite e Ares, na sua na sua essência é ineficaz. O individualismo e a
polaridade negativa, reinem soberanos em uma briga pelo poder nada oferecem num momento
sociedade onde pessoas são objetos a serviço de traumas coletivos. A pandemia do coronaví-
do fundamento capitalista. Da mesma forma, rus mostrou que não há saúde para um indiví-
a inveja das irmãs de Psique expressa mais duo se não houver para toda a coletividade. Não

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conseguiremos administrar essa crise global se minosidade do ouro. Mas acima de tudo, como
não sairmos da lógica da concorrência para uma a própria máxima alqúimica diz aurum nostrum
de colaboração e empatia. Não haverá saída se o non est aurum vulgi (nosso ouro não é o ouro
indivíduo não estiver em conexão com uma nova comum), aqui não me refiro ao dinheiro literal,
perspectiva, abrindo-se e trocando com o que mas sim ao dinheiro como o símbolo dessa prá-
está ao seu redor. Em todo o mundo observou- tica capitalista que contamina todas as esferas
-se atitudes coletivas de solidariedade e muitas dos relacionamentos com sua dinâmica perver-
vezes, como no caso do Brasil, a iniciativa pri- sa e competitiva. Ao ser lançada aos carneiros
vada teve um papel importante suprindo a falta sob o brilho do sol, Psique é, portanto, impul-
de uma politica de saúde do governo, que ainda sionada a ser devorada pelo aspecto negativo
apegado a uma disputa de poder, não pode dar do complexo econômico e pela rivalidade que,
o suporte necessário para a crise que emergia. como já colocado, afasta a alma de Eros. A lã
Nesse quesito, fizemos a lição de casa. de ouro é o que Psique necessita, mas também
Na segunda tarefa é requisitado à Psique é o que representa o seu maior perigo. No de-
que leve à Afrodite uma mecha da preciosa lã correr da pandemia, a mesma encruzilhada se
de ouro do dorso de carneiros selvagens. Rafael fez presente. Se por um lado o desenvolvimento
Lopes-Pedraza (2010) nos lembra do simbolis- econômico clamava por continuar, por outro o
mo do carneiro ligado aos mitos solares. “Foi isolamento social e o consequente afastamento
assimilado ao sol e simboliza o poder destru- da rotina econômica eram as únicas chances de
tivo da consciência... parece ser então que se enfrentamento à maior crise de saúde pública
refere a uma consciência solar masculina, inci- já vivida. Logo, a solução apresentada para o
nerada e destrutiva” (LOPEZ-PEDRAZA, 2010, p. segundo desafio é de suma importância para a
85). Portanto, nesse segundo desafio, Psique alma/Psique e traz um importante ensinamen-
é explicitamente impulsionada à polaridade to, o da espera. Psique é orientada a esperar o
agressiva e destrutiva da consciência solar atra- cair da tarde quando o sol já está em declínio.
vés do contato direto com o brilho do ouro. Na Assim como Psique, deveríamos esperar até
alquimia o ouro é a meta da opus representan- que o frenesi do meio dia, com o calor da ig-
do a supremacia e perfeição da matéria. O ouro norância, desse lugar a um conhecimento mais
é o leão, o rei. “Podemos imaginar o desejo pelo sólido sobre a doença. Da mesma forma, outra
ouro como sentimentos já conhecidos: ser bom ambivalência se faz em relação à rapidez com
como ouro, nós mesmos e nossos cabelos dou- que as pesquisas científicas estão acontecen-
rados finalmente um só, estar permanentemen- do, que se por um lado são uma benção, por
te brilhando e sem manchas” (Hillman, 2011, p. outro são também uma maldição, pois compro-
362). Aproximar-se do ouro é, portanto, estar em metem o mecanismo de controle e a qualidade
uma dinâmica narcisista tão característica na dos resultados.
contemporaneidade como acima já menciona- No início o mundo entrou em um momento de
do. Não basta sermos bons, temos que ser bons espera. A corrida solar extrovertida deu lugar ao
como o ouro, sem manchas e sem sofrimento. silêncio das ruas e à introversão de cada indiví-
Outro aspecto diretamente relacionado a esse duo para dentro das suas cavernas à espera de
narcisismo dourado é o próprio valor econômi- um conhecimento de combate para um mal que
co acoplado ao ouro, originando há séculos a assombrou a população de forma geral. Era ne-
corrida da ganância pelo poder. Vale ressaltar cessário esperar dentro dos nossos templos de
que aqui não se pretende minimizar a importân- cura, suportar o isolamento como um meio para
cia do dinheiro, mas sim enfatizar a diferença a salvação. Infelizmente, para a grande maioria
entre a necessidade e a hybris causada pela nu- da população esse entardecer nunca foi real-

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mente viável. Aqueles cujas condições de vida Mas é nas mídias sociais que esse sentimen-
permitiram, fizeram de suas cavernas um entar- to se manifesta de forma mais explícita, através
decer onde o calor do meio dia já havia passado dos haters, aqueles cuja principal identificação
e pacientemente esperaram. Mas, lamentavel- é com o sentimento de ódio. No anonimato de
mente, o brilho e a sedução que o ouro exercem suas casas essas pessoas permitem-se vomitar
foram superiores à quietude da espera. O leão da suas sombras na intimidade daquele que muitas
situação econômica urrou alto, chamando todos vezes não é nada mais do que uma imagem a
para fora de suas cavernas, e a espera necessá- serviço das projeções alheias. Em mais um pa-
ria pelo frescor da tarde foi esquecida. No Brasil, radoxo da pós-modernidade, as redes sociais
com estatísticas ainda mostrando um número constroem pontes entre vizinhos distantes por
em torno de 1.200 mortes por dia por Covid-19, onde passam não apenas os amigos, mas tam-
(SANT’ANNA, 2020) os estabelecimentos comer- bém os inimigos.
ciais abriram suas portas novamente. Nossas No mito para superar o ódio, Psique recebe
psiques voltaram imediatamente ao conhecido a ajuda de uma águia. A águia é associada aos
jogo que nos convida à ação com seu enorme Deuses e graças à perspicácia do seu olhar, con-
espelho das vaidades, suprimindo mais uma vez segue fitar o Sol diretamente. Além de ser um
a possibilidade de um trabalho intrapsíquico e, símbolo de poder, força e coragem, a águia tam-
portanto, psicológico. O leão que urra também é bém representa um desenvolvimento espiritual
o da extroversão maníaca. capaz de conviver com o poder divino. Ao segu-
Mas, como sabemos, Psique continua em seu rar a jarra, símbolo do acolhimento feminino, à
desejo de encontrar Eros novamente. As tarefas águia configura uma espiritualidade que transita
que se seguem dizem respeito à necessidade de entre as duas polaridades: o masculino e o femi-
se enfrentar dois aspectos sombrios à psique: nino. Essa dualidade da águia também é descri-
o ódio e o medo da morte. ta por Hillman (2011) através de sua capacidade
Inicialmente, Psique é desafiada a levar a Afro- tóxica e curativa. Ele ressalta a característica de
dite um jarro de água do lago Estige de onde es- seu bico, que num primeiro momento lhe é útil
preitavam perigosos dragões. Etimologicamente, para sua alimentação, mas que de tanto crescer,
a palavra Estige está associada a ódio (KERÉNYI, adquire uma curvatura que a impede de se ali-
2006): sentimento frequentemente reprimido na mentar. O que alimenta também é o que mata.
sombra e, por esse motivo, mantendo-se incons- Psique consegue enfrentar o ódio com a aju-
ciente sem a devida elaboração. O ódio é, normal- da de um princípio masculino, mas que se apoia
mente, transferido a um objeto que representa um em uma estrutura feminina. A águia representan-
conteúdo que pertence ao indivíduo e que o mes- do um espírito dual mostra o quanto o diálogo
mo precisa interiorizar, isto é, projeta-se a som- entre polos opostos é necessário para o enfren-
bra em pessoas que personificam tudo aquilo que tamento dos sentimentos destrutivos que afasta
não queremos visitar em nós mesmos: o estranho a psique de seu caminho.
e desconhecido da psique. Muitas vezes o ódio é Durante a pandemia, no Brasil e em outros
projetado naquele que personifica a diferença de países, as projeções de ódio e a disputa de po-
classes, seja em direção ao mais rico ou ao mais der político estiveram no palco o tempo todo e
pobre, sendo o arquétipo do poder atualizado se sobressaíram à questão urgente de saúde
através dessa teia de projeções. Projeta-se o ódio pública. Uma cortina de fumaça provocada pe-
naquele que por uma condição social torna-se las gotículas de água do rio do ódio não permitiu
diferente do que, narcisicamente, chamamos de a visibilidade necessária para que a população
padrão. Um ódio por uma parte de nós mesmos, pudesse enfrentar a verdadeira situação emer-
reprimida e projetada no outro. gente que se apresentava. Vivemos algo pare-

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cido com o que José Saramago (1995) descreve gera disputas e ir em direção a Psique e seus va-
em seu livro “O ensaio sobre a cegueira”. Diante lores éticos. Acima de tudo, a morte resgata nossa
da situação de emergência pública os dragões humanidade.
da violência dominaram a situação e a popula- No Brasil, no entanto, falar em aceitação da
ção, também infectada por uma cegueira branca morte não é apenas simbólico, mas também li-
causada pela cortina de fumaça de gotículas de teral. Um movimento negacionista, inclusive li-
ódio, sentiu-se impotente para lidar com tama- derado pelo próprio presidente, disseminou-se
nha destrutividade. pelo país trazendo desdobramentos graves
Assim como Psique paralisou diante do de- para o enfrentamento da crise. Para muitos,
safio, nós também nos silenciamos diante da a Covid-19 era apenas uma leve gripe e que so-
guerra política que se fez baseada em ódio e ig- mente algumas pessoas que já eram debilitadas
norância. Não conseguimos driblar os dragões. por outras doenças morreriam − como se isso já
E o equilíbrio da águia não se fez presente. não fosse o suficiente para que o governo tomas-
A quarta e última tarefa de Psique é a que todos se as devidas medidas de prevenção. Mais uma
fomos forçados a realizar durante a pandemia. O vez, o complexo de poder encontrou uma forma
mergulho no mundo dos mortos. A pandemia do de se sobrepor a Eros.
Covid-19 trouxe o triste desafio de convivermos Tendo o acima exposto e dentro de uma
diariamente com um enorme número de mortes. perspectiva mítica, não realizamos as tarefas
Assim como Psique, também fomos convocados necessárias para que a alma alcançasse sua
a esse mergulho em Hades e, através desse con- meta. É fácil confirmar o que nossos olhos já
tato, ir ao encontro da alma. Como enunciado no vislumbram no cotidiano; provavelmente, não
início, para a psicologia arquetípica a vivência teremos um mundo mais almado após a pan-
da morte é uma das possibilidades de cultivo de demia. A ideia de que essa crise transformaria
alma: “ela carrega nossa morte; a nossa morte o estilo de vida das pessoas, tornando o mun-
está alojada na alma” (Hillman, 1985, p. 23). Mas, do mais erotizado e, portanto, mais anímico, é
à Psique, é também requisitado que traga a cai- mais uma das idealizações românticas às quais
xa de beleza que se encontra em Hades, uma vez nos apegamos de tempos em tempos e na qual
que a reserva de Afrodite está no fim. Da mesma projetamos a imagem de um novo Messias. Sua
forma, nosso mergulho em Hades também tem a vivência trouxe um sentimento de impotência
importância de se cultivar uma nova perspectiva e vulnerabilidade em proporções coletivas que
de beleza, já que a noção de belo vinculado à di- podem ser consideradas como a mola propul-
nâmica contemporânea narcisista, não atende às sora para uma nova consciência menos nar-
necessidades da alma. Nessa quarta tarefa, ad- cisista, mas que por si só não são suficientes
quire-se o aprendizado de que será somente atra- para dissipar uma dinâmica de poder já tão en-
vés da experiência da morte que conseguiremos raizada. Transformar incertezas da saúde públi-
resgatar uma outra qualidade do belo, não mais ca em uma questão política vinculada a poder
materialista e sim psicológico. O mito mostra que é um sintoma coletivo defensivo e ao mesmo
também existe beleza na finitude e nos estados tempo perverso. Fomos levados ao íngreme
depressivos e não apenas na vaidade da concre- rochedo com a esperança de sermos raptados
tude que gera rivalidade entre as pessoas. A be- por Eros disfarçado de monstro, mas o que não
leza em Hades resgata o antigo sentido de belo esperávamos é que nossas psiques seriam le-
para os gregos, como sabedoria e dignidade. A vadas pela verdadeira criatura monstruosa,
experiência de impotência, morte e medo susci- deixando-nos desolados em busca do amor. ■
tado pela pandemia, nos impõe a necessidade de
sairmos de uma identificação com a soberba que Recebido em 14/09/2020 Revisado em 18/11/2020

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Junguiana
v.38-2, p.9-20

Abstract
Will we be living in an even more soulful world post-pandemic?
Springing from the Hillmanian idea of affinity this at this time of collective trauma. In order
between the soul and death, this essay questions to discourse on this question, the author re-
whether the experience lived through during the lates the myth of Eros and Psyche in an attempt,
Covid-19 pandemic might provide an opportunity through its dynamic, to understand how the
for a more soulful world. Believing that the soul myth guides us in the search for Eros and, conse-
in a competitive society becomes de-eroticized quently, rescuing the soul. Brazil is the scenario
and a hostage of the power complex, the ques- in which this observation and interpretation is
tion raised is what would be the way to salvage being developed. ■

Keywords: Eros, power, soul, materialism, pandemic, Brazil.

Resumen
¿Viviremos en un mundo más anímico después de la pandemia?
Partiendo de la idea hillmaniana de afinidad sería el camino hacia este rescate en este momen-
entre el alma y la muerte, el presente trabajo se pre- to de trauma colectivo. Para discutir esto, la autora
gunta si la experiencia vivida durante la pandemia amplía el mito de Eros y Psique, tratando a través
de Covid-19 podría ser una oportunidad para un de su dinámica de entender cómo la narrativa nos
mundo más anímico. Creyendo que el alma en una guía en la búsqueda del eros y, en consecuencia,
sociedad competitiva está deserotizada y rehén del del rescate del alma. Brasil es el escenario donde
complejo de poder, la pregunta que surge es cuál tiene lugar esta lectura e interpretación. ■

Palabras clave: Eros, poder, alma, materialismo, Brasil.

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