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Notas de Aula
Guy Debord
A Sociedade do Espetáculo
A Separação acabada
O espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas,
mediada por imagens.
O mundo ao mesmo tempo presente e ausente que o espetáculo faz ver é o mundo da
mercadoria dominando tudo o que é vivido. E o mundo da mercadoria é assim
mostrado como ele é, pois o seu movimento é idêntico ao afastamento dos homens
entre si e face ao seu produto global.
O espetáculo é uma permanente guerra do ópio para fazer aceitar a identificação dos
bens às mercadorias; e da satisfação à sobrevivência, aumentando segundo as suas
próprias leis. Mas se a sobrevivência consumível é algo que deve aumentar sempre, é
porque ela não cessa de conter a privação. Se não há nenhum além para a
sobrevivência aumentada, nenhum ponto onde ela poderia cessar o seu crescimento,
é porque ela própria não está para além da privação, mas é sim a privação tornada
mais rica.
O valor da troca não pode formar-se senão como agente do valor de uso, mas a sua
vitória pelas suas próprias armas criou as condições da sua dominação autônoma.
Mobilizando todo o uso humano e apoderando-se do monopólio da sua satisfação, ela
acabou por dirigir o uso. O processo de troca identificou-se a todo o uso possível e
reduziu-o à sua mercê. O valor de troca é o condottiere do valor de uso, que acaba por
conduzir a guerra por sua própria conta.
O valor de uso, que estava implicitamente compreendido no valor de troca, deve estaa
agora explicitamente proclamado na realidade invertida do
espetáculo, justamente porque a sua realidade efetiva é corroída pela economia
mercantil superdesenvolvida; e porque uma pseudojustificação se torna necessária à
falsa vida.
As falsas lutas espetaculares das formas rivais do poder separado são, ao mesmo
tempo, reais naquilo em que traduzem o desenvolvimento desigual e conflitual do
sistema, os interesses relativamente contraditórios das classes ou das subdivisões de
classes que reconhecem o sistema, e definem a sua própria participação no seu poder.
Assim como o desenvolvimento da economia mais avançada é o afrontamento de
certas prioridades com outras, a gestão totalitária da economia por uma burocracia de
Estado e a condição dos países que se encontraram colocados na esfera de
colonização ou da semicolonização são definidas por particularidades consideráveis
nas modalidades da produção e do poder. Estas diversas aposições podem exprimir-se
no espetáculo, segundo critérios completamente diferentes, como formas de
sociedades absolutamente distintas. Mas segundo a sua realidade efetiva de setores
particulares, a verdade da sua