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k ANNO o I # 3 4 / 5 1 M A IO 1981

Liahona
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lo* 1979 &


MAIO DE 1981
A PRIMEIRA
PRESIDÊNCIA:
Liahona PBMA0573PC)
Spencer W. Kimball S. PAULO - BRASIL
N. Eldon Tanner
Marion G. Romney
CONSELHO
DOS DOZE: HISTÓRIAS E DESTAQUES
Ezra Taft Benson 1.Mensagem da Primeira Presidência:
Mark E. Petersen A Voz do Espirito, Marion G. Romney
LeGrand Richards 4. Como O bter Revelação Pessoal, Bruce R. McConkie
Howard W. Hunter
Gordon B. Hinckley 10. Esperei Quarenta Anos pelo B atism o, Bessie Leeper Yoakum
Thomas S. Monson 13. Com o E xplica r a M orte a C rianças, Jon M. Taylor
Boyd K. Packer 16. Falem os a R espeito • Algumas Sugestões para Debates em Família
Marvin J. Ashton 20. Ethel, Susan H. Aylworth
Bruce R. McConkie
L. Tom Perry 21. M il e Q uinhentos Q uilôm e tros ... Descalço, Hal Knight
David B. Haight 25. O C aderno de Notas, Janet Brigham
James E. Faust 28. Labirintos, Maxwell T. Stone
COMITÊ 30. M andam ento Rigido, Porém Suave, Neal A. Maxwell
DE SUPERVISÃO: SEÇÃO IN FAN TIL
M. Russell Ballard I W ilfo rd W oodruff
Loren C. Dunn
Rex D. Pinegar II S eguros á Barra de Ferro, F. Burton Howard
Charles Didier V A Bola de Gude, Laurie J. Wilson
George P. Lee NOTÍCIAS LOCAIS
F. Enzio Busche Form ada a Prim eira Estaca M ineira
EXECUTIVO DO Está C rescendo o Paraná
«INTERNATIONAL C uritiba Ganha Nova Capela
MAGAZINE»: IV Os fru tos da Fé
Larry Hiller, VI A M ais Bela Visão
Editor Gerente; VII A Pequena Flecha
David Mitchel. VIII Testem unho
Editor Associado; IX Jovem C antor Propaga o Evangelho
Bonnie Saunders III ENPAS
Seção Infantil; Jovens da Estaca S.P. Leste Com em oram o S esquicentenário da Igreja
Roger Gylling, Testem unho
desenhista; XI C onferência de Jovens em Ponta Grossa
EXECUTIVO DE XII Preparação e M anutenção de Jardins
A LIAHONA: XIV Entre Nós
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Editor;
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riais. Redação e Administração, Av. Prof. Francisco M orato, 2.430.
Mensagem da Prim eira Presidência

isse certa vez o Presidente O fato de que em 1938 havia na


D Brigham Young: “Foi-me reve­
lado no inicio desta Igreja,
Igreja 126 estacas, 36 missões e
784764 membros, e no fim de 1977,
que ela prosperaria, cresceria e se 885 estacas, 158 missões e perto de
expandiria, e que, à medida que o 4.000.000 de membros, é prova con­
evangelho fosse pregado entre as na­ clusiva de que nos últimos quarenta
ções da terra, se levantaria o poder anos, pelo menos, a Igreja prospe­
de Satanás na mesma proporção.” rou, cresceu e se expandiu.
(Discursos de Brigham Young, p. Em cumprimento da afirmação
72.) do Presidente Young de que o poder
Atualmente presenciamos o cum ­ de Satanás cresceria na mesma pro­
primento dessa profecia. porção, vemos por toda parte seu
frenético empenho de obstar a reali­
zação da obra da Igreja. Entre suas
mais eficazes armas estão a porno­
grafia, perversão, prostituição do
poder criador e todas as outras práti­
cas imorais e ímpias. Práticas que
desde tempos imemoriais vêm sendo
consideradas odiosas, imorais, de-

A
Voz do
Espírito
Presidente M arion G. Rom ney
Segundo conselheiro
na Primeira Presidência
gradantes e até mesmo ilegais, e que o tempo e eternidade depende dessas
sempre hão de destruir a alma, estão decisões.
sendo advogadas e toleradas como E obvio e evidente que Deus, nos­
aceitáveis por nossa sociedade deca­ so Pai Celeste, e seu Amado Filho Je­
dente. sus Cristo, nosso Redentor, não nos
Não devemos — e nem precisa­ colocariam nessa posição em que
mos — deixar-nos iludir nem cor­ tanto depende de nossas escolhas,
romper por esses ensinamentos e sem nos dar o meio para distinguir
práticas malignos. E se nos lem brar­ entre o bem e o mal. Este meio é a
mos sempre de quem somos e usar­ voz do Espírito, e todos seremos res­
mos os meios providos pelo Senhor ponsabilizados pela maneira como a
para discernir e evitá-los não sere­ atendemos.
mos afetados por eles. O Senhor nos instruiu a esse res­
Jamais nos esqueçamos de que so­ peito como segue:
mos almas — espíritos imortais re­ “E agora vos dou o mandamento
vestidos de um corpo mortal de car­ de que vos acauteleis de vós mesmos,
ne e ossos; que atendais diligentemente às pala­
Nosso espírito foi gerado por pais vras de vida eterna.
celestes, imortais; “Pois vivereis de toda a palavra
O principal propósito de nossa que sai da boca de Deus.
passagem pela m ortalidade aqui na “Pois a palavra do Senhor é a ver­
terra é sermos provados para ver se dade, e tudo o que é verdade, é luz,
cumprimos a vontade do Senhor. e tudo o que é luz, é espírito, mesmo
(Ver Abraão 3:25.) o Espírito de Jesus Cristo.
Estamos sujeitos a influências “E o Espírito dá luz a todo homem
opostas — a influência de Satanás e que vem ao mundo; e o Espírito alu-
seus asseclas de um lado e a influên­ mia a todo homem no mundo que
cia de Cristo e seus seguidores, do atende a sua voz.
outro; “E todo aquele que atende à voz
Mesmo sujeitos a essas duas in­ do Espírito vem a Deus, sim, o Pai.
fluências, temos liberdade de “esco­ “E o Pai ensina-o quanto aos co-
lher a liberdade e a vida eterna, por vênios que ele renovou e confirmou
meio da grande mediação de todos sobre vós, o qual é confirmado sobre
os homens, ou... (de) escolher o cati­ vós para vosso bem, e não somente
veiro e a morte, de acordo com o ca­ para vosso bem, mas para o do m un­
tiveiro e o poder do dem ônio...” (II do inteiro.
Néfi 2:27.) “E o mundo todo se acha em pe­
É muito importante lembrarmo- cado, e geme sob trevas e sob a es­
nos de que, ao optar entre o bem e o cravidão do pecado.
mal, estamos tomando as decisões “E por isto podereis saber que es­
mais importantes de nossa vida. tão sob a escravidão do pecado, por­
Nossa felicidade ou miséria durante que eles não vêm a mim.
2 A LIAHONA
“Pois quem não vem a mim, está ninguém a fazer o bem, nem a um só
sob a escravidão do pecado. que seja; tampouco o fazem seus an­
“E quem não recebe a minha voz, jos, ou os que a ele estiverem sujei­
não a conhece e não é meu. tos.
“E por isto podereis discernir os “E agora, meus irmãos, vendo que
justos dos iníquos, e saber que mes­ conheceis a luz pela qual podeis jul­
mo agora o mundo todo geme sob o gar, essa luz que é a de Cristo, tende
pecado e trevas.” (D&C 84:43:53; cuidado para que não julgueis erra­
grifo nosso.) damente; pois da mesma forma que
Mórmon nos explica especifica­ julgardes, assim sereis julgados.
mente como distinguir entre o bem e “Portanto, suplico-vos, irmãos,
o mal: que busqueis diligentemente, na luz
“Portanto, tende cuidado, meus de Cristo, a fim de que possais dife­
amados irmãos, a fim de que não rençar o bom do mau; e se vos ape-
julgueis ser de Deus o que é mau, ou gardes a tudo o que for bom e não o
que seja do demônio aquilo que é condenardes, certamente sereis fi­
bom e de Deus. lhos de Cristo.” (Moroni 7:14-19;
grifo nosso.)
“Pois, meus irmãos, dado vos foi A luz destes e outros ensinamentos
julgar, a fim de que possais distin­ das escrituras, antigas e modernas,
guir o que é bom do que é mau; e a toda alma honesta que se familiari­
maneira de julgar, para que tenhais zar com os ensinos de Jesus e seus
um conhecimento perfeito, é tão cla­ profetas, saberá que as citadas práti­
ra como a luz do dia comparada cas corruptas são repreensíveis e
com as trevas da noite. abomináveis aos olhos de Deus, as­
“Porque eis que o Espírito de sim como todas as coisas discordan­
Cristo é concedido a todos os ho­ tes dos Dez Mandamentos, Sermão
mens, para que eles possam conhe­ da M ontanha e revelações m oder­
cer o que é bom e o que é mau; por­ nas.
tanto, eu vos estou ensinando o m o­ A segurança está em conhecer e
do de julgar; porque tudo o que inci­ seguir os ensinamentos de Jesus e
ta à prática do bem e persuade a seus profetas, e em discernir e aten­
crer em Cristo é enviado pelo poder der estritamente à orientação do Es­
e dom de Cristo; por conseguinte, pírito de Cristo que “dá luz a todo o
podeis perfeitamente saber que é de homem que vem ao mundo; e
Deus. (que)... alumia a todo o homem no
“Mas tudo quanto persuade o ho­ mundo que atende à sua voz.
mem ao mal e a não crer em Cristo, “(Pois)... todo aquele que atende
negando-o e não servindo a Deus, à voz do Espírito (evita qualquer
podeis considerar com certeza que é prática antinatural, ímpia e impura,
do demônio; pois é desta forma que e) vem a Deus, sim, o Pai.” (D&C
obra o demônio, não persuadindo 84:46-47.)
MAIO DE 1981 3
Como Obter
Revelação Pessoal
Élder Bruce R . M cConkie
do Q uorum dos Doze

u gostaria de falar a respeito de e sabedoria que têm sido derram a­


E algumas realidades espirituais e
certas coisas básicas que precisa­
dos sobre as pessoas fiéis de todos os
tempos.
mos fazer, a fim de operar nossa sal­ Como povo, costumamos dizer
vação (V. Filip. 2:12), sermos m em ­ que acreditamos em revelação mo­
bros dignos do reino de Deus nesta derna. Afirmamos que os céus se
vida e nos qualificarmos para nossa abriram, que Deus falou em nossos
recompensa eterna nas esferas vin­ dias, que anjos ministraram aos ho­
douras. Gostaria de falar sobre o re­ mens, que têm havido visões e reve­
cebimento de revelação pessoal, so­ lações, que não nos foi negado ne­
bre como todo membro da igreja po­ nhum dom possuído pelos antigos.
derá saber da divindade da obra, ter Usualmente, porém, quando as­
na alma e no coração os sussurros do sim falamos, estamos pensando em
Espírito, e mais ainda, ter visões, fa­ Joseph Smith, Brigham Young ou
lar com anjos, contemplar a face do Spencer W. Kimball, nos apóstolos e
Senhor e receber todo conhecimento profetas, e no fato de que a Igreja

4 A LIAH O N A
opera pelo princípio da revelação. velação, poderá saber exatamente
Bem, quanto a isto não há dúvi­ tudo o que o Presidente Kimball sa­
da: a organização a que pertence­ be, pode falar com anjos exatamente
mos é literalmente o reino do Se­ como Joseph Smith falou, e pode es­
nhor, destinado a preparar e quali­ tar em sintonia com todas as coisas
ficar-nos para entrar no reino celes­ espirituais.
tial, e esta Igreja é guiada por reve­ Diz o Profeta Joseph Smith:
lação. Tenho participado com os “A leitura das experiências alheias
apóstolos de diversas reuniões em ou as revelações dadas a outras pes­
que o profeta de Deus na terra de­ soas, jamais poderão dar-nos um en­
clarou humildemente e com fervoro­ tendimento de nosso estado e de nos­
so testemunho que o véu é tênue, sa verdadeira relação com Deus. O
que o Senhor guia e dirige os negó­ conhecimento dessas coisas se pode
cios da Igreja, que ela é a igreja dele obter tão somente pela experiência,
e ele está manifestando sua vontade. mediante as ordenanças que Deus
Existe inspiração à testa da Igreja estabeleceu para esse propósito. Se,
e ela está cumprindo seu propósito, por cinco minutos, pudésseis con­
progredindo de acordo com a vonta­ templar o que há nos céus, aprende-
de do Senhor, para que, tão rapida­ ríeis mais do que se lesseis tudo o que
mente quanto nossas forças o perm i­ já se escreveu sobre o assunto.” (En­
tirem, sua mensagem chegue aos sinamentos do Profeta Joseph Smith,
seus outros filhos espalhados pelo p. 316.)
mundo, e para que nós, como mem ­ Penso ser de nosso interesse obter
bros do reino, possamos purificar e revelação pessoal, conhecer pessoal­
aperfeiçoar nossa vida, tornando- mente o pensamento e a vontade do
nos merecedores das mais altas bên­ Senhor no que concerne a nossa pró­
çãos aqui e no além. pria pessoa, e receber confirmação
Todavia, a revelação não está res­ do que pensa e deseja para sua igre­
trita ao profeta de Deus na terra. As ja-
visões da eternidade não estão reser­ Existem dois tipos de conhecimen­
vadas às Autoridades Gerais. A reve­ to - intelectual e espiritual. Durante
lação é algo a ser recebido indivi­ os tempos escolares buscamos pri­
dualmente. Deus não faz acepção de mordialmente o conhecimento inte­
pessoas (V. D&C 1:35); toda alma é lectual, o qual é provavelmente ad­
tão preciosa aos olhos dele como a quirido pelo raciocínio e através dos
alma daqueles chamados para car­ sentidos. E um conhecimento extre­
gos de liderança. Como ele opera mamente importante e vital — in­
baseado em princípios eternos, na lei centivamos todos os que desejam
universal, toda pessoa que obedecer progredir na vida a aprim orar seu
à lei que lhe dá direito a receber re­ intelecto.
MAIO DE 1981 5
Entretanto, sugiro que devemos retidão e fidelidade pessoal. (V. 2
dedicar uma porção maior de nosso Cor. 5:17; D&C 33:15.)
tempo à busca do conhecimento es­ Agora afirmo que temos direito à
piritual. Com referência às realida­ revelação. Todo membro da Igreja
des espirituais, não se trata de ad­ tem direito a receber revelação do
quirir alguma coisa unicamente pela Espírito Santo; tem direito a visitas
razão ou através dos sentidos, mas de anjos; tem direito a visões da eter­
sim de revelação — de aprender co­ nidade; e tem direito a ver Deus exa­
mo obter conhecimento das coisas de tamente como qualquer profeta de
Deus, sintonizando nosso espírito co­ fato o viu.
mo o Espírito eterno de Deus. É as­ Pensamos em termos de profetas
sim que a revelação chega ao indiví­ predizendo o destino futuro, da Igre­
duo. ja e do mundo. O fato, porém, é que
Não me preocupa muito quando toda pessoa deveria ser profeta para
alguém avalia um problema doutri­ si própria e para os seus negócios.
nário ou da Igreja, seja qual for, se o É Moisés quem diz: “Oxalá que
fizer unicamente do ponto de vista todo o povo do Senhor fosse profeta,
intelectual. Qualquer coisa espiri­ que o Senhor lhe desse o seu
tual está em total e completo acordo espírito!” (Núm. 11:29.)
com as realidades intelectuais a que E diz Paulo: “... procurai com ze­
chegamos pela razão. Porém, com­ lo profetizar...” (I Cor. 14:39.)
parando o mérito relativo das duas, Eles recomendam que, como indi­
as mais importantes são as coisas es­ víduos, busquemos de todo o cora­
pirituais e não as intelectuais. As ção e com todas as nossas forças o
coisas de Deus conhecem-se apenas dom de profecia para os nossos as­
pelo Espírito de Deus. suntos pessoais.
É bem verdade que se pode arra- Gostaria de ler uns poucos trechos
zoar sobre questões doutrinárias, das revelações do Profeta Joseph
mas é impossível instilar religião na Smith que dão a fórmula para se vir
própria vida até sentir-se algo na al­ a conhecer as coisas de Deus pelo po­
ma, até haver uma m udança no co­ der do Espírito. Diz o Senhor: “... eu
ração, até tornar-se uma nova cria­ falarei à tua mente e ao teu coração
tura, uma criatura do Espírito San­ pelo Espírito Santo que virá sobre ti
to. Graças a Deus, todo membro da e habitará em teu coração.
Igreja tem oportunidade de assim “Agora, eis que este é o espírito de
fazer, porque, em virtude do batis­ revelação.” (D&C 8:2-3.)
mo, pode obter “o dom do Espírito Esta revelação fala de Espírito fa­
Santo”, que significa que tem direito lando a espírito — do Espírito Santo
à companhia constante deste m em ­ falando ao meu espírito, mas de m a­
bro da Deidade, dependendo de sua neira incompreensível à mente. T o­
6 A LIAH O N A
T
odo membro da Igreja poderá ter visões, falar
com anjos, contemplar a face do Senhor e
receber todo conhecimento e sabedoria que têm
sido derramados sobre as pessoas fiéis de todos os
tempos.
davia, é simples e claro para o enten­ narei, e pelo meu poder eu lhes farei
dimento espiritual — transmitindo conhecer os segredos da minha von­
conhecimento, dando inteligência, tade - sim, mesmo as coisas que o
verdade e certeza das coisas de Deus. olho não viu, nem ouvidos ouviram,
E isto se aplica a qualquer pessoa. nem ainda entraram no coração do
“Pelo seu Santo Espírito, sim, pelo hom em.” (D&C 76:5, 7, 10.)
inexprimível dom do Espírito Santo, Pois bem, eu afirmo que podemos
Deus vos dará conhecimento que falar com anjos, ter sonhos e visões,
não foi revelado desde a fundação contemplar a face do Senhor. Aqui
do mundo até agora; está uma promessa neste sentido:
“O qual os nossos antepassados “Em verdade, assim diz o Senhor:
com expectativa ansiosa esperaram Acontecerá que toda a alma que re­
fosse revelado nos últimos tem pos...” nunciar aos seus pecados e vier a
(D&C 121:26-27.) mim, e clamar ao meu nome, e
Eis uma passagem gloriosa, dirigi­ guardar os meus mandamentos, verá
da a toda alma vivente na Igreja. minha face e saberá que eu sou.”
Em outras palavras, uma promessa (D&C 93:1.)
de revelação pessoal. O Profeta afirmou que o véu po­
“Pois assim diz o Senhor — Eu, o deria abrir-se hoje ou outro dia
Senhor, sou misericordioso e afável qualquer, desde que nos reunísse­
para com aqueles que me temem, e mos como élderes do reino em fé e
me deleito em honrar aqueles que em retidão, estando qualificados pa­
me servem em retidão e verdade até ra as visões da eternidade. Eis a de­
o fim. claração de Joseph Smith: “A salva­
“E a eles (a cada um no reino de ção não pode vir sem revelação (e
Deus) revelarei todos os mistérios, não me refiro à revelação que trou­
sim, todos os mistérios ocultos do xe a dispensação em que vivemos —-
meu reino desde os dias antigos, e falo da revelação pessoal ao in­
por muitos séculos tornar-lhes-ei co­ divíduo); e de nada adianta uma pes­
nhecida a boa vontade do meu dese­ soa exercer seu ministério sem ela.
jo concernente a todas as coisas rela­ Homem algum pode ser ministro de
tivas ao meu reino. Jesus Cristo sem ser profeta. Nin­
“Pois pelo meu Espírito os ilumi­ guém pode ser ministro de Cristo, se
MAIO DE 1981 7
não tem o testemunho de Jesus; e o mente, ser despertados por uma cor­
testemunho de Jesus é o espírito de rente de idéias, de modo que,
profecia. Quando administramos a notando-o, vereis que se cumprem
salvação, o fazemos pelo testemu­ no mesmo dia ou pouco depois; (isto
nho. Os homens desta época testifi­ é) as coisas que o Espírito de Deus re­
cam do céu e do inferno, e jamais vi­ velou à vossa mente; e assim, por co­
ram um ou outro; e eu direi que nin­ nhecer e aceitar o Espírito de Deus,
guém sabe dessas coisas sem o espíri­ podereis crescer no princípio da re­
to de revelação.” (Ensinamentos, p. velação até que chegueis a ser perfei­
155.) tos em Cristo Jesus.” (Ensinamentos,
Nós temos direito à revelação. A pp. 146-47.)
revelação pessoal é básica para nossa As escrituras fazem muitas refe­
salvação, e as escrituras contêm m ui­ rências à revelação, assim como os
tas ilustrações disso. Eis o que Néfi profetas falaram muito a respeito.
registrou: Para nós, significa que precisamos
“Se não endurecerdes vossos cora­ de experiência religiosa, de um re­
ções e se pedirdes com fé, acreditan­ lacionamento pessoal com Deus.
do que sereis atendidos e guardando Precisamos fazer o que dizia o Profe­
diligentemente os meus m andam en­ ta Joseph Smith: “Contemplar inten­
tos, certamente estas coisas vos serão samente os céus por cinco minutos.”
dadas a conhecer.” (I Néfi 15:11.) Religião é introduzir o Espirito
O Livro de Mórmon fala de mis­ Santo na vida de uma pessoa. Nós
sionários de muito sucesso, os filhos precisamos estudar, é lógico, e ava­
de Mosiah: liar. E em virtude désse estudo, con­
"... eram homens de inteligência seguimos certo estado de espírito que
sã e haviam examinado diligente­ nos permite buscar as coisas do Espí­
mente as escrituras para poder co­ rito, e acabamos tendo a alma toca­
nhecer a palavra de Deus. da pelo Espírito de Deus.
“E não só isso; tinham-se entrega­ Gostariam de uma fórmula para
do a muitas orações e jejuns; por is­ obter revelação pessoal? Ela pode ser
so, tinham o espírito de profecia e de explicada de várias maneiras. A m i­
revelação, e quando ensinavam, nha é simples:
faziam-no com o poder e autoridade
de Deus.” (Alma 17:2-3.) 1. Examinar as escrituras.
Quero citar mais uma passagem, 2. Guardar os mandamentos.
desta vez do Profeta Joseph Smith: 3. Pedir com fé.
“Uma pessoa poderá beneficiar- Qualquer pessoa que o fizer, aca­
se, se percebe o primeiro embate do bará com o coração tão sintonizado
espírito de revelação. Por exemplo, com o Senhor, que a “voz mansa e
quando sentis que a inteligência pu­ delicada” lhe revelará os princípios
ra flui para vós, podereis repentina­ eternos da religião. E à medida que
A LIAHONA
progride e se achega mais a Deus, mos revelações. Eu recebi a revela­
chegará o dia em que falará com an­ ção de que esta obra é verdadeira, e
jos, terá visões e finalmente contem­ assim o sei. Atesto, independente­
plará a face de Deus. mente de qualquer estudo e pesqui­
Religião é uma coisa espiritual. sa; sei, porque o Santo Espírito falou
Lancem mão de toda a sua intelec­ ao meu espírito e deu-me o testemu­
tualidade para ajudá-los; porém, em nho. Por isso, posso ocupar a posição
última análise, terão de estar em sin­ de administrador legal e dizer em
tonia com o Senhor. verdade que Jesus Cristo é o Filho de
A primeira grande revelação que Deus, que Joseph Smith é seu profe­
a pessoa precisa conseguir é saber da ta, que Spencer W. Kimball é o pro­
divindade da Igreja. Nós a cham a­ feta atual, que A Igreja de Jesus
mos testemunho. Quando a pessoa Cristo dos Santos dos Últimos Dias é
consegue um testemunho, ela com a única igreja verdadeira e viva na
isso aprendeu a como colocar-se em face de toda a terra.
sintonia com o Espírito e obter reve­ E mais ainda, em conexão com o
lação. Colocando-se em sintonia, ela assunto de que estamos tratando,
pode obter conhecimento para posso testificar que toda alma viven-
orientá-la em seus negócios particu­ te que obedecer às leis de Deus, exa­
lares. Depois, desfrutando esse dom minar as escrituras, guardar os m an­
e nele progredindo, conseguirá todas damentos e pedir com fé, pode rece­
as revelações da eternidade que o ber revelação pessoal do Todo-
profeta e todos os outros profetas re­ poderoso para a grande glória e sa­
ceberam em todas as épocas. tisfação de sua alma aqui e salvação
Até certo ponto, todos nós recebe­ final nas moradas do alto.
O TRABALHO
Aquele que faz sua tarefa dia após dia,
Enfrentando tudo o que lhe aparece no caminho
Encontra em sua estrada alegria
E tem em Deus um amigo.
Aquele que se conserva vigilante,
zelando pelas coisas de Deus,
torna-se de pequeno, grande
e eleva-se da terra aos céus.
Aquele que trabalha com todas as suas forças
Tendo para com Deus lealdade,
verá realizadas as suas esperanças,
e não morrerá em dívida com a humanidade.
MAIO DE 1981
A n ô n im o 9
Esperei Quarenta
Anos pelo Batismo
Bessie Leeper Yoakum

A
o casar-me com dezoito anos, e procurei na Bíblia todas as passa­
tinha lido a Bíblia de capa a gens que se referiam ao Livro de
capa, bem como freqüentado Mórmon. Em seguida, escrevi à sede
diversas igrejas — sem encontrardao Igreja, na Cidade de Lago Salga­
que procurava em nenhuma delas. do, pedindo um Livro de Mórmon, o
Eu estudava as escrituras diariam en­ qual recebi além de mais folhetos.
te; jejuava um dia por semana e pro­ Quando tinha lido mais ou menos
curava viver os princípios ensinados um terço do Livro de Mórmon, já sa­
pelo Salvador. E orava regularmente bia que ele era verdadeiro. Eu en­
ao Senhor, pedindo que alguém me contrara a igreja verdadeira! Sabia
trouxesse o evangelho verdadeiro. que Jesus Cristo vivia e era realmente
Certo dia de 1920, quando meus o Filho de Deus! Meu primeiro im­
quatro filhos ainda eram pequenos, pulso foi contar a todo o mundo.
um garoto trouxe-me um exemplar Mas, quando dei o Livro de Mór­
do folheto Regras de Fé que missio­ mon à m inha cunhada, ela não se
nários haviam deixado num a escola interessou; pior ainda, ela ouvira e
da vizinhança. Disse-me ainda que acreditara em algumas coisas negati­
os missionários realizariam uma reu­ vas a respeito da Igreja.
nião naquela noite. Como meu m a­ Quando falou com meu marido,
rido não estava interessado, não fo­ ele juntou e queimou todos os meus
mos à reunião, mas estudei o folheto folhetos, proibindo-me de criar nos­
10 A LIAHONA
sos filhos nessa religião. Transtorna­ — durante os quais não tive nenhum
da com o fato de ver-me tolhida ante contato com a Igreja. Ainda assim,
o que há tanto almejara, escrevi à se­ sentia-me constantemente grata ao
de da Igreja expondo o meu proble­ Pai Celestial por dar-me oportuni­
ma. Aconselharam-me a esperar dade de fazer alguma coisa pelos en­
vivendo cada dia o melhor que pu­ tes queridos já mortos, e continuei
desse, e um dia eu teria condições de dedicando-me a essa obra com m ui­
me batizar. Os missionários não po­ ta satisfação. ••ni-sni-?.
diam batizar uma mulher sem o con­ Senti-me grata, também, quando
sentimento do marido. em 1945, meus três filhòs mãifc' ve­
Continuei a ler o Livro de Mór­ lhos voltaram em segurança‘-dá II
mon e tudo o mais que conseguia en­ Guerra Mundial. Pouco depois, pti-
contrar, tanto a favor como contra a rém, quando eles e Robert I.ee, ’tfwü
Igreja. E meu testemunho foi cres­ filho de dezesseis anos, ajudaVláfti’!b
cendo. Então nossa casa pegou fogo, pai a consertar uma casa, Ròbert
perdi o meu Livro de Mórmon e não Lee morreu eletrocutado. Naqüelà
podia encomendar outro. Mas, noite, ali deitada pensando há'tragé­
quando reconstruímos nossa casa e dia, fiquei a me pergHntar: "O que
uma de minhas primeiras compras aconteceu com a minha fé? Eu tiriha
foi uma Bíblia, mamãe comentou: fé em que nada aconteceria à minha
“Você nunca perde a esperança, não família — e ali estava Robert deita­
é?” do no esquife.”
Meu contato seguinte com a Igre­ E uma voz respondeu clara e cal­
ja deu-se em 1940, quando já tínha­ mamente: “Robert Lee está bem, es­
mos seis filhos, e fui visitar minha ir­ tá em segurança.”
mã em Waco, Texas, distante uns Então dei-me conta de que, em ­
cento e trinta quilômetros. Ela bora o Pai Celeste nem sempre aten­
falou-me de uma amiga sua que era da às nossas preces como queremos,
SUD. Por meio dela, pude compare­ ele as responde. Meu testemunho
cer à reunião da Escola Dominical e voltou a ser fortalecido.
sacramental no pequeno ramo de Em 1963, meu marido adoeceu e
Waco. Ganhei outro Livro de Mór­ durante dois anos ficou entrando e
mon de uma missionária e encontrei saindo do hospital. Um dia, reno­
coragem de falar do evangelho com vando minha coragem, perguntei-
minhas filhas, agora já casadas e lhe por que não lia o Livro de Mór­
com filhos. mon para descobrir por si mesmo se
Nessa época, tive também meu era verdadeiro ou não. Sua resposta
primeiro contato com a obra genea­ foi imediata:
lógica, e foi ela que sustentou meu Sei tudo o que quero saber.
testemunho nos vinte anos seguintes Mas eu fiquei firme e respondi:
MAIO DE 1981
— Não, você sabe apenas o que morrendo, mas espero que tenhamos
outros lhe disseram. Ele é o evange­ a oportunidade de aprender o evan­
lho para o continente americano, gelho depois de partirmos daqui...
exatamente como a Bíblia foi para o Incapaz de falar, só consegui orar
Oriente, e fala das grandes calami­ em silêncio, profundamente grata
dades sofridas por este continente por, finalmente, ele ouvir a respeito
por causa da iniqüidade. do evangelho restaurado.
Finalmente, ele disse: — Bem, su­ Um mês depois da morte de meu
ponho que não haja diferença entre marido, fui batizada. Um ano mais
os dois livros. tarde, fui à Cidade do Lago Salgado
Mas ele nunca o leu e eu também para ser selada ao meu marido no
não voltei a insistir. Quando ele templo, e nosso filho, Robert Lee,
adoeceu novamente, voltamos ao ser selado a nós. Quase todos os
hospital e certa noite ele entrou em meus outros filhos se haviam filiado
coma. Por volta das cinco da m adru­ a outras igrejas antes de eu poder
gada, ele recobrou a consciência, falar-lhes sobre o evangelho restau­
apertou minha mão e perguntou: rado.
— Está vendo a mulher sentada aos Quando fui batizada em 1965, eu
pés da minha cama? tinha sessenta e nove anos, uns qua­
— Não estou vendo, não. renta anos depois de obter um teste­
A seguir indagou: — Posso falar munho do evangelho, mas esse teste­
com toda essa gente? munho jamais vacilou. Fé, orações e
Pensando que estivesse vendo pa­ estudo constante do evangelho
rentes e amigos já falecidos, presen­ ajudaram-me a mantê-lo vivo. Eu
tes para dar-lhe as boas-vindas no sabia ter encontrado o evangelho
mundo espiritual, respondi afirm ati­ verdadeiro — e hoje testifico fervo­
vamente, pois sabia que poderia de­ rosamente que Jesus Cristo é o Salva­
pois de morto. dor do mundo e o cabeça desta Igre­
Então ele disse: — Acho que estou ja.

12 A LIAHONA
D
avi, professor universitário, es­ que acontecera e o que poderia sig­
tava com a esposa no hospital nificar em suas vidas.
quando esta faleceu. Sua Nos dias subseqüentes, as crianças
falaram de suas ansiedades ao pai e
doença fora breve e a morte inespe­
rada. A despeito de sua grande tris­ outros familiares. Como as pessoas
teza e dor, a preocupação imediata da família aceitaram o fato com se­
foram os sete filhos pequenos. Como renidade e fé, as crianças também se
o hospital ficava um pouco longe de conformaram com a morte da mãe,
casa, Davi telefonou a um ex-bispo, sabendo que seu espírito continuava
pedindo-lhe que desse a notícia ao vivo e algum dia ressuscitaria. Sa­
resto da família. O amigo assim fez biam que voltariam a estar juntos, e
e, guiado pelo evangelho, contou às que o amor e cuidado que ela lhes
crianças, simples e calmamente, o devotava, não haviam cessado. Eles

Como
Explicar
a Morte
a Crianças
Jon M. Taylor

MAIO DE 1981 13
claramente consideravam a situação gistros familiares e pessoais, confir­
como temporária. maram a fé em que voltariam a estar
Histórias semelhantes a este caso com a mãe.
verídico são contadas por muitas fa­ 2. A elucidação acimá menciona­
mílias que perderam um ente queri­ da ajuda a evitar explicações capazes
do. .Poucas situações trazem maior de confundir a maneira como as
apçeço pela esperança que o evange­ crianças encaram os vivos, ou criar
lho nos dá. Os ensinos do evangelho temores desnecessários. Caso se diga
restaurado são uma bênção inesti­ a uma criança que a irmã “foi leva­
mável nessas ocasiões. da por ser muito boa para esta
Durante minha missão, conhecia vida”, ela poderá pensar que os vivos
numa cidade do Meio-Oeste ameri­ não prestam. Quando se diz que o
cano uma família com treze filhos. vovô está “apenas dormindo”, a
Embora já fossem adultos e não mo­ criança pode ficar com medo de ir
rassem em casa, era uma família para a cama.
muito unida e afetuosa. Dez dos fi­ 3. Descobri que a compostura dos
lhos vivos moravam num raio de dois adultos influencia a criança. Se os
quarteirões da casa da mãe. Quando pais encaram a morte como inevitá­
esta faleceu, os filhos, acabrunha­ vel mas não final, a criança também
dos, pediram-nos que lhes explicás­ o fará. Um pai ou mãe acabrunhado
semos o plano de salvação. Durante demais para conversar na hora com
nossa conversa, a aflição foi substi­ a criança, deve deixar outros fam i­
tuída por interesse e, finalmente, liares ou amigos falarem com ela até
por gratidão ao Senhor. que consiga controlar-se.
A verdade revelada nos dá força e Todavia, é preciso externar a dor,
esperança; ainda assim, a perda de a tristeza. Certa mãe ficou tão arra­
um membro querido da família é sada com a morte do esposo, que pe­
uma época de tristeza e dificuldade diu a uma tia que conversasse com
emocional. Quando minha mulher suas filhas. As duas meninas recebe­
morreu, deixando-me com duas ram a notícia como que petrificadas.
crianças em idade pré-escolar, bus­ Pareciam querer afastar-se da tia
quei diretrizes que ajudassem meus que continha estoicamente as iágri-
filhos a aceitarem a sua ausência. Eis mas enquanto falava. Quando, fi­
um pouco do que aprendi: nalmente, se pôs a chorar, as garotas
1. Convêm ensinar às crianças, de a abraçaram e choraram com ela. E
modo simples, os conceitos da exis­ a dor foi desabafada e atenuada. Se
tência pré-mortal, mundo espiritual os pais demonstram e compartilham
e ressurreição. A lembrança do sela- suas emoções, as crianças dão-se con­
mento no templo deu aos nossos fi­ ta de que a dor e o pesar são naturais
lhos a certeza de que nossa família, e necessários.
no fim, estaria reunida. Casos edifi­ 4. O melhor meio, talvez, que en­
cantes da história da Igreja e dos re­ contrei para aliviar a ansiedade de
14 A LIAHONA
meus filhos, foi deixá-los desabafar. meios de preparar as crianças antes
Se a criança quiser chorar, deixe-a que, de fato, cheguem a perder um
chorar. Se tiver sentimentos de cul­ parente póximo. A noite familiar é
pa, deixe-a falar livremente. Q uan­ uma excelente oportunidade para
do a criança perde um dos pais, ela um debate franco a respeito da m or­
pode querer saber que o remanes­ te, assim como o falecimento de um
cente ainda a ama e não vai amigo ou parente mais distante.
abandoná-la. Confirmações simples, Comparecer a um funeral pode aju­
sinceras, satisfazem a criança. dar crianças maiores a apreciar e en­
5. Aprendi que, embora fosse im ­ frentar a morte. Contudo, não con­
portante o que eu dizia, as mensa­ vém levar crianças menores (abaixo
gens não-verbais eram mais im por­ de sete anos) a funerais.
tantes. Tom de voz sincero, abraços Até mesmo a morte de animais
carinhosos e uma atitude afetuosa pode ser instrutiva. Certa vez, meu
conseguem comunicar sentimentos filho Jonathan trouxe para casa uma
mais profundos. cobra morta. Havia enfaixado sua
6. A criança precisa ser distraída, cauda partida, tentando revivê-la.
participar de atividades de que gos­ Foi preciso muita persuasão para
ta, tais como natação, campismo ou convencê-lo de que nem todas as
esportes. A convivência com paren­ bandagens do mundo conseguiriam
tes e amigos é particularmente pro­ trazê-la de volta à vida.
veitosa. Um bichinho de estimação Uma vez que aceite a perda de um
também dá muito consolo e é uma ente querido, a criança é capaz de
válvula segura para expressar senti­ nos assombrar com sua fé e capaci­
mentos. dade de recuperar-se rapidamente.
7. É proveitoso também cultivar a Após a morte de minha mulher, Ce-
memória da pessoa falecida. Embo­ lende, nossa filhinha que não tem
ra desejando que a criança aceite a papas na língua, assumiu o papel da
morte de um dos pais, não queremos “patroa”. Aos vendedores e outras
que se esqueça dele. Admirando fo­ pessoas que perguntavam pela mãe,
tografias da família ou fazendo per­ ela respondia: “Mamãe não está. Ela
guntas, ela desenvolverá apreço e foi pro céu.” Sua franqueza deixou
compreensão pelo pai ou mãe ausen­ muita gente perplexa.
te.
8. Se a ansiedade, sentimento de E confortador observar a capaci­
culpa ou apatia da criança persistir, dade infantil de absorver uma per­
é preciso recorrer à ajuda profissio­ da. Entretanto, a criança precisa
nal — porém deve ser alguém capaz sentir-se amada e receber apoio
de explicar esses conceitos segundo o emocional. Como em tudo na vida,
evangelho. o evangelho de Jesus Cristo fornece a
Essas sugestões são úteis em caso segurança, a esperança de restitui­
de morte, mas também existem ção e da vida eterna.
MAIO DE 1981 15
Falemos

Algumas Sugestões
para Debates
em Família
A s noites familiares de segunda-
feira têm bastante sucesso em nossa
família o manual nos fornece a

16 A LIAHONA
orientação bãsica. Porém, às vezes mais tempo para a família aos do­
torna-se difícil realizar um debate mingos. As famílias são incentivadas
proveitoso durante a noite familiar a usar parte desse tempo livre para o
ou outros períodos de estudo." estudo em conjunto das escrituras —
“Não há dificuldade para nossa além da noite familiar regular nas
família divertir-se junta. Mas, quan­ segundas-feiras. Como no manual
do chega a hora de debater o evan­ de noite familiar não existem lições
gelho, parece que repentinamente suficientes para todas essas reuniões
ninguém mais sabe abrir a boca.” suplementares, onde a família pode­
Em sua família o problema é se­ rá conseguir material?
melhante? Obviamente, as escrituras devem
Um dos benefícios do programa ser a fonte principal. E as revistas da
de reuniões combinadas é restar Igreja são igualmente proveitosas.
Muitos dos artigos da A Liahona,
por exemplo, prestam-se muito bem
para troca de idéias - as mensagens
da Primeira Presidência, os discur­
sos de conferência e outros artigos
sobre a família, casamento, necessi­
dades individuais, programas e cur­
rículo da Igreja, aplicação do evan­
gelho no cotidiano, experiências ins-
piradoras de santos contemporâneos
etc.
Depois de ler um artigo indivi­
dualmente ou em família, procurem
debatê-lo e fazer perguntas a respei­
to. No caso de crianças maiores, evi­
tem perguntas simples que podem
ser respondidas com “sim” ou “não”
- substituindo-as por perguntas que
requeiram raciocínio e análise. O
“debate” pode ser a hora em que a
família conversa francamente sobre
determinado problema ou assunto.
Juntos, os familiares fornecem e pro­
curam informes e opiniões, fazem
perguntas, analisam idéias, dão su­
gestões e, às vezes, chegam a conclu­
sões conjuntas.
Como Conduzir um Debate
MAIO DE 1981 17
Mas, como começar? O que se de­ a família entenda claramente o obje­
ve ter em mente ao conduzir um de­ tivo do debate. Não deixem que a
bate? Os nove pontos a seguir (adap­ introdução consuma todo.o tempo.
tado de How to LeacL a Discussion: 3. Depois de ler ou recapitular o
Some Practical Suggestions for Dis­ artigo que pretendem debater, pas­
cussion Leaders, elaborado para a sem para as maneiras de aplicá-lo a
Conferência de Junho de 1973 pela sua família. Por exemplo, vocês po­
AMM do Sacerdócio de Melquisede- deriam trocar idéias sobre a perso­
que), são bastante úteis para se con­ nagem central do artigo: O que fez?
duzir um debate familiar: Que proveito tirou da experiência?
1. Criar uma atmosfera propícia. De que forma modificou sua atitu­
Todos os presentes devem sentir-se à de? O que teriam feito no lugar de­
vontade para contribuir, com parti­ la? Teriam reagido do mesmo jeito?
lhar idéias, raciocinar em voz alta Ou poderiam debater uma situa­
com o grupo — sem medo de serem ção do artigo: Por que isto aconte­
ridicularizados. Ajude os familiares ceu assim? Quais as outras soluções
a compreenderem que é bom que viáveis? O que poderíamos fazer p a­
nem todos pensem da mesma forma ra causar — ou evitar — situação
e que os pontos de vista individuais idêntica em nossa família?
são importantes. Começar com um Ou poderiam debater a reação da
hino e oração, e acomodação con­ família para com o artigo: O que
fortável (de preferência em círculo) pensam do artigo em pauta? Que di­
são pontos proveitosos. Não insista ferença pode fazer em nossa vida ou
em que a pessoa deva levantar a mão nossa família? Que lição podemos ti­
quando deseja falar, nem respeite rar dele?
uma seqüência rígida. M antenha Ou procurem discutir uma idéia
uma atmosfera iivre e informal. do artigo: Vocês concordam com a
2. Iniciar com criatividade. explicação dada pelo autor sobre a
Quando forem debater uma escritu­ fé? Como vocês a definiriam? Que
ra, artigo ou discurso de A Liahona, experiências pessoais os levaram a
vocês poderiam ler em conjunto ou tal conclusão?
designar determinados familiares a Como líderes de debate, vocês não
lerem-no a sós, primeiro. Experi­ precisam propor todas as questões.
mentem outras maneiras de iniciar Peçam aos outros que contribuam.
um debate — analogias, histórias, Incentive-os a comentar o que sen­
perguntas interessantes, exemplos tem a respeito do artigo ou debate.
do artigo, jogos, questionários ou 4. M anter o debate focalizado
outros materiais da biblioteca da ca­ num só tópico. Cabe a vocês evitar,
pela (como filmes, gravações, m a­ com firmeza e bondade, digressões
pas, gravuras). Cuidem de que os re­ demasiadas do tópico em pauta. En­
cursos motivadores levem direta­ tretanto, não se preocupem se os fa­
mente ao tópico a ser debatido e que miliares não dizem exatamente o
18 A LIAHONA
que vocês diriam, ou se o debate to­ si mesmos ou aos familiares se todos
ma um rumo diferente ao planeja­ tiveram vontade de participar e co­
do. Permita que os outros abordem mo melhorar o próximo.
o assunto à maneira deles. Participação em Debate
5. Ouvir todos os comentários com Eis algumas sugestões para os par­
atenção. Procurem entender igual­ ticipantes;
mente o sentido oculto de cada co­ (1) Aceitem a responsabilidade de
mentário — e incentivem os outros a compartilhar suas idéias, de respon­
fazer o mesmo. Dessa m aneira, os fa­ der a perguntas.
miliares — particularmente as crian­ (2) Façam perguntas elucidado-
ças menores — perceberão que o que ras; se vocês estão confusos, outros
têm a dizer é realmente importante, provavelmente estão também.
predispondo-as a dizer o que pen­ (3) Não procurem preencher to­
sam. das as pausas entre os comentários.
6. Incentivar a participação de to­ (4) Escutem os outros com aten­
dos. Não permitam que uma ou ção, em lugar de ficarem pensando
duas pessoas monopolizem o debate. unicamente no que pretendem di­
Mostrem-se sensíveis aos membros zer.
da família que se deixam intimidar (5) Dirijam seus comentários à fa­
pelos comentários ou personalidades mília inteira, não apenas ao líder de
mais eloqüentes, incentivando-os a debate ou outra pessoa.
expor seus pontos de vista. Dêem a (6) Não tomem o tempo todo com
todos oportunidade de falar. comentários demasiadamente lon­
7. Evitar mostrar-se muito dom i­ gos.
nante. Não pensem que precisam (7) Permitam que os outros te­
conhecer todas as respostas ou expli­ nham seus próprios pontos de vista,
car cada comentário. Devolvam as mesmo que divirjam dos seus. Evi­
perguntas ao grupo ou peçam que tem contendas; conservem a calma.
outros exponham idéias, soluções ou Caso se julguem obrigados a discor­
façam comentários. Geralmente, dar, façam-no com delicadeza, bon­
quanto mais o líder do debate se in­ dade e consideração.
tegrar no grupo, maior será a parti­ (8) Ajudem a família a tirar con­
cipação de seus componentes. clusões apropriadas no final do de­
bate.
8. Fazer um resumo do debate, no Acima de tudo, os membros da fa­
final. Façam-no pessoalmente ou de­ mília devem lembrar-se de que o
signem outra pessoa. Não repitam propósito do debate é uni-los mais
simplesmente tudo o que foi dito; como família, aprender mais algu­
procurem analisar. Perguntem à fa­ ma coisa sobre o evangelho, ajudar a
mília se o sumário representou ra­ fortalecer a fé e o compromisso — e
zoavelmente o que pensam. m anter abertos os canais de comuni­
9. Avaliar o debate. Perguntem a cação familiar.
MAIO DE 1981 19
Ethel
Susan H . Aylw orth

Como estudante universitária, passei algum tempo servindo no


programa da Mútuo de uma escola estadual para excepcional em
American Fork, Utah. Logo aprendi a aceitar e amar aquela gente.
Eram pessoas extraordinárias, cuja espiritualidade transcendia suas
deficiências físicas e mentais.
Exceto Ethel — vítima de grave paralisia cerebral. Eu achava ex­
tremamente difícil trabalhar com ela ou mesmo na presença dela.
Minha piedade — e repulsa — eram simplesmente grandes demais.
Ela precisava ser amarrada pelos pés e mãos a uma armação de me­
tal para impedir que se machucasse. Contaram- me que tinha boa
inteligência, mas o pessoal da escola levara quase quarenta anos pa­
ra chegar a conclusão de que havia uma inteligência aprisionada
naquele corpo cruelmente aleijado. Finalmente conseguiram
ensiná- la a falar, embora eu não conseguisse entendê- la. Eu imagi­
nava por que o Senhor a deixava viver, forçando- a a continuar uma
existência obviamente miserável.
Um dia participei, por acaso, de uma reunião de jejum e teste­
munho na escola. Já no fim da reunião, Ethel quis falar. Imaginei
por que a deixavam falar, se ninguém a entendia. Então Ethel falou
de modo que até eu consegui entender, dizendo:
— Eu amo a vida!
Enquanto ainda prendia a respiração, assombrada, ela acrescen­
tou: — E amo meu Pai Celestial!
Baixei a cabeça e chorei.
Quando Ethel terminou seu testemunho, todos cantaram o hino
que logo se tornara seu predileto: “Sou um filho de Deus, por ele es­
tou aqui... ” Sempre que o ouço, desde aí, lembro- me de Ethel e da
bela lição que me ensinou.

20 A LIAHONA
Mil e Quinhentos
Quilômetros... Descalço
H al K night
Redator do Church News

odos os anos, os m órm ons do


T m undo inteiro prestam um trib u ­
to a um a parcela especial da sua
herança — aos pioneiros que atravessa­
ram as planícies até U tah, entre 1847 e
a chegada da estrada de ferro, em 1869.
Estima-se que setenta mil homens, m u ­
lheres e crianças desafiaram a exte­
nuante jornada naqueles anos.
Eles chegavam de muitos lugares e
países, em carroções cobertos ou a pé,
impelidos por perseguições e pelo espíri­
to de coligação. O desejo de viverem
junto aos de sua fé e construírem um a
vida m elhor no reino tem poral de Deus,
bem como no reino espiritual.
Cada pessoa que fez a extenuante jor
nada tinha sua própria história. A
riência era igual, mas os detalhes, a pes
soa e sua reação diante do desafio
tornavam -na diferente.

MAIO DE 1981
cava mais que sobrevivência num am ­
biente hostil. Era um a jornada repleta
de sentido.
Ele se descreve, na época da jornada,
como garoto atarracado de nariz arrebi­
tado, um a falha nos dentes da frente,
cabelos descoloridos cortados rente à ca­
beça e roupas em frangalhos. Era um
garoto traquina e curioso. Alguns de
J seus problem as na viagem deveram-se a
B. H. Roberts, que m ais tarde viria a sua desobediência a regras.
ser renom ado historiador da Igreja, foi Por haver perdido os sapatos logo no
um dos que se arrastaram pelas planícies início da viagem, teve de andar mil e
desoladas. Era então um garoto de dez quinhentos quilôm etros descalço. Os
anos, fazendo a longa jornada com sua pês feridos, rachados e sangrando foram
irm ã Polly, que m al tinha dezesseis. F a­ a mais vivida lem brança de toda a jo r­
ziam parte de um a com panhia de tre­ nada durante anos. Além das noites ge­
zentas e setenta e cinco pessoas que p a r­ ladas.
tiu do fim da linha férrea em N ebraska, Os índios eram um a am eaça. Os
perto de Council Bluffs. Eles partiram adultos contavam casos e mais casos de
no dia 13 de julho de 1866. A m ãe, que desaparecim entos, tortura e resgate de
não viam havia quatro anos, os esperava crianças, adm oestando-as a ficarem
no Vale do Lago Salgado, sem saber ao perto dos carroções. Mas essas histórias
certo onde se encontravam . não bastavam para induzir B. H. R o­
A jornada levaria dois meses. Como berts (conhecido então como Harry) a
todos os carroções estavam carregados ter cuidado.
com m antim entos, todos, inclusive Ele e outro garoto de sua idade esta­
crianças, foram obrigados a cam inhar vam colhendo groselhas perto do Rio
os mil e quinhentos quilôm etros. Uma Platte, quando de repente se deram
pessoa adoeceu e m orreu durante a via­ conta de que o últim o carroção sumia
gem. E houve problem as com os índios. de vista. Partiram em m archa acelera­
Na m aior parte, porém , a longa jo rn a­ da, porém sem correr, para não derru ­
da resumia-se sim plesm ente em canseira bar nenhum a groselha que levavam no
diária, frio, desânim o e até mesmo fo­ chapéu. No alto de um a colina deram
me. de cara com três índios m ontados. Em ­
Roberts, entretanto, sempre conside­ bora aquela visão causasse “magnificen-
rou a travessia das planícies não como te terro r”, os rapazes continuaram an ­
um a provação ou sofrim ento, mas um dando com os olhos pregados nos indí­
esforço organizado que envolvia um a genas, que continuaram silenciosos e
prova e purificação dos santos. Signifi­ impassíveis.
Estes trechos das m em órias de R oberts foram extraídos do livro “D efender of the F aith, T h e B. H . R o­
berts Story", de autoria de T ru m a n G. M adsen, editado por Bookcraft Inc. Usado com perm issão.

22 A LIAH O N A
Justam ente quando H arry chegou entrou no rio a cavalo e o rebocou até a
perto de um dos índios m jntados, este m argem , onde recebeu um a surra que
soltou um “grito agudo e selvagem”. suportou sem um pio sequer. “Estava
L argando chapéus e groselhas, os garo­ contente de ter-m e livrado da enrasca­
tos saíram em disparada, arriscando d a .” A irm ã, Polly, ficara desesperada
apenas um olhar para trás, enquanto com sua ausência. A perda do paletó e
corriam quanto podiam . Os índios sapatos foi um problem a sério. Todas as
contorciam -se, rindo a valer. noites desejava ter o paletó e todos os
D urante muitos dias depois disso, dias — o dia inteiro — lam entava a fal­
H arry obedeceu às regras do acam pa­ ta dos sapatos.
m ento, mas infelizm ente essa docilidade H arry, assim como os outros homens
não durou. e rapazes, dorm ia à noite no chão duro
Um dia, entusiasm ado com a prevista debaixo ou ao lado de um carroção. A
travessia de um rio, H arry saiu sorratei­ despeito de ainda ser verão, as noites
ram ente do acam pam ento ainda de m a­ eram bastante frias. Polly, que dorm ia
drugada, pensando que o rio ficasse a no carroção com outras m ulheres e m o­
uns dois ou três quilômetros. Todavia, o ças, passava-lhe sua anágua no escuro,
rio ficava bem mais longe e jã era meio- mas isto pouco agasalhava contra o
dia quando o alcançou. Exausto e com chão úm ido e frio. H arry não tinha co­
os pés m achucados, tirou os sapatos e bertor, só as roupas que usava dia e noi­
adorm eceu debaixo de uns salgueiros. O te.
sono foi tão profundo, que nem sequer No W yoming, ele certa vez juntou
ouviu a caravana passar. excrem ento seco de búfalo e fez um a fo­
O últim o carroção já cruzara o rio e gueira para se aquecer. Foi a noite mais
estava desaparecendo entre as árvores aquecida em m uitas semanas, mas antes
da m argem oposta, quando H arry acor­ do am anhecer acordou coberto de um a
dou e saiu correndo, gritando e agitan­ fina cam ada de neve.
do os braços. M andaram que atravessas­ Não tendo mais sapatos, H arry sim ­
se o rio a nado. A rrancou o paletó e sa- plesm ente teve de cam inhar quase mil e
patões e caiu na água. Já vencera três quinhentos quilôm etros descalço. Os
quartos de distância, quando suas for­ pés acabaram cheios de gretas, cortes e
ças falharam . O capitão da com panhia crestados pelo sol e pó, deixando rastros
de sangue por onde passava. Era época
de os cactos darem frutos, os quais ele
colhia levado pela fome, m achucando
ainda mais os pés feridos. T oda noite
Polly ficava arrancando os espinhos en ­
quanto os dois choravam — ele de dor e
ela de com paixão. Na m anhã seguinte,
lá ia ele de novo.
Q uando não aguentava mais andar,
H arry procurava meter-se sorrateira­
23
m ente num carroção. Q^uando era pego,
apanhava. Mas o capitão acabou encon­
trando um a form a de ajudar o “coitadi­
nho”. Nos trajetos mais longos, dava
permissão a Polly para lavar as roupas
do rapaz que então tinha pretexto de fi­
car “escondido” num carroção, aprovei­
tando a carona, enquanto suas roupas pés, provocando risos de todo m undo.
secavam. Como não havia meios de rem over o me­
laço, teve de agüentá-lo “até que a poei­
Ao cruzarem um rio, ele viu um a g a­ ra e o sol m inoraram um pouco o incô­
rota esconder-se num carroção para evi­ m odo”.
tar ter de vadeá-lo, e resolveu im itá-la. Por causa dos piolhos que pegou na
Mas o carroção acabou encalhando viagem de navio da Inglaterra, o cabelo
num banco de areia e foi deixado ali de H arry fora raspado rente. N um a p a ­
mesmo durante a noite com os dois jo ­ rada perto de um acam pam ento ín ­
vens. Foi nessa noite que H arry perdeu dio no W yoming, ele foi atraído pela
seu mais precioso tesouro — um canive­ prim eira cerim ônia de cachim bo da paz
te de quatro lâm inas que com prara na que via. Mas ele próprio virou um a es­
Inglaterra como presente para sua m ãe. pécie de curiosidade, e saiu correndo de
Caiu no Rio Platte, “perdido para sem ­ m edo, quando um deles, pondo a mão
pre”. E Polly passou mais um a noite an- sobre sua cabeça, gritou: “N ada de es­
gustiosa, preocupada com a ausência do calpo”.
irmão. Chegando ao Vale do Lago Salgado,
Os sacos de açúcar costum avam ficar a com panhia acam pou logo à saída do
m olhados nas travessias de rio e depois desfiladeiro. Aos primeiros sinais do
iam pingando m elado pelo cam inho. am anhecer no dia seguinte, eles saíram
H arry e outras crianças deitavam -se de­ em parada, tendo H arry à frente como
baixo dos carroções de suprim entos, baliza. Polly se escondeu, quando o po­
procurando apanhar com a boca os pin­ vo acorreu para ver a últim a caravana
gos doces. Infelizmente, a m aior parte de carroções, com vergonha das roupas
caía na roupa, em lugar de na boca. rasgadas e rosto e cabelos queim ados de
D urante um a cam inhada noturna, sol. Parecia não haver ninguém espe­
H arry, exausto, decidiu esconder-se rando por eles. Passado algum tempo,
num carroção. E ncontrando um barril H arry viu um a m ulher que não lhe p a­
aparentem ente vazio, meteu-se dentro recia estranha. Dando um puxão na
dele e teve de abafar um grito de dor, saia dela, exclamou: “Olá, m ãe”.
quando os pés feridos afundaram na Baixando os olhos, ela perguntou: “E
grossa cam ada de melaço que existia no você, Harry? E onde está Polly?” En­
fundo. Não lhe restou outra alternativa quanto os três choravam juntos, de vez
senão dorm ir ali mesmo. em quando a m ãe sorria entre lágrim as
Na m anhã seguinte, saiu do carroção “e parecia suprem am ente feliz”, dizia
lam buzado de melaço da cabeça aos H arry.
24 A LIAHONA
o
Caderno de Notas
Janet Brigham

C
omprei o primeiro, anos atrás, saí muito mal na prova de História,
numa papelaria em Alexan­ mas à noite Mike, o da classe de
dria, Virginia, o mais barato francês, me telefonou.'')
que consegui encontrar. Na época, Eram anotações de pouca subs­
eu não sabia que estava começando tância emocional, mas pelo menos
um diário, apenas que precisava de eram anotações. Lamentavelmente,
algo para organizar meus pensamen­ quando passei para a faculdade, fi­
tos. quei “ocupada demais” para m anter
Antes disso, costumava anotar um diário.
idéias em qualquer papelucho à mão Por isso, ao comprar o caderno de
— no verso dos recibos de dízimo, notas, não estava pensando em m an­
programas da Igreja e beiradas de ter um diário. Estava apenas cansada
folhinhas. Perdendo esses papelu- de perder os pensamentos e idéias que
chos, eu perdia o único registro de dariam talvez discursos aceitáveis.
minhas melhores idéias. Era hora de Ao começar a escrever naquele pri­
torná-las mais duradouras. meiro caderno, fascinou-me a facili­
dade com que me vinham as pala­
Desde o Primário até o fim do Co­ vras. Comecei a esperar com satisfa­
legial, mantive um diário, mas as ção a hora de anotar minhas idéias.
páginas pequenas não permitiam Às vezes tomava notas de idéias que
anotaçòes mais longas. Além disso, o
Diário da capa parecia-me muito pretendia
dias acordava
registrar à noite. Certos
de madrugada e me
presunçoso, como se fora o registro punha a escrever
de uma exploração da Antártida. cinco minutos ou animada até mesmo
durante
uma
Nele eu anotava apenas as atividades hora, sem pressa de ter de levantar
do dia a dia, jamais meus pensamen­ me aprontar. Certas noites escreviae
tos. (Uma anotação típica: "Hoje me
MAIO DE 1981 25
uma porçao, outras não escrevia coi­ losofia que procurava contestar o
sa alguma. evangelho, escrevi um longo trecho a
Eu gostava daqueles cadernos ba­ respeito do que cria. Pô-lo por escri­
ratos porque neles não tinha medo to era como que testificar. Naquela
de errar nem de contar os erros noite, percebi quão honesta e since­
que cometia. Comecei a reservar ra eu era com meu diário — prova­
tempo para escrever. Escrevia sem­ velmente muito mais franca do que
pre no mesmo lugar sentada no com qualquer amiga. Frustrada com
sofá ao lado da lâmpada. Nas m ar­ minha capacidade de pensar e
gens, eu anotava acontecimentos im ­ expressar-me, escrevi: “Meu cérebro
portantes - tal como a compra de um parece um aspirador, sorvendo toda
carro novo ou a data de vacinação espécie de detritos e sujeira. E ouro
de minha gatinha. O espaço pro­ em pó. Por isso tenho de esvaziá-lo e
priamente dito era reservado para separar partícula por partícula, até
registrar minhas reações do dia, m i­ que reste apenas o ouro.”
nhas observações e conclusões. Pôr minhas idéias em palavras,
Somente quando voltei à papela­ dava-me oportunidade de analisá-
ria para adquirir outro caderno, é las. As vezes, chegava a perceber
que me dei conta de que estava que minhas atitudes eram baseadas
mantendo um diário. Então decidi em egoísmo ou preconceito. Outras,
dar um nome à série de cadernos — sentia o prazer de verificar que eram
Janet. O primeiro, Janet 1, não ti­ boas. Ocasionalmente, chegava a rir
nha propriamente caráter de diário, alto diante de minhas reações aos
visto que poucas anotações eram da­ traumas do dia. Num dia particular­
tadas e nenhuma delas mencionava mente ruim, escrevi um enorme
atividades e impressões do dia-a-dia. BUUUUUU! Até que ajudou.
Quando percebi estar escrevendo Comecei a intitular as anotações.
um diário, modifiquei o formato, a Um de meus títulos prediletos — e
fim de poder saber, pelo menos, a anotação predileta — aconteceu
data em que anotara determinada quando tentava aprofundar minha
coisa. fé. Dizia o título: “Janet Combate a
Passei a interessar-me, igualmen­ Dúvida”. Outros refletiam uma ati­
te, onde eu estava quando escrevia. tude mais calma. Um deles em Janet
Não importava onde estivesse via­ 3, “Dias, Noites e Coisas que Amo”,
jando ou em visita a amigos — eu introduzia uma passagem que gosto
era sempre a mesma pessoa com a de reler:
mesma personalidade. “Adoro as noites claras e frias,
Certa vez, quando visitava uma quando posso ver as estrelas e falar
amiga, dei-me conta do potencial do em, voz alta com elas. E gosto das
diário no incentivo de crescimento primeiras horas da manhã, levantar,
espiritual e emocional. Após horas sentir- me viva, estar ao ar livre
debatendo com uma estudante de fi­ quando o dia ainda é criança. Adoro
26 A LIAHONA
bòòò6òòòòòòòòòòòòòòòòòòòòòòòbòòòò
novos inícios, quando ainda em or­ Um dia em que achei a vida muito
ganização. E lençóis limpos, roupa cruel, comecei o que desde aí é tra­
limpa, corpo limpo, cabelos lavados dicional. Fiz um registro intitulado:
e uma razão para estar feliz. Adoro o “Pelo que Sou Grata”. Naquele dia
mundo quando minhalma trans­ me assombrou, como ainda me as­
borda de esperança. ” sombra, quão variadas e grandes são
Nem sempre minha alma trans­ minhas bênçãos, e quão obscuras e
borda de esperança. As vezes trans­ até mesmo engraçadas, às vezes, são
borda é de frustração. Quando isto minhas provações.
acontece, posso voltar à rejuvenesce- Em todas as minhas mudanças e
dora anotação daquela noite de se­ andanças pelos Estados Unidos, em
tembro, e encontrar incentivo nou­ viagens e férias, em todos os momen­
tra passagem escrita pouco depois: tos, os cadernos do meu diário têm
“Quando compreendo o que estou sido amigos constantes disponíveis
passando, acho mais fácil pérseve- numa prateleira ou guardados numa
rar. ” mala junto com as escrituras.
Nem toda anotação é profunda ou Tornaram-se um meio de resolver
mesmo interessante. Mas todas elas, meus desafios pessoais de cada dia.
a sua própria maneira, traçam mi­
nha conversão diária ao evangelho, Pensei, a princípio, anotar orde­
as lutas com meu próprio eu e meu nadam ente meus mais profundos
deleite em descobrir a vida, linha so­ pensamentos, a fim de usá-los quan­
bre linha. Cada uma ajuda outras a do tivesse de falar em reuniões sacra­
assumirem uma perspectiva mais mentais. De fato, usei meu diário
clara. Não só refletem minha vida, uma ou duas vezes para esse fim,
como a afetam e se tornam parte de­ mas isto é apenas uma pequena par­
la. te do grande benefício que me trou­
Foi em Janet 4, quando minha xe. Ele não é um livro de referência
amiga se mudou, que escrevi: “Dói sobre minha vida, tampouco um tra­
demais escrever. ” E em Janet 5, de­ çado dela. Não um quadro do meu
pois de haver mandado uma carta sucesso, mas uma obra de arte dinâ­
impensada que magoou um amigo, mica, ainda que tosca.
anotei: “Em meio a todas as vozes A série Janet avança vigorosamen­
confusas que ressoam em minha te em seif décimo-quinto volume. Al­
mente, uma voz calma me invade e guns abrangem um ano, outros, al­
diz que a coisa não terá conseqüên­ guns meses. Sou a única pessoa que
cias.” Depois de escrever a respeito leu todos eles e pretendo que conti­
da “calma voz”, passei a notá-la com nue assim — por algumas décadas,
maior cuidado. A “voz” estava certa; ao menos. Os volumes passaram, no
quando pedi perdão a esse amigo, decorrer dos tempos, dos simples ca­
ele respondeu que já me havia per­ dernos, a livros encadernados com
doado. folhas em branco.
MAIO DE 1981 27
{ { ' | ' udo começou quando eu mente começo a desenhar, e as
cursava a oitava série em idéias vêm surgindo à medida que o
Tucson, Arizona,” conta trabalho prossegue.”
Richard Olson. “Eu estava na classe Foi o pai de Richard quem pri­
de matemática com quatro amigos. meiro teve a idéia de publicar os la­
Certo dia, um deles trouxe um labi­ birintos em forma de livreto para fi­
rinto que fizera e começou uma nanciar a missão do filho. “Prometi
competição para ver quem conse­ ao Senhor que todo o dinheiro iria
guia fazer um melhor. Passado al­ para meu fundo missionário”, diz
gum tempo, os outros quatro deixa­ Richard. “No começo, os livros não
ram de fazê-los, mas eu continuei. eram muito procurados, mas depois
“Costumava fazer labirintos na es­ recebemos mais encomendas do que
cola e em casa. Alguns colegas pas­ podíamos fornecer e tivemos que im ­
saram a interessar-se por eles e se pu­ primir mais.” Agora já publicaram
seram a copiá-los, o que manteve mais de mil exemplares.
meu entusiasmo. Richard serve atualmente na Mis­
“Quando tenho vontade de fazer são Texas-San Antonio e os labirin­
um labirinto, fico pensando em fil­ tos deixaram de ser importantes.
mes a que assisti, livros que li e ou­ “No campo missionário”, diz ele,
tras coisas capazes de me dar uma “não tenho tempo para fazê-los, pois
idéia. Fiz cursos de arte durante a es­ desenhar um leva de duas a três ho­
cola inteira, mas não uso truques es­ ras. Além disso, existem coisas mais
peciais para desenhar labirintos, importantes a fazer.” Quando voltar
embora goste de prolongar determi­ para casa, todavia, provavelmente
nado caminho durante bastante voltará para a prancha de desenho.
tempo antes de truncá-lo, para de­ Eis alguns exemplos do trabalho
pois criar o certo. Em geral, simples­ dele.

Labirintos
M axw ell T. Stone

Chegada
28 A LIAHONA
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Mandamento
Rígido,
Porém
Suave
Élder N eal A . M axwell
T entarei tratar dos padrões as­ realm ente proporciona bênçãos e
sociados à castidade antes do casa­ conhecim ento adicional confor­
m ento e à fidelidade depois dele, m e prom ete Pedro; seguir p rin cí­
de um a form a um pouco diferen­ pios corretos acelera o saber. (V i­
te. T odos esses padrões fazem de II Pedro 1:8.) T al é o caso
p arte do rígido, porém suave séti­ com o sétim o m andam ento.
m o m andam ento, talvez o m ais Falando francam ente, irm ãos
im popular de todos os dez. e irm ãs, devíam os estar-nos p re ­
A ssunto incom um em nossos p aran d o p ara viver num m undo
dias, o sétim o m an d am en to é m elhor. E m bora vital, esta vida
um a das m ais necessárias, em bo­ não passa de um m om ento. E se
ra m enos obedecidas leis de Deus. form os ligeiros em nos ad ap tar
E um excelente exem plo de com o aos cam inhos deste m undo passa­
A Igreja de Jesus Cristo dos S an ­ geiro e im perfeito, esse aju sta­
tos do Últim os Dias difere do m ento nos desajustará p ara a vi­
m undo nos princípios fu n d am en ­ da no próxim o m undo — um a vi­
tais de conduta. O m undo pouco da que será eterna! N ão adm ira,
se preocupa com a observância pois, que aquele que transgride
desse m andam ento, desde que as esse m andam ento “é falto de
pessoas pareçam adm iráveis em en ten d im en to .” (Prov. 6:32.)
outros aspectos. Com relação ao sétim o m a n d a ­
Creio há m uito que, no fundo m ento, existem certas p reo cu p a­
de algum as doutrinas m ais seve­ ções que com partilham os com o
ras existem as m aiores verdades e m undo. T an to no reino com o no
os m ais preciosos princípios. Mas m undo, há o desejo de evitar as
estes não se descobrem casual ou doenças venéreas, com o tam bém
irreverentem ente. A obediência a gravidez de m oças solteiras.
30 A LIAHONA
U m a terceira preocupação com ­ p ara se g u ard ar esse m an d am en ­
p artilh ad a em parte com o m u n ­ to vão m uito além dessas três
do, é que a im oralidade sexual preocupações, por m ais legítim as
prejudica a vida m atrim onial e que sejam .
A razão prim ordial p ara obe­
decer a todas as leis da castidade
é g u ard ar os m andam entos de
Deus. José tinha perfeita cons­
ciência dessa razão, quando resis­
tiu às insinuações da m ulher de
Potifar. (V ide Gên. 39:9.) Depois
de deixar claro sua lealdade p ara
com seu am o, José conclui: “C o­
m o pois faria eu este tam anho
m al e pecaria contra Deus?” A
obediência de José foi um ato de
lealdade p ara consigo m esm o,
p ara com sua fu tu ra fam ília, p a ­
ra com Potifar, p ara com Deus e
Assim com o a falta de castidade, o aborto
até m esm o p ara com a m ulher de
produz... condições em que m uitos corações Potifar!
m orrem “profundam ente feridos”. O u tra grande razão p ara não
desobedecer ao sétim o m a n d a ­
m ento é que essa desobediência
fam iliar, fazendo au m en tar o n ú ­ afasta o Espírito Santo de nossa
m ero de divórcios. alm a. Perdem os o precioso dom
Felizm ente, no reino, as razões de sua com panhia, pois ele não
MAIO DE 1981 31
pode h a b itar um a alm a pecam i­ tando-se de tudo o que possa re ­
nosa. E sem a ajuda dele, tor- presentar um a obrigação des­
nam o-nos seres hum anos m enos cartando-se de am igos, p a re n ­
úteis, m enos perceptivos, m e­ tes e até com panheiros “usados” .
nos funcionais e m enos am áveis. Esse descarte de pessoas é um
Em certo sentido, ficam os in ca­ dos estágios finais do egoísm o, no
pacitados p ara o trab alh o do Se­
nhor, justam ente quando somos
tão necessários.
A im oralidade sexual é perigo­
sa por ser tão dessensibilizante. A
lascívia pode, ironicam ente, fa ­
zer aqueles que tão erradam ente
celebram sua capacidade de sen­
tir, perder essa capacidade! Se­
gundo as palavras de três diferen­
tes profetas de três diferentes dis-
pensações, eles perdem o senti­
m ento. (Vide I Néfi 17:45; Efé-
sios 4:19; M orôni 9:20.)
N orm an Cousins adverte: “As Se nossa m ente estiver repleta de coisas erradas,
pessoas que insistem em ver tudo não haverá nela lugar para o verdadeiro am or a
e fazer tudo correm o risco de não Deus e aos sem elhantes.
sentir n a d a ... Nossas m ais subli­
mes reações estão sendo em b o ta­
das sem o saberm os.”(“See Every- qual o indivíduo não quer assu­
thing, Do Everything, Feel No- m ir nenhum com prom isso de c a ­
th in g ”, Saturday Review, 23 de ráte r d u rad o u ro nem ser respon­
janeiro de 1971, p. 31.) sável por coisa algum a.
O u tra razão ainda p ara se
Q uando perdem os a cap acid a­ g u a rd ar o sétim o m an d am en to é
de de sentir é porque destruim os que a falta de castidade dim inui
a sensibilidade da alm a. E m b o ta­ a auto-estim a, pois estam os p e ­
mos nossa capacidade de ap re ­ cando contra nossa própria n a tu ­
ciar as sutilezas, aquela graciosi­ reza e contra quem realm ente so­
dade e em patia pertencentes àque­ mos. (Vide I Cor. 6:18,19.) Em
le m undo m elhor que alm ejam os. m inha opinião, estam os ainda
Nossa sociedade egocêntrica queb ran d o prom essas feitas no
tende a viver levianam ente, afas­ m undo pré-m ortal, prom essas es-
32 A LIAHONA
tas indelevelm ente gravadas em Anos depois de ter sido desobri­
nossa alm a. gado do bispado, li no jornal que
A falta de castidade tam bém fora presa, acusada de prostitui­
causa um grave im pacto nos o u ­ ção. N ão sei por onde anda hoje,
tros. O pai que acha que o seu m as não consigo tira r do pensa­
adultério é justificado não avalia m ento as palavras de Jacó, verbe-
rando os pais que haviam p erd i­
do a confiança dos filhos por seu
m au exem plo. (Vide Jacó 2:35.)
Os m ilhares de jovens soltei­
ros que coabitam representam ,
igualm ente, um a brecha im p o r­
tan te na vida fam iliar. As conse­
qüências dessa brecha em nosso
am biente social serão sentidas
por gerações e gerações. Bainvil-
le, sábio filósofo francês, adver­
tiu: “A gente precisa querer as
conseqüências do que q u e r.”
Assim com o nossos valores b á ­
sicos atuam uns sobre os outros,
N ão vivenciando na prática essas grandes ...
verdades... estarem os na “cela ilum inada de
nossas instituições tam bém . N ão
u m ” im pulso e apetite. podem os corrom per a fam ília e
esperar ter um bom governo!
Q uando, por exem plo, sugerim os
o im pacto de seu ato sobre a es­ com nossa conduta que os m a n ­
posa e filhos. A sua desobediên­ dam entos não têm im portância,
cia afeta outros igualm ente. surge o caos. O pai pode justifi­
Uns dezoito anos atrás, com o car o peculato, o filho adulto, o
bispo de um a ala de estu d an ­ adultério, e o neto adulto, a tra i­
tes adjacente à universidade de ção. Se desobedecer não é e rra ­
U tah, procurei inutilm ente salvar do, então cada um pode escolher
um casam ento. A esposa fora in ­ que m andam entos quer violar.
fiel e quando tentei aju d ar e Estas e outras preocupações u l­
com preender, soube que quando trapassam em m uito as preocu­
criança tivera um pai adúltero. pações m undanas com doenças e
E m bora injustificadam ente, ela gravidez. A Igreja, porém , tem
estava-se vingando dos hom ens. de ser resolutam ente, com o diz
O que ela fazia não era por am or. Paulo, “a coluna e firm eza da
MAIO DE 1981 33
verdade” . (I T im . 3:15.) A p reo ­ guirão seu exem plo — alguns
cupação da Igreja com a guarda surpreendentem en te.
do sétim o m andam ento — m ed i­ 2. Assim com o não perm item
da pelos padrões das entrevistas que alguém ande com pés sujos
regulares com seus líderes e m em ­ pela casa, não deixem que o fa-
bros — chega a ser exclusiva no
m undo de hoje, e isto não é aci­
dental!
O u tra conseqüência d a grave
im oralidade sexual com sua in ­
fluência desensibilizante é que
rouba a esperança do hom em . E
quando o hom em está vazio de
esperança, aparece logo o deses­
pero, pois com o diz um profeta:
“ ... o desespero vem por causa da
in iq ü id ad e.” (M orôni 10:22.) As­
sim, iniqüidade e desespero refo r­
çam -se terrível e reciprocam ente.
A alienação reinante n a terra é
resultante, m uito m ais do que O m undo pouco se preocupa com a obediência
pensam os, da crassa im oralidade apareçam
esse m andam ento, desde que as pessoas
adm iráveis sob outros aspectos.
sexual — d iante da qual sucum ­
bem a fé, a esperança e a c a rid a ­
de. çam em sua m ente.
Em sua m onum ental história 3. Form em um forte elo pes­
da h u m anidade, W ill e Ariel Du- soal na cadeia de castidade e fi­
ran t observam que o sexo é igual delidade fam iliar, p ara que se es­
a um rio de fogo — ele precisa ser tenda dos avós até a posteridade
contido e arrefecido por centenas ainda por vir. Essa ligação é a
de restrições; do contrário, tanto m ais forte que existe. C onfirm em
o indivíduo com o o grupo a c a­ por m eio de ações que acreditam
bam destruídos. nos m andam entos, a despeito do
M eu últim o conselho está con­ que esteja acontecendo no m u n ­
tido nestas observações adicio­ do.
nais: 4. N ão andem em com panhia
1. Resistindo à persuasão do de fornicadores — não por serem
m undo, verão que logo outros se­ m elhores do que eles, m as por
34 A LIAHONA
não serem suficientem ente fo r­ dos, lem brem -se do glorioso e-
tes, conform e disse C. S. Lewis. vangelho do arrependim ento. O
Lem brem -se de que situações in ­ m ilagre do perdão está à espera
convenientes conseguem vencer de todos os que se arrependem
até m esm o gente de bem . José sinceram ente. N ão se esqueçam ,
entretanto, de que nesses casos a
alm a tem de prim eiro ser cauteri-
zada pela vergonha, pois só d e­
pois de lim pa realm ente pode a
ferida sarar. Mas o cam inho do
arrependim ento existe.
7. Q uando surgir o im pulso de
transgredir, com batam -no en ­
quanto ainda é fraco, e a força de
vontade, vigorosa. A hesitação le­
va ao enfraquecim ento da vonta­
de e fortalecim ento do im pulso.
Estejam sem pre diligentem ente
engajados nas boas coisas, pois a
ociosidade tem o m au hábito de
Ao lado do tradicional hom em predatório e insistir, sem p arar, que o que im ­
egoísta, existe agora a m ulher predatória e
egocêntrica. Im pelidos por seus apetites, am bos
p o rta é ag rad ar ao próprio ego.
sentem -se falsam ente livres. 8. Precisam os chegar ao ponto
de desprezar os pecados do m u n ­
não teve apenas bom senso com o do, porém sem desdenhar as pes­
boas pernas, p ara fugir da m u ­ soas do m undo, m as am ando-as.
lher de Potifar. C ontudo, tem os de desprezar os
5. Ao lado do tradicional h o ­ pecados do m undo. O escárnio e
m em predatório e egoísta, existe zom barias do m undo são passa­
agora a m ulher predatória e ego­ geiros. T iago, que não era tím ido
cêntrica. Im pelidos por seus ap e­ com relação à verdade, dizia:
tites, am bos sentem -se falsam en­ “A dúlteros e adúlteras, não sa-
te livres. E a m esm a espécie de li­ beis vós que a am izade do m undo
berdade vazia possuída por Caim é inim izade contra Deus?” (Tiago
(depois de haver m atado Abel), 4:4.)
quando, ironicam ente exclam ou: 9. Lem brem -se, os que estão
“Estou livre”, (Moisés 5:33.) errados não devem decidir sua
6. Em caso de erros já com eti­ m aneira de viver, pois quem se
MAIO DE 1981 35
vangloria de suas conquistas se­ E. C onhecerem os a bênção de
xuais apenas fala daquilo que o expandir o livre arbítrio, a p re n ­
venceu — assim com o as pessoas dendo a agir sabiam ente por nós
que contam piadas de bêbedos, m esm os em lugar de nos d eix ar­
estão apenas ridicularizando aqui­ mos levar pelos apetites. (V er II
lo que zomba delas. Néfi 2:26.)
Evitando os m ales e conse­ F. Existe ainda a bênção signi­
qüências da incontinência, g a ­ ficativa de progredir m ais ra p i­
nham os direito e acesso às b ên ­ dam ente, decorrente da decisão
çãos que sem pre acom panham os de rejeitar o errado e escolher o
que g u ard am os m andam entos. certo. N ão basta chegar ao ponto
Se g u ard arem o sétim o m a n d a ­ de não m ais nos agradarm os do
m ento, colherão inevitavelm ente pecado; tem os de sentir fom e e
estes resultados: sede de retidão.
A. T erão a bênção incom ensu-
rável de estar em harm onia com G. Além das dem ais, tem os
Deus e sua lei. ainda a im portante bênção da in ­
B. A obediência tra rá ainda a tegridade d ’alm a que leva à in tei­
bênção de conhecer e realizarm os reza pessoal e destem ida fra n q u e­
nosso potencial. O evangelho za. t
ajuda-nos a ver não só o que so­ M eus jovens am igos, o desvio
mos, m as o que poderem os tor- dos m andam entos de Jesus Cristo
nar-nos. os torna m enos cristãos. P arte do
C. G uardando o sétim o m a n ­ ser um verdadeiro cristão é g u a r­
dam ento, gozarem os a bênção da d ar o sétim o m andam ento. R eco­
auto-estim a. nheçam os que ser casto antes do
D. A g u arda desse m a n d am en ­ casam ento e fiel depois de casa­
to abençoa-nos com a liberdade do, é a única m aneira de nossa
do m ais opressivo de todos os tira ­ alegria ser com pleta. É m inha
nos - os apetites. Assim, seremos oração em nom e de Jesus Cristo.
m ais livres. A m ém .

36 A LIAHONA
Coro do Tabernáculo Faz Estrondoso Sucesso na
Posse do Presidente Reagan
Por J. Malan lleslop, Idilor Gerente do Deseret News.

Cantando um de seus mais conhecidos “ Os Osmonds adicionaram muito brilho


números musicais, “ Já Refulge a Glória ao acontecimento” , disse Betty Bell, que
Eterna” , o Coro do Tabernáculo encerrou com seu marido, T.H. e filhos Mark War-
o maravilhoso desfile de 100 carros na Pos­ ren e Glen, assistiram ao programa.
se do Presidente Ronald Reagan no dia 20 Merrill Osmond foi o produtor associado
de janeiro próximo passado. da cerimônia de abertura no Memorial a
Parando durante cinco minutos e meio Lincoln. Esse evento, que apresentou o Co­
diante do palanque do Presidente Ronald ro do Tabernáculo acompanhado da Banda
Reagan, na Avenida da Pensilvania, as tre­ do Exército dos Estados Unidos, foi o pri­
zentas vozes do coro cantaram o hino a pe­ meiro numa série de quatro dias de festivi­
dido da Senhora Nancy Reagan, primeira dades de posse.
dama dos Estados Unidos. O coro e a banda, nos degraus do Memo­
Um comentarista da rede de televisão da rial onde está a gigantesca estátua de már­
CBS disse que se fosse possível “ trazer a ca­ more de Abraham Lincoln, e as colunas de
sa abaixo em frente ao palanque, o Coro do pilares brancos, servindo como pano de
Tabernáculo o faria” . fundo apresentaram “ América the Beauti-
O Presidente Reagan deixou cair algumas ful” , “ Já Refulge a Glória Eterna” , e o hi­
lágrimas durante o hino e no final enxugou no nacional “ The Star Spangled Banner” .
os olhos com as mãos. Muitos outros que Quando eles cantaram o hino nacional,
estavam no palanque presidencial enxuga­ uma coreografia pirotécnica colorida ilumi­
ram as lágrimas durante o hino. nou a noite. Canhões dispararam salvas em
O presidente Ezra T. Benson, do Conse­ acompanhamento à letra do hino. Esta foi a
lho dos Doze, que serviu como Secretário terceira vez que o coro participou da posse
da Agricultura na administração Eisenho- presidencial dos Estados Unidos mas foi a
wer, esteve presente nas festividades de pos­ primeira vez que acompanhou o desfile.
se como representante da Igreja. O Élder Quando os membros do coro desciam a
Joseph B. Wirthlin, do Primeiro Quorum Avenida Pensilvania no seu gigantesco pal­
dos Setenta, também esteve presente e par­ co móvel os espectadores gritavam, “ Can­
ticipou de alguns acontecimentos na posse. tem para nós!”
Vários membros da Igreja foram clara­ O coro agradou a um público estimado
mente vistos durante as festividades de pos­ em 150.000 pessoas que se alinhou nas ruas.
se, incluindo o Dr. T.H. Bell, secretário de­ Muitas vezes o povo rompeu o cordão poli­
signado para o Departamento de Educação; cial para acompanhar o carro do coro, que
Richard Richards, novo líder do comitê na­ foi o último a se apresentar na parada e can­
cional Republicano; e os senadore de Utah, tar junto com o coro.
Orrin Hatch e Jake Garn. “ O coro proporcionou um excepcional
Donny e Marie Osmond, artistas SUD, encerramento para um dia maravilhoso. Fi­
fizeram sua contribuição às festividades de camos orgulhosos do coro. Foi realmente
posse com números especiais num progra­ um acontecimento especial” , disse o secre­
ma de músicas, danças e brincadeiras apre­ tário, Dr. Bell, que é mesmo da Estaca de
sentado por artistas internacionalmente co­ Salt Lake e um dos oficiais de gabinete do
nhecidos na noite de gala de 19 de janeiro. Presidente Reagan.
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