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Fundamentos e
Metodologia da
Educação
de Jovens e Adultos
CDD 378.007
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EDITORA UNIMONTES
Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro
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Ministro da Educação Chefe do Departamento de Ciências Biológicas
Fernando Haddad Guilherme Victor Nippes Pereira
Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes Coordenadora do Curso a Distância de Artes Visuais
João dos Reis Canela Maria Elvira Curty Romero Christoff
Diretora do Centro de Ciências Biológicas da Saúde - CCBS Coordenadora do Curso a Distância de Letras/Português
Maria das Mercês Borem Correa Machado Ana Cristina Santos Peixoto
Diretor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas - CCSA Coordenadora do Curso a Distância de Pedagogia
Paulo Cesar Mendes Barbosa Maria Narduce da Silva
Unidade 1
Histórico, Legislação da Educação de Jovens e Adultos e Políticas Públicas . . . . . . . . . . . 11
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.4 PNE 2001 a 2010: Criado cinco anos após a LDB de 1996 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
Unidade 2
Perfil dos Educandos do EJA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
Unidade 3
A formação técnica e política do educador
3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
Unidade 4
Propostas para a educação de jovens e adultos - EJA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
4.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
Unidade 5
Superação do analfabetismo e a construção de uma escola para todos . . . . . . . . . . . . . . 53
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
Unidade 6
Diretrizes curriculares nacionais para a educação de jovens e adultos e
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
Atividades de aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
História - Fundamentos e Metodologia da Educação de Jovens e Adultos
Apresentação
Caro(a) acadêmico(a),
Neste caderno iremos introduzir conceitos sobre a educação de jovens e adultos. Nosso in-
tuito não será de torná-los teóricos deste assunto, pois, para isso, tomaríamos o curso de Peda-
gogia inteiro, mas elucidar alguns conceitos como histórico, legislação, pensadores, a formação
técnica e política do educador para atuação na educação de jovens e adultos, além levar a uma
reflexão a respeito das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos -
DCNs e dos Parâmetros Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos – PCNs.
Poderemos observar que, em sua diversidade cultural, os educandos jovens e adultos pos-
suem muitos pontos em comum, principalmente no que tange à falta de oportunidade e ao
abandono, desde cedo, da escola para trabalhar em um subemprego. Essas características po-
dem dar a nós, educadores, estratégias para que possamos auxiliá-los em sua alfabetização. Nes-
se contexto, estudaremos Freire, Ferreiro e Vygotsky, a fim de entendermos os nossos educandos
e os processos que compreendem sua alfabetização, lembrando que este é um trabalho bem ge-
ral e deve ser avaliado, cada caso, dia a dia, em sala de aula. A formação de professores é um dos
temas de maior frequência, no Brasil, nos debates sobre educação.
Nesse contexto, iremos refletir sobre a formação técnica e política do educador para atua-
ção na Educação de Jovens e Adultos, além de levar o acadêmico a refletir e se posicionar quanto
a importância dos aspectos da formação de professores que influenciam na prática pedagógica
dialógica, ideal para estes tempos do 3º milênio.
Acreditamos que com tais conceitos será possível que você tenha uma visão crítica à respei-
to das nossas políticas públicas atuais e possa se tornar um ser participante e movimentador de
idéias que ajudarão a fazer um país mais justo e de todos.
É com prazer que escrevemos este caderno para você, futuro educador.
Bons estudos.
Os autores.
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História - Fundamentos e Metodologia da Educação de Jovens e Adultos
Unidade 1
Histórico, legislação da Educação
de Jovens e Adultos e políticas
públicas
Marta Aurora Mota e Aquino
1.1 Introdução
Para configurar a função social e política da educação de jovens e adultos, atualmente, no
Brasil, é necessário compreendermos as experiências obtidas no contexto histórico brasileiro. As-
sim, iremos apresentar o histórico da EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS de nosso país a fim de
levar você, futuro educador, a uma visão crítica com respeito às estatísticas lançadas. No decorrer
desse histórico, serão, também, apresentadas a legislação e as políticas públicas, finalizando com
o PNE de 2001 a 2010, metas e resultados, e o PNE 2011 a 2020, velhas ideias e novas perspecti-
vas, a fim de aguçá-lo a uma visão crítica a respeito da erradicação do analfabetismo. Será que a
atingiremos até 2020?
para o país. A partir daí, deu-se continuida- cação de Adultos, em 1947, e o Seminário Intera-
de às reformas educacionais para atender ao mericano de Educação de Adultos, em 1949.
novo modelo brasileiro, as quais foram com- Com o fim da ditadura de Vargas em
plementadas, na década de 40, por Gustavo 1945, o país vivia a efervescência política da
Capanema, então ministro da Educação e Saú- redemocratização. A Segunda Guerra Mundial
de que, através do apoio às Leis Orgânicas do recém terminara, e a ONU — Organização das
Ensino, encarregou-se de sua reformulação Nações Unidas — alertava para a urgência de
(SAVIANI, 1983). integrar os povos, visando a paz e a democra-
Com o processo de industrialização e a cia. Tudo isso contribuiu para que a educação
criação do Serviço Nacional de Aprendizagem dos adultos ganhasse destaque dentro da
Industrial (SENAI), em 1942, a educação profis- preocupação geral com a educação elemen-
sional passa a ser vislumbrada como impor- tar comum. Era urgente a necessidade de au-
tante veículo para que os cidadãos tivessem mentar as bases eleitorais para a sustentação
acesso às conquistas tecnológicas da socieda- do governo central, integrar as massas popula-
de como um todo, instrumento para a com- cionais de imigração recente e, também, incre-
preensão do processo produtivo, como meio mentar a produção. Nesse período, a educa-
de apropriação do saber tecnológico, de reela- ção de adultos define sua identidade tomando
boração da cultura do trabalho, de domínio e a forma de uma campanha nacional de massa,
geração do conhecimento no seu campo pro- a Campanha de Educação de Adultos, lançada
fissional, que deve vincular-se ao mundo do em 1947. Pretendia-se, numa primeira etapa,
trabalho e à prática social. É nesse momento uma ação extensiva que previa a alfabetiza-
que a qualificação profissional passa a se insti- ção, em três meses, e a condensação do curso
tuir dentro da EJA (FRIEDCHI, 2010). primário em dois períodos de sete meses. De-
Com criação da UNESCO (Organização pois, seguiria uma etapa de “ação em profun-
das Nações Unidas para a Educação, Ciência e didade”, voltada à capacitação profissional e
Cultura), em 1945, foi solicitado por essa orga- ao desenvolvimento comunitário. Nos primei-
nização, aos países integrantes (e entre eles, ros anos, sob a direção do professor Lourenço
o Brasil) de se educar os adultos analfabe- Filho, a campanha conseguiu resultados sig-
tos. O governo federal lançou, então, a 1ª nificativos, articulando e ampliando os servi-
Campanha de Educação de Adultos, na qual ços já existentes e estendendo-os às diversas
propôs a alfabetização dos adultos do país regiões do país. Num curto período de tempo,
em três meses, o oferecimento de um curso foram criadas várias escolas supletivas, mobi-
primário em duas etapas de sete meses, a lizando esforços das diversas esferas adminis-
capacitação profissional e o desenvolvimen- trativas, de profissionais e voluntários. O clima
to comunitário. O adulto analfabeto, nessa de entusiasmo começou a diminuir na década
época, era identificado como elemento in- de 50; iniciativas voltadas à ação comunitária
capaz e marginal, psicológica e socialmente, em zonas rurais não tiveram o mesmo sucesso
submetido à minoridade econômica, política e a campanha se extinguiu antes do final da
e jurídica, não podendo, assim, votar ou ser década. Ainda assim, sobreviveu a rede de en-
votado (CUNHA, 1999). sino supletivo por meio dela implantada, assu-
Entre 1942 e 1946, então, foram reformu- mida pelos estados e municípios (Educação de
lados o ensino industrial, secundário, comer- Jovens e Adultos - 1º Segmento).
cial, primário, normal e agrícola. Quanto ao Muitas outras campanhas de massa, de
ensino superior, não houve reformas durante âmbito nacional, ocorreram no país, circunscri-
esse período, mas foram criados o Instituto tas nos seguintes períodos: do governo Dutra
Nacional de Estudos Pedagógicos e o Serviço (Campanha de Educação de Adultos e Adoles-
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, centes, iniciada em 1947, por Lourenço Filho);
órgãos do Ministério da Educação que servi- no período democrático getulista, de 1951-54
ram de apoio suplementar às reformas. (Campanha Nacional de Educação Rural, em
Juntamente com o período de industria- 1952); na gestão “nacional desenvolvimen-
lização, foi criado o FNEP, Fundo Nacional de tista” de Juscelino Kubitscheck, de 1955-60
Ensino Primário, pelo Professor Anísio Teixei- (Campanha Nacional de Erradicação do Anal-
ra, com o objetivo de garantir recursos per- fabetismo, em 1958); no governo “democrá-
manentes ao ensino primário, custeados pela tico-populista” de Jânio (MEB, Movimento
União, Estados e Municípios (AMARAL, 2001). de Educação de Base e o MNCA, Mobilização
Nessa mesma época, criou-se o INEP, Instituto Nacional Contra o Analfabetismo, 1960); na
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais gestão para as “reformas de base” do gover-
Anísio Teixeira, e muitas campanhas, como a no Jango (Comissões de Cultura Popular, em
Campanha de Educação de Adolescentes e 1963); e na vigência dos governos autocrático-
Adultos (CEAA); assim, iniciou-se a reflexão so- -militares pós-64 (Cruzada ABC, em 1965; Mo-
bre o material para educação de adultos, entre
eventos como o 1o Congresso Nacional de Edu-
vimento Brasileiro de Alfabetização - MOBRAl,
em 1967). 13
UAB/Unimontes - 7º Período
No governo de Getúlio Vargas, a educação foi entendida como peça primordial para o au-
mento do nível cultural dos cidadãos (BEISEGUEL, 1974), sendo organizadas várias escolas, movi-
mento que foi denominado “Educação de Várzea”. A proposta era a implantação de um currículo
básico, visando a expansão agrícola e das bases eleitorais, o qual, porém, mostrou-se ineficiente,
sendo necessárias ações mais amplas.
Esse processo de reformulação, que ocorreu durante o Estado Novo foi pré-requisito para a
elaboração do decreto que deu origem à Lei n° 4024, a qual, embora encaminhada para a Câma-
ra Federal em 1948, somente em 1961, depois de um longo período de debates, acabou aprova-
da e sancionada, caracterizando-se como a “Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional”, atra-
vés da qual a educação brasileira revelou as lutas ideológicas entre os grupos que disputaram o
poder no país.
Em sua aprovação, embora os autores da lei tenham desprezado o conceito de educação
como um fator de desenvolvimento e formação da população, essa lei serviu, ao menos, para
a organização de um sistema de ensino, até então inexistente no país. Por outro lado, o Estado
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História - Fundamentos e Metodologia da Educação de Jovens e Adultos
cumpriu sua função histórica de assegurar os interesses de uma classe dominante, passando a
privilegiar, culturalmente, apenas uma camada da população, o que veio a confirmar seu caráter
antidemocrático.
A defesa desses interesses, apesar das divergências, significou a tentativa do Estado de man-
ter coesa a classe dominante. Por um lado, privilegiou as aspirações da ideologia liberal, baseada
nos ideais de estabilidade e paz social; por outro, atendeu às principais reivindicações da Igreja
Católica, sobretudo, a inclusão do ensino religioso nos programas escolares.
A contradição gerada pelo sistema de ensino, recém implantado pela Lei nº 4024, fez com
que se aumentasse a insatisfação popular, tendo em vista que, em sua essência, nada mudou.
Alguns avanços, que poderiam se concretizar, permaneceram a título de legislação. As escolas
não dispunham de recursos materiais e humanos para realizá-los, e a sua prática acabou perma-
necendo desconectada da realidade social brasileira e de seu desenvolvimento econômico, ser-
vindo de motivo para que o próprio Estado, responsável pelo modelo que foi efetivado, viesse a
intervir novamente em suas reformulações, adaptando-o à política de desenvolvimento e segu-
rança nacional, a partir do golpe militar de 1964.
No ano de 1965, em oposição às idéias de Paulo Freire, surgiu, em Recife, a Cruzada Ação
Básica Cristã (ABC), de caráter conservador e semi-oficial (HADDAD; DI PIERRO, 2000). Em 1967, o
Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL) e a Cruzada ABC constituíram-se em movimen-
tos concebidos com o fim básico de controle político da população, através da centralização das
ações e orientações, supervisão pedagógica e produção de materiais didáticos (DI PIERRO; JOIA;
RIBEIRO, 2001).
Em 1971, a Lei nº. 5.692 passa a regulamentar o Ensino Supletivo, como proposta de repo-
sição de escolaridade. O suprimento como aperfeiçoamento, a aprendizagem e a qualificação
sinalizando para a profissionalização, foram contemplados com um capítulo específico na legis-
lação oficial. Na sequência, o Parecer do Conselho Federal de Educação nº. 699, publicado em
28 de julho de 1972, e o documento “Política para o Ensino Supletivo”, que tiveram como relator
Valnir Chagas, explicitaram as características dessa modalidade de ensino:
15
UAB/Unimontes - 7º Período
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História - Fundamentos e Metodologia da Educação de Jovens e Adultos
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UAB/Unimontes - 7º Período
(Pirâmide baseada no encarte do material Reta Final da ed. RT – autor: Erival da Silva Oliveira – Di-
reito Constitucional, Parte I, 4ª edição.)
A contribuição do governo federal para a manutenção e o desenvolvimento da Educação de
Jovens e Adultos (EJA) se deu através do programa Alfabetização Solidária, que associava recur-
sos federais aos da filantropia empresarial e colaboração de instituição de ensino superior para
uma campanha de alfabetização.
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História - Fundamentos e Metodologia da Educação de Jovens e Adultos
19
UAB/Unimontes - 7º Período
BOX 1
Vimos vários instrumentos legais de grande impacto, como a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (Lei 9.394 de 1996) e a Ementa Constitucional n.14 de 1996, que gerou
a criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valori-
zação do Magistério (FUNDEF), a Lei n. 10172 de 2001, que estabeleceu o Plano Nacional de
Educação (PNE 2001 à 2010), a Lei n. 11494 de 2007, que regulamentou o Fundo de Manu-
tenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação
(FUNDEB) e a Ementa Constitucional n. 59 de 2009, que ampliou o ensino obrigatório dos 4
aos 17 anos de idade.
Porém, a erradicação do analfabetismo ocorre em passos lentos, como pode ser observa-
do na Figura 3 abaixo. Ela nos leva à reflexão acerca do que pode estar dificultando o processo
de erradicação da alfabetização causando os índices a diminuírem de maneira lenta. Será que
a política educacional de 2001-2010 foi efetiva, ou foi mais idealista do que prática?
▲
Figura 2: Taxa de Analfabetismo de pessoas de 15 anos ou mais de idade no Brasil, de 1992-2009.
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios, 1992/2009.
Referências
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para reflexão. Educ. Soc., Campinas, v. 31, n. 112, p. 707-727, jul.-set. 2010.
AMARAL, N. C. Um novo Fundef: as idéias de Anísio Teixeira. Educação & Sociedade, Campinas,
SP, v. 22, n. 75, p. 277-290, 2001.
BEISIEGEL, Celso de Rui. Estado e educação popular: um estudo sobre educação de adultos.
São Paulo: Pioneira, 1974. (Biblioteca Pioneira de Ciências Sociais).
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História - Fundamentos e Metodologia da Educação de Jovens e Adultos
CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. Parecer CNE/CEB nº. 37, de 7 de julho de 2006. Diretrizes
e procedimentos técnico-pedagógicos para a implementação do ProJovem - Programa Na-
cional de Inclusão de Jovens. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 4 ago. 2006.
CODATO, A. N. O golpe de 1964: luta de classes no Brasil: a propósito de “Jango”, por Silvio Tend-
le. Revista Espaço Acadêmico, Maringá, PR, n. 36, maio 2004. Disponivel em: <http://www.espaco-
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CUNHA, Conceição Maria da. Introdução – discutindo conceitos básicos. In: SEED-MEC Salto
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CURY, Carlos R. Jamil. Ideologia e Educação Brasileira – Católicos e Liberais., São Paulo, Cortez
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friedrich, Márcia; Benite, Anna M. CANAVARRO; Benite, Claudio R. Machado; Pereira, Vivia-
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PAIVA, V. P. Educação Popular e Educação de Adultos. 2. ed. São Paulo : Loyola, 1983.
PILLETTI, Nelson. Revista da Faculdade de Educação da USP. Vol. 13, n° 2, jul/dez de 1987, p. 68.
SOARES, L.J.G. Formação de educadores: a habilitação em EJA nos cursos de Pedagogia. In: SOA-
RES, L. et al (Org.). Convergências e tensões no campo da formação e do trabalho docente:
educação de jovens e adultos. Belo Horizonte: Autêntica, 2010.
21
História - Fundamentos e Metodologia da Educação de Jovens e Adultos
Unidade 2
Perfil dos Educandos do EJA
Ms. Marta Aurora Mota e Aquino
2.1 Introdução
Em sua diversidade cultural, os educandos jovens e adultos possuem muitos pontos em
comum, principalmente no que tange à falta de oportunidade e ao abandono, desde cedo, da
escola para trabalhar em um subemprego. Essas características podem dar a nós, educadores,
estratégias para que possamos auxiliá-los em sua alfabetização. Nesse contexto, estudaremos
Freire, Ferreiro e Vygotsky, a fim de entendermos os nossos educandos e os processos que com-
preendem sua alfabetização, lembrando que este é um trabalho bem geral e deve ser avaliado
cada caso, dia a dia, em sala de aula.
Bons Estudos.
23
UAB/Unimontes - 7º Período
Partindo dessa idéia, neste capítulo, iremos observar sob diferentes olhares (Freire, Ferreiro e
Vygotsky) quem são os jovens e adultos, por meio de uma revisão do livro de Tânia Maria de Melo
Moura A prática pedagógica dos alfabetizadores de Jovens e Adultos: Contribuições de Freire, Ferreiro
e Vygotsky.
Comecemos então por Freire, autor principal. Para ele, o homem deve ser caracterizado
como um ser introduzido num contexto histórico e cultural que o faz ser inacabado e transcen-
dente; sujeito capaz de produzir e transformar o mundo objetivo e subjetivo.
Essa essência transformadora do homem, que o caracteriza como ser independente, que se
conhece, analisa e reflete, consciente de seu inacabamento histórico, cultural e epistemológico,
leva-o à busca da própria libertação, mas como o objetivo nem sempre é alcançado, devido às
constantes ameaças, ou mesmo pela opressão em que vive ao longo do processo histórico de
suas formações, contrariando a própria essência do ser crítico, construtor, transformador e livre
levando-o, em determinadas ocasiões, a deixar-se dominar e acomodar.
A vida do homem é caracterizada por uma permanente contradição entre o que é e o que
está sendo no mundo. Isso porque “(...) a liberdade como façanha criadora dos seres humanos,
como aventura, como experiência de risco e de criação, tem muito a ver com a relação entre o
que herdamos ou adquirimos (...)” (FREIRE, 1993, p. 55). Como ser inserido em uma sociedade,
ele se depara em uma realidade que possibilita, ou impossibilita, o seu estado de liberdade, ou
de ser. Essa dualidade em que o homem vive só se explica através da origem social em que se
desenvolve enquanto ser.
As interdições (proibições) à nossa liberdade são muito mais produtos das es-
truturas sociais, políticas, econômicas, culturais, históricas, ideológicas do que
das estruturas hereditárias. Não podemos ter dúvidas em torno do poder da
herança cultural, de como nos conforma e nos obstaculiza de ser (...) (FREIRE,
1993, p. 95).
Assim, o homem dessa época, sujeito à exploração e à opressão, onde o trabalho, antes na-
tivo e depois escravo, não favorecia que se formassem pessoas com mentalidade flexível e per-
meável, e a educação só era utilizada para fins religiosos, mostrando, assim, a falta de identidade
cultural do nosso país daquela época.
Mais adiante, Freire, em suas formulações de 1997, escreve:
A situação brasileira começou a mudar com a vinda da corte portuguesa para o Brasil, quan-
do ocorrem várias reformas que geram consequências positivas, como o reforço do poder das ci-
dades, da industrialização, do nascimento das escolas e da imprensa. Na década de 1920 a 1930,
no período entre as grandes guerras, e com o surto da industrialização, o povo brasileiro, saindo
de um processo de superação de inexperiência democrática, dá inicio à experiência de participa-
ção, sendo que, logo em seguida, sofre intervenções autoritárias, com um governo que mantém
e aprova a dominação de classes.
As explicações de Freire, através da análise da sociedade brasileira sobre o estado de ser dos
homens no mundo e com o mundo e os efeitos devastadores da falta de experiência democrá-
tica, sobre a possibilidade de ser, de saber e de criar desses homens, são as bases da explica-
24
História - Fundamentos e Metodologia da Educação de Jovens e Adultos
ção para que pudéssemos entender e caracterizar os sujeitos da prática alfabetizadora, pois, para
Freire, existem semelhanças evidentes entre os sujeitos do processo de alfabetização (alfabetiza-
dores e alfabetizandos).
Assim, alfabetizandos e alfabetizadores não se distinguem; mesmo sendo diferentes, en-
quanto indivíduos, devem ser colocados em igualdade no campo das relações pedagógicas, sen-
do a única diferença a experiência que o alfabetizador possui no que se refere à leitura e sistema-
tização e seu grande compromisso pedagógico em possibilitar aos educandos o acesso a esse
saber, através de uma relação horizontal formada pelo diálogo. Contudo, essa tarefa não é fácil,
sendo justificada pelos mesmos motivos que levam educando e educadores a serem iguais: o
passado colonial; então, o que se vê nesta conjuntura é educadores opressores e educandos em
condição de oprimidos, submissos e inferiores.
Assim, as relações entre alfabetizador e alfabetizando são complexas, difíceis e fundamen-
tais, necessitando de constante avaliação e decisão dessas dificuldades e de modificações bási-
cas nas formas de planejamento e desenvolvimento da prática pedagógica relacionada com a
seleção de conteúdos, dos procedimentos metodológicos, das formas de avaliação e até de con-
cepção de ensino-aprendizagem.
Nesse sentido, essa descoberta em torno das dificuldades encontradas no relacionamento
entre educadores e educandos não pode se limitar a nível puramente intelectual, mas deve se
tornar prática, através do diálogo crítico e libertador, transcendendo o ativismo para ação e refle-
xão. Uma ação que demonstre crença nos alfabetizandos como capazes de pensar certo, implica
ação e reflexão dos homens sobre o mundo para transformá-lo, significa assumir uma concepção
de problematização dos homens em suas relações com o mundo e somente a educação e alfabe-
tização libertadoras podem se prestar a esse fim.
Na década de 80, as propostas de Paulo Freire começam a ser avaliadas e revisadas pelos
formuladores e executores de propostas de alfabetização, possibilitando que lacunas deixadas
no modelo tradicional de Freire despertassem outras contribuições, ampliando as perspectivas
de um novo modelo teórico-metodológico. Surgem, então, contribuições no processo de alfabe-
tização, como resultado das investigações de Emilia Ferreiro, esclarecedora da aquisição da leitu-
ra e escrita, psicóloga, pedagoga e verdadeira revolucionária na área de alfabetização da América
Latina.
Ferreiro, em seus trabalhos, também mostra, como Freire, que o analfabetismo está associa-
do a fatores sociais, diversidades sociais e a forma como a aquisição da linguagem é transmitida
aos educandos, sendo que aqueles que cometem erros ortográficos e possuem dificuldade de
leitura, por exemplo, ou seja, possuem “déficit” de aprendizagem, defrontar-se-ão com a reprova-
ção e/ou, quase sempre, tornar-se-ão analfabetos funcionais, preenchendo, futuramente, as salas
para alfabetização de adultos.
(...) por mais bem-sucedidas que sejam (...), não, há cumprir eficazmente sua ta-
refa alfabetizadora. Na medida em que a escola primária continuar expulsando
grupos consideráveis de crianças não consegue alfabetizar, continuará repro-
duzindo o analfabetismo dos adultos. (FERREIRO, 2008)
(...) debruçam-se sobre ela, tomam-na para si como investigadores que refle-
tem, questionam, comparam, excluem, ordenam, categorizam, comprovam,
erram, constroem hipóteses, reorganizam e reelaboram em ação interioriza-
da (pensamento) ou em ação efetiva (segundo seu nível de desenvolvimento)
(MOURA, 1999, p. 60).
25
UAB/Unimontes - 7º Período
Esses sujeitos são caracterizados por esquemas conceituais (modos internalizados de agir
para conhecer, que pressupõem o pensamento) que não são caracterizados por uma simples re-
produção de informações obtidas pelo meio de sua convivência. Portanto, cada evento para a
construção desses esquemas:
(...) uma massa considerada de excluídos do sistema formal de ensino, seja por
ter tido em condições de vida precária, seja por ter tido acesso a uma escola de
má qualidade, ou mesmo não ter tido acesso à escola, acaba por se defrontar
com a necessidade de realizar sua escolaridade já como adolescente ou adulto
para sobreviver em uma sociedade onde o domínio do conhecimento ganha
cada vez mais importância (Moura apud HADDAD, 1999 p. 108).
Assim, também, o Segundo Caderno da Educação de Jovens e Adultos, publicado pelo Go-
verno Federal em 2006, caracteriza os educandos como:
26
História - Fundamentos e Metodologia da Educação de Jovens e Adultos
◄ Figura 3: Modelo
didático elaborado
por Marta Aurora da
Mota e Aquino para
alfabetização de jovens
e adultos.
Fonte: Elaboração própria
27
UAB/Unimontes - 7º Período
28
História - Fundamentos e Metodologia da Educação de Jovens e Adultos
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Cortez: Autores Associados, 1986.
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dos/as educandos/as nas propostas pedagógicas de educação de jovens e adultos-EJA:
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aprendizagem (Caderno 2 – EJA). Disponível em http://www.dominiopublico.gov.br/download/
texto/me4550.pdf. Acessado 30/07/2011.
29
História - Fundamentos e Metodologia da Educação de Jovens e Adultos
Unidade 3
A formação técnica e política
do educador para atuação na
educação de jovens e adultos – EJA
Ms. Mânia Maristane Neves Silveira Maia
3.1 Introdução
A formação de professor é um dos temas de maior frequência, no Brasil, nos debates so-
bre educação. Nesta unidade vamos refletir sobre a formação técnica e política do educador para
atuação na Educação de Jovens e Adultos. Para isso, são apresentados aspectos históricos da EJA,
sempre com foco na formação de professores.
O objetivo principal desta unidade é levar o acadêmico a refletir e se posicionar quanto à
importância dos aspectos da formação de professores que influenciam na pratica pedagógica
dialógica, ideal para estes tempos do 3º milênio.
Figura 4: Aula de ►
alfabetizaçao de
adultos em Angicos -
Método Paulo Freire
Fonte: Arquivo do Instituto
Paulo Freire
Visando a alfabetização de 5 milhões de brasileiros até 1965, através do método Paulo Frei-
re – uma proposta que, criticando o sistema tradicional, orientava uma prática educativa basea-
da no diálogo e valorizava a cultura já existente do aluno – o qual conseguia alfabetizar em 40
horas, foi então lançado em janeiro de 1964, pelo Presidente João Goulart, o Plano Nacional de
Alfabetização.
Para Acosta (2004), a partir da década de 60, a atenção às especificidades didáticas e as de-
mandas de docentes para atuar na EJA ganharam visibilidade no cenário nacional brasileiro com
a proposta de educação para adultos, desenvolvida por Paulo Freire, a partir de um modelo pe-
dagógico diferenciado, que procurava superar a fragmentação curricular, organizando-se de for-
ma temática e orientando-se pelo pensamento de que:
32
processo de ler e escrever e sobre o profundo significado da linguagem (FREI-
RE, 2002, p. 58).
História - Fundamentos e Metodologia da Educação de Jovens e Adultos
O Plano Nacional de Alfabetização foi interrompido em 1964, com a ditadura militar, e subs- DICas
tituído pelo Movimento Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL, fundado em 1967, o qual funcio- Para aprofundar seus
nou de 1969 a 1985 e que: conhecimentos sobre
a proposta educativa
[...] funcionando com uma estrutura paralela e autônoma em relação ao Minis- de Paulo Freire para a
tério da Educação, reedita uma campanha em âmbito nacional conclamando EJA, sugerimos ler os
a população a fazer a sua parte: você também é responsável, então me ensine seguintes livros:
a escrever, eu tenho a minha mão domável, eu sinto a sede do saber. O Mo- FREIRE, Paulo. Educa-
bral surgiu com força e muitos recursos. Recruta alfabetizadores sem muitas ção como prática da
exigências: repete-se, assim, a despreocupação com o fazer e o saber docentes liberdade. 21 ed. Rio
– qualquer um que saiba ler e escrever pode também ensinar. Qualquer um, de de Janeiro: Paz e Terra,
qualquer forma e ganhando qualquer coisa (GALVÃO SOARES, 2004, p. 45-46). 1992.
____________Educa-
ção e mudança. 16 ed.
O período posterior ao governo militar é marcado pela redemocratização da sociedade bra- Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1990.
sileira com a promulgação da Constituição Federal de 1988, que consolida em seu Capitulo III, ____________Reflexões
Seção I, artigo 208, o direito ao ensino de jovens e adultos, assegurando a oferta do ensino fun- teóricas e metodológi-
damental gratuito “para todos os que a ele não tiverem acesso na idade própria” (BRASIL, 1988). cas sobre a educação
Os anos 90 marcam, positivamente, as questões que envolvem os objetivos da EJA, a partir do: de jovens e adultos.
Brasília: Mec/Fundação
[...] estabelecimento de uma política e metodologias criativas, com a finalida- Educar/OEA/IICA, 1986.
de de se garantir aos adultos analfabetos e aos jovens que tiveram passagens ____________Peda-
fracassadas pelas escolas e acesso à cultura letrada, possibilitando uma partici- gogia da autonomia,
pação mais ativa no universo profissional, político e cultural. O desafio torna-se saberes necessários à
maior quando se pensa que o acesso à cultura letrada não significa em qual- prática educativa. São
quer hipótese ignorar a cultura e os saberes que os jovens e adultos trazem Paulo: Paz e terra, 1996.
como bagagem (CUNHA, 1999, p. 15). ____________Pedago-
gia do oprimido. 22 ed.
Entretanto, após esse longo caminho de avanços e retrocessos nas políticas nacionais de São Paulo: Paz e Terra,
1993.
Educação para Jovens e Adultos, a redefinição de normas que norteiam a essa educação, somen-
te, passou a ser discutida com mais veemência a partir da promulgação da Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional, LDB n◦ 9394/96, que traz em seu Art. 61 os fundamentos para “as
características de cada fase do desenvolvimento do educando [...]. isto a fim de que se possa ga-
rantir a todos os alunos o disposto na mesma Lei, Art.22: [...] formação comum indispensável para o
exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no estudo e em estudos posteriores”. Tam-
bém, constam, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96, no Título V, Capítulo II,
Seção V, dois artigos relacionados, especificamente, à Educação de Jovens e Adultos:
Art. 37 - A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tive-
ram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na
idade própria.
§ 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, ATIVIDADes
que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educa- Discuta com seus cole-
cionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interes- gas e cheguem a uma
ses, condições de vida e trabalho, mediante cursos e exames. conclusão:
§ 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a permanência do tra-
balhador na escola, mediante ações integradas e complementares entre si. Quem tem mais capaci-
§ 3o A educação de jovens e adultos deverá articular-se, preferencialmente, dade de aprendizagem:
com a educação profissional, na forma do regulamento. a criança, o adolescente
Art. 38 - Os sistemas de ensino manterão cursos e exames supletivos, que com- ou o adulto? Por quê?
preenderão a base nacional comum do currículo, habilitando ao prossegui-
mento de estudos em caráter regular.
Hoje o Brasil conta com uma diretriz curricular e duas propostas curriculares, de caráter
nacional e oficial, uma para o 1º ciclo e outra para o 2º ciclo da Educação de Jovens e Adultos,
apresentadas como “subsídio para a formulação de currículos e planos de ensino, que devem ser
desenvolvidos pelos educadores de acordo com as necessidades e objetivos específicos de seus
programas” (BRASIL, 1998, p. 14).
As Diretrizes Curriculares para a EJA (BRASIL, 2000) demonstram, também, preocupação
com a formação de professores para atuar nessa modalidade de ensino. Pode-se perceber que a
avaliação (regras de certificação de competências) e formação de professores, juntamente com a
organização e seleção de conteúdos formam o tripé das Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação de Jovens e Adultos (Resolução CNE/CBE n. 01 e 5/07/2000).
Ainda assim, uma estatística nacional desenvolvida pelo Instituto Nacional de Estudos e Pes-
quisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP (2000) apontou a existência de quase 190 mil professo-
33
UAB/Unimontes - 7º Período
res atuando na educação básica de jovens e adultos, sendo que destes, 40% não possuíam curso
superior. A mesma pesquisa encontrou outros milhares de voluntários engajados em projetos de
alfabetização no meio popular.
O Conselho Nacional de Educação- CNE, em 2001, buscou regulamentar as normas para a
reformulação dos cursos de licenciatura e daqueles voltados para a formação de professores das
séries iniciais do ensino fundamental em nível superior, o que incidiu sobre aspectos da forma-
ção de professores para essa modalidade de ensino. Dados mais recentes, referentes ao Censo
Escolar 2010, demonstram que as características em relação à formação de professores para a
EJA sofreu grandes mudanças, na primeira década do século XXI, pois, em 2010, cerca de 80%
dos professores que atuam com jovens e adultos têm formação em nível superior, índice bastan-
te superior ao verificado em 2001, quando esse percentual era de 66% (INEP, 2010) .
Mesmo assim, segundo Nóvoa (2001), esse contingente de professores continua a apresen-
tar lacunas em sua formação, pois os currículos dos cursos de formação de professores não consi-
deram as peculiaridades da EJA. A propósito desse assunto, vale citar uma pesquisa desenvolvida
por Gatti (2009), com o objetivo de analisar a estrutura curricular e as ementas de 165 cursos pre-
senciais de instituições de ensino superior, nas áreas de Pedagogia, Língua Portuguesa, Matemá-
tica e Ciências Biológicas, a qual comprovou que, dentre os 71 cursos de Pedagogia analisados,
apenas 1,6% das disciplinas obrigatórias tratavam de conhecimentos relativos à EJA.
O estudo comprovou, ainda, a existência de poucos cursos superiores que habilitam edu-
cadores para atuar na andragogia*, uma vez que, dos 1306 cursos de Pedagogia existentes no
Brasil, apenas dezesseis oferecem habilitação em Educação de Jovens e Adultos.
Esses dados demonstram que os professores da EJA continuam a enfrentar inúmeros desa-
fios para manter-se atualizados e desenvolver práticas pedagógicas eficientes, o que demanda
um repensar sobre a formação técnica e política de professores para atuar na educação de jovens
e adultos. Para atingir esse objetivo, começaremos abordando aspectos da formação do pro-
fessor no Brasil, em especial a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN
9394/96.
[...] não há ainda uma política de formação dos professores, mas pode-se per-
ceber claramente um ideal de professor para este tipo de ensino, como uma
espécie de pregador (ou até mesmo “desconvertor”, cabendo-lhe o papel de
representante de Deus) e, como tal, a importância dada aos métodos de me-
morização e de educação pela palavra. (MOURA, 1999, p. 24).
35
que vivem e trabalham no campo (MENEZES, 2009, p. 62).
UAB/Unimontes - 7º Período
36
História - Fundamentos e Metodologia da Educação de Jovens e Adultos
Até uns cinqüenta anos atrás a educação de adultos era concebida como um
meio para proporcionar-lhes a instrução que não havia recebido em criança, e
por isso se limitava quase sempre a alfabetização.
Hoje, porém, com a convicção que se adquiriu da necessidade de uma edu-
cação permanente, e com os conhecimentos mais amplos sobre a psicologia
das diferentes faixas etárias, existe a preocupação por encontrar uma metodo-
logia adequada a cada uma delas, uma metodologia capaz de pôr ao alcance
de cada pessoa os meios pedagógicos de que necessita para poder atualizar
continuamente os seus conhecimentos, para aperfeiçoar sua competência pro-
fissional e conseguir o máximo de desenvolvimento de suas potencialidades
intelectuais, afetivas e sociais em cada etapa. (RAMIREZ, 1975, p. 9).
Nesse contexto, ao pensar na formação técnica do professor para atuar na educação de jo-
vens e adultos, deve-se levar em consideração a necessidade constante de capacitação. “Há de
se lembrar que a preparação técnica, a ampliação do conhecimento e a atualização exigem um
exercício freqüente e diário por parte do educador e do sistema no qual ele está inserido” (RO-
DRIGUES, s/d, p. 5).
Freire (1993) defendia uma alfabetização de jovens e adultos de forma conscientizadora, uti-
lizando palavras geradoras que, antes de serem analisadas do ponto de vista gráfico e fonético,
serviam para sugerir a reflexão sobre o contexto existencial dos jovens e adultos analfabetos, so-
bre as causas de seus problemas e sobre como vencer estes problemas. Orientava para que se le-
vasse em consideração o momento histórico-cultural vivido pelo educando, para que ele adqui-
risse o domínio critico do conteúdo estudado. Seguindo o mesmo pensamento, Saviani (1983,
p.16) destacava a relação pedagógica alicerçada na concepção de um homem como “síntese de
múltiplas determinações, vale dizer, o homem como conjunto das relações sociais”.
Assim, a formação técnica do professor para trabalhar na EJA deve visar capacitá-lo para a
adoção de uma metodologia adequada, que priorize a dialogicidade da educação libertadora de
Freire, capaz de proporcionar uma aprendizagem significativa e duradoura. Dialogicidade que
ocorrerá a partir da própria experiência dos atores do processo ensino-aprendizagem, ou seja,
alunos e professores, e em função dos problemas existentes no contexto social.
A dinamicidade dos conteúdos na educação de jovens e adultos é a aposta de Borcelli e
Costa quando apregoam que:
37
UAB/Unimontes - 7º Período
[...] o preparo de um docente voltado para a EJA deve incluir, além das exigên-
cias formativas para todo e qualquer professor, aquelas relativas à complexida-
de diferencial desta modalidade de ensino. Assim esse profissional do magis-
tério deve estar preparado para interagir empaticamente com esta parcela de
estudantes e de estabelecer o exercício do diálogo.
Jamais um professor aligeirado ou motivado apenas pela boa vontade ou por
um voluntariado idealista e sim um docente que se nutra do geral e também
das especificidades que a habilitação como formação sistemática requer (BRA-
SIL, 2000, p. 56).
38
História - Fundamentos e Metodologia da Educação de Jovens e Adultos
Mas para que possam desenvolver essas habilidades e competências, a ação não pode ser
PARA SABER MAIS
dissociada da formação, o que implica em mudanças nos cursos de formação de professores tan-
to no que diz respeito à organização curricular quanto na postura dos docentes formadores, para Andragogia: processo
educacional de adultos
que se possa desenvolver nos alunos o conhecimento e habilidade para o trabalho em equipe, que distingue-se das
assim como a “capacidade de adaptar-se rapidamente à mudanças e às novas tecnologias, além finalidades e objetivos
da habilidade para resolver problemas e tomar decisões com rapidez e independência” (CANTO & de uma educação de
PACHECO, 2008, p. 94). crianças e adolescentes.
De acordo com Libâneo (1996, p. 47), “o trabalho docente constitui o exercício profissional
A Andragogia nasceu
do professor e este é o seu primeiro compromisso com a sociedade”. Sua responsabilidade é pre- em contraposição à
parar os alunos para se tornarem cidadãos ativos e participantes na família, no trabalho, nas as- Pedagogia, entendida
sociações de classe, na vida cultural e política. esta última como volta-
A função do professor é ensinar. Processo que, na visão de Alves (1999), não se desenvolve da exclusivamente para
em mão única, pois o ensino demanda aprendizagem. Aprendizagem que, segundo Depresbite- a educação infanto-ju-
venil. Os princípios da
ris (1999), deve, de acordo com a visão comportamentalista, resultar em mudança de compor- pedagogia que deram
tamento, ou ainda, quando se pensa na aprendizagem significativa, resultar na construção da surgimento às críticas e
capacidade de resolver problemas, na interação consigo mesmo e com o outro. Fatores que ex- busca de superação por
plicam a importância do professor na promoção de uma aprendizagem significativa, para plane- parte dos propositores
jar e desenvolver suas aulas e avaliar o processo de ensino-aprendizagem, dirigindo as atividades da andragogia seriam:
ensino muito diretivo,
de modo que os alunos desenvolvam suas capacidades físicas e intelectuais para enfrentar os centrado na figura do
desafios da vida nos aspectos sociais, culturais e econômicos (AUSUBEL, 1988). professor, baseado em
O desafio primeiro da formação técnica e política do docente, segundo Shön (1992), diz res- conhecimentos dire-
peito à sua prática pedagógica: se está atrelada ou não às mudanças ocorridas nas últimas dé- cionados por este, des-
cadas, e qual a contribuição dessa formação para que o trabalho do mesmo seja reconhecido. prezando a experiência
e vivência do aluno
Assim, apoiados pelas exigências de reformulação de métodos, procedimentos e saberes, os no- (ARANHA, 2000).
vos tempos exigem uma reestruturação da formação do professor para atuar na EJA. Essa nova
estruturação demanda formação técnica e política capaz de propiciar-lhe domínio das inovações
e atualização contínua de conhecimentos e práticas pedagógicas para que, além de estimulador
e orientador da aprendizagem e da busca de conhecimentos pelos alunos, assuma o importante
papel de instigador à reflexão e busca de respostas aos questionamentos que o mundo globali-
ATIVIDADEs
zado lança todos os dias através de decisões que afetam as pessoas a nível social e econômico, Reflita e Responda:
em sua vida pessoal e profissional, individual e grupal. Como a Política de
Formação de Professo-
res tem influenciado na
qualidade da educação
Referências
dos Jovens e Adultos?
Para o desenvolvimen-
to de uma educação
significativa, como
deve ser a formação do
ALVES, Rubem. Entre a ciência e a sapiência: o dilema da educação. São Paulo: Loyola, 1999. professor?
ARBACHE, Ana Paula Bastos. A formação do educador de pessoas jovens e adultas numa Assista ao filme “So-
perspectiva multicultural crítica. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro. Papel Virtual Edito- ciedade dos poetas
ra, 2001. mortos”.
Esse filme conta a his-
AUSUBEL, et al. Psicologia educativa: un punto de vista cognoscitivo. México, Trillas, 1988. toria de um carismático
professor de literatura
que revoluciona os
BORCELLI, A. F.; COSTA, S. S. C. Animação interativa: um material potencialmente significativo
métodos de ensino ao
para a aprendizagem de conceitos em física. XI Encontro de Pesquisa em Ensino de Física. chegar a um colégio
Curitiba, 2008. conservador americano
e adotar, como filosofia,
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n. 9.394, 20 de dezembro de 1996. ensinar seus alunos a
Brasília, DF, MEC, 1996. pensarem por si mes-
mos, sem manuais ou
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continuada de professores. (2008). Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/index.php?opti Após assistir ao filme,
responda: Como as
on=content&task=view&id=582&Itemid=584 . Acesso em 15.set.2011 lições desse professor
podem auxiliar no
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________Resolução da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, EJA?
Brasília: 2000
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UAB/Unimontes - 7º Período
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41
História - Fundamentos e Metodologia da Educação de Jovens e Adultos
Unidade 4
Propostas para a educação de
jovens e adultos - EJA
Ms. Mânia Maristane Neves Silveira Maia
4.1 Introdução
Dentre as várias práticas de alfabetização de jovens e adultos, cabe apontar aqui algumas
iniciativas empreendidas por intelectuais, militantes políticos e católicos engajados na ação po-
lítica. Dentre elas, destacamos as propostas pedagógicas do Movimento de Educação de Base
– MEB; Método Paulo Freire; Programa Brasil Alfabetizado; Plano Nacional de Formação do Tra-
balhador - PLANFOR; Programa Alfabetização Solidária; e o Programa Nacional de Educação na
Reforma Agrária – PRONERA.
43
UAB/Unimontes - 7º Período
1. Texto de Leitura: composto de 26 lições que formam, cada uma, uma histó-
ria. Essa história traz, em seu conteúdo, diferentes temas geradores que deve-
rão ser a base do processo de alfabetização;
2. Cartaz Gerador: acompanha cada lição e reflete o tema gerador proposto. É
sempre a primeira etapa de exploração do tema e deve estar sempre exposto
em sala de aula;
3. Vamos conhecer a realidade? Corresponde, no método, à etapa do VER e
apresenta dados, informações, notícias, aspectos legais e outros que subsidiam
o alfabetizador na discussão do tema gerador;
4. Vamos refletir? Corresponde, no método, à primeira etapa do JULGAR e
consiste em uma análise de teor mais filosófico a respeito do tema gerador,
que apoiará o alfabetizador na condução dos debates sobre os temas;
5. Vamos debater? Corresponde, no método, à segunda etapa do JULGAR e
consiste em um roteiro de perguntas que sugerem um debate que auxiliam o
alfabetizador a estabelecer uma relação de diálogo e questionamento em rela-
ção ao tema gerador;
6. Vamos fazer e acontecer? Corresponde, no método, ao AGIR e trata das
mudanças propostas, ou seja, trabalhar com o letramento (aprender a ler e
escrever), com a numerização (aprender as operações matemáticas básicas) e
trabalhar coletivamente em projetos de intervenção na realidade. Nesta etapa,
são apresentados:
1. Componentes linguísticos específicos de cada lição: são as famílias silá-
bicas e outros componentes de nossa língua que são introduzidos a cada lição;
2. Sugestões de atividades de letramento e matemática: pelo menos uma
atividade é sugerida em cada lição;
3. Atividades complementares: sugestões de dinâmicas de letramento e ma-
temática;
4. Chamada Geral: são apresentadas, ao longo das lições, 5 sugestões de ação
conjunta voltadas ao desenvolvimento de projetos de intervenção na realidade
do alfabetizando, no sentido de completar o ciclo do método ver, julgar e agir.
O MEB continua em ação, tendo desenvolvido, entre 2003 e 2009, o “Programa Cidadão
Nota Dez”, em Minas Gerais, com 416.684 alfabetizandos. Contando com um contingente de
9.672 educadores, o projeto “Saber, viver e lutar” alfabetizou, no mesmo período, 88.910 pessoas
nos estados do Piauí, Maranhão, Ceará, Amazonas, Roraima e Distrito Federal.
Ao todo, o MEB alfabetizou, entre 2003 e 2010, 586.966 pessoas, com os trabalhos desenvol-
vidos por 40.853 educadores populares, em todo o Brasil.
44
História - Fundamentos e Metodologia da Educação de Jovens e Adultos
Nascimento e Guimarães (2002) enfatizam que o projeto educativo de Paulo Freire foi um
ATIVIDADEs
projeto libertador que valorizava a interdisciplinaridade, tendo como princípio metodológico a
promoção de uma aprendizagem global, não fragmentada. Reflita: “Ninguém edu-
ca ninguém, ninguém
O método Paulo Freire, uma proposta de EJA ainda muito presente no cenário educacional
educa a si mesmo, os
brasileiro, baseia-se no processo de silabação, em que a palavra, apresentada inserida em uma homens se educam en-
situação concreta, é desmembrada em sílabas, e, após isso, é apresentada a família fonética das tre si mediatizados pelo
sílabas separadas. O exemplo a seguir, apresentado por Nascimento e Guimarães (2002), ilustra mundo”. (Paulo Freire)
bem como foi desenvolvido, na década de 60, o método Freire:
TIJOLO
TIJOLO TI-JO-LO
TA TE TI TO TU
JÁ JE JI JO JU
LA LE LI LO LU
A – E- I – O- U
Assim sendo, com as sílabas soltas o alfabetizando poderá, a seu critério, for-
mar novas combinações fonéticas da língua portuguesa, ou seja, novas pala-
vras.
O método de Paulo Freire obedece às normas metodológicas e linguísticas, mas vai além
delas, porque desafia o alfabetizando a se apropriar do código escrito e a se politizar, com uma
visão de totalidade da linguagem e do mundo.
O método de Paulo Freire condena o trabalho com as cartilhas e manuais escolares, por co-
locarem os alunos como observadores e não como sujeitos da realidade e por promoverem a
memorização de exercícios realizados para eles, pelo professor. Dessa forma, em substituição às
cartilhas, foram criados os cadernos de cultura, cujos conteúdos eram tirados da própria vivencia
dos educandos, para que eles possam refletir sobre suas realidades.
45
UAB/Unimontes - 7º Período
sos. O programa é desenvolvido, em todo o país, através de parcerias entre os estados, municí-
pios, instituições de ensino superior e organizações sem fins lucrativos. Para o desenvolvimento
do programa, os municípios recebem apoio técnico na implementação das ações do programa,
visando garantir a continuidade dos estudos aos alfabetizandos.
Dias (2010, p. 19) define o Programa Brasil Alfabetizado como “uma forma de acesso à cida-
dania e para a elevação de escolaridade no nosso país”. De acordo com Dias (2010), o programa é
oferecido com prioridade nos mais de 1.928 municípios brasileiros que apresentam taxa de anal-
fabetismo maior ou igual a 25%, sendo que, deste total, 90% se concentram na região Nordeste.
O acesso ao programa está delimitado a todas as pessoas com idade igual ou superior a
quinze anos, que não tiveram acesso à escolarização na idade apropriada (MEC, 2010). Além da
alfabetização de jovens, adultos e idosos, o programa investe, também, na formação de alfabeti-
zadores. Antes de começar o trabalho de alfabetização, o alfabetizador precisa conhecer o grupo
com o qual vai trabalhar. Isso se dá com a matrícula dos alunos ou diagnósticos no início das
aulas. O propósito é que o alfabetizador possa conhecer seus alunos, dando assim maior demo-
cratização e participação no processo de alfabetização.
O programa é realizado por voluntários, remunerados por meio de bolsa auxílio, que assu-
mem tarefa de alfabetizador, tradutor intérprete de libras e coordenador de turma. Além do pa-
gamento de bolsas aos alfabetizadores e coordenadores de turmas, o Ministério da Educação e
Cultura e o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação - MEC/FNDE repassam recursos fi-
nanceiros aos estados e municípios, por meio de transferência automática em conta benefício do
Branco do Brasil, para financiamento das seguintes ações: formação de alfabetizadores, aquisição
de gêneros alimentícios para a merenda e, também, de materiais escolares, pedagógicos, didáti-
cos e literários, e de apoio ao professor em geral (MEC, 2010).
As turmas do Programa Brasil Alfabetizado devem ter no mínimo quinze e no máximo vinte
cinco alunos, e cada alfabetizador pode trabalhar, no máximo, com duas turmas.
Dados divulgados pelo MEC (2010) comprovam que o programa, que ainda está em anda-
mento, atendeu 9,9 milhões de jovens e adultos desde sua criação até 2008, enquanto que em
2009, mais de 2 milhões de alfabetizandos foram atendidos pelo programa.
46
História - Fundamentos e Metodologia da Educação de Jovens e Adultos
Christoff (2005, p. 12) ressalta que o PLANFOR tinha como meta treinar 15 milhões de traba-
lhadores, por ano, entre 1996 e 1999. Para isso, planejou a substituição das “formas tradicionais
de educação profissional, mediante a formação de uma Rede Nacional de Educação Profissional
que articularia as entidades públicas e privadas atuantes no campo da qualificação do trabalha-
dor”, o que resultou em “uma espécie de mercado nacional de formação profissional”, perdendo
assim a concepção de educação profissional, inicialmente proposta.
QUADRO 2
Síntese do PLANFOR
Origem 1995 – Governo do Presidente Fernando Henri-
que Cardoso.
Experiências anteriores dos coordenadores nacio- Membro de grupos técnicos, executiva do SENAI
nais com Educação Profissional
Resultados imediatos para o trabalhador / a traba- Poucos registros de conquista de emprego, prin-
lhadora cipalmente os egressos dos cursos conquistarem
vagas do SINE
47
UAB/Unimontes - 7º Período
De acordo com as Diretrizes do PAS, as vertentes que orientam as ações do programa são as
PARA SABER MAIS seguintes: (1) mobilização nacional; (2) desenvolvimento de um projeto para servir como modelo
Pedagogia da Alter- para outros programas de alfabetização de adultos; (3) busca e incentivo às parcerias; (4) avalia-
nância: ção do programa; (5) mobilização da juventude.
Proposta de ação Segundo Haddad & Pierro:
conjunta com a escola
e a família/comunidade a parceria entre o Ministério da Educação, municípios, empresas e universida-
objetivando um desen- des, definiu funções e atribuições de cada um na implementação do PAS. As-
volvimento amplo do sim, ao Ministério da Educação coube a elaboração e distribuição de materiais
alternante (estudante didático-pedagógicos e da alimentação; os municípios ficaram responsáveis
participante). por ceder os espaços para a instalação de salas de aula improvisadas e os alfa-
betizadores; as empresas se responsabilizaram pela cobertura dos custos ope-
racionais das universidades, assim como pela remuneração dos educadores,
enquanto as universidades se incumbiram da coordenação e orientação peda-
gógica do programa, além da capacitação de monitores (HADDAD & PIERRO,
2000, p. 05)).
48
História - Fundamentos e Metodologia da Educação de Jovens e Adultos
A alfabetização é a primeira fase do processo de escolaridade dos jovens e adultos das áreas
de reforma agrária e deve compreender, no mínimo, 400 horas presenciais, durante um período
de doze meses.
• 1º segmento
Compreende a escolaridade, em 24 meses, de jovens e adultos maiores de 15 anos. Respei-
tando a legislação e a carga horária definidas pelos Conselhos Estaduais e Municipais de Educa-
ção para a EJA, o 1º segmento do ensino fundamental compreende 1600 horas, sendo 800 horas
por ano.
• 2º segmento
Assim como o primeiro segmento, a carga horária a ser cumprida pelos alunos em 24 meses
compreende 1600 horas, sendo 800 horas para cada ano de curso. Das 1600 horas do curso, 30%,
o que equivale a 480 horas, poderão ser utilizadas para atividades de estudos, pesquisas ou inter-
venção prática desenvolvidas pelos alunos em sua comunidade.
Cumprindo o que prevê o artigo 7º da resolução CNB/CEB no 1/2002 e o artigo 28 da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN 9394/1996, o calendário escolar do PRONERA –
Alfabetização e Ensino Fundamental – poderá ser organizado de acordo com as peculiaridades
culturais e naturais de cada comunidade.
A proposta curricular para a EJA (BRASIL, 2002), sob a chancela do Ministério da Educação
e Cultura, foi elaborada por uma equipe de educadores, com a participação de membros de or-
ganizações educativas, sindicais e pesquisadores do tema Educação de Jovens e Adultos e en-
contra-se organizada em três volumes. O primeiro, introdutório aos dois subsequentes, discute
algumas especificidades da educação de jovens e adultos e a elaboração de propostas curricu-
lares que atendam a essas características. Os outros dois volumes fazem abordagens específicas
às disciplinas e contam com uma introdução e com seções referentes aos objetivos, conteúdos,
orientações didáticas e avaliação.
A proposta curricular para a EJA, construída a partir das orientações dos Parâmetros Curri-
culares Nacionais, encontra-se disponibilizada em forma de documento que tem como objetivo
subsidiar o trabalho no 1º segmento (1ª a 4ª séries/1º e 2º ciclos) da Educação de Jovens e Adul-
tos (EJA), assim como no 2º segmento (5ª a 8ª séries/3º e 4º ciclos).
A proposta curricular para a EJA (BRASIL, 2002) será tema de pesquisa durante as aulas pre-
senciais, quando servirá para leitura e analise por todos os cursistas. Vamos estudá-la mais amiú-
de, pois esse é um instrumento de extrema importância que deve ser de conhecimento de todos
os que atuam ou planejam atuar como educador na EJA.
Para começar, pesquise sobre os objetivos, estrutura e organização da proposta curricular
da EJA 1º e 2º segmentos, anotando aspectos que considerar importantes em cada uma delas e
traga as anotações para subsidiar as discussões que acontecerão em sala de aula.
50
História - Fundamentos e Metodologia da Educação de Jovens e Adultos
Referências
BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Proposta Curricular para a educação de jovens e adul-
tos: segundo segmento do ensino fundamental: 5a a 8a série. Secretaria de Educação Funda-
mental, 2002.
BULHÕES, M.G.P. Plano Nacional de Qualificação do Trabalhador – Planfor: acertos, limites e de-
safios vistos do extremo sul. São Paulo Perspec. v.18, n.4. São Paulo: Out./Dez. 2004.
DIAS, Ana Paulo Fonseca. A Importância da Alfabetização de Jovens e Adultos: Uma Reflexão
sobre a Formação Docente no Processo de Alfabetização do Programa Brasil Alfabetizado. Rio de
Janeiro, UFRJ, 2010.
TAFFAREL, Celi Zulke; SANTOS JUNIOR, Cláudio de Lira. Balanço político e continuidade da
ação: PRONERA 10 anos de resistencia - uma contribuição ao debate. Disponível Em: http://
www2.faced.ufba.br/educacampo/educacampo/pronera. [postado em abr.2009] Acesso em
29.jul.2011.
PIRES, Célia Maria Carolino. CONDEIXA, Maria Cecília. NÓBREGA, Maria José M. de. MELLO, Paulo
Eduardo Dias de. Por uma Proposta Curricular para o 2º segmento de EJA.
SALES, Francisco José Lima. PLANFOR: política compensatória para a “inclusão” na informalida-
de? Natal: UFRN, 2006.
SANTOS, Simone Valdete dos. Da educação profissional para o emprego, no PIPMO, para a
educação profissional para a empregabilidade, no PLANFOR. Porto Alegre: Universidade Fe-
deral do Rio Grande do Sul, 2003.
51
História - Fundamentos e Metodologia da Educação de Jovens e Adultos
Unidade 5
Superação do analfabetismo e a
construção de uma escola para
todos
Prof. Ms. Lailson dos Reis Pereira Lopes
Nesta unidade, temos o objetivo de dialogar sobre um dos principais desafios da educação
brasileira, que é o de superar o analfabetismo e de construir uma escola de qualidade para todos,
e, consequentemente, o papel e o compromisso dos educadores no sentido de buscar e de im-
plementar propostas e políticas públicas para esse objetivo, além da busca de consolidação da
identidade da Educação de Jovens e Adultos - EJA.
identidade
trabalho do professor
se dá em três direções;
Uma para o sistema,
outra para a própria
categoria e, finalmente,
Conforme discutido nas unidades anteriores, percebe-se que a educação de jovens e adul- a última para a comu-
tos, no Brasil, trilhou/trilha uma trajetória ora de avanços, ora de retrocessos, quer em relação às nidade, corporificada
políticas públicas, quer em relação às propostas pedagógicas para essa modalidade de ensino. diretamente nos alunos.
Dimensão política na re-
Nesse sentido, a educação de jovens e adultos, no país, ainda busca uma identidade própria e lação com o sistema- Na
ainda carece de um aporte de conhecimentos que lhe dê sustentação, em alguns aspectos, mes- conjuntura atual, não
mo porque a realidade é dinâmica e novas questões vão surgindo. há como atuar nessa re-
De acordo com a Proposta Curricular para a Educação de Jovens e Adultos – PCEJA- Brasil lação adequadamente,
(2002, vol.1, p. 87), a denominação inicial “supletivo” embute a conotação de compensar “o tem- se não se assumir a Pe-
dagogia da Indignação:
po perdido” ou “complementar o inacabado” (destaques do autor). O que se concebe hoje como “[...] Somos a primeira
educação de jovens e adultos transcende essa concepção e diz respeito a um direito a uma edu- pior distribuição de
cação permanente, não suplementar e emancipadora. Nesse documento, a EJA é definida como renda e detemos quase
“modalidade da Educação Básica e como direito do cidadão, afastando-se da ideia de compensa- um terço de todos os
ção e suprimento e assumindo a de reparação, equidade e qualificação – o que representa uma analfabetos da Amé-
rica Latina e Caribe”.
conquista e um avanço” (p. 17). Dimensão política na
Segundo Ribeiro (1999, p.6-8), a busca da construção da identidade da educação de jovens relação com a categoria
e adultos pode ser percebida em três dimensões. A primeira delas é uma dimensão política, que - Refletir sobre as fun-
reconhece os jovens e adultos a que essa educação se destina como membros das classes po- ções do educador, rever
pulares, excluídos não só do sistema escolar, como também de outras instâncias de poder. Essa estratégias de ação,
trocar experiências,
dimensão, segundo a autora, teve, nas décadas de 1970 e 80, contribuições teóricas importantes propor políticas e até
no campo das teorias sociológicas, como também iniciativas de educação popular em que havia assumir a Pedagogia da
a preocupação com a transformação de valores e atitudes dos educandos, que lhes permitissem Indignação; só é eficaz
uma postura crítica e participativa na realidade social. Nesse sentido, as contribuições de Paulo no coletivo, pois as
Freire foram marcantes, conforme já abordamos. A segunda dimensão diz respeito à funciona- atitudes isoladas, além
do enfraquecimento da
lidade das aprendizagens, ou seja, os jovens e adultos voltam à escola com expectativas ligadas ação, podem gerar ar-
à sua inserção no mercado de trabalho e à melhoria de qualidade de vida. Nessa perspectiva, rogância ou se transfor-
coloca-se ênfase na aplicabilidade das aprendizagens escolares. A terceira dimensão diz respeito mar numa lamentação,
à consideração dos modos de aprender do adulto, o que leva, consequentemente, ao questiona- que ninguém toma a
mento de como os conteúdos escolares devem ser transformados e tratados para se adequar aos sério (ROMÃO, 2006, p.
65-67).
modos próprios de pensar desse aluno.
53
UAB/Unimontes - 7º Período
Para saber mais Segundo Romão (2006, p.61), “Salvo experiências inovadoras localizadas, a Educação Brasi-
Dimensão geren- leira, particularmente a educação de jovens e adultos, está anestesiada e, por causa das graves
cial – Durante muito agressões sofridas recentemente, a caminho de um choque anafilático”. Para mudar esse quadro,
tempo, o isolacionismo o autor nos diz ser necessário um choque triplo, que atue em três dimensões, política, gerencial e
pedagógico esteve em pedagógica:
moda e julgava-se sufi- E, em cada uma delas, o papel do professor é fundamental e de maior responsabilidade: na
ciente para resolver os
problemas do sistema última, pois o professor é um educador, não assumindo esse papel, torna-se um deseducador.
escolar, considerando- Qualquer um pode ser um professor-instrutor; é possível ensinar, relativamente bem, o que se
-se transcendente ou sabe. Agora nem todos podem ser um professor-educador; este tem uma tarefa bem mais difícil:
à parte da sociedade Só se educa a partir do que se é.
como um todo. “[...] Com relação à dimensão política, Romão traz uma abordagem interessante, a qual acaba
Muitos professores
consideram sobrecarga por não separar o político do pedagógico quando afirma que:
indevida a assumpção
de outras funções que A politização do ato pedagógico tem relação íntima com a questão da recupe-
não são as pedagógi- ração da funcionalidade do saber escolar, isto é, a recaptura da instrumentali-
cas, significando até dade do que é desenvolvido na sala de aula para o projeto de vida do aluno. É
mesmo uma explora- a perda dessa funcionalidade que provoca a evasão, a repetência, o desinteres-
ção de seu trabalho. No se, a apatia do alunado, mormente entre os jovens e adultos que trazem para
entanto, compete ao as relações pedagógicas uma série de experiências, vivências e saberes cons-
corpo docente formular truídos na luta cotidiana pela sobrevivência, sem falar da incorporação da idéia
políticas, a partir das de que os conteúdos e habilidades a serem adquiridos servem apenas para res-
diretrizes educacionais ponder às avaliações propostas (ROMÃO, 2006, p. 68-69).
socialmente sanciona-
das, elencar as priori- Segundo Arroyo (2006), a educação de jovens e adultos vem se perfilando, nos últimos
dades dos sistemas e anos, através de políticas públicas que estão sendo assumidas pelo próprio governo e pelo Mi-
das escolas, co-definir
os critérios de distri- nistério da Educação. Com isso, ele acredita que o perfil da EJA vá se tornando mais definido e
buição e alocação de melhor caracterizado.
recursos, identificar os A seguir, aprofundaremos um pouco mais na discussão do sério problema do analfabetismo
insumos básicos para no país.
o desenvolvimento do
trabalho pedagógico
de qualidade, resgatar
a dignidade e o status
da profissão” (ROMÃO
2006, p. 75, 77).
5.2 A Educação de Jovens e
Adultos: um retrato dos números
do analfabetismo no Brasil
A Educação de Jovens e Adultos – EJA, modalidade de ensino da educação básica brasileira,
além de ser uma realidade, representa, também, uma necessidade em nosso país. Isso se justifica
pela dívida social da sociedade brasileira para com aqueles que não tiveram acesso à educação
na idade própria, seja por falta de vagas, condições sociais desfavoráveis ou que foram excluídos
devido a vários fatores, dentre eles, a necessidade de trabalhar para sustentar a família, a falta de
motivação para os estudos e a falta de qualidade na educação, dentre outros.
Na Constituição Federal de 1988 (Artigo 60, parágrafo 6º), consta a necessidade de erradicar
o analfabetismo. Ainda é grande o número de brasileiros e brasileiras que não dispõem da tecno-
logia da leitura e da escrita e que, em decorrência dessa condição ou estado, acabam sendo mar-
ginalizados, privados do acesso aos bens culturais da humanidade letrada e sem poder exercer
dignamente os direitos de cidadãos.
TABELA 1
Números do IBGE sobre o analfabetismo no Brasil,1999 -2009:
Ano Região sul Região nordeste Região sudeste Região centro oeste Região norte
54
História - Fundamentos e Metodologia da Educação de Jovens e Adultos
TABELA 2
O decréscimo do número de analfabetos, ao longo dos anos, no país:
1970 33,60%
1980 25,50%
1991 20,10%
2000 13,60%
2010 9,60%
Fonte : Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - 2010
De acordo com a tabela 2, percebe-se que nas últimas décadas vem diminuindo o número
de analfabetos nos país. Os dados do IBGE (2010) sugerem que a universalização do ensino fun-
damental em nosso país vem sendo alcançada, visto que, no ano de 2008, 97,9% das crianças
entre 7 e 14 anos de idade estavam matriculados. Os dados ainda mostram que o acesso da po-
pulação à escola vem aumentando em todos os grupos etários pesquisados. Ressaltamos que se
tratam de dados quantitativos, o que não garante a qualidade da educação.
Em 2008, a taxa de analfabetismo no país era de 10%, ou seja, 14,2 milhões de pessoas com
15 anos ou mais representavam os analfabetos do Brasil. Em 2010, ainda de acordo com o IBGE,
esse número caiu um pouco, representando 9,6%, o que totaliza 13.940.729 pessoas que ainda
não sabem ler e escrever. É um índice altíssimo, o que coloca o Brasil em situação bastante des-
confortável na América Latina. Vejamos:
De acordo com dados da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (CEPAL), ór-
gão ligado à Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil ocupa o sétimo lugar no ranking
de analfabetismo na América Latina, dentre vinte e oito países, encontrando-se atrás do Uruguai
(1,7%), Argentina (2,4%), Chile (2,95%), Paraguai (4,7%), Colômbia (5,9%) e Peru (7,1%), e supe-
rando países como Jamaica (9,8%), República Dominicana (12,9%), El Salvador (16,6%), Honduras
(19,4%), Guatemala (25,2%), Nicarágua (30,3%) e Haiti (41,1%).
As expectativas da ONU e da UNESCO é que, em 2015, o Brasil atinja a meta de 6,7%. Ao rea-
lizar as pesquisas domiciliares, o IBGE considera como analfabetas aquelas pessoas que declaram
não saber ler e nem escrever um bilhete simples.
Iniciativas governamentais e não governamentais têm trabalhado na busca pela garantia do
direito à educação a todos os brasileiros, pagando assim uma dívida social para com aqueles ex-
cluídos do sistema educacional. Dentre essas iniciativas, citamos o Programa Brasil Alfabetizado,
os Programas Alfabetização Solidária, Alfabetização de Jovens e Adultos nas Áreas de Reforma
Agrária, os fóruns estaduais e regionais de Educação de Jovens e Adultos - EJA, o Programa de
Apoio a estados e municípios para a Educação Fundamental de Jovens e Adultos, dentre outras
já descritas neste estudo.
Esses dados (tabela 2) nos mostram a complexidade da questão do analfabetismo. Nesse
sentido, Fávero (2009) nos traz uma importante reflexão:
As reflexões realizadas pelo autor nos chamam a atenção. As condições precárias de acesso
e permanência desses alunos jovens e adultos poderão levá-los, novamente, ao triste e frustrante
caminho da exclusão.
55
UAB/Unimontes - 7º Período
A grande maioria das professoras percebe a EJA como uma oportunidade para os jovens
que se encontram em defasagem/série e para os adultos de realizarem, ou de concluirem, os es-
tudos no nível da escolarização básica, embora, segundo elas, uma parte desses sujeitos, espe-
cialmente os mais jovens, não aproveite essa chance.
As professoras frisaram, ainda, que muitos procuram concluir devido à exigência do merca-
do de trabalho. Uma das entrevistadas coloca:
A gente percebe que a cada ano a procura pela EJA tem crescido considera-
velmente, as pessoas têm voltado para a escola. E eu vejo que o jovem ele não
tem o compromisso de estudar no tempo cronológico, eles perdem tempo,
tem pai, tem mãe, às vezes, ou melhor, acho que quase sempre não trabalham,
não precisam trabalhar, mas não aproveitam. É o que acontece, eles esbarram
aí fora com o mercado de trabalho que está cobrando está apertando, exigin-
do essa formação (PROFESSORA “C”, 2008).
56
História - Fundamentos e Metodologia da Educação de Jovens e Adultos
[...] quando você fala, eu vou trabalhar com adulto é diferente que ir trabalhar
com adolescente; adolescente, a própria fase já diz, traz uma série de proble-
mas; é aquela fase difícil, que passa pela vida de todo mundo; [...] é a fase crítica
do ser humano; as coisas estão assim, não se encaixam muito, a gente não tem
muita noção, você está de um jeito, passa um minutinho você já está de outro.
Então, trabalhar com aluno nessa fase é muito difícil, pois, além do conteúdo,
você ainda tem que lidar com essa mudança de comportamento. O aluno de
EJA é diferente nesse ponto; você já pega o aluno fora dessa fase de adolescen-
te; você pega o aluno na fase adulta, então ele já sabe o que ele quer, o que ele
está procurando; então você tem mais facilidade pra trabalhar [...] mas você já
pega o aluno numa fase de trabalho, numa fase de trabalhador, aluno que tra-
balhou o dia inteiro e que vai à noite estudar, porque agora ele está precisando
(PROFESSORA “C”, 2008).
Percebe-se, na fala da professora “C”, que, para ela, trabalhar na EJA é mais satisfatório, visto
que a preocupação do professor é com o conteúdo. Já trabalhar com adolescente, segundo ela,
é preciso, ainda, preocupar-se com outras situações, em virtude da fase de mudanças comporta-
mentais da adolescência.
As professoras abordam uma situação que para elas têm sido um grande problema, a “juve-
nilização” da educação de jovens e adultos. Devido à relevância desse tema, detectado em Mon-
tes Claros, MG, que tem sido debatido por vários teóricos que tratam da educação de jovens e
adultos, passaremos a tratar, especificamente, desse assunto.
Pesa a favor da alteração da idade para cima, não só uma maior compatibiliza-
ção da LDB com a ECA, como também o fato de esse aumento da idade signi-
ficar o que vem sendo chamado de juvenilização ou mesmo um adolescer da
EJA. Tal situação é fruto de uma espécie de migração perversa de jovens en-
tre 15 (quinze) e 18 (dezoito) anos que não encontram o devido acolhimento
junto aos estabelecimentos do ensino seqüencial regular da idade própria. Não
é incomum se perceber que a população escolarizável de jovens com mais de
15 (quinze) anos seja vista como “invasora” da modalidade regular da idade
própria. E assim são induzidos a buscar a EJA, não como modalidade que tem
sua identidade, mas como uma espécie de “lavagem das mãos” sem que ou-
tras oportunidades lhes sejam propiciadas. Tal indução reflete uma visada do
tipo: a EJA é uma espécie de “tapa buraco” (BRASIL-MEC, Parecer CNE/CEB Nº
23/2008, p. 9).
Há, segundo o Parecer, quem seja contrário a essa mudança de idade para ingresso na EJA,
argumentado que os alunos entre 15 e 18 anos ficariam desamparados, sem lugar na escola. Os
grupos que participaram das audiências públicas para discutir o tema, conforme já tratamos an-
teriormente, apontaram a complexidade da questão e não chegaram a um consenso. Porém, po-
demos identificar nos textos legais várias possibilidades de atendimento: a LDB determina para
os alunos com dificuldades de aprendizagem e a recuperação paralela ao longo do ano letivo,
que é um direito do aluno. Aliado a isso, há programas de aceleração da aprendizagem para
aqueles que se encontra em defasagem idade/série, dentro do ensino regular.
Além disso, o artigo 208 da Constituição Federal, no inciso VI, prevê “oferta de ensino regu-
lar, adequado às condições do educando”. Assim como na Lei 8.069/90, (Estatuto da Criança e do
Adolescente-ECA), no artigo 54, inciso VI, o qual afirma que é dever do Estado a oferta do ensino
regular noturno ao adolescente trabalhador. Estabelece, ainda, que a pessoa até 12 anos incom-
57
UAB/Unimontes - 7º Período
pletos é criança e a de 12 anos completos até 18 anos incompletos é adolescente. Assim sendo, o
jovem é aquele que tem 18 anos ou mais, sendo essa a idade prevista para a maioridade prevista
no art. 228 da Constituição Federal de 1988 e no art. 104 da ECA.
A “juvenilização” da EJA e a crescente transformação dessa modalidade em um “noturno
regular” têm sido discutidas por vários pesquisadores, dentre eles: Arroyo, Haddad e Di Pierro e
Leão, situação constatada, também, por nós, em Montes Claros. Ela traz problemas que exigirão
novas posturas educacionais. A esse respeito, Arroyo (2006, p. 21) afirma:
Lamento, mas pelo que eu tenho visto nesses dois últimos anos, depois daque-
le parecer do Conselho de Educação, no meu entender funesto, eu acho que
estamos caminhando para isso. A educação de jovens e adultos vai se tornar
um noturno regular. É por aí que está caminhando a maior parte dos grupos
EJA nos municípios, nas redes estaduais. (ARROYO, 2006, p.21).
Leão (2005) usa o termo “rejuvenescimento” da EJA e considera que esse é um fenômeno
social. Isso começou a acontecer, segundo ele, a partir da segunda metade da década de 1990,
com a implementação de vários programas de governo nos diferentes níveis. Essas políticas fo-
ram movidas pela preocupação com o aumento do desemprego e da violência entre os jovens.
Em diversos desses programas, a EJA é convocada a contribuir, oferecendo novas oportunida-
des educativas a esses alunos jovens de escassos recursos financeiros. Porém, muitas vezes, esse
chamado feito à EJA aconteceu de forma inadequada, com uma visão equivocada do papel e do
alcance dessa modalidade.
As professoras, sujeitos dessa pesquisa, apontam alguns problemas, verificados quanto ao
fato desses alunos jovens estarem na EJA:
[...] o aluno mais novo de 17, 16, 15 anos, vem à escola, é assim a maioria é infre-
quente e, quando vem, quer ficar no pátio, quer brincar, namorar. Muitas vezes,
os pais não os deixam sair, e aí a escola é refúgio para eles namorarem (PRO-
FESSORA “K”, 2008).
Nesse mesmo sentido, a Professora “N” fala dos alunos que apresentam um comportamento
inapropriado no turno diurno e, por isso, a direção da escola os remaneja para o noturno, para
a EJA. Lá, eles continuam a dar trabalho e, muitas vezes, acabam provocando a desistência dos
alunos mais velhos.
A EJA é a Educação de Jovens e Adultos; às vezes, tem uns meninos, que dão
trabalho durante o dia, aí eles acham que EJA é um despejo - esse menino já
está na idade da EJA, e empurram esse jovem para essa modalidade. Mas, no
noturno, ele dá trabalho também; ele não quer nada no diurno e, chega no no-
turno, ele fica lá passeando, vai pra lá só para passear. Mesmo sendo jovens,
maiores de 14 anos, os pais são responsáveis por eles, pelo seu sustento; os
pais forçam os filhos a irem para a escola; esses são os que atrapalham (PRO-
FESSORA “N”, 2008).
58
História - Fundamentos e Metodologia da Educação de Jovens e Adultos
Desse modo, a EJA vem perdendo as características iniciais, em virtude do seu uso hoje
como aceleração dos estudos dos alunos que apresentam defasagem idade/série, o que acaba
provocando novos desafios às ações formativas dos professores e exigindo ações pedagógicas
múltiplas a serem assumidas pelos docentes, em virtude de diferentes expectativas de um públi-
co que vem se tornando bastante heterogêneo.
Sendo a nossa proposta de estudo voltada para a formação inicial e continuada de educa-
dores, que têm como tarefa atender aos educandos no ensino da Matemática, considerando as
características, os interesses e os anseios desses alunos, alguns jovens e adolescentes, outros
com vasta experiência de vida, faz-se, assim, necessário tomá-los como parceiros.
Nesse sentido, Dayrell (2005, p. 65), reportando-se aos jovens, diz:
Na proposta de Paulo Freire, a escola é substituída pelo “circulo de cultura”, coordenado, ge-
ralmente, por um jovem que exerce as funções de professor, tendo o diálogo como condição pri-
mordial para exercer a sua atividade. Um dos principais compromissos desse jovem professor é o
59
UAB/Unimontes - 7º Período
respeito aos educandos, nunca chamados de analfabetos, mas de alfabetizandos. Ao iniciar o seu
trabalho, o educador faz um levantamento do vocabulário popular daqueles adultos, detectando
“palavras geradoras”. Observamos aqui uma possibilidade de o educador aproximar-se do mun-
do do aluno e conhecê-lo um pouco mais, saber dos sonhos e dos seus desafios. A partir dessas
palavras, que estão presentes no cotidiano do educando, este é alfabetizado. Assim, ele des-
cobre as sílabas, as letras e os enigmas silábicos do nosso idioma, e constrói novas palavras;
e, tudo isso, a partir desse material, que é apenas um dado, mas que tem um significado na
vida dos alunos adultos. Esse material e a proposta de alfabetização os levam a refletir e,
como diz o autor, alfabetização e conscientização jamais se separam. Uma das palavras gerado-
ras é, por exemplo, “favela”; por detrás dela, existe uma situação real e de discussão por se tratar
de uma situação desafiadora.
Freire (2007, p.14) nos alerta a respeito dos métodos de ensino, que precisam encontrar sen-
tido na vida do adulto “[...] todo aprendizado deve encontrar-se intimamente associado à tomada
de consciência da situação real vivida pelo educando”. Outro aspecto levantado pelo autor diz
respeito a não infantilizar o ensino. Não faz sentido alfabetizar adultos utilizando textos infantis,
como “Eva viu a uva”; muitos deles nunca comeram uvas e conhecem poucas Evas.
Moura (1999, p.27) nos chama a atenção sobre os objetivos do ensino supletivo, denomi-
nação dada à EJA, nos anos de 1970, 1980 e meados de 1990, o qual era diminuir os índices de
analfabetos para que, assim, estes passassem a fazer parte do sistema produtivo do país. Entre-
tanto, os métodos de ensino eram os mesmos utilizados na educação de crianças, utilizando-se
inclusive as mesmas cartilhas da alfabetização infantil. Observamos que o método Paulo Freire
estava além do que aqui é criticado pela autora, pois Freire tinha a preocupação em tornar o en-
sino significativo para os adultos.
Segundo Freire (2007), no ano de 1962, a região Nordeste possuía 25 milhões de habitantes
e 15 milhões de analfabetos; foi nessa região brasileira que se iniciou o Movimento de Alfabe-
tização. A experiência desenvolvida na cidade de Angicos, no Rio de Grande do Norte, espanta
a todos: são alfabetizados 300 trabalhadores em cerca de 45 dias, o que chamou a atenção do
Governo Federal, levando-o a patrocinar a extensão do projeto a todo território nacional. Existia
a previsão de implantação de 20.000 círculos de alfabetização, com 30 alunos cada e duração de
3 meses para, assim, levar a Campanha a atingir 2 milhões de alfabetizados em 1964. Isso acon-
teceria no meio urbano e depois se estenderia ao meio rural. Entretanto, isso acabou não aconte-
cendo devido ao golpe militar de abril de 1964.
A Campanha de Alfabetização, além da alfabetização dos adultos, cumpria outro objetivo,
a conscientização das pessoas no sentido de lutar pelos seus direitos. Isso pode ser comprovado
pelo número de sindicatos rurais criados e os movimentos grevistas. Outro aspecto a ser anotado
diz respeito ao exercício do voto consciente. Como sabemos, o analfabeto não tinha direito ao
voto. Os populistas enxergavam cada homem como um voto. Assim, viam cada alfabetizando se
convertendo em um eleitor. Mas a pedagogia da liberdade ia além disso, pois preparava para a
democracia. Um exemplo de conquista, no campo político, é a eleição de Miguel Arraes que ven-
ceu, em 1962, na capital pernambucana, com o voto das massas urbanas, enquanto, no interior,
foi derrotado, pois a população eleitoral era controlada pelas oligarquias.
As idéias de Paulo Freire nos levam a uma reflexão, como deve ser a ação do educador numa
sala de alfabetização de adultos, no sentido de instigá-lo a lutar por uma vida melhor, saber dos
seus direitos e deveres e buscar vivenciá-los. Como utilizar o mundo do aluno para coletar ma-
terial a ser utilizado nas nossas aulas, tornando-as mais atrativas e significativas para esse aluno.
60
História - Fundamentos e Metodologia da Educação de Jovens e Adultos
BOX 2
Artigo XXVI
1. Toda pessoa tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus
elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técni-
co-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no
mérito.
2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade hu-
mana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fun-
damentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas
as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas
em prol da manutenção da paz.
3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministra-
da a seus filhos.
Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Outro documento que trouxe diversas contribuições, na busca da construção de uma escola
para todos, é a Declaração Mundial Sobre Educação para Todos. Essa declaração, aprovada na
Conferência Mundial sobre Educação para Todos: Satisfação das Necessidades Básicas de Apren-
dizagem, em Jomtien, Tailândia - 5 a 9 de março de 1990, estabelece que “a educação é um direi-
to fundamental de todos, mulheres e homens, de todas as idades, no mundo inteiro”.
Nos objetivos da Educação para Todos, temos que satisfazer as necessidades básicas de
aprendizagem.
BOX 3
61
UAB/Unimontes - 7º Período
Referências
ARROYO, M. G. Formar educadoras e educadores de jovens e adultos. In: SOARES , L. Formação
de educadores de jovens e adultos, Belo Horizonte: Autêntica/ SECAD-MEC/UNESCO, 2006,
296 p.
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Sub-chefia para assuntos jurídicos. Constituição
Federal de 1988 Disponível emhttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao acesso em
12/05/2011
____. LDB, Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Lei 9394/96 Apresentação Éster Grossi Casa
Editorial Pargos, 1997.
BRASIL. IBGE. Síntese de Indicadores Sociais : Uma análise das condições de vida da popu-
lação brasileira. Estudos & Pesquisas : Informação demográfica e sócio-econômica. Nº 27 Rio de
Janeiro, 2010 Disponível em http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevi-
da acesso julho/20111
CEPAL. Anuário Estatístico da América Latina e do Caribe -2010. Disponível em: http://web-
sie.eclac.cl/anuario_estadistico/anuario_2010/esp/index.asp acesso em 17/07/2011
DAYRELL, J. T. A juventude e a Educação de Jovens e Adultos: reflexões iniciais novos sujeitos. In:
SOARES, L. ; GIOVANETTI, M. A. G. de C. ; GOMES, N. L. (Org). Diálogos na educação de jovens e
adultos. 1º ed., 1 reimp.-Belo Horizonte: Autêntica, 2005.
62
História - Fundamentos e Metodologia da Educação de Jovens e Adultos
FREIRE, P. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2007.
ONU. Declaração Universal dos Direitos Humanos. 1948. Disponível em: http://www.oas.org/
dil/port/1948/DeclaracaoUniversaldosDireitosHumanos.pdf
UNESCO. Declaração Mundial sobre Educação para Todos: satisfação das necessida-
des básicas de aprendizagem. Jomtien, 1990. Disponível em: http://unesdoc.unesco.org/
images/0008/000862/086291por.pdf
63
História - Fundamentos e Metodologia da Educação de Jovens e Adultos
Unidade 6
Diretrizes curriculares nacionais
para a educação de jovens e
adultos e parâmetros curriculares
nacionais para a educação de
jovens e adultos
Prof. Ms. Lailson dos Reis Pereira Lopes
Nessa unidade, temos como objetivo levar a uma reflexão a respeito das Diretrizes Curricula-
res Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos - DCNs e dos Parâmetros Curriculares Nacio-
nais para a Educação de Jovens e Adultos – PCNs.
De acordo com Amaral (2002)- tanto os PCNs quanto as DCNs foram estabelecidos em nível
nacional e, portanto, deverão ser considerados por todos os sistemas e respectivas instituições
escolares em todas os estados brasileiros. Esses dois documentos irão, portanto, subsidiar os sis-
temas e instituições de ensino na elaboração dos currículos e projetos políticos pedagógicos.
Ainda de acordo com Amaral (2002, P. 01), a diferença entre os dois documentos é que: “Os
Parâmetros, como o próprio nome sugere, foram estabelecidos como referência para o estabele-
cimento de conteúdos e sugestões metodológicas dos currículos nos âmbitos estadual, munici-
pal e até no da escola”. Já as diretrizes “têm um caráter mais filosófico, estabelecendo os princí-
pios em que a educação fundamental deve se basear”.
Em 1998, a Câmara de Educação Básica (CEB) do Conselho Nacional de Educação (CNE)
aprova o Parecer CEB nº 4 de 29 de janeiro de 1998, homologado pelo Ministro de Educação e
que resultou na Resolução CEB nº 2 de 15/4 a qual versa sobre as Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para o Ensino Fundamental e o Parecer CEB nº 15 de 1º de junho de 1998, também homolo-
gado pelo Ministro de Estado da Educação e que resultou na Resolução da CEB nº 3 de 23/6 que
versa sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio.
Sendo a Educação de Jovens e Adultos uma modalidade da educação básica brasileira, as
diretrizes citadas se estenderiam a essa modalidade de ensino. Porém, muitas dúvidas rondavam
os interessados do assunto. Os sistemas de ensino, também, faziam várias consultas à CEB, que
respondia caso a caso. Essa situação acabou por amadurecer a ideia de que seria necessário um
documento que versasse, especificamente, sobre as diretrizes da Educação de Jovens e Adultos
– EJA, sendo, então, aprovados o Parecer 11/2000, publicado em 09/06/2000, e a Resolução CNE/
CEB 1/2000, publicada em 19/07/2000.
A Câmara de Educação Básica ouviu a comunidade educacional brasileira em audiências pú-
blicas que aconteceram no primeiro quadrimestre do ano 2000, em Fortaleza, Curitiba e Brasília.
Nesses momentos, reuniram-se representantes dos sistemas de ensino de várias entidades edu-
cacionais, além de representantes de associações científicas e da sociedade civil.
Outros momentos importantes que antecederam a aprovação do Parecer 11/2000 foram
duas conferências, sobre formação de educadores para a Educação de Jovens e Adultos, promo-
vidas pela UnB – Universidade Nacional de Brasília e pelo SESI – Serviço Social da Indústria.
Essas discussões foram importantes, para que as reflexões, discussões e perspectivas pudes-
sem ser debatidas. O país, desde o início da colonização, vive uma dualidade tanto nos aspectos
sociais e econômicos, como, também, educacionais. Desde o período Jesuítico, que estudamos
65
UAB/Unimontes - 7º Período
em História da Educação, percebe-se que a educação oferecida aos índios pretendia catequizá-
-los enquanto os filhos dos nobres recebiam uma educação que tinha como objetivo, principal-
mente, a preparação para atender às necessidades dos colonizadores.
Essa situação de opostos que acaba dividindo os povos, discriminando e excluindo, pode
ser percebida nitidamente na educação básica e superior, em que o aluno da elite frequenta a
escola básica privada e o ensino superior em pública enquanto o aluno desprovidos de recursos
financeiros frequenta a escola básica pública e quando consegue acesso ao ensino superior, isso
ocorre em instituição privada.
Na faculdade, eles não ensinam a gente nem para tratar o público da EJA nem
para o público do ensino fundamental, então eu acho é que nós professores
mesmos é que temos que ir à busca; é na experiência que a gente vai cres-
cendo. A gente cresce até com o próprio aluno, com a necessidade do aluno a
gente vai, como se diz pesquisando, procurando e crescendo até junto com o
aluno.
(PROFESSORA “G” 2008)
Nesse mesmo sentido, outra entrevistada, a professora “K”, afirma que a preocupação na
academia é com os conteúdos de nível de 3º grau. E que o que aprende na universidade não é o
que o se encontra ao se deparar com o cotidiano escolar. E, ainda, que aprendeu a trabalhar na
EJA, no dia a dia.
66
História - Fundamentos e Metodologia da Educação de Jovens e Adultos
Nem EJA nem regular (risos); é difícil, quanto mais matemática a gente sabe, eu
entrei achando assim quem está na faculdade sai de lá preparado, tanto quan-
to ao conteúdo de 5ª a 8ª e médio e, didaticamente falando. [...], como lidar
com o aluno; isso aí é no dia a dia mesmo que a gente aprende; é todo dia, não
se aprende na faculdade, não. É todo dia que a gente aprende. (PROFESSORA
“K”, 2008)
As professoras entrevistadas analisam a sua formação inicial, que no caso estudado foi a li-
cenciatura em Matemática, e algumas afirmam ainda, ao analisar as concepções sobre EJA, que
vieram conhecer essa modalidade ao iniciar o trabalho de docência. Entretanto, na Pedagogia,
já há, algum tempo, a preocupação em buscar atender aos futuros professores quanto aos co-
nhecimentos dos fundamentos, das metodologias e do contexto histórico dessa modalidade de
ensino, como tem sido demonstrada no currículo dos cursos.
Segundo Soares (2005), os dados do INEP informam que, em 2003, existia no país 1306 cur-
sos de Pedagogia, e apenas 16 destes, nove de instituições particulares e sete públicas, sen-
do duas federais e cinco estaduais, ofereciam habilitação em Educação de Jovens e Adultos.
E, ainda, de acordo com o autor, a UFMG oferece a habilitação em Educação de Jovens e Adultos
desde 1986.
Esse estudo desenvolvido por Leôncio Soares (2005) retrata que, já no início do século XXI,
pouco ainda se preocupa em buscar a atender e conhecer as especificidades, necessidades e
anseios dos jovens e adultos, como também conhecer os modos de ensino e aprendizagem, as
metodologias e os fundamentos dessa modalidade de ensino. Público que, em sua maioria, teve
negado o direito à educação e que, devido a esse descaso ainda visto na formação inicial dos
professores, pode novamente ser excluído do processo.
Não é possível, na formação inicial, darmos conta de tudo o que será tratado e ensinado,
na escola básica, seja de conteúdos ou de metodologias. Nesse sentido, faz-se necessário que o
professor se forme continuamente. A formação continuada passa a ser, desse modo, uma opor-
tunidade de complementação dos estudos universitários. Quando o educador já está atuando,
os desafios enfrentados, no dia a dia, o levarão a buscar novos conhecimentos e novas metodo-
logias ainda não presentes em seu repertório profissional. Aí os cursos de formação continuada
e as trocas de experiências tornam-se momentos de suma importância e de ricas oportunidades
de formação. Nesse sentido, Rocha e Fiorentini (2005, p. 2) afirmam que:
67
UAB/Unimontes - 7º Período
Propomos aqui uma reflexão: quais os motivos que levam os professores a explorarem pou-
co a geometria, mesmo ela estando presente no cotidiano do aluno e propiciando uma série de
atividades práticas que poderão ajudar os estudantes na resolução de problemas? Uma das pro-
fessoras entrevistadas em nossa pesquisa de mestrado nos deu pistas acerca da pouca explora-
ção desse conteúdo na escola. Quando perguntamos às professoras “em que aspectos ainda pre-
cisam se aprimorar”, a professora “C” disse que precisa fazer uma pós-graduação em geometria.
68
História - Fundamentos e Metodologia da Educação de Jovens e Adultos
Ressalta que, na época em que estudou, a geometria ficava em segundo plano, no final do livro,
e o professor acabava não ministrando o conteúdo, ou, às vezes, apenas fazendo uma introdu-
ção. Dava-se ênfase à álgebra e ao cálculo.
Nesse sentido, segundo Constantino (2006), a “renúncia” ou a “eliminação” do ensino da ge-
ometria da educação básica tem sido motivo de muita discussão entre os educadores matemá-
ticos no Brasil. Constantino (2006) diz, também, que os pesquisadores Peres (1991), Pavanello
(1989 e 1993) e Lorenzato (1993 e 1995) apontam, dentre os motivos dessa omissão, a falta de
conhecimento dos professores (conforme destacado pela professora “C”, falhas na formação ini-
cial), os livros didáticos que trazem a geometria dissociada da aritmética e da álgebra, como um
conjunto de fórmulas, propriedades, nomes e definições.
Na “Introdução à Estatística” devem ser abordados conteúdos relacionados à coleta, organi-
zação, apresentação e interpretação de dados, e à leitura e construção de gráficos e de tabelas. A
estatística está presente no nosso cotidiano, em outras disciplinas, como na geografia e ciências
naturais, nos jornais, onde tem sido bastante utilizada na representação de pesquisas de opinião
e de resultados de diversas situações, como gastos, aumento populacional, alta de preços em de-
terminado período, representação de tabela de um campeonato, com pontos alcançados, gols
contra e favor, número de vitórias, de derrotas e de empates, entre outros. Portanto, o tratamen-
to das informações é de fundamental importância para que o jovem e o adulto possam analisar e
compreender os dados que representam o mundo atual.
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais da EJA (p. 101),
Nesse sentido, é importante que a Matemática, mesmo estando dividida em blocos, seja tra-
balhada de modo a integrar os blocos, realizando combinações entre os conteúdos, não só entre
os conteúdos matemáticos, mas buscando sempre que possível a interdisciplinaridade.
A Proposta Curricular para a Educação de Jovens e Adultos – Segundo Segmento (2002, p.
25) alerta que é comum os professores da EJA organizarem os conteúdos, como se fossem elos
de uma corrente, “[...] mas sabe-se também que eles não se subordinam uns aos outros com
amarras tão fortes como as que comumente se supõe.” Assim, acaba-se por priorizar os conteú-
dos tidos como pré-requisito e não aqueles que levariam em conta as necessidades, curiosidades
e a vivência do aluno. Essa é uma visão de ensino de matemática compartilhada por muitos pro-
fessores, não apenas os de EJA, que traz em seu bojo uma concepção linear e hierarquizada dos
conteúdos de matemática escolar.
Uma forma interessante de organizar os conteúdos é buscar contextos significativos para
sua abordagem e, ao mesmo tempo, indicar as conexões que podem ser estabelecidas entre os
assuntos abordados. No caso específico de EJA, uma organização de conteúdos em rede, além
de propiciar uma abordagem desse tipo, permite também a otimização do tempo disponível e o
tratamento, de forma equilibrada, dos diferentes campos matemáticos (BRASIL. MEC-PCEJA vol.
3, 2002, p. 25).
Outro aspecto a ser considerado é o fato de o adulto já possuir, muitas vezes, uma experi-
ência escolar anterior, que lhe propiciou conhecimentos formais, e que a sua vivência lhe opor-
tunizou conhecimentos não formais, enquanto outro grupo não frequentou a escola embora,
também, possua os conhecimentos não formais. Ambos são importantes e devem ser explorados
pelos professores. Muitos desses alunos têm um modo próprio de resolver situações problemas
e é necessário que esses modos sejam explorados; muitas vezes, eles têm uma grande facilidade
em realizar cálculos mentais, mas não conseguem fazer, de forma correta, os registros.
As suas profissões, também, podem auxiliar o trabalho em sala de aula. Por exemplo, a ativi-
dade do aluno pedreiro, ao calcular o número de metros de parede que ele rebocou hoje, pode
desencadear o estudo de vários assuntos. Só nesse exemplo podem ser trabalhados: o estudo
de medidas de comprimento e de área, transformação de unidades, as operações e números, a
geometria, cálculo de áreas, comparação de unidades e proporção, além de realizar estimativas,
trabalhar os projetos da casa e explorar as escalas utilizadas.
69
UAB/Unimontes - 7º Período
A dona de casa, também, utiliza, no seu dia a dia, diversas situações que dependem da ma-
PARA SABER MAIS temática. As quantidades de ingredientes, as medidas, as proporções (quanto de sabão em pó
Sugestão de leitura é necessário para lavar 100 peças de roupas? E para lavar o dobro, o triplo dessa quantidade de
para aprofundamento roupa? Para merenda dos alunos, quantos quilos de arroz são necessários cozinhar para 230 alu-
dos estudos: CORÔA ,
Renata Paixão. Saberes
nos?), e diversas outras possibilidades.
construídos pelos pro-
fessores de Matemática
em sua prática docente
na Educação de Jovens
6.2.2 O Ensino de Língua Portuguesa na EJA
e Adultos. Belém, PA,
2006. 110 f. Dissertação
Os Parâmetros Curriculares da Educação de Jovens e Adultos apresentam a proposta de en-
(Mestrado em Edu-
cação em Ciências e sino da Língua Portuguesa dividida em cinco blocos de conteúdo: Linguagem oral, Sistema alfa-
Matemáticas) – Univer- bético e ortografia, Leitura e escrita de textos, Pontuação, e Análise Linguística.
sidade Federal do Pará. De acordo com os PCNs, a linguagem oral “é o meio lingüístico primordial dos seres huma-
Disponível em <www. nos.” A maior parte dos nossos atos comunicativos é realizada através da linguagem oral. Para
ufpa..br/bc/portal/DTC/
aprender a ler e escrever, precisamos realizar comentários a respeito dos textos escritos, e, depois
educacao-em-ciencias-
-matematica> de alfabetizados, ainda continuamos aprendendo, através da utilização da linguagem oral.
Podemos nos deparar numa turma de jovens e adultos, com vários sotaques, expressões
próprias de culturas locais, gírias, expressões, modismos da dramaturgia televisiva e, ainda, dis-
cursos, que nos apresentam situações de privações, humilhações e sonhos interrompidos, ou seja,
retratos de uma vida, de uma história de vida. É importante explorar essa diversidade e possibilitar
aos jovens e adultos a ampliação das formas de expressão, de conhecer novas palavras e seus sig-
nificados. No seu trabalho, o professor deve propiciar oportunidades para que a linguagem oral
seja explorada, favorecendo o desenvolvimento da oralidade. Assim o professor deve:
70
História - Fundamentos e Metodologia da Educação de Jovens e Adultos
Objetivos:
• Observar palavras que se flexionam (plurais, tempos e pessoas verbais);
• Observar a concordância nominal e verbo-nominal em frases e textos;
• Aplicar regras básicas de concordância nominal e verbo-nominal na escrita de textos;
• Observar e empregar os tempos verbais adequados a cada modalidade de texto.
Substituição de palavras
Objetivos:
• Identificar a que termos se referem os pronomes de um texto;
• Empregar pronomes e expressões sinônimas para evitar a repetição de palavras na escri-
ta de textos.
Frase
• Utilizar a noção de frase (enunciação com sentido completo) para orientar a pontuação
na escrita de textos.
71
UAB/Unimontes - 7º Período
De acordo com os PCNs da EJA (p. 65), a área de estudos da sociedade e da natureza “bus-
ca desenvolver valores, conhecimentos e habilidades que ajudem os educandos a compreender
criticamente a realidade em que vivem e nela inserir-se de forma mais consciente e participativa”.
Os conteúdos a serem abordados nessa área de estudos estão divididos em seis blocos, os quais
serão apresentados a seguir.
No bloco O educando e o lugar de vivência, os conteúdos a serem abordados dizem res-
peito ao contexto de vivência dos educandos. Dessa maneira, os assuntos a serem abordados
poderão ter uma utilização imediata, principalmente aqueles que dizem respeito à aquisição de
costumes e práticas que favorecem a convivência em sociedade.
Referências
AMARAL, Ana Lúcia. Parâmetros e Diretrizes Curriculares e Implicações Práticas Parte I. Secretaria
Estadual de Educação de Minas Gerais – Projeto Veredas. Módulo 3, V. 3. Belo Horizonte, 2002
Disponível em http://crv.educacao.mg.gov.br/sistema_crv
BRASIL. LDB, Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Lei 9394/96. Apresentação Éster Grossi
Casa Editorial Pargos, 1997.
72
História - Fundamentos e Metodologia da Educação de Jovens e Adultos
BRASIL. MEC. Educação de Jovens e Adultos - Ensino Fundamental - Proposta Curricular - Pri-
meiro segmento. São Paulo/Brasília, 2001. 3ª Edição. Disponível em: http://www.dominiopublico.
gov.br/download/texto/me000522.pdf
____. Ministério de Educação. Secretaria de Educação Básica. Guia Geral do Programa Gestão
da Aprendizagem Escolar - Gestar II. Formação Continuada de Professores dos Anos/Séries
Finais do Ensino Fundamental. Brasília, 2008. 76 p.
SOARES, L. Do direito à educação à formação do educador de jovens e adultos. In: In: SOARES, L.
; GIOVANETTI, M. A. G. de C. ; GOMES, N. L. (Org). Diálogos na educação de jovens e adultos. 1º
ed., 1 reimp.-Belo Horizonte: Autêntica, 2005. 296 p.
73
História - Fundamentos e Metodologia da Educação de Jovens e Adultos
Resumo
Unidade 1
Abaixo, para melhor compreensão, fornecemos um resumo por datas dos eventos, leis e
programas governamentais e internacionais relacionados com a Educação de Jovens e Adultos.
75
UAB/Unimontes - 7º Período
Unidade 2
Neste capítulo, estudamos diferentes olhares (Freire, Ferreiro e Vygotsky) sobre quem são os
jovens e adultos, através de uma revisão do livro de Tânia Maria de Melo Moura “A prática peda-
gógica dos alfabetizadores de Jovens e Adultos: Contribuições de Freire, Ferreiro e Vygotsky” e
abordamos o perfil atual desses sujeitos, além de verificarmos como a política pública tem traba-
lhado com eles.
Para Freire, o homem deve ser caracterizado como um ser introduzido num contexto histó-
rico e cultural que o faz ser inacabado e transcendente; sujeito capaz de produzir e transformar
o mundo objetivo e subjetivo. Essa essência transformadora do homem, que o caracteriza como ser
independente, que se conhece, analisa e reflete, consciente de seu inacabamento histórico, cultural e
epistemológico, leva-o à busca da própria libertação, mas como o objetivo nem sempre é alcançado,
devido às constantes ameaças ou mesmo pela opressão em que vive, ao longo do processo his-
tórico de suas formações, contrariando a própria essência do ser crítico, construtor, transforma-
dor e livre, levando-o, em determinadas ocasiões, a deixar-se dominar e acomodar-se.
Na década de 80, as propostas de Paulo Freire começam a ser avaliadas e revisadas pelos formu-
ladores e executores de propostas de alfabetização, possibilitando que lacunas deixadas no modelo
tradicional de Freire despertassem outras contribuições, ampliando as perspectivas de um novo mo-
delo teórico-metodológico. Surgem, então, contribuições no processo de alfabetização como resulta-
do de investigações de Emilia Ferreiro, esclarecedora da aquisição da leitura e da escrita, psicólo-
ga, pedagoga e verdadeira revolucionária na área de alfabetização da América Latina.
Segundo Emília Ferreiro, para a alfabetização, principalmente de adultos, é necessário que a
mesma seja trabalhada com ações voltadas para eles, partindo dos conhecimentos culturais, sociais
e sóciopsicológicos (condições existenciais, formas de vida, de trabalho, as representações que cons-
troem sobre a sociedade e a escola e suas expectativas em relação ao processo de escolarização e as
consequências dos resultados de aprendizagem) que estes alfabetizandos possuem.
Para entender como funciona o processo de alfabetização, pode-se associá-lo às idéias de
Vygotsky, que inscreve a questão do desenvolvimento cognitivo numa perspectiva, ao mesmo
76
História - Fundamentos e Metodologia da Educação de Jovens e Adultos
tempo, histórica e cultural. Foi possível estudar, na Unidade 2, como ele relaciona os estágios
primitivos do desenvolvimento do ser humano com o homem tido como culto. O homem pri-
mitivo desenvolve funções psicológicas impostas pela natureza, baseando-se nas funções per-
ceptivas naturais (visual e motora) centradas mais no objeto em si do que na reflexão em torno
da natureza, estrutura e conteúdo desse objeto e de sua relação com o processo de trabalho. Es-
sas mesmas funções vão evoluindo para uma organização nova, culturalmente elaborada, de seu
comportamento, o que pode levar à ideia de formação de novas formas de comunicação, através
do desenho e da linguagem escrita, o que leva o homem moderno a conquistar a natureza com
instrumentos enquanto o homem primitivo a realizava manualmente.
Assim, entendendo que para o adulto analfabeto será difícil sair de sua cotidianidade,
faz-se necessário que os conhecimentos novos a serem introduzidos estejam baseados no conhe-
cimento do meio sócio-cultural do mesmo, podendo, assim, utilizá-lo para contextualizar novos
conceitos.
Unidade 3
Unidade 4
Unidade 5
Vimos, nesta unidade, que a denominação inicial “supletivo” impregnada de uma conotação
de compensar “o tempo perdido” ou “complementar o inacabado” é substituída pela denomi-
nação de Educação de Jovens e Adultos, a qual, hoje, transcende essa concepção de com-
pensação e diz respeito ao direito a uma educação permanente, não suplementar, e, espe-
cialmente, emancipadora.
Vimos, também, que os avanços e retrocessos enfrentados pela EJA levam essa modalidade
a buscar, ainda, uma consolidação de sua identidade. Outro aspecto discutido foi a questão da
juvenilização da Educação de Jovens e Adultos, que, em muitos casos, tem sido usada para corre-
ção de fluxo escolar e, a cada dia, tem tornado essa modalidade bastante heterogênea, com um
número considerável de adolescentes.
A ausência do Estado, durante muitos anos de nossa história, deixou uma laguna no campo
educacional do país. Em 2010, de acordo com o IBGE, 13.940.729 pessoas ainda não sabem ler e
escrever. Esse número representa 9,6% da população brasileira. De acordo com dados da Comis-
são Econômica para a América Latina e Caribe (CEPAL), órgão ligado à Organização das Nações
Unidas (ONU), o Brasil ocupa o sétimo lugar no ranking de analfabetismo na América Latina den-
tre vinte e oito países, encontrando-se atrás do Uruguai (1,7%), Argentina (2,4%), Chile (2,95%),
Paraguai (4,7%), Colômbia (5,9%) e Peru (7,1%), e superando países como Jamaica (9,8%), Repú-
blica Dominicana (12,9%), El Salvador (16,6%), Honduras (19,4%), Guatemala (25,2%), Nicarágua
(30,3%) e Haiti (41,1%).
77
UAB/Unimontes - 7º Período
Unidade 6
Nessa unidade, vimos que a ideia inicial era a de que as Diretrizes Curriculares para o Ensino
Fundamental e Médio seriam aplicadas, também, à Educação de Jovens e Adultos. Porém,
como várias dúvidas rondavam educadores e interessados dessa modalidade de ensino, os
quais realizavam várias consultas à Câmara de Educação Básica que respondia caso a caso,
essa situação acabou levando a discussões e aprovação das Diretrizes Curriculares para a
Educação de Jovens e Adultos.
A respeito da formação inicial de professores da EJA, foram apresentados dados de pesquisa
de mestrado, onde foi constatado que as professoras ouvidas consideram que a formação inicial
não as preparou para atuar nessa modalidade de ensino. E ainda estudos realizados por Soares
(2005) apontam que a EJA pouco tem sido objeto de estudos nos cursos de Pedagogia.
A Proposta Curricular da Educação de Jovens e Adultos – Primeiro Segmento – apresenta os
conteúdos a serem abordados na EJA, séries iniciais do Ensino Fundamental, divididos em três
áreas: Língua Portuguesa, Matemática e Estudos da Sociedade e da Natureza.
A Língua Portuguesa aparece dividida em cinco blocos: Linguagem oral, Sistema alfabético
e ortografia, Leitura e escrita de textos, Pontuação e Análise Linguística.
A Matemática está dividida em quatro blocos: Números e operações numéricas, medidas,
geometria e introdução à estatística.
Na área de Estudos da Sociedade e da Natureza, os conteúdos a serem abordados estão di-
vididos em seis blocos: O educando e o lugar de vivência, o corpo humano e suas necessidades,
cultura e diversidade cultural, os seres humanos e o meio ambiente, as atividades produtivas e as
relações sociais, cidadania e participação.
78
História - Fundamentos e Metodologia da Educação de Jovens e Adultos
Referências
Básicas
Complementares
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História - Fundamentos e Metodologia da Educação de Jovens e Adultos
Atividades de
aprendizagem - AA
1) Considerando o histórico da Educação de Jovens e Adultos (EJA), responda:
a. O Brasil está conseguindo reduzir o analfabetismo ou está acontecendo uma simples ação
do tempo decorrido? Justifique.
4) Por que a erradicação do analfabetismo ocorre a passos lentos e o que deve ser feito para erra-
dicação do analfabetismo no Brasil ?
5) Cite algumas das idéias de Paulo Freire que se referem com a Educação de Jovens e Adultos?
8) De acordo com as Diretrizes para a Educação de Jovens e Adultos no Brasil, qual a melhor ma-
neira de ensinar os alunos na EJA?
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