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Implantação 

de Medição eletrônica em baixa tensão 
Documento Anexo à Nota Técnica nº 0013/2009 – SRD / ANEEL 

COMENTÁRIOS 

A  seguir,  estão  as  considerações  que  eu,  José  Roberto  Doria  de  Vasconcellos  Jr.,  Engenheiro 
Eletricista, que trabalhou na manutenção de medidores eletrônicos de uma concessionária de 
energia elétrica de grande porte, pode dar a respeito da consulta pública acima. 

Coloquei, antes das respostas às perguntas presentes na consulta pública, alguns pensamentos 
que penso serem importantes se considerar. 

Sob  minha  ótica,  as  considerações  a  respeito  da  medição  de  energia,  através  de  medidores, 
devem considerar 3 elementos: Consumidor, Concessionária e Governo. 

Muito se fala e o texto desta consulta pública deixa bem claro a intenção de se copiar modelos 
e  soluções  de  outros  países,  caindo  nos  erros  de  não  se  considerar  particularidades  de  cada 
um  deles  e,  mais  tarde,  perceber  o  grande  erro  que  se  cometeu,  perdendo  divisas  e 
prejudicando  a  população  que,  em  última  instância,  no  Brasil,  é  quem  paga  pelos  erros  das 
autoridades  e  empresas  que  seria,  neste  caso,  o  aumento  das  tarifas,  com  a  conseqüente 
majoração na arrecadação de impostos pelos Governos, aumento dos gastos com a máquina 
pública e implantação de um país tremendamente “pesado” em suas ações e corrupções. 

Quando  se  fala  em  medição  de  energia,  há  que  se  considerar  que  ela  é  feita  através  de  um 
equipamento  denominado  medidor  de  energia.  Hoje,  o  medidor  eletromecânico,  em  função 
de suas características construtivas e tecnológicas,  serve como um indicador do consumo de 
energia  que  passou  por  ele  e  pela  carga  que  mede  e  que,  portanto,  deverá  ser  pago  pelo 
consumidor. 

Percebe‐se que quando se fala em implantação de medição eletrônica, no Brasil, está focando‐
se  exclusivamente  no  aumento  de  receita  por  parte  da  concessionária  e  esquecendo‐se, 
novamente  daquele  que  deve  ser  a  razão  de  existência  do  sistema  elétrico,  que  é  o 
consumidor  brasileiro.  Diz‐se  que  o  medidor  eletrônico  tem  várias  funcionalidades  mas,  de 
fato, para que servirão para o consumidor de baixa tensão?  Visualização de dados relativos à 
unidade consumidora ..., dados de potência e consumo ..., sinalizações em tempo real !!! (Ítem  
4.3.4  da  consulta).    Que  maravilha!!  Mas  o  que  acrescenta  tudo  isto  para  o  consumidor,  em 
termos financeiros? N A D A !!! E o que o consumidor quer é uma energia elétrica de qualidade 
e  a  preço  justo.  Ele  não  quer  ficar  acompanhando,  em  tempo  real,  a  quantas  anda  sua 
demanda, em quantos Volt ou Ampére estão passando pelo medidor, .... Ou seja, em tudo isto, 
está  se  procurando  minimizar  os  custos  e  maximizar  os  lucros  das  concessionárias  sem,  no 
entanto, se pensar em melhorar a qualidade e o custo da energia elétrica. 

Não  se  deve  discutir  a  importância  do  medidor  eletrônico  nem,  tampouco,  do  medidor 
eletromecânico.  São  equipamentos  fundamentais  para  a  realização  da  comercialização  de 
energia elétrica. 
Sob minha ótica, o medidor eletrônico deve ser utilizado para, além da medição das grandezas 
a  que  se  propõe,  como  instrumento  de  fiscalização,  por  parte  dos  órgãos  competentes  dos 
governos, dos serviços prestados pelas concessionárias de energia elétrica, sejam elas públicas 
ou privadas. Por exemplo: com um medidor deste tipo, o governo poderá medir e comparar os 
índices  de  indicação  de  qualidade  de  energia  entregue  ao  consumidor  existente  no  mercado 
(DEC,  FEC,  etc...).  Com  certeza,  os  índices  hoje  apresentados  não  são  reais  mas  são 
“montados”  pelas  concessionárias.  Isto  porque  o  medidor  dará  a  possibilidade  de  obtenção 
dos dados remotamente. 

Há um mito  que paira sobre a utilização de medição eletrônica, muito utilizado pela área de 
Marketing dos fabricantes de medidores de energia, que se refere ao fato do medidor ser mais 
exato  que  o  medidor  eletromecânico.  Isto  é  muito  relativo,  como  pode  ser  observado  no 
exemplo  que  dou:  Um  medidor  eletromecânico  que  tenha  erro  de  calibração  igual  a  0,1%  é 
mais exato que um medidor eletrônico que tenha erro de calibração igual a 0,2%!! 

Há que se considerar que, atualmente, as tarifas contemplam as perdas que as concessionárias 
possam ter (técnicas e comerciais) e que, havendo a implantação da medição eletrônica, com a 
alegação  de  que  a  medição  será  mais  eficaz,  é  de  se  esperar  que  haja  uma  diminuição  nos 
preços das tarifas cobradas; 

Com  a  implantação  da  medição  eletrônica  em  baixa  tensão,  o  atendimento  ao  consumidor 
também poderá ser livre, tal como no Sistema de Transmissão e em Consumidores Livres. Isto 
é possível com a utilização de leitura remota e faturamento também remoto. 

O  medidor  eletrônico  permitirá  que  a  ANEEL  e  Órgãos  do  Governo  Federal,  estabeleçam 
critérios  a  serem  considerados  nas  tarifas.  Por  exemplo:  se  o  medidor  de  minha  casa  indicar 
que houve um FEC maior que o permitido, minha tarifa seria multiplicada por um fator 0,9 e 
fazer baixar o valor da fatura porque, afinal de contas, a concessionária não está entregando 
energia com a qualidade para que está sendo paga. 

Todos  os  planos  de  ação  de  um  governo,  hoje,  devem  levar  em  consideração,  entre  outras 
coisas,  o  meio  ambiente,  a  sociedade  (qualidade  de  vida,  criminalidade,  justiça  social,  etc..). 
Relativamente  ao  meio  ambiente,  o  que  vai  ser  feito  dos  milhões  de  medidores  que  serão 
sucateados?  Estará  sendo  criado  mais  lixo!  Os  medidores  possuem  componentes  recicláveis, 
porém a reciclagem dos materiais exige mão de obra para separação dos mesmos, elevando o 
custo  da  matéria  prima  que  entra  na  fabricação  do  medidor.  Portanto,  considerar  que  o 
medidor será reciclado é ilusão. Relativamente à sociedade, em todos os países citados, a mão 
de obra para realização do serviço de leitura é cara e escassa, ao contrário do Brasil. O que vai 
ser feito da mão de obra que faz o serviço de leitura? 

Sabe‐se que o Brasil é um dos países recordistas no mundo em descargas atmosféricas (aprox. 
60  milhões  /  ano).  Há  que  se  averiguar  os  índices  dos  países  em  que  já  estão  sendo 
implantados  os  medidores  eletrônicos  (não  copiar  por  copiar).  As  próprias  concessionárias, 
hoje, já alertam seus consumidores, para desligarem tudo em tempos de chuva, admitindo a 
sensibilidade dos equipamentos eletrônicos hoje existentes nos lares brasileiros. Implantando 
medidores  eletrônicos,  pelas  características  das  redes  e  do  clima  (descargas  atmosféricas) 
haverá  maior  índice  de  queima  de  medidores  e,  consequentemente,  mais  gastos  com 
aquisição  de  novos  e  de  mão  de  obra.  Prá  quem  vai  sobrar  a  conta?  Para  o  consumidor, 
novamente!  E  o  que  adiantou  este  mundo  de  tecnologia  num  equipamento  que  não  trás 
nenhum valor agregado, para o consumidor?  

Sabe‐se, por suas características construtivas, que um medidor eletrônico tem menor vida útil 
que  um  eletromecânico.  Como  isto  vai  ser  compensado  na  tarifa?  Diminuindo‐se  a  vida  útil 
considerada na tarifa e, novamente, penalizando o consumidor com o aumento da mesma? 

Para  as  concessionárias,  será  vantajoso  realizar  mais  compras  de  medidores  novos  e  utilizar 
mais mão de obra de instalação/substituição dos medidores danificados? 

Sabe‐se  que  o  medidor  eletrônico  possibilita  menos  índices  de  reparo.  Ou  seja,  com  a 
possibilidade de manutenção do medidor eletromecânico, haverá menos gastos por parte da 
concessionária porque o medidor poderá ser consertado e voltar para campo, impactando em 
menor pressão sobre as tarifas, através das empresas‐espelho. 

Há  que  se  considerar  a  possibilidade  de  utilização  de  um  sistema  híbrido,  que  já  se  mostrou 
bastante eficaz e de custo menor e flexibilidade maior que o medidor eletrônico. Consiste em 
se fabricar medidores eletromecânicos ou adaptar nos existentes, sensores que emitirão sinais 
a  uma  “caixa”  que  faria  todo  o  processamento  necessário  (cálculos,  transmissão  dos  dados, 
amostragem dos dados e dos índices, etc.). Assim, se houver interesse da concessionária ou do 
consumidor,  poderia  ser  instalada  esta  caixa  à  parte  da  medição  hoje  existente.  Havendo  a 
queima  da  caixa,  o  medidor  eletromecânico,  por  ser  mais  robusto  que  o  eletrônico,  não 
queimaria e a substituição seria muito mais rápida e com menor risco. 

Enfim,  a  pergunta  que  se  tem  que  ter  sempre  em  mente  é:  a  quem  estará  atendendo  a 
implantação de medição eletrônica em baixa tensão? A melhor solução é aquela que atenda 
tanto  ao  consumidor  quanto  a  concessionária,  que  diz  respeito  a  custos.  A  qualidade  da 
energia,  atualmente,  atende  perfeitamente  à  maioria  dos  consumidores  atendidos  em  baixa 
tensão. 

Diz‐se  que  os  medidores  eletrônicos  medem  mais  harmônicas  do  que  o  medidor 
eletromecânico. Isto é fato! Porém, é mais importante diminuir a emissão de harmônicas por 
parte  dos  equipamentos  do  que  ficar  medindo‐as.  As  harmônicas  só  prejudicam  o  sistema 
elétrico como um todo e deveriam ser eliminadas na fonte, ou seja, nos equipamentos que a 
geram. Deve‐se emitir norma, instituindo a colocação de filtros nos equipamentos que emitam 
harmônicas,  para  que  eles  não  causem  poluição  “elétrica”  nas  redes  de  distribuição  e 
transmissão de energia elétrica. 

Alternativamente à implantação de medição eletrônica, visando melhor utilização do sistema 
elétrico  brasileiro,  deve‐se  considerar  a  viabilização  das  empresas  trabalharem  até  a  meia‐
noite,  sem  pagamento  de  adicional  noturno  até  este  horário.  Assim,  poderia  haver  melhor 
distribuição da utilização do sistema como um todo e diminuiria necessidade de construção de 
usinas. 

 
 

RESPOSTAS ÀS QUESTÕES ASSOCIADAS 

4.4 

a) Quais  grandezas  elétricas  deveriam  ser  medidas  pelo  equipamento  eletrônico  no 
Brasil? 

o A maioria absoluta dos clientes não é técnica ou engenheiros e, portanto, não 
lhes interessa indicação de qualquer grandeza elétrica. 

b) Quais  funcionalidades  incorporadas  ao  medidor  deveriam  ser  consideradas 


minimamente necessárias para a implantação deste novo sistema de medição? 

o Obtenção  de  dados  relativos  à  qualidade  do  fornecimento  –  Tempo  de 


desligamento,  fator  de  potência,  desvio  médio  da  tensão  de  distribuição, 
harmônicas,  consumo  de  energia  (total  e  por  intervalo,  para  obtenção  de 
curva de carga), etc. 

o Possibilidade de corte, através de um comando remoto; 

c) Quais  os  parâmetros  de  segurança  da  informação  deveriam  ser  definidos  como 
obrigatórios para o tráfego de dados entre a distribuidora e a unidade consumidora? O 
protocolo de comunicação deve ser público ou ficar a critério da distribuição? 

o Naturalmente, deve haver segurança máxima na transmissão de dados 

o O  protocolo  deve  ser  público,  com  a  finalidade  de  se  utilizar  equipamentos 
fabricados em qualquer parte do mundo, além de permitir a compatibilidade 
com outros equipamentos que a concessionária ou o consumidor porventura 
deseje  conectar  ao  medidor,  com  a  finalidade,  por  exemplo,  de  obtenção  de 
erros de calibração. 

d) Como  deveria  ser  garantido  que  a  informação  não  seja  perdida  em  caso  de  falta  de 
energia? Por quanto tempo essa informação deveria ficar guardada no medidor? 

o Medidor deverá ser provido de memória, com a finalidade de guardar dados, 
mesmo havendo falta de energia; os dados deverão ser armazenados por até 6 
meses,  para  recuperação  de  dados  em  casos  de  serviços  solicitados  pelo 
consumidor  a  empresas  prestadoras  de  serviços  além  da  fronteira  que 
delimite o consumidor e saia da responsabilidade da concessionária. 
e) O  mesmo  conjunto  de  funcionalidades  mínimas  do  medidor  eletrônico  deveria  ser 
disponibilizado  a  todos  os  consumidores  de  baixa  tensão  ou  deveriam  existir 
especificações distintas por classe de consumidores? 

o Como  eu  disse,  a  aplicação  de  medidores  eletrônicos  deve  atender  a 


necessidade de dois lados da relação comercial de fornecimento de energia, o 
consumidor  e  a  concessionária.  Assim,  recomenda‐se  instalar  medidores 
eletrônicos naqueles consumidores que tenham histórico de consumo maior, 
ou que sejam maus pagadores, ou que tenham solicitado a instalação de um 
medidor  deste  tipo,  das  condições  da  rede,  da  localização  do  consumidor 
(rural  ou  urbana,  periferia  ou  centro,  etc.).  Não  deve  haver  massificação  da 
aplicação do medidor eletrônico mas deve‐se perseguir a máxima eficiência e 
eficácia  da  medição  de  energia  como  um  todo.  Deve‐se  pensar  em  realizar  a 
medição  de  energia  com  um  conjunto  formado  de  medidor  eletromecânico 
com sensores e um totalizador, separados um do outro, de forma a permitir a 
flexibilização da medição. 

f) O  mesmo  sistema  de  comunicação  para  tráfego  de  dados  deveria  ser  exigido  para 
todos  os  consumidores  da  área  de  concessão/permissão  ou  a  forma  de  coleta  das 
informações  disponibilizadas  pelo  medidor  eletrônico  deveria  ficar  a  critério  da 
distribuidora? 

o Para baratear a instalação e a compra dos equipamentos, o mesmo sistema de 
comunicação deve ser exigido para todo e qualquer consumidor; inclusive para 
o  caso  da  concessionária  ter  liberdade  de  instalação  dos  medidores  em 
qualquer cliente que lhe seja conveniente. 

g) É necessário a mudança de hábitos por parte das concessionárias, para que o projeto 
contemple  todos,  penalizando  a  concessionária  que  possuir  medição  e,  portanto, 
dados  de  fornecimento  e  não  realizar  melhoria  na  qualidade  do  fornecimento  de 
energia. Isto  refletiria diretamente em  seu faturamento e não seria compensado por 
meio de reajuste tarifário porque reflete má operacionalização do sistema, bem como 
descaso com o consumidor. 

5.6 Questões associadas 

  5.c – 

Ítem 5.5.1.1. Reposição dos medidores 

  A  experiência  mostra  exatamente  o  contrário  da  consideração  feita  para  os  estudos. 
Os medidores eletrônicos, quando localizados na linha de frente da rede de distribuição (caixa 
de  medição),  por  serem  mais  sensíveis  eletricamente,  apresentam  mais  defeitos  que  os 
medidores  eletromecânicos.  Dessa  forma,  a  distribuidora  terá  mais  gastos  com  a  compra  de 
equipamentos  para  reposição  dos  equipamentos  defeituosos  e  com  mão  de  obra  para 
substituir os equipamentos. 
   

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