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CIP - Catalogação na Publicação


Ficha Catalográfica feita pelo autor

L854b LONGHI, RAFAEL


BIOQUÍMICA PARA INICIANTES / RAFAEL LONGHI. --
2019.90 f.

ISBN: 978-65-900689-0-3

1. BIOQUÍMICA. 2. NUTRIÇÃO. 3. CARBOIDRATOS.


4.PROTEÍNAS. 5. LIPÍDIOS

CDD: 613
CDU: 577
3

Minha Trajetória

Sou Rafael Longhi, casado com Juliana Longhi e com uma linda filha
chamada Alicia. Para chegar a esta família, percorri um importante caminho.
Sou nutricionista formado pela Universidade Federal do Estado do Rio de
Janeiro (UniRio) em 2005, já em 2006 iniciei minha primeira Pós Graduação na
área de Antioxidantes e Estresse Oxidativo na própria UniRio, após, desembarco
em Porto Alegre para minha segunda Pós Graduação em Fisiologia do
Exercício, agora pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS),
universidade esta, na qual fiz meu mestrado em Ciências Médicas vinculado ao
Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) e meu doutorado em Bioquímica.
Atualmente sou pesquisador nível pós doutorado na mesma UFRGS, mas
agora vinculado a equipe da Gastroenterologia e Hepatologia do HCPA,
pesquisando o eixo intestino-cérebro!!.
Paralelamente a toda trajetória acadêmica, sempre mantive meus
atendimentos clínicos focados na Nutrição Esportiva, usando a Bioquímica como
ferramenta de trabalho!!
Essa literatura vem de uma dificuldade que percebo desde os alunos dos
cursos técnicos (meu 1º emprego como docente em Porto Alegre) até os alunos
dos diversos cursos de Pós Graduação que ministro em todo o Brasil e claro
meus alunos da Graduação, em relação ao uso da Bioquímica como ferramenta
para a prática profissional.
A partir desse raciocínio, você leitor, verá ao longo dessas páginas uma
linguagem didática e sempre procurando relacionar teoria e prática profissional!!
Convido a fazer parte desta construção, juntos vamos DESCOMPLICAR A
BIOQUÍMICA!!
Tenha uma excelente leitura!! Abraços e sucesso sempre!!
Rafael Longhi, PhD.
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Sumário
SEÇÃO 1
 CAPÍTULO 1 - COMBUSTÍVEIS METABÓLICOS E COMPONENTES
DIETÉTICOS........................................................................................................6

 CAPÍTULO 2 - ESTADO ABSORTIVO E ESTADO ALIMENTADO..................17

 CAPÍTULO 3 – JEJUM.......................................................................................20

SEÇÃO 2
 CAPÍTULO 4 - OXIDAÇÃO DE COMBUSTÍVEIS E GERAÇÃO DE
ATP....................................................................................................................25

 CAPÍTULO 5 - CICLO DO ÁCIDO TRICARBOXÍLICO (TCA)............................28

 CAPÍTULO 6 - FOSFORILAÇÃO OXIDATIVA..................................................35

 CAPÍTULO 7 – GLICÓLISE...............................................................................38

 CAPÍTULO 8 - OXIDAÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS..........................................44

SEÇÃO 3
 CAPÍTULO 9 - CONCEITOS BÁSICOS DE REGULAÇÃO HORMONAL NO
METABOLISMO DOS COMBUSTÍVEIS..........................................................52

 CAPÍTULO 10 - DIGESTÃO, ABSORÇÃO DOS CARBOIDRATOS.................55

 CAPÍTULO 11 - FORMAÇÃO E DEGRADAÇÃO DO GLICOGÊNIO................58

 CAPÍTULO 12 – GLICONEOGÊNESE..............................................................64

SEÇÃO 4
 CAPÍTULO 13 - DIGESTÃO E TRANSORTE DOS LIPÍDIOS
DIETÉTICOS......................................................................................................69

 CAPÍTULO 14 - DIGESTÃO DA PROTEÍNA E ABSORÇÃO DOS


AMINOÁCIDOS.................................................................................................79

 CAPÍTULO 15 - CICLO DA URÉIA....................................................................83

 CAPÍTULO 16 – CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................89

 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................90
5
6

SEÇÃO 1

CAPÍTULO 1 - COMBUSTÍVEIS METABÓLICOS E COMPONENTES DIETÉTICOS

Os alimentos em nossa dieta são os combustíveis que nos suprem com energia
na forma de calorias. Essa energia é usada para garantir diversas funções como o
movimento, pensamento e a reprodução.
Desse modo, um número de vias metabólicas são VIAS DE OXIDAÇÃO DE
COMBUSTÍVEIS, onde os combustíveis são convertidos em energia que deverá ser
usada para vias de biossíntese e trabalho mecânico.
A figura 1 mostra as rotas metabólicas para os componentes dietéticos no
corpo2.

Legenda – Figura 1
1 Componentes Dietéticos
2 Combustíveis: carboidratos,
lipídios e proteínas
3 Vitaminas, minerais e água
4 Xenobióticos
5 Componentes nas células
6 Componentes corporais
7 Estoques de combustíveis
8 Produtos descartados

Detoxificação são vias metabólicas responsáveis pela remoção de toxinas que


podem estar presentes em nossa dieta, no ar que respiramos ou pela introdução de
drogas no organismo, já os compostos que não têm valor nutricional para o organismo
e devem ser descartados são chamados de xenobióticos.
7

Em geral, as vias biossintéticas (incluindo as de estocagem) são referidas como


vias anabólicas, que são vias que sintetizam grandes moléculas em componentes
menores. A síntese de proteína para aminoácidos é um exemplo dessa via.

1.1. COMBUSTÍVEIS METABÓLICOS E COMPONENTES DIETÉTICOS

1.1.1 METABOLISMO DOS COMBUSTÍVEIS


Obtemos nosso combustível principalmente através de carboidratos, gorduras e
proteínas em nossa dieta. Quando comemos, nosso organismo digere e absorve os
alimentos. Os produtos da digestão vão para a circulação sanguínea, entra em vários
tecidos, e eventualmente são levados para as células para oxidação e produção de
energia.
A figura 2 mostra a íntima relação do tratogastrointestinal (TGI) com a circulação
sanguínea.

Figura 2: TGI e sua interação com a circulação sanguínea.


Fonte: https://nutrisdoexercicio.wordpress.com/2013/06/18/sistema-gastro-intestinal/

Para completar a conversão de nossos combustíveis em dióxido de carbono


(CO2) e água (H2O), necessitamos de oxigênio (O2), o qual torna possível a produção
de água a partir das moléculas de hidrogênio provenientes do metabolismo celular.
8

Fonte: http://bebraga.blog-dominiotemporario.com.br/?p=1732

1.1.2. ESTOQUES DOS COMBUSTÍVEIS


Qualquer combustível dietético que exceda a imediata energia necessária deve
ser estocado, principalmente como triglicerídeos (gorduras) no tecido adiposo, como
glicogênio (um carboidrato) no músculo, fígado e outras células, e, em alguma
extensão, como proteína no músculo. Quando estamos em jejum, entre refeições e
quando estamos dormindo, combustíveis são quebrados a partir desses estoques e,
oxidados para providenciar energia.
A figura 3 mostra o destino do excesso de combustíveis dietéticos no estado
alimentado e estado de jejum.

2
Figura 3: Destino do excesso de combustíveis dietéticos
9

1.1.3. REQUERIMENTOS DE COMBUSTÍVEIS


Diariamente necessitamos de energia o suficiente para cada dia para garantir
nossas funções básicas do nosso organismo e para suportar atividades físicas. Se não
consumimos energia o bastante para suprir nossas necessidades energéticas, os
combustíveis corporais estocados suprem a deficiência da ingestão incorreta dos
alimentos, e consequentemente perde-se peso.

Fonte: https://www.saudedica.com.br/as-15-receitas-para-perder-peso-com-saude/

Por outro lado, se consumimos mais alimentos do que necessitamos


energeticamente para energia diária, nosso organismo deposita e aumenta os
estoques, com isso, se ganha peso.

Fonte: https://blog.biologicus.com.br/category/saude-e-bem-estar/page/7/

1.2. COMBUSTÍVEIS DIETÉTICOS


Os maiores combustíveis que obtemos da dieta são carboidratos, proteínas e
gorduras. Quando esses combustíveis são oxidados a CO2 e H2O em nossas células,
energia é liberada pela transferência de elétrons para O2. A energia proveniente dos
processos oxidativos gera calor e adenosina trifosfato (ATP).
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A figura 4 mostra a geração de ATP a partir dos componentes dietéticos durante a


respiração. Glicose, ácidos graxos e aminoácidos são oxidados a acetil CoA, um
substrato para o ciclo do ácido cítrico (TCA), eles são completamente oxidados a CO2.
Como combustíveis são oxidados, elétrons (e-) são transferidos para O2 pela cadeia
transportadora de elétrons, e a energia é usada para gerar ATP.

Figura 4: geração de ATP a partir dos componentes dietéticos durante a respiração. Glicose, ácidos graxos e
aminoácidos são oxidados a Acetil CoA, um substrato para o ciclo do ácido cítrico (TCA).
Fonte: http://www.marilia.unesp.br/Home/Instituicao/Docentes/FlaviaGoulart/GLICOLISE.pdf

O dióxido de carbono viaja pelo sangue até os pulmões, onde é expirado, e a


água é excretada pela urina, suor, e outras secreções. Além disso, o calor que é
gerado pela oxidação dos combustíveis é usado para manter a temperatura corporal.
ATP providencia a energia que direciona os processos de consumo de energia pelas
células, incluindo reações biossintéticas, contração muscular e ativação do transporte
através das membranas.
Antes da oxidação, carboidratos são convertidos principalmente em glicose,
gorduras em ácidos graxos e proteínas em aminoácidos.

1.2.1. CARBOIDRATOS
Os maiores carboidratos na dieta humana são o amido, sacarose, lactose,
frutose e a glicose. Sacarose (açúcar de mesa) e a lactose (açúcar do leite) são
11

dissacarídeos e a frutose e a glicose são monossacarídeos. A digestão converte os


carboidratos grandes a monossacarídeos, os quais podem ser absorvidos para a
corrente sanguínea. Glicose, um monossacarídeo, é o açúcar predominante na
corrente sanguínea dos humanos.
A figura 5 mostra as estruturas do glicogênio, amido e da glicose.

Amido Glicose
Figura 5: estruturas de amido e glicogênio.
Fonte: https://alunosonline.uol.com.br/quimica/diferenca-entre-fermento-biologico-fermento-quimico.html

Figura 6: Estrutura química da glicose. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Glicose

A oxidação completa dos carboidratos a CO2 e H2O no corpo produz


aproximadamente 4 kcal/g (veja tabela 1).
Macronutrientes e álcool Kcal/g
Carboidratos 4
Gorduras 9
Proteínas 4
Álcool 7
Tabela 1: Conteúdo calórico dos combustíveis.
12

1.2.2. PROTEÍNAS
Proteínas são compostas por aminoácidos, juntamente com carbono, hidrogênio
e oxigênio, as proteínas contêm aproximadamente 16% de nitrogênio/peso. Sua
digestão inicia com a quebra das proteínas em seus constituintes, os aminoácidos, os
quais entram no sangue. A completa oxidação das proteínas para CO2, H2O e NH4+ no
organismo, assegura aproximadamente 4 kcal/g.

A figura 7 mostra a estrutura química geral da proteína e dos aminoácidos.

Figura 7: Estrutura geral de proteína e os aminoácidos.


Fonte: https://www.infoescola.com/bioquimica/os-20-aminoacidos-essenciais-ao-organismo/
13

1.2.3. LIPÍDIOS
São compostos por triglicerídeos. Uma molécula de triglicerídeo contém 3 ácidos
graxos e um glicerol (Figura 8). Gorduras garantem mais energia em comparação a
carboidratos e proteínas quando oxidados. A completa oxidação dos triglicerídeos a
CO2 e H2O no corpo libera aproximadamente 9 kcal/g, mais do que 2 vezes a energia
assegurada pelos outros macronutrientes.

Figura 8: moléculas de glicerol e triglicerídeo.


Fonte: https://alunosonline.uol.com.br/quimica/o-que-sao-triglicerideos.html

1.3. ESTOQUE DOS COMBUSTÍVEIS

2
Figura 9: Estoque dos combustíveis corporais .
14

A figura acima (figura 9) mostra a composição corporal de um homem de 70 Kg


após um jejum noturno (em quilogramas e percentual de estoque de combustível
corporal).
Nosso maior estoque de energia corporal é a gordura, mas também temos outro
importante estoque, em menor quantidade, que estoca carboidratos na forma de
glicogênio localizado principalmente no fígado e músculos. A proteína corporal, em
alguma extensão também funciona como estoque de energia, mas o organismo a
utiliza, preferencialmente quando estamos em jejum.

1.3.1. ESTOQUE COMO LIPÍDIOS


Nosso maior estoque está como triglicerídeo, um lipídio mais comumente
conhecido como gordura. Ver figura 9.
Dois fatos garantem os triglicerídeos como eficientes estoques de combustível:
triglicerídeos contêm mais calorias por grama do que carboidratos ou proteínas e o fato
de que o tecido adiposo não contém muita água. O tecido adiposo contém
aproximadamente 15% de água, ao contrário do músculo, por exemplo, que contém
85% de água.

1.3.2. GLICOGÊNIO
Estoque de carboidrato encontrado no fígado, músculo e outras células
relativamente pequenas de menor importância. O glicogênio hepático é utilizado para
manutenção da glicose sanguínea entre as refeições. Por ter essa característica, esse
glicogênio hepático varia de valor ao longo do dia, após uma refeição um homem de
70Kg contém 200g de glicogênio, após um jejum noturno, esse valor cai para 80
gramas aproximadamente.
Por outro lado, o glicogênio muscular supre a energia para a atividade física,
garantindo a contração muscular, em torno de 150 gramas é encontrado nesse tecido.
Outras pequenas células, inclusive os neurônios, contêm pequena quantidade de
glicogênio para manutenção norma da glicose.
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1.3.3. ESTOQUE COMO PROTEÍNA


Não é nossa melhor fonte de energia, mas tem fundamental importância para o
movimento do corpo, a partir dos músculos. Ë formadora de enzimas, hormônios,
sistema imunológico e compõe a estrutura celular.
Quantidade pequena de proteína pode ser degradada, em torno de 6Kg (em
uma homem padrão de 70Kg), antes de nossas funções serem comprometidas.

1.4. REQUERIMENTOS DIETÉTICOS


O corpo necessita de suprimentos para manutenção de suas funções normais
(metabolismo corporal) ou quando aumenta seu gasto calórico através da atividade
física, por exemplo. A partir dessa premissa, utilizamos macronutrientes (proteínas,
carboidratos e gorduras) como capacitadores para suprir essas necessidades, além
dos micronutrientes (vitaminas e minerais) que auxiliam nessa função, mantendo o
organismo estável.

Figura 10: Pirâmide Alimentar. Fonte: http://questgarden.com/77/59/1/090303214239/task.htm


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1.4.1. XENOBIÓTICOS
Juntamente com os nutrientes, nossa dieta também contém um largo número de
agentes químicos chamados de xenobióticos, os quais não possuem qualquer valor
nutricional, não são usados pelo corpo e podem ser danosos se consumidos em
excesso.
Esses compostos ocorrem naturalmente nos alimentos, podem entrar na cadeia
alimentar como contaminantes ou serem deliberadamente introduzidos como aditivos
alimentares.
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CAPÍTULO 2 - ESTADO ABSORTIVO E ESTADO ALIMENTADO


Durante a refeição, ingerimos carboidratos, gorduras e proteínas, as quais são
digeridas e absorvidas, esse se caracteriza o estado alimentado. Alguns desses
alimentos são oxidados e imediatamente transformados em energia necessária ao
organismo. A quantidade consumida em excesso é transportada para depósitos de
gordura, onde são estocados como triglicerídeos.
Esse intervalo entre o início da absorção até sua completa ação é chamado de
estado absortivo. Essas variações de digestão, absorção, transporte são determinadas
por mecanismos hormonais, principalmente dois hormônios endócrinos, a insulina e o
glucagon.
A figura abaixo mostra a ação da insulina e glucagon a partir da estimulação
pelo alimento.

Regulação da secreção de insulina:

a. Abundância de nutrientes na
circulação

b. Aumento da glicose ou
AA´s   estimulam
diretamente células 

c. Regulação hormonal:
hormônios gastrointestinais
 estimulam diretamente
céls. 

d. Regulação neural: sistema


nervoso parassimpático
estimula céls. ; sistema
nervoso simpático inibe céls.

Figura 11: Regulação da insulina.


Fonte: https://w2.fop.unicamp.br/dcf/fisiologia/downloads/pancreas_2010.pdf

2.1.1. DESTINO DOS CARBOIDRATOS


Carboidratos dietéticos são digeridos a monossacarídeos, os quais são
absorvidos no sangue. O maior monossacarídeo no sangue é a glicose (figura 12).
Após uma refeição, a glicose é oxidada em vários tecidos para fornecimento de
energia.
18

Glicose também pode ser convertida a triglicerídeos, o fígado empacota


triglicerídeos produzidos a partir da glicose ou proveniente dos ácidos graxos
conseguidos na corrente sanguínea.

2.1.2. DESTINO DAS PROTEÍNAS


São digeridas a aminoácidos, os quais são absorvidos na corrente sanguínea.
Esses aminoácidos são convertidos a proteínas ou usados para formação de outros
compostos como os neurotransmissores. A parte carbonada da proteína pode ser
utilizada como energia ou convertida a glicose.

2.1.3. DESTINO DOS LIPÍDIOS


Triglicerídeos são os maiores lipídios dietéticos. São digeridos a ácidos graxos e
2-monogliceróis, os quais são ressintetizados em triglicerídeos nas células epiteliais
intestinais. Também são utilizados como fonte de energia.

Destino Principal Destinos Secundários


Glicose Oxidação Síntese de Diversos Glicogênio ou
Compostos Triglicerídeos
Aminoácidos Síntese Proteica Oxidação Síntese de
Compostos com N
Ácidos Graxos Estoque Síntese de Membranas Oxidação
Figura 12: Destinos dos combustíveis dietéticos

2.2. DIGESTÃO, ABSORÇÃO E DESTINO DOS MACRONUTRIENTES

Após uma refeição, alimentos são digeridos (quebrados em moléculas menores


e mais simples) por uma série de enzimas na boca, estômago e intestino, os produtos
da digestão são absorvidos para o sangue.
O período o qual ocorre à digestão e a absorção constituem o estado
alimentado. A figura 13 mostra o estado alimentado.
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Figura 13: O estado alimentado.


Fonte: https://nutrisdoexercicio.wordpress.com/2013/04/13/interrelacoes-das-rotas/
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CAPÍTULO 3 – JEJUM

3.1. INTRODUÇÃO
O jejum se inicia aproximadamente 2 a 4 horas após a refeição, quando os
níveis de glicose retornam aos níveis basais, dentro de uma hora após a refeição, a
glicemia inicia sua queda. A glicemia normal varia entre 70 a 99mg/dL.
Juntamente a queda da glicose, ocorre a queda da insulina e aumento do
glucagon. A tabela 2 mostra a ação do glucagon e da insulina frente a mudança dos
níveis de glicemia.

2
Tabela 2: Níveis de glucagon e insulina a partir da glicemia .

Com o aumento do glucagon, o glicogênio hepático é quebrado para fornecer


glicose para manutenção das funções do organismo, processo este conhecido como
glicogenólise. Há também o início da lipólise, ou seja, a liberação de ácidos graxos e
glicerol, quanto mais for o jejum maior será a utilização desse combustível juntamente
com as proteínas musculares, eles são os maiores combustíveis durante o jejum
noturno.
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3.1.1. OXIDAÇÃO DOS COMBUSTÍVEIS


A glicose continua sendo oxidada, pois há tecidos denominados de glicose-
dependentes (cérebro e as células vermelhas do sangue são exemplos). Músculos e
outros tecidos oxidam os ácidos graxos em CO2 e H2O e o fígado produz corpos
cetônicos a partir de ácidos graxos. Esses corpos cetônicos são utilizados por muitos
tecidos (extra-hepáticos) para iniciação da geração de energia através do TCA.

3.1.2. MANUTENÇÃO DA GLICEMIA


Essa manutenção é feita pelo fígado através da glicogenólise, mas também um
segundo processo, chamado de gliconeogênese (lactato, glicerol e aminoácidos), ou
seja, a produção de glicose a partir de compostos que não são carboidratos.

3.1.3. JEJUM PÓS 3 DIAS


Nesse grau de jejum, músculos continuam a oxidar ácidos graxos, mas decresce
o uso de corpos cetônicos, como resultado, a concentração de corpos cetônicos no
sangue aumenta a um nível que o cérebro inicia sua utilização para adquirir energia,
direcionando a maior parte da glicose para células vermelhas.
Como o cérebro começa a utilizar menos glicose, o fígado diminui a
gliconeogênese, consequentemente, menos proteína muscular é utilizada como fonte
de energia, assim, garantindo a preservação das funções vitais.

3.2. JEJUM
Após duas horas da refeição, a glicose retorna ao nível basal, esse decréscimo
de glicemia causa decréscimo da secreção de insulina pelo pâncreas, assim,
decrescem os níveis séricos deste hormônio. O fígado responde a essas sinalizações
hormonais pelo início da degradação do glicogênio e liberação de glicose na corrente
sanguínea, pelo estímulo gerado pelo glucagon.

3.2.1. A AÇÃO HEPÁTICA DURANTE O JEJUM


Nos estágios iniciais do jejum os combustíveis estocados são utilizados como
fonte de energia (Figura 14). O fígado inicia uma série de etapas para manter a
glicemia normal, primeiramente pela glicogenólise e subsequentemente pela
gliconeogênese. Lactato, glicerol e aminoácidos servem como doadores de esqueletos
carbonados para essa cascata metabólica.
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Ácidos graxos, os quais são liberados do tecido adiposo pela lipólise, servem
como maior fonte energética durante o jejum. O fígado oxida a maioria dos ácidos
graxos, convertendo-os a corpos cetônicos, os quais são liberados na corrente
sanguínea. Desse modo, durante os estágios iniciais do jejum, os níveis sanguíneos de
ácidos graxos e corpos cetônicos começam a aumentar.
Músculos usam ácidos graxos, corpos cetônicos e glicose proveniente do
glicogênio. As capacidades metabólicas de diferentes tecidos com suas respectivas
vias metabólicas são resumidas na tabela 3.

Figura 14: Estado de Jejum.


Fonte: http://www.multiperfil.co.ao/wp-content/uploads/2018/04/SIMPOSIO-DE-ANESTESIOLOGIA-JEJUM-OU-
DIETA-LIVRE-.pdf
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3.2.2. JEJUM PROLONGADO

Figura 15: O estado de jejum prolongado.


Fonte:http://www2.iq.usp.br/docente/miyamoto/QBQ0105%20Enfermagem/Aula_Regulacao_Integrada_das_Vias_Metabolicas_Principais
.pdf

Após o terceiro ao quinto dia sem se alimentar, o organismo entra no chamado


jejum prolongado. O fígado continua convertendo ácidos graxos a corpos cetônicos o
resultado é um aumento de sua concentração no sangue (Tabela 4). O cérebro inicia a
utilização desses corpos cetônicos para obtenção de energia, assim, a utilização de
glicose diminui.
Células vermelhas sanguíneas necessitam de glicose e apesar da utilização dos
corpos cetônicos, a glicose ainda é requerida pelo cérebro, em menor quantidade, para
síntese de neurotransmissores. Para tanto, a glicose começa a ser conservada.
Com essa conservação, o fígado necessita produzir menos glicose, essa
condição é importante, pois os estoques de glicogênio são depletados após 30 horas
de jejum, sendo assim, a gliconeogênese é o único processo hepático de manutenção
da glicemia. A quebra dos músculos fornece aminoácidos para a gliconeogênese.
Um número de fatores determina quanto tempo o organismo agüenta uma
situação de jejum prolongado. A quantidade de tecido adiposo é um fator, porque o
tecido adiposo supre o corpo com a maior fonte de energia. Entretanto, os níveis de
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proteína corporal podem determinar o grau de jejum. A glicose é ainda usada durante
essa fase, mas em quantidades bem diminutas.
Além do mais, degradamos aminoácidos para suprir a gliconeogênese, com o
passar do tempo, com alto grau de proteólise, coração, rins e outros órgãos vitais
podem parar de funcionar. Além de deficiências de macronutrientes, a deficiência dos
alimentos leva a baixa quantidade de vitaminas e minerais torna a sobrevivência
incompatível com a realidade nutricional, assim, morremos de fome.

Níveis Plasmáticos

2
Tabela 4: Variações nas concentrações dos combustíveis corporais ao longo do jejum prolongado .
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SEÇÃO 2

CAPÍTULO 4 - OXIDAÇÃO DE COMBUSTÍVEIS E GERAÇÃO DE ATP –

4.1. INTRODUÇÃO
Todos os processos fisiológicos para sobrevivência das células requerem
transformação de energia. Células convertem ligações químicas em alimentos em
energia em outras formas para utilização do organismo. Essas transformações
energéticas podem ser divididas em 3 fases principais: oxidação de combustíveis
(gorduras, carboidratos e proteínas), conversão de energia proveniente da oxidação
dos combustíveis em ligações fosfato de alta energia (ATP) e utilização dessa energia
proveniente do ATP para processos celulares. A figura 15 mostra as duas primeiras
fases de transformação energética.

Glicose

Aminoácidos
e Ácidos
Graxos

Figura 15: Respiração celular. Fonte: http://docentes.esalq.usp.br/luagallo/metcarboidratos.html

Na fase 3 da respiração celular, as ligações de alta energia de ATP são usadas


por processos como a contração muscular, síntese de moléculas como o DNA ou
detoxificação. Como conseqüência desses processos, ATP é tanto diretamente ou
indiretamente hidrolizado a ADP e fosfato inorgânico, ou para AMP e fosfasto
inorgânico.
Abaixo, a figura 16 mostra o local do metabolismo energético, as mitocôndrias.
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Figura 16: A mitocôndria. Fonte: https://www.guiaestudo.com.br/respiracao-celular

Figura 17: Nicotinamida adenina dinucleotídeo. Fonte: https://www.gratispng.com/

A respiração celular ocorre na mitocôndria (figura acima). A matriz mitocondrial,


a qual é envolta pela membrana interna mitocondrial, contem quase todas as enzimas
do TCA e de oxidação dos ácidos graxos, corpos cetônicos e a maioria dos
aminoácidos. A membrana interna contém os complexos protéicos da cadeia
transportadora de elétrons e ATP sintase, o complexo enzimático que gera ATP a partir
de ADP e Pi. Nota-se que a mitocôndria é a peça fundamental na geração de energia
para o nosso organismo.
Ácidos graxos são os maiores combustíveis do corpo, estocamos seu excesso,
entre as refeições, esses ácidos graxos são utilizados como fonte de energia sendo
oxidados a Acetil CoA na β-oxidação, essa via produz intermediários para a cadeia
transportadora de elétrons (NADH e FAD(2H)).
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Já a glicose, é considerada como nosso combustível universal para geração de


ATP em todas as células do corpo. Na glicólise, 1 mol de glicose é convertido a 2
moles de piruvato e 2 moles de NADH pelas enzimas citossólicas. Na glicose aeróbia,
o NADH produzido fornece H+ para cadeia transportadora de elétrons via sistema de
lançadeiras e o piruvato entra no TCA através de sua conversão a Acetil CoA. Na
glicose anaeróbia, o NADH é reoxidado pela conversão de piruvato a lactato, o qual
entra no sangue.
A glicose anaeróbia é importante em tecidos com baixo suprimento de oxigênio
ou com poucas mitocôndrias (medula renal), ou em tecidos com baixo fluxo sanguíneo
(isquemia).
Como todo processo metabólico, conseqüências metabólicas podem levar a
desvios de rota, no caso da oxidação dos combustíveis, esses problemas metabólicos
podem ser divididos em 2 categorias: (1) diminuição de produção energética, ou (2)
excesso de um substrato ou intermediário da via metabólica.

Infarto do miocárdio – diminuição da oxigenação;


Anoxia – diminuição da oxigenação;
Hipertireoidismo – excesso da produção de calor a partir da oxidação dos
combustíveis;
Hipotireoidismo – decréscimo da produção energética;
Desnutrição - decréscimo da produção energética;
Alcoolismo - decréscimo da produção energética;
Anorexia nervosa - decréscimo da produção energética;
Diabetes – excesso da produção energética;
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CAPÍTULO 5 - CICLO DO ÁCIDO TRICARBOXÍLICO (TCA)

O TCA garante 2/3 do ATP gerado a partir da oxidação dos combustíveis. As


vias de oxidação de ácidos graxos, glicose, aminoácidos, acetato e corpos cetônicos,
todos geram Acetil CoA, o qual é um substrato do ciclo do TCA.
O mais importante a notar neste ciclo é que o Acetil-CoA não é um intermediário
dele (figura 18), mas apenas um ponto de entrada.

Figura 18: Integração do TCA com metabolismo energético.


Fonte: https://www.rock-cafe.info/suggest/glycolysis-and-krebs-cycle-diagram-676c79636f6c79736973.html

Só são intermediárias aquelas moléculas sintetizadas no próprio ciclo e


continuamente regeneradas com o seu andamento, as quais serão mostradas a seguir.
Além da produção de energia, este ciclo tem grande importância evolutiva para os
animais que o desenvolveram pelo grande número de intermediários, que são
utilizados em diversas outras reações, por isso ele é chamado de anaplerótico. Os
principais desvios são:
-Utilização do citrato na síntese de ácidos graxos e esteróis;
-Desvio do α-cetoglutarato para formação de aminoácidos ou bases
nitrogenadas;
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-Gliconeogênese e síntese de aminoácidos a partir do oxaloacetato via piruvato.


Portanto, nota-se que o ciclo do ácido tricarboxílico é o centro de geração de
energia proveniente da respiração celular.
O TCA ocorre nas mitocôndrias, onde o fluxo é estritamente coordenado pela
cadeia transportadora de elétrons e a fosforilação oxidativa através da regulação por
feedback que reflete as demandas de ATP. A razão do ciclo é aumentada quando a
utilização de ATP é aumentada pelas células.
Há 2 conseqüências gerais para o funcionamento desordenado do ciclo TCA: (1)
problemas na geração de ATP proveniente da oxidação energética e (2) um acúmulo
de precursores do ciclo.

Figura 19: Ciclo do Ácido Tricarboxílico.


Fonte: https://www.rock-cafe.info/suggest/glycolysis-and-krebs-cycle-diagram 676c79636f6c79736973.html

No TCA, o Acetil CoA é oxidado a 2 moléculas de CO2. A função do ciclo é


conservar energia da oxidação, a qual é assegurada pela transferência de elétrons de
intermediários do ciclo para NAD+ e FAD. Os oito elétrons doados pelo Acetil Coa
eventualmente terminam em 3 moléculas de NADH e uma de FAD(2H). Como
30

conseqüência, ATP pode ser gerado a partir da fosforilação oxidativa quando NADH e
FAD(2H) doam esses elétrons para O2 via cadeia transportadora de elétrons.
Na tabela abaixo, são mostradas as vitaminas e minerais necessários para que
haja o bom funcionamento do ciclo:

Vitaminas e Minerais
Niacina
Riboflavina
Pantotenato
Tiamina
Biotina
Mg++
Ca++
Fe++
Fosfato

Tabela 4: Vitaminas e minerais necessários para o ciclo TCA.

5.1. REAÇÕES DO CICLO


Inicialmente, o grupo acetil é incorporado ao citrato, um intermediário do ciclo.
Como citrato progride através do ciclo para oxaloacetato, este é oxidado por quatro
desidrogenases (isocitrato desidrogenase, α-cetoglutarato desidrogenase, succinato
desidrogenase e malato desidrogenase), os quais transferem elétrons para NAD+ ou
FAD.

5.2. FORMAÇÃO E OXIDAÇÃO DO ISOCITRATO


O ciclo se inicia com a condensação do Acetil CoA ao oxaloacetato para formar
citrato, a enzima citrato sintase cataliza essa formação. No próximo passo, o grupo
hidroxil do citrato é movido para o carbono adjacente pela aconitase, formando
isocitrato. Essa mudança conformacional garante a futura formação de um ceto grupo.
A enzima isocitrato desidrogenase garante a formação de um ceto-grupo, o α-
cetoglutarato.
31

5.3. α-CETOGLUTARATO PARA SUCCINIL CoA


O próximo passo do ciclo é a descarboxilação oxidativa do α-cetoglutarato para
succinil CoA, catalizada pelo complexo enzimático α-cetoglutarato desidrogenase, é
chamada de complexo porque contém as coenzimas tiamina pirofosfato, ácido lipóico e
FAD.

5.4. OXIDAÇÃO DE SUCCINATO PARA OXALOACETATO


Com a regeneração de oxaloacetato, o ciclo TCA está completo; as ligações
energéticas químicas, carbono e elétrons doados pelo grupo acetil foram convertidos a
CO2, NADH, FAD(2H), GTP e calor.

5.5. COENZIMAS DO CICLO TCA


As enzimas do ciclo TCA são dependentes da ação de coenzimas que possuem
funções catalíticas. Isocitrato desidrogenase e malato desidrogenase usam NAD+ como
uma coenzima e succinato desidrogenase usa FAD. Citrato sintase cataliza uma
reação que usa um derivado de CoA, o Acetil CoA. O complexo α-cetoglutarato
desidrogenase usa tiamina pirofosfato, lipoato e FAD como coenzimas ligantes e NAD +
usa substratos de CoASH.

5.6. EFICIÊNCIA ENERGÉTICA DO CICLO TCA


As reações do ciclo são extremamente eficientes na conversão da energia de
ligações químicas do grupo acetil para outras formas. A quantidade total de energia
disponível proveniente do grupo acetil gira em torno de 228Kcal/mol (quantidade de
energia que poderia ser liberada da combustão completa de 1 mol de grupo acetil para
CO2.

5.7. REGULAÇÃO DO CICLO


A oxidação de Acetil CoA no ciclo e a conservação dessa energia como NADH e
FAD(2H) é essencial para geração de ATP em quase todos os tecidos do corpo. A
respeito das trocas no suprimento de combustível, os tipos de combustíveis no sangue
ou razão de utilização de ATP, células mantém homeostase através das necessidades
fisiológicas do organismo. A razão do ciclo, assim como todas as vias de oxidação, é
principalmente regulada pela correspondente razão da cadeia transportadora de
elétrons, a qual é regulada pela razão ATP/ADP.
32

Os dois mensageiros que “alimentam” informações de utilização de ATP para o


ciclo são: (a) a fosforilação de ATP, como reflexo dos níveis de ATP e ADP e (b) a
redução do estado do NAD+, como reflexo da razão NADH/NAD+. Na figura abaixo é
mostrado os sítios regulatórios do ciclo. A razão da hidrólise de ATP controla a síntese
de ATP, a qual controla a razão de oxidação de NADH na cadeia transportadora de
elétrons.
Todo NADH e FAD(2H) produzidos pelo ciclo doam elétrons para cadeia
transportadora de elétrons. Desse modo, a oxidação de Acetil CoA no ciclo será
controlada tão rápido quanto for a entrada de elétrons de NADH na cadeia
transportadora de elétrons, a qual é controlada pela concentração celular de ATP e
ADP. As concentrações de ADP e NADH “alimentam” informações sobre a velocidade
da fosforilação oxidativa de volta para o ciclo. Isocitrato desidrogenase, α-cetoglutarato
desidrogenase e malato desidrogenase são inibidas pelo aumento da concetração de
NADH. A razão NADH/NAD+ altera a concentração de oxaloacetato, citrato é um
produto inibidor da citrato sintase, já o ADP é um ativador alostérico da isocitrato
desidrogenase.
Já na contração muscular, o aumento da concentração de Ca ++ ativa isocitrato
desidrogenase e α-cetoglutarato desidrogenase (assim como piruvato desidrogenase),
aumentando a ação de geração de energia do TCA.
33

Figura 20: Sítios regulatórios do ciclo. Fonte: https://sites.google.com/site/enfermagemufal20121/m03-ciclo-de-krebs

5.8. REGULAÇÃO DOS INTERMEDIÁRIOS DO CICLO


Essa regulação serve para duas funções: assegurar que o NADH seja gerado
rápido o bastante para manter a homeostase do ATP e regular a concentração dos
intermediários do ciclo. Caso ocorra déficits nutricionais, aumento de demanda de
intermediários do ciclo, este pode ser desviado para garantir o bom funcionamento do
TCA. Dietas pobres em carboidratos são um ótimo exemplo de regulação, baixo
consumo de glicose desvia o oxaloacetato para produção de glicose a partir do uso de
aminoácidos ou ainda, o excesso de carboidratos de alto índice glicêmico aumentam a
concentração de citrato, desviando-o para síntese de ácidos graxos.

Figura 21: Intermediários do ciclo. Fonte: https://sites.google.com/site/enfermagemufal20121/m03-ciclo-de-krebs

5.9. FONTES DE ACETIL CoA


Acetil CoA serve como um ponto comum de convergência para as maiores vias
de oxidação de combustível. Esta é gerada diretamente da -oxidação de ácidos
graxos e degradação de corpos cetônicos. É também formada a partir do acetato, o
34

qual pode vir diretamente da dieta ou através da oxidação do etanol. Glicose e outros
carboidratos entram na glicólise, uma via comum para todas as células e são oxidadas
a piruvato, o qual é oxidado a acetil CoA.
Um número de aminoácidos, como leucina e isoleucina também são oxidados
para Acetil CoA.
Conclui-se que a oxidação final de Acetil CoA para CO2 no ciclo é o último passo
nas maiores vias de oxidação de combustíveis.

Piruvato Acetil CoA

Figura 22: Estruturas químicas do Acetil CoA e do Piruvato.


Fonte: https://biologiaparaavida.com/2018/04/19/bioquimica-glicolise/
35

CAPÍTULO 6 - FOSFORILAÇÃO OXIDATIVA


A fosforilação oxidativa é o término da garantia de aquisição de energia a partir
do metabolismo dos organismos aeróbios. Todos os passos na degradação de
carboidratos, gorduras e aminoácidos convergem para o estágio final da respiração
celular, a qual a energia oxidativa é direcionada para síntese de ATP.

6.1. INTRODUÇÃO
Energia proveniente da oxidação dos combustíveis é convertida em ligações
fosfato de alta energia (ATP) pelo processo da fosforilação oxidativa. A maioria da
energia proveniente das oxidações do ciclo do TCA e outras vias é conservada na
forma reduzida de coenzimas aceptoras de elétrons, NADH e FAD(2H).
A cadeia transportadora de elétrons oxida NAD e FAD(2H), doando elétrons para
O2, o qual é reduzido a água. A energia vinda desta redução é usada para fosforilação
de ADP para ATP.
O rendimento da fosforilação oxidativa fica em torno de 2,5 moles de ATP por
mol de NADH oxidado ou 1,5 moles de ATP por mol de FAD(2H) oxidado.

6.2. ATP
A geração de ATP a partir da fosforilação oxidativa requer um doador de elétrons
(NADH ou FAD(2H)), um aceptor de elétrons (O2), uma membrana mitocondrial interna
que seja impermeável a prótons, todos os componentes da cadeia transportadora de
elétrons e a ATP sintase. Toda essa rede é regulada pela razão de utilização de ATP.

6.3. VISÃO GERAL DA FOSFORILAÇÃO OXIDATIVA


O entendimento de fosforilação oxidativa é baseado em uma hipótese
quimiostática, a qual propõe que a energia para síntese de ATP é providenciada por
um gradiente que atravessa a membrana mitocondrial interna. A figura 23 mostra essa
hipótese de modelo quimiostático. Esse gradiente eletrostático é gerado pelos
componentes da cadeia transportadora de elétrons, os quais “arremessam” prótons
através da membrana mitocondrial interna, onde ocorre sequenciamento de aceptores
e doadores de elétrons. O aceptor final é o O2, o qual é reduzido a H2O.
36

Fonte:

Figura 23: A fosforilação oxidativa

No desenho acima, as setas azuis mostram a via da cadeia transportadora de


elétrons proveniente do NADH para formação de O 2. A ATP sintase é a enzima que
usa energia para formar ATP a partir de ADP e Pi.

6.4. A TRANSFERÊNCIA DE ELÉTRONS A PARTIR DO NADH e FAD(2H) PARA O2


Na cadeia transportadora de elétrons, elétrons doados pelo NADH ou FAD(2H)
são passados seqüencialmente através de uma série de elétrons embebidos na
membrana mitocondrial interna.
Do NADH, elétrons são transferidos seqüencialmente pela NADH
desedrogenase (complexo I), CoQ (coenzima Q ou complexo II), o complexo citocromo
b-c1 (complexo III), citocromo c e finalmente citocromo c oxidase (complexo IV). No
complexo terminal, citocromo c oxidase, há ligantes para O2, onde é reduzido a água.
Especificamente no complexo II, aparentemente não está na via direta de
transferência de elétrons; em vez disso, pode servir para reduzir a frequência com que
elétrons “vazam” para fora do sistema, e tem como característica o recebimento do
FAD(2H).
37

6.5. INIBIÇÃO DA CADEIA RESPIRATÓRIA


Na célula, o fluxo de elétrons na cadeia transportadora deve ser seqüenciado a
partir do NADH, para formar O2 e gerar ATP. Na ausência de O2, não há geração de
ATP proveniente da fosforilação oxidativa pelo fato de os elétrons voltarem para a
cadeia. Uma inibição completa de qualquer complexo inibe o lançamento de prótons
para todos os complexos ou apenas uma inibição parcial através de inibição de
qualquer complexo leva em um decréscimo da síntese máxima de ATP.
O monóxido de carbono é um potente inibidor da cadeia por competir com o
oxigênio nas células.

6.6. REGULAÇÃO DA FOSFORILAÇÃO OXIDATIVA


A fosforilação oxidativa produz na maioria das células entre 32 a 35 ATP por
molécula de glicose. Por comparação, a glicólise, sob condições anaeróbias produz
apenas 2 ATP por molécula de glicose (glicólise anaeróbica).
No caso da oxidação dos lipídios (palmitato, por exemplo), assegura 108 ATP
em sua completa oxidação.
A necessidade energética de consumo de O2 na mitocôndria é fortemente
regulada, geralmente é limitada pela disponibilidade de ADP como substrato para a
fosforilação. A dependência da razão de consumo de O 2 se relaciona à disponibilidade
de aceptor para ADP, o aceptor controlador da respiração. A concentração intracelular
de ADP é o medidor das células para aumento ou não da respiração.
38

CAPÍTULO 7 - GLICÓLISE
A glicose é o combustível universal para as células humanas. Todos os tipos de
células humanas são capazes de gerar ATP a partir da glicólise, a via que a glicose é
oxidada e clivada na forma de piruvato.

Figura 24: Estrutura Química da Glicose (esquerda) e do Piruvato (direita).


Fonte: https://www.todamateria.com.br/glicolise/

A importância da glicólise em nossa economia de combustível é relacionada a


disponibilidade de glicose na corrente sanguínea, além da habilidade da glicólise em
gerar ATP tanto na ausência quanto na presença de O 2. A glicose é o açúcar mais
encontrado em nossa dieta e o açúcar que circula no sangue para assegurar contínuo
suprimento de energia às células. O cérebro usa glicose quase que exclusivamente
como combustível.
A molécula de glicose é degrada em uma série de reações catalizadas por
enzimas, onde são formadas duas moléculas de três carbonos, chamadas de piruvato.
Durante o sequenciamento das reações da glicólise, parte dessa energia livre liberada
é conservada na forma de ATP e NADH.
Quando as células têm um limitado suprimento de oxigênio, pouca ou nenhuma
mitocôndria ou ainda quando há aumento da demanda por ATP, a glicólise anaeróbia é
utilizada para geração de ATP. Na glicólise anaeróbia, o piruvato é reduzido a lactato
para garantir a formação de NADH.
A energia assegurada pela via anaeróbia (2 moles de ATP por mol de glicose) é
muito menor do que a assegurada pela via aeróbia (38 moles de ATP por mol de
glicose).
39

Figura 25: Visão geral da Glicólise. Fonte: https://sites.google.com/site/enfermagemufal20121/m-02-via-glicolitica

Glicose é facilmente disponível em nossa dieta, estoques de glicogênio e no


sangue. Os carboidratos providenciam aproximadamente 50% ou mais das calorias e a
glicose é o carboidrato mais presente nas dietas. Outros açúcares dietéticos, como a
frutose e a galactose, são oxidados pela conversão a intermediários da glicólise. A
glicose é estocada nas células como glicogênio (Figura 26), o qual fornece uma fonte
interna de combustível para a glicólise em situações de emergência.
Insulina e outros hormônios mantêm a glicose sanguínea estável, desse modo,
assegurando que glicose esteja sempre disponível para as células que dependem dela
para geração de ATP.

Figura 26: Estrutura do Glicogênio. Fonte: https://querobolsa.com.br/enem/biologia/carboidratos


40

7.1. REAÇÕES DA GLICÓLISE


A via glicolítica, a qual cliva 1 mol de glicose para 2 de piruvato, consiste em
uma fase preparatória e uma fase de geração de ATP. Na fase inicial, a preparativa, a
glicose é fosforilada, clivada, e com isso, forma-se 2 compostos (trioses).
Nessa fase inicial, há utilização de 2 moles de ATP/mole de glicose e produção
de 4 moles de ATP/mol de glicose.
Na fase de geração de ATP, gliceraldeído 3-fosfato (uma triose) é oxidado por
+
NAD e fosforilado usando um fosfato inorgânico. A ligação fosfato de alta energia
gerada nesse passo é transferida para ADP para gerar ATP.
Pelo fato de haver 2 moles de triose fosfato formado, há a segurança nessa fase
de geração de ATP de 4 ATP e 2 NADH, assim há formação de 2 moles de ATP, 2
moles de NADH e 2 moles de piruvato por mol de glicose.

Figura 27: Fases da via Glicolítica. Fonte: http://www.biomedicinaemacao.com.br/2012/04/via-glicolitica-ou-glicolise.html


41

7.2. CONVERSÃO DA GLICOSE A GLICOSE 6-FOSFATO


O metabolismo da glicose inicia com a transferência de um fosfato do ATP para
a glicose para formar glicose 6-fosfato. A fosforilação da glicose garante o metabolismo
dentro da célula porque a glicose 6-fosfato não pode ser transportada de volta, através
da membrana plasmática.
A glicose 6-fosfato é o ponto de ramificação no metabolismo de carboidratos. Ele
é precursor de quase todas as vias que usam glicose, incluindo a glicólise, a via
pentose-fosfato e a síntese de glicogênio. A partir de uma visão inversa, a glicose 6-
fosfato pode ser gerada a partir da glicogenólise, a via pentose-fosfato e a
gliconeogênese.

Figura 28: Metabolismo da glicose 6- fosfato.


Fonte: https://sites.google.com/site/enfermagemufal20121/m-02-via-glicolitica

7.3. CONVERSÃO DE GLICOSE 6-FOSFATO A TRIOSES FOSFATOS


Para se chegar as duas trioses, glicose 6-fosfato é isomerizada a frutose 6-
fosfato e consequentemente a frutose 1,6 bifosfato. Essa conversão a frutose 1,6
bifosfato, também é um ponto não reversível da via, assim, a chegada a essa parte da
via glicolítica, garante que ela e complete.
Frutose 1,6 bifosfato é, então clivada em duas trioses fosforiladas com 3
carbonos. Dihidroxicetona fosfato é isomerizada para gliceraldeído 3-fosfato. Desse
modo, para cada mol de glicose entrando na via glicolítica, 2 moles de gliceraldeído 3-
fosfato continuam na via.
42

Figura 29: Reações da Glicólise. Fosfatos de alta energia são mostrados em azul.
Fonte: https://sites.google.com/site/enfermagemufal20121/m-02-via-glicolitica

7.4. ENERGIA ASSEGURADA PELA VIA GLICOLÍTICA AERÓBIA VS. ANAERÓBIA

Figura 30: Glicólise aeróbia e glicólise anaeróbia.


Fonte: https://healthmetrix.wordpress.com/2010/03/05/glicolise-anaerobia/ CK = ciclo de Krebs. CR = cadeia respiratória

Nas duas vias, cada mol de glicose gera 2 moles de ATP, 2 de NADH e 2 de
piruvato. A energia assegurada da via anaeróbia (glicose em lactato) é apenas 2 moles
43

de ATP por mol de glicose, pelo fato de o NADH ser reciclado pelo NAD + pela redução
de piruvato a lactato.
Tanto o NADH quanto o piruvato não são utilizados para somatizar e geração de
energia pela via anaeróbia. Entretanto, quando o oxigênio está disponível, o NADH
pode ser oxidado, o piruvato também poderá entrar na mitocôndria e ser
completamente oxidado a CO2 pelo TCA (via aeróbia).
Assim, a energia assegurada pela via anaeróbia (2 moles de ATP por mol de
glicose) é muito menor do que a assegurada pela via aeróbia (38 moles de ATP por
mol de glicose).

Figura 31: Cálculo de Rendimento da Glicose


44

CAPÍTULO 8 - OXIDAÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS


Os ácidos graxos são nossos maiores combustíveis corporais, suprem nossas
necessidades energéticas entre as refeições e durante períodos de aumento de
demanda energética, como os exercícios físicos. Durante o jejum noturno, ácidos
graxos tornam-se os maiores combustíveis para o coração, músculo esquelético e
fígado. O fígado converte ácidos graxos em corpos cetônicos, os quais servem como
combustíveis para os tecidos extra-hepáticos. O cérebro, o qual não possui grande
capacidade de oxidação de ácidos graxos, pode usar corpos cetônicos durante o jejum
prolongado.

Tabela 5: Ácidos graxos biológicos mais comuns

8.1. ÁCIDOS GRAXOS COMO COMBUSTÍVEIS


Os ácidos graxos oxidados como combustível são principalmente os ácidos
graxos de cadeia longa liberados dos estoques de triglicerídeos do tecido adiposo entre
as refeições, durante o jejum noturno e durante aumento de demanda energética. Os
triglicerídeos são derivados de duas fontes, lipídios dietéticos e triglicerídeos
sintetizados no fígado.
45

Entre as refeições, um decréscimo da insulina e aumento dos hormônios contra


regulatórios (como o glucagon) ativam a lipólise e assim, ácidos graxos livres são
transportados para os tecidos ligados a albumina sérica. Dentro dos tecidos, a energia
derivada da oxidação dos ácidos graxos para Acetil CoA é feita na via da β-oxidação. O
Acetil CoA produzido, é oxidado principalmente no TCA ou convertido a corpos
cetônicos no fígado.

8.2. OXIDAÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS


Sua oxidação é feita, basicamente, em três estágios. No primeiro estágio, a
oxidação dos ácidos graxos asseguram sucessivas remoções de duas unidades de
carbonos na forma de Acetil CoA. Por exemplo, o ácido palmítico, com 16 carbonos
assegura sete passagens através da seqüência oxidativa, em cada uma dessas
passagens, libera dois carbonos na forma de Acetil CoA. O resultado geral é a
conversão de 16 cadeias carbonadas de palmitato em 8 moléculas de Acetil CoA.
Neste primeiro estágio, dependendo da estrutura do ácido graxo, podemos ter as
seguintes oxidações:
 β-Oxidação Mitocondrial: oxidação de AG de cadeia curta, média e
longa; ocorre na matriz mitocondrial. Sua função é a produção de
energia.
 β-Oxidação Peroxissomal: oxidação de AG de cadeia muito longa;
ocorre no peroxissomo. Sua função é o encurtamento da cadeia
carbonada, para posterior oxidação mitocondrial e metabolização de
xenobióticos.
 α-Oxidação: oxidação de AG de cadeia muito longa ramificada; ocorre
no peroxissomo. Sua função é o desfazer as ramificações, para
posterior β-oxidação peroxissomal e mitocondrial.
 ω-Oxidação: oxidação de AG de cadeia média; ocorre no retículo
endoplasmático liso. Sua função é tornar o AG mais polar, para
posterior eliminação na urina e metabolizar xenobióticos.

No segundo estágio da oxidação, os grupos Acetil CoA são oxidados em CO2 no


TCA, assim, os grupos Acetil CoA derivados da oxidação dos ácidos graxos entram na
via comum dos grupos Acetil CoA provenientes da glicólise (figura 32).
46

Figura 32: Catabolismo dos macronutrientes.


Fonte: https://pt-static.z-dn.net/files/daa/551a21c34d8f5a7d5fa6155fbb514aba.pdf

Os dois primeiros estágios produzem elétrons que são levados para NADH e
FAD(2H), os quais vão para a cadeia transportadora de elétrons, ocasionando a
fosforilação de ADP para ATP (Figura 33).

3
Figura 33: Estágios da oxidação de ácidos graxos .
47

8.3. RENDIMENTO ENERGÉTICO


Varia de acordo com o número de cadeias. No caso anterior, o ácido palmítico, o
qual contém 16 carbonos, requer 7 ciclos oxidativos para ser completamente convertido
a Acetil CoA. Após 7 ciclos, há 7 FAD(2H), 7 NADH e 8 Acetil CoA. Cada NADH
assegura 2,5 ATP, cada FAD(2H) assegura 1,5 ATP e cada Acetil CoA garante 10 ATP
no TCA.
Com o cálculo de rendimento, temos 108 moléculas de ATP formadas a partir de
uma molécula de ácido palmítico, entretanto, para ativação desse processo, há o
consumo de 2 ATP, assim, o rendimento final fica em 106 ATP.

8.4. REGULAÇÃO DA β - OXIDAÇÃO


Ácidos graxos são usados como combustível principalmente quando eles são
liberados do tecido adiposo em resposta a sinais hormonais durante o jejum ou
aumento de demanda energética. Muitos tecidos, como o músculo e os rins, oxidam
ácidos graxos completamente a CO2 e H2O. Nesses tecidos, o Acetil CoA produzido
pela β-oxidação entra no TCA. O FAD(2H) e o NADH proveniente da β-oxidação e do
ciclo do ácido tricarboxílico são reoxidados pela cadeia transportadora de elétrons e
ATP é gerado.
O processo de β-oxidação é regulado pelo requerimento energético das células
(pelos níveis de ATP e HADH).

8.5. METABOLISMO DE CORPOS CETÔNICOS


No geral, os ácidos graxos liberados dos triglicerídeos do tecido adiposo servem
como os maiores combustíveis para o corpo durante o jejum. Esses ácidos graxos são
completamente oxidados a CO2 e H2O por vários tecidos. No fígado, muito Acetil CoA
gerado a partir da β-oxidação é usado para síntese de corpos cetônicos, acetoacetato
e β-hidroxibutirato, os quais entram no sangue.
No músculo esquelético e em outros tecidos, esses corpos cetônicos são
convertidos de volta a Acetil CoA, os quais são oxidados no TCA com geração de ATP.
48

Figura 34: Metabolismo dos copos cetônicos.


Fonte: http://www.medicinanet.com.br/conteudos/revisoes/5605/diabetes_melito.htm

8.6. SÍNTESE DE CORPOS CETÔNICOS


No fígado, os corpos cetônicos são sintetizados na matriz mitocondrial a partir do
Acetil CoA gerado na oxidação dos ácidos graxos (figura 35). O acetoacetato pode ir
diretamente a corrente sanguínea ou ser reduzido a β-hidroxibutirato, o qual também
entra no sangue.
Além dessa interconversão, uma alternativa para o destino do acetoacetato é
sua descarboxilação espontânea, formando CO2 e acetona. Pelo fato da acetona ser
volátil, ela é expirada pelos pulmões (figura 35).
49

Figura 35: Síntese de Corpos cetônicos.


Fonte: https://sites.google.com/site/enfermagemufal20121/m-07-oxidacao-de-acidos-graxos

8.7. OXIDAÇÃO DOS CORPOS CETÔNICOS


Acetoacetato e β-hidroxibutirato podem ser oxidados como combustíveis na
maioria dos tecidos, incluindo músculo esquelético, cérebro, certas células renais e
células da mucosa intestinal. Nas mitocôndrias, acetoacetato é convertido a Acetoacetil
CoA, este por sua vez é transformado em 2 moléculas de Acetil CoA (figura 36), o qual
segue para o TCA.
50

Figura 36: Oxidação dos Corpos Cetônicos.


Fonte: https://sites.google.com/site/enfermagemufal20121/m-07-oxidacao-de-acidos-graxos

8.8. REGRA DE UTILIZAÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS E CORPOS CETÔNICOS NA


HOMEOSTASE DOS COMBUSTÍVEIS
Ácidos graxos são usados como combustíveis em algumas situações: durante o
jejum, jejum prolongado, dieta com baixo teor de carboidratos ou durante exercícios de
média intensidade. Sob essas condições, abaixa a concentração de insulina e aumenta
a de glucagon, epinefrina e outros hormônios que estimulam a lipólise.
No fígado, a razão da síntese de corpos cetônicos aumenta juntamente com o
aumento do suprimento energético a partir dos ácidos graxos.
Mas apenas 2 a 3 dias de jejum é que os corpos cetônicos têm seus níveis
aumentados no sangue, assim, disponibilizando-os para as células do cérebro, por
exemplo.
51

Concentração de glicose
e corpos cetônicos no
sangue

2
Tabela 6: Níveis de nutrientes no sangue após vários dias de jejum .
BHB – betahidroxibutirato
52

SEÇÃO 3
CAPÍTULO 9 - CONCEITOS BÁSICOS DE REGULAÇÃO HORMONAL NO
METABOLISMO DOS COMBUSTÍVEIS
Todas as células continuadamente usam ATP (adenosina trifosfato) e requerem
um constante suprimento de combustíveis para providenciar energia para geração de
ATP. Insulina (anabólico) e glucagon (catabólico) são os 2 maiores hormônios que
regulam a mobilização e estoque de combustíveis. Essa função é assegurada com o
intuito de garantir uma constante fonte de glicose, ácidos graxos e aminoácidos para
geração de ATP e para manutenção celular.
Pelo fato da maioria dos tecidos são parcialmente ou totalmente dependentes de
glicose para geração de ATP e para produção de precursores de outras vias, insulina e
glucagon mantém a glicemia corporal, consequentemente são peças chaves na
regulação do metabolismo bioquímico.
As concentrações de insulina e glucagon no sangue regulam o estoque e a
mobilização dos combustíveis. Insulina, liberada em resposta a ingestão de
carboidratos, promove utilização da glicose como combustível e como estoque, tanto
como glicogênio quanto na biossíntese a gordura. A insulina é nosso maior
hormônio anabólico.
O glucagon, é o maior hormônio contra-regulatório da insulina, está baixo
durante a refeição com carboidrato e alto durante o jejum (oposto da insulina).
Na tabela 7 um exemplo de estímulo hormonal a partir de uma dieta rica em
carboidratos, ocorre aumento da glicose sanguínea (hiperglicemia) em torno de 60
minutos após o início da refeição, e consequentemente aumento da liberação de
insulina e por ter ação contra-regulatória, queda na liberação do glucagon. Importante
destacar que a queda da glicemia ocorre de forma lenta ao longo de 60, 120, 180
minutos, retornando aos valores basais, dessa forma, voltando ao estado de jejum por
volta de 240 minutos pós refeição. Claro que esta velocidade é variável, sendo assim
alguns pontos merecem destaque:
 Nossa glicemia normal gira em torno de 70 a 99mg/dL;
 Após refeição rica em carboidratos, em pessoas saudáveis, esse aumento inicial
da glicemia chega próximo a 150/120mg/dL;
53

 Em pessoas cuja curva se inicia com valores maiores que 120mg/dL, há


necessidade de avaliação mais criteriosa, pois é fator de risco para um pré
diabetes, resistência à insulina ou diabetes do tipo II;
 A velocidade de queda da glicemia sanguínea pode variar segundo composição
da dieta, índice glicêmico da preparação e microbiota intestinal;

2
Tabela 7: Ingestão de carboidrato e sua resposta hormonal .

As figuras abaixo (37 e 38) mostram as relações da insulina e do glucagon nas


várias funções metabólicas corporais.

Insulina estimulando captação de glicose pelo


fígado par síntese de glicogênio, músculo
esquelético para produção de ATP para o próprio
músculo e parte desta glicose indo para tecido
adiposo a qual foi convertida a triglicerídeos.
Por ser anabólica, não age apenas no
metabolismo dos carboidratos, ocorrem
estímulos a síntese proteica pelos aminoácidos
provenientes da dieta e já presentes na
circulação, bem como, ressíntese dos
triglicerídeos no tecido adiposo, ou seja, um
hormônio anabólico a todos os macronutrientes.

Figura 37: Estímulo a Insulina.


Fonte: http://www.fisfar.ufc.br/v2/graduacao/arquivo_aulas/bioq_med/metabolismo2.pdf
54

Por outro lado, em situações de déficit nutricional,


ocorre estímulo a liberação de glucagon, o qual age
no catabolismo do glicogênio hepático (e não no
muscular, no músculo a ação é via cálcio) para
manter a glicemia, assim como a produção de
glicose a partir dos aminoácidos (gliconeogênese),
quebra dos triglicerídeos do tecido adiposo para
geração de AP, dessa forma, tentando mantes a
homeostase do organismo

Figura 38: Estímulo ao glucagon. Fonte: https://lowcarbnursing.wordpress.com/tag/lipogenese/


55

CAPÍTULO 10 - DIGESTÃO, ABSORÇÃO DOS CARBOIDRATOS

10.1. CARBOIDRATOS DIETÉTICOS


Carboidratos são as maiores fontes de energia dietética, podendo chegar a 40 a
45% das calorias ingeridas. Os grãos, tubérculos e vegetais constituem em torno de 50
a 60% das calorias glicídicas consumidas. O outro maior açúcar achado é a sacarose,
encontrado naturalmente em frutas e vegetais, um dissacarídeo formado por glicose e
frutose,
A maioria dos alimentos de origem animal, como o peixe e a carne, contém
pequenas quantidades de carboidratos, porém, o nutriente predominante para cálculo
de dieta nestes alimentos é a proteína. Outro importante carboidrato dietético de
origem animal é a lactose, um dissacarídeo composto por glicose e galactose achado
exclusivamente no leite e derivados, o qual tem recebido os holofotes ultimamente
devido ao equívoco gerado aos seus possíveis e até agora não comprovados deletérios
efeitos. A figura abaixo mostra as enzimas para cada dissacarídeo e para o amido.

Figura 39: As enzimas de digestão dos carboidratos


56

10.2. DIGESTÃO DOS CARBOIDRATOS DIETÉTICOS


A digestão do amido inicia-se na boca, em média 30% de nossa digestão é
cefálica, ou seja, a mastigação gera estímulos importantes à saciedade. As glândulas
salivares liberam α-amilase, a qual converte amido em pequenos polissacarídeos
chamados α-dextrinas. A α-amilase é inativada pela acidez do estômago (HCl).
A α-amilase pancreática e o bicarbonato são secretados pelo pâncreas exócrino
dentro do lúmen do intestino delgado, onde o bicarbonato neutraliza as secreções
gástricas, já α-amilase pancreática continua a digestão das α-dextrinas, convertendo-as
a dissacarídeos (maltose), trissacarídeos (maltotriose) e oligossacarídeos.

Figura 40: Visão Geral da Digestão dos Carboidratos.


Fonte: http://bioquimicadanutricao.blogspot.com/2011/05/digestao-e-absorcao-de-carboidratos.html

As fibras dietéticas, compostas principalmente de polissacarídeos, não podem


ser digeridas pelas enzimas humanas do trato intestinal. No cólon, as fibras dietéticas e
outros carboidratos não digeríveis podem ser convertidos a gases (H2, CO2 e metano)
e ácidos graxos de cadeia curta (principalmente ácido acético, ácido propiônico e ácido
butírico) pelas bactérias do cólon, no caso do butírico, a literatura mostra efeitos anti-
infalamatórios bastante contundentes.
Glicose, galactose e frutose formadas pelas enzimas digestivas são
transportadas para o interior das células epiteliais absortivas do intestino.
57

10.3. ABSORÇÃO DOS AÇÚCARES


Uma vez os carboidratos terem sido degradados em monossacarídeos, os
açúcares são transportados através das células epiteliais do intestino para dentro do
sangue para distribuição para todos os tecidos. Nem todos os carboidratos complexos
são digeridos na mesma velocidade dentro do intestino, alguns carboidratos são
imediatamente responsáveis pela mudança nos níveis glicêmicos após a ingestão, e
outros, apenas mudam a glicemia vagarosamente, por um tempo longo após a
ingestão.
O índice glicêmico de um alimento é uma indicação da velocidade de mudança
da glicemia após seu consumo. Glicose e maltose têm os maiores índices glicêmicos.

 Índice Glicêmico
 Indicador de taxa de absorção dos CHO presentes nos alimentos;
 Demonstra quanto à taxa de glicose sanguínea altera após a ingestão;
dos alimentos em determinado tempo;
 Velocidade de chegada a corrente sanguínea;
 Velocidade = disponibilidade do substrato;
 Alterações do IG
 Preparo e forma de utilização;
 Fibras;
 Fatores antinutricionais;
 Teor de gordura.

Glicose é transportada através das células do intestino pelo transporte facilitado


dependente de Na+ (Soro Caseiro). Há outros canais com os quais ocorre entrada tanto
de glicose quanto dos outros monossacarídeos da dieta, por conta disso é que se
orienta o consumo de uma dieta variada em carboidratos, para que haja uso de um
número maior de canais absortivos minimizando as possibilidades de saturação de
algum desses canais e, dessa forma, podendo gerar transtornos gastrointestinais.
58

CAPÍTULO 11 - FORMAÇÃO E DEGRADAÇÃO DO GLICOGÊNIO

Figura 41: Glicogenólise. Fonte: https://biologiaparaavida.com/2018/05/14/bioquimica-glicogenolise-e-gliconeogenese/

A imagem acima mostra o glicogênio no músculo e no fígado. O estoque de


glicogênio no músculo esquelético e no fígado tem diferentes funções. No músculo e na
maioria das outras células, o glicogênio estocado serve como uma fonte de
combustível para geração de ATP. No fígado, o estoque de glicogênio serve como uma
fonte para manutenção da glicemia. Essa diferença se dá pelo fato do fígado ter a
enzima glicose 6-fosfatase, a qual retira o fosfato da glicose, tornando glicose livre para
chegada a corrente sanguínea, ação esta inexistente no músculo, dessa forma, glicose-
6-fosfato deve seguir alguma via metabólica e não se transformar em sua forma livre.

11.1. FUNÇÕES DO GLICOGÊNIO NO MÚSCULO ESQUELÉTICO E NO FÍGADO


O glicogênio é achado na maioria das células, sua função é a de ser um
reservatório de energia para as células para a glicólise. Glicogênio é degradado em
glicose 1-fosfato, o qual é convertido a glicose 6-fosfato, a qual faz parte da via
glicolítica.
O glicogênio é um combustível extremamente importante como fonte para o
músculo esquelético quando as demandas de ATP estão altas e quando a glicose 6-
fosfato é usada rapidamente na glicólise anaeróbia.
Glicogênio serve com diferentes propósitos no fígado em comparação ao
músculo esquelético. O glicogênio hepático é a primeira fonte de glicose para
59

manutenção da glicemia. No fígado, a glicose 6-fosfato que é gerada pela


degradação do glicogênio é hidrolisada para glicose pela glicose 6 fosfatase,
uma enzima presente apenas no fígado e nos rins. Desse modo, a degradação do
glicogênio hepático é prontamente utilizada para manutenção da glicemia quando a
glicose dietética cai ou quando há aumento da atividade física, levando a maior
utilização de glicose pelos músculos. Essa via é ativada pelo glucagon.

11.2. REGULAÇÃO DA SÍNTESE E DA DEGRADAÇÃO DO GLICOGÊNIO


A regulação da síntese de glicogênio é diferente em cada tecido de acordo com
a função exercida desse substrato. Glicogênio hepático serve, principalmente, para dar
suporte a glicose sanguínea durante jejum ou durante extrema necessidade (exercício),
sendo assim, as vias degradativas e biossintéticas são reguladas, principalmente pelas
trocas na razão insulina/glucagon e pelos níveis sanguíneos de glicose, o qual reflete
na disponibilidade de glicose dietética.
Regulação dos Estoques de Glicogênio no fígado e no músculo

ESTADO REGULADORES RESPOSTA TECIDUAL


JEJUM FÍGADO
SANGUE: Glucagon ↑ Degradação do Glicogênio ↑
Insulina ↓ Síntese do Glicogênio ↓
REFEIÇÃO COM CHO SANGUE: Glucagon ↓ Degradação do Glicogênio ↓
Insulina ↑ Síntese do Glicogênio ↑
Glicose ↑
EXERCÍCIO E ESTRESSE SANGUE: Epinefrina ↑ Degradação do Glicogênio ↑
Ca++ ↑ Síntese do Glicogênio ↓
JEJUM MÚSCULO
SANGUE: Insulina ↓ Síntese do Glicogênio ↓
Transporte de Glicose ↓
REFEIÇÃO COM CHO SANGUE: Insulina ↑ Síntese do Glicogênio ↑
Transporte de Glicose ↑
EXERCÍCIO SANGUE: Epinefrina ↑ Síntese do Glicogênio ↓
Ca++ ↑ Degradação do Glicogênio ↑
Glicólise ↑

↑ = aumento comparado com estados


fisiológicos
↓ = decréscimo comparado com estados
fisiológicos

2
Tabela 8: Regulação dos Estoques de Glicogênio no fígado e no músculo. Adaptado .
60

11.3. REGULAÇÃO DO METABOLISMO DO GLICOGÊNIO HEPÁTICO


Glicogênio hepático é sintetizado após uma refeição contendo carboidratos a
qual gera aumento dos níveis de glicose sanguínea e a degradação em níveis
menores. Quando um indivíduo come uma refeição contendo carboidratos, a glicemia
aumenta imediatamente, os níveis de insulina aumentam e o glucagon decresce. O
aumento da glicemia e o aumento da razão insulina/glucagon inibe a degradação do
glicogênio e estimula sua síntese. O aumento imediato do transporte de glicose para o
interior dos tecidos periféricos o estoque de glicose como glicogênio, ajudam a manter
a glicemia nos valores normais durante o estado de jejum.

Com o passar do tempo, os níveis de insulina caem e o glucagon aumenta. A


queda dessa razão resulta em inibição da síntese e estimulação da degradação do
glicogênio. Como resultado, o glicogênio hepático é rapidamente degradado a glicose,
a qual é liberada no sangue.
61

HORAS DE JEJUM QTDADE. DE GLICOGÊNIO RAZÃO DA


μmol/g fígado GLICOGENÓLISE μmol/Kg-
min
0 300 -
2 260 4.3
4 216 4.3
24 42 1.7
64 16 0.3
2
Tabela 9: Efeito do jejum sobre o glicogênio hepático .

Glicogenólise e a gliconeogênese são ativadas pelos mesmos mecanismos


regulatórios hormonais (insulina/glucagon principalmente), a glicogenólise responde
mais rapidamente, com uma maior liberação de glicose. Uma substancial proporção de
glicogênio hepático é degradada dentro das primeiras horas após a refeição.

11.4. INSULINA NO METABOLISMO DO GLICOGÊNIO HEPÁTICO


A insulina é antagonista ao glucagon na degradação e síntese do glicogênio. Os
níveis de glicose no sangue são a sinalização para o controle da secreção de ambos
hormônios. Glicose estimula a liberação da insulina e suprimi a liberação do glucagon;
um aumenta enquanto o outro decresce após refeição hiperglicídica.

11.5. REGULAÇÀO DA SÍNTESE E DEGRADAÇÃO DO GLICOGÊNIO NO


MÚSCULO ESQUELÉTICO
A regulação da glicogenólise muscular está relacionada a disponibilidade de
utilização de ATP para contração muscular, O glicogênio do músculo esquelético
produz glicose 1-fosfato e uma pequena quantidade de glicose livre. Glicose 1-fosfato é
convertida a glicose 6-fosfato, a qual é garantida para via glicolítica.
Desse modo, o glicogênio muscular é degradado apenas quando a demanda por
ATP está alta a partir da glicólise. O maior aumento de demanda ocorre durante
glicólise anaeróbia. Glicose anaeróbia ocorre em tecidos com poucas mitocôndrias,
grande quantidade de enzimas glicolíticas e altos níveis de glicogênio.
A regulação da síntese e degradação do glicogênio muscular difere das vias
hepáticas em diversos e importantes aspectos:
62

1. O glucagon não tem efeito sobre o músculo, desse modo, os níveis de glucagon
no músculo não mexem no estado jejum/alimentado;
2. Insulina estimula síntese o glicogênio muscular;
3. AMP é um ativador das enzimas do músculo esquelético, mas não das enzimas
hepáticas;

2
Figura 42: ATP/ADP/AMP .

4. Os efeitos do Ca++ no músculo resultam principalmente de sua liberação do


retículo sarcoplasmático após estimulação neural e não mecanismo hormonal;
5. Glicose não é um inibidor fisiológico do glicogênio fosforilase no músculo;

Figura 43: Esquema da síntese e degradação do glicogênio.


Fonte: https://slideplayer.com.br/slide/6969265/
63

6. Glicogênio é mais forte inibidor do feedback, glicogênio sintase do músculo do


que o glicogênio sintase do fígado, resultando em uma menor quantidade de
glicogênio estocado por grama de peso no músculo;
64

CAPÍTULO 12 – GLICONEOGÊNESE
Durante o jejum, muitas reações da glicólise são reversas (mas nem todas) com
a produção hepática de glicose para manutenção da glicemia. Este processo de
produção de glicose é chamado de gliconeogênese.
Gliconeogênese, a qual ocorre primordialmente no fígado, é a via para síntese
de glicose a partir de compostos que não sejam carboidratos. Nos humanos, os
maiores precursores de glicose são o lactato, glicerol e os aminoácidos. Com exceção
de três passos seqüenciais, as reações da gliconeogênese são reversas aos passos da
glicólise, mas sempre bom destacar que não de pode dizer que uma é o inverso da
outra!!
Os passos os quais são diferentes de uma via a outra são relacionados a
molécula de fosfato, por exemplo, na glicólise a 1ª reação é a fosforilação da glicose a
glicose-6-fosfato pela hexoquinase (ou glicoquinase), ou seja, uma adição de fosfato,
logo na gliconeogênese haverá necessidade de retirada desse fosfato, a enzima que
tem essa função é a glicose-6-fosfatase!
A figura 44 mostra essas diferenças enzimáticas.
65

Figura 44: Glicólise e Gliconeogênese hepáticas e suas diferenças enzimáticas.


Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Gliconeog%C3%AAnese

12.1. METABOLISMO DA GLICOSE NO FÍGADO


Glicose serve como combustível para a maioria dos tecidos do corpo (cérebro e
células vermelhas, por exemplo).
Após uma refeição, o alimento é a fonte de glicose sanguínea, onde o fígado
transforma essa glicose em ATP ou a armazena como glicogênio. O fígado também
usa a via glicolítica para converter glicose a piruvato, o qual fornece carbono para a
síntese de ácidos graxos (figura 44), porém, quando há déficit, o fígado busca
alternativas para gerar glicose.
66

12.2. GLICONEOGÊNESE

Glicose

Figura 45: Gliconeogênese e suas reações chaves.


Fonte: https://faculmedmz.blogspot.com/2012/09/metabolismo-dos-glicidos.html

Gliconeogênese é o processo pelo qual a glicose é sintetizada a partir de


precursores não glicídicos, ocorre principalmente no fígado sob condições de jejum.
Sob condições extremas de jejum prolongado, o córtex renal também auxilia na
produção da glicose. Mas a maior parte é utilizada pela própria medula renal, alguma
parte entra na corrente sanguínea.

12.3. PRECURSORES DA GLICONEOGÊNESE


As três maiores fontes de carbono para a gliconeogênese nos humanos são o
lactato, glicerol e os aminoácidos, particularmente a alanina. Lactato é produzido pela
glicólise anaeróbia em tecidos como o músculo em exercício ou as células vermelhas.
Glicerol é liberado dos estoques do tecido adiposo de triglicerídeos e os aminoácidos
vêm principalmente do pool muscular a partir da proteólise.
67

12.4. ESTÍMULO A GLICONEOGÊNESE


Passadas 4 horas após a refeição (valor médio, varia de acordo com as
características da refeição), o fígado está suprindo de glicose a corrente sanguínea
pelo processo de glicogenólise, mas também pela gliconeogênese. Variações
hormonais causadas por tecidos periféricos liberam precursores que providenciam
carbonos para a gliconeogênese, especificamente lactato, aminoácidos e glicerol.
Mecanismos regulatórios promovem a conversão de precursores
gliconeogênicos para glicose. Esses mecanismos previnem a ocorrência de ciclos
inúteis, evitando gastos desnecessários de energia.
Esses mecanismos regulatórios inativam as enzimas glicolíticas piruvato
quinase, PFK-1 e glicoquinase durante o jejum, promovendo o fluxo de carbonos para
glicose via gliconeogênese.

12.5. ESTÍMULO A LIPÓLISE E A PROTEÓLISE


Variações hormonais que ocorrem durante o jejum estimulam a quebra de
triglicerídeos. Consequentemente, ácidos graxos e glicerol são liberados na corrente
sanguínea. Glicerol serve como uma fonte de carbono para gliconeogênese. Ácidos
graxos tornam-se os maiores combustíveis para o corpo e são oxidados a CO 2 e H2O
por vários tecidos, os quais decrescem sua utilização de glicose. Ácidos graxos
também são oxidados a Acetil CoA no fígado para providenciar energia para
gliconeogênese (oferecendo NADPH). No jejum prolongado, Acetil CoA é convertido a
corpos cetônicos, os quais entram na corrente sanguínea e servem como combustível
adicional para músculo e cérebro em condições de déficit nutricional. Mas é importante
destacar que uma molécula de triglicerídeos possui 3 ácidos graxos e 1 glicerol, logo a
chance de geração de glicose pelos lipídios é de 25%! Além disso, para ser
disponibilizado o glicerol, este deve ser “separado” dos ácidos graxos ainda nas
mitocôndrias do tecido adiposo, tecido este que pode estar em processo inflamatório,
sendo assim, menor eficiência metabólica, e para terminar esse longo caminho, o
glicerol precisa ainda ser fosforilado a glicerol 3-fosfato para depois se tornar um
precursor da gliconeogênese, o gliceraldeído 3-fosfato, ao contrário dos precursores
proteicos, os aminoácidos, estes necessitam apenas da retirada da amina, via ciclo da
ureia, para oferecerem o esqueleto de carbono ideal para sintetizar uma molécula de
glicose.
68

A gliconeogênese proteica é mais evidente que a lipídica, pelo fato do pool de


aminoácidos ser mais biodisponível que o glicerol, além disso, há diversos aminoácidos
glicogênicos que podem gerar glicose, por conta disso, estratégias restritivas
carboidratos para perda de peso geram aumento da gliconeogênese, mas com maior
percentual proveniente do metabolismo proteico e não lipídico!!

12.6. RESUMO DAS FONTES DE GLICOSE SANGUÍNEA


ESTADO FONTE DE GLICOSE
APÓS REFEIÇÃO IMEDIATA CARBOIDRATOS DIETÉTICOS
APÓS 2 HORAS DA REFEIÇÃO GLICOGENÓLISE / GLICONEOGÊNESE
APÓS 12 HORAS DA REFEIÇÃO GLICOGENÓLISE
APÓS 16 HORAS DA REFEIÇÃO GLICOGENÓLISE = GLICONEOGÊNESE
APÓS 30 HORAS DE REFEIÇÃO GLICONEOGÊNESE
2
Tabela 10: Utilização de fontes de carboidratos .
69

SEÇÃO 4

CAPÍTULO 13 - DIGESTÃO E TRANSORTE DOS LIPÍDIOS DIETÉTICOS

Figura 46: Resumo da digestão dos lipídios.


Fonte: https://slideplayer.com.br/slide/9546303/

Triglicerídeos são as maiores fontes lipídicas na dieta dos humanos, consistindo


de três ácidos esterificados para um glicerol ligado.
70

Figura 47: Biossíntese dos Triglicerídeos, mostrando o precursor da via glicolítica, glicerol 3-fosfato. Fonte:
http://abioquimicadaobesidade.blogspot.com/2015/06/triacilglicerois-lipideos-e-acidos.html

O início de sua digestão (limitada) ocorre na boca (lipase lingual) e no estômago


(lípase gástrica), limitadas porque há baixa solubilidade do substrato. No intestino,
entretanto, as gorduras são emulsificadas pelos sais biliares que são liberados pela
vesícula biliar. Este aumento de superfície de contato dos lipídios para a lípase
pancreática e colipase torna a digestão possível dos triglicerídeos.
O hormônio colecistoquinina (CCK) é secretado pelo intestino, o qual sinaliza a
vesícula biliar a contrair-se e liberar os ácidos biliares e o pâncreas a liberar as
enzimas digestivas.

13.1. DIGESTÃO DOS TRIGLICERÍDEOS


Triglicerídeos são as maiores gorduras encontradas na dieta dos humanos, pois
são os depósitos de lipídios de plantas e animais, nossos maiores suprimentos
alimentares. A principal rota para digestão dos triglicerídeos envolve a hidrólise para
ácidos graxos e 2-monoacilgliceróis no lúmen do intestino.
71

Figura 48: Digestão dos Triglicerídeos. Fonte: https://slideplayer.com.br/slide/9546303/

13.2. AÇÃO DOS SAIS BILIARES


Gorduras dietéticas deixam o estômago e entram na primeira porção do
intestino, onde são emulsificadas (suspensos em pequenas partículas no ambiente
aquoso) pelos sais biliares, os sais biliares são sintetizados no fígado e armazenados
pela vesícula biliar. A contração da vesícula e a secreção das enzimas pancreáticas
são estimuladas pela colecistoquinina, a qual é secretada pelas células intestinais
quando o conteúdo estomacal entra no intestino.
Sais biliares agem como detergentes, ligando aos glóbulos de gordura, os quais
são quebrados por ação peristáltica do músculo intestinal. A emulsificação da gordura,
a qual leva a um aumento da superfície de contato, facilita o ataque das enzimas
digestivas pancreáticas.
72

Figura 49: Processo de reciclamento dos sais biliares.


Fonte: http://2.bp.blogspot.com/-s1B0Ju_4MHQ/TssA9guXPhI/AAAAAAAAAI8/Pt4Igz6NFRE/s1600/Circulacao-entero-hepatica-.jpg

13.3. ABSORÇÃO DOS LIPÍDIOS DIETÉTICOS


Os ácidos graxos e os 2-monoacilgliceróis são produzidos pela digestão das
gorduras. Na digestão das gorduras, ocorre a formação de micelas, essas micelas
viajam para o epitélio intestinal, onde os ácidos graxos e os 2-monoacilgliceróis são
absorvidos, mas os sais biliares são levados de volta ao intestino. Os sais biliares são
altamente reabsorvidos, mais do que 95% dos sais biliares recirculam, viajando através
da circulação enterohepática para o fígado, o qual secreta os sais para dentro da
vesícula para serem estocados e posteriormente ejetados no lúmen durante outro ciclo
digestivo.

13.4. SÍNTESE DE QUILOMÍCRONS


Dentro das células epiteliais intestinais, os ácidos graxos e o 2-monoacilglicerol
são condensados por reações enzimáticas no retículo endoplasmático rugoso para
formar triglicerídeos.
Triglicerídeos são transportados em partículas de lipoproteínas porque são
insolúveis em água, se entrassem diretamente no sangue, eles levariam ao
impedimento do fluxo sanguíneo. Quilomícrons também contém colesterol e vitaminas
lipossolúveis.
As proteínas constituintes de lipoproteínas são conhecidas como apoproteínas.
73

2
Figura 50: Etapa final da formação dos Quilomicrons .

13.5. TRANSPORTE DOS LIPÍDIOS DIETÉTICOS NO SANGUE


Pelo processo de exocitose, quilomicrons são secretados pelas células do
epitélio intestinal dentro do ciclo do sistema linfático e entram no sangue através do
ducto torácico. Esses quilomícrons são incorporados por triglicerídeos com colesterol e
apolipoproteínas. (Figura 51)

Figura 51: A utilização dos quilomícrons.


Fonte: http://quimicafisiologicaufruralrj.blogspot.com/2017/05/digestao-e-absorcao-de-lipidios.html

Quilomícrons iniciam sua entrada na corrente sanguínea entre 1 e 2 horas após


o início da refeição; como a refeição é digerida e absorvida, eles continuam a entrar no
sangue por muitas horas.
74

Inicialmente, as partículas são chamadas quilomícrons nascentes, com a


aquisição de proteínas vindas do HDL dentro da linfa e do sangue, eles tornam-se
quilomícrons “maduros”.

13.6. DESTINO DOS QUILOMÍCRONS


Os triglicerídeos dos quilomícrons são digeridos pela LPL (Lipase lipoprotéica).
LPL é produzida pelas células adiposas, células musculares (particularmente a
cardíaca) e as células das glândulas mamárias das lactentes. LPL é mais ativa após a
refeição, quando os níveis de quilomícrons estão elevados no sangue. Insulina estimula
a síntese e secreção da LPL do tecido adiposo, como após refeição, quando os níveis
de triglicerídeos estão aumentados na circulação, com isso, facilitando a hidrólise de
ácidos graxos dos triglicerídeos.
Os ácidos graxos liberados dos triglicerídeos pela LPL não são muito solúveis
em água, elas tornam-se solúveis no sangue pela formação de complexos com
albumina.
O maior destino dos ácidos graxos é seu estoque como triglicerídeos no tecido
adiposo. Entretanto, esses ácidos graxos também podem ser oxidados em energia no
músculo e outros tecidos.
Quando ocorrem excessos lipídios na dieta, fígado sintetiza ácidos graxos e
triglicerídeos, estes triglicerídeos, juntamente com o colesterol vindo dos quilomícrons,
são exportados em um segundo tipo de proteína, o VLDL (Very Low Density
Lipoprotein).
Este VLDL circula e cede triglicerídeos aos tecidos, os remanescentes podem
ser recaptados pelo fígado ou se converterem a LDL (Low Density LipoproteinI), o
chamado “colesterol ruim”, ou seja, LDL é um ex-VLDL depletado de triglicerídeos, rico
em colesterol e proteínas. Importante destacar que será considerado “ruim” quando,
em algumas circunstâncias (por exemplo, na inflamação crônica), LDL sofre oxidação
no plasma e tecidos, dessa forma, LDL oxidada é captada por receptores de
macrófagos, que captam grandes quantidades de colesterol formando “células
espumosas” que se depositam nas paredes dos vasos, gerando processo inflamatório
pelas próprias células espumosas, parecendo ajudar a produzir e perpetuar a placa de
ateroma, que passa a tornar-se obstrutiva.
75

Figura 52: Ação enzimática na lipólise

Figura 53: Destino dos Quilomicrons. Quilomicrons são sintetizados nas células epiteliais intestinais, secretados
dentro da linfa, passam pelo sangue e tornam-se quilomicrons maduros. Na parede dos capilares do tecido adiposo
e músculo, LPL digere triglicerídeos (TG) de quilomicrons para ácidos graxos (FA) e glicerol. FA são oxidados no
músculo ou estocados nas células adiposas como triglicerídeos. Ácidos graxos, aminoácidos, colesterol e glicerol
podem ser reutilizados pela célula.
Fonte: http://wbio.com.br/wp-content/uploads/2016/08/Metabolismo-e-transporte-do-colesterol-Wbio.pdf

13.7. SÍNTESE E UTILIZAÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS


Ácidos graxos são sintetizados principalmente no fígado dos humanos, com a
glicose servindo como a maior fonte de carbono. Glicose é convertida, através da
glicólise, em piruvato, o qual entra na mitocôndria (via ciclo de Krebs) sob a forma de
Acetil CoA formando citrato (Figura 54). Citrato é transportado para o citosol, onde
libera Acetil Coa para síntese de ácidos graxos e o oxaloacetato retorna ao passo
inicial da respiração celular.
76

Figura 54: Produção hepática de acetil CoA a partir da glicose.


Fonte: https://www.todamateria.com.br/ciclo-de-krebs/

Ácidos graxos são sintetizados quando há excesso de calorias ingeridas. A


maior fonte de carbono para síntese de ácidos graxos é o carboidrato dietético. Um
excesso de proteína dietética também pode resultar em aumento da síntese de ácidos
graxos.
Quando um excesso de carboidrato dietético é consumido, a glicose é convertida
a Acetil CoA, produzindo palmitato (Figura 55). Palmitato, então, é convertido a outros
ácidos graxos.

Figura 55: Produção de palmitato, seqüência de lipogênese.


Fonte: http://bizuando.com/material-apoio/bioq2/13-Biossintese-acido-graxo.pdf
77

Figura 56: Estado Alimentado. Fonte: https://www.todamateria.com.br/insulina/

Figura 57: Estado de jejum. Fonte: http://bioquimicadanutricao.blogspot.com/2011/06/transporte-de-lipidios.html

A conversão de ácidos graxos (FA) a partir dos triglicerídeos (TG) de


quilomicrons e VLDL para estoque de TG nas células adiposas pode ser visto no
desenho acima. Perceba que a insulina estimula tanto o transporte da glicose para
dentro da célula quanto a secreção de LPL pelas células. Glicose providencia glicerol
3-fosfato para síntese de TG. Insulina também estimula a síntese e secreção de LPL.
Já a mobilização de triglicerídeos do tecido adiposo no estado de jejum ocorre
quando a insulina está com seus níveis baixos e o glucagon está em alta, essa relação
estimula a HSL (lipase hormônio sensível). Com a ativação da HSL, inicia-se a quebra
dos TG do tecido adiposo.
78

13.8. ESTOQUE DOS TRIGLICERÍDEOS NO TECIDO ADIPOSO


Após uma refeição, os estoques de triglicerídeos aumentam no tecido adiposo.
Células adiposas secretam LPL e a secretam dentro dos capilares do tecido adiposo
quando a razão insulina/glucagon está elevada. Os ácidos graxos entram nas células
adiposas e são ativados formando triglicerídeos.
Além disso, a insulina estimula o metabolismo da glicose nas células, levando a
conversão de glicose a ácidos graxos nas células adiposas, entretanto, não se pode
esquecer que o fígado é maior sítio de síntese de ácidos graxos nos humanos.

13.9. COLESTEROL E TRIGLICERÍDEOS SÃO TRANSPORTADOS AS CÉLULAS-


ALVO POR LIPOPROTEÍNAS
Colesterol e lipoproteínas são transportados nos líquidos humanos na forma de
partículas lipoprotéicas. Os componentes protéicos contém 2 funções: tornar a gordura
hidrossolúvel e sinalizar as células alvo.
As lipoproteínas são classificadas de acordo com a densidade crescente:
quilomicrons, quilomicrons remanescentes, lipoproteínas de muita baixa densidade
(VLDL), lipoproteínas de densidade intermediária (IDL), lipoproteínas de baixa
densidade (LDL) e lipoproteínas de alta densidade (HDL).
Triglicerídeos, colesterol e outros lipídios obtidos pela dieta são transportados do
intestino na forma de grandes quilomicrons, os quais possuem baixa densidade devido
ao fato de que os triglicerídeos constituem aproximadamente 99% de seu conteúdo. Os
triglicerídeos dos quilomicrons são hidrolisados pela lípase lipoprotéica localizada na
parede dos vasos sanguíneos do músculo e de outros tecidos que usam ácidos graxos
como combustível.
Triglicerídeos e colesterol em excesso das necessidades do próprio fígado são
exportados para o sangue na forma de VLDL, essas partículas têm dois destinos,
metade delas é captada pelo fígado, enquanto a outra metade é convertida à LDL. A
LDL é a principal carreadora de colesterol no sangue, portanto seu papel é transportar
colesterol para os tecidos periféricos e regular a síntese de colesterol nestes locais.
Um propósito diferente é cumprido pela HDL, que apanha o colesterol liberado
no plasma pela morte celular e a partir da remodelação das membranas.
79

CAPÍTULO 14 - DIGESTÃO DA PROTEÍNA E ABSORÇÃO DOS AMINOÁCIDOS


Proteínas dietéticas são fontes primárias de nitrogênio que são metabolizados
pelo corpo. Aminoácidos, produzidos pela digestão de proteínas dietéticas são
absorvidas através das células epiteliais intestinais e assim entram no sangue.
Aminoácidos são usados para síntese de proteínas e outros compostos contendo
nitrogênio, ou oxidadas para produção de energia.

Figura 58: Resumo do metabolismo dos aminoácidos. Fonte: https://slideplayer.com.br/slide/11470584/

Compostos derivados dos aminoácidos incluem células protéicas, hormônios,


neurotransmissores, creatina fosfato, parte da hemoglobina, melanina (pigmento da
pele).

14.1. DIGESTÃO DA PROTEÍNA


A digestão da proteína inicia-se no estômago e é completada no intestino. As
enzimas que digerem as proteínas são produzidas inativadas (zimogênios). Os
zimogênios são secretados das células nas quais são sintetizados e entram no lúmen
do TGI onde são ativados (Figura 59).
Essas enzimas têm diferentes especificidades, nenhuma sozinha, consegue
digerir as proteínas, porém, em ação conjunta, podem fazer o serviço completo. (Figura
60)
80

Figura 59: Digestão das proteínas.


Fonte: http://quimicafisiologicaufrrj.blogspot.com/2017/04/digestao-e-absorcao-de-proteinas.html

Figura 60: Ativação das enzimas protéicas.


Fonte: http://quimicafisiologicaufrrj.blogspot.com/2017/04/digestao-e-absorcao-de-proteinas.html

14.2. DIGESTÃO DAS PROTEÍNAS NO ESTÔMAGO


Pepsinogênio é secretado pelas células estomacais. As células parietais
gástricas secretam ácido clorídrico (HCl), o ácido no lúmen estomacal altera a
conformação do pepsinogênio, ativando-o em pepsina. As proteínas dietéticas são
desnaturadas pela acidez estomacal.
81

A digestão das proteínas por essa enzima é pequena, produzindo pequenos


peptídeos e alguns aminoácidos livres.

14.3. DIGESTÃO DAS PROTEÍNAS PELAS ENZIMAS PANCREÁTICAS


Como o conteúdo gástrico se esvazia dentro do intestino, este encontro libera as
secreções pancreáticas. Uma dessas secreções é o bicarbonato, o qual neutraliza a
acidez estomacal e com este aumento de pH, ocorrerá ativação das secreções
pancreáticas.
O zimogêno tripsinogênio é ativado para formar tripsina pela enteropeptidase,
secretada pela borda em escova do intestino. Tripsina cataliza a conversão do
quimotripsinogênio em quimotripsina, prolestelade em elastase e procarboxipeptidase
em carboxipeptidase. Assim, a tripsina torna-se fundamental para digestão das
proteínas.
As ações dessas endopeptidases pancreáticas continuam a digestão das
proteínas dietéticas iniciadas pela pepsina no estômago.
Peptídeos e aminoácidos são liberados nessa fase da digestão protéica. O
trabalho conjunto das ações das enzimas proteolíticas das células epiteliais
(exopeptidases, que terminam a digestão das proteínas, agem dentro da borda em
escovae também dentro das células), estomacais e pancreáticas leva a quebra das
proteínas para formar aminoácidos livres. A quantidade de proteína que é digerida e
absorvida por dia a partir dos sucos digestivos pode ser maior que a proteína
consumida na dieta.

2
Figura 61: Borda em escova .

Após a digestão, os aminoácidos são absorvidos do lúmen intestinal através


sistema de transporte ativo secundário dependente de Na+ e através de difusão
facilitada.
82

Figura 62: Transporte transepitelial dos aminoácidos. Fonte: https://slideplayer.com.br/slide/13523829/


83

CAPÍTULO 15 - CICLO DA URÉIA


Em comparação com o metabolismo dos carboidratos e lipídios, o metabolismo
dos aminoácidos é complexo, temos que lembrar que não há apenas o destino dos
carbonos do aminoácido, mas também o destino do nitrogênio. Durante o metabolismo
dos aminoácidos, estes viajam no sangue de um tecido a outro, e por fim, a maioria do
nitrogênio é convertida a uréia no fígado e os carbonos são oxidados a CO2 e H2O em
tecidos variados.
Após uma refeição que contenha proteínas, aminoácidos são liberados pela
digestão, passam do intestino, através da veia porta hepática, e vão para o fígado. Em
uma dieta normal contendo de 60 a 100g de proteína, a maioria dos aminoácidos é
usada para a síntese de proteínas no fígado e em outros tecidos. Excessos de
aminoácidos podem ser convertido à glicose ou triglicerídeos.

Figura 63: Destino dos aminoácidos e seus compostos. Fonte: https://slideplayer.com.br/slide/11470584/


84

Figura 64: Destinos do metabolismo dos aminoácidos. Fonte: https://slideplayer.com.br/slide/11470584/

No estado alimentado, aminoácidos liberados pela digestão das proteínas


dietéticas viajam através da veia porta hepática, onde são usados para síntese de
proteínas, particularmente proteínas plasmáticas, como albumina sérica. Excessos de
aminoácidos são convertidos à glicose ou triglicerídeos. Por fim, estes são
empacotados e secretados como VLDL. A glicose produzida pelos aminoácidos no
estado alimentado é estocada como glicogênio ou liberada dentro da corrente
sanguínea caso os níveis sanguíneos estiverem baixos. Aminoácidos que passam
através do fígado são convertidos a proteínas em células de outros tecidos.
No estado de jejum, aminoácidos são liberados a partir da proteína muscular.
Algumas entram diretamente na corrente sanguínea, outras são parcialmente oxidadas
e o nitrogênio é estocado na forma de alanina e glutamina, os quais entram no sangue.
Nos rins, a glutamina libera a amônia dentro da urina e é convertida a alanina e serina.
Nas células do intestino, glutamina é convertida a alanina. Alanina (o maior aminoácido
gliconeogênico) e outros aminoácidos entram no fígado, onde este nitrogênio é
convertido a uréia, o qual é excretado na urina, e seus carbonos a glicose e corpos
cetônicos, os quais são oxidados por vários tecidos para produção de energia.
85

Glutamato, glutamina, alanina, são os principais carreadores de nitrogênio em


nosso organismo, fazem este processo através de mecanismos de Transaminação e
desaminação.

15.1. CICLO DA URÉIA


Em adultos normais, há um balanço de nitrogênio, que é a quantidade de
nitrogênio ingerida por dia, principalmente na forma de proteína dietética, pela
quantidade excretada de nitrogênio. O maior produto excretório como nitrogênio é a
uréia, a qual sai do corpo sob a forma de urina. Este composto inócuo, produzido
principalmente no fígado pelo ciclo da uréia, serve como excretor da amônia, já que
esta é tóxica ao organismo (seu aumento pode refletir em depleção de
neurotransmissores e alterações no balanço osmótico celular), particularmente para o
cérebro e SNC. Normalmente, pequena quantidade de amônia (NH4+) está presente no
sangue.
Sendo assim, é a rota metabólica responsável pela transformação da amônia em
ureia, livrando dessa forma, o organismo dos efeitos tóxicos da amônia.

15.2. REAÇÕES DO CICLO


O nitrogênio entra no ciclo da uréia como NH4+ e aspartato. NH4+ forma
carbamoil fosfato, o qual reage com ornitina para formar citrulina. Ornitina é o composto
que tanto inicia e é regenerado pelo ciclo (como o oxaloacetato no TCA).
O ciclo da ureia possui etapas no citosol e nas mitocôndrias, para geração da
molécula de ureia 5 passos são necessários para produção deste composto:
86

3
Figura 65: O ciclo da ureia em etapas .

O aspartato é um passo comum entre o TCA e o ciclo da uréia, abaixo na figura


66, há o passo comum entre as duas vias,

Figura 66: Reações comuns entre o TCA e o ciclo da uréia. Todos os passos ocorrem no citoplasma, exceto
a síntese de citrulina que ocorre na mitocôndria.
Fonte: https://www.asic.pt/images/nova_pasta/casos_clinicos_2017/dia-11-dez/AP_02_Doencas-do-Ciclo-
da-Ureia.pdf
87

15.3. REGULAÇÃO DO CICLO DA URÉIA


O fígado humano tem uma vasta capacidade em converter os nitrogênios dos
aminoácidos em uréia, desse modo, evitando os efeitos tóxicos provenientes da
amônia, a qual não deve se acumular. Em geral, o ciclo da uréia é regulado pela
disponibilidade de substrato; o aumento da razão de produção a amônia, leva ao
aumento da formação de uréia.
A indução ao ciclo da uréia ocorre em resposta a condições que requerem
aumento do metabolismo da proteína, como uma dieta hiperproteica ou jejum
prolongado. Em ambas as condições fisiológicas, como o carbono dos aminoácidos é
convertido a glicose, o nitrogênio é convertido a uréia.

15.4. FUNÇÕES DA URÉIA DURANTE O JEJUM


Durante o jejum, o fígado mantém os níveis de glicose no sangue. Aminoácidos
provenientes do músculo são as maiores fontes de carbono para produção de glicose
pela gliconeogênese. Como o carbono dos aminoácidos é convertido a glicose, o
nitrogênio é convertido a uréia. Desse modo, a excreção de uréia é maior durante o
jejum. Com o progresso do jejum, entretanto, o cérebro inicia o uso de corpos
cetônicos, conservando a glicose. Assim, menos proteína muscular é quebrada para
providenciar aminoácidos para gliconeogênese, e diminui a produção de glicose pelos
aminoácidos, logo, menos uréia é produzida.

Figura 67: Utilização de aminoácidos durante jejum ou práticas de exercícios físicos.


Fonte: http://professorromario.blogspot.com/2017/03/ciclo-alanina-glicose.html

O maior aminoácido utilizado como substrato para gliconeogênese é a alanina


(figura 67), a qual é sintetizada nos tecidos periféricos para atuarem como carreadores
de nitrogênio. Glucagon liberado, o qual é expelido durante o jejum, estimula o
88

transporte da alanina para dentro do fígado. Duas moléculas de alanina são


necessárias para gerar uma molécula de glicose. O nitrogênio vindo dessas duas
moléculas de alanina é convertido a uma molécula de uréia.
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16. CONSIDERAÇÕES FINAIS


Espero que tenha sido produtiva a leitura deste manual de Bioquímica, ao longo
destes anos de docência, percebi uma certa dificuldade tanto de professores quanto de
alunos em ter uma linguagem semelhante quando se discute bioquímica, sendo assim,
procurei tornar a leitura a mais didática possível com o maior objetivo de encurtar a
distância dos alunos a um tema de extrema importância a todos nós, a Bioquímica.
Obrigado pela confiança em meu trabalho e aguarde, novidades estão à
caminho.
Vamos tornar a BIOQUIMICA DESCOMPLICADA!!
Abraços,
Prof. Dr. Rafael Longhi
90

17. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. BERG, Jeremy M.; STRYER, Lubert; TYMOCZKO, John L. Bioquímica. 7. ed.

Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.

2. SMITH, C., MARKS, A.D., LIEBERMAN, M. Bioquímica Médica Básica de

Marks: Uma Abordagem Clínica – 2 ed. Porto Alegre (RS): Artmed. 2007

3. NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios de Bioquímica de Lehninger. 7. ed.

Porto Alegre: Artmed, 2019. 1272 p.

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