Você está na página 1de 21

03

Trilha 03 Processos atencionais – continuação


Sumário

1 Introdução ao estudo da trilha de aprendizagem p. 4


2 Explorando os conceitos – parte 1 p. 6
3 Explorando os conceitos – parte 2 p. 9
4 Síntese p. 18
5 Referências p. 20
4
Introdução ao
estudo da trilha de
aprendizagem

Você já reparou na quantidade de elementos distintos que


somos capazes de processar ao mesmo tempo? Como é
possível alternarmos nossa atenção para assistir a uma
aula, fazer anotações e ler as informações de um quadro?
O que acontece com a nossa concentração em ambientes
permeados de estímulos ao nosso redor? Como é possível
que façamos tarefas corriqueiras simultaneamente, por
exemplo: comer e manter uma conversa ou dirigir e escutar
música?

Essas são algumas das perguntas que poderão ser


respondidas no decorrer desta trilha e que contribuirão para
o entendimento da atenção em distintos componentes de
processamento e complexidade, como essas habilidades
estão relacionadas à capacidade de realizarmos desde
atividades simples até aquelas consideradas mais exigentes e
quais condições circundam o seu funcionamento.

Os processos atencionais constituem mecanismos


elementares desde a nossa própria subsistência até o
modo como nos relacionamos com o mundo. A interação
com um ambiente diverso integrado com seres vivos em
seus múltiplos aspectos e peculiaridades caminha com o
desenvolvimento e aperfeiçoamento de nossas habilidades
em muitas esferas. Com as funções atencionais, não é
diferente. O caráter de crescente complexidade em seus
mecanismos nos confere uma gama de aptidões.

Nesta terceira trilha de aprendizagem, prosseguiremos com o


estudo das funções atencionais e você vai compreender com
mais detalhes seus subcomponentes: atenção sustentada,
5 amplitude atencional, atenção seletiva, atenção alternada,
atenção dividida.
6
Explorando os
conceitos – parte 1

Provavelmente você já passou por situações em que, após


algum tempo dedicado a uma atividade de forma concentrada,
gradativamente começou a cometer erros simples. Assim
como você já deve ter passado por experiências em que
foram necessários níveis de esforços diferentes da sua
atenção, como por exemplo, preparar uma refeição, fazer
anotações durante uma aula ou reunião longa ou escrever
uma mensagem enquanto escuta alguém falando.

É interessante refletirmos, ao final de um dia agitado ou


de uma semana atarefada, sobre como somos capazes de
estar atentos a tantas informações ou por que precisamos
nos esforçar mais para algumas atividades aparentemente
simples do nosso dia a dia.

Como é possível sustentar a atenção por alguns minutos


ou horas em uma leitura? O que acontece com a nossa
atenção enquanto estamos realizando várias atividades
simultaneamente? Que habilidades são essas?

Para que possamos compreender melhor os conceitos


abordados nesta trilha de aprendizagem, sugiro que observe
a imagem a seguir:
7

Você consegue imaginar para quantos alvos a mulher da


imagem está dividindo sua atenção? Ela está concentrando
o seu foco em alguma tarefa mais específica? Como ela
aparenta estar se sentindo? Será que ela teria conseguido
finalizar todas as atividades que está realizando? Caso
imagine que ela tenha conseguido, como você avaliaria o
resultado final dessa cena?

Podemos observar que a mulher da imagem está dividindo


sua atenção para várias situações. É possível que ela tenha
se atrapalhado em alguma tarefa, tenha deixado a comida
cair em sua roupa, ou derrubado a caneca, ou digitado algo
equivocado. Da mesma forma, também poderíamos imaginar
um cenário oposto, em que ela tenha conseguido realizar
tudo, pois adquiriu experiência nessa rotina e possivelmente
no final sentiu-se cansada ou esgotada.

Esse breve exercício nos instiga a pensar sobre o quão


complexo pode ser o processamento atencional do nosso
cérebro, a ponto de ser possível lidar com uma grande
quantidade de informações. Já parou para pensar em como
nos concentramos naquilo que é mais relevante por alguns
instantes mesmo com muitas interferências ao redor, como o
barulho na rua, os colegas conversando enquanto você tenta
8 prestar atenção ou aqueles pensamentos que não saem da
cabeça? Como rapidamente finalizamos etapas diferentes
de uma atividade ou mudamos para outra mais fácil ou mais
difícil sucessivamente ou como realizamos coisas diferentes
de forma simultânea?

A jornada de estudos que busca entender o refinamento


dos processos atencionais tem sido crescente. A rotina no
mundo contemporâneo é gradativamente mais demandante
da eficiência de nossas competências. Com isso, é possível
observar como se expressa o desenvolvimento de novas
habilidades e, paralelamente, também nos aproximamos do
conhecimento de nossos limites, à medida que analisamos
os fatores que participam da orquestra do funcionamento da
cognição. Nesta trilha, nos debruçaremos sobre o estudo de
diferentes aspectos da atenção.
9
Explorando os
conceitos – parte 2

Embora a atenção seja um termo frequentemente


utilizado em nosso dia a dia para nos referirmos à busca e
manutenção do foco em determinada situação, trata-se de
um conceito amplo, estudado de forma aprofundada pela
comunidade científica e que, atualmente, carrega importantes
contribuições das Ciências Psicológicas e das Neurociências
acerca dos avanços no entendimento dessa função cognitiva.

Os experimentos e modelos propostos até a década de


70 estiveram empenhados em compreender a atenção
a partir dos fenômenos de interesse. A complexidade
do funcionamento da atenção foi explicada a partir de
sistemas de filtragem (modelo do gargalo, efeito coquetel),
interações modais (modelo multimodal) e posteriormente
surgiram alguns experimentos que se ativeram ao estudo
da atenção em níveis de processamento (processos
automáticos e processos controlados). Por se tratar de uma
atividade cognitiva cujas características de funcionamento
transpassam desde a importância vital até aquelas de nível
! Ao longo deste de processamento superior, os modelos propostos e
componente investigações em andamento ainda são insuficientes
curricular,
de forma isolada para um entendimento integral dos
trataremos com
processos atencionais em sua complexidade.
mais detalhes o
modelo cognitivo
da atenção que Ao longo do século XX, os estudos de lesão e a expressão
abrange o nível de cognitiva e comportamental de alterações cerebrais
funcionamento do conduziram a essência dos estudos científicos da
sistema atencional
Neuropsicologia. Esse amplo campo de estudos das
recrutado para
tarefas mais Neurociências enfrenta grandes desafios investigativos
complexas, aquelas na exploração científica da relação entre o funcionamento
que envolvem cerebral, o comportamento e as emoções. O desenvolvimento
maior quantidade de pesquisas nessa perspectiva, considerando ainda a
de informações
ou mudanças de
cenário.
10 riqueza de dados clínicos, confere à ciência Neuropsicológica
relevante contribuição para o entendimento dessas relações.
No decorrer desta trilha de aprendizagem, vamos estreitar
a compreensão dos aspectos atencionais sob a ótica de
organização da Neuropsicologia.

Os estudos neuropsicológicos caracterizam a atenção em


alguns subcomponentes, incorporando ao entendimento
teórico o aspecto clínico, a partir do estudo das relações
entre o desempenho cognitivo, a expressão comportamental
e a dinâmica emocional.

As habilidades atencionais são divididas em cinco aspectos


que envolvem a sua sustentação, seletividade, alternância,
divisão e amplitude. Agora, gostaria de propor um desafio.
Para facilitar o entendimento desses componentes, vamos
tentar imaginá-los funcionando isoladamente. Veja as
situações a seguir: (1) assistir a um filme; (2) procurar um livro
específico em uma estante cheia de outros livros; (3) fazer
uma tradução simultânea.

Então, você conseguiria identificar quais aspectos da atenção,


dos cinco tipos de atenção citados anteriormente, possuem
maior demanda em cada uma dessas três situações? Tente
responder e, ao final da apresentação dos conceitos, vamos
ver como você se saiu.

A atenção sustentada refere-se à capacidade de manter


a consistência de respostas por longos períodos. Quando
fazemos a leitura de um livro, escrevemos um texto
ou assistimos a uma palestra, é necessário que nosso
foco atencional esteja concentrado no estímulo-alvo da
atividade em andamento para que seja executada de forma
efetiva. A efetividade dessa função envolve o tempo
de sustentação junto à constância e conservação de
qualidade da resposta à tarefa. Alguns autores entendem a
concentração e a sustentação da atenção como componentes
que se sobrepõem, já outros explicam essas atividades como
ocorrendo separadamente.
11
... Você já deve ter passado por isso, então convido você a
imaginar uma situação para ilustrar melhor esse conceito.
Imagine que você se propôs a fazer a leitura de algumas
páginas do livro de cabeceira antes de dormir e, após
35 minutos, começou a sentir a necessidade de retomar
algumas vezes um parágrafo ou algumas linhas para dar
seguimento à leitura. Nessa situação, é possível que a sua
capacidade de manter-se atento esteja declinando. Algumas
explicações são possíveis, como por exemplo, você pode
estar sentindo sono e, portanto, o seu sistema de alerta está
rebaixado ou você pode ter passado um dia estressante e
algumas preocupações sobre o dia seguinte vieram à sua
mente. Diante desse cenário, a sua atenção sustentada para
a leitura não mantém mais o mesmo padrão de resposta
que alcançara nos 35 minutos anteriores. Com isso, a nossa
suscetibilidade à distração torna-se aumentada, fica cada
vez mais difícil preservar o mesmo desempenho.

Você pode observar que é muito comum ocorrer uma variação


da qualidade do nosso rendimento quando sustentamos
a atenção em tarefas longas ou repetitivas. Essa variação
diz respeito a nossa amplitude atencional, um segundo
aspecto da atenção. Trata-se de uma medida da quantidade
de informações em que conseguimos apreender nossa
atenção, nos manter atentos e concentrar nosso foco. Ela
tem uma relação íntima com processamentos cognitivos mais
complexos, pois está atrelada a um nível de trabalho mental
com os elementos.

E para você, como é? Consegue se lembrar em quais


atividades você precisa dedicar maior tempo de
concentração? Quanto tempo você costuma render nessas
atividades? É comum escutarmos orientações sobre um
ambiente ideal para estudar, trabalhar ou fazer atividades
que exijam uma dedicação de seu foco atencional por longos
períodos. Em geral, elas envolvem exemplos de minimização
de distratores, como locais com bom isolamento acústico e
baixa quantidade de informações no campo visual. Sustentar
12 a atenção em ambientes com menor nível de poluição
por interferências pode favorecer o processamento de
sustentação do sistema atencional.

O terceiro componente já não é novo para nós, mas para


recapitularmos: trata-se da atenção seletiva. Esse
processamento compreende a capacidade de selecionar
um estímulo ou um conjunto de estímulos em detrimento da
supressão de elementos distratores. Esse é um dos conceitos
sobre o qual os pesquisadores mais debruçaram os estudos,
embasando muitos modelos compreensivos do sistema
atencional. A necessidade de manter interferências fora do
circuito de processamento relevante para focalizar a atenção
ao estímulo de interesse confere à seletividade importância
fundamental.

... Vamos retomar aquele exercício da leitura? Quando


levantamos a possibilidade de que pensamentos de
preocupação estariam conturbando sua capacidade
de sustentar a atenção durante a leitura, o processo de
seletividade também apresentou uma queda em seu
funcionamento. O que ocorre é um aumento gradativo da
dificuldade em priorizar a leitura e suspender a atenção
para o processamento dos distratores. Os elementos de
interferência podem ser de matriz externa (campo auditivo
ou visual do ambiente) ou interna (pensamentos, memórias).

O quarto componente é a atenção alternada. Esse nível de


processamento possibilita a alternância voluntária do foco
de atenção entre um estímulo e outro ou entre uma tarefa e
outra. É possível visualizar as expressões dessa habilidade
quando precisamos modificar o direcionamento de nossa
atenção para tarefas de natureza ou complexidade diferentes.
Você já precisou ler um manual, guia ou um passo a passo
para realizar uma instalação, montagem, configuração ou
cozinhar uma receita nova? Esse é um exemplo típico do
exercício da alternância dos processos atencionais. Nessas
situações, primeiramente dedicamos o nosso foco ao
entendimento das instruções, orientações ou esquemas
13 e posteriormente o foco é direcionado à prática do que foi
absorvido. Nesse momento, outros níveis de exigência do
sistema atencional são recrutados. Eventualmente, pode ser
que haja a necessidade de recapitular algum tópico no seu
manual para se certificar dos processos ou ainda, de repente,
alguém adentra o recinto e faz alguma solicitação, você então
interrompe o que está fazendo, atende ao pedido e retorna
para sua atividade anterior. Durante essas situações, foi
necessário que o seu engajamento atencional passasse por
um “revezamento” para oferecer o foco atencional pertinente
à exigência de cada estímulo ou contexto.

! Alguns autores O quinto componente é a atenção dividida. A proposta


consideram desse conceito figura a partir do entendimento de que é
que a divisão
possível que o cérebro processe simultaneamente estímulos
atencional se trata
ou tarefas distintas. Esse conceito é amplamente traduzido
de uma alternância
muito rápida do como a capacidade de ser uma pessoa multitarefa. Se você
engajamento mora em uma grande metrópole, certamente já vivenciou a
da atenção exigência de dividir a atenção para uma alta quantidade de
entre atividades informações. Chamar um táxi por aplicativo eletrônico, pagar
diferentes, de forma
uma conta pela internet, gerenciar todas as abas abertas no
que se sobreponha
à definição do navegador do seu computador, almoçar enquanto participa de
componente de uma reunião de negócios são algumas das atividades de uma
atenção alternada. lista imensa que compõe a rotina de muitas pessoas. Todavia,
será que é de fato possível processarmos mais de uma tarefa
ao mesmo tempo? Quando imaginamos uma pessoa que
caminha enquanto responde mensagens no celular, em geral,
para que uma situação como essa ocorra, é necessário que
o ato de caminhar seja um aprendizado sólido e que já esteja
no “modo automático” para o nosso cérebro. Portanto, não é
necessário alternar o foco atencional para essa tarefa. Seria
possível, então, nos dividirmos entre uma tarefa de baixa
demanda atencional (caminhar - processo automático) e outra
que requer maior envolvimento de nossa atenção (responder
as mensagens - processo voluntário).

Alguns estudiosos defendem que pessoas que conseguem


prestar atenção a mídias simultâneas não discriminam o
alvo em que alocam sua atenção e acabam desenvolvendo
14 uma habilidade que Ophir e colaboradores (2009 apud
EYSENCK & KEANE, 2017, p. 187) denominaram “controle
cognitivo baseado na amplitude”, ou seja, elas trabalham com
as informações de forma mais ampla com baixa exigência
de um processamento que diferencia cada uma delas.
Alzahabi e Becker (2013 apud EYSENCK & KEANE, 2017,
p. 187) direcionaram as investigações em experimentos
que envolviam a troca de tarefas e sugeriram que a
constante prática poderia melhorar alguns aspectos do
controle atencional. Um experimento realizado por Spelke
e colaboradores (1976 apud EYSENCK & KEANE, 2017, p.
187) propuseram a dois estudantes um treinamento de cinco
horas por semana por quatro meses. Eles teriam que ler
histórias curtas enquanto anotavam palavras de um ditado.
O desempenho deles após seis semanas apresentou ótimos
resultados e com mais tempo eles eram capazes de, além
de fazer uma boa leitura compreensiva, categorizar as
palavras do ditado. A discussão sobre o entendimento do
funcionamento da divisão atencional como um processamento
simultâneo (paralelo) ou de alternância eficiente (serial)
ainda suscita muitas controvérsias entre os pesquisadores,
portanto maiores investigações e medidas avaliativas mais
elaboradas são necessárias para aprimorar as conclusões.

Agora que já abordamos um pouco uma proposta de divisão


de aspectos da atenção, vamos retomar aquele desafio lá do
início? Em quais respostas você pensou ao identificar um
componente atencional para cada uma das três situações?
Na primeira, (1) assistir a um filme demanda de nossa
capacidade de sustentar o foco atencional em uma atividade
por um período relativamente longo, em média uma hora e
meia, portanto, pensar em atenção sustentada seria uma
boa escolha. Na situação seguinte, (2) procurar um livro
específico em uma estante cheia de outros livros envolve a
capacidade de selecionar um alvo, aquele livro específico
que gostaria de continuar a leitura, e procurá-lo em meio aos
distratores (outros livros). Aqui, uma boa escolha seria pensar
em atenção seletiva como aspecto mais exigido na situação.
Na última situação, vamos pensar no trabalho de uma pessoa
15 que faz (3) tradução simultânea, como costuma ocorrer
anualmente nas premiações de Oscar, por exemplo. Vamos
pensar que, nesse caso, o apresentador precisa oferecer ao
público que assiste uma tradução compreensiva a respeito
do que é falado, ao mesmo tempo em que escuta um nativo
de outra língua falar em outro idioma. Aqui, é um pouco mais
complicado quando nos colocamos a pensar sobre o tempo
em que os processamentos ocorrem. Quando estamos como
espectadores, o modo como observamos é na maioria das
vezes simultâneo, portanto seria uma boa opção pensar que
ele está dividindo sua atenção entre duas tarefas ao mesmo
tempo e a melhor opção de resposta seria atenção dividida.
Entretanto, poderia haver controvérsias se pensarmos que
na verdade ele está de uma forma muito rápida alternando
entre as duas atividades e, então, consideramos a atenção
alternada como uma possibilidade. Talvez ele tenha exercitado
essa habilidade por tempo suficiente para que a alternância
de processamento entre tarefas seja muito eficiente e,
então, outra opção de resposta seria a atenção alternada.
Fato é que essa é uma tarefa hipotética para que possamos
apreender melhor as especificidades do funcionamento
dos processos atencionais, mas sabemos que na realidade
esses componentes não atuam isoladamente. Pelo contrário,
cada vez mais os avanços científicos tendem para uma
compreensão de que mesmo níveis mais básicos de
processamento de informação atuam com influência de
processamentos mais complexos (superiores).

É bastante comum e atual associarmos as habilidades


atencionais com a crescente demanda de nos tornarmos
cada vez mais multitarefas, especialmente no trabalho,
como uma característica irrevogavelmente benéfica. Alguns
pesquisadores caminham no sentido contrário desse
raciocínio, sugerindo que ser multitarefa pode diminuir
a qualidade do resultado de todas as multitarefas que
executamos, pois estamos promovendo ao nosso cérebro
frequentes sobrecargas.
16
+ Um exemplo interessante está no trecho da palestra desse
designer de produtos, Paolo Cardini, divulgado em 2012, que
leva os espectadores a se perguntarem se “ser multitarefa”
realmente nos ajuda a ser mais eficientes. Ele lançou um
projeto de incentivo à monotarefa para auxiliar as pessoas
a lidar melhor com uma vida inundada por multitarefas.
Disponível em: https://www.ted.com/talks/paolo_cardini_
forget_multitasking_try_monotasking?language=pt-
br#t-27194.

Você já deve ter se percebido distraído em alguns momentos


e deve conhecer alguém muito distraído ou até mesmo
aquelas pessoas com ótima capacidade de atenção. Vamos
pensar agora, o que você acha que diferencia nossa atenção
da de outras pessoas? O modo como nosso cérebro se
desenvolve desde o período pré e perinatal junto aos
fatores hereditários e ambientais, ou seja, praticamente
todos os elementos que fazem parte da história do nosso
desenvolvimento podem trazer um maior entendimento do
porquê conhecemos pessoas que conseguem passar horas
lendo um livro ou escrevendo um texto, enquanto outras
conseguem se dedicar apenas por alguns minutos. Ou porque
algumas pessoas conseguem conversar e ouvir música ao
dirigir enquanto outras precisam de total silêncio para fazer
a mesma atividade. Em outras palavras, essencialmente,
a relação entre os fatores biológicos, socioambientais
e psicológicos que compõem nosso estilo de vida pode
explicar as diferenças de desempenho, facilidades e
dificuldades.

Também adquirimos aqueles métodos próprios que criamos


ou aprendemos para lidar com algumas tarefas, as nossas
estratégias. Essas diferenças proporcionam sentido quando
buscamos entender as particularidades de nossas atividades
cognitivas. Para a atenção, um processo elementar para
um funcionamento adequado do cérebro não poderia ser
diferente. Ao mesmo tempo, essas peculiaridades tornam
o estudo dos processos atencionais um grande desafio.
17 Quando falamos de desenvolvimento, também precisamos
considerar nossos ciclos temporais, de modo que, com o
passar dos anos, é esperado que a atenção e outras funções
cognitivas sofram um declínio, por exemplo. Assim como
a eficiência de processamentos cerebrais de uma criança
difere da de um adulto jovem. Por isso, é importante ser
prudente quando nos deparamos com as comparações. Da
mesma forma que a nossa história genética, relações sociais,
desenvolvimento educacional, psicológico interagem para a
composição de nossas características pessoais, os ciclos da
vida têm fundamental relevância nessa dinâmica.
18
Síntese

Até aqui pudemos compreender com mais profundidade


como a complexidade dos aspectos atencionais pode ser
entendida a partir de uma subdivisão em cinco componentes.

Vamos ver se você consegue se lembrar de quais são esses


cinco componentes? Consegue se lembrar de exemplos
de atividades que descreveriam cada um deles? Quais
fatores poderiam favorecer o melhor funcionamento desses
componentes da atenção? Como se chama a medida da
quantidade de informações a que conseguimos direcionar
nossa atenção? E então? Como se saiu? Resumidamente,
nesta trilha de aprendizagem exploramos os cinco aspectos
da atenção do ponto de vista neuropsicológico: atenção
sustentada, amplitude atencional, atenção seletiva, atenção
alternada, atenção dividida. No decorrer das definições,
abordamos vários exemplos, como a leitura de um livro
e a capacidade de concentrar o foco nessa atividade, a
qualidade de resposta após alguns minutos, a variação e a
quantidade de informações processadas, como ilustrações
dos componentes de sustentação, amplitude e seletividade
atencional.

Foram apresentados exemplos de alguns estudos que se


voltaram à investigação das diferenças entre processos
atencionais complexos, como a atenção dividida e alternada,
a partir da associação de algumas medidas de atenção e a
realização de multitarefas. Em 2009, Ophir e colaboradores,
por exemplo, propuseram que as pessoas que trabalham
em várias tarefas simultaneamente utilizam o que eles
denominaram “controle cognitivo baseado na amplitude”. A
discussão também gira em torno do quão benéfico para o
controle atencional pode ser disponibilizar a atenção para
muitas tarefas. Para um aprofundamento desse tópico,
apresentamos um trecho de uma conferência sobre o tema
19 em que um designer de produtos levanta questionamentos
sobre as diferenças entre ser multitarefas e monotarefa.

Não deixe de consultar o ambiente virtual de aprendizagem,


onde você encontrará outras tarefas e matérias de
aprofundamento que auxiliarão seu processo de
aprendizagem!
20
Referências

CONSENZA, R; GUERRA, L. Neurociência e educação. Porto


Alegre: Artmed, 2011.

EYSENCK, M.; KEANE, M.T. Manual de Psicologia Cognitiva.


7ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.

FUENTES, D.; MALLOY-DINIZ, L. F.; CAMARGO, C. H. P.;


COSENZA, R. M. Neuropsicologia: teoria e prática. São
Paulo: ArtMed, 2008.

KANDEL, E. et al. Princípios da Neurociência. 5ª ed.


Mcgraw-Hill Brasil – Grupo A, 2014.

MALLOY-DINIZ, L. F. et al. Avaliação neuropsicológica. 2ª


ed. Porto Alegre: Artmed, 2018.

MIOTTO, E. C.; LUCIA, M.; SCAFF, M. Neuropsicologia


Clínica. 2ª ed. Rio de Janeiro: Roca, 2017.

SANTOS, F. H.; ANDRADE, V. M.; BUENO, O. F. A. (Orgs.).


Neuropsicologia hoje. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2015.
Universidade Presbiteriana

Você também pode gostar