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KÁTIA LANUZA ROCHA PINA

REIKI, ALQUIMIA E INDIVIDUAÇÃO

BAHIA 2012
KÁTIA LANUZA ROCHA PINA

REIKI, ALQUIMIA E INDIVIDUAÇÃO

Trabalho de conclusão do XIII Curso de Pós-Graduação


“Latu   Sensu”   em   Psicoterapia Analítica do Instituto
Junguiano da Bahia e Fundação Baiana Para o
Desenvolvimento da Ciência.

Orientadora: Professora Dra. Ermelinda Ganem


Fernandes.

BAHIA 2012
“  Céu  em  cima

Céu embaixo

Estrelas em cima

Estrelas embaixo

Tudo o que está em cima

Também está embaixo

Aceita-o

E rejubila-te.”          

Athanasius Kircher
AGRADECIMENTOS

A Deus, essa força cósmica, que rege todo o universo, que a tudo possibilita naquele
que crê;

Aos irmãos da Grande Fraternidade Branca, trabalhadores fiéis e incansáveis na tarefa


de auxiliar a humanidade na caminhada da evolução, atendendo generosamente aos meus
chamados;

A Silvana C. Dantas, amiga, sócia parceira, companheira paciente, nessa jornada


junguiana e em tantas outras;

As pessoas de minha família, que de maneira solidaria e carinhosa torcem e vibram com
minhas conquistas, especialmente minha amada mãezinha;

Aos amigos que compreensivamente entenderam minhas ausências e o silêncio do


violão, principalmente nessa última fase de redação da monografia;

A Santa Casa de Misericórdia da Bahia, a Gabriela Nery minha primeira paciente e aos
funcionários que participaram do PROAPS – Programa de Apoio Psicossocial, todos
responsáveis por me conduzirem ao exercício da Psicologia Clínica;

A Dr. Jung e aos mestres professores do Instituto Junguiano da Bahia, minha eterna
gratidão pela abertura desse portal.
AGRADECIMENTO ESPECIAL

Ao meu avô materno, Eliezer Trajano da Rocha que tinha alma de alquimista e não sabia
o quanto era importante para minha formação. Ele identificava e adquiria relíquias desprezadas
nos antigos Engenhos de Cana de Açúcar, em Areia-Pb, recuperando pratarias, peças em cobre
móveis de madeira, a ponto de abrir sua casa, generosamente, à visitação. Acreditava que
encontraria   uma   “botija   cheia   de   moedas   de   ouro”, sua pedra filosofal, mas o máximo que
conseguiu foi se tornar um colecionador de moedas, selos antigos e antiguidades.

Cursou até a 2ª serie do antigo primário. Muito caridoso, trabalhava como agente
sanitário, ministrando também palestras sobre saúde e higiene, no SESP. Gostava de ouvir
Strauss, Sebastian Bach e a música de Geraldo Vandré - Prá não dizer que não falei das flores.

Fabricou e comercializou licores artesanais, além de ser o responsável por preparar,


principalmente no Natal, um delicioso carneiro ao vinho tinto.

Autodidata, aprendeu a falar inglês, ouvindo aulas em discos compactos de vinil. Em


pouco tempo conversava fluentemente com os turistas Holandeses que visitavam a cidade.

Um homem de aparência de firme, cútis rosada, olhos verdes, cabelos alvos e ondulados.
Não gostava de bagunça de criança, mas era cuidadoso e atencioso, incapaz de me deixar sem
respostas, apesar do embaraço das minhas perguntas, no auge dos meus 10 anos de idade e
curiosidade de cientista.

Apresentou-me a grafologia e me permitiu acompanhá-lo em um dia de domingo a uma


visita a Igreja dos Mórmons. Comentava sobre a existência de uma Ordem misteriosa chamada
Rosa Cruz, além da Maçonaria. Eu adorava mexer em uma de suas gavetas. Nela estavam
guardados alguns objetos intrigantes para minha idade: lupas, luz infravermelha, trenas, canetas
de pena, tinteiro, caleidoscópio, tensiometro, moedas de prata da época do Império e um livro de
orações emblemáticas: Cruz de Caravaca. Ainda rezo a Oração do Aposento que faz parte do
Guia dos Anjos e Arcanjos que organizei.

Quando entrei em contato com a Alquimia fui lançada rapidamente ao passado,


relembrando possivelmente, onde tudo começou. Ele faleceu aos 64 anos, em 06 de maio de
1977.

Obrigada meu avô Ezinho, pela semeadura, onde quer que você esteja!
“Abençoados   seremos   todos   nós,   que   buscamos   a   Verdade,   e   que  
evitamos as trevas da ignorância.

Abençoados seremos todos nós que nos submetemos à Lei que nos
ilumina com a Verdade em todos os nossos caminhos.

Que a Lei nos proteja com todas as bondades do Amor, nos mantendo
distantes do mal.

Ilumine nossos corações e também nossa intuição para as coisas da


vida e nos gratifique sempre com o conhecimento das coisas
eternas.”

Manual de Disciplina dos Essênios


RESUMO

Essa   monografia   faz   parte   do   trabalho   de   conclusão   do   XIII   Curso   de   Pós   Graduação   “Latu  
Senso” em Psicoterapia Analítica do Instituto Junguiano da Bahia e da Faculdade Bahiana para
do Desenvolvimento das Ciências. Pretende como primeiro objetivo, tecer relações teóricas entre
o reiki e a psicoterapia analítica e como segundo objetivo, chamar atenção para a contribuição do
reiki como terapia complementar, bem como caminho alquímico que facilita o processo de
individuação, quando associado à psicoterapia. A metodologia utilizada para a realização desta
pesquisa está baseada em pesquisa bibliográfica. Considerando a pouca literatura que trata de
terapias complementares versos psicoterapia analítica, principalmente associada a teorias da
Alquimia, entendo que essa pode ser uma pequena contribuição em favor da quebra de
paradigmas e da possibilidade de colocar luz nesses olhares, quero dizer, perceber outros pontos
de vista e amplificar a visão.

Palavras-chave: Reiki, Alquimia, Individuação, Psicoterapia Analítica e Terapias


Complementares.
ABSTRACT

This monograph is part of the work of the 13TH completed postgraduate course "Latu Sense" in
Analytical Psychotherapy of Jungian Institute of Bahia and the Faculty for development of
Sciences Bahiana. As a first goal, aims to make theoretical relations between the reiki and
analytical psychotherapy and how second goal, draw attention to the contribution of reiki as
complementary therapy, as well as alchemical path that facilitates the process of individuation,
when associated with psychotherapy. The methodology for this research is based on literature.
Whereas there is little literature that deals with complementary therapies, analytic psychotherapy
verses primarily associated with theories of Alchemy, I understand that this may be a small
contribution in favor of breaking paradigms and the possibility of putting light in those lookings,
I say, realize anothers points of view and amplify the way of looking.

Keywords: Reiki, Alguimia, Indivituation, Analitica Psychotherapy and Complementary


Therapies.
LISTA DE FIGURAS

FIGURA 01 – Representação dos Nadis e Meridianos ................................................... 11


FIGURA 02 – Mestre Mikau Usui .................................................................................. 14
FIGURA 03 – Os Corpos Sutis ou Aurea ........................................................................ 19
FIGURA 04 – Os Sete Cháckas Principais ...................................................................... 20
FIGURA 05 – Aplicação de Reiki ................................................................................... 21
FIGURA 06 – O Alquimista de Pietro Longhi - Commons.wikimedia.org. ................ 29
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 10

2. O REIKI...................................................................................................................... 12

2.1 Origem do Reiki........................................................................................................ 14

2.2 Os Princípios do Reiki............................................................................................. 16

2.3 Níveis do Sistema Reiki Usui Original .................................................................. 16

2.4 Métodos e Técnicas do Reiki................................................................................... 18

2.5 Processo de Cura do Reiki....................................................................................... 20

3. O MODELO JUNGUIANO E O PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO................. 22

4. A ALQUIMIA E A PSICOLOGIA ANALÍTICA................................................... 28

5. A SOLUTIO ALQUÍMICA E O REIKI.................................................................. 32

6. REIKI E INDIVIDUAÇÃO...................................................................................... 34

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................... 38

REFERÊNCIAS............................................................................................................. 39
10

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como terapia complementar, bem como caminho alquímico que facilita o processo de de caixa
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individuação, quando associado à psicoterapia. Como metodologia será utilizada referênciasem
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bibliográficas sobre os assuntos. Considerando a pouca literatura sobre o assunto que trata de
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terapias complementares versos psicoterapia analítica, principalmente associada a teorias doda
Alquimia, entendo que essa pode ser uma pequena contribuição em favor da quebradocume de
nto. Use
paradigmas e da possibilidade de colocar luz nesses olhares. a guia
A similaridade é decorrente do pensamento junguiano e do reiki serem Ferrame
ntas de
fenomenológicos, pois buscam os resultados a partir da observação de experiências, Desenh
objetivando a integração do individuo através do equilíbrio e tomada de consciência doo seu para
alterar a
corpo, sua mente, dos processos da psique e sua alma. formata
3 ção da
A técnica e os princípios do reiki despertaram meu interesse no ano de 2006, quando
caixa de
iniciei minha formação. Fiz parte de um projeto psicossocial de um grande hospital texto de
citação.
]
1
Reiki  é  uma  palavra  Japonesa  que  se  refere  a  energia  vital  universal  (De’Carli,  2004).  
2
Psicoterapia Analítica – Método criado pelo psiquiatra suíço Carl Gustav Jung.
3 Primcipios do Reiki ~ é a diretriz de conduta orientada por seu mentor Mikao Usui. (BARBOSA Ademir, 1976)
11

filantrópico de Salvador, que disponibilizava para os empregados em sofrimento físico-


emocional, atendimentos: psicológico, psiquiátrico, social e o reiki como terapia
complementar, no período de 2008 a 2010. Atualmente atendo, como voluntária reikiana
alguns empregados e pacientes internados nas UTIS dessa instituição, além de ministrar reiki
em outros espaços holísticos quando solicitada.
Ao entrar em contato com o estudo da Alquimia, percebi similaridades conceituais e
vivenciais entre a operação da solutio e o reiki com relação ao processo de diluição de
sentimentos como: ansiedade, tristeza, nervosismo, medo e insegurança.

Em termos essenciais, a solutio transforma sólido em líquido. O solido parece


desaparecer no solvente, como se tivesse sido engolido. Para o alquimista, a
solutio significava com freqüência o retorno à matéria diferenciada ao seu
estado original – isto é, a prima matéria. (EDINGER F. Edward, 2006, p.67)

Com o tratamento do reiki, a cura é a efetuada pelo próprio paciente, sendo o


terapeuta o canalizador da Energia Cósmica e o facilitador do processo de cura.
O próprio paciente ativa o sistema imunológico, pois o reiki age na totalidade,
de modo a atingir todos os corpos áuricos, equilibrar os chakras, desbloquear os
nadis e os canais elétricos. Não apenas combate a doença, mas atua nas raízes
do desequilíbrio. Em outras palavras promove a volta para casa. (BARBOSA
Ademir, 2006, p.32)

Fig 01

A primeira reflexão desse trabalho exige o conhecimento sobre o que é o Reiki, o


Método Junguiano e o Processo de Individuação, do que trata a Alquimia e sua relação com a
Psicologia Analítica. A segunda reflexão será sobre como o reiki pode ser uma ferramenta de
auxilio para o processo terapêutico e na caminhada rumo à individuação e qual a relação do
Reiki com a fase do Solutio Alquímico.
12

2. O REIKI

O reiki é um processo natural de cura, de origem tibetana, onde se utiliza a imposição


das mãos, visando restabelecer ou manter o equilíbrio energético de si próprio, de outras
pessoas, animais, plantas, ambientes, até de objetos que tenham componentes elétricos ou
eletrônicos.
Não está vinculado a nenhuma religião ou filosofia, por isso pode ser aplicado ou
recebido por qualquer pessoa de qualquer cultura, desde que o aplicador se capacite através de
cursos e o receptor esteja disponível e desejando receber o reiki. Vários significados foram
encontrados para a palavra reiki, composta de dois caracteres japoneses:
Rei - energia vital universal, energia vital do universo4, inteligência ou sabedoria universal,
sabedoria supranatural, consciência espiritual, sabedoria que provem de Deus. Essa
consciência divina é onisciente e compreende cada ser humano por completo, conhecendo a
causa dos seus problemas e também a cura para eles.
Ki - energia vital, a força vital, força universal da vida que sustenta, anima todas as coisas
vivas no Planeta. Enquanto algo tem vida tem força vital circulando em seu interior. Com a

4
Ademir Barbosa Junior, Transforme sua vida com o reiki, p. 08
13

morte a força vital desaparece. Quando essa força é baixa ou seu fluxo está restringido, as
pessoas, os animais ou as plantas, estão mais vulneráveis a doenças. Quando a força vital é
forte e flui livremente, é menos provável que se adoeça. É também a energia primária das
nossas emoções. Foi denominada de chi pelos chineses que dão muita importância e é a base
de sua medicina, de prana pelos hindus, ka pelos egípcios, mana para os havaianos. Nos
últimos três séculos: organe, força ódica ou bioplasma. O Ki pode ser acumulado e guiado por
nossa mente. A força vital é suprida continuamente por meio da: alimentação, respiração e
pela energia vital que o corpo recebe de fora.
Desde que existe o universo, existem infinitas energias vitais, que moldam e curam e
que somente se distinguem pela frequência de suas vibrações. Essas energias ocupam todo o
universo e se permeiam.
Não deve ser confundido com outros métodos de cura por imposição das mãos, pois opera
numa faixa vibratória e frequências próprias. Pode ser associado a qualquer outro tipo de
tratamento alopático, psicoterápico, não havendo restrições ou contra-indicações.

Rei significa também a essência de Tudo o Que É, inclui tudo o


que existe no universo, vivente e não vivente. É a energia universal dirigida
pelo poder espiritual. Rei é o Espírito transcendental que chamamos de
Deus; é o campo de inteligência pura, criadora que produz toda a matéria,
toda existência. Ki é a consciência do corpo humano, a Energia da Força da
Vida. (MAY, Doroth , 2000, p. 10- 11)
14

2.1 Origem do Reiki

Muitas são as versões sobre a origem do reiki. Segundo


Fig. 02
pesquisas do Mestre Professor de Reiki Frank Arjava Petter, essa técnica
foi redescoberta no início do século XX, em meados de 1914, por Mikao Usui (1865 – 1926),
um japonês de grande sabedoria e virtude. Considera-se redescoberto porque esse
conhecimento é milenar, embora tenha sido perdido por algum tempo. No Antigo Egito a cura
com a imposição das mãos era usada pelos sacerdotes, praticada nos templos de Osíris, Isis e
Hórus. No Tibete há registros a mais de oito mil anos e também na França e Inglaterra na
época medieval. As raízes do reiki provêm de uma mistura do Mykkio - Budismo, Qigong -
Chinês e Shintoísmo - Japonês. As noticias dessas pesquisas sobre a vida de Mikao Usui
chegaram ao Brasil através da Revista Amaluz, no. 65, junho/98.
Apesar de ser chamado de Dr. Usui não era médico. O  “doutor” que
lhe antecede o nome era uma tradição livre do vocábulo Sensei, que também significa Mestre
ou Professor. Interessado em minimizar o sofrimento das pessoas buscou conhecer as
escrituras cristãs, japonesas e chinesas determinado a entender os métodos de cura do Mestre
Jesus, Sidarta que se transformou em Buda, além de outros grandes curadores. Fez uma serie
de pesquisa sobre a Medicina Tradicional Tibetana. (Conhecia os sistemas Taoísmo e Kito,
versão japonesa de Qigong). Estudou as fórmulas do Tibete e encontrou uma técnica de cura
em sânscrito, mas ainda assim não conseguia obter os resultados descritos por esse
procedimento. Sendo assim, decidiu se recolher em busca de inspiração, no monte sagrado
15

Kuriyama ou Kurama, no Templo de mesmo nome, localizado a oeste de Kyoto, no Japão.


Transcorridos vinte e um dias, de jejum, oração e meditação recebeu visualizou uma forte luz
que penetrou no meio de sua testa, revelando os símbolos sânscritos reluzentes de ouro 5.
Realizou curas em três pessoas durante a descida da montanha o que fortaleceu sua crença nos
símbolos recebidos. A essa energia associou todo o conhecimento anterior. Ele experimentou
o uso desse energia, em si mesmo, nos familiares, amigos e vizinhos. Depois iniciou as
aplicações nas pessoas pobres e menos favorecidas.
Em 1921 abriu uma clínica em Tóquio e iniciou os cursos com a crescente demanda
de alunos e pacientes mudou-se para uma casa maior em 1925. Fundou a Organização Usui
Reiki Ryoho Gakkai, abrindo filiais em todo país. Ensinou reiki a mais de 2000 pessoas.
Inicialmente  apenas  para  homens.  Seu  mais  conhecido  discípulo  foi  um  médico  “Dr.  Chujiro  
Hayashi (1880 – 1940) que em 1930 abriu sua clinica e trabalhava com mais três terapeutas
do sexo masculino. Em 1938 com receio de muitos homens virem a falecer por causa de
eminência de uma grande guerra decidiu formar sua esposa Chie Hayashi e outra mulher a
havaiana, a Sra. Hawayo Takata (1900 – 1980), responsável por difundir o reiki no Havai e
nos Estados Unidos. Seu interesse pelo reiki surgiu por ter se sentido curada de um tumor
abdominal, após quatro meses de aplicações diárias, na clinica de Dr. Hayashi. Dedicou-se
por mais de 30 anos a cursos e atendimentos. Fundou a American Reiki Association (ARA).
Iniciou 22 Mestres, inclusive sua neta Philis Lei Furumoto que fundou no estado de Novo
México a Reiki Aliance e Dra. Barbara Ray fundou na California a American International
Reiki Association (AIRA). As duas associações se expandiram mundialmente. Na década dos
anos 80 o clarividente e terapeuta espiritual F. E. Eckard Strohm fundou na Alemanhã a
Reiki Association International (RAI). Em 1991, ele propôs uma nova forma de aplicação
que respeitasse as polaridades positiva e negativa do fluxo de energia e do corpo humano, a
exemplo dos cristais, obtendo maior eficácia e rapidez nos tratamentos. Em 1992, essa
metodologia foi trazida para o Brasil pelo casal Rosmarie e Günther Grot, além de Úrsula
Pondorf, alemães residentes no Brasil há décadas. Os primeiros nove Mestres dessa corrente,
no Brasil, foram formados em 1995 e desse grupo cinco deles se capacitaram em Mestres
Orientadores. Uma dessas pessoas é Maria de Fátima Moraes Freire, médica, residente em
Salvador-Ba e que já iniciou mais de uma centena de pessoas, em sua maioria profissionais
que atuam na área de saúde. Desse grupo foram formados três Mestres.

5
MAY, Dorothy, Reiki Arquetípico – Cura Espiritual, Emocional e Física, Ed. Pensamento, 2000)
16

Todas essas escolas utilizam o sistema Usui de cura, diferindo nos métodos de
aplicação e ensino, número de iniciações e graus conferidos, mas nada que interfira na
eficácia do reiki.

2.2 Os Princípios do Reiki

Em 1992 o Mestre em Reiki Frank Arjava Petter, em suas pesquisas, encontrou um


original escrito com o próprio punho de Mikao Usui com cinco princípios. Dr. Usui sugeria
que fossem recitados todas as manhãs, ao acordar e a noite antes de dormir, mas o mais
importante seria viver os princípios durante o dia. Dizia que era o método secreto para atrair a
felicidade.
São eles:
1) Somente por hoje, não te preocupes;
2) Somente por hoje, não te aborreças;
3) Somente por hoje, honra teus pais, professores e amigos
4) Somente por hoje, trabalha honestamente;
5) Somente por hoje, demonstra gratidão para com todos os seres

2.3 Níveis do Sistema Reiki Usui Original

O reiki é uma força vital especial que somente pode ser canalizada por alguém que a
recebeu através de um processo de iniciação, conduzida por um Mestre Orientador em Reiki,
devidamente habilitado, que tem a capacidade de transferir ao aluno o acesso a essa força,
além de ser capaz de realizar a sintonização e harmonização necessárias ao recebimento da
energia cósmica canalizada para o corpo energético do iniciado. Primeiro ocorre a abertura de
consciência para depois a cura do corpo físico, através da abertura da glândula pinel que
ocorre durante a cerimônia de iniciação. Esse canal permanece aberto enquanto a pessoa
viver. A força nunca diminui e nunca se perderá. É raro, mas podem-se encontrar pessoas que
já nasceram com a força do reiki. Entretanto, terapeutas que praticam outras técnicas através
17

das mãos comentam terem aumentado sua capacidade de cura em aproximadamente 50% após
terei sido iniciadas no reiki.
Os níveis de reiki são estágios de sintonização e preparação para atuar. Cada
nível oferece ao terapeuta, ou canal reiki como também é chamado, oferece ferramentas para
tornar o processo de cura ainda mais intenso e profundo. Não existe um nível melhor do que o
outro, mas existe um canal reiki ou um terapeuta reikiano mais intuitivo e de energia amorosa
incondicional, mas trabalhada do que o outro. Entretanto, na hora da aplicação a energia reiki
que sairá através de suas mãos é a mesma, pois vem da mesma origem, da mesma fonte. O
que vai diferir é a postura e a intenção do terapeuta reikiano.
Pode ser usado em benefício próprio, auto cura, em benefício de outras pessoas com
aplicações presenciais ou a distância, independente da sua localização geográfica no planeta,
considerando que usamos a força da mente, da intenção para fazermos a energia reiki chegar
ao seu destino.
Nível I – Shoden – o despertar - focado na chamada cura presencial. São sintonizados os
cháckas coronário, cardíaco e os das palmas das mãos. O reikiano deve apenas se colocar
numa posição neutra, deixando que a energia inteligente do reiki flua. Orienta-se para que
dedique a práticas do reiki principalmente para si mesmo, realizando a auto-cura. Pode
realizar aplicações em pessoas próximas, mas não está preparado para atender como terapeuta
profissionalmente, a menos que já utilize algum conhecimento de outra(s) terapias
complementares. Tempo de aplicação: 80 a 100 minutos
Nível II – Okuden - a transformação – centrado na cura à distância e nas diversas dimensões
de tempo e espaço. A sintonia é mais ampla, recebe a informação de três símbolos sagrados:
aumento da potencia de energia, reprogramação de padrões mentais negativos e tratamento de
reiki à distancia. Atua de forma mais concentrada principalmente nos corpos emocionais e
mentais, além de reduzir o tempo de aplicação. Tempo de aplicação: 40 minutos
Nível III –Shinpiden - (Mestre ou III – A ) – a realização – consciência avançada, focado
na cura da coletividade e tendo o compromisso de divulgar o reiki. Visa crescimento pessoal e
maior aprofundamento da espiritualidade, facilitando a compreensão de posturas morais e de
integridade, humildade e responsabilidade. Pode curar multidões, pois o símbolo recebido é
capaz de acessar o centro dos sentimentos, sendo possível trabalhar novas programações
mentais conscientes e inconscientes nas pessoas. Amplia seu amor próprio, auto aceitação, sua
intuição pela conexão com o chácka cardíaco e o frontal. Pode realizar reciclagens para
reikianos dos níveis I e II. Auxilia o Mestre Orientador em cerimônias de iniciações.
18

Nível IV - Shihan-kaku -(Mestrado -Mestre Orientador ou Mestre Professor - nível IIIB)


centrado na formação de novos reikianos e na preparação de novos Mestres em Reiki. Um
mestre não tem ascendência hierárquica sobre outros. Devem respeitar a diversidade e
estarem atentos sempre a seus mestres internos, sua intuição fruto de sua centelha divina.
Deve viver dentro do que acredita sem dogmatismos, fanatismos ou pragmatismos, agindo
sempre pela ética do coração e da verdade, vivendo plenamente, sem negligenciar o corpo
físico, sua mente ou seu espírito. Sendo um eterno aprendiz de si mesmo e do outro. Segundo
João Guimarães Rosa ,“Mestre não é aquele que sabe, mas quem, de repente, aprende”.

2.4 Métodos e Técnicas do Reiki

O objetivo principal do reiki é equilibrar o fluxo de energia, desbloqueando ou


ativando pontos situados nos corpos áureos ou sutis, limpando os nadis 6, os meridianos7 e os
cháckas8, principalmente os sete principais. Esse conhecimento é muito antigo e teve origem
na India. Acredita-se que somos formados de sete corpos, sendo um físico e os demais
chamados de corpos áuricos ou sutis. São eles segundo a Apometria Quântica:
1. Corpo Físico – estrutura de carne, de pele, músculos, ossos, veias.
2. Corpo Etérico ou Duplo Etérico – fonte geradora de energias, sede dos cháckas9
3. Corpo Astral ou Emocional – formado pelas nossas emoções
4. Corpo Mental Inferior – os cinco sentidos e a inteligência, nossos pensamentos.
5. Corpo Mental Superior – relacionado à vontade, a intuição e imaginação
6. Corpo Búdico – banco de dados da consciência e do armazenamento das experiências
do Espírito, orienta o projeto de vida daquela ou da próxima encarnação.
7. Corpo Átmico - (ou Centelha Divina) – Principio e motor da vida
(BARBOSA, 2006, p. 20)

6
Nadis,  palavra  que  significa  “conduto”,  “corrente  de  energia”,  que  interpenetra  todo  o  corpo  sutil.  (Acharya  
Kalyama, Yoga – Repensando a Tradição, p. 191)
7
Meridianos são canais invisíveis, que conduzem a energia, localizados sob a pele que atingem todas as partes
do corpo, de maneira a permitir a manutenção das funções orgânicas que garantem a vida. (Eleanor Mickenzie,
A Cura pelo Reiki, p. 24)
8
Chácka em sânscrito significa roda. São centros de entrada e saída de energia que estão ligados ao corpo
etérico. (Ademir Barbosa, Transforme sua Vida com o Reiki, p. 24)
19

Fig. 03

Todos esses corpos são independentes e cumprem funções distintas, embora


estejam interligados, se relacionando de maneira tão direta e próxima que se tornam um corpo
único. Sendo assim, por trás da nossa forma material, existe um sistema energético complexo
que é a base vital para nosso corpo físico.

A energia vital universal, o reiki, entra pelo chácka coronário ou chácka da coroa
do terapeuta, desce pelo seu chácka cardíaco e sai pelos cháckas das mãos em direção ao
corpo do receptor. Não há perda de energia vital do terapeuta porque ele estará envolvido por
uma carga maior de energia. Os dedos das mãos devem estar juntos e as mãos em formato de
concha, durante as aplicações para concentrar a saída do fluxo de energia. Os pontos e locais
de aplicação são: órgãos, cháckas e partes do corpo que estejam debilitadas. Basta apenas que
o aplicador, canal reiki invoque mentalmente a energia reiki e com sua intenção de ajudar,
impor as mãos na pessoa a ser tratada que a energia inteligente do reiki começará a fluir
naturalmente sendo conduzida mais eficazmente para onde há necessidade de tratamento. Ao
final há um agradecimento, aos mestres do reiki, à força divina universal e a pessoa que
oportunizou ao reikiano possibilidade de atuar nessa perspectiva de auxilio humanitário.
20

Fig. 04

Existem vários métodos, mas na essência não há divergência. Dr. Usui dedicou o
método a Humanidade, declarando textualmente nas apostilas dos cursos que não havia um
dono, pois era de domínio público. O próprio Dr. Hayashi e a Sra. Hawayo Takata fizeram
várias adaptações: na forma de aplicação, na organização dos níveis. No caso da Sra. Hawayo
o objetivo foi adaptar o reiki para ser mais aceito no Ocidente. Outras tendências surgiram ao
longo dos anos, com adição ou exclusão de símbolos, segundo pesquisa de Amélia Raquel
Juarez Zayankovsky, Mestra Argentina,em Reiki: Foram eles: Reiki Usui Tibetano, Reiki
Usui Tibetano Kwan Yin, Reiki Magnificado ou Omrom, Osho Reiki, Reiki Xamânico,
Karuna Reiki, Karuna Ki, Reiki Lightarian.
Como disse BARBOSA (2006, p.15), “Quando se trabalha amorosamente, a diversidade
contribui para a Unidade”.

2.5 Processo de Cura do Reiki

Desde que existe o universo, existem infinitas energias vitais que se permeiam e que
ajudam na regeneração e cura, distinguindo-se apenas por suas freqüências vibratórias.
Algumas pessoas tiveram a capacidade de romper, expandindo a limitação dos cinco sentidos
e puderam ter acesso a níveis mais elevados de vibração, através da oração, meditação, visões
21

ou inspiração divina. Esses níveis dão acesso a vibração de energia curativa. Chamamos esses
processo de channelling que significa canalização, a abertura para recepção e transmissão de
vibrações mais elevadas. No Antigo Egito, a cura pelas mãos era praticada pelos sacerdotes
nos templos de Osíris e Horús. Na França e Inglaterra Medievais também foi utilizada. No
Tibete em antigas narrativas relatam um método de cura búdica, dando origem a medicina
búdica. Acredita-se que esse conhecimento teve origem no continente perdido de Atlântida e
que os povos do Egito e os Essênios10 herdaram esse conhecimento. Relatos dizem que Maria,
José, João Batista, o estalajadeiro em Belém, e o próprio Jesus eram todos essênio 11. Nas
culturas religiosas e alguns grandes mestres da humanidade usaram o poder das mãos para
curar e abençoar: Confucius, Buda, Hippócrates, Moisés, Jesus Cristo, Mesmer, Lafontaine,
Reichenbach e Durville. Todos realizaram curas utilizando curas de diferentes freqüências,
entretanto todas tem o mesmo objetivo: normalizar a vibração básica do corpo humano.
O reiki esta ligado ao cérebro através do pensamento, intenção e sentimento de amor
incondicional. Pode ser associado a qualquer terapia: Alopatia, homeopatia, medicina chinesa,
musicoterapia, acupuntura, meditação, yoga, etc. Não há contra-indicações, nem o risco de
superdosagens. O receptor apenas retém o que necessita.

Fig. 05

10
Essênios – considerados os mais disciplinados dos segmentos dos Judeus. Viveram na antiga Palestina e
fugindo dos romanos se refugiaram no deserto. Manuscritos encontrados no Mar Morto revelaram que viveu de
150 a.C a 70 d.C. Usavam a cura através das mãos além de apresentarem conhecimentos muito evoluídos para a
época. (wikipedia.org)
13 Joshua David Stone, Mistérios Ocultos, Ed. Pensamento, 1995, p.263
22

3. O MODELO JUNGUIANO E O PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO

Carl Gustav Jung, o fundador da Psicologia Analítica e o mais importante humanista


do século XX, nasceu na Suíça (1875 – 1961), formou-se em medicina e em 1902 apresentou
sua tese de psiquiatria cujo tema: os chamados fenômenos ocultos. Relacionou-se com Freud
de 1907 a 1912, herdando as descobertas do inconsciente reprimido e a formação simbólica da
personalidade, a partir das relações primarias do inicio da infância. Discordou da psicanálise,
quando conceituou a libido como energia psíquica, expressão de todo e qualquer símbolo e
não somente da sexualidade, vislumbrado no ID o instinto da individuação na busca da
totalidade do Ser. Freud com a visão materialista e pansexual da psicanálise não pode
conviver com as idéias humanistas e tão inovadoras de Jung, capaz de questionar a
unilateralidade e vivenciar a dualidade na unidade, transcendendo a sua própria realidade.
Jung não definiu um método analítico em nenhum dos artigos que escreveu.
Defendia a particularidade de cada profissional na condução do processo terapêutico, pois
entendia que o terapeuta, psicoterapeuta, analista ou médico era antes de tudo um indivíduo
com suas características, preferências, potencialidades, com seus próprios processos de
individuação. Não há uma normatização que aponte para o que pode e o que não pode.
Havendo ética e a não indução ou interpretação precipitada por parte do profissional todo
técnica utilizada será positiva quando estiver a serviço da expressão da alma. Existem, no
entanto, algumas características que são partilhadas por vários terapeutas junguiano: o tempo
de duração da sessão é de 45 minutos a 60 minutos e a freqüência dependerá da necessidade
do paciente, mas normalmente adota-se uma sessão por semana. Em casos mais críticos, onde
o paciente encontra-se em crise duas ou três por semana. Disposição das cadeiras no
consultório: uma de frente para a outra, estabelecendo uma relação dialética, segundo
orientação de JUNG. (1999, P. 3)
23

Todo psicoterapeuta não só tem seu método: ele é o próprio é esse método.
“Ars  totum  requirit  hominem”(A arte exige o homem inteiro). Diz um velho
mestre.
Todo O grande fator denão
psicoterapeuta cura,
só na
tempsicoterapia
seu método:é a ele é o própriodommédico –
personalidade
esta não é dada a priori; conquista-se com muito esforço, mas não é um
esquema doutrinário. As teorias são inevitáveis , mas não passam de meios
auxiliares. Assim qie ser transformam em dogmas, isso significa que uma
grande dúvida interna está sendo abafada. É necessário um grande número de
pontos de vista teóricos para produzir, ainda mais que aproximadamente, uma
imagem da multiplicidade da alma. (...) A psique não pode ser apreendida
numa teoria; tampouco o mundo. As teorias não são artigos de fé, são
instrumentos a serviço do conhecimento e da terapia; ou então não servem
para muita coisa. (JUNG, 1999, 84-85)

As experiências pessoais de Jung foram aos poucos revelando dois componentes


fundamentais da transcendência: os complexos e símbolos importantes são a expressão da
atividade criativa do Self, o principal arquétipo, o arquétipo central que orienta o processo de
desenvolvimento da personalidade até a individuação, O outro fundamento é que os símbolos
não têm somente uma ação imediata, mas uma ação prospectiva que pode durar toda a vida do
individuo. Jung ( ) define arquétipo como sendo padrão de comportamento básico, herdado
enquanto espécie, a exemplo do arquétipo da Grande Mãe que seria a matriz do apego
materno.
O estudo dos tipos psicológicos, em 1921, que uniu a razão e a emoção, foi uma das
grandes descobertas, incluindo as mesmas funções com diversas combinações para o mesmo
individuo e ainda percebendo a associação de pessoas com tipos psicológicos diferentes, por
serem complementares, justificando assim uniões harmônicas entre casais e pessoas amigas.
Sua teoria trouxe os conceitos de Anima e Animus, como arquétipo de criatividade e
complementares: no homem a Anima e na mulher o Animus. A capacidade intuitiva e sua
liberdade criativa, somadas ao vasto conhecimento sobre várias culturas, transformou Jung
num grande pensador e revolucionário para época. Um dos vários exemplos foi a abertura
para perceber a coincidência significativa entre as respostas dadas no oráculo do I Ching e o
estagio de desenvolvimento da personalidade dos seus pacientes/consulentes. Esse fato o fez
denominar de sincronicidade a coincidência a causal, ampliando o mesmo principio para
explicar, naquela época, os significados da astrologia.
24

Observador atento estimulou seus pacientes a desenhares ou colorirem mandalas, que


em Sânscrito significa círculo sagrado, composta de formas geométricas utilizadas para
meditação na Índia.
Ellenberger (1970) considerou Jung um dos pioneiros na investigação do
inconsciente e precursor do método interpretativo na psiquiatria dinâmica do século XX, com
o teste de associação de palavras e a interpretação simbólica do material psíquico. Wehr
(1988) identifica como um dos primeiros a praticar através da busca do conhecimento a
interdisciplinaridade. Von Franz (1975/1992) o considera pioneiro na investigação dos
fenômenos psicológicos pela concepção de um inconsciente espontâneo e criativo e por sua
forma  de  pesquisar  o  material  inconsciente.   Segundo  a  autora,  “a  compreensão  junguiana   do  
inconsciente   marca   o   fim   do   racionalismo   científico   do   século   XIX”   (p.   14).     Avalia as
críticas da comunidade cientifica da seguinte maneira:

O crescimento de sua influência encontra-se ainda em seus estágios


iniciais; daqui a trinta anos poderemos, com toda probabilidade, discutir
sua obra em termos bem diferentes dos atuais (...) Jung estava a tal
ponto à frente de sua época que as pessoas somente aos poucos
começam a alcançar suas descobertas. (FRANZ ,Von.1975/1992, p. 11)

A Psicoterapia tem como objetivo levar o indivíduo a um mergulho cada vez mais
profundo de maneira a elucidar os aspectos de sua psique, identificando os motivos e as raízes
de seus sentimentos, emoções, reações, conflitos internos e como esses se refletem nas
relações interpessoais. O autoconhecimento desnuda e revela fatos vivenciados que são
conhecidos ou ainda estão encobertos, armazenados no sub-consciente ou no inconsciente.
Esses fatos ou eventos tornam-se significativos quando geram comportamento ou emoções
que podem ser: satisfatórias, desconfortáveis ou ainda que resultam sofrimento emocional,
psíquico ou físico. O posicionamento do individuo frente a todo isso, como ele lida com as
sensações e emoções consigo mesmo e com outras pessoas dependerá do seu nível de
amadurecimento psicológico.
Quando nascemos o si-mesmo e o ego não estão individualizados. O estado psíquico original,
anterior a tomada de consciência do ego foi nomeada por Neumann de uroboros. Essa
imagem simbiótica foi representa por uma serpente mordendo sua própria cauda. O si-mesmo
primordial, o estado de mandala12 original de totalidade do qual emerge o ego individual. 13

12
Palavra sânscrita que significa círculo. A representação simbólica da psique para Jung (1875-1961)
25

A Psicoterapia Analítica de Jung trabalha com a totalidade do indivíduo, isso quer


dizer, que investiga os conteúdos do consciente e do inconsciente, seja esse último individual
ou coletivo. Propõe que um paciente passe por quatro fases no tratamento: a confissão,
explicação, educação e a transformação. (JUNG, 1935). A confissão é a fase em que se toma
consciência e relata ao terapeuta os conteúdos que estavam escondidos, aceitando os aspectos
da personalidade que não são aceitos, ou alguma culpa do passado. Trata-se da Sombra,
conceito criado por Jung para falar dessa parte do Ego que está na maior parte do  tempo  “às
escuras”. A segunda fase é a explicação: trazer para a consciência o que está no sub-
consciente ou inconsciente, as fantasias e todo esse conteúdo que emerge nos sonhos. Aqui
acontece a transferência com o terapeuta que o acolhe e esclarece os pontos que estão sendo
trabalhados a partir de várias técnicas inclusive a da interpretação dos sonhos. A terceira fase
é a da educação onde o paciente passa por um treinamento para se auto-analisar de maneira a
poder continuar o trabalho terapêutico sozinho. O objetivo é dar autonomia e independência
ao indivíduo para se converter em sujeitos sociais. (VON, Franz, 1982). A última fase,
transformação não é indicada a todas as pessoas, pois exige um nível de questionamento e
conclusões de pessoas com nível intelectual ou de inquietação interna, acima da média. Essa
fase é mais comum quando o indivíduo está chegando na meia idade, pois passa a questionar
sobre o sentido da vida e de valores éticos e morais,   sugerindo   que  “sua   caminhada”   aponta
para o processo de individuação.
A psicoterapia analítica se preocupa com o que pode está gerando perturbações que
dificultem a compreensão e a tomada de consciência. A descoberta da influência dos
arquétipos sejam eles coletivos ou individuais e sua relação com os instintos, explica a forma
e as ações exageradas ou impressões distorcidas. O inconsciente coletivo é formado pelo
conjunto dos instintos dos indivíduos e correlatos que são os arquétipos. Na psicopatologia
encontramos perturbações mentais onde identificamos material do consciente coletivo da
época.

1313
Neumann, Erick, The originus anda History of consciousness, serie Bollingen XI. II - 1954
26

Quando falamos dos instintos, acreditamos que falamos de algo


conhecido, mas na realidade, estamos falando de algo que
desconhecemos. Na realidade, tudo quanto sabemos é que certos
efeitos nos advêm da esfera obscura da psique, e eles devem ser
assumidos, de um modo ou de outro, na consciência, se queremos
evitar as perturbações devastadoras de outras funções. É totalmente
impossível dizer, de imediato, de que natureza são estes efeitos: se
resultam da sexualidade, dos instintos de poder ou de outros instintos.
São tão ambíguos ou mesmo polivalentes quanto o próprio
inconsciente. (JUNG, 2000, p.108)

A consciência chega-nos através do que conseguimos perceber do mundo que nos


rodeia, sendo as percepções sensoriais instrumentos que nos indicam que “existe algo lá  fora”.
O inconsciente é o que está supostamente desconhecido, composto de material fluído, sem
forma definida, esquecida muitas vezes pelo tempo ou bloqueado por alguma emoção ou
experiência, até que um dia possa vir a consciência ou se expressão através dos complexos.
Nesse ultimo caso podem ser visualizados e tratados de maneira a perderem seu caráter
automático, se desnudando do seu invólucro mitológico, capaz de ser racionalizado o que
facilita a adaptação e uma discussão dialética.
Entretanto, entre o consciente e o inconsciente existe uma faixa e alternância
entre a sombra e a luz que nos aponta de maneira prudente a admitir que existe algo entre eles
que se denomina subconsciente. Possivelmente mais próximo dos conteúdos do inconsciente
que  tem  um  “colorido”   mais diverso chamando-nos a atenção para a relatividade do material
da Psique que esta no consciente e no inconsciente. As faixas da consciência também
apresentam “degradês”14, pois há grande diferença entre o "eu faço" e o "eu estou consciente
daquilo que faço". Não podemos esquecer que o inconsciente se apresenta de maneira
compensatória ou complementar em relação ao consciente. Esse é um dos motivos que levou
Jung a investigar e fazer aflorar os conteúdos do consciente, diferentemente de Freud que
sugeria a repressão ou a sublimação desses conteúdos.
O pai da Psicoterapia Analítica não mediu esforços para identificar e entender a
linguagem dos símbolos, viabilizando das mais variadas formas as expressão desses
conteúdos guardados no inconscientes, sejam através das artes, da interpretação dos sonhos,
dos cenários produzidos na caixa de areia. Quando esse conteúdo sair da obscuridade ele
poderá auxiliar esse individuo a melhor se compreender e adaptando-se através desse novo
olhar caminhar na direção da sua individuação.

14
Palavra de origem francesa que significa: gradiente de cor e uma sequência de tons contínuos, podendo ser
limitado ou ilimitado. (Wikipedia.org)
27

O conceito de individuação na psicologia analítica tem o sentido de tornar o


individuo mais próximo e consciente de sua individualidade, o mais íntimo possível de si
mesmo, sendo capaz exercitar e incorporar a auto - aceitação, compreensão e entendimento de
si, independentemente, reconhecendo-se tal como se é, por natureza e não como gostaria que
fosse. Para JUNG (1984), o processo de individuação é um caminho teleológico natural e
presente em tudo. Faz parte da evolução dos indivíduos, dos seres humanos. A partir dos
quarenta e cinco anos fica mais evidente essa busca por significado para a vida e a avaliação
dos valores existenciais. É o indivíduo fazendo as pazes consigo mesmo, buscando a
integração do seu SER, através da consciência do Si-mesmo.
28

4. A ALQUIMIA E A PSICOLOGIA ANALÍTICA

A Alquimia, ao longo dos séculos, foi uma prática incompreendida que combinava
informações e fundamentos da: astrologia, química, filosofia, matemática, misticismo e
religião. Sua origem ocorreu próximo ao nascimento de Cristo, podendo-se dizer que seu
desenvolvimento transcorreu entre o primeiro século a.C. e o décimo século d.C. Foi praticada
no Grécia, Arábia, Egito Antigo, na América Latina, China, Espanha, seguindo sua trajetória
para os países ocidentais. Ela é o resultado da integração entre a filosofia racional grega e a
tecnologia egípcia. (FRANZ Von – 1979). A primeira filosofia estava preocupada com a
natureza, á matéria, o espaço e o tempo, embora baseada apenas na observação, com pouca ou
quase nunca acompanhada de experimentação. Tales de Mileto e Heráclito eram filósofos
dessa época. A segunda influência foi a tecnologia egípcia; com receitas químicas e mágicas,
acrescidas de representações religiosas, embora sem reflexão teórica por parte dos praticantes.
A química muito se beneficiou com seus experimentos para se desenvolver, apesar da
filosofia e das ciências divinas ou espirituais também terem usufruído das suas reflexões e
experimentos. Entretanto, de maneira velada para evitar perseguições. Os interessados no
tema restringiam-se a pessoas dos círculos maçônicos e da Ordem Rosa Cruz. Jung com seus
escritos foi muito responsável por atrair a atenção das pessoas de sua época para o estudo e
interpretação desses conteúdos.

A alquimia é uma ciência natural que representa uma tentativa de


entendimento de fenômenos materiais e de natureza; é um misto da
física e da química desses tempos remotos e corresponde à atitude
mental consciente daqueles que a estudaram e se concentraram no
mistério da natureza, em especial dos fenômenos materiais. Também
é o principio de uma ciência empírica. (FRANZ, 1998, p. 15)
29

Fig. 06 - Título: O Alquimista, 1757


Fonte: www. commons.wikimedia.org

Apresentou como objetivos principais: transformar chumbo ou metais inferiores em


ouro; obter o elixir da longa vida e a pedra filosofal; criar vida humana artificial, além de e
colaborar com a realeza para que essa prosperasse e enriquecesse rapidamente. Esse último
objetivo era o único que não era filosófico e possivelmente teria por finalidade garantir a
segurança dos alquimistas, considerando que muitos foram perseguidos e queimados durante
a “Santa  Inquisição.”
As metáforas foram muito utilizadas como formas de protegerem as pessoas e as
pesquisas. Entre os Alquimistas encontravam-se: filósofos, cientistas e sacerdotes. Muitos
trabalhavam em ambientes camuflados, salas subterrâneas, porões e até antigas catedrais.
Confundir e iludir eram necessários, embora os alquimistas conhecessem o significado dos
símbolos e das metáforas. Historicamente temos conhecimento de fatos similares como o
culto dos Santos da Igreja Católica, aparentemente praticado pelos Africanos ou ainda
militantes políticos e escritores usaram pseudônimos para encobrirem sua real identidade e se
preservarem. Sendo assim, acredita-se que as idéias de transformarem os metais, o chumbo
em ouro, de descobrirem o elixir da longa vida ou a pedra filosofal estavam na verdade
30

ligadas as descobertas do inconsciente, a abertura e mudança da consciência e a investigação


dos mistérios que envolvem a alma, a vida sagrada e espiritual.
A  tarefa  inicial  seria  trabalhar  a  “prima  matéria”  (matéria prima) até conceber a pedra
filosofal (lápis philosoforum) e com ela atingir todos os outros objetivos: o ouro e o elixir da
longa vida. O questionamento mais complexo refere-se a: Como seria esse processo de
transformar algo de estado primário a um estado mais refinado e elaborado? Trazer o material
do inconsciente para a consciência? Esse caminhar, na atualidade, é semelhante ao trilhado
pelos religiosos, espiritualistas, terapeutas holísticos. A busca do si-mesmo através de
processos iniciáticos, relacionados a espiritualidade, exercitado passo a passo, com profunda
reflexão interior, associada a meditação, autoanalise ou psicoterapia que resulta em tomada
de consciência. Um trabalho demorado e laborioso até a pedra filosofal que pode ser
associado ao processo de transformação psíquica, ao processo de individuação de Jung.
Os processos alquímicos usados para transformação foram denominados em latim,
sendo os mais conhecidos: mortificatio (morte), sublimatio (transformar o sólido em gasoso),
coagulatio (coagulação), calcinatio (queima), solutio (dissolver em água), putrefatio
(decomposição da carne), separatio (separação), conjunctio (união), tinctur (tintura ou união),
entre outros. A maioria dos escritores da época fez também referência a quatro processos
associados às cores e suas vibrações: nigredo (preto), cauda pavonis (arco-íris ou cauda de
pavão), albedo (branco) e rubedo (vermelho). Trabalhavam sem programação cientifica
consciente, sendo as conclusões oriundas de observação espontâneas, como citado
anteriormente, fato esse associado ao que acontece com o material produzido pelo
inconsciente. Drª Von Franz (1979), em seu livro Alquimia e Imaginação Ativa comenta:  “A
abordagem não programada,  por  assim  dizer,  é  comum  à  alquimia  e  à  psicologia  analítica.”
Esses processos, se vistos de maneira global, aproximam-se das fases da psicoterapia
analítica, proposta por Jung:
1ª fase - Confissão, na terapia, está associada a etapa da Nigredo, onde as idéias
ainda   estão   confusas,   a   ansiedade,   o   não   saber   para   onde   ir,   a   “visão   ainda   cega,   não   há  
clareza, o medo, o não saber decidir, e sofrimento psíquico e emocional.
2ª fase - Esclarecimento e Educação que se associam ao Albedo
3ª fase - Transformação, seria a Rubedo.
Esse processo é cíclico, nunca termina, pois o processo evolutivo não tem finitude.
Sempre é possível ir mais adiante. É como uma aspiral ascendente, não se passa no mesmo
lugar, a situação pode ser idêntica, mas o individuo já tem um repertório é diferente, pois o
31

momento é outro e o entendimento foi amplificado através das experiências vividas. Isso
ocorre tanto na Alquimia quanto no processo de individuação, desenvolvido por Jung.
Quando atingimos a Rubedo, iniciamos um novo processo de descoberta, com rubor, paixão,
motivação e novamente o que está obscuro e se encontra na Nigredo precisa de luz para
clarear, como no Albedo, para se revelar e se tornar consciente. Como o branco é a presença
de todas as cores até chegar ao Albedo   que   denominei   de   “branco   puro”,     essa   fase  
intermediária   foi  chamada   pelos  alquimistas     de  “calda   pavonis”.   Alguns alquimistas não se
referem a essa última etapa. Ao sair da Nigredo o paciente fica algum tempo esvaziado, como
se estivesse em pausa, silencia. Então passa a transferir para o analista ou psicoterapeuta os
complexos relacionados às figuras parentais, as figuras de poder, além de outros, entregando
a responsabilidade de sua caminhada a esse profissional que o acolheu e o aceitou naquele
momento importante da sua vida. A esse processo Jung denominou de Transferência. A
trajetória não é linear, entretanto por mais longo que pareça o caminho, ele é sempre
ascendente. Não retornamos ao mesmo ponto e nem da mesma maneira. Esse é o movimento
da vida, da evolução do SER, do autoconhecimento, da busca do Si-mesmo, que uma vez
iniciado, dificilmente será rejeitado, pois o sentimento de liberdade por haver se desapegado
de antigas amarras, o trás de volta ao processo terapêutico sempre que sentir necessário,
embora cada vez menos necessite de intervenção de uma terceira pessoa para trilhar rumo a
sua individuação.
É por todo esse desenrolar que se diz que a Alquimia é a base da psicologia
junguiana e a Opus Dei , que significa o trabalho de Deus é a coluna vertebral, o cerne da a
imagem central da Alquimia.
Os alquimistas viam-se como pessoas comprometidas com um trabalho sagrado,
pacientemente e laboriosamente, experimentando o dissolver e o coagular, orientados para o
Si-mesmo (Self) e não para o Ego. A Opus era realizada de maneira solitária, um trabalho
individual que não podia ser realizado em grupo. Analogamente aos segredos alquímicos que
tinham sua divulgação proibida, a análise ou processo terapêutico também são sigilosos e
laboriosos, exigindo por parte do analista e do paciente, coragem e paciência. Coragem para
tocar   em   “feridas   antigas   e   doídas”.   Paciência   para   esperar   que   o   material   do   inconsciente  
emerja sem interferências, defesas ou contaminação por precipitação de interpretação por
parte do psicoterapeuta.
32

5. A SOLUTIO ALQUÍMICA E O REIKI

(...) “Solve   et   coagula”,   dissolver   e   coagular,   é   o   fundamento  


vivo da Grande Obra. Necessitamos dissolver mercúrio seco e enxofre
arsenicado e coagular mercúrio vivo e enxofre puro.
O mercúrio seco está constituído por todos esses agregados
psíquicos que em seu conjunto constituem o querido ego dos ignorantes
ilustrados.
O enxofre arsenicado é o fogo animal, bestial, dirigido para
baixo, aos infernos atômicos do homem.
É urgente fecundar o mercúrio vivo com o enxofre puro ou fogo
sagrado, se é que, realmente, queremos fabricar os Corpos Existenciais
Superiores do Ser.
(...) Aqueles que jamais se auto-observaram seriamente, aqueles
que têm atrofiado, o sentido da auto-observação, pensam de si mesmos o
melhor, nem sequer suspeitam que dentro de si mesmos existem o
mercúrio seco e o enxofre vermelho.
Esses incultos adoram o querido ego, estão convencidos de que
evoluciona e se aperfeiçoa; não se preocupam por destruí-lo ou aniquilá-lo;
nunca souberam que o tão cacarejado ego é uma soma dos eus, ou
demônios, mercúrio seco, defeitos infra-humanos.
Se pessoas amassem de verdade a sua Stella Maris, se a
tornassem como guia, ela os auxiliaria na Grande Obra, ela eliminaria da
natureza delas o mercúrio seco e o enxofre arsenicado. ( V.M. Samuel Aun
Weor – 1976)
33

A ideia de incluir os conhecimentos da Alquimia, em especial ao processo da solutio


ocorreu para facilitar o entendimento do que se passa com nossos corpos, durante a aplicação
do reiki.
A solutio é um dos processos mais importantes da alquimia, pois é o que reduz o
material à prima matéria. Alguns alquimistas diziam que não se devia fazer nenhuma
operação até que tudo, inicialmente   fosse   transformado   em   água:   “Dissolve   e   coagula”  
(EDINGER, Edward – 1995). Esse fenômeno é similar ao que ocorre na psicoterapia, quando
se   faz   necessário   diluir   o   material   do   ego   que   se   encontra   “endurecido   e   cristalizado”   para  
então fazer surgir um outro colorido as emoções, comportamentos e sensações. O reiki atua
como solvente nesse ambiente confuso de emoções e sentimentos, apesar de poder funcionar
como um catalizador para decodificar e trazer a luz o que ainda não fácil de ser visto e
compreendido. Como isso é possível? É possível porque atua diluindo o material nos corpos
sutis: etéreo, mental e emocional, conforme explicamos anteriormente.
A solutio tem duplo poder de ação, pois tanto dilui a ponto de fazer desaparecer o sintoma,
sensação ou desconforto e ainda tem a capacidade de transformar, fazendo surgir outro
material diferente do inicial. A tomada de consciência tem efeito de amplificação, sendo
fundamental no processo de evolução e amadurecimento emocional do um individuo. Esse
processo, além de ser capaz de transformar a si mesmo, pode contribuir para transformar e
modificar outras pessoas. O agente solutio, é basicamente, o Si-mesmo, experimentado quer a
partir de dentro, quer como uma projeção de um indivíduo ou de um grupo, de   fora.”   15.
Analogamente, nesse caso os agentes externos que provocam a dissolução dos complexos e
sintomas são a psicoterapia e o reiki.
Simbolicamente o estar imerso, mergulhado ou molhado em água, significa o retorno
ao útero, ao liquido amniótico, ao batismo, à volta a prima matéria, a Mater Dei (Mãe de
Deus). Analisando a alquimia da concepção de um Ser Humano é necessário que o masculino
com sua Anima e o feminino com seu Animus, copulem. A prática do sexo que é um ato da
matéria e do instinto, com conteúdos do consciente e do inconsciente, ocorre em ambiente
úmido (solutio),   permeada   pelo   “calor   do   fogo”,   da   paixão   (rubedo), transformada em seu
ápice em orgasmo, regado de mais liquido (solutio). Ao final uma sensação de paz e a parada
necessária para o repouso (albedo), invadem o coração das almas amantes, até o próximo
encontro. É a alquimia do amor, dos apaixonados.

15
Edward F. Edinger, Anatomia da Psique, p. 77
34

6. REIKI E INDIVIDUAÇÃO

O reiki contribui como facilitador nesse encontro consigo mesmo, propiciando


equilíbrio da energia vital, psicoemocional, bem como alivio de desconfortos físicos, gerando
uma sensação de bem estar. É um caminho que pode aproximar o ego do Si-mesmo. Uma
ferramenta poderosa para desinflar o ego e auxiliar na religação com o divino que há em cada
um de nós.  Não  importa  a  “fórmula  alquímica”   empregada.  Ela  atenderá  as   necessidades  do  
individuo, pois estarão adicionadas duas porções poderosas: a energia amorosa do terapeuta e
atitude de abertura e entrega do paciente.
Podemos associá-lo a um ritual, em busca do reequilíbrio energético, emocional e/ou
psíquico. Entende-se por ritual, qualquer ato ou conjunto de atos comuns, formais ou feitos de
forma repetitiva. São determinados costumes carregados de significado e simbologia,
importantes para quem os pratica. Eles existem desde as eras mais primitivas da humanidade e
fazem parte do material do inconsciente coletivo. Alguns rituais alteram nosso estado de
consciência, conectando-nos com material do nosso próprio inconsciente, do inconsciente
coletivo, nos ligando ao cosmo, a nossa essência e a divindade que há em nós. Eles nos
mantem ligados facilitando a comunicação entre as realidades interiores e exteriores.
Jung observou rituais na África, Índia e nas tribos indígenas dos Estados Unidos.
Demonstrou interesse maior pelos rituais de iniciação, associando-os aos processos e
35

progressões psicológicos dos indivíduos, nos diferentes estágios da sua vida. No trabalho com
seus pacientes, observava que a confiança no ritual era uma condição que agregava a abertura
de consciência. Acreditava que no ritual as pessoas expressavam suas condições psicológicas
fundamentais e mais importantes, salvaguardando a estabilidade de sua personalidade em
fases de transição. Tem a função de reequilibrar a psique em fases de mudança, transformação
ou iniciação de um novo ciclo. O ritual não é responsável pela mudança, mas a contém.
Segundo Wilges e Colombo (1983), Jung acreditava que o homem não seria capaz de
se  livrar  do  “tema  Deus”,  por  ser na sua essência, no fundo da sua psique: religioso, crístico,
teísta. Sendo assim, seria sempre impelido, através de sua dinâmica interna, a buscar Deus. O
terapeuta teria como papel auxiliar o paciente a encontrar ou restaurar a sua religião
verdadeira,   ou   seja   “   uma   atitude   reverente   e   atenta   em   relação   ao   fator   “numinoso”   íntimo  
que é o Si-mesmo”  (TARDAN-MSDQUELIER, 1994, p.138).
Jung utilizava as expressões "Deus" ou "divindades" no contexto simbólico,
conforme explica: "Ambos se encontram como tais muito além do alcance humano. Revelam-
se a nós como imagens psíquicas, isto é, como símbolos." (JUNG, 2000, p. 296). E as pessoas
realizam os ritos porque: "No rito estão próximas de Deus; são até mesmo divinas." (JUNG,
1998, p.273)
Todos os sistemas do reiki manipulam a energia de uma maneira própria, com seus
símbolos característicos, mas a energia cósmica é única. A fonte é a mesma. Todos os
sistemas reikianos trabalham para o crescimento pessoal do terapeuta reikiano e dos pacientes.
Fora do consultório pode auxiliar o processo terapêutico por ser uma das terapias
complementares a possibilitar a amplificação da consciência. Outras atividades ou terapias
podem ser vivenciadas e propiciarem os mesmos resultados aos indivíduos 16, rumo a
individuação.
A medicina oriental considera que somos formados de vários corpos sutis que são
fundidos como se fossem um único, denominando-se de Aura. O corpo visível é o corpo
físico, constituído de matéria mais densa e os 8 corpos restantes de matéria sutil, etérica e
fluida, visível apenas para as pessoas sensitivas, que tem uma faculdade chamada vidência.
Em 1939, acidentalmente o eletricista Semyon Kirlian conseguiu fotografar halos de luz em
torno de objetos independente de serem orgânicos ou inorgânicos, confirmando para os
espiritualistas o que era visto pelos videntes. Estudos mais aprofundados sobre as
características dos halos luminosos identificados nas fotografias, como falhas ou intensidade

16
Psicoterapia Analítica:um trabalho de expressão do processo de individuação – Artigo Cientifico
36

de luz, correspondiam aos estados físicos ou psicológicos atuais dos pacientes. Contudo,
alguns físicos e pesquisadores levantaram a hipótese de que os halos são gerados pela
umidade que ocorre naturalmente em todos os seres vivos e que os mesmos não aparecem
quando as fotografias são realizadas no vácuo.
A psicoterapia propicia autoconhecimento como mecanismo de integração do consciente e
inconsciente, do ego com o self, da descoberta das personas e das sombras, viabilizando
abertura de consciência sobre si mesmo e aproximação da individuação. A individuação é um
processo que leva o individuo a ser ele mesmo, cônscio sua própria individualidade, a partir
da tomada de consciência dos seus processos o que o leva ao amadurecimento psicológico do
Si-mesmo e do ego.
A psicoterapia analítica e o reiki são métodos complementares e que possuem semelhanças. A
ação do reiki no campo energético, dissolvendo, diluindo, bloqueios no campo e corpo
energéticos é similar a conscientização desses conteúdos na analise junguiana, pois os dois
métodos reduzem a força da energia das emoções e complexos, permitindo que o indivíduo
entre em contato com seus conteúdos com menos reservas e resistências, as mesmas que o
impedem de expandir e desenvolver sua personalidade. “Para transformação ocorrer, esses
aspectos fixos devem primeiro ser dissolvidos ou reduzidos a prima matéria.”   17 No mar
fluído do corpo etérico a energia concentrada se diluí e com ela as sensações de bem estar se
estabelecem.  “Os  corpos  não  podem  ser mudados senão pela redução  à  sua  matéria  prima.”   18
Segundo  HAHNEMANN    “  O  Homem  doente   é  anterior  ao   corpo  doente”.  O  Homem é um
ser psíquico, espiritual e biológico. Sente, pensa, vive, tem vontade, entendimento que produz
a  vida,  a  ação  e  que  constrói  o  corpo.  “A  vontade  e  o  entendimento  em  harmonia,  produzem  a  
saúde  no  organismo.” E na mente, na psique, na alma.

17
Edward F. Edinger, Anatomia da Psique, p. 68
18
Kelly, The Alchemical Writings of Edward Kelly, p. 34
37

“O  que  torna a alquimia tão valiosa para a psicologia é o fato de


suas imagens concretizarem as experiências de transformação
por que  passamos  na  psicoterapia...”
“Cedo   percebi   que   a   psicologia   analítica   coincidia   de   modo  
bastante   singular   com   a   alquimia.   “A   real natureza da matéria
era desconhecida do alquimista; ele tinha meros indícios a
respeito. Ao tentar explorá-la, projetou o inconsciente sobre as
trevas da matéria, a fim de iluminá-la...
(JUNG, Psicologia e Alquimia)

A individuação só é possível quando encontramos a nós mesmos, entramos em contato com a


nossa essência. O reiki pode ser uma experiência e um exercício, um passo no caminho desse
encontro consigo mesmo, um mobilizador, condutor, a serviço do encontro com o self, a
Pedra Filosofal da Alquimia referida por Jung. Sendo assim, podemos supor que o Si- mesmo
é o mesmo que o EU SOU, o Eu Superior, nossa Essência Divina. Si-mesmo é a autoridade
psíquica suprema, o centro ordenador da psique (consciente e inconsciente). (EDINGER,
1992).
38

7.CONSIDERAÇÕES FINAIS

Concluindo, assim   fui   experimentando   o   “dissolver   e   o   coagular”,   o   nigredo   e   o  


albedo, no caminhar em direção ao meu Self. Lia e refletia, separava os conteúdos
(separatium) e reordenava (aglutinatium), morria e renascia uma nova consciência em mim, a
partir de uma e outra reflexão, entrando em contato com conteúdos do meu inconsciente.
Auxiliada pela sincronicidade, era conduzida para leitura de artigos, texto e livros envolventes
e elucidativos.
Enquanto lia, navegava e transcendia, ao mergulhar na Alquimia e na teoria inspiradora de
Jung, visualizando a possibilidade de conectá-las ao reiki, como recurso alquímico, amoroso e
balsâmico, de maneira a contribuir para abertura de consciência, integração da personalidade
dos indivíduos e diluindo as dores emocionais.
Entendo como benefícios da abertura de consciência: o despertar da nossa ligação espiritual
com o Criador; a possibilidade de alargar nossa visão do mundo e de nós mesmos;
expandindo nossa conexão com o nosso Eu Superior; aumentando a intuição, a sensibilidade e
a criatividade. Esse aumento da percepção, com a ajuda da psicoterapia, associada à energia
reiki, é um passo importante que é dado em prol desse desenvolvimento.
39

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARBOSA, Ademir. Transforme sua vida com o Reiki, 2006


EDINGER, F. Edward. Anatomia da Psique, Ed Cultrix, 1999
ENOCH. O Evangelho Essênio da Paz, Ed. Pensamento, 1997
JUNG, Carl. A Natureza da Psique, Ed. Pensamento, 2000
KALYAMA, Acharya. Yoga – Repensando a Tradição, Ed. Ibrasa, 2003
MAY, Doroth. Reiki Arquetípico, Ed. Pensamento, 2000
MICKENZIE, Eleanor. A Cura pelo Reiki, Ed. Manole, 2006
STONE, David Joshua. Mistérios Ocultos, Ed. Pensamento, 1995
VON-FRANZ, Marie-Louise. Alquimia e Imaginação Ativa. São Paulo, Ed Cultrix, 1998

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