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Fundamentos da

Combustão Industrial

Eng Wagner Branco


Zetec Tecnologia Ambiental Ltda
wagnerbranco@zetecambiental.com.br
www.zetecambiental.com.br

Consultoria e Treinamentos em Combustão Industrial,


Monitoramento de Sistemas de Queima, Fornos,
Caldeiras, Unidades de Processo.

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Fundamentos da Combustão Industrial

Conteúdo

1. Estequiometria das reações de combustão

2. Condições para combustão completa

3. Energia liberada durante a combustão

4. Eficiência energética da combustão

5. Formação e emissão de poluentes da combustão

5.1 Material particulado – MP

5.2 Fuligem

5.3 Monóxido de carbono - CO

5.4 Óxidos de enxofre – SOx

5.5 Óxidos de nitrogênio – NOx

5.6 Compostos orgânicos voláteis – COV’s

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Fundamentos da Combustão

1. Estequiometria das reações de combustão

Reações de combustão são reações químicas que envolvem a oxidação completa de um


combustível. Materiais ou compostos são considerados combustíveis industriais quando sua oxidação
pode ser feita com liberação de energia suficiente para aproveitamento industrial.

Os principais elementos químicos que constituem um combustível são carbono, hidrogênio e alguns
casos , enxofre. Estes elementos reagem com oxigênio, e na sua forma pura apresentam a seguinte
liberação de calor, segundo as reações:

C + O2  CO2 - 393.500 kj/kmol


H2 + ½ O2  H2O - 241.800 kj/kmol
S + O2  SO2 - 29.300 kj/kmol

A maioria dos processos industriais de combustão utiliza o ar ambiente como fonte de fornecimento
de oxigênio para a combustão. O conhecimento das necessidades de ar para combustão, bem como da
composição e volume dos produtos de combustão é fundamental para o projeto e controle de
equipamentos de combustão. A estequiometria química nos fornece os principais dados necessários aos
cálculos de combustão.

Os pesos atômicos dos principais elementos envolvidos em combustão, bem como a composição
do ar ambiente encontram-se nas tabelas abaixo:

Elemento Peso Atômico


Carbono 12
Hidrogênio 1
Oxigênio 16
Nitrogênio 14
Enxofre 32

Composição do ar Atmosférico

Elemento em massa em volume


Oxigênio 23,2% 21%
Nitrogênio 76,8% 79%
Relação molar O2/N2 3,76

Qualquer combustível convencional requer, de acordo com sua composição, uma quantidade
específica e calculável de oxigênio ( e portanto de ar, uma vez que este é o agente comum de
fornecimento) para atingir teoricamente uma reação completa. Menos do que essa quantidade, gera
perdas excessivas de calor através do gás de combustão. Na prática, a fim de se garantir combustão
completa, é utilizado um pouco mais do que a quantidade teórica necessária, por razões posteriormente
explicadas.

Para um composto simples tal como o metano, constituinte principal do gás natural, pode ser
escrita a equação de combustão:

CH4 + 2 (O2 + 3,76N2)  CO2 + 2H2O + 7,52N2

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Pela equação acima, temos que 1 mol de CH4 necessita de 2 moles de O2 para ocorrer combustão
completa. No caso de ar atmosférico, é envolvido obrigatoriamente mais (2 x 3,76) moles de N 2 no
processo de combustão. A princípio, admite-se que o N2 não participa das reações, e sai do processo não
modificado.
Com base nesses dados é possível calcular as massas de combustível e ar envolvidos, a partir dos pesos
moleculares dos componentes da reação:

Combustível: 1 mol CH4 = 16 gramas


Ar atmosférico: 2 moles O2 = 2 x32 = 64 gramas
(2x 3,76) moles N2 = 2 x 3,76 x 28 = 210,56 gramas

A/C = Massa de Ar_____ __ = 274,56 = 17,16


Massa de combustível 16

A relação Ar/Combustível estequiométrica em base de massa é 17,61 : 1

O cálculo estequiométrico como ilustrado acima permite determinar-se a relação A/C


estequiométrica para qualquer combustível de composição conhecida. Quando trata-se de combustível de
composição molecular indeterminada, como o caso da biomassa, ou com uma grande quantidade de
compostos envolvidos, como o caso de derivados líquidos de petróleo, deve ser conhecida a composição
elementar do combustível, que é a proporção, em massa, dos elementos químicos constituintes (C, H, S,
etc..). A partir desta composição elementar em massa, transformando-os em composição molar, o
processo de cálculo é o mesmo.
A tabela abaixo apresenta valores típicos da relação A/C estequiométrica para os principais
combustíveis utilizados no Brasil.

Relação A/C estequiométrica, valores típicos para alguns combustíveis:

COMBUSTÍVEL A/C ESTEQUIOMÉTRICA (EM MASSA)

Óleo combustível 1% S 14,3


Óleo combustível 3% S 13,9
GLP 15,5
Gás natural 16,4
Lenha (base seca) 5,97
Bagaço (base seca) 5,73
Lenha 25% umidade 4,5
Bagaço 50% umidade 2,9

Define-se o coeficiente de excesso de ar  como a relação entre o nº de moles realmente


utilizados na combustão e o nº de moles estequiométricamente necessário:

= N mol – realO2 = Mreal O2


N mol - esqO2 M esteqO2

Por exemplo, se um combustível for queimado com 20% de excesso de ar, então a proporção de
trabalho de ar/combustível é 1,20 vezes a proporção estequiométrica. O ar em excesso, então, não
participa diretamente da combustão, e sai do processo junto com os produtos da combustão.

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Como vimos, as equações de estequiometria química permitem o cálculo das necessidades de ar
de combustão e por conseqüência, a previsão da composição dos gases de combustão desde que:
- Seja conhecida a composição do combustível,
- Seja admitida combustão completa
- E seja conhecido o excesso de ar aplicado.

Da mesma maneira, se for conhecido a composição dos produtos de combustão, ou a fração molar de
um de seus componentes, é possível calcular-se o excesso de ar aplicado a análise química dos produtos
de combustão permite tal determinação e é um meio extremamente útil e confiável para controle do
processo de combustão. Os teores de CO2 e O2 são as medidas mais usadas para determinação do
excesso de ar através da análise dos gases de combustão. Desde que a composição elementar da
maioria dos combustíveis industriais não varia consideravelmente, é possível construir um gráfico que
relaciona o excesso de ar com o teor de CO2 ou O2 nos produtos de combustão.

As regras são simples:

 Ar em demasia desperdiça calor


 Ar de insuficiente desperdiça
combustível
 Combustível não queimado
causa poluição
 Melhor faixa operacional é
obtida com baixos excessos
de ar e baixo CO

Cálculo do excesso de ar ou do coeficiente de ar ‫( ג‬lambda)

O excesso de ar é dado pela seguinte expressão:

Exc ar = 20,9 . - 1 X 100


20,9 - %O2 med

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O2 x CO2 x Excesso de Ar
21

20

19

18

17

16
%CO2 ou O2 nos Gases de Combustão

15

14

13
Le
G

nh
LP

12 a

11 O2

10
CO
9 2

0 70
Percentagem de Excesso de Ar

O gráfico mostra o teor do O2 medido e a curva do CO2 calculado para vários combustíveis e a
percentagem do excesso de ar.

Exemplo: Medido o teor de 5% de O2 no gás de combustão da queima de óleo pesado, determine o CO2 e
o excesso de ar correspondente

R:
CO2 = 11,8%
Exc. Ar = 32%

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2. Condições para combustão completa

A combustão completa é obtida quando os elementos químicos componentes do combustível são


oxidados completamente para o seu mais baixo potencial química, portanto, C,H,S sejam oxidados
respectivamente para CO2, H2O e SO2.

Para que haja combustão é necessário reunir algumas condições especiais, a saber:
- temperatura suficiente para correr a reação
- tempo de permanência dos reagentes nesta temperatura
- contato físico entre combustível e oxidante, ou seja, uma boa mistura entre o combustível e ar de
combustão.

As condições acima são necessárias para que ocorra a maioria das reações químicas e as reações de
combustão estão incluídas. As reações químicas necessitam de uma energia mínima de ativação das
mesmas, e isto é obtido normalmente pelo aumento de temperatura. Uma vez que a reação inicia-se, é
necessário um certo tempo para que seja completada e daí a necessidade de um tempo de residência
nesta temperatura para a ocorrência de combustão completa. O contanto físico é obviamente necessário
já que os átomos do combustível juntam se a um ou mais átomos de oxigênio para ocorrer a combustão.
Num processo de combustão, estas condições são obtidas através de:

- uma fonte de ignição, para iniciar a reação


- uma câmara de combustão, para confinar a reação de um volume determinado, manter a alta
temperatura e suprir o tempo de permanência necessário e
- um dispositivo de mistura entre o combustível e ar: o queimador.
Uma vez que a combustão é iniciada, a temperatura do volume onde ocorre a combustão é mantida
pelo equilíbrio entre a geração de calor proveniente da queima do combustível e do calor transferido ao
meio, por exemplo, para gerar vapor ou aquecer algum material.

O queimador tem papel fundamental neste processo, já que o contato entre o ar e o combustível é feito
através deste dispositivo de mistura utilizando-se de efeitos aerodinâmicos tais como a turbulência para
promover a mistura ar-combustível. Com combustíveis gasosos, esta mistura é relativamente fácil de se
obtida na fase gasosa, situação onde ocorre as reações de combustão. Para combustíveis líquidos é
necessário que haja vaporização das frações leves e devolatização das frações pesadas de líquidos e isto
é obtido normalmente através do processo de nebulização de líquidos. A nebulização, transformando o
líquido em uma infinidade de gotículas, aumenta grandemente a área superficial de contato entre ar e
combustível, proporcionando condições para vaporização e mistura do mesmo.

Em combustíveis sólidos, algumas reações de combustão e devolatização iniciam-se no seio da


massa sólida, e mais uma vez, a área interfacial de contato entre combustível e ar é importante no
processo.

Para garantir o contato entre combustível e ar é utilizado, na prática um excesso de ar. O excesso de
ar deve ser maior quanto mais difícil for o contato e mistura entre combustível e ar. Assim, maior o
excesso de ar é necessário para combustíveis sólidos, diminuindo para combustíveis líquidos e é muitas
vezes até necessário para combustíveis gasosos.

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3. Energia liberada durante a combustão

O Poder Calorífico de um combustível é definido como a quantidade de calor desprendido pela


combustão completa do combustível. Se esta quantidade de calor é medida com os produtos de
combustão saindo completamente na fase gasosa, este é denominado Poder Calorífico Inferior. Se, por
outro lado, a água nos produtos de combustão for considerada na fase líquida, ou seja, com os produtos
de combustão à temperatura ambiente, o calor despendido é denominado Poder Calorifico Superior. A
diferença entre os dois valores é exatamente a entalpia de vaporização da água formada na combustão do
hidrogênio constituinte e da água presente no combustível na forma de umidade. O calculo do PCI
considera o teor de H constituinte do combustível e a umidade presente no mesmo, e deve ser feito
segundo a equação abaixo:

PCI = (1 – u) PCs – ( 1- u) 2440 (9H) – 2440u

Onde:

PCI: Poder Calorífico Inferior, base úmida (kJ/kg)


PCI: Poder Calorífico Superior (kj/kg)
H: teor de hidrogênio constituinte do combustível, base seca (kg/kg)
u: teor de umidade no combustível (kg H2O /kg) base umida

As medições de Poder Calorífico em laboratórios são realizadas em bomba calorimétrica com


temperatura do meio controlada próximo a temperatura ambiente, e o valor obtido é sempre o Poder
Calorífico Superior. A avaliação do PCI é feita a través da equação acima, e portanto deve ser conhecida
o teor de hidrogênio do combustível, ou pelo menos, estimado com algumas margens de segurança. A
maioria dos processos industriais tem seus produtos de combustão exauridos a temperaturas onde a água
esta na forma de vapor, e por esta razão o conhecimento do Poder Calorífico Inferior é útil e facilita os
cálculos de aproveitamento de calor.

4. Eficiência energética da combustão

O principal objetivo da queima de algum combustível é o aproveitamento de energia, geralmente


feito com a geração de vapor de água ou o aquecimento de algum material ou produto. Seja qual for o
processo, a energia introduzida ao sistema na forma do poder calorifico do combustível é transformado em
calor útil e perdas de calor conforme a equação:

Qu=  E 1 -  perdas
Onde :
Qu: energia útil produzida
E1: energia total que entra
 perdas: soma de todas as perdas de calor e energia na operação do sistema.
Definindo o rendimento térmico de equipamentos como a relação entre a energia útil produzida e a
energia consumida, temos que:

N=  E 1 -  perdas = 1- perdas


E1 E1

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É óbvio que a diminuição das perdas aumenta o aproveitamento da energia do combustível. A
principal perda de calor em equipamentos de combustão está contida no calor arrastado pelos produtos
de combustão e dispersados na atmosfera. Outras perdas são as perdas de calor através das paredes dos
equipamentos, o calor sensível de cinzas caídas no cinzeiro de combustores de sólidos, a radiação
através de frestas e portas de fornalhas, e diversas outras especificadas e inerentes a cada tipo de
equipamento.
Devido ao fato que na prática, a perda de calor por entalpia dos produtos de combustão é
normalmente a mais preponderante, o controle desta perda mostra-se extremamente útil.

Aplicando-se um balanço genérico de massa e energia num equipamento de combustão, a


porcentagem de perda de calor pelos produtos de combustão pode ser calculada através da equação:

P= [1+(A/C) esteq  Cp (Tg –Tar)


PC
Onde:
P: percentagem de perdas pelos gases de combustão
(A/C)esteq : relação Ar/Combustível estequiométrica do combustível
:: coeficiente de excesso de ar
Cp: calor especifico médio dos gases de combustão (1050 J/kg ºC)
Tg: temperatura de saída dos gases de combustão
Tar: temperatura ambiente

Através do exame da equação acima, conclui-se que duas variáveis importantes tem influencia na
perda de calor pelos gases de combustão:

- A temperatura de saída dos gases


- O coeficiente de excesso de ar

Para minimização das perdas, a menor temperatura de saída é desejável, com o objetivo de melhor
aproveitamento do calor sensível contido nos gases. A temperatura de saída nem sempre é possível de
ser controlada, já que dependendo do aumento da troca de calor dos gases com o fluído de trabalho ou
material a ser aquecido. Isto implica normalmente em aumento da área de troca de calor, que é um
parâmetro original do projeto e construção de equipamentos. O aumento da área de troca pode ser feito
através da adição de recuperadores de calor, pré-aquecendo o ar de combustão ou a água de
alimentação de caldeiras.
A limitação na redução de temperatura de saída dos gases está na temperatura de processo, já que há
sempre a necessidade de um diferencial de temperatura para haver transmissão de calor, e na
temperatura de orgulho dos produtos de combustão quando se trata de combustíveis com enxofre.

A outra variável é o excesso de ar, que deve ser mínimo até o limite onde possa ocorrer combustão
incompleta. Isto normalmente pode ser obtido através da regulagem do queimador com o menor excesso
de ar possível, identificando pela analise dos produtos de combustão, utilizando-se o teor de CO2 ou O2
para o controle de excesso de ar e CO ou HC totais para determinação de combustão completa.

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5. Formação e emissão de poluentes no processo da combustão

Rigorosamente é impossível atingir-se condições para combustão completa em processos de


combustão, e além de CO2 e H2O, é formado e emitido ao meio ambiente alguns poluentes atmosféricos.
Além disso, mesmo o produtos de combustão completa, como o SO2 é considerando um poluente.

Assim, os processos de combustão produzem e emitem normalmente os seguintes poluentes


atmosféricos:
- Material particulado
- Monóxido de carbono : CO
- Óxidos de enxofre; SO2 e SO3
- Óxidos de nitrogênio NOx
- Compostos orgânicos voláteis e outros produtos de combustão incompleta.

5.1 Material Particulado - MP

A formação e emissão de material particulado ocorre principalmente na combustão de combustíveis


sólidos e líquidos, sendo que é resultado de duas fontes principais:

- Material inorgânico presente no combustível (cinzas)


- Fuligem formada pela combustão incompleta.

As cinzas volantes são óxidos de elementos inorgânicos constituintes dos combustíveis, tais como
CaO, Al2O3, KO, etc... Sua formação e emissão depende fundamentalmente do teor de cinzas presente no
combustível, normalmente maior em combustíveis sólidos. Óleos combustíveis pesados também
apresentam algum teor de cinzas, que pode chegar até 0,1% em massa. O arraste das cinzas pelos
produtos de combustão dependem do sistema de combustão. Para combustão de líquidos o arraste é
praticamente total, enquanto que para combustíveis sólidos em grelha ou similar, o arraste de cinzas
depende do projeto do sistema do queimador e das condições de operação.

5.2 Fuligem

Fuligem é o produto de combustão incompleta de frações orgânicas do combustível. A fuligem


pode ser formada devido a recombinações de voláteis ou frações leves de combustível, sob condições
especificas, ainda não muito bem conhecidas e determinadas. Pode ser formada também devido a
devolatização incompleta de gotas ou combustível sólido, os quais não tiveram tempo, temperatura e
oxigênio suficiente para oxidação completa.
A formação de fuligem é indesejável do ponto de vista ambiental e também de aproveitamento de energia,
já que representa combustível não queimado, porém pode ser importante para certas condições de
transferencia de calor, já que a fuligem é a maior responsável pela emissividade de radiação térmica da
chama. No núcleo da chama, a emissão de radiação é devido a existência de fuligem, ou partículas de
carbono incandescentes.

As principais razões de formação de fuligem são:


- Falta de ar de combustão, ou mistura não homogênea
- Pulverização deficiente (gotas grandes)
- Zonas de baixa temperatura (interrupção da combustão)

A perfeita nebulização de líquidos (com formação de diâmetro pequeno de gotas) e a mistura


homogênea de ar e combustível normalmente evitam a emissão de fuligem.

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5.3 Monóxido de Carbono - CO

O monóxido de carbono é produto da combustão incompleta de C e pode ser formado devido à


dissociação do CO2, que ocorre em altas temperaturas, segundo a reação:

CO2  CO + ½ O2

ou devido a não oxidação completa de CO formado pela devolatização de sólidos ou gotas de


combustíveis líquidos. A prática mostra que a formação de CO é sempre acompanhada pela formação de
outros produtos de combustão incompleta e o seu teor nos produtos de combustão pode ser utilizado
como um indicador de combustão incompleta. Queimadores industriais bem regulados emitem CO da
ordem de 30 a 150 ppm e um aumento nesta taxa de emissão é normalmente acompanhado pela emissão
de fuligem e outros produtos.

5.4 Óxidos de enxofre - SOx

A combustão de produtos contendo enxofre origina dióxido de enxofre como produto de combustão
através da reação:

S + O2  SO2

uma parcela de SO2 produzido na câmara de combustão, conforme as condições de temperatura e


excesso de ar é oxidado até SO3, conforme a reação:

SO2 + ½ O2  SO3

Esta reação ocorre também na atmosfera, e é ativada pelos raios ultravioletas do sol.
Nas partes mais frias do processo, ou após o efluente gasoso ter sido exaurido para a atmosfera,
a umidade dos gases, ou do ar atmosférico reage com o trióxido de enxofre produzindo ácido sulfúrico.

H2O + SO3  H2SO4

Os gases ácidos de enxofre são um dos principais causadores da chuva ácida, juntamente com
óxidos de nitrogênio. A emissão de óxidos de enxofre é altamente indesejável e seu controle e prevenção
tem dispensado grandes esforços em tecnologia e investimentos Carvão mineral e óleos combustíveis
pesados são os principais insumos energéticos que contém enxofre, no caso de óleo combustível, a
presença de alguns metais, como o vanádio, catalisa a reação de produção de trióxido de enxofre
aumenta mais o potencial corrosivo dos gases de combustão. A presença de ácido sulfúrico nos produtos
de combustão aumenta a temperatura de orvalho dos gases e ácido sulfúrico, o qual pode ser condensado
nas partes mais frias do equipamento, danificando-o rapidamente.
O ponto de orvalho dos produtos de combustão contendo óxidos de enxofre depende fortemente da
associação do SO2 para o SO3, cuja taxa de reação é difícil de prever, pois tem dependência do histórico
de temperatura dos gases de combustão e do excesso de ar. Em condições normais num gerador de
vapor, a formação de SO3 é de cerca de 0,01 a 3% do SO2 calculado estequiométricamente

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A figura abaixo mostra o ponto de orvalho dos gases de combustão típicos para óleos combustíveis:

Ponto de orvalho para gases de combustão de óleos combustíveis, valores típicos .


(fonte: Combustão e Combustíveis Industriais, Esso Bras. de Petróleo S.A)

Na combustão de combustíveis contendo enxofre não há como evitar a formação de seus óxidos. O
controle ambiental é feito absorvendo os gases ácidos em uma corrente nebulizada de líquido alcalino,
através de lavadores de gases, e neutralizando-os em sulfatos e sulfitos. Em alguns casos especiais, a
absorção é feita “in situ” utilizando-se a tecnologia de combustão em leito fluidizado com a adição de
calcário, absorvendo o enxofre em meio sólido, no interior da câmara de combustão, através da produção
de sulfatos.

5.5 Óxidos de Nitrogênio - NOx

No estudo da estequiometria da combustão o nitrogênio contido no ar atmosférico não foi considerado


como participante das reações. Embora tal consideração seja aceitável para o cálculo estequiométrico das
necessidades de ar e do excesso de ar, isto não é rigorosamente verdade devido as condições de altas
temperaturas e ambiente altamente relativo. Na chama, o nitrogênio do ar pode ser dissociado e
recombinado com oxigênio formando o óxido nítrico:

N2 + O2  2NO

Reações secundárias na atmosfera, ativadas pela radiação ultravioleta e por hidrocarbonetos


produzem a partir do óxido nítrico, o dióxido de nitrogênio.

Os óxidos de nitrogênio contribuem par a formação de chuva ácida através da combinação com
umidade, formando ácido nítricos. A presença de NOx na atmosfera, tem sido relacionada com diversos
efeitos na saúde humana e diminuição da produtividade de culturas agrícolas. A preocupação em relação
ao NOx é relativamente recente, em comparação com outros poluentes atmosféricos conhecidos, e deve
tomar grande importância em um futuro próximo.
A formação de NO não é justificada pela simples reação mostrada anteriormente. Uma sequência de
reações, altamente dependentes da temperatura devido a sua elevada energia de ativação constitui o
denominado mecanismo de Zeldovich, proposto em 1947:

O + N2  NO + N
N + O2  NO + O
N + OH  NO + H
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Desde então, diversas teorias tem sido propostas para explicar e prever a formação dos óxidos de
nitrogênio. São três as rotas básicas que se admite para explicar a formação de NOx:

- O NO térmico, correspondente ao mecanismo de Zeldovich


- O NO rápido, proveniente da reação do nitrogênio com radicais de hidrocarbonetos que são formados
na base da chama e
- O NO combustível, proveniente da oxidação do nitrogênio constituinte do combustível.

A mais importante destas rotas é a do NO térmico, que ocorre nas regiões de altas temperaturas no
interior da chama.
O controle pós-combustão da emissão de NOx é muito difícil, já que o NO é pouco solúvel em meio
aquoso, impossibilitando a absorção tal qual se faz com o SO 2;. A formação de NO deve ser controlada
no processo, evitando-se as duas condições principais que colaboram para a produção do NO térmico:
- Altas temperaturas locais
- Alto excesso de ar

Este controle só pode ser feito através do projeto adequado do queimador e câmara de combustão,
utilizando-se diversos artifícios, tais como:
- combustão estagiada: com a adição gradativa de ar, ou adição gradativa de combustível para controle
das temperaturas de reação e da concentração de oxigênio livre.
- Recirculação dos produtos de combustão, internamente através do projeto aerodinâmico do
combustor, ou externamente através do retorno de parcela dos produtos de combustão à base da
chama. Equipamentos que se utilizam deste artifício são os chamados queimadores de baixo NOx e
tem sido gradativamente desenvolvidos e disponibilizados pelos fabricantes de equipamentos de
combustão.

5.6 Compostos Orgânicos Voláteis – COV’s

Diversos compostos orgânicos voláteis podem ser emitidos pelo processo de combustão e são
originados principalmente da combustão incompleta do combustível. Estes compostos podem ser parcelas
do próprio combustível que não conseguiu ser queimado e saiu junto com outros produtos de combustão,
ou compostos formados a partir de radicais hidrocarbonetos não oxidados completamente. A medição
destes compostos nos produtos de combustão é denominado de hidrocarbonetos totais e juntamente com
o monóxido de carbono pode ser utilizado como um indicador de combustão completa para fins de
controle do processo de combustão.
As principais razões de formação de HC totais nos gases de combustão são basicamente as mesmas
para a formação de CO e outros produtos de combustão incompleta:

- Mistura não homogênea entre combustível e ar


- Má distribuição do tempo de residência dos gases
- Esfriamento da chama, interrompendo as reações.

* * *

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